Da prisão para a galeria: Artistas ex-presidiários estão agitando o mundo da arte nos EUA


Expondo seus trabalhos, eles também alimentam a esperança de criar caminhos e dignidade para seus pares

Por Hilarie M. Sheets

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Em 2010, no centro de recreação da Fairton Federal Correctional Institution, uma prisão de segurança média para homens no sul de Nova Jersey, nasceu um coletivo de arte.

Cinco anos depois de uma sentença de 13 anos por acusações relacionadas a drogas, Jared Owens redescobriu seu amor de infância pela cerâmica e aprendeu a pintar sozinho. Ele estava supervisionando a sala de arte quando Gilberto Rivera, um grafiteiro, e Jesse Krimes, formado em arte pela Millersville University, na Pensilvânia, foram transferidos para Fairton para terminar suas penas. Eles compartilhavam assinaturas de revistas de arte, suprimentos, ideias e camaradagem em resistência às suas circunstâncias.

Com a ajuda de Owens e Rivera, Krimes secretamente reuniu lençóis da prisão em que ele fez colagens com imagens do New York Times, usando gel de cabelo e uma colher para levantar e transferir os impressos para suas telas de contrabando. Ele contrabandeou peças, uma a uma, pela sala de correio da prisão. Ao longo de três anos, a prática subversiva evoluiu para um mural monumental, uma alegoria do Céu, Terra e Inferno ao estilo de Hieronymus Bosch, que ele intitulou Apokaluptein: 16389067 - grego para apocalipse juntamente com seu número de prisioneiro. Tinha 4,5 m por 12m quando ele finalmente conseguiu montar os 39 segmentos pela primeira vez após sua libertação em 2013, depois de cumprir seis anos por acusações relativas a drogas.

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“Não se trata de algum estranho entrando e fazendo um programa de artes - eram eles por conta própria, aproveitando esse espaço, qualquer dignidade que pudessem criar, e depois levando isso com eles quando voltavam para casa”, disse Alysa Nahmias, diretora de Art & Krimes by Krimes, um filme que será lançado nos cinemas em 30 de setembro pela MTV Documentary Films e transmitido pela Paramount+ a partir de 22 de novembro. Ele narra a produção de Apokaluptein e os primeiros cinco anos de Krimes fora prisão enquanto luta para forjar uma carreira no mundo da arte com o apoio de amigos. Um deles é Russell Craig, que descobriu a arte aos 7 anos enquanto morava em lares de adoção. Depois de cumprir 12 anos por acusações relacionadas a drogas em prisões na Pensilvânia e Virgínia, ele conheceu Krimes quando ambos haviam sido libertados recentemente e estavam trabalhando como assistentes do programa de justiça restaurativa da Mural Arts Philadelphia.

Vista da instalação de 'Apokaluptein: 16389067' de Jesse Krimes (2010-13) em 'Marking Time' no MoMA PS1 em 2020. A tela foi feita de lençóis e contrabandeada para fora da prisão em pedaços. Foto: Karsten Moran/The New York Times

Esses artistas estavam entre várias dezenas de outros na exposição histórica Marking Time: Art in the Age of Mass Incarceration, inaugurada em 2020 no MoMA PS1 e em turnê desde então (acaba de ser inaugurada na Brown University). Organizado por Nicole Fleetwood, a historiadora de arte vencedora do prêmio MacArthur, deu nova visibilidade às pessoas que lutam contra o apagamento social no sistema carcerário dos EUA, que agora prende cerca de 2 milhões de pessoas anualmente - um aumento de 500% desde 1970. Os negros são encarcerados por delitos relacionados a drogas a uma taxa 10 vezes maior do que os brancos, apesar do uso aproximadamente igual, de acordo com a União Americana das Liberdades Civis.

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Mudança de vida

Agora, um pequeno grupo de artistas da exposição está ganhando força no mundo da arte, com representação em galerias, aquisições de museus, comissões de prestígio, residências e bolsas de estudo. Com a ajuda de doadores poderosos, artistas, líderes artísticos e ativistas, essa vanguarda está trabalhando estruturalmente para abrir caminho para seus pares. Ainda não se sabe se os museus em todo o país apoiarão esses esforços.

Fleetwood - que descreveu a orientação de colegas em Fairton, que ecoou nas prisões de todo o país, como “inspiradora” - espera que a exposição “ajude a sacudir as instituições culturais em termos do que elas normalmente mostram”.

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Marking Time atraiu mais de 35.000 visitantes ao MoMA PS1, apesar das restrições da covid-19 e ganhou elogios da crítica, com Apokaluptein aclamado como o ”magnum opus carcerário” por Holland Cotter no The New York Times.

Marking Time foi definitivamente fundamental em todas as nossas carreiras e praticamente legitimou pessoas que vêm desse passado de encarceramento”, disse Mary Enoch Elizabeth Baxter, uma artista da exposição que foi presa por oito meses sob acusações que incluíam conspiração criminosa. Ela agora faz parte da equipe do MoMA PS1 como gerente de projeto para aprendizado.

Ela recebeu várias bolsas de estudo, incluindo uma residência para examinar o viés de adultificação de meninas negras - como a sociedade tende a considerar algumas crianças mais velhas do que são, precisando de menos proteção - como a causa raiz do encarceramento. Baxter acaba de ser contratada para liderar oficinas com mulheres encarceradas em Rikers Island, o que culminará em um mural comunitário.

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'Idol Time' (2022), tinta a óleo e acrílica sobre couro e tela, de Russell Craig, foi exibido na Galeria Malin. Foto: Russell Craig and Malin Gallery via The New York Times

O negociante de arte Barry Malin viu uma grande mudança no interesse dos colecionadores desde que começou a representar Krimes. Em 2016, o artista entrou no novo espaço em Chelsea aberto por Malin, um ex-cirurgião com foco em justiça social, e com base em sua conexão pessoal, o galerista se ofereceu para mostrar seus trabalhos prisionais. Nada foi vendido naquela primeira exposição, mas levou a uma série de subsídios para Krimes.

“Foi um desafio fazer com que as pessoas apreciassem isso apenas como arte”, disse Malin, que também representa Craig e Owens. Ele disse que viu uma nova receptividade desde Marking Time; o acerto de contas nacional de 2020 com raça e justiça; e uma simpatia maior com as pessoas enredadas pelas drogas, na sequência da crise dos opiáceos.

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O termo “artista anteriormente encarcerado” tornou-se “uma designação favorável”, disse Malin. A primeira exposição individual de pinturas e trabalhos de montagem de Owens acaba de ser inaugurada na 515 West 29th St., até 19 de novembro, com preços a partir de US$ 26.000.

No mês passado, Owens estava terminando os trabalhos em seu estúdio na Silver Art Projects, no 28º andar do 4 World Trade Center. Cofundada por Joshua Pulman e Cory Silverstein e financiada em parte pela Silverstein Properties, que reconstruiu o complexo do World Trade Center, a organização sem fins lucrativos oferece espaços de estúdio gratuitos e oportunidades de carreira para 28 artistas emergentes de comunidades marginalizadas.

“A sociedade não consegue nem visualizar os prisioneiros como seres humanos”, disse Owens. “Vou chamar sua atenção para isso”, acrescentou. “Vou manter isso em sua mente.”

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Ele estava usando figuras sombreadas de um diagrama do século 18 do navio negreiro Brookes, reproduzindo-as em fileiras como um motivo serial em telas que oscilam entre representação e abstração borrada e sugerem a arquitetura da prisão.

Com um subsídio este ano do Art for Justice Fund, fundado em 2017 pela filantropa Agnes Gund para apoiar ativistas e artistas que trabalham para reduzir a população carcerária, a Silver Art agora reserva anualmente várias vagas de residência para artistas anteriormente encarcerados. Baxter, Krimes e Craig se juntaram a Owens nos cobiçados espaços de estúdio este mês.

“A alquimia da arte como ferramenta para garantir a justiça não pode ser exagerada”, disse Gund, que coleciona obras de Krimes e Craig (assim como o Brooklyn Museum).

Em sua recente primeira exposição solo em Nova York na Malin Gallery, Craig mostrou telas autobiográficas frequentemente pintadas em fragmentos de bolsas de couro costurados juntos como uma pele, referenciando o corpo negro no sistema prisional.

“Levei anos para decidir descompactar minha experiência na prisão”, disse Craig. “Eu não queria explorar minha situação ou a de qualquer outra pessoa.” Três quartos da exposição foram vendidos, com preços a partir de US$ 35.000. Entre seus colecionadores estavam Tim e Stephanie Ingrassia (ela é vice-presidente do Brooklyn Museum).

O estúdio de Jared Owens, um artista ex-encarcerado, no espaço de residência do Silver Art Project. A organização sem fins lucrativos que Krimes co-fundou, Right of Return USA, está apoiando alguns dos artistas. Foto: Christopher Gregory/The New York Times

Krimes já teve cinco exposições na galeria. “As pessoas não estão mais questionando, ele é um artista ou ele é uma curiosidade?” disse Malin. A série de Krimes de “Elegy Quilts”, reunida a partir de roupas de indivíduos encarcerados e retratando suas lembranças de casa, começou em US $ 25.000 e esgotou rapidamente para colecionadores, incluindo Beth Rudin DeWoody.

Malin aumentou gradualmente os preços de Krimes para US$ 75.000. “O próximo obstáculo a ser superado”, disse Malin, “é: as pessoas vão levar isso a sério o suficiente para ultrapassar esse preço?”

Krimes e Craig receberam um subsídio da Open Philanthropy para co-fundar a Right of Return USA em 2017, que oferece bolsas de US$ 20.000 para meia dúzia de artistas ex-presidiários a cada ano.

Baxter recebeu uma dessas bolsas inaugurais após a prisão, quando tinha menos de US$ 5 em sua conta bancária, e descreveu o apoio como uma mudança de vida. “Isso me deu a oportunidade de encontrar moradia estável e revisitar minhas aspirações artísticas”, ela disse. O subsídio financiou seu filme musical “Ain’t I a Woman”, no qual Baxter contou sua história de vida, incluindo dar à luz na prisão algemada em uma maca.

(Outros bolsistas do Right of Return incluem o poeta Reginald Dwayne Betts; o artista Sherrill Roland, representado pela Tanya Bonakdar Gallery; Gilberto Rivera; e Tameca Cole, cuja colagem de 2016 de um rosto envolto em uma nuvem cinza, intitulado “Locked in a Dark Calm,” é a imagem de abertura em “Marking Time.”)

Krimes e Craig receberam recentemente US$ 1,1 milhão da Mellon Foundation, para ajudar a expandir o Right of Return de uma bolsa para uma organização sem fins lucrativos chamada Art and Advocacy Society, que contratará funcionários e abrangerá um programa de escola e residência.

Eles estão trabalhando com Kate Fowle, ex-diretora do MoMA PS1, que trouxe “Marking Time” para o museu, no programa piloto da escola, que foi acolhido pelo MoMA PS1 com US$ 300.000 em financiamento adicional da Art for Justice de Gund e da Fundação Ford. Um grupo de seis artistas - Krimes, Craig, Owens, Baxter, Cole e Rivera - está recebendo desenvolvimento profissional e orientação individual de Sterling Ruby, Hank Willis Thomas, Rashid Johnson, Lorna Simpson, Derrick Adams e Rafael Domenech.

Em novembro, a Christie’s leiloará obras de Johnson e Mickalene Thomas, entre outros, para beneficiar a Art and Advocacy Society e um programa de residência permanente. “Nosso objetivo é criar um movimento nacional multirracial que seja fundamental e que dure”, disse Krimes. Seu maior medo é que o interesse do mundo da arte passe para a próxima coisa antes que qualquer coisa estrutural mude.

“Eu reconheço o poder de chamar a si mesmo de ‘artista anteriormente encarcerado’”, ele disse. Mas, no fundo, ele acrescentou, “você quer ser conhecido apenas como um artista”. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Em 2010, no centro de recreação da Fairton Federal Correctional Institution, uma prisão de segurança média para homens no sul de Nova Jersey, nasceu um coletivo de arte.

Cinco anos depois de uma sentença de 13 anos por acusações relacionadas a drogas, Jared Owens redescobriu seu amor de infância pela cerâmica e aprendeu a pintar sozinho. Ele estava supervisionando a sala de arte quando Gilberto Rivera, um grafiteiro, e Jesse Krimes, formado em arte pela Millersville University, na Pensilvânia, foram transferidos para Fairton para terminar suas penas. Eles compartilhavam assinaturas de revistas de arte, suprimentos, ideias e camaradagem em resistência às suas circunstâncias.

Com a ajuda de Owens e Rivera, Krimes secretamente reuniu lençóis da prisão em que ele fez colagens com imagens do New York Times, usando gel de cabelo e uma colher para levantar e transferir os impressos para suas telas de contrabando. Ele contrabandeou peças, uma a uma, pela sala de correio da prisão. Ao longo de três anos, a prática subversiva evoluiu para um mural monumental, uma alegoria do Céu, Terra e Inferno ao estilo de Hieronymus Bosch, que ele intitulou Apokaluptein: 16389067 - grego para apocalipse juntamente com seu número de prisioneiro. Tinha 4,5 m por 12m quando ele finalmente conseguiu montar os 39 segmentos pela primeira vez após sua libertação em 2013, depois de cumprir seis anos por acusações relativas a drogas.

“Não se trata de algum estranho entrando e fazendo um programa de artes - eram eles por conta própria, aproveitando esse espaço, qualquer dignidade que pudessem criar, e depois levando isso com eles quando voltavam para casa”, disse Alysa Nahmias, diretora de Art & Krimes by Krimes, um filme que será lançado nos cinemas em 30 de setembro pela MTV Documentary Films e transmitido pela Paramount+ a partir de 22 de novembro. Ele narra a produção de Apokaluptein e os primeiros cinco anos de Krimes fora prisão enquanto luta para forjar uma carreira no mundo da arte com o apoio de amigos. Um deles é Russell Craig, que descobriu a arte aos 7 anos enquanto morava em lares de adoção. Depois de cumprir 12 anos por acusações relacionadas a drogas em prisões na Pensilvânia e Virgínia, ele conheceu Krimes quando ambos haviam sido libertados recentemente e estavam trabalhando como assistentes do programa de justiça restaurativa da Mural Arts Philadelphia.

Vista da instalação de 'Apokaluptein: 16389067' de Jesse Krimes (2010-13) em 'Marking Time' no MoMA PS1 em 2020. A tela foi feita de lençóis e contrabandeada para fora da prisão em pedaços. Foto: Karsten Moran/The New York Times

Esses artistas estavam entre várias dezenas de outros na exposição histórica Marking Time: Art in the Age of Mass Incarceration, inaugurada em 2020 no MoMA PS1 e em turnê desde então (acaba de ser inaugurada na Brown University). Organizado por Nicole Fleetwood, a historiadora de arte vencedora do prêmio MacArthur, deu nova visibilidade às pessoas que lutam contra o apagamento social no sistema carcerário dos EUA, que agora prende cerca de 2 milhões de pessoas anualmente - um aumento de 500% desde 1970. Os negros são encarcerados por delitos relacionados a drogas a uma taxa 10 vezes maior do que os brancos, apesar do uso aproximadamente igual, de acordo com a União Americana das Liberdades Civis.

Mudança de vida

Agora, um pequeno grupo de artistas da exposição está ganhando força no mundo da arte, com representação em galerias, aquisições de museus, comissões de prestígio, residências e bolsas de estudo. Com a ajuda de doadores poderosos, artistas, líderes artísticos e ativistas, essa vanguarda está trabalhando estruturalmente para abrir caminho para seus pares. Ainda não se sabe se os museus em todo o país apoiarão esses esforços.

Fleetwood - que descreveu a orientação de colegas em Fairton, que ecoou nas prisões de todo o país, como “inspiradora” - espera que a exposição “ajude a sacudir as instituições culturais em termos do que elas normalmente mostram”.

Marking Time atraiu mais de 35.000 visitantes ao MoMA PS1, apesar das restrições da covid-19 e ganhou elogios da crítica, com Apokaluptein aclamado como o ”magnum opus carcerário” por Holland Cotter no The New York Times.

Marking Time foi definitivamente fundamental em todas as nossas carreiras e praticamente legitimou pessoas que vêm desse passado de encarceramento”, disse Mary Enoch Elizabeth Baxter, uma artista da exposição que foi presa por oito meses sob acusações que incluíam conspiração criminosa. Ela agora faz parte da equipe do MoMA PS1 como gerente de projeto para aprendizado.

Ela recebeu várias bolsas de estudo, incluindo uma residência para examinar o viés de adultificação de meninas negras - como a sociedade tende a considerar algumas crianças mais velhas do que são, precisando de menos proteção - como a causa raiz do encarceramento. Baxter acaba de ser contratada para liderar oficinas com mulheres encarceradas em Rikers Island, o que culminará em um mural comunitário.

'Idol Time' (2022), tinta a óleo e acrílica sobre couro e tela, de Russell Craig, foi exibido na Galeria Malin. Foto: Russell Craig and Malin Gallery via The New York Times

O negociante de arte Barry Malin viu uma grande mudança no interesse dos colecionadores desde que começou a representar Krimes. Em 2016, o artista entrou no novo espaço em Chelsea aberto por Malin, um ex-cirurgião com foco em justiça social, e com base em sua conexão pessoal, o galerista se ofereceu para mostrar seus trabalhos prisionais. Nada foi vendido naquela primeira exposição, mas levou a uma série de subsídios para Krimes.

“Foi um desafio fazer com que as pessoas apreciassem isso apenas como arte”, disse Malin, que também representa Craig e Owens. Ele disse que viu uma nova receptividade desde Marking Time; o acerto de contas nacional de 2020 com raça e justiça; e uma simpatia maior com as pessoas enredadas pelas drogas, na sequência da crise dos opiáceos.

O termo “artista anteriormente encarcerado” tornou-se “uma designação favorável”, disse Malin. A primeira exposição individual de pinturas e trabalhos de montagem de Owens acaba de ser inaugurada na 515 West 29th St., até 19 de novembro, com preços a partir de US$ 26.000.

No mês passado, Owens estava terminando os trabalhos em seu estúdio na Silver Art Projects, no 28º andar do 4 World Trade Center. Cofundada por Joshua Pulman e Cory Silverstein e financiada em parte pela Silverstein Properties, que reconstruiu o complexo do World Trade Center, a organização sem fins lucrativos oferece espaços de estúdio gratuitos e oportunidades de carreira para 28 artistas emergentes de comunidades marginalizadas.

“A sociedade não consegue nem visualizar os prisioneiros como seres humanos”, disse Owens. “Vou chamar sua atenção para isso”, acrescentou. “Vou manter isso em sua mente.”

Ele estava usando figuras sombreadas de um diagrama do século 18 do navio negreiro Brookes, reproduzindo-as em fileiras como um motivo serial em telas que oscilam entre representação e abstração borrada e sugerem a arquitetura da prisão.

Com um subsídio este ano do Art for Justice Fund, fundado em 2017 pela filantropa Agnes Gund para apoiar ativistas e artistas que trabalham para reduzir a população carcerária, a Silver Art agora reserva anualmente várias vagas de residência para artistas anteriormente encarcerados. Baxter, Krimes e Craig se juntaram a Owens nos cobiçados espaços de estúdio este mês.

“A alquimia da arte como ferramenta para garantir a justiça não pode ser exagerada”, disse Gund, que coleciona obras de Krimes e Craig (assim como o Brooklyn Museum).

Em sua recente primeira exposição solo em Nova York na Malin Gallery, Craig mostrou telas autobiográficas frequentemente pintadas em fragmentos de bolsas de couro costurados juntos como uma pele, referenciando o corpo negro no sistema prisional.

“Levei anos para decidir descompactar minha experiência na prisão”, disse Craig. “Eu não queria explorar minha situação ou a de qualquer outra pessoa.” Três quartos da exposição foram vendidos, com preços a partir de US$ 35.000. Entre seus colecionadores estavam Tim e Stephanie Ingrassia (ela é vice-presidente do Brooklyn Museum).

O estúdio de Jared Owens, um artista ex-encarcerado, no espaço de residência do Silver Art Project. A organização sem fins lucrativos que Krimes co-fundou, Right of Return USA, está apoiando alguns dos artistas. Foto: Christopher Gregory/The New York Times

Krimes já teve cinco exposições na galeria. “As pessoas não estão mais questionando, ele é um artista ou ele é uma curiosidade?” disse Malin. A série de Krimes de “Elegy Quilts”, reunida a partir de roupas de indivíduos encarcerados e retratando suas lembranças de casa, começou em US $ 25.000 e esgotou rapidamente para colecionadores, incluindo Beth Rudin DeWoody.

Malin aumentou gradualmente os preços de Krimes para US$ 75.000. “O próximo obstáculo a ser superado”, disse Malin, “é: as pessoas vão levar isso a sério o suficiente para ultrapassar esse preço?”

Krimes e Craig receberam um subsídio da Open Philanthropy para co-fundar a Right of Return USA em 2017, que oferece bolsas de US$ 20.000 para meia dúzia de artistas ex-presidiários a cada ano.

Baxter recebeu uma dessas bolsas inaugurais após a prisão, quando tinha menos de US$ 5 em sua conta bancária, e descreveu o apoio como uma mudança de vida. “Isso me deu a oportunidade de encontrar moradia estável e revisitar minhas aspirações artísticas”, ela disse. O subsídio financiou seu filme musical “Ain’t I a Woman”, no qual Baxter contou sua história de vida, incluindo dar à luz na prisão algemada em uma maca.

(Outros bolsistas do Right of Return incluem o poeta Reginald Dwayne Betts; o artista Sherrill Roland, representado pela Tanya Bonakdar Gallery; Gilberto Rivera; e Tameca Cole, cuja colagem de 2016 de um rosto envolto em uma nuvem cinza, intitulado “Locked in a Dark Calm,” é a imagem de abertura em “Marking Time.”)

Krimes e Craig receberam recentemente US$ 1,1 milhão da Mellon Foundation, para ajudar a expandir o Right of Return de uma bolsa para uma organização sem fins lucrativos chamada Art and Advocacy Society, que contratará funcionários e abrangerá um programa de escola e residência.

Eles estão trabalhando com Kate Fowle, ex-diretora do MoMA PS1, que trouxe “Marking Time” para o museu, no programa piloto da escola, que foi acolhido pelo MoMA PS1 com US$ 300.000 em financiamento adicional da Art for Justice de Gund e da Fundação Ford. Um grupo de seis artistas - Krimes, Craig, Owens, Baxter, Cole e Rivera - está recebendo desenvolvimento profissional e orientação individual de Sterling Ruby, Hank Willis Thomas, Rashid Johnson, Lorna Simpson, Derrick Adams e Rafael Domenech.

Em novembro, a Christie’s leiloará obras de Johnson e Mickalene Thomas, entre outros, para beneficiar a Art and Advocacy Society e um programa de residência permanente. “Nosso objetivo é criar um movimento nacional multirracial que seja fundamental e que dure”, disse Krimes. Seu maior medo é que o interesse do mundo da arte passe para a próxima coisa antes que qualquer coisa estrutural mude.

“Eu reconheço o poder de chamar a si mesmo de ‘artista anteriormente encarcerado’”, ele disse. Mas, no fundo, ele acrescentou, “você quer ser conhecido apenas como um artista”. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Em 2010, no centro de recreação da Fairton Federal Correctional Institution, uma prisão de segurança média para homens no sul de Nova Jersey, nasceu um coletivo de arte.

Cinco anos depois de uma sentença de 13 anos por acusações relacionadas a drogas, Jared Owens redescobriu seu amor de infância pela cerâmica e aprendeu a pintar sozinho. Ele estava supervisionando a sala de arte quando Gilberto Rivera, um grafiteiro, e Jesse Krimes, formado em arte pela Millersville University, na Pensilvânia, foram transferidos para Fairton para terminar suas penas. Eles compartilhavam assinaturas de revistas de arte, suprimentos, ideias e camaradagem em resistência às suas circunstâncias.

Com a ajuda de Owens e Rivera, Krimes secretamente reuniu lençóis da prisão em que ele fez colagens com imagens do New York Times, usando gel de cabelo e uma colher para levantar e transferir os impressos para suas telas de contrabando. Ele contrabandeou peças, uma a uma, pela sala de correio da prisão. Ao longo de três anos, a prática subversiva evoluiu para um mural monumental, uma alegoria do Céu, Terra e Inferno ao estilo de Hieronymus Bosch, que ele intitulou Apokaluptein: 16389067 - grego para apocalipse juntamente com seu número de prisioneiro. Tinha 4,5 m por 12m quando ele finalmente conseguiu montar os 39 segmentos pela primeira vez após sua libertação em 2013, depois de cumprir seis anos por acusações relativas a drogas.

“Não se trata de algum estranho entrando e fazendo um programa de artes - eram eles por conta própria, aproveitando esse espaço, qualquer dignidade que pudessem criar, e depois levando isso com eles quando voltavam para casa”, disse Alysa Nahmias, diretora de Art & Krimes by Krimes, um filme que será lançado nos cinemas em 30 de setembro pela MTV Documentary Films e transmitido pela Paramount+ a partir de 22 de novembro. Ele narra a produção de Apokaluptein e os primeiros cinco anos de Krimes fora prisão enquanto luta para forjar uma carreira no mundo da arte com o apoio de amigos. Um deles é Russell Craig, que descobriu a arte aos 7 anos enquanto morava em lares de adoção. Depois de cumprir 12 anos por acusações relacionadas a drogas em prisões na Pensilvânia e Virgínia, ele conheceu Krimes quando ambos haviam sido libertados recentemente e estavam trabalhando como assistentes do programa de justiça restaurativa da Mural Arts Philadelphia.

Vista da instalação de 'Apokaluptein: 16389067' de Jesse Krimes (2010-13) em 'Marking Time' no MoMA PS1 em 2020. A tela foi feita de lençóis e contrabandeada para fora da prisão em pedaços. Foto: Karsten Moran/The New York Times

Esses artistas estavam entre várias dezenas de outros na exposição histórica Marking Time: Art in the Age of Mass Incarceration, inaugurada em 2020 no MoMA PS1 e em turnê desde então (acaba de ser inaugurada na Brown University). Organizado por Nicole Fleetwood, a historiadora de arte vencedora do prêmio MacArthur, deu nova visibilidade às pessoas que lutam contra o apagamento social no sistema carcerário dos EUA, que agora prende cerca de 2 milhões de pessoas anualmente - um aumento de 500% desde 1970. Os negros são encarcerados por delitos relacionados a drogas a uma taxa 10 vezes maior do que os brancos, apesar do uso aproximadamente igual, de acordo com a União Americana das Liberdades Civis.

Mudança de vida

Agora, um pequeno grupo de artistas da exposição está ganhando força no mundo da arte, com representação em galerias, aquisições de museus, comissões de prestígio, residências e bolsas de estudo. Com a ajuda de doadores poderosos, artistas, líderes artísticos e ativistas, essa vanguarda está trabalhando estruturalmente para abrir caminho para seus pares. Ainda não se sabe se os museus em todo o país apoiarão esses esforços.

Fleetwood - que descreveu a orientação de colegas em Fairton, que ecoou nas prisões de todo o país, como “inspiradora” - espera que a exposição “ajude a sacudir as instituições culturais em termos do que elas normalmente mostram”.

Marking Time atraiu mais de 35.000 visitantes ao MoMA PS1, apesar das restrições da covid-19 e ganhou elogios da crítica, com Apokaluptein aclamado como o ”magnum opus carcerário” por Holland Cotter no The New York Times.

Marking Time foi definitivamente fundamental em todas as nossas carreiras e praticamente legitimou pessoas que vêm desse passado de encarceramento”, disse Mary Enoch Elizabeth Baxter, uma artista da exposição que foi presa por oito meses sob acusações que incluíam conspiração criminosa. Ela agora faz parte da equipe do MoMA PS1 como gerente de projeto para aprendizado.

Ela recebeu várias bolsas de estudo, incluindo uma residência para examinar o viés de adultificação de meninas negras - como a sociedade tende a considerar algumas crianças mais velhas do que são, precisando de menos proteção - como a causa raiz do encarceramento. Baxter acaba de ser contratada para liderar oficinas com mulheres encarceradas em Rikers Island, o que culminará em um mural comunitário.

'Idol Time' (2022), tinta a óleo e acrílica sobre couro e tela, de Russell Craig, foi exibido na Galeria Malin. Foto: Russell Craig and Malin Gallery via The New York Times

O negociante de arte Barry Malin viu uma grande mudança no interesse dos colecionadores desde que começou a representar Krimes. Em 2016, o artista entrou no novo espaço em Chelsea aberto por Malin, um ex-cirurgião com foco em justiça social, e com base em sua conexão pessoal, o galerista se ofereceu para mostrar seus trabalhos prisionais. Nada foi vendido naquela primeira exposição, mas levou a uma série de subsídios para Krimes.

“Foi um desafio fazer com que as pessoas apreciassem isso apenas como arte”, disse Malin, que também representa Craig e Owens. Ele disse que viu uma nova receptividade desde Marking Time; o acerto de contas nacional de 2020 com raça e justiça; e uma simpatia maior com as pessoas enredadas pelas drogas, na sequência da crise dos opiáceos.

O termo “artista anteriormente encarcerado” tornou-se “uma designação favorável”, disse Malin. A primeira exposição individual de pinturas e trabalhos de montagem de Owens acaba de ser inaugurada na 515 West 29th St., até 19 de novembro, com preços a partir de US$ 26.000.

No mês passado, Owens estava terminando os trabalhos em seu estúdio na Silver Art Projects, no 28º andar do 4 World Trade Center. Cofundada por Joshua Pulman e Cory Silverstein e financiada em parte pela Silverstein Properties, que reconstruiu o complexo do World Trade Center, a organização sem fins lucrativos oferece espaços de estúdio gratuitos e oportunidades de carreira para 28 artistas emergentes de comunidades marginalizadas.

“A sociedade não consegue nem visualizar os prisioneiros como seres humanos”, disse Owens. “Vou chamar sua atenção para isso”, acrescentou. “Vou manter isso em sua mente.”

Ele estava usando figuras sombreadas de um diagrama do século 18 do navio negreiro Brookes, reproduzindo-as em fileiras como um motivo serial em telas que oscilam entre representação e abstração borrada e sugerem a arquitetura da prisão.

Com um subsídio este ano do Art for Justice Fund, fundado em 2017 pela filantropa Agnes Gund para apoiar ativistas e artistas que trabalham para reduzir a população carcerária, a Silver Art agora reserva anualmente várias vagas de residência para artistas anteriormente encarcerados. Baxter, Krimes e Craig se juntaram a Owens nos cobiçados espaços de estúdio este mês.

“A alquimia da arte como ferramenta para garantir a justiça não pode ser exagerada”, disse Gund, que coleciona obras de Krimes e Craig (assim como o Brooklyn Museum).

Em sua recente primeira exposição solo em Nova York na Malin Gallery, Craig mostrou telas autobiográficas frequentemente pintadas em fragmentos de bolsas de couro costurados juntos como uma pele, referenciando o corpo negro no sistema prisional.

“Levei anos para decidir descompactar minha experiência na prisão”, disse Craig. “Eu não queria explorar minha situação ou a de qualquer outra pessoa.” Três quartos da exposição foram vendidos, com preços a partir de US$ 35.000. Entre seus colecionadores estavam Tim e Stephanie Ingrassia (ela é vice-presidente do Brooklyn Museum).

O estúdio de Jared Owens, um artista ex-encarcerado, no espaço de residência do Silver Art Project. A organização sem fins lucrativos que Krimes co-fundou, Right of Return USA, está apoiando alguns dos artistas. Foto: Christopher Gregory/The New York Times

Krimes já teve cinco exposições na galeria. “As pessoas não estão mais questionando, ele é um artista ou ele é uma curiosidade?” disse Malin. A série de Krimes de “Elegy Quilts”, reunida a partir de roupas de indivíduos encarcerados e retratando suas lembranças de casa, começou em US $ 25.000 e esgotou rapidamente para colecionadores, incluindo Beth Rudin DeWoody.

Malin aumentou gradualmente os preços de Krimes para US$ 75.000. “O próximo obstáculo a ser superado”, disse Malin, “é: as pessoas vão levar isso a sério o suficiente para ultrapassar esse preço?”

Krimes e Craig receberam um subsídio da Open Philanthropy para co-fundar a Right of Return USA em 2017, que oferece bolsas de US$ 20.000 para meia dúzia de artistas ex-presidiários a cada ano.

Baxter recebeu uma dessas bolsas inaugurais após a prisão, quando tinha menos de US$ 5 em sua conta bancária, e descreveu o apoio como uma mudança de vida. “Isso me deu a oportunidade de encontrar moradia estável e revisitar minhas aspirações artísticas”, ela disse. O subsídio financiou seu filme musical “Ain’t I a Woman”, no qual Baxter contou sua história de vida, incluindo dar à luz na prisão algemada em uma maca.

(Outros bolsistas do Right of Return incluem o poeta Reginald Dwayne Betts; o artista Sherrill Roland, representado pela Tanya Bonakdar Gallery; Gilberto Rivera; e Tameca Cole, cuja colagem de 2016 de um rosto envolto em uma nuvem cinza, intitulado “Locked in a Dark Calm,” é a imagem de abertura em “Marking Time.”)

Krimes e Craig receberam recentemente US$ 1,1 milhão da Mellon Foundation, para ajudar a expandir o Right of Return de uma bolsa para uma organização sem fins lucrativos chamada Art and Advocacy Society, que contratará funcionários e abrangerá um programa de escola e residência.

Eles estão trabalhando com Kate Fowle, ex-diretora do MoMA PS1, que trouxe “Marking Time” para o museu, no programa piloto da escola, que foi acolhido pelo MoMA PS1 com US$ 300.000 em financiamento adicional da Art for Justice de Gund e da Fundação Ford. Um grupo de seis artistas - Krimes, Craig, Owens, Baxter, Cole e Rivera - está recebendo desenvolvimento profissional e orientação individual de Sterling Ruby, Hank Willis Thomas, Rashid Johnson, Lorna Simpson, Derrick Adams e Rafael Domenech.

Em novembro, a Christie’s leiloará obras de Johnson e Mickalene Thomas, entre outros, para beneficiar a Art and Advocacy Society e um programa de residência permanente. “Nosso objetivo é criar um movimento nacional multirracial que seja fundamental e que dure”, disse Krimes. Seu maior medo é que o interesse do mundo da arte passe para a próxima coisa antes que qualquer coisa estrutural mude.

“Eu reconheço o poder de chamar a si mesmo de ‘artista anteriormente encarcerado’”, ele disse. Mas, no fundo, ele acrescentou, “você quer ser conhecido apenas como um artista”. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Em 2010, no centro de recreação da Fairton Federal Correctional Institution, uma prisão de segurança média para homens no sul de Nova Jersey, nasceu um coletivo de arte.

Cinco anos depois de uma sentença de 13 anos por acusações relacionadas a drogas, Jared Owens redescobriu seu amor de infância pela cerâmica e aprendeu a pintar sozinho. Ele estava supervisionando a sala de arte quando Gilberto Rivera, um grafiteiro, e Jesse Krimes, formado em arte pela Millersville University, na Pensilvânia, foram transferidos para Fairton para terminar suas penas. Eles compartilhavam assinaturas de revistas de arte, suprimentos, ideias e camaradagem em resistência às suas circunstâncias.

Com a ajuda de Owens e Rivera, Krimes secretamente reuniu lençóis da prisão em que ele fez colagens com imagens do New York Times, usando gel de cabelo e uma colher para levantar e transferir os impressos para suas telas de contrabando. Ele contrabandeou peças, uma a uma, pela sala de correio da prisão. Ao longo de três anos, a prática subversiva evoluiu para um mural monumental, uma alegoria do Céu, Terra e Inferno ao estilo de Hieronymus Bosch, que ele intitulou Apokaluptein: 16389067 - grego para apocalipse juntamente com seu número de prisioneiro. Tinha 4,5 m por 12m quando ele finalmente conseguiu montar os 39 segmentos pela primeira vez após sua libertação em 2013, depois de cumprir seis anos por acusações relativas a drogas.

“Não se trata de algum estranho entrando e fazendo um programa de artes - eram eles por conta própria, aproveitando esse espaço, qualquer dignidade que pudessem criar, e depois levando isso com eles quando voltavam para casa”, disse Alysa Nahmias, diretora de Art & Krimes by Krimes, um filme que será lançado nos cinemas em 30 de setembro pela MTV Documentary Films e transmitido pela Paramount+ a partir de 22 de novembro. Ele narra a produção de Apokaluptein e os primeiros cinco anos de Krimes fora prisão enquanto luta para forjar uma carreira no mundo da arte com o apoio de amigos. Um deles é Russell Craig, que descobriu a arte aos 7 anos enquanto morava em lares de adoção. Depois de cumprir 12 anos por acusações relacionadas a drogas em prisões na Pensilvânia e Virgínia, ele conheceu Krimes quando ambos haviam sido libertados recentemente e estavam trabalhando como assistentes do programa de justiça restaurativa da Mural Arts Philadelphia.

Vista da instalação de 'Apokaluptein: 16389067' de Jesse Krimes (2010-13) em 'Marking Time' no MoMA PS1 em 2020. A tela foi feita de lençóis e contrabandeada para fora da prisão em pedaços. Foto: Karsten Moran/The New York Times

Esses artistas estavam entre várias dezenas de outros na exposição histórica Marking Time: Art in the Age of Mass Incarceration, inaugurada em 2020 no MoMA PS1 e em turnê desde então (acaba de ser inaugurada na Brown University). Organizado por Nicole Fleetwood, a historiadora de arte vencedora do prêmio MacArthur, deu nova visibilidade às pessoas que lutam contra o apagamento social no sistema carcerário dos EUA, que agora prende cerca de 2 milhões de pessoas anualmente - um aumento de 500% desde 1970. Os negros são encarcerados por delitos relacionados a drogas a uma taxa 10 vezes maior do que os brancos, apesar do uso aproximadamente igual, de acordo com a União Americana das Liberdades Civis.

Mudança de vida

Agora, um pequeno grupo de artistas da exposição está ganhando força no mundo da arte, com representação em galerias, aquisições de museus, comissões de prestígio, residências e bolsas de estudo. Com a ajuda de doadores poderosos, artistas, líderes artísticos e ativistas, essa vanguarda está trabalhando estruturalmente para abrir caminho para seus pares. Ainda não se sabe se os museus em todo o país apoiarão esses esforços.

Fleetwood - que descreveu a orientação de colegas em Fairton, que ecoou nas prisões de todo o país, como “inspiradora” - espera que a exposição “ajude a sacudir as instituições culturais em termos do que elas normalmente mostram”.

Marking Time atraiu mais de 35.000 visitantes ao MoMA PS1, apesar das restrições da covid-19 e ganhou elogios da crítica, com Apokaluptein aclamado como o ”magnum opus carcerário” por Holland Cotter no The New York Times.

Marking Time foi definitivamente fundamental em todas as nossas carreiras e praticamente legitimou pessoas que vêm desse passado de encarceramento”, disse Mary Enoch Elizabeth Baxter, uma artista da exposição que foi presa por oito meses sob acusações que incluíam conspiração criminosa. Ela agora faz parte da equipe do MoMA PS1 como gerente de projeto para aprendizado.

Ela recebeu várias bolsas de estudo, incluindo uma residência para examinar o viés de adultificação de meninas negras - como a sociedade tende a considerar algumas crianças mais velhas do que são, precisando de menos proteção - como a causa raiz do encarceramento. Baxter acaba de ser contratada para liderar oficinas com mulheres encarceradas em Rikers Island, o que culminará em um mural comunitário.

'Idol Time' (2022), tinta a óleo e acrílica sobre couro e tela, de Russell Craig, foi exibido na Galeria Malin. Foto: Russell Craig and Malin Gallery via The New York Times

O negociante de arte Barry Malin viu uma grande mudança no interesse dos colecionadores desde que começou a representar Krimes. Em 2016, o artista entrou no novo espaço em Chelsea aberto por Malin, um ex-cirurgião com foco em justiça social, e com base em sua conexão pessoal, o galerista se ofereceu para mostrar seus trabalhos prisionais. Nada foi vendido naquela primeira exposição, mas levou a uma série de subsídios para Krimes.

“Foi um desafio fazer com que as pessoas apreciassem isso apenas como arte”, disse Malin, que também representa Craig e Owens. Ele disse que viu uma nova receptividade desde Marking Time; o acerto de contas nacional de 2020 com raça e justiça; e uma simpatia maior com as pessoas enredadas pelas drogas, na sequência da crise dos opiáceos.

O termo “artista anteriormente encarcerado” tornou-se “uma designação favorável”, disse Malin. A primeira exposição individual de pinturas e trabalhos de montagem de Owens acaba de ser inaugurada na 515 West 29th St., até 19 de novembro, com preços a partir de US$ 26.000.

No mês passado, Owens estava terminando os trabalhos em seu estúdio na Silver Art Projects, no 28º andar do 4 World Trade Center. Cofundada por Joshua Pulman e Cory Silverstein e financiada em parte pela Silverstein Properties, que reconstruiu o complexo do World Trade Center, a organização sem fins lucrativos oferece espaços de estúdio gratuitos e oportunidades de carreira para 28 artistas emergentes de comunidades marginalizadas.

“A sociedade não consegue nem visualizar os prisioneiros como seres humanos”, disse Owens. “Vou chamar sua atenção para isso”, acrescentou. “Vou manter isso em sua mente.”

Ele estava usando figuras sombreadas de um diagrama do século 18 do navio negreiro Brookes, reproduzindo-as em fileiras como um motivo serial em telas que oscilam entre representação e abstração borrada e sugerem a arquitetura da prisão.

Com um subsídio este ano do Art for Justice Fund, fundado em 2017 pela filantropa Agnes Gund para apoiar ativistas e artistas que trabalham para reduzir a população carcerária, a Silver Art agora reserva anualmente várias vagas de residência para artistas anteriormente encarcerados. Baxter, Krimes e Craig se juntaram a Owens nos cobiçados espaços de estúdio este mês.

“A alquimia da arte como ferramenta para garantir a justiça não pode ser exagerada”, disse Gund, que coleciona obras de Krimes e Craig (assim como o Brooklyn Museum).

Em sua recente primeira exposição solo em Nova York na Malin Gallery, Craig mostrou telas autobiográficas frequentemente pintadas em fragmentos de bolsas de couro costurados juntos como uma pele, referenciando o corpo negro no sistema prisional.

“Levei anos para decidir descompactar minha experiência na prisão”, disse Craig. “Eu não queria explorar minha situação ou a de qualquer outra pessoa.” Três quartos da exposição foram vendidos, com preços a partir de US$ 35.000. Entre seus colecionadores estavam Tim e Stephanie Ingrassia (ela é vice-presidente do Brooklyn Museum).

O estúdio de Jared Owens, um artista ex-encarcerado, no espaço de residência do Silver Art Project. A organização sem fins lucrativos que Krimes co-fundou, Right of Return USA, está apoiando alguns dos artistas. Foto: Christopher Gregory/The New York Times

Krimes já teve cinco exposições na galeria. “As pessoas não estão mais questionando, ele é um artista ou ele é uma curiosidade?” disse Malin. A série de Krimes de “Elegy Quilts”, reunida a partir de roupas de indivíduos encarcerados e retratando suas lembranças de casa, começou em US $ 25.000 e esgotou rapidamente para colecionadores, incluindo Beth Rudin DeWoody.

Malin aumentou gradualmente os preços de Krimes para US$ 75.000. “O próximo obstáculo a ser superado”, disse Malin, “é: as pessoas vão levar isso a sério o suficiente para ultrapassar esse preço?”

Krimes e Craig receberam um subsídio da Open Philanthropy para co-fundar a Right of Return USA em 2017, que oferece bolsas de US$ 20.000 para meia dúzia de artistas ex-presidiários a cada ano.

Baxter recebeu uma dessas bolsas inaugurais após a prisão, quando tinha menos de US$ 5 em sua conta bancária, e descreveu o apoio como uma mudança de vida. “Isso me deu a oportunidade de encontrar moradia estável e revisitar minhas aspirações artísticas”, ela disse. O subsídio financiou seu filme musical “Ain’t I a Woman”, no qual Baxter contou sua história de vida, incluindo dar à luz na prisão algemada em uma maca.

(Outros bolsistas do Right of Return incluem o poeta Reginald Dwayne Betts; o artista Sherrill Roland, representado pela Tanya Bonakdar Gallery; Gilberto Rivera; e Tameca Cole, cuja colagem de 2016 de um rosto envolto em uma nuvem cinza, intitulado “Locked in a Dark Calm,” é a imagem de abertura em “Marking Time.”)

Krimes e Craig receberam recentemente US$ 1,1 milhão da Mellon Foundation, para ajudar a expandir o Right of Return de uma bolsa para uma organização sem fins lucrativos chamada Art and Advocacy Society, que contratará funcionários e abrangerá um programa de escola e residência.

Eles estão trabalhando com Kate Fowle, ex-diretora do MoMA PS1, que trouxe “Marking Time” para o museu, no programa piloto da escola, que foi acolhido pelo MoMA PS1 com US$ 300.000 em financiamento adicional da Art for Justice de Gund e da Fundação Ford. Um grupo de seis artistas - Krimes, Craig, Owens, Baxter, Cole e Rivera - está recebendo desenvolvimento profissional e orientação individual de Sterling Ruby, Hank Willis Thomas, Rashid Johnson, Lorna Simpson, Derrick Adams e Rafael Domenech.

Em novembro, a Christie’s leiloará obras de Johnson e Mickalene Thomas, entre outros, para beneficiar a Art and Advocacy Society e um programa de residência permanente. “Nosso objetivo é criar um movimento nacional multirracial que seja fundamental e que dure”, disse Krimes. Seu maior medo é que o interesse do mundo da arte passe para a próxima coisa antes que qualquer coisa estrutural mude.

“Eu reconheço o poder de chamar a si mesmo de ‘artista anteriormente encarcerado’”, ele disse. Mas, no fundo, ele acrescentou, “você quer ser conhecido apenas como um artista”. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Em 2010, no centro de recreação da Fairton Federal Correctional Institution, uma prisão de segurança média para homens no sul de Nova Jersey, nasceu um coletivo de arte.

Cinco anos depois de uma sentença de 13 anos por acusações relacionadas a drogas, Jared Owens redescobriu seu amor de infância pela cerâmica e aprendeu a pintar sozinho. Ele estava supervisionando a sala de arte quando Gilberto Rivera, um grafiteiro, e Jesse Krimes, formado em arte pela Millersville University, na Pensilvânia, foram transferidos para Fairton para terminar suas penas. Eles compartilhavam assinaturas de revistas de arte, suprimentos, ideias e camaradagem em resistência às suas circunstâncias.

Com a ajuda de Owens e Rivera, Krimes secretamente reuniu lençóis da prisão em que ele fez colagens com imagens do New York Times, usando gel de cabelo e uma colher para levantar e transferir os impressos para suas telas de contrabando. Ele contrabandeou peças, uma a uma, pela sala de correio da prisão. Ao longo de três anos, a prática subversiva evoluiu para um mural monumental, uma alegoria do Céu, Terra e Inferno ao estilo de Hieronymus Bosch, que ele intitulou Apokaluptein: 16389067 - grego para apocalipse juntamente com seu número de prisioneiro. Tinha 4,5 m por 12m quando ele finalmente conseguiu montar os 39 segmentos pela primeira vez após sua libertação em 2013, depois de cumprir seis anos por acusações relativas a drogas.

“Não se trata de algum estranho entrando e fazendo um programa de artes - eram eles por conta própria, aproveitando esse espaço, qualquer dignidade que pudessem criar, e depois levando isso com eles quando voltavam para casa”, disse Alysa Nahmias, diretora de Art & Krimes by Krimes, um filme que será lançado nos cinemas em 30 de setembro pela MTV Documentary Films e transmitido pela Paramount+ a partir de 22 de novembro. Ele narra a produção de Apokaluptein e os primeiros cinco anos de Krimes fora prisão enquanto luta para forjar uma carreira no mundo da arte com o apoio de amigos. Um deles é Russell Craig, que descobriu a arte aos 7 anos enquanto morava em lares de adoção. Depois de cumprir 12 anos por acusações relacionadas a drogas em prisões na Pensilvânia e Virgínia, ele conheceu Krimes quando ambos haviam sido libertados recentemente e estavam trabalhando como assistentes do programa de justiça restaurativa da Mural Arts Philadelphia.

Vista da instalação de 'Apokaluptein: 16389067' de Jesse Krimes (2010-13) em 'Marking Time' no MoMA PS1 em 2020. A tela foi feita de lençóis e contrabandeada para fora da prisão em pedaços. Foto: Karsten Moran/The New York Times

Esses artistas estavam entre várias dezenas de outros na exposição histórica Marking Time: Art in the Age of Mass Incarceration, inaugurada em 2020 no MoMA PS1 e em turnê desde então (acaba de ser inaugurada na Brown University). Organizado por Nicole Fleetwood, a historiadora de arte vencedora do prêmio MacArthur, deu nova visibilidade às pessoas que lutam contra o apagamento social no sistema carcerário dos EUA, que agora prende cerca de 2 milhões de pessoas anualmente - um aumento de 500% desde 1970. Os negros são encarcerados por delitos relacionados a drogas a uma taxa 10 vezes maior do que os brancos, apesar do uso aproximadamente igual, de acordo com a União Americana das Liberdades Civis.

Mudança de vida

Agora, um pequeno grupo de artistas da exposição está ganhando força no mundo da arte, com representação em galerias, aquisições de museus, comissões de prestígio, residências e bolsas de estudo. Com a ajuda de doadores poderosos, artistas, líderes artísticos e ativistas, essa vanguarda está trabalhando estruturalmente para abrir caminho para seus pares. Ainda não se sabe se os museus em todo o país apoiarão esses esforços.

Fleetwood - que descreveu a orientação de colegas em Fairton, que ecoou nas prisões de todo o país, como “inspiradora” - espera que a exposição “ajude a sacudir as instituições culturais em termos do que elas normalmente mostram”.

Marking Time atraiu mais de 35.000 visitantes ao MoMA PS1, apesar das restrições da covid-19 e ganhou elogios da crítica, com Apokaluptein aclamado como o ”magnum opus carcerário” por Holland Cotter no The New York Times.

Marking Time foi definitivamente fundamental em todas as nossas carreiras e praticamente legitimou pessoas que vêm desse passado de encarceramento”, disse Mary Enoch Elizabeth Baxter, uma artista da exposição que foi presa por oito meses sob acusações que incluíam conspiração criminosa. Ela agora faz parte da equipe do MoMA PS1 como gerente de projeto para aprendizado.

Ela recebeu várias bolsas de estudo, incluindo uma residência para examinar o viés de adultificação de meninas negras - como a sociedade tende a considerar algumas crianças mais velhas do que são, precisando de menos proteção - como a causa raiz do encarceramento. Baxter acaba de ser contratada para liderar oficinas com mulheres encarceradas em Rikers Island, o que culminará em um mural comunitário.

'Idol Time' (2022), tinta a óleo e acrílica sobre couro e tela, de Russell Craig, foi exibido na Galeria Malin. Foto: Russell Craig and Malin Gallery via The New York Times

O negociante de arte Barry Malin viu uma grande mudança no interesse dos colecionadores desde que começou a representar Krimes. Em 2016, o artista entrou no novo espaço em Chelsea aberto por Malin, um ex-cirurgião com foco em justiça social, e com base em sua conexão pessoal, o galerista se ofereceu para mostrar seus trabalhos prisionais. Nada foi vendido naquela primeira exposição, mas levou a uma série de subsídios para Krimes.

“Foi um desafio fazer com que as pessoas apreciassem isso apenas como arte”, disse Malin, que também representa Craig e Owens. Ele disse que viu uma nova receptividade desde Marking Time; o acerto de contas nacional de 2020 com raça e justiça; e uma simpatia maior com as pessoas enredadas pelas drogas, na sequência da crise dos opiáceos.

O termo “artista anteriormente encarcerado” tornou-se “uma designação favorável”, disse Malin. A primeira exposição individual de pinturas e trabalhos de montagem de Owens acaba de ser inaugurada na 515 West 29th St., até 19 de novembro, com preços a partir de US$ 26.000.

No mês passado, Owens estava terminando os trabalhos em seu estúdio na Silver Art Projects, no 28º andar do 4 World Trade Center. Cofundada por Joshua Pulman e Cory Silverstein e financiada em parte pela Silverstein Properties, que reconstruiu o complexo do World Trade Center, a organização sem fins lucrativos oferece espaços de estúdio gratuitos e oportunidades de carreira para 28 artistas emergentes de comunidades marginalizadas.

“A sociedade não consegue nem visualizar os prisioneiros como seres humanos”, disse Owens. “Vou chamar sua atenção para isso”, acrescentou. “Vou manter isso em sua mente.”

Ele estava usando figuras sombreadas de um diagrama do século 18 do navio negreiro Brookes, reproduzindo-as em fileiras como um motivo serial em telas que oscilam entre representação e abstração borrada e sugerem a arquitetura da prisão.

Com um subsídio este ano do Art for Justice Fund, fundado em 2017 pela filantropa Agnes Gund para apoiar ativistas e artistas que trabalham para reduzir a população carcerária, a Silver Art agora reserva anualmente várias vagas de residência para artistas anteriormente encarcerados. Baxter, Krimes e Craig se juntaram a Owens nos cobiçados espaços de estúdio este mês.

“A alquimia da arte como ferramenta para garantir a justiça não pode ser exagerada”, disse Gund, que coleciona obras de Krimes e Craig (assim como o Brooklyn Museum).

Em sua recente primeira exposição solo em Nova York na Malin Gallery, Craig mostrou telas autobiográficas frequentemente pintadas em fragmentos de bolsas de couro costurados juntos como uma pele, referenciando o corpo negro no sistema prisional.

“Levei anos para decidir descompactar minha experiência na prisão”, disse Craig. “Eu não queria explorar minha situação ou a de qualquer outra pessoa.” Três quartos da exposição foram vendidos, com preços a partir de US$ 35.000. Entre seus colecionadores estavam Tim e Stephanie Ingrassia (ela é vice-presidente do Brooklyn Museum).

O estúdio de Jared Owens, um artista ex-encarcerado, no espaço de residência do Silver Art Project. A organização sem fins lucrativos que Krimes co-fundou, Right of Return USA, está apoiando alguns dos artistas. Foto: Christopher Gregory/The New York Times

Krimes já teve cinco exposições na galeria. “As pessoas não estão mais questionando, ele é um artista ou ele é uma curiosidade?” disse Malin. A série de Krimes de “Elegy Quilts”, reunida a partir de roupas de indivíduos encarcerados e retratando suas lembranças de casa, começou em US $ 25.000 e esgotou rapidamente para colecionadores, incluindo Beth Rudin DeWoody.

Malin aumentou gradualmente os preços de Krimes para US$ 75.000. “O próximo obstáculo a ser superado”, disse Malin, “é: as pessoas vão levar isso a sério o suficiente para ultrapassar esse preço?”

Krimes e Craig receberam um subsídio da Open Philanthropy para co-fundar a Right of Return USA em 2017, que oferece bolsas de US$ 20.000 para meia dúzia de artistas ex-presidiários a cada ano.

Baxter recebeu uma dessas bolsas inaugurais após a prisão, quando tinha menos de US$ 5 em sua conta bancária, e descreveu o apoio como uma mudança de vida. “Isso me deu a oportunidade de encontrar moradia estável e revisitar minhas aspirações artísticas”, ela disse. O subsídio financiou seu filme musical “Ain’t I a Woman”, no qual Baxter contou sua história de vida, incluindo dar à luz na prisão algemada em uma maca.

(Outros bolsistas do Right of Return incluem o poeta Reginald Dwayne Betts; o artista Sherrill Roland, representado pela Tanya Bonakdar Gallery; Gilberto Rivera; e Tameca Cole, cuja colagem de 2016 de um rosto envolto em uma nuvem cinza, intitulado “Locked in a Dark Calm,” é a imagem de abertura em “Marking Time.”)

Krimes e Craig receberam recentemente US$ 1,1 milhão da Mellon Foundation, para ajudar a expandir o Right of Return de uma bolsa para uma organização sem fins lucrativos chamada Art and Advocacy Society, que contratará funcionários e abrangerá um programa de escola e residência.

Eles estão trabalhando com Kate Fowle, ex-diretora do MoMA PS1, que trouxe “Marking Time” para o museu, no programa piloto da escola, que foi acolhido pelo MoMA PS1 com US$ 300.000 em financiamento adicional da Art for Justice de Gund e da Fundação Ford. Um grupo de seis artistas - Krimes, Craig, Owens, Baxter, Cole e Rivera - está recebendo desenvolvimento profissional e orientação individual de Sterling Ruby, Hank Willis Thomas, Rashid Johnson, Lorna Simpson, Derrick Adams e Rafael Domenech.

Em novembro, a Christie’s leiloará obras de Johnson e Mickalene Thomas, entre outros, para beneficiar a Art and Advocacy Society e um programa de residência permanente. “Nosso objetivo é criar um movimento nacional multirracial que seja fundamental e que dure”, disse Krimes. Seu maior medo é que o interesse do mundo da arte passe para a próxima coisa antes que qualquer coisa estrutural mude.

“Eu reconheço o poder de chamar a si mesmo de ‘artista anteriormente encarcerado’”, ele disse. Mas, no fundo, ele acrescentou, “você quer ser conhecido apenas como um artista”. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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