Programa infantil na Dinamarca mostra pessoas nuas para falar de corpos reais


Programa quer ser um contraponto das redes sociais, que bombardeiam os mais jovens com imagens de corpos perfeitos

Por Thomas Erdbrink e Martin Selsoe Sorensen
Atualização:

COPENHAGUE, DINAMARCA - “OK, crianças, alguém quer fazer uma pergunta?”, indagou o apresentador do programa, Jannik Schow. Poucos entre o público de 11 a 13 anos levantaram a mão. “Lembrem-se, não há nada de errado em perguntar", disse ele. “Não há perguntas proibidas”. 

Não poderíamos culpar as crianças por estarem com o pensamento longe. Diante deles, no palco de um estúdio aquecido em Copenhague, Dinamarca, havia cinco adultos de roupão. Houve um breve momento de silêncio enquanto os rostos ficaram sérios. Depois de conversar antecipadamente a respeito do assunto durante dias na escola, as crianças sabiam o que aconteceria em seguida. Schow fez um sinal com a cabeça, e os adultos tiraram seus roupões.

Robert Lee Harris e Emilie Belle Zander Møller posam pararetrato para a divulgação do programaUltra Strips Down. Foto: Betina Garcia/The New York Times
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De frente para as crianças e as câmeras, eles ficaram completamente nus, imóveis feito estátuas, com os braços e as mãos cruzados às suas costas. E assim começou a gravação do mais recente episódio de um premiado programa infantil dinamarquês, Ultra Strips Down, exibido pelo canal Ultra, rede de conteúdo infantil sob demanda que faz parte da emissora nacional DR. O assunto do dia: pele, cabelos e pelos.

Os produtores da atração dizem que o programa foi pensado como ferramenta educativa para combater o constrangimento causado pela aparência e incentivar uma imagem corporal positiva. E, assim, primeiro com relutância e depois com entusiasmo, as crianças da Escola Orestad, de Copenhague, fizeram aos adultos perguntas como, “Que idade você tinha quando começaram a crescer pelos na parte de baixo do corpo?”, “Pensa em apagar as tatuagens?”, “Sente-se satisfeito(a) com suas partes íntimas?”

Um dos adultos, Martin, respondeu que nunca teve “pensamentos negativos” a respeito de suas partes íntimas. Outro adulto, também chamado Martin, reconheceu que, quando mais novo, chegou a se preocupar com a questão do tamanho. “Mas minha relação com o corpo mudou com o tempo", disse ele. Com expressões sérias, as crianças assentiram com um gesto da cabeça.

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O programa está atualmente na segunda temporada, e embora possa parecer chocante para os não dinamarqueses, trata-se de uma atração muito popular na Dinamarca. Mas, recentemente, Peter Skaarup, um importante membro do Partido do Povo Dinamarquês, de extrema direita, disse considerar que Ultra Strips Down está “depravando nossas crianças". “É muito cedo para que as crianças” comecem a aprender a respeito da genitália masculina e feminina, disse ele ao tabloide dinamarquês B.T.

De acordo com ele, nessa idade, elas “já têm coisas demais na cabeça". “É algo que precisam aprender no momento certo", acrescentou ele, dizendo que a informação deveria ser apresentada pelos pais ou pelas escolas “para que não seja transmitida de maneira tão vulgar, como faz esse canal infantil". Mas, no geral, os dinamarqueses há muito se mostram à vontade diante da nudez - nas praias públicas, por exemplo.

Schow, 29 anos, que ajudou a desenvolver o conceito do programa depois que um produtor apresentou a ideia original, disse que o objetivo também era combater o bombardeio diário de imagens de corpos perfeitos (não realistas) ao qual os jovens são submetidos. Os adultos não são atores, e sim voluntários. “Talvez algumas pessoas reajam pensando, ‘Meu Deus, eles misturam crianças e nudez’”, disse Schow. “Mas isso não tem nada a ver com sexo; a ideia é encarar o corpo como algo natural, como fazem as crianças.”

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Muitos dinamarqueses acreditam que não se deve proteger as crianças das realidades da vida, e como resultado elas passam bastante tempo brincando e explorando sem supervisão, ainda que possam se machucar. Durante o programa a respeito da pele, dos cabelos e pelos, uma das adultas, Ule, 76 anos, foi indagada quanto ao motivo que a levou a participar, ao que ela respondeu que desejava mostrar às crianças que corpos perfeitos são raros, e aquilo que elas encontram nas redes sociais costuma ser falso.

Participantes se preparam para se despir para o programa Ultra Strips Down. Foto: Betina Garcia/The New York Times

“No Facebook e no Instagram muitas pessoas são como modelos", disse ela. “Já nós temos corpos comuns. Espero que entendam que corpos normais são assim", disse ela à plateia, apontando para o próprio corpo nu. O constrangimento por causa da imperfeição vem das redes sociais, disse Schow. “Noventa por cento dos corpos que vemos nas redes sociais são perfeitos, mas não é essa a aparência de 90% do mundo", disse ele.

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“Temos gordurinhas, pelos, acne. Queremos mostrar desde cedo às crianças que não há problema nisso.” Em sua primeira temporada, que foi ao ar em 2019, Ultra Strips Down ganhou prêmio de melhor programa infantil do ano no festival da TV dinamarquesa.

Na temporada de 2020, o programa, produzido pela filial dinamarquesa da Warner Bros. International Television Production, vai oferecer cinco novos episódios a respeito de uma variedade de assuntos, cada um apresentado a uma plateia de diferentes escolas.

A segurança das crianças vem em primeiro lugar, disseram os produtores do programa. Os pais devem consentir com a participação dos menores no programa; os produtores não mostram as crianças e os adultos no mesmo quadro; e pergunta-se constantemente às crianças se elas se sentem à vontade. Se alguma criança se sentir incomodada, pode ficar na companhia da professora no estúdio.

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“Mas temos mais de 250 crianças na plateia", disse Schow, “e isso nunca aconteceu". Os episódios já gravados, agora disponíveis no YouTube como clipes censurados do programa, mostram adultos com diferentes tipos de corpos - brancos, negros, gordos, magros, altos, baixos, jovens e velhos.

Um deles foi John, que tem nanismo; outro, Muffe, implantou pequenos chifres sob a pele da careca. A inclusão total é um dos principais objetivos do programa, motivo pelo qual as crianças também foram apresentadas a Rei, que é transgênero, fez vasectomia e tratamento de testosterona e se identifica com pronome sem gênero definido.

“Não sou menino nem menina; sou um pouco de tudo", disse Rei, mostrando o peito tatuado e a cabeça raspada. “Agora tenho sete fios de barba.” As crianças queriam saber se Rei tinha “se sentido diferente na escola", qual banheiro eles usam e que tipo de roupa de banho escolhem para vestir na praia.

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Depois do programa, três crianças se sentaram de pernas cruzadas no gramado do lado de fora do estúdio de TV para debater a experiência. Elas disseram que, no começo, a ideia do programa as fez rir. Mas todas disseram ter aprendido coisas úteis. “Foi engraçado", disse Theodore Knightley, 11 anos. “Gostei dos conselhos deles.” Ida Engelhardt Gundersen, 13 anos, disse ter ficado nervosa no começo. “Não estou acostumada a ver voluntários peladões nem a fazer perguntas a eles", disse ela.

“Mas aprendemos a respeito do corpo e de como outras pessoas se sentem em relação a seus corpos.” Sonya Chakrabarthy Geckler, 11 anos, disse que não sabia ao certo o que esperar. Mas, nas palavras dela, “sinto-me mais confiante em relação ao meu corpo agora”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

COPENHAGUE, DINAMARCA - “OK, crianças, alguém quer fazer uma pergunta?”, indagou o apresentador do programa, Jannik Schow. Poucos entre o público de 11 a 13 anos levantaram a mão. “Lembrem-se, não há nada de errado em perguntar", disse ele. “Não há perguntas proibidas”. 

Não poderíamos culpar as crianças por estarem com o pensamento longe. Diante deles, no palco de um estúdio aquecido em Copenhague, Dinamarca, havia cinco adultos de roupão. Houve um breve momento de silêncio enquanto os rostos ficaram sérios. Depois de conversar antecipadamente a respeito do assunto durante dias na escola, as crianças sabiam o que aconteceria em seguida. Schow fez um sinal com a cabeça, e os adultos tiraram seus roupões.

Robert Lee Harris e Emilie Belle Zander Møller posam pararetrato para a divulgação do programaUltra Strips Down. Foto: Betina Garcia/The New York Times

De frente para as crianças e as câmeras, eles ficaram completamente nus, imóveis feito estátuas, com os braços e as mãos cruzados às suas costas. E assim começou a gravação do mais recente episódio de um premiado programa infantil dinamarquês, Ultra Strips Down, exibido pelo canal Ultra, rede de conteúdo infantil sob demanda que faz parte da emissora nacional DR. O assunto do dia: pele, cabelos e pelos.

Os produtores da atração dizem que o programa foi pensado como ferramenta educativa para combater o constrangimento causado pela aparência e incentivar uma imagem corporal positiva. E, assim, primeiro com relutância e depois com entusiasmo, as crianças da Escola Orestad, de Copenhague, fizeram aos adultos perguntas como, “Que idade você tinha quando começaram a crescer pelos na parte de baixo do corpo?”, “Pensa em apagar as tatuagens?”, “Sente-se satisfeito(a) com suas partes íntimas?”

Um dos adultos, Martin, respondeu que nunca teve “pensamentos negativos” a respeito de suas partes íntimas. Outro adulto, também chamado Martin, reconheceu que, quando mais novo, chegou a se preocupar com a questão do tamanho. “Mas minha relação com o corpo mudou com o tempo", disse ele. Com expressões sérias, as crianças assentiram com um gesto da cabeça.

O programa está atualmente na segunda temporada, e embora possa parecer chocante para os não dinamarqueses, trata-se de uma atração muito popular na Dinamarca. Mas, recentemente, Peter Skaarup, um importante membro do Partido do Povo Dinamarquês, de extrema direita, disse considerar que Ultra Strips Down está “depravando nossas crianças". “É muito cedo para que as crianças” comecem a aprender a respeito da genitália masculina e feminina, disse ele ao tabloide dinamarquês B.T.

De acordo com ele, nessa idade, elas “já têm coisas demais na cabeça". “É algo que precisam aprender no momento certo", acrescentou ele, dizendo que a informação deveria ser apresentada pelos pais ou pelas escolas “para que não seja transmitida de maneira tão vulgar, como faz esse canal infantil". Mas, no geral, os dinamarqueses há muito se mostram à vontade diante da nudez - nas praias públicas, por exemplo.

Schow, 29 anos, que ajudou a desenvolver o conceito do programa depois que um produtor apresentou a ideia original, disse que o objetivo também era combater o bombardeio diário de imagens de corpos perfeitos (não realistas) ao qual os jovens são submetidos. Os adultos não são atores, e sim voluntários. “Talvez algumas pessoas reajam pensando, ‘Meu Deus, eles misturam crianças e nudez’”, disse Schow. “Mas isso não tem nada a ver com sexo; a ideia é encarar o corpo como algo natural, como fazem as crianças.”

Muitos dinamarqueses acreditam que não se deve proteger as crianças das realidades da vida, e como resultado elas passam bastante tempo brincando e explorando sem supervisão, ainda que possam se machucar. Durante o programa a respeito da pele, dos cabelos e pelos, uma das adultas, Ule, 76 anos, foi indagada quanto ao motivo que a levou a participar, ao que ela respondeu que desejava mostrar às crianças que corpos perfeitos são raros, e aquilo que elas encontram nas redes sociais costuma ser falso.

Participantes se preparam para se despir para o programa Ultra Strips Down. Foto: Betina Garcia/The New York Times

“No Facebook e no Instagram muitas pessoas são como modelos", disse ela. “Já nós temos corpos comuns. Espero que entendam que corpos normais são assim", disse ela à plateia, apontando para o próprio corpo nu. O constrangimento por causa da imperfeição vem das redes sociais, disse Schow. “Noventa por cento dos corpos que vemos nas redes sociais são perfeitos, mas não é essa a aparência de 90% do mundo", disse ele.

“Temos gordurinhas, pelos, acne. Queremos mostrar desde cedo às crianças que não há problema nisso.” Em sua primeira temporada, que foi ao ar em 2019, Ultra Strips Down ganhou prêmio de melhor programa infantil do ano no festival da TV dinamarquesa.

Na temporada de 2020, o programa, produzido pela filial dinamarquesa da Warner Bros. International Television Production, vai oferecer cinco novos episódios a respeito de uma variedade de assuntos, cada um apresentado a uma plateia de diferentes escolas.

A segurança das crianças vem em primeiro lugar, disseram os produtores do programa. Os pais devem consentir com a participação dos menores no programa; os produtores não mostram as crianças e os adultos no mesmo quadro; e pergunta-se constantemente às crianças se elas se sentem à vontade. Se alguma criança se sentir incomodada, pode ficar na companhia da professora no estúdio.

“Mas temos mais de 250 crianças na plateia", disse Schow, “e isso nunca aconteceu". Os episódios já gravados, agora disponíveis no YouTube como clipes censurados do programa, mostram adultos com diferentes tipos de corpos - brancos, negros, gordos, magros, altos, baixos, jovens e velhos.

Um deles foi John, que tem nanismo; outro, Muffe, implantou pequenos chifres sob a pele da careca. A inclusão total é um dos principais objetivos do programa, motivo pelo qual as crianças também foram apresentadas a Rei, que é transgênero, fez vasectomia e tratamento de testosterona e se identifica com pronome sem gênero definido.

“Não sou menino nem menina; sou um pouco de tudo", disse Rei, mostrando o peito tatuado e a cabeça raspada. “Agora tenho sete fios de barba.” As crianças queriam saber se Rei tinha “se sentido diferente na escola", qual banheiro eles usam e que tipo de roupa de banho escolhem para vestir na praia.

Depois do programa, três crianças se sentaram de pernas cruzadas no gramado do lado de fora do estúdio de TV para debater a experiência. Elas disseram que, no começo, a ideia do programa as fez rir. Mas todas disseram ter aprendido coisas úteis. “Foi engraçado", disse Theodore Knightley, 11 anos. “Gostei dos conselhos deles.” Ida Engelhardt Gundersen, 13 anos, disse ter ficado nervosa no começo. “Não estou acostumada a ver voluntários peladões nem a fazer perguntas a eles", disse ela.

“Mas aprendemos a respeito do corpo e de como outras pessoas se sentem em relação a seus corpos.” Sonya Chakrabarthy Geckler, 11 anos, disse que não sabia ao certo o que esperar. Mas, nas palavras dela, “sinto-me mais confiante em relação ao meu corpo agora”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

COPENHAGUE, DINAMARCA - “OK, crianças, alguém quer fazer uma pergunta?”, indagou o apresentador do programa, Jannik Schow. Poucos entre o público de 11 a 13 anos levantaram a mão. “Lembrem-se, não há nada de errado em perguntar", disse ele. “Não há perguntas proibidas”. 

Não poderíamos culpar as crianças por estarem com o pensamento longe. Diante deles, no palco de um estúdio aquecido em Copenhague, Dinamarca, havia cinco adultos de roupão. Houve um breve momento de silêncio enquanto os rostos ficaram sérios. Depois de conversar antecipadamente a respeito do assunto durante dias na escola, as crianças sabiam o que aconteceria em seguida. Schow fez um sinal com a cabeça, e os adultos tiraram seus roupões.

Robert Lee Harris e Emilie Belle Zander Møller posam pararetrato para a divulgação do programaUltra Strips Down. Foto: Betina Garcia/The New York Times

De frente para as crianças e as câmeras, eles ficaram completamente nus, imóveis feito estátuas, com os braços e as mãos cruzados às suas costas. E assim começou a gravação do mais recente episódio de um premiado programa infantil dinamarquês, Ultra Strips Down, exibido pelo canal Ultra, rede de conteúdo infantil sob demanda que faz parte da emissora nacional DR. O assunto do dia: pele, cabelos e pelos.

Os produtores da atração dizem que o programa foi pensado como ferramenta educativa para combater o constrangimento causado pela aparência e incentivar uma imagem corporal positiva. E, assim, primeiro com relutância e depois com entusiasmo, as crianças da Escola Orestad, de Copenhague, fizeram aos adultos perguntas como, “Que idade você tinha quando começaram a crescer pelos na parte de baixo do corpo?”, “Pensa em apagar as tatuagens?”, “Sente-se satisfeito(a) com suas partes íntimas?”

Um dos adultos, Martin, respondeu que nunca teve “pensamentos negativos” a respeito de suas partes íntimas. Outro adulto, também chamado Martin, reconheceu que, quando mais novo, chegou a se preocupar com a questão do tamanho. “Mas minha relação com o corpo mudou com o tempo", disse ele. Com expressões sérias, as crianças assentiram com um gesto da cabeça.

O programa está atualmente na segunda temporada, e embora possa parecer chocante para os não dinamarqueses, trata-se de uma atração muito popular na Dinamarca. Mas, recentemente, Peter Skaarup, um importante membro do Partido do Povo Dinamarquês, de extrema direita, disse considerar que Ultra Strips Down está “depravando nossas crianças". “É muito cedo para que as crianças” comecem a aprender a respeito da genitália masculina e feminina, disse ele ao tabloide dinamarquês B.T.

De acordo com ele, nessa idade, elas “já têm coisas demais na cabeça". “É algo que precisam aprender no momento certo", acrescentou ele, dizendo que a informação deveria ser apresentada pelos pais ou pelas escolas “para que não seja transmitida de maneira tão vulgar, como faz esse canal infantil". Mas, no geral, os dinamarqueses há muito se mostram à vontade diante da nudez - nas praias públicas, por exemplo.

Schow, 29 anos, que ajudou a desenvolver o conceito do programa depois que um produtor apresentou a ideia original, disse que o objetivo também era combater o bombardeio diário de imagens de corpos perfeitos (não realistas) ao qual os jovens são submetidos. Os adultos não são atores, e sim voluntários. “Talvez algumas pessoas reajam pensando, ‘Meu Deus, eles misturam crianças e nudez’”, disse Schow. “Mas isso não tem nada a ver com sexo; a ideia é encarar o corpo como algo natural, como fazem as crianças.”

Muitos dinamarqueses acreditam que não se deve proteger as crianças das realidades da vida, e como resultado elas passam bastante tempo brincando e explorando sem supervisão, ainda que possam se machucar. Durante o programa a respeito da pele, dos cabelos e pelos, uma das adultas, Ule, 76 anos, foi indagada quanto ao motivo que a levou a participar, ao que ela respondeu que desejava mostrar às crianças que corpos perfeitos são raros, e aquilo que elas encontram nas redes sociais costuma ser falso.

Participantes se preparam para se despir para o programa Ultra Strips Down. Foto: Betina Garcia/The New York Times

“No Facebook e no Instagram muitas pessoas são como modelos", disse ela. “Já nós temos corpos comuns. Espero que entendam que corpos normais são assim", disse ela à plateia, apontando para o próprio corpo nu. O constrangimento por causa da imperfeição vem das redes sociais, disse Schow. “Noventa por cento dos corpos que vemos nas redes sociais são perfeitos, mas não é essa a aparência de 90% do mundo", disse ele.

“Temos gordurinhas, pelos, acne. Queremos mostrar desde cedo às crianças que não há problema nisso.” Em sua primeira temporada, que foi ao ar em 2019, Ultra Strips Down ganhou prêmio de melhor programa infantil do ano no festival da TV dinamarquesa.

Na temporada de 2020, o programa, produzido pela filial dinamarquesa da Warner Bros. International Television Production, vai oferecer cinco novos episódios a respeito de uma variedade de assuntos, cada um apresentado a uma plateia de diferentes escolas.

A segurança das crianças vem em primeiro lugar, disseram os produtores do programa. Os pais devem consentir com a participação dos menores no programa; os produtores não mostram as crianças e os adultos no mesmo quadro; e pergunta-se constantemente às crianças se elas se sentem à vontade. Se alguma criança se sentir incomodada, pode ficar na companhia da professora no estúdio.

“Mas temos mais de 250 crianças na plateia", disse Schow, “e isso nunca aconteceu". Os episódios já gravados, agora disponíveis no YouTube como clipes censurados do programa, mostram adultos com diferentes tipos de corpos - brancos, negros, gordos, magros, altos, baixos, jovens e velhos.

Um deles foi John, que tem nanismo; outro, Muffe, implantou pequenos chifres sob a pele da careca. A inclusão total é um dos principais objetivos do programa, motivo pelo qual as crianças também foram apresentadas a Rei, que é transgênero, fez vasectomia e tratamento de testosterona e se identifica com pronome sem gênero definido.

“Não sou menino nem menina; sou um pouco de tudo", disse Rei, mostrando o peito tatuado e a cabeça raspada. “Agora tenho sete fios de barba.” As crianças queriam saber se Rei tinha “se sentido diferente na escola", qual banheiro eles usam e que tipo de roupa de banho escolhem para vestir na praia.

Depois do programa, três crianças se sentaram de pernas cruzadas no gramado do lado de fora do estúdio de TV para debater a experiência. Elas disseram que, no começo, a ideia do programa as fez rir. Mas todas disseram ter aprendido coisas úteis. “Foi engraçado", disse Theodore Knightley, 11 anos. “Gostei dos conselhos deles.” Ida Engelhardt Gundersen, 13 anos, disse ter ficado nervosa no começo. “Não estou acostumada a ver voluntários peladões nem a fazer perguntas a eles", disse ela.

“Mas aprendemos a respeito do corpo e de como outras pessoas se sentem em relação a seus corpos.” Sonya Chakrabarthy Geckler, 11 anos, disse que não sabia ao certo o que esperar. Mas, nas palavras dela, “sinto-me mais confiante em relação ao meu corpo agora”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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