XANGAI - Quer evitar as tarifas americanas? Na China, uma empresa chamada Settle Logistics diz conhecer uma maneira de fazê-lo.
O caminho é pela Malásia: um desvio de 7.400 quilômetros em relação ao envio de contêineres pelo Pacífico, diretamente da China para os Estados Unidos. Mas quando esses produtos chegarem a um porto americano, terão a aparência de serem procedentes da Malásia, de acordo com a empresa, evitando as tarifas que incidem sobre mercadorias chinesas.
Em sua página na internet, a Settle Logistics diz que “Para as barreiras comerciais injustas impostas por certos países para afetar nossas indústrias, podemos adotar outras abordagens para evitar essas tarifas e, com isso, expandir os mercados”.
As rotas desse tipo são chamadas de transbordo, e o presidente Donald J. Trump as usou para justificar sua guerra comercial. Elas também podem adquirir nova relevância se EUA e China levarem a cabo suas ameaças de aplicar pesadas tarifas.
Trump impôs em março tarifas para a importação de aço e alumínio, embora tenha posteriormente criado isenções temporárias para determinados países. Ele argumenta que a China usa o transbordo para enviar aos EUA muito mais aço do que os dados indicam.
Muitos economistas duvidam que a evasão de tarifas desempenhe um papel preponderante no comércio americano. O país importa apenas quantidades modestas de aço do Sudeste Asiático.
Ainda assim, o transbordo deve fazer parte de negociações entre China e EUA. O tema também pode ser debatido com Europa, Coreia do Sul, Canadá e outros parceiros.
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, anunciou no dia 27 de março que seu país adotaria uma série de medidas para deter o transbordo. Em comparação, a Coreia do Sul insistiu que garante que a verdadeira origem de toda carga seja identificada com precisão.
Na maioria dos casos, o transbordo está dentro da lei. Os problemas ocorrem quando alguém tenta ocultar o país de origem.
O transbordo e a falsificação de informações não são a única maneira de burlar as regras comerciais. Empresas americanas de aço e alumínio se queixam do fato de metais básicos serem enviados para o exterior, onde recebem um processamento mínimo antes de serem mandados de volta para os EUA. Críticos dizem que as empresas usam um truque de contabilidade chamado preço de transferência para evitar o pagamento de tarifas mais altas ao transferir mercadorias entre suas subsidiárias internacionais.
Os serviços de transbordo não são baratos, mas as altas tarifas os tornam atraentes. O envio de mercadorias da China para os EUA via Malásia custa de US$ 3 mil a US$ 4 mil por contêiner de 12 metros, uma diferença de pelo menos US$ 2 mil a mais do que o envio direto para os EUA. O custo extra inclui US$ 500 para um certificado de origem malaio, ao menos US$ 950 para o descarregamento das mercadorias na Malásia e carregamento num contêiner diferente, e US$ 600 ou mais pelo frete marítimo adicional.
Autoridades comerciais malaias disseram que o país não tem leis específicas contra as manobras para evitar tarifas. Ainda assim, o país tem uma lei contra a falsificação de documentos e obriga as empresas a fabricar produtos ali para a emissão de certificados de origem locais.
Autoridades alfandegárias americanas disseram que os EUA têm “um sofisticado processo de investigação para identificar países, fabricantes, importadoras e carregamentos que apresentam risco”.
Pode ser difícil erradicar a prática de transbordo. Nos anos 1990, os EUA tentaram enfrentar o problema das roupas feitas na China que recebiam suas etiquetas em Hong Kong, disse Patrick Conway, especialista no comércio têxtil.
Mas, depois que autoridades americanas criaram uma lista de empresas em observação, as empresas suspeitas desapareceram. Alguns dos mesmos envolvidos voltaram à ativa posteriormente, em outras empresas.
“Seria um jogo de gato e rato”, disse Conway.