Deixem as crianças dançar: como encontrar uma maneira para o show continuar


Seja em parques ou em estacionamentos, alguns estúdios estão determinados a apresentar recitais em um ano marcado pela pandemia de coronavírus

Por Julia Jacobs

RANDALLSTOWN, MARYLAND – Em uma tarde escaldante de domingo de julho, as famílias sentadas em espreguiçadeiras em pequenos grupos, mantinham o distanciamento social no estacionamento não muito cheio de um shopping. Ninguém achava que este era o local ideal para um espetáculo de dança.

De fato, o pano de fundo do palco improvisado era um posto de gasolina e a Rota 26 de Maryland. O sol era tão forte que alguns espectadores tiveram de abrir sombrinhas nos intervalos. Uma jovem bailarina que estava levantando o corpo depois de executar uma ponte, tirou as mãos da superfície do palco e estremeceu, como se tivesse tocado por engano a tampa de um fogão.

Dançarinas seguem para o recital do N'Ferno Performing Arts Center, realizado em um estacionamento em Randallstown, Maryland, 12 de julho de 2020. Foto: Jared Soares The New York Times
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No entanto, o fato de todos os estudantes estarem no palco bastava para Kaniesha Reeder, a proprietária do Centro de Artes Cênicas N’Ferno, o estúdio que patrocinava o espetáculo. Durante os quatro meses do fechamento do coronavírus, Kaniesha alimentou a esperança de que encontraria uma solução para que os seus alunos pudessem realizar o seu recital anual. “Sobrevivemos à covid e agora temos estas crianças no palco”, disse triunfante Kaniesha no início do espetáculo.

Em março, quando o ímpeto da pandemia foi acelerando nos Estados Unidos, a dança profissional se contraiu. As datas das apresentações das companhias de dança do primeiro semestre foram tiradas do calendário e logo os espetáculos do segundo semestre também foram cancelados. No mundo da dança amadora, a pandemia foi como uma tragédia.

Nos estúdios de dança em todo o país, as aulas regulares passaram a ser virtuais, os bailarinos instalaram substitutos da barra em suas casas, e os pais pediram a devolução ds mensalidades do curso; mas uma pergunta ficou pairando no ar: “O que acontecerá com o recital anual?” Entre os futuros bailarinos, o recital é muito mais do que apenas uma apresentação. É o ponto culminante de um ano de trabalho e um evento social: fazem sua própria maquiagem e ensaiam nervosamente seus passos antes que a cortina se abra. As famílias se reúnem para assobiar e gritar para os seus jovens artistas e entregam buquês de flores.

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Quando a pandemia atacou com força, alguns estúdios de dança decidiram prontamente cancelar suas apresentações, enquanto outros realizaram shows particulares que, entretanto, não poderiam se comparar à excitação repleta de adrenalina. Mas outros fincaram o pé e decidiram encontrar uma maneira de encenar o maior espetáculo do ano. Em todo o país, muitos estúdios de dança lutam para sobreviver.

Alguns assistem ao êxodo de alunos que não podem mais pagar o curso porque os pais perderam o emprego ou não veem valor em ensaios virtuais. E, no entanto, os estúdios devem continuar pagando os professores para manterem os ensaios pela Zoom, e continuam pagando os aluguéis mensais e ainda financiam os recitais com distanciamento social. Em grande parte, eles dependem dos alunos fiéis, dispostos a pagar durante este período tumultuado de aulas online.

Enquanto a perspectiva de uma apresentação ao vivo, no futuro próximo, pode ajudar a manter a disposição dos estudantes e a dar aos alunos um objetivo próximo para o qual se empenhar. Gina Siciliano, que ensina balé a crianças no Integral Ballet de Merrick, Nova York, procurava preservar um relacionamento humano pela Zoom com os seus alunos, cujas idades variam de 2 a 8 anos.

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Gina foi incumbida de preparar os jovens bailarinos para uma apresentação na qual dançarão com suas fantasias completas e maquiagem em um parque. Uma preocupação fundamental para os professores é garantir que os treinos externos dos alunos não provoquem acidentes. E Gina conhece bem o risco: em um ensaio pela Zoom, em sua sala de estar, em maio, ela estava demonstrando um sauté simples quando tropeçou e quebrou o tornozelo.

“Eu queria dançar de fato para que os alunos pudessem sentir minha energia”, contou. “Acho que exagerei no zelo”. Por isso, no parque, em um dia no final de junho, os alunos de Gina usam sapatos comuns de rua em lugar das sapatilhas de balé com seus tutus púrpura brilhantes e muito laquê no coque para não tropeçarem na grama.

Para o Balé Folclórico México Danza, um estúdio que ensina dança tradicional mexicana a crianças e adultos em Hayward, Califórnia, os grandes espetáculos foram adiados para este segundo semestre. Por enquanto, a escola tenta superar a dificuldade de ensaiar 120 alunos de todas as idades sem grandes pressupostos em relação ao que será o mundo em outubro.

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Então, a escola de dança planeja manter o seu espetáculo do Día de los Muertos; no final de novembro, pretende apresentar o seu Quebra-nozes mexicano – um espetáculo que a escola está determinada a realizar, enquanto as grandes companhias como o New York City Ballet tiveram de cancelar os seus Quebra-nozes. Para o Ballet Folklórico, trabalhar durante a pandemia significou reduzir o número de alunos nas salas para não mais que uma dúzia por aula, que costuma ter entre 25 e 30 alunos.

Os bailarinos, que retornaram ao estúdio em meados de junho ensaiam a uma distância de 1 metro e meio uns dos outros, guiados por uma fita vermelha no chão, e os funcionários do estúdio higienizam os banheiros e as maçanetas das portas entre uma sessão e outra. René González, coproprietário do Ballet Folklórico, parece perfeitamente capacitado para administrar um estúdio de dança durante uma pandemia.

Em março, se aposentou de sua carreira de técnico do Laboratório de Saúde Pública do condado de Alameda e passou a gerir sua escola de dança em tempo integral. Ele mantém contato com seu antigos colegas a fim de acompanhar os casos de coronavírus da região e sabe que, se os casos aumentarem no condado, terá de fechar novamente o seu estúdio e dar as aulas online. “Se tivermos de fechar, fecharemos”, observou. “Não podemos ser egoístas”.

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René disse que a escola secundária onde eles apresentam o espetáculo do Día de los Muertos, provavelmente, vai querer que os membros da plateia fiquem separados por dois assentos cada um; ele garantiu que realizará os espetáculos mesmo com a drástica redução da capacidade da sala.

Um desafio considerável em razão da covid-19 é a coreografia de duplas, uma parte importante da dança tradicional mexicana, em que as mulheres dançam com suas volumosas saias de cores brilhantes e os homens com seus chapéus de abas largas e trajes de charro.

Por enquanto, René diz que não haverá a dança dos casais - porque a coreografia exige que os jovens bailarinos segurem as mãos e rodem em um círculo. “Não vamos fazer os círculos, as mãos não irão se tocar”, afirmou. “Não sei quando voltaremos à normalidade no ensino da dança”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

RANDALLSTOWN, MARYLAND – Em uma tarde escaldante de domingo de julho, as famílias sentadas em espreguiçadeiras em pequenos grupos, mantinham o distanciamento social no estacionamento não muito cheio de um shopping. Ninguém achava que este era o local ideal para um espetáculo de dança.

De fato, o pano de fundo do palco improvisado era um posto de gasolina e a Rota 26 de Maryland. O sol era tão forte que alguns espectadores tiveram de abrir sombrinhas nos intervalos. Uma jovem bailarina que estava levantando o corpo depois de executar uma ponte, tirou as mãos da superfície do palco e estremeceu, como se tivesse tocado por engano a tampa de um fogão.

Dançarinas seguem para o recital do N'Ferno Performing Arts Center, realizado em um estacionamento em Randallstown, Maryland, 12 de julho de 2020. Foto: Jared Soares The New York Times

No entanto, o fato de todos os estudantes estarem no palco bastava para Kaniesha Reeder, a proprietária do Centro de Artes Cênicas N’Ferno, o estúdio que patrocinava o espetáculo. Durante os quatro meses do fechamento do coronavírus, Kaniesha alimentou a esperança de que encontraria uma solução para que os seus alunos pudessem realizar o seu recital anual. “Sobrevivemos à covid e agora temos estas crianças no palco”, disse triunfante Kaniesha no início do espetáculo.

Em março, quando o ímpeto da pandemia foi acelerando nos Estados Unidos, a dança profissional se contraiu. As datas das apresentações das companhias de dança do primeiro semestre foram tiradas do calendário e logo os espetáculos do segundo semestre também foram cancelados. No mundo da dança amadora, a pandemia foi como uma tragédia.

Nos estúdios de dança em todo o país, as aulas regulares passaram a ser virtuais, os bailarinos instalaram substitutos da barra em suas casas, e os pais pediram a devolução ds mensalidades do curso; mas uma pergunta ficou pairando no ar: “O que acontecerá com o recital anual?” Entre os futuros bailarinos, o recital é muito mais do que apenas uma apresentação. É o ponto culminante de um ano de trabalho e um evento social: fazem sua própria maquiagem e ensaiam nervosamente seus passos antes que a cortina se abra. As famílias se reúnem para assobiar e gritar para os seus jovens artistas e entregam buquês de flores.

Quando a pandemia atacou com força, alguns estúdios de dança decidiram prontamente cancelar suas apresentações, enquanto outros realizaram shows particulares que, entretanto, não poderiam se comparar à excitação repleta de adrenalina. Mas outros fincaram o pé e decidiram encontrar uma maneira de encenar o maior espetáculo do ano. Em todo o país, muitos estúdios de dança lutam para sobreviver.

Alguns assistem ao êxodo de alunos que não podem mais pagar o curso porque os pais perderam o emprego ou não veem valor em ensaios virtuais. E, no entanto, os estúdios devem continuar pagando os professores para manterem os ensaios pela Zoom, e continuam pagando os aluguéis mensais e ainda financiam os recitais com distanciamento social. Em grande parte, eles dependem dos alunos fiéis, dispostos a pagar durante este período tumultuado de aulas online.

Enquanto a perspectiva de uma apresentação ao vivo, no futuro próximo, pode ajudar a manter a disposição dos estudantes e a dar aos alunos um objetivo próximo para o qual se empenhar. Gina Siciliano, que ensina balé a crianças no Integral Ballet de Merrick, Nova York, procurava preservar um relacionamento humano pela Zoom com os seus alunos, cujas idades variam de 2 a 8 anos.

Gina foi incumbida de preparar os jovens bailarinos para uma apresentação na qual dançarão com suas fantasias completas e maquiagem em um parque. Uma preocupação fundamental para os professores é garantir que os treinos externos dos alunos não provoquem acidentes. E Gina conhece bem o risco: em um ensaio pela Zoom, em sua sala de estar, em maio, ela estava demonstrando um sauté simples quando tropeçou e quebrou o tornozelo.

“Eu queria dançar de fato para que os alunos pudessem sentir minha energia”, contou. “Acho que exagerei no zelo”. Por isso, no parque, em um dia no final de junho, os alunos de Gina usam sapatos comuns de rua em lugar das sapatilhas de balé com seus tutus púrpura brilhantes e muito laquê no coque para não tropeçarem na grama.

Para o Balé Folclórico México Danza, um estúdio que ensina dança tradicional mexicana a crianças e adultos em Hayward, Califórnia, os grandes espetáculos foram adiados para este segundo semestre. Por enquanto, a escola tenta superar a dificuldade de ensaiar 120 alunos de todas as idades sem grandes pressupostos em relação ao que será o mundo em outubro.

Então, a escola de dança planeja manter o seu espetáculo do Día de los Muertos; no final de novembro, pretende apresentar o seu Quebra-nozes mexicano – um espetáculo que a escola está determinada a realizar, enquanto as grandes companhias como o New York City Ballet tiveram de cancelar os seus Quebra-nozes. Para o Ballet Folklórico, trabalhar durante a pandemia significou reduzir o número de alunos nas salas para não mais que uma dúzia por aula, que costuma ter entre 25 e 30 alunos.

Os bailarinos, que retornaram ao estúdio em meados de junho ensaiam a uma distância de 1 metro e meio uns dos outros, guiados por uma fita vermelha no chão, e os funcionários do estúdio higienizam os banheiros e as maçanetas das portas entre uma sessão e outra. René González, coproprietário do Ballet Folklórico, parece perfeitamente capacitado para administrar um estúdio de dança durante uma pandemia.

Em março, se aposentou de sua carreira de técnico do Laboratório de Saúde Pública do condado de Alameda e passou a gerir sua escola de dança em tempo integral. Ele mantém contato com seu antigos colegas a fim de acompanhar os casos de coronavírus da região e sabe que, se os casos aumentarem no condado, terá de fechar novamente o seu estúdio e dar as aulas online. “Se tivermos de fechar, fecharemos”, observou. “Não podemos ser egoístas”.

René disse que a escola secundária onde eles apresentam o espetáculo do Día de los Muertos, provavelmente, vai querer que os membros da plateia fiquem separados por dois assentos cada um; ele garantiu que realizará os espetáculos mesmo com a drástica redução da capacidade da sala.

Um desafio considerável em razão da covid-19 é a coreografia de duplas, uma parte importante da dança tradicional mexicana, em que as mulheres dançam com suas volumosas saias de cores brilhantes e os homens com seus chapéus de abas largas e trajes de charro.

Por enquanto, René diz que não haverá a dança dos casais - porque a coreografia exige que os jovens bailarinos segurem as mãos e rodem em um círculo. “Não vamos fazer os círculos, as mãos não irão se tocar”, afirmou. “Não sei quando voltaremos à normalidade no ensino da dança”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

RANDALLSTOWN, MARYLAND – Em uma tarde escaldante de domingo de julho, as famílias sentadas em espreguiçadeiras em pequenos grupos, mantinham o distanciamento social no estacionamento não muito cheio de um shopping. Ninguém achava que este era o local ideal para um espetáculo de dança.

De fato, o pano de fundo do palco improvisado era um posto de gasolina e a Rota 26 de Maryland. O sol era tão forte que alguns espectadores tiveram de abrir sombrinhas nos intervalos. Uma jovem bailarina que estava levantando o corpo depois de executar uma ponte, tirou as mãos da superfície do palco e estremeceu, como se tivesse tocado por engano a tampa de um fogão.

Dançarinas seguem para o recital do N'Ferno Performing Arts Center, realizado em um estacionamento em Randallstown, Maryland, 12 de julho de 2020. Foto: Jared Soares The New York Times

No entanto, o fato de todos os estudantes estarem no palco bastava para Kaniesha Reeder, a proprietária do Centro de Artes Cênicas N’Ferno, o estúdio que patrocinava o espetáculo. Durante os quatro meses do fechamento do coronavírus, Kaniesha alimentou a esperança de que encontraria uma solução para que os seus alunos pudessem realizar o seu recital anual. “Sobrevivemos à covid e agora temos estas crianças no palco”, disse triunfante Kaniesha no início do espetáculo.

Em março, quando o ímpeto da pandemia foi acelerando nos Estados Unidos, a dança profissional se contraiu. As datas das apresentações das companhias de dança do primeiro semestre foram tiradas do calendário e logo os espetáculos do segundo semestre também foram cancelados. No mundo da dança amadora, a pandemia foi como uma tragédia.

Nos estúdios de dança em todo o país, as aulas regulares passaram a ser virtuais, os bailarinos instalaram substitutos da barra em suas casas, e os pais pediram a devolução ds mensalidades do curso; mas uma pergunta ficou pairando no ar: “O que acontecerá com o recital anual?” Entre os futuros bailarinos, o recital é muito mais do que apenas uma apresentação. É o ponto culminante de um ano de trabalho e um evento social: fazem sua própria maquiagem e ensaiam nervosamente seus passos antes que a cortina se abra. As famílias se reúnem para assobiar e gritar para os seus jovens artistas e entregam buquês de flores.

Quando a pandemia atacou com força, alguns estúdios de dança decidiram prontamente cancelar suas apresentações, enquanto outros realizaram shows particulares que, entretanto, não poderiam se comparar à excitação repleta de adrenalina. Mas outros fincaram o pé e decidiram encontrar uma maneira de encenar o maior espetáculo do ano. Em todo o país, muitos estúdios de dança lutam para sobreviver.

Alguns assistem ao êxodo de alunos que não podem mais pagar o curso porque os pais perderam o emprego ou não veem valor em ensaios virtuais. E, no entanto, os estúdios devem continuar pagando os professores para manterem os ensaios pela Zoom, e continuam pagando os aluguéis mensais e ainda financiam os recitais com distanciamento social. Em grande parte, eles dependem dos alunos fiéis, dispostos a pagar durante este período tumultuado de aulas online.

Enquanto a perspectiva de uma apresentação ao vivo, no futuro próximo, pode ajudar a manter a disposição dos estudantes e a dar aos alunos um objetivo próximo para o qual se empenhar. Gina Siciliano, que ensina balé a crianças no Integral Ballet de Merrick, Nova York, procurava preservar um relacionamento humano pela Zoom com os seus alunos, cujas idades variam de 2 a 8 anos.

Gina foi incumbida de preparar os jovens bailarinos para uma apresentação na qual dançarão com suas fantasias completas e maquiagem em um parque. Uma preocupação fundamental para os professores é garantir que os treinos externos dos alunos não provoquem acidentes. E Gina conhece bem o risco: em um ensaio pela Zoom, em sua sala de estar, em maio, ela estava demonstrando um sauté simples quando tropeçou e quebrou o tornozelo.

“Eu queria dançar de fato para que os alunos pudessem sentir minha energia”, contou. “Acho que exagerei no zelo”. Por isso, no parque, em um dia no final de junho, os alunos de Gina usam sapatos comuns de rua em lugar das sapatilhas de balé com seus tutus púrpura brilhantes e muito laquê no coque para não tropeçarem na grama.

Para o Balé Folclórico México Danza, um estúdio que ensina dança tradicional mexicana a crianças e adultos em Hayward, Califórnia, os grandes espetáculos foram adiados para este segundo semestre. Por enquanto, a escola tenta superar a dificuldade de ensaiar 120 alunos de todas as idades sem grandes pressupostos em relação ao que será o mundo em outubro.

Então, a escola de dança planeja manter o seu espetáculo do Día de los Muertos; no final de novembro, pretende apresentar o seu Quebra-nozes mexicano – um espetáculo que a escola está determinada a realizar, enquanto as grandes companhias como o New York City Ballet tiveram de cancelar os seus Quebra-nozes. Para o Ballet Folklórico, trabalhar durante a pandemia significou reduzir o número de alunos nas salas para não mais que uma dúzia por aula, que costuma ter entre 25 e 30 alunos.

Os bailarinos, que retornaram ao estúdio em meados de junho ensaiam a uma distância de 1 metro e meio uns dos outros, guiados por uma fita vermelha no chão, e os funcionários do estúdio higienizam os banheiros e as maçanetas das portas entre uma sessão e outra. René González, coproprietário do Ballet Folklórico, parece perfeitamente capacitado para administrar um estúdio de dança durante uma pandemia.

Em março, se aposentou de sua carreira de técnico do Laboratório de Saúde Pública do condado de Alameda e passou a gerir sua escola de dança em tempo integral. Ele mantém contato com seu antigos colegas a fim de acompanhar os casos de coronavírus da região e sabe que, se os casos aumentarem no condado, terá de fechar novamente o seu estúdio e dar as aulas online. “Se tivermos de fechar, fecharemos”, observou. “Não podemos ser egoístas”.

René disse que a escola secundária onde eles apresentam o espetáculo do Día de los Muertos, provavelmente, vai querer que os membros da plateia fiquem separados por dois assentos cada um; ele garantiu que realizará os espetáculos mesmo com a drástica redução da capacidade da sala.

Um desafio considerável em razão da covid-19 é a coreografia de duplas, uma parte importante da dança tradicional mexicana, em que as mulheres dançam com suas volumosas saias de cores brilhantes e os homens com seus chapéus de abas largas e trajes de charro.

Por enquanto, René diz que não haverá a dança dos casais - porque a coreografia exige que os jovens bailarinos segurem as mãos e rodem em um círculo. “Não vamos fazer os círculos, as mãos não irão se tocar”, afirmou. “Não sei quando voltaremos à normalidade no ensino da dança”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

RANDALLSTOWN, MARYLAND – Em uma tarde escaldante de domingo de julho, as famílias sentadas em espreguiçadeiras em pequenos grupos, mantinham o distanciamento social no estacionamento não muito cheio de um shopping. Ninguém achava que este era o local ideal para um espetáculo de dança.

De fato, o pano de fundo do palco improvisado era um posto de gasolina e a Rota 26 de Maryland. O sol era tão forte que alguns espectadores tiveram de abrir sombrinhas nos intervalos. Uma jovem bailarina que estava levantando o corpo depois de executar uma ponte, tirou as mãos da superfície do palco e estremeceu, como se tivesse tocado por engano a tampa de um fogão.

Dançarinas seguem para o recital do N'Ferno Performing Arts Center, realizado em um estacionamento em Randallstown, Maryland, 12 de julho de 2020. Foto: Jared Soares The New York Times

No entanto, o fato de todos os estudantes estarem no palco bastava para Kaniesha Reeder, a proprietária do Centro de Artes Cênicas N’Ferno, o estúdio que patrocinava o espetáculo. Durante os quatro meses do fechamento do coronavírus, Kaniesha alimentou a esperança de que encontraria uma solução para que os seus alunos pudessem realizar o seu recital anual. “Sobrevivemos à covid e agora temos estas crianças no palco”, disse triunfante Kaniesha no início do espetáculo.

Em março, quando o ímpeto da pandemia foi acelerando nos Estados Unidos, a dança profissional se contraiu. As datas das apresentações das companhias de dança do primeiro semestre foram tiradas do calendário e logo os espetáculos do segundo semestre também foram cancelados. No mundo da dança amadora, a pandemia foi como uma tragédia.

Nos estúdios de dança em todo o país, as aulas regulares passaram a ser virtuais, os bailarinos instalaram substitutos da barra em suas casas, e os pais pediram a devolução ds mensalidades do curso; mas uma pergunta ficou pairando no ar: “O que acontecerá com o recital anual?” Entre os futuros bailarinos, o recital é muito mais do que apenas uma apresentação. É o ponto culminante de um ano de trabalho e um evento social: fazem sua própria maquiagem e ensaiam nervosamente seus passos antes que a cortina se abra. As famílias se reúnem para assobiar e gritar para os seus jovens artistas e entregam buquês de flores.

Quando a pandemia atacou com força, alguns estúdios de dança decidiram prontamente cancelar suas apresentações, enquanto outros realizaram shows particulares que, entretanto, não poderiam se comparar à excitação repleta de adrenalina. Mas outros fincaram o pé e decidiram encontrar uma maneira de encenar o maior espetáculo do ano. Em todo o país, muitos estúdios de dança lutam para sobreviver.

Alguns assistem ao êxodo de alunos que não podem mais pagar o curso porque os pais perderam o emprego ou não veem valor em ensaios virtuais. E, no entanto, os estúdios devem continuar pagando os professores para manterem os ensaios pela Zoom, e continuam pagando os aluguéis mensais e ainda financiam os recitais com distanciamento social. Em grande parte, eles dependem dos alunos fiéis, dispostos a pagar durante este período tumultuado de aulas online.

Enquanto a perspectiva de uma apresentação ao vivo, no futuro próximo, pode ajudar a manter a disposição dos estudantes e a dar aos alunos um objetivo próximo para o qual se empenhar. Gina Siciliano, que ensina balé a crianças no Integral Ballet de Merrick, Nova York, procurava preservar um relacionamento humano pela Zoom com os seus alunos, cujas idades variam de 2 a 8 anos.

Gina foi incumbida de preparar os jovens bailarinos para uma apresentação na qual dançarão com suas fantasias completas e maquiagem em um parque. Uma preocupação fundamental para os professores é garantir que os treinos externos dos alunos não provoquem acidentes. E Gina conhece bem o risco: em um ensaio pela Zoom, em sua sala de estar, em maio, ela estava demonstrando um sauté simples quando tropeçou e quebrou o tornozelo.

“Eu queria dançar de fato para que os alunos pudessem sentir minha energia”, contou. “Acho que exagerei no zelo”. Por isso, no parque, em um dia no final de junho, os alunos de Gina usam sapatos comuns de rua em lugar das sapatilhas de balé com seus tutus púrpura brilhantes e muito laquê no coque para não tropeçarem na grama.

Para o Balé Folclórico México Danza, um estúdio que ensina dança tradicional mexicana a crianças e adultos em Hayward, Califórnia, os grandes espetáculos foram adiados para este segundo semestre. Por enquanto, a escola tenta superar a dificuldade de ensaiar 120 alunos de todas as idades sem grandes pressupostos em relação ao que será o mundo em outubro.

Então, a escola de dança planeja manter o seu espetáculo do Día de los Muertos; no final de novembro, pretende apresentar o seu Quebra-nozes mexicano – um espetáculo que a escola está determinada a realizar, enquanto as grandes companhias como o New York City Ballet tiveram de cancelar os seus Quebra-nozes. Para o Ballet Folklórico, trabalhar durante a pandemia significou reduzir o número de alunos nas salas para não mais que uma dúzia por aula, que costuma ter entre 25 e 30 alunos.

Os bailarinos, que retornaram ao estúdio em meados de junho ensaiam a uma distância de 1 metro e meio uns dos outros, guiados por uma fita vermelha no chão, e os funcionários do estúdio higienizam os banheiros e as maçanetas das portas entre uma sessão e outra. René González, coproprietário do Ballet Folklórico, parece perfeitamente capacitado para administrar um estúdio de dança durante uma pandemia.

Em março, se aposentou de sua carreira de técnico do Laboratório de Saúde Pública do condado de Alameda e passou a gerir sua escola de dança em tempo integral. Ele mantém contato com seu antigos colegas a fim de acompanhar os casos de coronavírus da região e sabe que, se os casos aumentarem no condado, terá de fechar novamente o seu estúdio e dar as aulas online. “Se tivermos de fechar, fecharemos”, observou. “Não podemos ser egoístas”.

René disse que a escola secundária onde eles apresentam o espetáculo do Día de los Muertos, provavelmente, vai querer que os membros da plateia fiquem separados por dois assentos cada um; ele garantiu que realizará os espetáculos mesmo com a drástica redução da capacidade da sala.

Um desafio considerável em razão da covid-19 é a coreografia de duplas, uma parte importante da dança tradicional mexicana, em que as mulheres dançam com suas volumosas saias de cores brilhantes e os homens com seus chapéus de abas largas e trajes de charro.

Por enquanto, René diz que não haverá a dança dos casais - porque a coreografia exige que os jovens bailarinos segurem as mãos e rodem em um círculo. “Não vamos fazer os círculos, as mãos não irão se tocar”, afirmou. “Não sei quando voltaremos à normalidade no ensino da dança”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

RANDALLSTOWN, MARYLAND – Em uma tarde escaldante de domingo de julho, as famílias sentadas em espreguiçadeiras em pequenos grupos, mantinham o distanciamento social no estacionamento não muito cheio de um shopping. Ninguém achava que este era o local ideal para um espetáculo de dança.

De fato, o pano de fundo do palco improvisado era um posto de gasolina e a Rota 26 de Maryland. O sol era tão forte que alguns espectadores tiveram de abrir sombrinhas nos intervalos. Uma jovem bailarina que estava levantando o corpo depois de executar uma ponte, tirou as mãos da superfície do palco e estremeceu, como se tivesse tocado por engano a tampa de um fogão.

Dançarinas seguem para o recital do N'Ferno Performing Arts Center, realizado em um estacionamento em Randallstown, Maryland, 12 de julho de 2020. Foto: Jared Soares The New York Times

No entanto, o fato de todos os estudantes estarem no palco bastava para Kaniesha Reeder, a proprietária do Centro de Artes Cênicas N’Ferno, o estúdio que patrocinava o espetáculo. Durante os quatro meses do fechamento do coronavírus, Kaniesha alimentou a esperança de que encontraria uma solução para que os seus alunos pudessem realizar o seu recital anual. “Sobrevivemos à covid e agora temos estas crianças no palco”, disse triunfante Kaniesha no início do espetáculo.

Em março, quando o ímpeto da pandemia foi acelerando nos Estados Unidos, a dança profissional se contraiu. As datas das apresentações das companhias de dança do primeiro semestre foram tiradas do calendário e logo os espetáculos do segundo semestre também foram cancelados. No mundo da dança amadora, a pandemia foi como uma tragédia.

Nos estúdios de dança em todo o país, as aulas regulares passaram a ser virtuais, os bailarinos instalaram substitutos da barra em suas casas, e os pais pediram a devolução ds mensalidades do curso; mas uma pergunta ficou pairando no ar: “O que acontecerá com o recital anual?” Entre os futuros bailarinos, o recital é muito mais do que apenas uma apresentação. É o ponto culminante de um ano de trabalho e um evento social: fazem sua própria maquiagem e ensaiam nervosamente seus passos antes que a cortina se abra. As famílias se reúnem para assobiar e gritar para os seus jovens artistas e entregam buquês de flores.

Quando a pandemia atacou com força, alguns estúdios de dança decidiram prontamente cancelar suas apresentações, enquanto outros realizaram shows particulares que, entretanto, não poderiam se comparar à excitação repleta de adrenalina. Mas outros fincaram o pé e decidiram encontrar uma maneira de encenar o maior espetáculo do ano. Em todo o país, muitos estúdios de dança lutam para sobreviver.

Alguns assistem ao êxodo de alunos que não podem mais pagar o curso porque os pais perderam o emprego ou não veem valor em ensaios virtuais. E, no entanto, os estúdios devem continuar pagando os professores para manterem os ensaios pela Zoom, e continuam pagando os aluguéis mensais e ainda financiam os recitais com distanciamento social. Em grande parte, eles dependem dos alunos fiéis, dispostos a pagar durante este período tumultuado de aulas online.

Enquanto a perspectiva de uma apresentação ao vivo, no futuro próximo, pode ajudar a manter a disposição dos estudantes e a dar aos alunos um objetivo próximo para o qual se empenhar. Gina Siciliano, que ensina balé a crianças no Integral Ballet de Merrick, Nova York, procurava preservar um relacionamento humano pela Zoom com os seus alunos, cujas idades variam de 2 a 8 anos.

Gina foi incumbida de preparar os jovens bailarinos para uma apresentação na qual dançarão com suas fantasias completas e maquiagem em um parque. Uma preocupação fundamental para os professores é garantir que os treinos externos dos alunos não provoquem acidentes. E Gina conhece bem o risco: em um ensaio pela Zoom, em sua sala de estar, em maio, ela estava demonstrando um sauté simples quando tropeçou e quebrou o tornozelo.

“Eu queria dançar de fato para que os alunos pudessem sentir minha energia”, contou. “Acho que exagerei no zelo”. Por isso, no parque, em um dia no final de junho, os alunos de Gina usam sapatos comuns de rua em lugar das sapatilhas de balé com seus tutus púrpura brilhantes e muito laquê no coque para não tropeçarem na grama.

Para o Balé Folclórico México Danza, um estúdio que ensina dança tradicional mexicana a crianças e adultos em Hayward, Califórnia, os grandes espetáculos foram adiados para este segundo semestre. Por enquanto, a escola tenta superar a dificuldade de ensaiar 120 alunos de todas as idades sem grandes pressupostos em relação ao que será o mundo em outubro.

Então, a escola de dança planeja manter o seu espetáculo do Día de los Muertos; no final de novembro, pretende apresentar o seu Quebra-nozes mexicano – um espetáculo que a escola está determinada a realizar, enquanto as grandes companhias como o New York City Ballet tiveram de cancelar os seus Quebra-nozes. Para o Ballet Folklórico, trabalhar durante a pandemia significou reduzir o número de alunos nas salas para não mais que uma dúzia por aula, que costuma ter entre 25 e 30 alunos.

Os bailarinos, que retornaram ao estúdio em meados de junho ensaiam a uma distância de 1 metro e meio uns dos outros, guiados por uma fita vermelha no chão, e os funcionários do estúdio higienizam os banheiros e as maçanetas das portas entre uma sessão e outra. René González, coproprietário do Ballet Folklórico, parece perfeitamente capacitado para administrar um estúdio de dança durante uma pandemia.

Em março, se aposentou de sua carreira de técnico do Laboratório de Saúde Pública do condado de Alameda e passou a gerir sua escola de dança em tempo integral. Ele mantém contato com seu antigos colegas a fim de acompanhar os casos de coronavírus da região e sabe que, se os casos aumentarem no condado, terá de fechar novamente o seu estúdio e dar as aulas online. “Se tivermos de fechar, fecharemos”, observou. “Não podemos ser egoístas”.

René disse que a escola secundária onde eles apresentam o espetáculo do Día de los Muertos, provavelmente, vai querer que os membros da plateia fiquem separados por dois assentos cada um; ele garantiu que realizará os espetáculos mesmo com a drástica redução da capacidade da sala.

Um desafio considerável em razão da covid-19 é a coreografia de duplas, uma parte importante da dança tradicional mexicana, em que as mulheres dançam com suas volumosas saias de cores brilhantes e os homens com seus chapéus de abas largas e trajes de charro.

Por enquanto, René diz que não haverá a dança dos casais - porque a coreografia exige que os jovens bailarinos segurem as mãos e rodem em um círculo. “Não vamos fazer os círculos, as mãos não irão se tocar”, afirmou. “Não sei quando voltaremos à normalidade no ensino da dança”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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