O que fazer para envelhecer bem


O segredo para o envelhecimento bem-sucedido é reconhecer seus problemas e se adaptar a eles

Por Jane E. Brody

No dia seguinte ao meu aniversário de 80 anos, cheio de desejos de felicidade, surpresas e celebrações seguras por causa da covid-19, acordei me sentindo realizada e pensando que, aconteça o que for daqui para frente, tudo bem. Minha vida é gratificante, minha lista do que fazer antes de bater as botas está vazia, minha família está prosperando, e, se tudo acabar amanhã, que assim seja.

Não que eu espere fazer algo para apressar minha morte. Continuarei me exercitando regularmente, comendo de forma saudável e me esforçando para minimizar o estresse. Mas também estou fazendo um balanço das muitas características comuns do envelhecimento e decidindo o que preciso reconsiderar.

Ilustração de Gracia Lam/The New York Times. 
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Encontrei considerável inspiração e orientação em um novo livro, Stupid Things I Won't Do When I Get Old (Coisas estúpidas que não vou fazer quando ficar velho, em tradução livre), de Steven Petrow, escrito com Roseann Foley Henry. Petrow, que também é colunista, mas é quase duas décadas mais novo que eu, começou a pensar no futuro depois de observar os erros de seus pais idosos, como esperar muito tempo para começar a usar aparelho auditivo.

Fiz um inventário similar da minha vida e comecei no topo, com meu cabelo. Eu o havia pintado durante décadas, cada vez mais claro conforme ia envelhecendo. Mas notei que, durante a pandemia, muitas pessoas (homens e mulheres de todas as idades) tinham parado de cobrir os fios brancos. E ficaram com uma aparência muito boa, às vezes melhor do que com o cabelo tingido emoldurando um rosto enrugado. Hoje, também estou grisalha e adorando, embora não possa mais culpar meu cachorro pelos cabelos brancos no sofá!

Também tenho resistido à tentação comum de encobrir outras questões cosméticas. Agora, raramente uso maquiagem, e meu traje de verão habitual continua sendo shorts e regatas. Danem-se as rugas. Tenho orgulho de tê-las. Mas continuarei irritada com a gramática ruim, corrigindo o uso indevido da linguagem sempre que puder.

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E resistirei teimosamente a alterar meus hábitos para evitar possíveis tragédias previstas por outros. Ando com meu cachorro na floresta sobre pedras escorregadias, raízes e troncos caídos, para que eu possa desfrutar sua energia destemida e seu atletismo, e melhorar meu equilíbrio e minha autoconfiança. O médico que monitora minha saúde óssea termina cada consulta com uma ordem: "Não caia". E a caminhada traiçoeira da floresta faz parte da minha resposta. Como Petrow enfatizou, o medo de cair "pode realmente levar a mais quedas" porque nos deixa indevidamente ansiosos, hesitantes e focados nos pés em vez do que está à nossa frente.

Minha cozinha foi construída para uma cozinheira de 1,80 m de altura que, graças à escoliose e encolhimento, agora tem vários centímetros a menos. Isso significa que frequentemente subo em banquinhos para alcançar itens que não consigo armazenar em uma prateleira inferior. Mas esse banquinho é resistente, ao contrário de um amigo de 78 anos que tolamente subiu em uma cadeira, caiu e machucou as costas.

Quando perguntei a uma mulher da minha idade como estava se sentindo, ela disse: "Tenho problemas." E respondi: "Todo mundo tem problemas. O segredo para o envelhecimento bem-sucedido é reconhecer seus problemas e se adaptar a eles." Estou constantemente aprendendo o que posso ou não fazer e pedindo ajuda ou pagando por ela quando necessário.

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Mais cedo ou mais tarde, todo mundo precisa reconhecer o que não é mais possível e encontrar alternativas. Anos atrás, a mecânica corporal me forçou a desistir do tênis e da patinação no gelo, e agora, da jardinagem extenuante. Continuo a fazer passeios de bicicleta de 16 quilômetros várias vezes por semana quando o tempo está bom, mas os passeios de bicicleta de duas semanas subindo e descendo morros agora são história.

Uma amiga querida de 90 e poucos anos é meu modelo e serve como referência da realidade. Quando lhe perguntei se ela me acompanharia em uma viagem ao exterior, ela respondeu: "Obrigada, mas não estou mais no nível de atividade que isso requer".

Jurei parar de falar com quem quer que seja sobre minhas dores e doenças, o que Petrow chamou de "recital de órgãos". Isso não causa alívio – na verdade, pode até piorar a dor. Em vez de incutir empatia, o "recital de órgãos" provavelmente afasta a maioria das pessoas, especialmente os jovens.

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E aprecio meus amigos mais novos, que me mantêm jovem de espírito e concentrada em questões importantes para meus filhos e netos e para o mundo que vão herdar. Eles, por sua vez, dizem que valorizam a informação e a sabedoria que posso oferecer.

Também me esforço para dizer algo lisonjeiro ou alegre a um estranho todo dia. Isso ilumina nossa vida e me ajuda a me concentrar na beleza ao meu redor. Mas meu conselho mais valioso é: viva cada dia como se fosse o último, de olho no futuro, caso não seja o derradeiro, lição que aprendi na adolescência quando minha mãe morreu de câncer aos 49 anos. A morte dela foi uma perda catastrófica, com a qual lido melhor do que com as pequenas.

O mais difícil daqui para a frente será dirigir. Quando eu tinha uns 70 anos, meus filhos começaram a me pedir que eu parasse de dirigir simplesmente com base na minha idade. Não sofri nenhum acidente, ou mesmo um quase acidente, nem acumulei multas. Ainda assim, eles aumentaram meu seguro (está bem, eu disse, se isso faz com que vocês se sintam bem). E, para tirá-los do meu pé, desisti da minha minivan de dez anos e a troquei por um carro mais seguro, um Subaru Outback.

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Como muitos outros carros agora no mercado, o Subaru tem vários recursos protetores que compensam os sentidos em declínio e as reações mais lentas que acompanham o envelhecimento. Ele me avisa quando há um carro, uma bicicleta ou um pedestre se aproximando quando estou saindo de uma vaga de estacionamento. O motor morre quando algo aparece de repente ou para na minha frente. Se eu virar a cabeça para ver algo, uma frase aparece piscando: "Mantenha os olhos na rua".

Também estou começando a abordar outra questão pesada, especialmente comum entre aqueles que viveram muito tempo em um só lugar: o excesso de coisas. Tenho um medo latente de "ficar sem" e por isso, cronicamente, compro e economizo mais do que o suficiente de tudo. Meu falecido marido chamava nossa casa de abrigo antiaéreo que poderia nos sustentar durante um ano. Também sou péssima em me separar de objetos que podem um dia ser úteis. Ele me disse que eu o lembrava de uma idosa que ele conhecia e que guardava pedaços de corda "pequenos demais para usar". Estou levando o conselho dele a sério. Desejem-me sorte.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

No dia seguinte ao meu aniversário de 80 anos, cheio de desejos de felicidade, surpresas e celebrações seguras por causa da covid-19, acordei me sentindo realizada e pensando que, aconteça o que for daqui para frente, tudo bem. Minha vida é gratificante, minha lista do que fazer antes de bater as botas está vazia, minha família está prosperando, e, se tudo acabar amanhã, que assim seja.

Não que eu espere fazer algo para apressar minha morte. Continuarei me exercitando regularmente, comendo de forma saudável e me esforçando para minimizar o estresse. Mas também estou fazendo um balanço das muitas características comuns do envelhecimento e decidindo o que preciso reconsiderar.

Ilustração de Gracia Lam/The New York Times. 

Encontrei considerável inspiração e orientação em um novo livro, Stupid Things I Won't Do When I Get Old (Coisas estúpidas que não vou fazer quando ficar velho, em tradução livre), de Steven Petrow, escrito com Roseann Foley Henry. Petrow, que também é colunista, mas é quase duas décadas mais novo que eu, começou a pensar no futuro depois de observar os erros de seus pais idosos, como esperar muito tempo para começar a usar aparelho auditivo.

Fiz um inventário similar da minha vida e comecei no topo, com meu cabelo. Eu o havia pintado durante décadas, cada vez mais claro conforme ia envelhecendo. Mas notei que, durante a pandemia, muitas pessoas (homens e mulheres de todas as idades) tinham parado de cobrir os fios brancos. E ficaram com uma aparência muito boa, às vezes melhor do que com o cabelo tingido emoldurando um rosto enrugado. Hoje, também estou grisalha e adorando, embora não possa mais culpar meu cachorro pelos cabelos brancos no sofá!

Também tenho resistido à tentação comum de encobrir outras questões cosméticas. Agora, raramente uso maquiagem, e meu traje de verão habitual continua sendo shorts e regatas. Danem-se as rugas. Tenho orgulho de tê-las. Mas continuarei irritada com a gramática ruim, corrigindo o uso indevido da linguagem sempre que puder.

E resistirei teimosamente a alterar meus hábitos para evitar possíveis tragédias previstas por outros. Ando com meu cachorro na floresta sobre pedras escorregadias, raízes e troncos caídos, para que eu possa desfrutar sua energia destemida e seu atletismo, e melhorar meu equilíbrio e minha autoconfiança. O médico que monitora minha saúde óssea termina cada consulta com uma ordem: "Não caia". E a caminhada traiçoeira da floresta faz parte da minha resposta. Como Petrow enfatizou, o medo de cair "pode realmente levar a mais quedas" porque nos deixa indevidamente ansiosos, hesitantes e focados nos pés em vez do que está à nossa frente.

Minha cozinha foi construída para uma cozinheira de 1,80 m de altura que, graças à escoliose e encolhimento, agora tem vários centímetros a menos. Isso significa que frequentemente subo em banquinhos para alcançar itens que não consigo armazenar em uma prateleira inferior. Mas esse banquinho é resistente, ao contrário de um amigo de 78 anos que tolamente subiu em uma cadeira, caiu e machucou as costas.

Quando perguntei a uma mulher da minha idade como estava se sentindo, ela disse: "Tenho problemas." E respondi: "Todo mundo tem problemas. O segredo para o envelhecimento bem-sucedido é reconhecer seus problemas e se adaptar a eles." Estou constantemente aprendendo o que posso ou não fazer e pedindo ajuda ou pagando por ela quando necessário.

Mais cedo ou mais tarde, todo mundo precisa reconhecer o que não é mais possível e encontrar alternativas. Anos atrás, a mecânica corporal me forçou a desistir do tênis e da patinação no gelo, e agora, da jardinagem extenuante. Continuo a fazer passeios de bicicleta de 16 quilômetros várias vezes por semana quando o tempo está bom, mas os passeios de bicicleta de duas semanas subindo e descendo morros agora são história.

Uma amiga querida de 90 e poucos anos é meu modelo e serve como referência da realidade. Quando lhe perguntei se ela me acompanharia em uma viagem ao exterior, ela respondeu: "Obrigada, mas não estou mais no nível de atividade que isso requer".

Jurei parar de falar com quem quer que seja sobre minhas dores e doenças, o que Petrow chamou de "recital de órgãos". Isso não causa alívio – na verdade, pode até piorar a dor. Em vez de incutir empatia, o "recital de órgãos" provavelmente afasta a maioria das pessoas, especialmente os jovens.

E aprecio meus amigos mais novos, que me mantêm jovem de espírito e concentrada em questões importantes para meus filhos e netos e para o mundo que vão herdar. Eles, por sua vez, dizem que valorizam a informação e a sabedoria que posso oferecer.

Também me esforço para dizer algo lisonjeiro ou alegre a um estranho todo dia. Isso ilumina nossa vida e me ajuda a me concentrar na beleza ao meu redor. Mas meu conselho mais valioso é: viva cada dia como se fosse o último, de olho no futuro, caso não seja o derradeiro, lição que aprendi na adolescência quando minha mãe morreu de câncer aos 49 anos. A morte dela foi uma perda catastrófica, com a qual lido melhor do que com as pequenas.

O mais difícil daqui para a frente será dirigir. Quando eu tinha uns 70 anos, meus filhos começaram a me pedir que eu parasse de dirigir simplesmente com base na minha idade. Não sofri nenhum acidente, ou mesmo um quase acidente, nem acumulei multas. Ainda assim, eles aumentaram meu seguro (está bem, eu disse, se isso faz com que vocês se sintam bem). E, para tirá-los do meu pé, desisti da minha minivan de dez anos e a troquei por um carro mais seguro, um Subaru Outback.

Como muitos outros carros agora no mercado, o Subaru tem vários recursos protetores que compensam os sentidos em declínio e as reações mais lentas que acompanham o envelhecimento. Ele me avisa quando há um carro, uma bicicleta ou um pedestre se aproximando quando estou saindo de uma vaga de estacionamento. O motor morre quando algo aparece de repente ou para na minha frente. Se eu virar a cabeça para ver algo, uma frase aparece piscando: "Mantenha os olhos na rua".

Também estou começando a abordar outra questão pesada, especialmente comum entre aqueles que viveram muito tempo em um só lugar: o excesso de coisas. Tenho um medo latente de "ficar sem" e por isso, cronicamente, compro e economizo mais do que o suficiente de tudo. Meu falecido marido chamava nossa casa de abrigo antiaéreo que poderia nos sustentar durante um ano. Também sou péssima em me separar de objetos que podem um dia ser úteis. Ele me disse que eu o lembrava de uma idosa que ele conhecia e que guardava pedaços de corda "pequenos demais para usar". Estou levando o conselho dele a sério. Desejem-me sorte.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

No dia seguinte ao meu aniversário de 80 anos, cheio de desejos de felicidade, surpresas e celebrações seguras por causa da covid-19, acordei me sentindo realizada e pensando que, aconteça o que for daqui para frente, tudo bem. Minha vida é gratificante, minha lista do que fazer antes de bater as botas está vazia, minha família está prosperando, e, se tudo acabar amanhã, que assim seja.

Não que eu espere fazer algo para apressar minha morte. Continuarei me exercitando regularmente, comendo de forma saudável e me esforçando para minimizar o estresse. Mas também estou fazendo um balanço das muitas características comuns do envelhecimento e decidindo o que preciso reconsiderar.

Ilustração de Gracia Lam/The New York Times. 

Encontrei considerável inspiração e orientação em um novo livro, Stupid Things I Won't Do When I Get Old (Coisas estúpidas que não vou fazer quando ficar velho, em tradução livre), de Steven Petrow, escrito com Roseann Foley Henry. Petrow, que também é colunista, mas é quase duas décadas mais novo que eu, começou a pensar no futuro depois de observar os erros de seus pais idosos, como esperar muito tempo para começar a usar aparelho auditivo.

Fiz um inventário similar da minha vida e comecei no topo, com meu cabelo. Eu o havia pintado durante décadas, cada vez mais claro conforme ia envelhecendo. Mas notei que, durante a pandemia, muitas pessoas (homens e mulheres de todas as idades) tinham parado de cobrir os fios brancos. E ficaram com uma aparência muito boa, às vezes melhor do que com o cabelo tingido emoldurando um rosto enrugado. Hoje, também estou grisalha e adorando, embora não possa mais culpar meu cachorro pelos cabelos brancos no sofá!

Também tenho resistido à tentação comum de encobrir outras questões cosméticas. Agora, raramente uso maquiagem, e meu traje de verão habitual continua sendo shorts e regatas. Danem-se as rugas. Tenho orgulho de tê-las. Mas continuarei irritada com a gramática ruim, corrigindo o uso indevido da linguagem sempre que puder.

E resistirei teimosamente a alterar meus hábitos para evitar possíveis tragédias previstas por outros. Ando com meu cachorro na floresta sobre pedras escorregadias, raízes e troncos caídos, para que eu possa desfrutar sua energia destemida e seu atletismo, e melhorar meu equilíbrio e minha autoconfiança. O médico que monitora minha saúde óssea termina cada consulta com uma ordem: "Não caia". E a caminhada traiçoeira da floresta faz parte da minha resposta. Como Petrow enfatizou, o medo de cair "pode realmente levar a mais quedas" porque nos deixa indevidamente ansiosos, hesitantes e focados nos pés em vez do que está à nossa frente.

Minha cozinha foi construída para uma cozinheira de 1,80 m de altura que, graças à escoliose e encolhimento, agora tem vários centímetros a menos. Isso significa que frequentemente subo em banquinhos para alcançar itens que não consigo armazenar em uma prateleira inferior. Mas esse banquinho é resistente, ao contrário de um amigo de 78 anos que tolamente subiu em uma cadeira, caiu e machucou as costas.

Quando perguntei a uma mulher da minha idade como estava se sentindo, ela disse: "Tenho problemas." E respondi: "Todo mundo tem problemas. O segredo para o envelhecimento bem-sucedido é reconhecer seus problemas e se adaptar a eles." Estou constantemente aprendendo o que posso ou não fazer e pedindo ajuda ou pagando por ela quando necessário.

Mais cedo ou mais tarde, todo mundo precisa reconhecer o que não é mais possível e encontrar alternativas. Anos atrás, a mecânica corporal me forçou a desistir do tênis e da patinação no gelo, e agora, da jardinagem extenuante. Continuo a fazer passeios de bicicleta de 16 quilômetros várias vezes por semana quando o tempo está bom, mas os passeios de bicicleta de duas semanas subindo e descendo morros agora são história.

Uma amiga querida de 90 e poucos anos é meu modelo e serve como referência da realidade. Quando lhe perguntei se ela me acompanharia em uma viagem ao exterior, ela respondeu: "Obrigada, mas não estou mais no nível de atividade que isso requer".

Jurei parar de falar com quem quer que seja sobre minhas dores e doenças, o que Petrow chamou de "recital de órgãos". Isso não causa alívio – na verdade, pode até piorar a dor. Em vez de incutir empatia, o "recital de órgãos" provavelmente afasta a maioria das pessoas, especialmente os jovens.

E aprecio meus amigos mais novos, que me mantêm jovem de espírito e concentrada em questões importantes para meus filhos e netos e para o mundo que vão herdar. Eles, por sua vez, dizem que valorizam a informação e a sabedoria que posso oferecer.

Também me esforço para dizer algo lisonjeiro ou alegre a um estranho todo dia. Isso ilumina nossa vida e me ajuda a me concentrar na beleza ao meu redor. Mas meu conselho mais valioso é: viva cada dia como se fosse o último, de olho no futuro, caso não seja o derradeiro, lição que aprendi na adolescência quando minha mãe morreu de câncer aos 49 anos. A morte dela foi uma perda catastrófica, com a qual lido melhor do que com as pequenas.

O mais difícil daqui para a frente será dirigir. Quando eu tinha uns 70 anos, meus filhos começaram a me pedir que eu parasse de dirigir simplesmente com base na minha idade. Não sofri nenhum acidente, ou mesmo um quase acidente, nem acumulei multas. Ainda assim, eles aumentaram meu seguro (está bem, eu disse, se isso faz com que vocês se sintam bem). E, para tirá-los do meu pé, desisti da minha minivan de dez anos e a troquei por um carro mais seguro, um Subaru Outback.

Como muitos outros carros agora no mercado, o Subaru tem vários recursos protetores que compensam os sentidos em declínio e as reações mais lentas que acompanham o envelhecimento. Ele me avisa quando há um carro, uma bicicleta ou um pedestre se aproximando quando estou saindo de uma vaga de estacionamento. O motor morre quando algo aparece de repente ou para na minha frente. Se eu virar a cabeça para ver algo, uma frase aparece piscando: "Mantenha os olhos na rua".

Também estou começando a abordar outra questão pesada, especialmente comum entre aqueles que viveram muito tempo em um só lugar: o excesso de coisas. Tenho um medo latente de "ficar sem" e por isso, cronicamente, compro e economizo mais do que o suficiente de tudo. Meu falecido marido chamava nossa casa de abrigo antiaéreo que poderia nos sustentar durante um ano. Também sou péssima em me separar de objetos que podem um dia ser úteis. Ele me disse que eu o lembrava de uma idosa que ele conhecia e que guardava pedaços de corda "pequenos demais para usar". Estou levando o conselho dele a sério. Desejem-me sorte.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

No dia seguinte ao meu aniversário de 80 anos, cheio de desejos de felicidade, surpresas e celebrações seguras por causa da covid-19, acordei me sentindo realizada e pensando que, aconteça o que for daqui para frente, tudo bem. Minha vida é gratificante, minha lista do que fazer antes de bater as botas está vazia, minha família está prosperando, e, se tudo acabar amanhã, que assim seja.

Não que eu espere fazer algo para apressar minha morte. Continuarei me exercitando regularmente, comendo de forma saudável e me esforçando para minimizar o estresse. Mas também estou fazendo um balanço das muitas características comuns do envelhecimento e decidindo o que preciso reconsiderar.

Ilustração de Gracia Lam/The New York Times. 

Encontrei considerável inspiração e orientação em um novo livro, Stupid Things I Won't Do When I Get Old (Coisas estúpidas que não vou fazer quando ficar velho, em tradução livre), de Steven Petrow, escrito com Roseann Foley Henry. Petrow, que também é colunista, mas é quase duas décadas mais novo que eu, começou a pensar no futuro depois de observar os erros de seus pais idosos, como esperar muito tempo para começar a usar aparelho auditivo.

Fiz um inventário similar da minha vida e comecei no topo, com meu cabelo. Eu o havia pintado durante décadas, cada vez mais claro conforme ia envelhecendo. Mas notei que, durante a pandemia, muitas pessoas (homens e mulheres de todas as idades) tinham parado de cobrir os fios brancos. E ficaram com uma aparência muito boa, às vezes melhor do que com o cabelo tingido emoldurando um rosto enrugado. Hoje, também estou grisalha e adorando, embora não possa mais culpar meu cachorro pelos cabelos brancos no sofá!

Também tenho resistido à tentação comum de encobrir outras questões cosméticas. Agora, raramente uso maquiagem, e meu traje de verão habitual continua sendo shorts e regatas. Danem-se as rugas. Tenho orgulho de tê-las. Mas continuarei irritada com a gramática ruim, corrigindo o uso indevido da linguagem sempre que puder.

E resistirei teimosamente a alterar meus hábitos para evitar possíveis tragédias previstas por outros. Ando com meu cachorro na floresta sobre pedras escorregadias, raízes e troncos caídos, para que eu possa desfrutar sua energia destemida e seu atletismo, e melhorar meu equilíbrio e minha autoconfiança. O médico que monitora minha saúde óssea termina cada consulta com uma ordem: "Não caia". E a caminhada traiçoeira da floresta faz parte da minha resposta. Como Petrow enfatizou, o medo de cair "pode realmente levar a mais quedas" porque nos deixa indevidamente ansiosos, hesitantes e focados nos pés em vez do que está à nossa frente.

Minha cozinha foi construída para uma cozinheira de 1,80 m de altura que, graças à escoliose e encolhimento, agora tem vários centímetros a menos. Isso significa que frequentemente subo em banquinhos para alcançar itens que não consigo armazenar em uma prateleira inferior. Mas esse banquinho é resistente, ao contrário de um amigo de 78 anos que tolamente subiu em uma cadeira, caiu e machucou as costas.

Quando perguntei a uma mulher da minha idade como estava se sentindo, ela disse: "Tenho problemas." E respondi: "Todo mundo tem problemas. O segredo para o envelhecimento bem-sucedido é reconhecer seus problemas e se adaptar a eles." Estou constantemente aprendendo o que posso ou não fazer e pedindo ajuda ou pagando por ela quando necessário.

Mais cedo ou mais tarde, todo mundo precisa reconhecer o que não é mais possível e encontrar alternativas. Anos atrás, a mecânica corporal me forçou a desistir do tênis e da patinação no gelo, e agora, da jardinagem extenuante. Continuo a fazer passeios de bicicleta de 16 quilômetros várias vezes por semana quando o tempo está bom, mas os passeios de bicicleta de duas semanas subindo e descendo morros agora são história.

Uma amiga querida de 90 e poucos anos é meu modelo e serve como referência da realidade. Quando lhe perguntei se ela me acompanharia em uma viagem ao exterior, ela respondeu: "Obrigada, mas não estou mais no nível de atividade que isso requer".

Jurei parar de falar com quem quer que seja sobre minhas dores e doenças, o que Petrow chamou de "recital de órgãos". Isso não causa alívio – na verdade, pode até piorar a dor. Em vez de incutir empatia, o "recital de órgãos" provavelmente afasta a maioria das pessoas, especialmente os jovens.

E aprecio meus amigos mais novos, que me mantêm jovem de espírito e concentrada em questões importantes para meus filhos e netos e para o mundo que vão herdar. Eles, por sua vez, dizem que valorizam a informação e a sabedoria que posso oferecer.

Também me esforço para dizer algo lisonjeiro ou alegre a um estranho todo dia. Isso ilumina nossa vida e me ajuda a me concentrar na beleza ao meu redor. Mas meu conselho mais valioso é: viva cada dia como se fosse o último, de olho no futuro, caso não seja o derradeiro, lição que aprendi na adolescência quando minha mãe morreu de câncer aos 49 anos. A morte dela foi uma perda catastrófica, com a qual lido melhor do que com as pequenas.

O mais difícil daqui para a frente será dirigir. Quando eu tinha uns 70 anos, meus filhos começaram a me pedir que eu parasse de dirigir simplesmente com base na minha idade. Não sofri nenhum acidente, ou mesmo um quase acidente, nem acumulei multas. Ainda assim, eles aumentaram meu seguro (está bem, eu disse, se isso faz com que vocês se sintam bem). E, para tirá-los do meu pé, desisti da minha minivan de dez anos e a troquei por um carro mais seguro, um Subaru Outback.

Como muitos outros carros agora no mercado, o Subaru tem vários recursos protetores que compensam os sentidos em declínio e as reações mais lentas que acompanham o envelhecimento. Ele me avisa quando há um carro, uma bicicleta ou um pedestre se aproximando quando estou saindo de uma vaga de estacionamento. O motor morre quando algo aparece de repente ou para na minha frente. Se eu virar a cabeça para ver algo, uma frase aparece piscando: "Mantenha os olhos na rua".

Também estou começando a abordar outra questão pesada, especialmente comum entre aqueles que viveram muito tempo em um só lugar: o excesso de coisas. Tenho um medo latente de "ficar sem" e por isso, cronicamente, compro e economizo mais do que o suficiente de tudo. Meu falecido marido chamava nossa casa de abrigo antiaéreo que poderia nos sustentar durante um ano. Também sou péssima em me separar de objetos que podem um dia ser úteis. Ele me disse que eu o lembrava de uma idosa que ele conhecia e que guardava pedaços de corda "pequenos demais para usar". Estou levando o conselho dele a sério. Desejem-me sorte.

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