Escritora conta como é viver na casa que ilustrou o quadro 'American Gothic'


O famoso quadro de Grant Wood teve origem após uma visita à cidade de Eldon, em Iowa, e a casa representada na obra foi lar da escritora Beth M. Howard

Por Beth M. Howard

O quadro “American Gothic”, de Grant Wood, é lendário, mas a maioria das pessoas não sabe que a pequena casa de fazenda do fundo é real - ela pode ser encontrada em Eldon, Iowa (população de 900 habitantes), que pertence à Sociedade de História do Estado, e que, até pouco tempo atrás, era uma residência particular. Poucos podem dizer que moraram “dentro da” obra-prima de Wood. Eu sou uma delas.

Em 1930, Wood foi para Eldon com o amigo artista John Sharp, que nasceu nesta aldeia rural. Eles passaram de carro em frente a uma casa de fazenda nos arrabaldes do lugarejo: uma casa rústica no estilo gótico Carpenter, típica da época, com a exceção de que, sob o teto pontiagudo havia uma janela em arco pontudo, como as que ornamentam em geral as igrejas.

Wood desenhou um esboço. Ao regressar para seu ateliê, em Cedar Rapids, Iowa, ele imaginou como deveriam ser os seus ocupantes. Usando sua irmã, Nan, e o seu dentista, Byron McKeby, como modelos, ele criou um casal de personagens do Centro-Oeste, de expressões severas. E intitulou o quadro “American Gothic”.

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A casa, construída em 1881, dez anos antes do nascimento de Wood, mudou de mão diversas vezes, e ficou bastante degradada depois de permanecer por muito tempo desabitada. Em 1974, foi incluída no Registro Nacional de Monumentos Históricos.

Em 1991, seu último dono, Carl Smith, a doou à Sociedade de História, que gastou cerca de US$ 100 mil para restaurá-la. O Estado continuou a alugá-la como residência a dois agentes dos Correios, a um professor, e - de 2010 a 2014 - a mim.

Passei a infância a cerca de 25 quilômetros da casa e nunca soube de sua existência até que, em 2010, retornei à cidadezinha onde nasci para uma visita (até aquele dia, eu pensava que o quadro fosse de Norman Rockwell).

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Por quatro anos, Beth Howard, a autora do artigo, viveu na casinha do quadro “American Gothic” do pintor Grant Wood. Foto: Daniel Broten via The New York Times

Com 65 metros quadrados, era o exemplo perfeito de Tiny House, quase uma casa de brinquedo. Em 2007, havia sido construído ao seu lado um centro de turismo com um museu e uma loja de suvenires. Aluguei a casa por US$ 250 mensais - com todas as suas peculiaridades. A janela gótica, por exemplo, tem quase dois metros do chão até o teto. Ela é fechada hermeticamente, ao contrário da outra janela idêntica da parte posterior da casa, que tem dobradiças a fim de permitir que a metade superior abaixe e abra totalmente e permita a saída e entrada do mobiliário.

Eu me acostumei a ser despertada no meio da noite com as risadas e os faróis altos dos carros apontados para a casa, quando os viajantes queriam tirar uma foto. Às vezes, acendia a luz e os assustava. Quem iria esperar que alguém estivesse morando ali?

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De dia, os turistas apareciam, posavam para fotos vestidos com as roupas antigas emprestadas pelo centro de turismo, segurando ancinhos. Eles traziam seus próprios adereços, como uma Harley-Davidson, uma frota de carros a vapor do início do século passado e um rebanho de lhamas. Ela ilustrou um calendário Klingon (do filme Star Trek), uma capa de álbum de uma banda de rock com os integrantes de peito nu, e ornamentou até uma proposta de casamento.

Na maior parte do tempo, eu tratava com simpatia alguns dos 15 mil turistas que vêm olhar a casa todos os anos, principalmente no verão, quando tinha a banca de tortas na frente da casa. Também dava aulas de preparação de tortas, que incluíam uma visitação ao meu lar. Eu chamava a atenção para a meia banheira em um canto do banheiro. E alertava os visitantes a tomar cuidado com os pregos quadrados que despontavam das tábuas do chão, motivo pelo qual andava com um martelo na mão.

Ficava aterrorizada com as sirenes de alarme de tornados, com os relâmpagos, os canos que estalavam e, pior de tudo, com as cobras de 1,8 metro de comprimento nos cantos da casa. Não é uma espécie venenosa, aliás, são excelentes caçadoras de ratos, e é ilegal matá-las em Iowa.

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Mas não se pode viver muito tempo em uma atração turística. Hoje, a casa não é mais alugada como residência particular, mas finalmente está aberta ao público e pode ser locada para eventos.

Graças a “American Gothic” e a essa casinha de fazenda de madeira eu nunca poderia aprender a apreciar melhor o meu Estado, Iowa.

O quadro “American Gothic”, de Grant Wood, é lendário, mas a maioria das pessoas não sabe que a pequena casa de fazenda do fundo é real - ela pode ser encontrada em Eldon, Iowa (população de 900 habitantes), que pertence à Sociedade de História do Estado, e que, até pouco tempo atrás, era uma residência particular. Poucos podem dizer que moraram “dentro da” obra-prima de Wood. Eu sou uma delas.

Em 1930, Wood foi para Eldon com o amigo artista John Sharp, que nasceu nesta aldeia rural. Eles passaram de carro em frente a uma casa de fazenda nos arrabaldes do lugarejo: uma casa rústica no estilo gótico Carpenter, típica da época, com a exceção de que, sob o teto pontiagudo havia uma janela em arco pontudo, como as que ornamentam em geral as igrejas.

Wood desenhou um esboço. Ao regressar para seu ateliê, em Cedar Rapids, Iowa, ele imaginou como deveriam ser os seus ocupantes. Usando sua irmã, Nan, e o seu dentista, Byron McKeby, como modelos, ele criou um casal de personagens do Centro-Oeste, de expressões severas. E intitulou o quadro “American Gothic”.

A casa, construída em 1881, dez anos antes do nascimento de Wood, mudou de mão diversas vezes, e ficou bastante degradada depois de permanecer por muito tempo desabitada. Em 1974, foi incluída no Registro Nacional de Monumentos Históricos.

Em 1991, seu último dono, Carl Smith, a doou à Sociedade de História, que gastou cerca de US$ 100 mil para restaurá-la. O Estado continuou a alugá-la como residência a dois agentes dos Correios, a um professor, e - de 2010 a 2014 - a mim.

Passei a infância a cerca de 25 quilômetros da casa e nunca soube de sua existência até que, em 2010, retornei à cidadezinha onde nasci para uma visita (até aquele dia, eu pensava que o quadro fosse de Norman Rockwell).

Por quatro anos, Beth Howard, a autora do artigo, viveu na casinha do quadro “American Gothic” do pintor Grant Wood. Foto: Daniel Broten via The New York Times

Com 65 metros quadrados, era o exemplo perfeito de Tiny House, quase uma casa de brinquedo. Em 2007, havia sido construído ao seu lado um centro de turismo com um museu e uma loja de suvenires. Aluguei a casa por US$ 250 mensais - com todas as suas peculiaridades. A janela gótica, por exemplo, tem quase dois metros do chão até o teto. Ela é fechada hermeticamente, ao contrário da outra janela idêntica da parte posterior da casa, que tem dobradiças a fim de permitir que a metade superior abaixe e abra totalmente e permita a saída e entrada do mobiliário.

Eu me acostumei a ser despertada no meio da noite com as risadas e os faróis altos dos carros apontados para a casa, quando os viajantes queriam tirar uma foto. Às vezes, acendia a luz e os assustava. Quem iria esperar que alguém estivesse morando ali?

De dia, os turistas apareciam, posavam para fotos vestidos com as roupas antigas emprestadas pelo centro de turismo, segurando ancinhos. Eles traziam seus próprios adereços, como uma Harley-Davidson, uma frota de carros a vapor do início do século passado e um rebanho de lhamas. Ela ilustrou um calendário Klingon (do filme Star Trek), uma capa de álbum de uma banda de rock com os integrantes de peito nu, e ornamentou até uma proposta de casamento.

Na maior parte do tempo, eu tratava com simpatia alguns dos 15 mil turistas que vêm olhar a casa todos os anos, principalmente no verão, quando tinha a banca de tortas na frente da casa. Também dava aulas de preparação de tortas, que incluíam uma visitação ao meu lar. Eu chamava a atenção para a meia banheira em um canto do banheiro. E alertava os visitantes a tomar cuidado com os pregos quadrados que despontavam das tábuas do chão, motivo pelo qual andava com um martelo na mão.

Ficava aterrorizada com as sirenes de alarme de tornados, com os relâmpagos, os canos que estalavam e, pior de tudo, com as cobras de 1,8 metro de comprimento nos cantos da casa. Não é uma espécie venenosa, aliás, são excelentes caçadoras de ratos, e é ilegal matá-las em Iowa.

Mas não se pode viver muito tempo em uma atração turística. Hoje, a casa não é mais alugada como residência particular, mas finalmente está aberta ao público e pode ser locada para eventos.

Graças a “American Gothic” e a essa casinha de fazenda de madeira eu nunca poderia aprender a apreciar melhor o meu Estado, Iowa.

O quadro “American Gothic”, de Grant Wood, é lendário, mas a maioria das pessoas não sabe que a pequena casa de fazenda do fundo é real - ela pode ser encontrada em Eldon, Iowa (população de 900 habitantes), que pertence à Sociedade de História do Estado, e que, até pouco tempo atrás, era uma residência particular. Poucos podem dizer que moraram “dentro da” obra-prima de Wood. Eu sou uma delas.

Em 1930, Wood foi para Eldon com o amigo artista John Sharp, que nasceu nesta aldeia rural. Eles passaram de carro em frente a uma casa de fazenda nos arrabaldes do lugarejo: uma casa rústica no estilo gótico Carpenter, típica da época, com a exceção de que, sob o teto pontiagudo havia uma janela em arco pontudo, como as que ornamentam em geral as igrejas.

Wood desenhou um esboço. Ao regressar para seu ateliê, em Cedar Rapids, Iowa, ele imaginou como deveriam ser os seus ocupantes. Usando sua irmã, Nan, e o seu dentista, Byron McKeby, como modelos, ele criou um casal de personagens do Centro-Oeste, de expressões severas. E intitulou o quadro “American Gothic”.

A casa, construída em 1881, dez anos antes do nascimento de Wood, mudou de mão diversas vezes, e ficou bastante degradada depois de permanecer por muito tempo desabitada. Em 1974, foi incluída no Registro Nacional de Monumentos Históricos.

Em 1991, seu último dono, Carl Smith, a doou à Sociedade de História, que gastou cerca de US$ 100 mil para restaurá-la. O Estado continuou a alugá-la como residência a dois agentes dos Correios, a um professor, e - de 2010 a 2014 - a mim.

Passei a infância a cerca de 25 quilômetros da casa e nunca soube de sua existência até que, em 2010, retornei à cidadezinha onde nasci para uma visita (até aquele dia, eu pensava que o quadro fosse de Norman Rockwell).

Por quatro anos, Beth Howard, a autora do artigo, viveu na casinha do quadro “American Gothic” do pintor Grant Wood. Foto: Daniel Broten via The New York Times

Com 65 metros quadrados, era o exemplo perfeito de Tiny House, quase uma casa de brinquedo. Em 2007, havia sido construído ao seu lado um centro de turismo com um museu e uma loja de suvenires. Aluguei a casa por US$ 250 mensais - com todas as suas peculiaridades. A janela gótica, por exemplo, tem quase dois metros do chão até o teto. Ela é fechada hermeticamente, ao contrário da outra janela idêntica da parte posterior da casa, que tem dobradiças a fim de permitir que a metade superior abaixe e abra totalmente e permita a saída e entrada do mobiliário.

Eu me acostumei a ser despertada no meio da noite com as risadas e os faróis altos dos carros apontados para a casa, quando os viajantes queriam tirar uma foto. Às vezes, acendia a luz e os assustava. Quem iria esperar que alguém estivesse morando ali?

De dia, os turistas apareciam, posavam para fotos vestidos com as roupas antigas emprestadas pelo centro de turismo, segurando ancinhos. Eles traziam seus próprios adereços, como uma Harley-Davidson, uma frota de carros a vapor do início do século passado e um rebanho de lhamas. Ela ilustrou um calendário Klingon (do filme Star Trek), uma capa de álbum de uma banda de rock com os integrantes de peito nu, e ornamentou até uma proposta de casamento.

Na maior parte do tempo, eu tratava com simpatia alguns dos 15 mil turistas que vêm olhar a casa todos os anos, principalmente no verão, quando tinha a banca de tortas na frente da casa. Também dava aulas de preparação de tortas, que incluíam uma visitação ao meu lar. Eu chamava a atenção para a meia banheira em um canto do banheiro. E alertava os visitantes a tomar cuidado com os pregos quadrados que despontavam das tábuas do chão, motivo pelo qual andava com um martelo na mão.

Ficava aterrorizada com as sirenes de alarme de tornados, com os relâmpagos, os canos que estalavam e, pior de tudo, com as cobras de 1,8 metro de comprimento nos cantos da casa. Não é uma espécie venenosa, aliás, são excelentes caçadoras de ratos, e é ilegal matá-las em Iowa.

Mas não se pode viver muito tempo em uma atração turística. Hoje, a casa não é mais alugada como residência particular, mas finalmente está aberta ao público e pode ser locada para eventos.

Graças a “American Gothic” e a essa casinha de fazenda de madeira eu nunca poderia aprender a apreciar melhor o meu Estado, Iowa.

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