'Porque ela é uma garota’: lockdown revela o fosso do gênero nos esportes britânicos


As desigualdades são particularmente acentuadas no futebol inglês, onde apenas poucos clubes continuaram abertos para os treinos das futuras profissionais, enquanto os garotos seguiram jogando

Por Anna Schaverien

Quando Lisa Bloor ouviu que o clube de futebol de elite de sua filha Abby estava sendo fechado num lockdown do coronavírus, enfrentou um grave problema: como explicar que os meninos do mesmo nível tiveram permissão de continuar jogando. “Como dizer a minha filha que é porque ela é uma menina?”, perguntou Lisa.

“É desanimador. Não tem nenhuma lógica”. Quando o coronavírus revirou as vidas no mundo inteiro, as mulheres foram desproporcionalmente afetadas, quer por terem de assumir uma parte enorme de obrigações da casa, cuidar das crianças e dos parentes, ou descobriram que os ganhos conseguidos a duras penas, realizados com o trabalho nos últimos anos estavam quase inteiramente a zero.

Philip Gill joga futebol com as filhasIsla, Lydia e Grace, em Burnley, na Inglaterra. Foto: Mary Turner/The New York Times
continua após a publicidade

No início de novembro, depois que o governo da Grã-Bretanha admitiu com relutância a necessidade de um segundo lockdown de quase todos os serviços essenciais da Inglaterra para impedir que o números de casos da covid-19 escapasse do controle, as restrições – e as exceções às normas – revelaram mais um fosso entre gêneros: nos esportes masculinos e femininos.

Quando o governo britânico concedeu dispensas especiais aos “esportes de elite” para um fechamento de quatro semanas, os seis primeiros níveis do futebol masculino puderam continuar treinando e competindo. Mas somente as duas principais ligas de futebol feminino tiveram a permissão de continuar.

A Federação Inglesa, que administra o esporte na Inglaterra, determinou que a competição da Copa da Inglaterra masculina não pararia, mas adiou a Copa feminina. A divisão de gênero nunca ficou mais nítida do que na decisão a respeito das academias de futebol, que aperfeiçoam a capacidade dos jogadores mais promissores em idade escolar e os preparam para se tornarem profissionais.

continua após a publicidade

O treinamento dos garotos de mais de 80 academias de clubes da Liga de Futebol Inglesa e da Liga da Primeira Divisão puderam permanecer abertas, de acordo com os protocolos de “elite”. Entretnto, a Federação Inglesa decidiu que as academias das garotas em clubes como o Everton – onde Abby Clarke, a filha de Lisa Bloor de 16 anos treina pelo menos quatro vezes por semana como parte da esquadra de desenvolvimento – “não eram elite” e teriam de suspender todas as atividades durante o lockdown.

O organismo regulador posteriormente voltou atrás da decisão, mas admitiu que provavelmente apenas algumas academias femininas – quatro ou cinco no máximo – reabririam por causa da escassez de recursos. Para aderir aos protocolos de “elite”, os clubes precisam realizar avaliações de risco e dispõem de uma variedade de funcionários da equipe médica para supervisionar testes rigorosos – a um custo muito alto quando os orçamentos do futebol feminino são reduzidos e já comprometidos.

“Não podemos argumentar com a ambição de ter justiça e igualdade”, disse Kelly Simmons, diretora do esporte profissional feminino da FA. “A questão é onde está o esporte feminino em termos de recursos e do seu faturamento comercial no momento. O masculino conseguiu investir muitos milhões em academias masculinas e instalações modernas. Do lado das mulheres e das garotas ainda não chegamos lá”.

continua após a publicidade

A meio-caminho do lockdown, depois de duas semanas durante as quais sua filha treinou sozinha, chutando uma bola contra a parede, disse Lisa Bloor, o Everton mudou de opinião e decidiu permitir a volta aos treinos das garotas. Mas ela estava aborrecida porque muitas outras garotas não teriam a mesma sorte.

Outras garotas aficionadas por futebol recorreram às redes sociais para perguntar #ÉPorQueEuSouUmaGarota?”, criticando a desigualdade das regras da FA entre os times masculinos e femininos. E conseguiram um abaixo-assinado com mais de 15 mil assinaturas em poucos dias. Philip Gill, pai de três meninas entre os 22 meses e 12 anos, treinador de um time de futebol de Padiham, no noroeste da Inglaterra, preparou o recurso. Gill disse que a decisão da FA “mostra que se você é uma menina, é menos importante. Eu não quero que as minhas filhas cresçam vendo isto. “Está na hora de dar ao jogo das mulheres as mesmas oportunidades dadas aos homens”, ele disse.

continua após a publicidade

Em um recente estudo sobre o primeiro lockdown, a elite das atletas da Grã-Bretanha contou que suas finanças e preparo físico sofreram um golpe mais duro do que os dos colegas homens.

Isto ocorre em grande parte porque, ao contrário dos homens, elas são pagas somente por partida, e precisam desembolsar dinheiro para pagar os aparelhos para treinar durante o lockdown, enquanto os homens podem tomá-los emprestado dos ginásios dos seus clubes.

“O lockdown definitivamente consolidou a ideia de que o esporte feminino não está no mesmo nível do masculino em termos de oportunidade, acesso e financiamento", disse Ali Bowes, professora de sociologia do esporte na Universidade Nottingham Trent, que chefiou a pesquisa. Não foram apenas as desportistas profissionais que sentiram os efeitos dos fechamentos nos esportes e nos treinos de maneira mais aguda do que os homens.

continua após a publicidade

Uma pesquisa do Sport England sobre o efeito do primeiro lockdown concluiu que as mulheres foram mais afetadas pelas responsabilidades da família, mais ansiosas por deixarem a casa para treinar e mais prejudicadas pela redução das atividades de grupo.

Rini Jones, uma blogueira de corrida, corre no Brockwell Park de Londres. Foto: Mary Turner/The New York Times

“Tudo indica que os fechamentos foram piores para as mulheres”, disse Bowes. Como parte do lockdown, ginásios, piscinas públicas, estúdios de dança, quadras de tênis e outras instalações foram obrigados a fechar as portas. Com estas avenidas fechadas, os defensores dos esportes femininos afirmaram que muitas mulheres se sentiriam dissuadidas a continuar ativas no inverno por causa das preocupações com a segurança nos treinos ao ar livre na escuridão.

continua após a publicidade

O governo então introduziu uma exceção às restrições que permite que uma pessoa não da sua casa acompanhe a esportista nos exercícios externos, desde que elas mantenham uma distância segura, isto foi criticado por não ser prático. Rini Jones, corredora de maratona que compartilha as suas experiências na sua conta no Instagram, ‘abrowngirlruns’, sai sozinha para correr, mas sempre toma diversas precauções, como correr somente em estradas muito iluminadas.

Ela não para de pensar na violência sexual e nos assassinatos de corredoras, principalmente mulheres negras. Ela disse que, em geral, considera os motoristas que passam por ela potenciais testemunhas caso algo aconteça com ela. “Há uma falta indesculpável de entendimento nos mais altos níveis da tomada de decisões de que esta é a realidade das mulheres, e em relação às mulheres negras e marginalizadas, é ainda mais precário”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Quando Lisa Bloor ouviu que o clube de futebol de elite de sua filha Abby estava sendo fechado num lockdown do coronavírus, enfrentou um grave problema: como explicar que os meninos do mesmo nível tiveram permissão de continuar jogando. “Como dizer a minha filha que é porque ela é uma menina?”, perguntou Lisa.

“É desanimador. Não tem nenhuma lógica”. Quando o coronavírus revirou as vidas no mundo inteiro, as mulheres foram desproporcionalmente afetadas, quer por terem de assumir uma parte enorme de obrigações da casa, cuidar das crianças e dos parentes, ou descobriram que os ganhos conseguidos a duras penas, realizados com o trabalho nos últimos anos estavam quase inteiramente a zero.

Philip Gill joga futebol com as filhasIsla, Lydia e Grace, em Burnley, na Inglaterra. Foto: Mary Turner/The New York Times

No início de novembro, depois que o governo da Grã-Bretanha admitiu com relutância a necessidade de um segundo lockdown de quase todos os serviços essenciais da Inglaterra para impedir que o números de casos da covid-19 escapasse do controle, as restrições – e as exceções às normas – revelaram mais um fosso entre gêneros: nos esportes masculinos e femininos.

Quando o governo britânico concedeu dispensas especiais aos “esportes de elite” para um fechamento de quatro semanas, os seis primeiros níveis do futebol masculino puderam continuar treinando e competindo. Mas somente as duas principais ligas de futebol feminino tiveram a permissão de continuar.

A Federação Inglesa, que administra o esporte na Inglaterra, determinou que a competição da Copa da Inglaterra masculina não pararia, mas adiou a Copa feminina. A divisão de gênero nunca ficou mais nítida do que na decisão a respeito das academias de futebol, que aperfeiçoam a capacidade dos jogadores mais promissores em idade escolar e os preparam para se tornarem profissionais.

O treinamento dos garotos de mais de 80 academias de clubes da Liga de Futebol Inglesa e da Liga da Primeira Divisão puderam permanecer abertas, de acordo com os protocolos de “elite”. Entretnto, a Federação Inglesa decidiu que as academias das garotas em clubes como o Everton – onde Abby Clarke, a filha de Lisa Bloor de 16 anos treina pelo menos quatro vezes por semana como parte da esquadra de desenvolvimento – “não eram elite” e teriam de suspender todas as atividades durante o lockdown.

O organismo regulador posteriormente voltou atrás da decisão, mas admitiu que provavelmente apenas algumas academias femininas – quatro ou cinco no máximo – reabririam por causa da escassez de recursos. Para aderir aos protocolos de “elite”, os clubes precisam realizar avaliações de risco e dispõem de uma variedade de funcionários da equipe médica para supervisionar testes rigorosos – a um custo muito alto quando os orçamentos do futebol feminino são reduzidos e já comprometidos.

“Não podemos argumentar com a ambição de ter justiça e igualdade”, disse Kelly Simmons, diretora do esporte profissional feminino da FA. “A questão é onde está o esporte feminino em termos de recursos e do seu faturamento comercial no momento. O masculino conseguiu investir muitos milhões em academias masculinas e instalações modernas. Do lado das mulheres e das garotas ainda não chegamos lá”.

A meio-caminho do lockdown, depois de duas semanas durante as quais sua filha treinou sozinha, chutando uma bola contra a parede, disse Lisa Bloor, o Everton mudou de opinião e decidiu permitir a volta aos treinos das garotas. Mas ela estava aborrecida porque muitas outras garotas não teriam a mesma sorte.

Outras garotas aficionadas por futebol recorreram às redes sociais para perguntar #ÉPorQueEuSouUmaGarota?”, criticando a desigualdade das regras da FA entre os times masculinos e femininos. E conseguiram um abaixo-assinado com mais de 15 mil assinaturas em poucos dias. Philip Gill, pai de três meninas entre os 22 meses e 12 anos, treinador de um time de futebol de Padiham, no noroeste da Inglaterra, preparou o recurso. Gill disse que a decisão da FA “mostra que se você é uma menina, é menos importante. Eu não quero que as minhas filhas cresçam vendo isto. “Está na hora de dar ao jogo das mulheres as mesmas oportunidades dadas aos homens”, ele disse.

Em um recente estudo sobre o primeiro lockdown, a elite das atletas da Grã-Bretanha contou que suas finanças e preparo físico sofreram um golpe mais duro do que os dos colegas homens.

Isto ocorre em grande parte porque, ao contrário dos homens, elas são pagas somente por partida, e precisam desembolsar dinheiro para pagar os aparelhos para treinar durante o lockdown, enquanto os homens podem tomá-los emprestado dos ginásios dos seus clubes.

“O lockdown definitivamente consolidou a ideia de que o esporte feminino não está no mesmo nível do masculino em termos de oportunidade, acesso e financiamento", disse Ali Bowes, professora de sociologia do esporte na Universidade Nottingham Trent, que chefiou a pesquisa. Não foram apenas as desportistas profissionais que sentiram os efeitos dos fechamentos nos esportes e nos treinos de maneira mais aguda do que os homens.

Uma pesquisa do Sport England sobre o efeito do primeiro lockdown concluiu que as mulheres foram mais afetadas pelas responsabilidades da família, mais ansiosas por deixarem a casa para treinar e mais prejudicadas pela redução das atividades de grupo.

Rini Jones, uma blogueira de corrida, corre no Brockwell Park de Londres. Foto: Mary Turner/The New York Times

“Tudo indica que os fechamentos foram piores para as mulheres”, disse Bowes. Como parte do lockdown, ginásios, piscinas públicas, estúdios de dança, quadras de tênis e outras instalações foram obrigados a fechar as portas. Com estas avenidas fechadas, os defensores dos esportes femininos afirmaram que muitas mulheres se sentiriam dissuadidas a continuar ativas no inverno por causa das preocupações com a segurança nos treinos ao ar livre na escuridão.

O governo então introduziu uma exceção às restrições que permite que uma pessoa não da sua casa acompanhe a esportista nos exercícios externos, desde que elas mantenham uma distância segura, isto foi criticado por não ser prático. Rini Jones, corredora de maratona que compartilha as suas experiências na sua conta no Instagram, ‘abrowngirlruns’, sai sozinha para correr, mas sempre toma diversas precauções, como correr somente em estradas muito iluminadas.

Ela não para de pensar na violência sexual e nos assassinatos de corredoras, principalmente mulheres negras. Ela disse que, em geral, considera os motoristas que passam por ela potenciais testemunhas caso algo aconteça com ela. “Há uma falta indesculpável de entendimento nos mais altos níveis da tomada de decisões de que esta é a realidade das mulheres, e em relação às mulheres negras e marginalizadas, é ainda mais precário”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Quando Lisa Bloor ouviu que o clube de futebol de elite de sua filha Abby estava sendo fechado num lockdown do coronavírus, enfrentou um grave problema: como explicar que os meninos do mesmo nível tiveram permissão de continuar jogando. “Como dizer a minha filha que é porque ela é uma menina?”, perguntou Lisa.

“É desanimador. Não tem nenhuma lógica”. Quando o coronavírus revirou as vidas no mundo inteiro, as mulheres foram desproporcionalmente afetadas, quer por terem de assumir uma parte enorme de obrigações da casa, cuidar das crianças e dos parentes, ou descobriram que os ganhos conseguidos a duras penas, realizados com o trabalho nos últimos anos estavam quase inteiramente a zero.

Philip Gill joga futebol com as filhasIsla, Lydia e Grace, em Burnley, na Inglaterra. Foto: Mary Turner/The New York Times

No início de novembro, depois que o governo da Grã-Bretanha admitiu com relutância a necessidade de um segundo lockdown de quase todos os serviços essenciais da Inglaterra para impedir que o números de casos da covid-19 escapasse do controle, as restrições – e as exceções às normas – revelaram mais um fosso entre gêneros: nos esportes masculinos e femininos.

Quando o governo britânico concedeu dispensas especiais aos “esportes de elite” para um fechamento de quatro semanas, os seis primeiros níveis do futebol masculino puderam continuar treinando e competindo. Mas somente as duas principais ligas de futebol feminino tiveram a permissão de continuar.

A Federação Inglesa, que administra o esporte na Inglaterra, determinou que a competição da Copa da Inglaterra masculina não pararia, mas adiou a Copa feminina. A divisão de gênero nunca ficou mais nítida do que na decisão a respeito das academias de futebol, que aperfeiçoam a capacidade dos jogadores mais promissores em idade escolar e os preparam para se tornarem profissionais.

O treinamento dos garotos de mais de 80 academias de clubes da Liga de Futebol Inglesa e da Liga da Primeira Divisão puderam permanecer abertas, de acordo com os protocolos de “elite”. Entretnto, a Federação Inglesa decidiu que as academias das garotas em clubes como o Everton – onde Abby Clarke, a filha de Lisa Bloor de 16 anos treina pelo menos quatro vezes por semana como parte da esquadra de desenvolvimento – “não eram elite” e teriam de suspender todas as atividades durante o lockdown.

O organismo regulador posteriormente voltou atrás da decisão, mas admitiu que provavelmente apenas algumas academias femininas – quatro ou cinco no máximo – reabririam por causa da escassez de recursos. Para aderir aos protocolos de “elite”, os clubes precisam realizar avaliações de risco e dispõem de uma variedade de funcionários da equipe médica para supervisionar testes rigorosos – a um custo muito alto quando os orçamentos do futebol feminino são reduzidos e já comprometidos.

“Não podemos argumentar com a ambição de ter justiça e igualdade”, disse Kelly Simmons, diretora do esporte profissional feminino da FA. “A questão é onde está o esporte feminino em termos de recursos e do seu faturamento comercial no momento. O masculino conseguiu investir muitos milhões em academias masculinas e instalações modernas. Do lado das mulheres e das garotas ainda não chegamos lá”.

A meio-caminho do lockdown, depois de duas semanas durante as quais sua filha treinou sozinha, chutando uma bola contra a parede, disse Lisa Bloor, o Everton mudou de opinião e decidiu permitir a volta aos treinos das garotas. Mas ela estava aborrecida porque muitas outras garotas não teriam a mesma sorte.

Outras garotas aficionadas por futebol recorreram às redes sociais para perguntar #ÉPorQueEuSouUmaGarota?”, criticando a desigualdade das regras da FA entre os times masculinos e femininos. E conseguiram um abaixo-assinado com mais de 15 mil assinaturas em poucos dias. Philip Gill, pai de três meninas entre os 22 meses e 12 anos, treinador de um time de futebol de Padiham, no noroeste da Inglaterra, preparou o recurso. Gill disse que a decisão da FA “mostra que se você é uma menina, é menos importante. Eu não quero que as minhas filhas cresçam vendo isto. “Está na hora de dar ao jogo das mulheres as mesmas oportunidades dadas aos homens”, ele disse.

Em um recente estudo sobre o primeiro lockdown, a elite das atletas da Grã-Bretanha contou que suas finanças e preparo físico sofreram um golpe mais duro do que os dos colegas homens.

Isto ocorre em grande parte porque, ao contrário dos homens, elas são pagas somente por partida, e precisam desembolsar dinheiro para pagar os aparelhos para treinar durante o lockdown, enquanto os homens podem tomá-los emprestado dos ginásios dos seus clubes.

“O lockdown definitivamente consolidou a ideia de que o esporte feminino não está no mesmo nível do masculino em termos de oportunidade, acesso e financiamento", disse Ali Bowes, professora de sociologia do esporte na Universidade Nottingham Trent, que chefiou a pesquisa. Não foram apenas as desportistas profissionais que sentiram os efeitos dos fechamentos nos esportes e nos treinos de maneira mais aguda do que os homens.

Uma pesquisa do Sport England sobre o efeito do primeiro lockdown concluiu que as mulheres foram mais afetadas pelas responsabilidades da família, mais ansiosas por deixarem a casa para treinar e mais prejudicadas pela redução das atividades de grupo.

Rini Jones, uma blogueira de corrida, corre no Brockwell Park de Londres. Foto: Mary Turner/The New York Times

“Tudo indica que os fechamentos foram piores para as mulheres”, disse Bowes. Como parte do lockdown, ginásios, piscinas públicas, estúdios de dança, quadras de tênis e outras instalações foram obrigados a fechar as portas. Com estas avenidas fechadas, os defensores dos esportes femininos afirmaram que muitas mulheres se sentiriam dissuadidas a continuar ativas no inverno por causa das preocupações com a segurança nos treinos ao ar livre na escuridão.

O governo então introduziu uma exceção às restrições que permite que uma pessoa não da sua casa acompanhe a esportista nos exercícios externos, desde que elas mantenham uma distância segura, isto foi criticado por não ser prático. Rini Jones, corredora de maratona que compartilha as suas experiências na sua conta no Instagram, ‘abrowngirlruns’, sai sozinha para correr, mas sempre toma diversas precauções, como correr somente em estradas muito iluminadas.

Ela não para de pensar na violência sexual e nos assassinatos de corredoras, principalmente mulheres negras. Ela disse que, em geral, considera os motoristas que passam por ela potenciais testemunhas caso algo aconteça com ela. “Há uma falta indesculpável de entendimento nos mais altos níveis da tomada de decisões de que esta é a realidade das mulheres, e em relação às mulheres negras e marginalizadas, é ainda mais precário”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Quando Lisa Bloor ouviu que o clube de futebol de elite de sua filha Abby estava sendo fechado num lockdown do coronavírus, enfrentou um grave problema: como explicar que os meninos do mesmo nível tiveram permissão de continuar jogando. “Como dizer a minha filha que é porque ela é uma menina?”, perguntou Lisa.

“É desanimador. Não tem nenhuma lógica”. Quando o coronavírus revirou as vidas no mundo inteiro, as mulheres foram desproporcionalmente afetadas, quer por terem de assumir uma parte enorme de obrigações da casa, cuidar das crianças e dos parentes, ou descobriram que os ganhos conseguidos a duras penas, realizados com o trabalho nos últimos anos estavam quase inteiramente a zero.

Philip Gill joga futebol com as filhasIsla, Lydia e Grace, em Burnley, na Inglaterra. Foto: Mary Turner/The New York Times

No início de novembro, depois que o governo da Grã-Bretanha admitiu com relutância a necessidade de um segundo lockdown de quase todos os serviços essenciais da Inglaterra para impedir que o números de casos da covid-19 escapasse do controle, as restrições – e as exceções às normas – revelaram mais um fosso entre gêneros: nos esportes masculinos e femininos.

Quando o governo britânico concedeu dispensas especiais aos “esportes de elite” para um fechamento de quatro semanas, os seis primeiros níveis do futebol masculino puderam continuar treinando e competindo. Mas somente as duas principais ligas de futebol feminino tiveram a permissão de continuar.

A Federação Inglesa, que administra o esporte na Inglaterra, determinou que a competição da Copa da Inglaterra masculina não pararia, mas adiou a Copa feminina. A divisão de gênero nunca ficou mais nítida do que na decisão a respeito das academias de futebol, que aperfeiçoam a capacidade dos jogadores mais promissores em idade escolar e os preparam para se tornarem profissionais.

O treinamento dos garotos de mais de 80 academias de clubes da Liga de Futebol Inglesa e da Liga da Primeira Divisão puderam permanecer abertas, de acordo com os protocolos de “elite”. Entretnto, a Federação Inglesa decidiu que as academias das garotas em clubes como o Everton – onde Abby Clarke, a filha de Lisa Bloor de 16 anos treina pelo menos quatro vezes por semana como parte da esquadra de desenvolvimento – “não eram elite” e teriam de suspender todas as atividades durante o lockdown.

O organismo regulador posteriormente voltou atrás da decisão, mas admitiu que provavelmente apenas algumas academias femininas – quatro ou cinco no máximo – reabririam por causa da escassez de recursos. Para aderir aos protocolos de “elite”, os clubes precisam realizar avaliações de risco e dispõem de uma variedade de funcionários da equipe médica para supervisionar testes rigorosos – a um custo muito alto quando os orçamentos do futebol feminino são reduzidos e já comprometidos.

“Não podemos argumentar com a ambição de ter justiça e igualdade”, disse Kelly Simmons, diretora do esporte profissional feminino da FA. “A questão é onde está o esporte feminino em termos de recursos e do seu faturamento comercial no momento. O masculino conseguiu investir muitos milhões em academias masculinas e instalações modernas. Do lado das mulheres e das garotas ainda não chegamos lá”.

A meio-caminho do lockdown, depois de duas semanas durante as quais sua filha treinou sozinha, chutando uma bola contra a parede, disse Lisa Bloor, o Everton mudou de opinião e decidiu permitir a volta aos treinos das garotas. Mas ela estava aborrecida porque muitas outras garotas não teriam a mesma sorte.

Outras garotas aficionadas por futebol recorreram às redes sociais para perguntar #ÉPorQueEuSouUmaGarota?”, criticando a desigualdade das regras da FA entre os times masculinos e femininos. E conseguiram um abaixo-assinado com mais de 15 mil assinaturas em poucos dias. Philip Gill, pai de três meninas entre os 22 meses e 12 anos, treinador de um time de futebol de Padiham, no noroeste da Inglaterra, preparou o recurso. Gill disse que a decisão da FA “mostra que se você é uma menina, é menos importante. Eu não quero que as minhas filhas cresçam vendo isto. “Está na hora de dar ao jogo das mulheres as mesmas oportunidades dadas aos homens”, ele disse.

Em um recente estudo sobre o primeiro lockdown, a elite das atletas da Grã-Bretanha contou que suas finanças e preparo físico sofreram um golpe mais duro do que os dos colegas homens.

Isto ocorre em grande parte porque, ao contrário dos homens, elas são pagas somente por partida, e precisam desembolsar dinheiro para pagar os aparelhos para treinar durante o lockdown, enquanto os homens podem tomá-los emprestado dos ginásios dos seus clubes.

“O lockdown definitivamente consolidou a ideia de que o esporte feminino não está no mesmo nível do masculino em termos de oportunidade, acesso e financiamento", disse Ali Bowes, professora de sociologia do esporte na Universidade Nottingham Trent, que chefiou a pesquisa. Não foram apenas as desportistas profissionais que sentiram os efeitos dos fechamentos nos esportes e nos treinos de maneira mais aguda do que os homens.

Uma pesquisa do Sport England sobre o efeito do primeiro lockdown concluiu que as mulheres foram mais afetadas pelas responsabilidades da família, mais ansiosas por deixarem a casa para treinar e mais prejudicadas pela redução das atividades de grupo.

Rini Jones, uma blogueira de corrida, corre no Brockwell Park de Londres. Foto: Mary Turner/The New York Times

“Tudo indica que os fechamentos foram piores para as mulheres”, disse Bowes. Como parte do lockdown, ginásios, piscinas públicas, estúdios de dança, quadras de tênis e outras instalações foram obrigados a fechar as portas. Com estas avenidas fechadas, os defensores dos esportes femininos afirmaram que muitas mulheres se sentiriam dissuadidas a continuar ativas no inverno por causa das preocupações com a segurança nos treinos ao ar livre na escuridão.

O governo então introduziu uma exceção às restrições que permite que uma pessoa não da sua casa acompanhe a esportista nos exercícios externos, desde que elas mantenham uma distância segura, isto foi criticado por não ser prático. Rini Jones, corredora de maratona que compartilha as suas experiências na sua conta no Instagram, ‘abrowngirlruns’, sai sozinha para correr, mas sempre toma diversas precauções, como correr somente em estradas muito iluminadas.

Ela não para de pensar na violência sexual e nos assassinatos de corredoras, principalmente mulheres negras. Ela disse que, em geral, considera os motoristas que passam por ela potenciais testemunhas caso algo aconteça com ela. “Há uma falta indesculpável de entendimento nos mais altos níveis da tomada de decisões de que esta é a realidade das mulheres, e em relação às mulheres negras e marginalizadas, é ainda mais precário”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Quando Lisa Bloor ouviu que o clube de futebol de elite de sua filha Abby estava sendo fechado num lockdown do coronavírus, enfrentou um grave problema: como explicar que os meninos do mesmo nível tiveram permissão de continuar jogando. “Como dizer a minha filha que é porque ela é uma menina?”, perguntou Lisa.

“É desanimador. Não tem nenhuma lógica”. Quando o coronavírus revirou as vidas no mundo inteiro, as mulheres foram desproporcionalmente afetadas, quer por terem de assumir uma parte enorme de obrigações da casa, cuidar das crianças e dos parentes, ou descobriram que os ganhos conseguidos a duras penas, realizados com o trabalho nos últimos anos estavam quase inteiramente a zero.

Philip Gill joga futebol com as filhasIsla, Lydia e Grace, em Burnley, na Inglaterra. Foto: Mary Turner/The New York Times

No início de novembro, depois que o governo da Grã-Bretanha admitiu com relutância a necessidade de um segundo lockdown de quase todos os serviços essenciais da Inglaterra para impedir que o números de casos da covid-19 escapasse do controle, as restrições – e as exceções às normas – revelaram mais um fosso entre gêneros: nos esportes masculinos e femininos.

Quando o governo britânico concedeu dispensas especiais aos “esportes de elite” para um fechamento de quatro semanas, os seis primeiros níveis do futebol masculino puderam continuar treinando e competindo. Mas somente as duas principais ligas de futebol feminino tiveram a permissão de continuar.

A Federação Inglesa, que administra o esporte na Inglaterra, determinou que a competição da Copa da Inglaterra masculina não pararia, mas adiou a Copa feminina. A divisão de gênero nunca ficou mais nítida do que na decisão a respeito das academias de futebol, que aperfeiçoam a capacidade dos jogadores mais promissores em idade escolar e os preparam para se tornarem profissionais.

O treinamento dos garotos de mais de 80 academias de clubes da Liga de Futebol Inglesa e da Liga da Primeira Divisão puderam permanecer abertas, de acordo com os protocolos de “elite”. Entretnto, a Federação Inglesa decidiu que as academias das garotas em clubes como o Everton – onde Abby Clarke, a filha de Lisa Bloor de 16 anos treina pelo menos quatro vezes por semana como parte da esquadra de desenvolvimento – “não eram elite” e teriam de suspender todas as atividades durante o lockdown.

O organismo regulador posteriormente voltou atrás da decisão, mas admitiu que provavelmente apenas algumas academias femininas – quatro ou cinco no máximo – reabririam por causa da escassez de recursos. Para aderir aos protocolos de “elite”, os clubes precisam realizar avaliações de risco e dispõem de uma variedade de funcionários da equipe médica para supervisionar testes rigorosos – a um custo muito alto quando os orçamentos do futebol feminino são reduzidos e já comprometidos.

“Não podemos argumentar com a ambição de ter justiça e igualdade”, disse Kelly Simmons, diretora do esporte profissional feminino da FA. “A questão é onde está o esporte feminino em termos de recursos e do seu faturamento comercial no momento. O masculino conseguiu investir muitos milhões em academias masculinas e instalações modernas. Do lado das mulheres e das garotas ainda não chegamos lá”.

A meio-caminho do lockdown, depois de duas semanas durante as quais sua filha treinou sozinha, chutando uma bola contra a parede, disse Lisa Bloor, o Everton mudou de opinião e decidiu permitir a volta aos treinos das garotas. Mas ela estava aborrecida porque muitas outras garotas não teriam a mesma sorte.

Outras garotas aficionadas por futebol recorreram às redes sociais para perguntar #ÉPorQueEuSouUmaGarota?”, criticando a desigualdade das regras da FA entre os times masculinos e femininos. E conseguiram um abaixo-assinado com mais de 15 mil assinaturas em poucos dias. Philip Gill, pai de três meninas entre os 22 meses e 12 anos, treinador de um time de futebol de Padiham, no noroeste da Inglaterra, preparou o recurso. Gill disse que a decisão da FA “mostra que se você é uma menina, é menos importante. Eu não quero que as minhas filhas cresçam vendo isto. “Está na hora de dar ao jogo das mulheres as mesmas oportunidades dadas aos homens”, ele disse.

Em um recente estudo sobre o primeiro lockdown, a elite das atletas da Grã-Bretanha contou que suas finanças e preparo físico sofreram um golpe mais duro do que os dos colegas homens.

Isto ocorre em grande parte porque, ao contrário dos homens, elas são pagas somente por partida, e precisam desembolsar dinheiro para pagar os aparelhos para treinar durante o lockdown, enquanto os homens podem tomá-los emprestado dos ginásios dos seus clubes.

“O lockdown definitivamente consolidou a ideia de que o esporte feminino não está no mesmo nível do masculino em termos de oportunidade, acesso e financiamento", disse Ali Bowes, professora de sociologia do esporte na Universidade Nottingham Trent, que chefiou a pesquisa. Não foram apenas as desportistas profissionais que sentiram os efeitos dos fechamentos nos esportes e nos treinos de maneira mais aguda do que os homens.

Uma pesquisa do Sport England sobre o efeito do primeiro lockdown concluiu que as mulheres foram mais afetadas pelas responsabilidades da família, mais ansiosas por deixarem a casa para treinar e mais prejudicadas pela redução das atividades de grupo.

Rini Jones, uma blogueira de corrida, corre no Brockwell Park de Londres. Foto: Mary Turner/The New York Times

“Tudo indica que os fechamentos foram piores para as mulheres”, disse Bowes. Como parte do lockdown, ginásios, piscinas públicas, estúdios de dança, quadras de tênis e outras instalações foram obrigados a fechar as portas. Com estas avenidas fechadas, os defensores dos esportes femininos afirmaram que muitas mulheres se sentiriam dissuadidas a continuar ativas no inverno por causa das preocupações com a segurança nos treinos ao ar livre na escuridão.

O governo então introduziu uma exceção às restrições que permite que uma pessoa não da sua casa acompanhe a esportista nos exercícios externos, desde que elas mantenham uma distância segura, isto foi criticado por não ser prático. Rini Jones, corredora de maratona que compartilha as suas experiências na sua conta no Instagram, ‘abrowngirlruns’, sai sozinha para correr, mas sempre toma diversas precauções, como correr somente em estradas muito iluminadas.

Ela não para de pensar na violência sexual e nos assassinatos de corredoras, principalmente mulheres negras. Ela disse que, em geral, considera os motoristas que passam por ela potenciais testemunhas caso algo aconteça com ela. “Há uma falta indesculpável de entendimento nos mais altos níveis da tomada de decisões de que esta é a realidade das mulheres, e em relação às mulheres negras e marginalizadas, é ainda mais precário”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.