THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Quando a rapper Sexyy Red percebeu que estava grávida pela segunda vez, logo depois que seus singles Pound Town e SkeeYee estouraram nas paradas e dominaram o TikTok, algumas pessoas de sua equipe ficaram hesitantes diante de sua alegria.
Ela disse que algumas pessoas deram apoio. Outras a aconselharam a fazer um aborto, conselho que ela rejeitou. “Nunca vou deixar ninguém me dizer o que fazer com meu corpo”, disse ela durante uma videochamada em dezembro. (Sua filha nasceu em 5 de fevereiro).
Sexyy anunciou a gravidez com uma postagem no Instagram logo depois do lançamento de Rich Baby Daddy, uma colaboração de sucesso com Drake e SZA. Antes de dar à luz, ela costumava se apresentar dançando e cantando com looks que deixavam a barriga de fora – e levava seu filho, Chuckyy, de 3 anos, para a estrada com a ajuda da avó.
As mulheres na música – e particularmente no hip-hop, uma zona de batalha dominada pelos homens – há muito ouvem conselhos para interromper a gravidez, ou pelo menos para se afastar dos holofotes até o nascimento das crianças, pois mostrar a gravidez e a maternidade as faria parecer fracas, pouco atraentes ou sem foco na carreira em um campo altamente competitivo. Sob comando masculino, grupos e gravadoras de rap tradicionalmente apostam em uma MC por vez, gerando pressão para que as mulheres não abram mão de seu momento por nada, nem mesmo para começar uma família.
Da Brat, cujo álbum de estreia Funkdafied (1994) foi o primeiro disco de platina de uma artista de rap solo, disse que sempre enfrentou pressão para ser sexualmente atraente para mulheres e homens, “porque todo mundo tinha que achar que poderia se dar bem com você”.
Na última década, porém, Sexyy Red e outras rappers no topo das paradas de sucesso, como Nicki Minaj e Cardi B, foram encorajadas a abraçar a maternidade de maneiras altamente manifestas e lucrativas.
Cardi B usou apresentações na televisão – no Saturday Night Live em 2018 e durante o BET Awards em 2021 – para revelar suas gravidezes. Desde então, ela fez peças várias publicitárias que giram em torno de seu papel de mãe.
Minaj deu à luz em 2020, durante um intervalo de cinco anos entre álbuns, e ficou fora dos holofotes na infância do filho. Embora tenha compartilhado fotos do menino – carinhosamente conhecido como Papa Bear – em suas contas nas redes sociais e em uma recente sessão de fotos para a capa da Vogue, ela resguardou boa parte de sua privacidade, até mesmo seu nome verdadeiro. Antes do retorno à música e do lançamento de Pink Friday 2 em dezembro, ela disse à Vogue que tinha certeza de que iria sentir que estava perdendo algo da maternidade, por mais ou por menos que trabalhasse. “Bem, se de um jeito ou do outro vou sentir culpa de mãe”, disse ela, “é melhor continuar fazendo a única coisa que sei fazer, que é música”.
Da Brat disse que teve a sorte de ter como mentor o produtor Jermaine Dupri, que nunca tentou mudar sua imagem meio moleque. Embora circulassem rumores sobre sua sexualidade, ela temia se assumir bissexual ainda em 2020, quando começou a namorar Jesseca Dupart, que agora é sua esposa. As duas estrelam o reality show Brat Loves Judy, que documentou a gravidez de Da Brat do filho do casal, True Legend. “Sinto muito por todas as mulheres que sentiram que tiveram que escolher o aborto ou a música porque alguém disse: ‘É filho ou carreira’”, ela disse. “As mulheres têm direito de ter família e também ter carreira, e é assim que sempre deveria ter sido”.
Mulheres famosas estão mais abertas a falar sobre vida pessoal, saúde e dificuldades nas redes sociais e, como resultado, atraíram um público imenso e fiel. Minaj tem 229 milhões de seguidores no Instagram e Cardi B ostenta 169 milhões, em comparação com os 177,5 milhões de seguidores que Drake, J. Cole e Future têm juntos, o que faz com que as mulheres sejam boas para marcas que buscam conexões diretas com o consumidor.
Como as pessoas estão cada vez mais descobrindo marcas por meio de vídeos do TikTok, tutoriais do YouTube e reels do Instagram, as artistas – com seu grande número de seguidores altamente engajados – podem se beneficiar.
“Elas têm mais probabilidade de impulsionar as vendas de qualquer produto”, disse Ebonie Ward, executiva-chefe da empresa de gestão 11th & Co, que tem como clientes os rappers Flo Milli e Future.
Rico Nasty atribuiu o começo da carreira no rap ao nascimento de seu filho, Cameron, em 2015. Ela disse que, quando ele nasceu, ela tinha um emprego horrível no hospital e decidiu seguir sua vocação criativa. Não era justo com seu “bebê feliz” que ela voltasse para casa abatida e mal-humorada. Ela fez de tudo para se manter à tona até seu single Smack a Bitch estourar, em 2018.
“Nosso tempo não é limitado, porque, quando você pensa que seu tempo é limitado, você deixa tudo em estado de espera”, disse Rico. “Mas agora ninguém precisa esperar mais nada”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU
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