CIDADE DO BENIM, Nigéria – A jovem artista analisou fotografias granuladas de delicadas máscaras de marfim da rainha Idia, em busca de inspiração para pintar a lendária rainha guerreira. As máscaras foram feitas há cerca de 500 anos por uma guilda de escultores perto do estúdio no qual a artista, Osaru Obaseki, trabalhava.
Sabe-se da existência de cinco dessas antigas máscaras. Mas Obaseki nunca viu uma. Nenhuma está na África, muito menos na Cidade do Benim, terra natal da artista, localizada no sul da Nigéria. Uma das mais requintadas está em uma vitrine no porão do Museu Britânico em Londres. Outra se encontra na galeria África do Met, o Museu Metropolitano de Arte de Nova York.
Essas e mais de três mil outras obras – e talvez outros milhares – foram roubadas por soldados britânicos que invadiram o país em 1897, e agora são peças preciosas na coleção de alguns dos museus mais importantes dos Estados Unidos e da Europa.
Há anos, artistas, historiadores, ativistas e membros da família real da Nigéria têm requisitado a devolução das peças. E, como a conversa sobre o racismo e o legado do colonialismo proliferou em todo o mundo nos últimos anos, algumas instituições estão começando a responder aos pedidos.
Muitos nigerianos, no entanto, estão indignados porque apenas uma parte desses tesouros está sendo considerada para devolução – e nem sequer os mais apreciados, como as máscaras da rainha Idia.
Para eles, os itens roubados não são apenas objetos físicos de arte, mas narrativas. Fazem parte do alicerce da identidade, da cultura e da história de Benim – a cidade da Nigéria que já fez parte do Reino do Benim, e não da nação moderna do Benim.
"Eles foram feitos para contar histórias, para preservar a memória e para passar adiante todos os contos e memórias de uma geração para outra. As instituições ocidentais transformaram essas peças em objetos de admiração, quando, na verdade, são objetos que contêm informações", disse Enotie Ogbebor, artista da Cidade do Benim e fundador dos Estúdios Nosona, onde Obaseki trabalha.
Alguns dos artefatos – conhecidos como os Bronzes do Benim, embora a maioria seja feita de latão e alguns de madeira e marfim – eram objetos religiosos, usados em santuários. O obá, ou rei, carregava as máscaras, como as da rainha Idia, durante as cerimônias importantes. Cada placa de bronze e latão, algumas das quais estão atualmente expostas em uma parede do Museu Britânico, contava um pedaço da história do reino, e juntas formavam uma narrativa coesa.
Durante anos, os museus resistiram à restituição de tesouros estrangeiros. O Met, o Louvre e 16 outros argumentaram, em 2002, que coleções globais como as deles serviam "ao povo de todas as nações". Na Europa, onde as coleções geralmente pertencem ao estado, os museus costumam dizer que as decisões não dependem deles.
Mas, em abril, a Alemanha informou que devolveria um número "substancial" de peças da coleção Bronzes do Benim no ano que vem. O Museu Nacional da Irlanda também planeja devolver 21 objetos.
O Museu Britânico já sugeriu anteriormente a ideia de empréstimos, mas nunca de uma restituição total. O Met não estava considerando enviar sua máscara da rainha Idia de volta, declarou o porta-voz Kenneth Weine. Nenhuma outra instituição afirmou que devolveria uma das máscaras.
As obras restituídas provavelmente se destinam a um novo museu na Cidade do Benim, a ser chamado de Museu Edo de Arte da África Ocidental. Foi projetado pelo arquiteto David Adjaye e planejado para ser concluído em 2026, se os criadores conseguirem arrecadar cerca de US$ 150 milhões. Um projeto digital reunirá fotografias e histórias orais dos objetos saqueados.
No momento, há pouco para ser visto no local planejado do museu além da terra vermelha, um hospital abandonado e algumas paredes manchadas de umidade. Antes do início da construção, haverá uma grande escavação arqueológica, financiada em parte pelo Museu Britânico, para escavar os restos enterrados da cidade velha.
Por enquanto, o museu que há na Cidade do Benim é um pequeno prédio no centro de um entroncamento movimentado que recebe escasso financiamento do governo e que nem sempre consegue manter as luzes acesas.
Dentro de suas paredes vermelhas há algumas placas solitárias e uma imagem de uma máscara da rainha Idia. Uma parede inteira está ocupada com uma fotografia ampliada de 1897 de soldados britânicos sentados, fumando, rodeados pelos itens saqueados.
No Reino Unido, os eventos de 1897 são conhecidos por muitos como a Expedição Punitiva. De acordo com essa versão da história, oficiais britânicos vieram ao Benim para encontrar o obá, mas foram assassinados. Assim, os britânicos enviaram 1.500 homens, alguns armados com as primeiras metralhadoras, para vingar a morte deles.
Na Nigéria, porém, esse evento é conhecido como o Massacre do Benim, por causa dos muitos moradores locais que os britânicos mataram. Estes procuravam desculpas para atacar o Benim, de acordo com historiadores nigerianos, porque o obá tinha muito poder. E os soldados sabiam que o reino continha riquezas incalculáveis; comentaram isso em cartas enviadas para casa.
Eles levaram a maior parte das riquezas. "Foi o equivalente a levar as obras europeias, da Renascença aos modernistas. Bach, Handel, Shakespeare, Mozart – todos. Foi o que fizeram conosco. Imagine se tudo que a Europa produziu nos últimos 130 anos fosse tirado de lá. Você acha que o continente estaria onde está hoje?", disse Ogbebor, fundador dos Estúdios Nosona. Theophilus Umogbai, curador do museu de Benim, concorda: "É como queimar enormes bibliotecas".
Espera-se que os tesouros sejam devolvidos a um fundo que visa reunir o atual obá – o descendente do rei deposto em 1897 – e os governos regional e nacional, embora algumas divergências internas entre eles precisem ser resolvidas. (Por exemplo, o obá declarou por escrito à mídia que deveria ser o único destinatário dos tesouros e que qualquer pessoa que trabalhe com o fundo é "um inimigo".)
Na última década, o conhecimento do saque das obras de arte do Benim e a indignação que ele suscitou se aprofundaram. Em uma pesquisa de 2010 com moradores da Cidade do Benim, Kokunre Agbontaen-Eghafona, professora de antropologia cultural da Universidade do Benim, descobriu que apenas cerca de metade dos entrevistados sabia que as obras haviam sido roubadas pelos britânicos. Este ano, um estudo piloto para uma repetição planejada da pesquisa mostrou que a conscientização saltou para cerca de 95%. "Eles estão cientes. E, de fato, querem que nossos objetos sejam restituídos", afirmou a professora.
Os tesouros, embora há muito ausentes, ainda estão presentes na vida diária. Um alfaiate da cidade velha mantém uma foto da rainha Idia pregada na parede para inspirar seus designs. Na grande casa de John Osamede Adun, empresário de Cidade do Benim, um santuário está escondido em um corredor, com algumas cabeças reais de bronze, de datação indeterminada. "São nossos ancestrais. Nossos pais, nossos avós. À noite, acordam e conversam. Sei a linguagem que devo usar com eles", disse, acendendo uma luz para revelar dezenas de outros itens de bronze na escada.
Alguns membros da antiga guilda de fundidores de bronze ainda praticam a arte dos ancestrais. Em uma tarde de maio, homens da antiga fundição de Aigbe se prepararam para jogar pedaços de sucata – uma velha antena de rádio, uma pulseira – em um forno que emanava uma fumaça verde, enquanto outro botava fogo em blocos de terra vermelha amarrados com fio.
A família Aigbe tem fundido bronze há tanto tempo que, segundo eles, uma das placas roubadas em 1897 foi feita por um ancestral.
Os jovens artistas que trabalham nos Estúdios Nosona, que fica em um antigo supermercado em ruínas, escureceram as janelas que dão para o antigo museu e, mais adiante, para o palácio do obá. A cidade moderna, com suas buzinas, sua batida afrobeat, seus vendedores ambulantes vendendo cadeado e manga em carrinhos de mão, lembra-lhes o que o Benim poderia ter sido se não fossem os acontecimentos de 1897.
Derek Jombo, o primeiro artista a pintar as janelas, disse que não suporta olhar para fora. "Estou ciente do que esta cidade deveria ser." Obaseki, de 28 anos, deseja poder olhar para as máscaras da rainha Idia de diferentes ângulos e ver as cores exatas. "É bem diferente quando você olha para um objeto real e vê todos os seus lados", comentou a artista, enquanto pegava um punhado de areia queimada que estava usando, proveniente de uma fundição de bronze, e a deixava correr pelos dedos.
The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times