Explorando a Málaga de Pablo Picasso no cinquentenário de sua morte


Entre os melhores lugares para descobrir o célebre artista espanhol do século 20 está a ensolarada cidade à beira-mar onde ele nasceu

Por Andrew Ferren

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Em homenagem ao 50º aniversário da morte de Pablo Picasso que ocorre este ano, museus e outras instituições culturais estão fazendo de tudo, com cerca de 50 exposições e eventos nos Estados Unidos e na Europa. Alguns locais oferecem novas perspectivas sobre a carreira de sete décadas do célebre artista: no Cincinnati Art Museum, a exposição Picasso Landscapes: Out of Bounds concentra-se exclusivamente nas paisagens do artista, enquanto no Musée Picasso, em Paris, o estilista de moda masculina britânico Paul Smith acrescentou listras ousadas e tons saturados nas paredes onde estão expostas algumas das obras-primas mais conhecidas de Picasso.

Mas um dos melhores lugares para descobrir a pré-celebridade de Picasso é sua cidade natal, Málaga, a cidade portuária andaluza na costa mediterrânea do sul da Espanha. É o lugar em que o artista nasceu e, muito antes de se tornar um nome familiar, o local onde seu extraordinário talento artístico se revelou ao seu pai, José Ruiz Blasco, pintor e professor de arte, e ao resto de sua família, bem como ao seu círculo de amigos artistas.

Picasso nasceu na cidade portuária de Málaga em 1881, onde viveu até os 9 anos de idade. Acima, a Calle Larios, a principal rua comercial e de pedestres da cidade. Foto: Emilio Parra Doiztua/The New York Times
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Embora a família tenha se mudado para Corunha, no norte da Espanha, quando Pablo tinha 9 anos, e ele fosse estudar e morar em Madri e Barcelona antes de se estabelecer em Paris em 1904, Picasso sempre se considerou um malaguenho. Muitos dos temas retratados pela primeira vez em sua juventude continuariam a aparecer em sua obra até o fim de sua vida.

“Ele adorava a Espanha e sempre honrou suas raízes andaluzas”, disse seu neto, Bernard Picasso, em entrevista por telefone. “Você pode ver isso nas cores que ele usou, nas imagens das touradas, no Mediterrâneo.”

Picasso visitou a Espanha pela última vez em meados da década de 1930, pouco antes da Guerra Civil Espanhola, que terminou em 1939 com o general Francisco Franco estabelecendo uma ditadura militar que durou quase 40 anos, superando a própria vida de Picasso por mais de um ano. O artista, que abominava o regime repressivo, nunca mais voltou à sua terra natal.

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Se ele aparecesse em Málaga hoje, Picasso ficaria chocado ao encontrar um museu com seu nome - o Museo Picasso Málaga foi inaugurado em 2003 e agora atrai quase 700.000 visitantes por ano. Por outro lado, dada a sua fama de ter um ego enorme, talvez ele não se surpreendesse com o museu, embora provavelmente ficasse encantado ao encontrar sua casa de infância, a praça onde costumava brincar, a igreja onde foi batizado, assim como a academia de arte onde seu pai ensinava - para não mencionar a famosa praça de touros, a catedral e outros marcos da cidade - exatamente como ele os deixou.

A antiga fortaleza conhecida como Alcazaba é emblemática da história e mitologia do Mediterrâneo que Picasso empregaria em sua arte. Foto: Emilio Parra Doiztua/The New York Times

Escolhi começar minha turnê 2023 de imersão em Picasso em Málaga, embora não no Museu Picasso ou mesmo na casa de infância do artista, um museu encantador. Em vez disso, comecei subindo as centenas de degraus que se erguem do teatro romano do século I a.C. em Málaga até Alcazaba, a fortaleza mourisca no topo da colina iniciada no século XI com vista para a cidade e o porto do Monte Gibralfaro. Além das vistas deslumbrantes que oferece de toda a cidade, a fortaleza é emblemática das camadas de história mediterrânea, símbolos e mitologia que Picasso empregaria repetidamente em sua arte.

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Os mouros usaram essencialmente o teatro romano como uma pedreira para construir a Alcazaba, que aparece como uma fortaleza por fora, mas por dentro abriga uma extensa série de salas, pátios, arcadas, plantações exuberantes e inúmeras fontes borbulhantes. Ela ajuda muito a revelar os aspectos idílicos do estilo de vida mediterrâneo e reforça a identidade da cidade como um centro verdadeiramente antigo da civilização mediterrânea, que começou com os fenícios, que estabeleceram o assentamento que batizaram de Malaka no século VII a.C.

Essa herança mediterrânea profundamente superposta é abundante nas muitas auto-referências de Picasso sobre temas clássicos como o Minotauro, Pan e a mitologia idealizada árcade à beira-mar com a qual ele se identificou, e às vezes empregou para retratar sua família, ao longo de sua vida.

Minha próxima parada foi o Museu de Málaga em sua linda nova casa na antiga alfândega da cidade, que, embora não tenha o nome Picasso no título, oferece uma imagem mais completa da história artística da cidade antes que seu filho nativo mais famoso chegasse ao local. O museu, que reabriu em sua nova localização em 2016, oferece uma crônica incrivelmente completa e detalhada de Málaga desde os primeiros dias da antiguidade clássica até o século XX. Há uma exposição e uma explicação particularmente maravilhosas do boom cultural da cidade no século XIX, quando os artistas locais se destacaram em retratos e pinturas históricas, e também retrataram as reuniões sociais e a folia de Málaga. Pinturas de elegantes festas no jardim, festividades ao luar na praia e celebrações estridentes após as touradas oferecem um retrato encantador da efervescente cena social e cultural do fin-de-siècle da cidade.

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“Todo mundo pergunta como esse gênio criativo pode ter saído da sonolenta Málaga”, disse Ana Gonzalez, uma guia que deixou seu emprego no mundo dos museus para fundar uma empresa de turismo, a Arteduca Málaga, que trabalha com vários museus e locais para oferecer uma experiência mais abrangente da cidade, incluindo o lugar de Picasso dentro dela.

O Museu de Málaga fornece uma crônica detalhada de Málaga, desde os primeiros dias da antiguidade clássica até o século XX. Foto: Emilio Parra Doiztua/The New York Times

“A realidade é que Picasso nasceu no lugar certo, na hora certa e no contexto certo. Seu pai era artista e professor de pintura, e muitos de seus amigos eram artistas que souberam incentivar e fomentar o talento do rapaz”, disse ela. “Quando Picasso se mostrou promissor como desenhista, ele recebeu todos os materiais de que precisava.”

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Embora não exatamente entre os novos agitadores da cidade - o pai de Picasso tinha dificuldades financeiras constantes - a família Ruiz Picasso desfrutava de um conforto relativo de classe média, como evidenciado por uma visita à Casa Natal, um pequeno museu na casa onde Pablo nasceu. No andar de baixo, um espaço da exposição concentra-se principalmente em suas gravuras e desenhos, bem como em vários cadernos de esboços do artista. Mas o que realmente se destaca são as citações perspicazes de Picasso - “Eu nunca fiz desenhos infantis. Nunca. Mesmo quando eu era muito pequeno “- e fotos de arquivo cobrindo muitos aspectos da vida de Picasso, desde sua infância em Málaga até fotos espontâneas posteriores de restaurantes e touradas no sul da França, e imagens maravilhosas dele brincando na praia ou boiando no mar com seus filhos pequenos. No andar de cima, móveis de época, heranças de família e mais histórias sobre a vida da família em Málaga.

A casa fica na esquina da Plaza de la Merced, que tinha um mercado ao ar livre na época de Picasso, então teria sido um lugar colorido e animado para crescer. A poucos passos da praça, na Calle Granada, fica a Igreja Paroquial de Santiago Apóstol (São Tiago Apóstolo), onde Picasso foi batizado quando bebê. A igreja do século XVI tem uma fachada relativamente humilde e um interior muito mais ornamentado, com relevos de estuque em forma de arabescos como glacê animando o teto abobadado, e um retábulo de madeira lindamente esculpido sobre o altar pintado em um tom sombrio de verde oliva. A pia batismal muito simples fica perto da parte de trás da igreja e pode passar despercebida se alguém não estiver atento a ela.

A cerca de cem metros da igreja fica a entrada do Museu Picasso Málaga, que apresenta uma visão cronológica e temática da carreira do artista, além de várias exposições especiais a cada ano, algumas dedicadas à charmosa cerâmica que Picasso começou a criar em Vallauris, França, logo após a Segunda Guerra Mundial. Outra galeria normalmente exibe fotografias do artista e de sua vida feitas por muitos dos grandes fotógrafos do século XX com quem ele fez amizade e que tiveram acesso privilegiado a ele e sua família. Inaugurada em 8 de maio, a exposição especial Picasso Sculptor: Matter and Body é surpreendentemente a primeira grande exposição na Espanha a se concentrar nas esculturas do artista.

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Picasso foi batizado na Igreja Paroquial de Santiago Apóstol, do século XVI . Foto: Emilio Parra Doiztua/The New York Times

O prédio que abriga o museu era um belo palácio de pedra de um nobre do século XVI, agora habilmente ampliado pelo arquiteto nova-iorquino Richard Gluckman para combinar perfeitamente com os prédios caiados da cidade. Com dois andares de galerias em torno de um belo pátio de mármore do palácio renascentista, o museu conta a história da carreira de Picasso com cerca de 250 obras - muitas doadas ao museu por Christine Picasso (esposa do filho mais velho de Picasso, Paulo) e seu filho, Bernardo.

O que surpreende muitos visitantes não é apenas a extensão cronológica da carreira do artista (mais de 70 anos), mas a variedade e diversidade de estilos de pintura (muitos dos quais ele inventou) e os materiais aparentemente ilimitados que ele transformou em arte. Existem telhas pintadas; esculturas encantadoras feitas de pedaços de sucata artisticamente dobradas em figuras evocativas; e travessas de cerâmica transformadas em praças de touros, com o público “sentado” à volta da borda elevada do prato e a tourada a ocupar o centro.

Se você for

Dentro da Espanha, Málaga fica a um voo rápido de Barcelona e de Madri; esta última também fica a menos de três horas de distância pela rede ferroviária de alta velocidade da Espanha, AVE. A cerca de 100 metros do Museu Picasso, o Hotel Palacio Solecio oferece acomodações de luxo em um palácio do século XVIII maravilhosamente restaurado; quartos duplos de cerca de 300 euros, ou cerca de $ 326. Mais perto do porto, que se tornou um centro de restaurantes e bares, o elegante Hotel Only You tem quartos duplos a partir de 275 euros. Málaga tem pelo menos duas tabernas que permanecem desde a época de Picasso, mas apesar de ter sido fundado em 1971 - apenas 52 anos atrás - o amplo restaurante, de tapas e bar de vinhos conhecido como El Pimpi é quase tão integrante da autoimagem de Málaga como o artista mais famoso da cidade. Almoço para dois por cerca de 40 euros. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Em homenagem ao 50º aniversário da morte de Pablo Picasso que ocorre este ano, museus e outras instituições culturais estão fazendo de tudo, com cerca de 50 exposições e eventos nos Estados Unidos e na Europa. Alguns locais oferecem novas perspectivas sobre a carreira de sete décadas do célebre artista: no Cincinnati Art Museum, a exposição Picasso Landscapes: Out of Bounds concentra-se exclusivamente nas paisagens do artista, enquanto no Musée Picasso, em Paris, o estilista de moda masculina britânico Paul Smith acrescentou listras ousadas e tons saturados nas paredes onde estão expostas algumas das obras-primas mais conhecidas de Picasso.

Mas um dos melhores lugares para descobrir a pré-celebridade de Picasso é sua cidade natal, Málaga, a cidade portuária andaluza na costa mediterrânea do sul da Espanha. É o lugar em que o artista nasceu e, muito antes de se tornar um nome familiar, o local onde seu extraordinário talento artístico se revelou ao seu pai, José Ruiz Blasco, pintor e professor de arte, e ao resto de sua família, bem como ao seu círculo de amigos artistas.

Picasso nasceu na cidade portuária de Málaga em 1881, onde viveu até os 9 anos de idade. Acima, a Calle Larios, a principal rua comercial e de pedestres da cidade. Foto: Emilio Parra Doiztua/The New York Times

Embora a família tenha se mudado para Corunha, no norte da Espanha, quando Pablo tinha 9 anos, e ele fosse estudar e morar em Madri e Barcelona antes de se estabelecer em Paris em 1904, Picasso sempre se considerou um malaguenho. Muitos dos temas retratados pela primeira vez em sua juventude continuariam a aparecer em sua obra até o fim de sua vida.

“Ele adorava a Espanha e sempre honrou suas raízes andaluzas”, disse seu neto, Bernard Picasso, em entrevista por telefone. “Você pode ver isso nas cores que ele usou, nas imagens das touradas, no Mediterrâneo.”

Picasso visitou a Espanha pela última vez em meados da década de 1930, pouco antes da Guerra Civil Espanhola, que terminou em 1939 com o general Francisco Franco estabelecendo uma ditadura militar que durou quase 40 anos, superando a própria vida de Picasso por mais de um ano. O artista, que abominava o regime repressivo, nunca mais voltou à sua terra natal.

Se ele aparecesse em Málaga hoje, Picasso ficaria chocado ao encontrar um museu com seu nome - o Museo Picasso Málaga foi inaugurado em 2003 e agora atrai quase 700.000 visitantes por ano. Por outro lado, dada a sua fama de ter um ego enorme, talvez ele não se surpreendesse com o museu, embora provavelmente ficasse encantado ao encontrar sua casa de infância, a praça onde costumava brincar, a igreja onde foi batizado, assim como a academia de arte onde seu pai ensinava - para não mencionar a famosa praça de touros, a catedral e outros marcos da cidade - exatamente como ele os deixou.

A antiga fortaleza conhecida como Alcazaba é emblemática da história e mitologia do Mediterrâneo que Picasso empregaria em sua arte. Foto: Emilio Parra Doiztua/The New York Times

Escolhi começar minha turnê 2023 de imersão em Picasso em Málaga, embora não no Museu Picasso ou mesmo na casa de infância do artista, um museu encantador. Em vez disso, comecei subindo as centenas de degraus que se erguem do teatro romano do século I a.C. em Málaga até Alcazaba, a fortaleza mourisca no topo da colina iniciada no século XI com vista para a cidade e o porto do Monte Gibralfaro. Além das vistas deslumbrantes que oferece de toda a cidade, a fortaleza é emblemática das camadas de história mediterrânea, símbolos e mitologia que Picasso empregaria repetidamente em sua arte.

Os mouros usaram essencialmente o teatro romano como uma pedreira para construir a Alcazaba, que aparece como uma fortaleza por fora, mas por dentro abriga uma extensa série de salas, pátios, arcadas, plantações exuberantes e inúmeras fontes borbulhantes. Ela ajuda muito a revelar os aspectos idílicos do estilo de vida mediterrâneo e reforça a identidade da cidade como um centro verdadeiramente antigo da civilização mediterrânea, que começou com os fenícios, que estabeleceram o assentamento que batizaram de Malaka no século VII a.C.

Essa herança mediterrânea profundamente superposta é abundante nas muitas auto-referências de Picasso sobre temas clássicos como o Minotauro, Pan e a mitologia idealizada árcade à beira-mar com a qual ele se identificou, e às vezes empregou para retratar sua família, ao longo de sua vida.

Minha próxima parada foi o Museu de Málaga em sua linda nova casa na antiga alfândega da cidade, que, embora não tenha o nome Picasso no título, oferece uma imagem mais completa da história artística da cidade antes que seu filho nativo mais famoso chegasse ao local. O museu, que reabriu em sua nova localização em 2016, oferece uma crônica incrivelmente completa e detalhada de Málaga desde os primeiros dias da antiguidade clássica até o século XX. Há uma exposição e uma explicação particularmente maravilhosas do boom cultural da cidade no século XIX, quando os artistas locais se destacaram em retratos e pinturas históricas, e também retrataram as reuniões sociais e a folia de Málaga. Pinturas de elegantes festas no jardim, festividades ao luar na praia e celebrações estridentes após as touradas oferecem um retrato encantador da efervescente cena social e cultural do fin-de-siècle da cidade.

“Todo mundo pergunta como esse gênio criativo pode ter saído da sonolenta Málaga”, disse Ana Gonzalez, uma guia que deixou seu emprego no mundo dos museus para fundar uma empresa de turismo, a Arteduca Málaga, que trabalha com vários museus e locais para oferecer uma experiência mais abrangente da cidade, incluindo o lugar de Picasso dentro dela.

O Museu de Málaga fornece uma crônica detalhada de Málaga, desde os primeiros dias da antiguidade clássica até o século XX. Foto: Emilio Parra Doiztua/The New York Times

“A realidade é que Picasso nasceu no lugar certo, na hora certa e no contexto certo. Seu pai era artista e professor de pintura, e muitos de seus amigos eram artistas que souberam incentivar e fomentar o talento do rapaz”, disse ela. “Quando Picasso se mostrou promissor como desenhista, ele recebeu todos os materiais de que precisava.”

Embora não exatamente entre os novos agitadores da cidade - o pai de Picasso tinha dificuldades financeiras constantes - a família Ruiz Picasso desfrutava de um conforto relativo de classe média, como evidenciado por uma visita à Casa Natal, um pequeno museu na casa onde Pablo nasceu. No andar de baixo, um espaço da exposição concentra-se principalmente em suas gravuras e desenhos, bem como em vários cadernos de esboços do artista. Mas o que realmente se destaca são as citações perspicazes de Picasso - “Eu nunca fiz desenhos infantis. Nunca. Mesmo quando eu era muito pequeno “- e fotos de arquivo cobrindo muitos aspectos da vida de Picasso, desde sua infância em Málaga até fotos espontâneas posteriores de restaurantes e touradas no sul da França, e imagens maravilhosas dele brincando na praia ou boiando no mar com seus filhos pequenos. No andar de cima, móveis de época, heranças de família e mais histórias sobre a vida da família em Málaga.

A casa fica na esquina da Plaza de la Merced, que tinha um mercado ao ar livre na época de Picasso, então teria sido um lugar colorido e animado para crescer. A poucos passos da praça, na Calle Granada, fica a Igreja Paroquial de Santiago Apóstol (São Tiago Apóstolo), onde Picasso foi batizado quando bebê. A igreja do século XVI tem uma fachada relativamente humilde e um interior muito mais ornamentado, com relevos de estuque em forma de arabescos como glacê animando o teto abobadado, e um retábulo de madeira lindamente esculpido sobre o altar pintado em um tom sombrio de verde oliva. A pia batismal muito simples fica perto da parte de trás da igreja e pode passar despercebida se alguém não estiver atento a ela.

A cerca de cem metros da igreja fica a entrada do Museu Picasso Málaga, que apresenta uma visão cronológica e temática da carreira do artista, além de várias exposições especiais a cada ano, algumas dedicadas à charmosa cerâmica que Picasso começou a criar em Vallauris, França, logo após a Segunda Guerra Mundial. Outra galeria normalmente exibe fotografias do artista e de sua vida feitas por muitos dos grandes fotógrafos do século XX com quem ele fez amizade e que tiveram acesso privilegiado a ele e sua família. Inaugurada em 8 de maio, a exposição especial Picasso Sculptor: Matter and Body é surpreendentemente a primeira grande exposição na Espanha a se concentrar nas esculturas do artista.

Picasso foi batizado na Igreja Paroquial de Santiago Apóstol, do século XVI . Foto: Emilio Parra Doiztua/The New York Times

O prédio que abriga o museu era um belo palácio de pedra de um nobre do século XVI, agora habilmente ampliado pelo arquiteto nova-iorquino Richard Gluckman para combinar perfeitamente com os prédios caiados da cidade. Com dois andares de galerias em torno de um belo pátio de mármore do palácio renascentista, o museu conta a história da carreira de Picasso com cerca de 250 obras - muitas doadas ao museu por Christine Picasso (esposa do filho mais velho de Picasso, Paulo) e seu filho, Bernardo.

O que surpreende muitos visitantes não é apenas a extensão cronológica da carreira do artista (mais de 70 anos), mas a variedade e diversidade de estilos de pintura (muitos dos quais ele inventou) e os materiais aparentemente ilimitados que ele transformou em arte. Existem telhas pintadas; esculturas encantadoras feitas de pedaços de sucata artisticamente dobradas em figuras evocativas; e travessas de cerâmica transformadas em praças de touros, com o público “sentado” à volta da borda elevada do prato e a tourada a ocupar o centro.

Se você for

Dentro da Espanha, Málaga fica a um voo rápido de Barcelona e de Madri; esta última também fica a menos de três horas de distância pela rede ferroviária de alta velocidade da Espanha, AVE. A cerca de 100 metros do Museu Picasso, o Hotel Palacio Solecio oferece acomodações de luxo em um palácio do século XVIII maravilhosamente restaurado; quartos duplos de cerca de 300 euros, ou cerca de $ 326. Mais perto do porto, que se tornou um centro de restaurantes e bares, o elegante Hotel Only You tem quartos duplos a partir de 275 euros. Málaga tem pelo menos duas tabernas que permanecem desde a época de Picasso, mas apesar de ter sido fundado em 1971 - apenas 52 anos atrás - o amplo restaurante, de tapas e bar de vinhos conhecido como El Pimpi é quase tão integrante da autoimagem de Málaga como o artista mais famoso da cidade. Almoço para dois por cerca de 40 euros. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Em homenagem ao 50º aniversário da morte de Pablo Picasso que ocorre este ano, museus e outras instituições culturais estão fazendo de tudo, com cerca de 50 exposições e eventos nos Estados Unidos e na Europa. Alguns locais oferecem novas perspectivas sobre a carreira de sete décadas do célebre artista: no Cincinnati Art Museum, a exposição Picasso Landscapes: Out of Bounds concentra-se exclusivamente nas paisagens do artista, enquanto no Musée Picasso, em Paris, o estilista de moda masculina britânico Paul Smith acrescentou listras ousadas e tons saturados nas paredes onde estão expostas algumas das obras-primas mais conhecidas de Picasso.

Mas um dos melhores lugares para descobrir a pré-celebridade de Picasso é sua cidade natal, Málaga, a cidade portuária andaluza na costa mediterrânea do sul da Espanha. É o lugar em que o artista nasceu e, muito antes de se tornar um nome familiar, o local onde seu extraordinário talento artístico se revelou ao seu pai, José Ruiz Blasco, pintor e professor de arte, e ao resto de sua família, bem como ao seu círculo de amigos artistas.

Picasso nasceu na cidade portuária de Málaga em 1881, onde viveu até os 9 anos de idade. Acima, a Calle Larios, a principal rua comercial e de pedestres da cidade. Foto: Emilio Parra Doiztua/The New York Times

Embora a família tenha se mudado para Corunha, no norte da Espanha, quando Pablo tinha 9 anos, e ele fosse estudar e morar em Madri e Barcelona antes de se estabelecer em Paris em 1904, Picasso sempre se considerou um malaguenho. Muitos dos temas retratados pela primeira vez em sua juventude continuariam a aparecer em sua obra até o fim de sua vida.

“Ele adorava a Espanha e sempre honrou suas raízes andaluzas”, disse seu neto, Bernard Picasso, em entrevista por telefone. “Você pode ver isso nas cores que ele usou, nas imagens das touradas, no Mediterrâneo.”

Picasso visitou a Espanha pela última vez em meados da década de 1930, pouco antes da Guerra Civil Espanhola, que terminou em 1939 com o general Francisco Franco estabelecendo uma ditadura militar que durou quase 40 anos, superando a própria vida de Picasso por mais de um ano. O artista, que abominava o regime repressivo, nunca mais voltou à sua terra natal.

Se ele aparecesse em Málaga hoje, Picasso ficaria chocado ao encontrar um museu com seu nome - o Museo Picasso Málaga foi inaugurado em 2003 e agora atrai quase 700.000 visitantes por ano. Por outro lado, dada a sua fama de ter um ego enorme, talvez ele não se surpreendesse com o museu, embora provavelmente ficasse encantado ao encontrar sua casa de infância, a praça onde costumava brincar, a igreja onde foi batizado, assim como a academia de arte onde seu pai ensinava - para não mencionar a famosa praça de touros, a catedral e outros marcos da cidade - exatamente como ele os deixou.

A antiga fortaleza conhecida como Alcazaba é emblemática da história e mitologia do Mediterrâneo que Picasso empregaria em sua arte. Foto: Emilio Parra Doiztua/The New York Times

Escolhi começar minha turnê 2023 de imersão em Picasso em Málaga, embora não no Museu Picasso ou mesmo na casa de infância do artista, um museu encantador. Em vez disso, comecei subindo as centenas de degraus que se erguem do teatro romano do século I a.C. em Málaga até Alcazaba, a fortaleza mourisca no topo da colina iniciada no século XI com vista para a cidade e o porto do Monte Gibralfaro. Além das vistas deslumbrantes que oferece de toda a cidade, a fortaleza é emblemática das camadas de história mediterrânea, símbolos e mitologia que Picasso empregaria repetidamente em sua arte.

Os mouros usaram essencialmente o teatro romano como uma pedreira para construir a Alcazaba, que aparece como uma fortaleza por fora, mas por dentro abriga uma extensa série de salas, pátios, arcadas, plantações exuberantes e inúmeras fontes borbulhantes. Ela ajuda muito a revelar os aspectos idílicos do estilo de vida mediterrâneo e reforça a identidade da cidade como um centro verdadeiramente antigo da civilização mediterrânea, que começou com os fenícios, que estabeleceram o assentamento que batizaram de Malaka no século VII a.C.

Essa herança mediterrânea profundamente superposta é abundante nas muitas auto-referências de Picasso sobre temas clássicos como o Minotauro, Pan e a mitologia idealizada árcade à beira-mar com a qual ele se identificou, e às vezes empregou para retratar sua família, ao longo de sua vida.

Minha próxima parada foi o Museu de Málaga em sua linda nova casa na antiga alfândega da cidade, que, embora não tenha o nome Picasso no título, oferece uma imagem mais completa da história artística da cidade antes que seu filho nativo mais famoso chegasse ao local. O museu, que reabriu em sua nova localização em 2016, oferece uma crônica incrivelmente completa e detalhada de Málaga desde os primeiros dias da antiguidade clássica até o século XX. Há uma exposição e uma explicação particularmente maravilhosas do boom cultural da cidade no século XIX, quando os artistas locais se destacaram em retratos e pinturas históricas, e também retrataram as reuniões sociais e a folia de Málaga. Pinturas de elegantes festas no jardim, festividades ao luar na praia e celebrações estridentes após as touradas oferecem um retrato encantador da efervescente cena social e cultural do fin-de-siècle da cidade.

“Todo mundo pergunta como esse gênio criativo pode ter saído da sonolenta Málaga”, disse Ana Gonzalez, uma guia que deixou seu emprego no mundo dos museus para fundar uma empresa de turismo, a Arteduca Málaga, que trabalha com vários museus e locais para oferecer uma experiência mais abrangente da cidade, incluindo o lugar de Picasso dentro dela.

O Museu de Málaga fornece uma crônica detalhada de Málaga, desde os primeiros dias da antiguidade clássica até o século XX. Foto: Emilio Parra Doiztua/The New York Times

“A realidade é que Picasso nasceu no lugar certo, na hora certa e no contexto certo. Seu pai era artista e professor de pintura, e muitos de seus amigos eram artistas que souberam incentivar e fomentar o talento do rapaz”, disse ela. “Quando Picasso se mostrou promissor como desenhista, ele recebeu todos os materiais de que precisava.”

Embora não exatamente entre os novos agitadores da cidade - o pai de Picasso tinha dificuldades financeiras constantes - a família Ruiz Picasso desfrutava de um conforto relativo de classe média, como evidenciado por uma visita à Casa Natal, um pequeno museu na casa onde Pablo nasceu. No andar de baixo, um espaço da exposição concentra-se principalmente em suas gravuras e desenhos, bem como em vários cadernos de esboços do artista. Mas o que realmente se destaca são as citações perspicazes de Picasso - “Eu nunca fiz desenhos infantis. Nunca. Mesmo quando eu era muito pequeno “- e fotos de arquivo cobrindo muitos aspectos da vida de Picasso, desde sua infância em Málaga até fotos espontâneas posteriores de restaurantes e touradas no sul da França, e imagens maravilhosas dele brincando na praia ou boiando no mar com seus filhos pequenos. No andar de cima, móveis de época, heranças de família e mais histórias sobre a vida da família em Málaga.

A casa fica na esquina da Plaza de la Merced, que tinha um mercado ao ar livre na época de Picasso, então teria sido um lugar colorido e animado para crescer. A poucos passos da praça, na Calle Granada, fica a Igreja Paroquial de Santiago Apóstol (São Tiago Apóstolo), onde Picasso foi batizado quando bebê. A igreja do século XVI tem uma fachada relativamente humilde e um interior muito mais ornamentado, com relevos de estuque em forma de arabescos como glacê animando o teto abobadado, e um retábulo de madeira lindamente esculpido sobre o altar pintado em um tom sombrio de verde oliva. A pia batismal muito simples fica perto da parte de trás da igreja e pode passar despercebida se alguém não estiver atento a ela.

A cerca de cem metros da igreja fica a entrada do Museu Picasso Málaga, que apresenta uma visão cronológica e temática da carreira do artista, além de várias exposições especiais a cada ano, algumas dedicadas à charmosa cerâmica que Picasso começou a criar em Vallauris, França, logo após a Segunda Guerra Mundial. Outra galeria normalmente exibe fotografias do artista e de sua vida feitas por muitos dos grandes fotógrafos do século XX com quem ele fez amizade e que tiveram acesso privilegiado a ele e sua família. Inaugurada em 8 de maio, a exposição especial Picasso Sculptor: Matter and Body é surpreendentemente a primeira grande exposição na Espanha a se concentrar nas esculturas do artista.

Picasso foi batizado na Igreja Paroquial de Santiago Apóstol, do século XVI . Foto: Emilio Parra Doiztua/The New York Times

O prédio que abriga o museu era um belo palácio de pedra de um nobre do século XVI, agora habilmente ampliado pelo arquiteto nova-iorquino Richard Gluckman para combinar perfeitamente com os prédios caiados da cidade. Com dois andares de galerias em torno de um belo pátio de mármore do palácio renascentista, o museu conta a história da carreira de Picasso com cerca de 250 obras - muitas doadas ao museu por Christine Picasso (esposa do filho mais velho de Picasso, Paulo) e seu filho, Bernardo.

O que surpreende muitos visitantes não é apenas a extensão cronológica da carreira do artista (mais de 70 anos), mas a variedade e diversidade de estilos de pintura (muitos dos quais ele inventou) e os materiais aparentemente ilimitados que ele transformou em arte. Existem telhas pintadas; esculturas encantadoras feitas de pedaços de sucata artisticamente dobradas em figuras evocativas; e travessas de cerâmica transformadas em praças de touros, com o público “sentado” à volta da borda elevada do prato e a tourada a ocupar o centro.

Se você for

Dentro da Espanha, Málaga fica a um voo rápido de Barcelona e de Madri; esta última também fica a menos de três horas de distância pela rede ferroviária de alta velocidade da Espanha, AVE. A cerca de 100 metros do Museu Picasso, o Hotel Palacio Solecio oferece acomodações de luxo em um palácio do século XVIII maravilhosamente restaurado; quartos duplos de cerca de 300 euros, ou cerca de $ 326. Mais perto do porto, que se tornou um centro de restaurantes e bares, o elegante Hotel Only You tem quartos duplos a partir de 275 euros. Málaga tem pelo menos duas tabernas que permanecem desde a época de Picasso, mas apesar de ter sido fundado em 1971 - apenas 52 anos atrás - o amplo restaurante, de tapas e bar de vinhos conhecido como El Pimpi é quase tão integrante da autoimagem de Málaga como o artista mais famoso da cidade. Almoço para dois por cerca de 40 euros. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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