Festival nos EUA evoca estranha magia do escritor H.P. Lovecraft e lida com racismo do escritor


No evento de Rhode Island, foliões dançaram baladas assassinas e celebraram muitas coisas estranhas

Por Elisabeth Vincentelli

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Há bacon e ovos, e depois há bacon e ovos no Café da Manhã de Oração de Cthulhu. Batizado com o nome da entidade cosmicamente malévola e abundantemente tentacular sonhada por Howard Phillips Lovecraft, o evento, um dos mais populares do NecronomiCon Providence 2022, encheu um vasto salão de hotel às 8h de um domingo recente.

Para os encantados devotos, Cody Goodfellow, aqui um exaltado Hierofante, fez um sermão que começou com menções rosnadas de “máquinas de destruição, pretas e vermelhas”, “grandes martelos de limpeza” e assim por diante.

Participantes do NecronomiCon Providence durante o Eldritch Ball no Biltmore Ballroom.  Foto: Matt Cosby/The New York Times
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Em seguida, o discurso tomou outro rumo.

“Devo me confessar entre aqueles que sempre acreditaram que um clã de liches assexuados vestidos de preto mudaria o mundo para melhor”, disse Goodfellow, que veio do submundo conhecido como San Diego, Califórnia. “Mas as forças malignas da moralidade equivocada se reagruparam a partir da reação que os deteve nos anos 1980, e estão em movimento”.

E assim foi, com deliciosos golpes na cultura incel (da qual, pode-se argumentar, Lovecraft era um proto-membro) e nos plutocratas.

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A conferência, que aconteceu de 18 a 21 de agosto em Providence, Rhode Island, pela primeira vez desde 2019, recebe o nome da cidade natal de Lovecraft e de outra de suas invenções literárias - um grimório tão perigoso que quem o lê encontra finais horríveis. (A convenção bianual ocorre em torno de seu aniversário; ele nasceu em 20 de agosto de 1890.)

O problema é que Lovecraft era um homem profundamente racista e xenófobo. Como lidar com o legado de uma pessoa decididamente desprezível é uma questão de grande relevância política e cultural na atualidade, e o evento abordou a questão sem recuar ou tentar defender o indefensável, mas abrindo sua programação e o leque de pessoas convidadas a participar.

Cordelia Abrams, 49, uma life coach de Boston vestida de tamboril no café da manhã, participa desses eventos há quase uma década. “Isso é estranho, literário e local”, ela disse.

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Embora o evento tenha sido centrado em Lovecraft em sua versão dos anos 1990, ele se ampliou desde um reboot em 2013 sob a égide da organização sem fins lucrativos Lovecraft Arts & Sciences Council e agora tem o subtítulo “o festival internacional de ficção estranha, arte e academia”. O que, é claro, coloca esta questão: o que significa estranho quando faixas do mainstream têm uma visão escorregadia da realidade? Afinal, um grande número de pessoas acredita falsamente que pedófilos satânicos operavam em uma pizzaria.

No painel “Welcome to the New Weird” (Bem-vindo ao Novo Estranho), a editora Ann VanderMeer, uma das convidadas de honra do festival, postulou que “o estranho é uma maneira de se conectar com o mundo ao nosso redor e dar sentido a ele”. A maioria das pessoas que conheci ou ouvi falar no fim de semana concordou que havia um elemento comum de desconforto e inquietação, o que explica os painéis dedicados a artistas simpáticos como Clive Barker, David Cronenberg e J.G. Ballard.

O Dark Adventure Radio Theatre, da HP Lovecraft Historical Society, apresenta 'Purgatory Chasm', um drama de rádio interativo, durante o NecronomiCon Providence.  Foto: Matt Cosby/The New York Times
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O que foi surpreendente foi como muitos dos participantes trabalharam com o problema do próprio Lovecraft para redirecionar os tropos básicos em sua ficção. Eles estão se apropriando de seus temas abrangentes - a impotência da humanidade contra grandes forças desconhecidas - e transformando o estranho em um instrumento de autoexploração, libertação e criatividade.

“O que realmente me trouxe aqui é o fato de que amo horror”, disse Zin E. Rocklyn, uma escritora negra queer de 38 anos da Flórida que participou de três painéis. “Adoro a catarse que traz, a verdade que traz. Uma imaginação incrível surge com um lixo realmente obscuro”, acrescentou, usando uma palavra mais forte para descrever as opiniões de Lovecraft. “É baseado na ignorância e no medo, mas toca em um medo universal. Ser capaz de examinar isso e falar sobre isso e expandir isso é um ótimo exemplo do que você pode fazer com um negócio tão ignorante.”

Além de trabalhos acadêmicos, a convenção ofereceu uma abundância de painéis compartilhando uma sensibilidade sombria: “Not Just Three Acts: Narrative Structure and the Weird” (Não Apenas Três Atos: Estrutura Narrativa e o Estranho), “Out of the Shadows: A History of the Queer Weird” (Fora das Sombras: Uma História do Estranho Queer) e “The Horizon Is Still Way Beyond You: Zora Neale Hurston’s Life and Legacy” (O Horizonte Ainda Está Muito Além de Você: A Vida e O Legado de Zora Neale Hurston). Para a última sessão, os palestrantes de alguma forma conseguiram 75 minutos interessantes sobre as diferenças irreconciliáveis de Hurston e Lovecraft - contrastando, por exemplo, a curiosidade dela sobre outras pessoas com a intolerância dele.

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Entre os painéis que mais abriram os olhos e a mente estava o de body horror, que, para vocês, pessoal da ficção literária, incluiu um lembrete de que o subgênero engloba clássicos como Frankenstein e A Metamorfose. Esse painel se destacou em um momento em que o controle sobre o próprio corpo está sendo muito debatido em questões relacionadas à vida de pessoas trans e ao aborto.

De acordo com Niels Hobbs, o “diretor do arco” da convenção e biólogo marinho da Universidade de Rhode Island (ele participou do painel “Under the Sea: Horrors of the Deep Ocean”/ Embaixo do Mar: Horrores do Oceano Profundo), a edição deste ano atraiu cerca de 200 palestrantes, artistas e autores que realizaram leituras; mais de 100 funcionários voluntários e “ajudantes”; e 1.400 participantes. (Ausente dos procedimentos oficiais estava o eminente especialista em Lovecraft, S.T. Joshi, que mais tarde escreveu em um e-mail que esteve na NecronomiCon, mas “foi discreto”.)

O próprio Lovecraft ficaria surpreso ao ver seu trabalho reunindo uma congregação tão questionadora e acolhedora. Mas para Goodfellow, 53, a conferência é um bom antídoto para o niilismo que assola partes da América.

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“Em vez de torcer pelo apocalipse, estamos torcendo pela sustentabilidade e para que as pessoas aceitem radicalmente umas às outras como são e todos avancem juntos”, ele disse. “É uma maneira maravilhosamente irônica de encontrar positividade na negatividade absoluta.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Há bacon e ovos, e depois há bacon e ovos no Café da Manhã de Oração de Cthulhu. Batizado com o nome da entidade cosmicamente malévola e abundantemente tentacular sonhada por Howard Phillips Lovecraft, o evento, um dos mais populares do NecronomiCon Providence 2022, encheu um vasto salão de hotel às 8h de um domingo recente.

Para os encantados devotos, Cody Goodfellow, aqui um exaltado Hierofante, fez um sermão que começou com menções rosnadas de “máquinas de destruição, pretas e vermelhas”, “grandes martelos de limpeza” e assim por diante.

Participantes do NecronomiCon Providence durante o Eldritch Ball no Biltmore Ballroom.  Foto: Matt Cosby/The New York Times

Em seguida, o discurso tomou outro rumo.

“Devo me confessar entre aqueles que sempre acreditaram que um clã de liches assexuados vestidos de preto mudaria o mundo para melhor”, disse Goodfellow, que veio do submundo conhecido como San Diego, Califórnia. “Mas as forças malignas da moralidade equivocada se reagruparam a partir da reação que os deteve nos anos 1980, e estão em movimento”.

E assim foi, com deliciosos golpes na cultura incel (da qual, pode-se argumentar, Lovecraft era um proto-membro) e nos plutocratas.

A conferência, que aconteceu de 18 a 21 de agosto em Providence, Rhode Island, pela primeira vez desde 2019, recebe o nome da cidade natal de Lovecraft e de outra de suas invenções literárias - um grimório tão perigoso que quem o lê encontra finais horríveis. (A convenção bianual ocorre em torno de seu aniversário; ele nasceu em 20 de agosto de 1890.)

O problema é que Lovecraft era um homem profundamente racista e xenófobo. Como lidar com o legado de uma pessoa decididamente desprezível é uma questão de grande relevância política e cultural na atualidade, e o evento abordou a questão sem recuar ou tentar defender o indefensável, mas abrindo sua programação e o leque de pessoas convidadas a participar.

Cordelia Abrams, 49, uma life coach de Boston vestida de tamboril no café da manhã, participa desses eventos há quase uma década. “Isso é estranho, literário e local”, ela disse.

Embora o evento tenha sido centrado em Lovecraft em sua versão dos anos 1990, ele se ampliou desde um reboot em 2013 sob a égide da organização sem fins lucrativos Lovecraft Arts & Sciences Council e agora tem o subtítulo “o festival internacional de ficção estranha, arte e academia”. O que, é claro, coloca esta questão: o que significa estranho quando faixas do mainstream têm uma visão escorregadia da realidade? Afinal, um grande número de pessoas acredita falsamente que pedófilos satânicos operavam em uma pizzaria.

No painel “Welcome to the New Weird” (Bem-vindo ao Novo Estranho), a editora Ann VanderMeer, uma das convidadas de honra do festival, postulou que “o estranho é uma maneira de se conectar com o mundo ao nosso redor e dar sentido a ele”. A maioria das pessoas que conheci ou ouvi falar no fim de semana concordou que havia um elemento comum de desconforto e inquietação, o que explica os painéis dedicados a artistas simpáticos como Clive Barker, David Cronenberg e J.G. Ballard.

O Dark Adventure Radio Theatre, da HP Lovecraft Historical Society, apresenta 'Purgatory Chasm', um drama de rádio interativo, durante o NecronomiCon Providence.  Foto: Matt Cosby/The New York Times

O que foi surpreendente foi como muitos dos participantes trabalharam com o problema do próprio Lovecraft para redirecionar os tropos básicos em sua ficção. Eles estão se apropriando de seus temas abrangentes - a impotência da humanidade contra grandes forças desconhecidas - e transformando o estranho em um instrumento de autoexploração, libertação e criatividade.

“O que realmente me trouxe aqui é o fato de que amo horror”, disse Zin E. Rocklyn, uma escritora negra queer de 38 anos da Flórida que participou de três painéis. “Adoro a catarse que traz, a verdade que traz. Uma imaginação incrível surge com um lixo realmente obscuro”, acrescentou, usando uma palavra mais forte para descrever as opiniões de Lovecraft. “É baseado na ignorância e no medo, mas toca em um medo universal. Ser capaz de examinar isso e falar sobre isso e expandir isso é um ótimo exemplo do que você pode fazer com um negócio tão ignorante.”

Além de trabalhos acadêmicos, a convenção ofereceu uma abundância de painéis compartilhando uma sensibilidade sombria: “Not Just Three Acts: Narrative Structure and the Weird” (Não Apenas Três Atos: Estrutura Narrativa e o Estranho), “Out of the Shadows: A History of the Queer Weird” (Fora das Sombras: Uma História do Estranho Queer) e “The Horizon Is Still Way Beyond You: Zora Neale Hurston’s Life and Legacy” (O Horizonte Ainda Está Muito Além de Você: A Vida e O Legado de Zora Neale Hurston). Para a última sessão, os palestrantes de alguma forma conseguiram 75 minutos interessantes sobre as diferenças irreconciliáveis de Hurston e Lovecraft - contrastando, por exemplo, a curiosidade dela sobre outras pessoas com a intolerância dele.

Entre os painéis que mais abriram os olhos e a mente estava o de body horror, que, para vocês, pessoal da ficção literária, incluiu um lembrete de que o subgênero engloba clássicos como Frankenstein e A Metamorfose. Esse painel se destacou em um momento em que o controle sobre o próprio corpo está sendo muito debatido em questões relacionadas à vida de pessoas trans e ao aborto.

De acordo com Niels Hobbs, o “diretor do arco” da convenção e biólogo marinho da Universidade de Rhode Island (ele participou do painel “Under the Sea: Horrors of the Deep Ocean”/ Embaixo do Mar: Horrores do Oceano Profundo), a edição deste ano atraiu cerca de 200 palestrantes, artistas e autores que realizaram leituras; mais de 100 funcionários voluntários e “ajudantes”; e 1.400 participantes. (Ausente dos procedimentos oficiais estava o eminente especialista em Lovecraft, S.T. Joshi, que mais tarde escreveu em um e-mail que esteve na NecronomiCon, mas “foi discreto”.)

O próprio Lovecraft ficaria surpreso ao ver seu trabalho reunindo uma congregação tão questionadora e acolhedora. Mas para Goodfellow, 53, a conferência é um bom antídoto para o niilismo que assola partes da América.

“Em vez de torcer pelo apocalipse, estamos torcendo pela sustentabilidade e para que as pessoas aceitem radicalmente umas às outras como são e todos avancem juntos”, ele disse. “É uma maneira maravilhosamente irônica de encontrar positividade na negatividade absoluta.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Há bacon e ovos, e depois há bacon e ovos no Café da Manhã de Oração de Cthulhu. Batizado com o nome da entidade cosmicamente malévola e abundantemente tentacular sonhada por Howard Phillips Lovecraft, o evento, um dos mais populares do NecronomiCon Providence 2022, encheu um vasto salão de hotel às 8h de um domingo recente.

Para os encantados devotos, Cody Goodfellow, aqui um exaltado Hierofante, fez um sermão que começou com menções rosnadas de “máquinas de destruição, pretas e vermelhas”, “grandes martelos de limpeza” e assim por diante.

Participantes do NecronomiCon Providence durante o Eldritch Ball no Biltmore Ballroom.  Foto: Matt Cosby/The New York Times

Em seguida, o discurso tomou outro rumo.

“Devo me confessar entre aqueles que sempre acreditaram que um clã de liches assexuados vestidos de preto mudaria o mundo para melhor”, disse Goodfellow, que veio do submundo conhecido como San Diego, Califórnia. “Mas as forças malignas da moralidade equivocada se reagruparam a partir da reação que os deteve nos anos 1980, e estão em movimento”.

E assim foi, com deliciosos golpes na cultura incel (da qual, pode-se argumentar, Lovecraft era um proto-membro) e nos plutocratas.

A conferência, que aconteceu de 18 a 21 de agosto em Providence, Rhode Island, pela primeira vez desde 2019, recebe o nome da cidade natal de Lovecraft e de outra de suas invenções literárias - um grimório tão perigoso que quem o lê encontra finais horríveis. (A convenção bianual ocorre em torno de seu aniversário; ele nasceu em 20 de agosto de 1890.)

O problema é que Lovecraft era um homem profundamente racista e xenófobo. Como lidar com o legado de uma pessoa decididamente desprezível é uma questão de grande relevância política e cultural na atualidade, e o evento abordou a questão sem recuar ou tentar defender o indefensável, mas abrindo sua programação e o leque de pessoas convidadas a participar.

Cordelia Abrams, 49, uma life coach de Boston vestida de tamboril no café da manhã, participa desses eventos há quase uma década. “Isso é estranho, literário e local”, ela disse.

Embora o evento tenha sido centrado em Lovecraft em sua versão dos anos 1990, ele se ampliou desde um reboot em 2013 sob a égide da organização sem fins lucrativos Lovecraft Arts & Sciences Council e agora tem o subtítulo “o festival internacional de ficção estranha, arte e academia”. O que, é claro, coloca esta questão: o que significa estranho quando faixas do mainstream têm uma visão escorregadia da realidade? Afinal, um grande número de pessoas acredita falsamente que pedófilos satânicos operavam em uma pizzaria.

No painel “Welcome to the New Weird” (Bem-vindo ao Novo Estranho), a editora Ann VanderMeer, uma das convidadas de honra do festival, postulou que “o estranho é uma maneira de se conectar com o mundo ao nosso redor e dar sentido a ele”. A maioria das pessoas que conheci ou ouvi falar no fim de semana concordou que havia um elemento comum de desconforto e inquietação, o que explica os painéis dedicados a artistas simpáticos como Clive Barker, David Cronenberg e J.G. Ballard.

O Dark Adventure Radio Theatre, da HP Lovecraft Historical Society, apresenta 'Purgatory Chasm', um drama de rádio interativo, durante o NecronomiCon Providence.  Foto: Matt Cosby/The New York Times

O que foi surpreendente foi como muitos dos participantes trabalharam com o problema do próprio Lovecraft para redirecionar os tropos básicos em sua ficção. Eles estão se apropriando de seus temas abrangentes - a impotência da humanidade contra grandes forças desconhecidas - e transformando o estranho em um instrumento de autoexploração, libertação e criatividade.

“O que realmente me trouxe aqui é o fato de que amo horror”, disse Zin E. Rocklyn, uma escritora negra queer de 38 anos da Flórida que participou de três painéis. “Adoro a catarse que traz, a verdade que traz. Uma imaginação incrível surge com um lixo realmente obscuro”, acrescentou, usando uma palavra mais forte para descrever as opiniões de Lovecraft. “É baseado na ignorância e no medo, mas toca em um medo universal. Ser capaz de examinar isso e falar sobre isso e expandir isso é um ótimo exemplo do que você pode fazer com um negócio tão ignorante.”

Além de trabalhos acadêmicos, a convenção ofereceu uma abundância de painéis compartilhando uma sensibilidade sombria: “Not Just Three Acts: Narrative Structure and the Weird” (Não Apenas Três Atos: Estrutura Narrativa e o Estranho), “Out of the Shadows: A History of the Queer Weird” (Fora das Sombras: Uma História do Estranho Queer) e “The Horizon Is Still Way Beyond You: Zora Neale Hurston’s Life and Legacy” (O Horizonte Ainda Está Muito Além de Você: A Vida e O Legado de Zora Neale Hurston). Para a última sessão, os palestrantes de alguma forma conseguiram 75 minutos interessantes sobre as diferenças irreconciliáveis de Hurston e Lovecraft - contrastando, por exemplo, a curiosidade dela sobre outras pessoas com a intolerância dele.

Entre os painéis que mais abriram os olhos e a mente estava o de body horror, que, para vocês, pessoal da ficção literária, incluiu um lembrete de que o subgênero engloba clássicos como Frankenstein e A Metamorfose. Esse painel se destacou em um momento em que o controle sobre o próprio corpo está sendo muito debatido em questões relacionadas à vida de pessoas trans e ao aborto.

De acordo com Niels Hobbs, o “diretor do arco” da convenção e biólogo marinho da Universidade de Rhode Island (ele participou do painel “Under the Sea: Horrors of the Deep Ocean”/ Embaixo do Mar: Horrores do Oceano Profundo), a edição deste ano atraiu cerca de 200 palestrantes, artistas e autores que realizaram leituras; mais de 100 funcionários voluntários e “ajudantes”; e 1.400 participantes. (Ausente dos procedimentos oficiais estava o eminente especialista em Lovecraft, S.T. Joshi, que mais tarde escreveu em um e-mail que esteve na NecronomiCon, mas “foi discreto”.)

O próprio Lovecraft ficaria surpreso ao ver seu trabalho reunindo uma congregação tão questionadora e acolhedora. Mas para Goodfellow, 53, a conferência é um bom antídoto para o niilismo que assola partes da América.

“Em vez de torcer pelo apocalipse, estamos torcendo pela sustentabilidade e para que as pessoas aceitem radicalmente umas às outras como são e todos avancem juntos”, ele disse. “É uma maneira maravilhosamente irônica de encontrar positividade na negatividade absoluta.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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