Filmagem de 'Tubarão' foi um drama e agora virou peça de teatro


O set do filme de sucesso foi atormentado por tubarões com problemas e rixas de bêbados - material perfeito para uma noite no teatro

Por Alex Marshall

LONDRES - Quando Ian Shaw tinha cinco anos, fez algo que deixaria qualquer fã de cinema com inveja: visitou o set de filmagem de Tubarão. No local, na ilha de Martha's Vineyard, um assistente puxou um enorme tecido e o jovem Shaw se viu diante da boca gigante do tubarão comedor de gente, que em breve se tornaria um ícone do cinema. "Fiquei apavorado!", relembrou recentemente Shaw, que atualmente tem 51 anos.

Ian Shaw, filho de Robert Show, estrela de 'Tubarão' é co-autor da peça 'The Shark Is Broken', em que interpreta seu pai. Foto: Lauren Fleishman/The New York Times

Shaw estava no set porque seu pai, Robert Shaw, estrelava o filme como Quint, o caçador de tubarões psicótico que, no fim do filme, foi partido em dois com uma mordida. Shaw disse que visitou muitos dos sets do pai, e que a filmagem de Tubarão se parecia com todas as outras. Mas na época ele não sabia que esse trabalho foi um dos mais problemáticos da história do cinema, repleto de dificuldades técnicas e brigas entre os atores.

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Os três tubarões mecânicos da produção quebravam o tempo todo e as gravações sempre atrasavam: Steven Spielberg, o diretor do filme, passou a chamar a equipe de efeitos especiais de "departamento de defeitos especiais". Em certo momento, um barco da produção afundou, jogando duas câmeras ao fundo do mar. (O filme no interior das câmeras sobreviveu.)

O pai de Shaw - que morreu em 1978 - trouxe as próprias dificuldades para a produção. Bebeu muito durante a filmagem e teve conflitos com outro astro, Richard Dreyfuss. Robert Shaw ridicularizava constantemente e tentava humilhar Dreyfuss, fazendo comentários negativos pouco antes de as câmeras começarem a rodar, ou instigando Dreyfuss a fazer bobagens, como subir no mastro de um dos barcos e saltar no mar. Roy Scheider, mais um astro do filme, viu-se no meio das brigas dos dois.

Ian Shaw contou que só ficou sabendo de todo o caos no set de filmagem de Tubarão décadas depois, mas percebeu que havia drama suficiente para uma peça de teatro. Agora, está recebendo muitos elogios da crítica britânica por The Shark Is Broken (O tubarão está quebrado), comédia com três atores em cartaz no Teatro Ambassadors, no West End de Londres, até 15 de janeiro. No espetáculo, Shaw interpreta seu pai, preso em um barco com Dreyfuss (Liam Murray Scott) e Scheider (Demetri Goritsas), enquanto as tensões aumentam e diminuem.

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Shaw conversou recentemente sobre a dificuldade de representar o lado mais obscuro de seu pai nos palcos e sobre o potencial criativo do conflito. A seguir, trechos editados dessa conversa.

Na peça, seu pai obviamente não gosta de Tubarão. Ele chegou a levá-lo para assistir ao filme?

Vi o filme quando era bem novo, em alguma sala de exibição. Fiquei com tanto medo que não queria nem entrar na piscina depois. Eu me lembro de ter pesadelos, de imaginar tubarões em volta da minha cama e de chamar meu pai para me salvar. Embora eu soubesse que ele foi devorado no filme, fui capaz de suspender minha descrença em relação a isso.

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O que o levou à ideia de transformar os problemas do filme em uma peça de teatro?

Certa vez, tive de deixar o bigode crescer para um papel e, quando me olhei no espelho, pensei: 'Estou a cara do Quint.' Foi então que tudo começou, mas a ideia parecia meio boba, porque eu tinha passado toda a minha carreira evitando ser associado com meu pai.

Quando li The Jaws Log (O diário do tubarão, em tradução livre), de Carl Gottlieb, e vi documentários sobre o filme, percebi que havia uma relação muito interessante entre Robert, Richard e Roy - esse triângulo que cria um ótimo drama. Além disso, como só precisávamos de três pessoas, a produção não seria cara.

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Brinquei com a ideia durante anos, porque achava que o resultado poderia ser vergonhoso - e desrespeitoso em relação ao meu pai e ao filme Tubarão, que adoro. Sem falar em me colocar no lugar do meu pai e interpretá-lo como um alcoólatra - será que eu tinha o direito de fazer isso publicamente?

Cena de 'The Shark Is Broken', com Ian Shaw comoRobert Shaw (esq), Demetri Goritsas como Roy Scheider (centro) e Liam Murray Scott como Richard Dreyfuss. Foto: Helen Maybanks via The New York Times

Você sabia que ele era alcoólatra na época? Ele morreu poucos anos depois de filmar "Tubarão", quando você ainda era muito jovem.

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Eu costumava vê-lo bebendo. Muitas vezes eu ficava brincando embaixo da mesa, nos pubs irlandeses, quando ele saía para beber. Mas isso não parecia ser um problema na época. Para mim, parecia normal.

Acho que aquela geração, especialmente os atores provenientes da classe trabalhadora, como Richard Burton, sentia certo desconforto com a profissão no que se referia a vestir roupas justas e passar maquiagem. Assim, a forma que encontravam para demonstrar sua masculinidade era beber muito, uma espécie de método viking para mostrar quem eram.

Como você superou o medo de desrespeitá-lo?

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Quando comecei a escrever a peça com Joseph Nixon, percebemos rapidamente que não se tratava só de Tubarão. O pai de Joe morreu de uma maneira muito triste, e a peça acabou se concentrando na relação entre pais e filhos, além de falar de vício e de cinema. Esses outros temas ampliaram o alcance da peça.

No espetáculo, você mostra seu pai em constante conflito com Dreyfuss e dá a impressão de que ele fazia isso para se divertir. Por que você acha que ele se comportava dessa maneira?

Ele realmente não queria fazer Tubarão, porque na época havia sido convidado para fazer o remake de Desencanto, ou estava na disputa pela vaga. Ele preferia ter feito isso, para se livrar da imagem de machão. E se sentiu na obrigação de fazer Tubarão para sustentar a família.

Mas o tubarão não funcionava, de modo que o elenco tinha de ficar esperando. E ele gostava de beber. Dreyfuss realmente o deixava maluco, por isso meu pai achou que ele precisava acordar para a vida. Desafiou Dreyfuss a saltar do alto do mastro do navio e acho que jogou água na cara dele com uma mangueira de bombeiro. Existem muitas histórias, e várias são verdadeiras.

Na peça, seu pai diz que está cutucando Dreyfuss para melhorar o filme. Os personagens não gostavam um do outro. Você acha que ele só estava tentando criar essa tensão no ambiente?

Pessoalmente, acho que foram as duas coisas, porque ele estava irritado com Richard, mas também acredito que ele queria criar uma boa dinâmica de trabalho entre os dois. As atuações no filme são excepcionais, portanto é provável que isso tenha ajudado.

Levando em conta todos os problemas de Tubarão, você também teve problemas durante a produção de The Shark Is Broken?

Não que eu me lembre. Quando comecei a colocar as primeiras ideias no papel, acordava às três da manhã todo suado, pensando que era uma péssima ideia, porque eu tinha medo de ofender minha família. Mas, no que se refere ao processo de escrita, foi muito prazeroso.

Você acha que Tubarão teria sido um filme melhor sem todos os problemas?

Não, porque os problemas fizeram com que todos passassem mais tempo juntos e desenvolvessem o filme, lhes permitiram improvisar. "Você vai precisar de um barco maior" foi uma fala improvisada por Steven Spielberg. Além disso, os atrasos permitiram que meu pai reescrevesse o discurso sobre a tragédia do navio USS Indianapolis, que foi um momento muito importante. Todas essas coisas foram desenvolvidas enquanto eles esperavam.

Quer dizer que o desastre é uma boa receita para o sucesso criativo?

Bom, pode ser.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

LONDRES - Quando Ian Shaw tinha cinco anos, fez algo que deixaria qualquer fã de cinema com inveja: visitou o set de filmagem de Tubarão. No local, na ilha de Martha's Vineyard, um assistente puxou um enorme tecido e o jovem Shaw se viu diante da boca gigante do tubarão comedor de gente, que em breve se tornaria um ícone do cinema. "Fiquei apavorado!", relembrou recentemente Shaw, que atualmente tem 51 anos.

Ian Shaw, filho de Robert Show, estrela de 'Tubarão' é co-autor da peça 'The Shark Is Broken', em que interpreta seu pai. Foto: Lauren Fleishman/The New York Times

Shaw estava no set porque seu pai, Robert Shaw, estrelava o filme como Quint, o caçador de tubarões psicótico que, no fim do filme, foi partido em dois com uma mordida. Shaw disse que visitou muitos dos sets do pai, e que a filmagem de Tubarão se parecia com todas as outras. Mas na época ele não sabia que esse trabalho foi um dos mais problemáticos da história do cinema, repleto de dificuldades técnicas e brigas entre os atores.

Os três tubarões mecânicos da produção quebravam o tempo todo e as gravações sempre atrasavam: Steven Spielberg, o diretor do filme, passou a chamar a equipe de efeitos especiais de "departamento de defeitos especiais". Em certo momento, um barco da produção afundou, jogando duas câmeras ao fundo do mar. (O filme no interior das câmeras sobreviveu.)

O pai de Shaw - que morreu em 1978 - trouxe as próprias dificuldades para a produção. Bebeu muito durante a filmagem e teve conflitos com outro astro, Richard Dreyfuss. Robert Shaw ridicularizava constantemente e tentava humilhar Dreyfuss, fazendo comentários negativos pouco antes de as câmeras começarem a rodar, ou instigando Dreyfuss a fazer bobagens, como subir no mastro de um dos barcos e saltar no mar. Roy Scheider, mais um astro do filme, viu-se no meio das brigas dos dois.

Ian Shaw contou que só ficou sabendo de todo o caos no set de filmagem de Tubarão décadas depois, mas percebeu que havia drama suficiente para uma peça de teatro. Agora, está recebendo muitos elogios da crítica britânica por The Shark Is Broken (O tubarão está quebrado), comédia com três atores em cartaz no Teatro Ambassadors, no West End de Londres, até 15 de janeiro. No espetáculo, Shaw interpreta seu pai, preso em um barco com Dreyfuss (Liam Murray Scott) e Scheider (Demetri Goritsas), enquanto as tensões aumentam e diminuem.

Shaw conversou recentemente sobre a dificuldade de representar o lado mais obscuro de seu pai nos palcos e sobre o potencial criativo do conflito. A seguir, trechos editados dessa conversa.

Na peça, seu pai obviamente não gosta de Tubarão. Ele chegou a levá-lo para assistir ao filme?

Vi o filme quando era bem novo, em alguma sala de exibição. Fiquei com tanto medo que não queria nem entrar na piscina depois. Eu me lembro de ter pesadelos, de imaginar tubarões em volta da minha cama e de chamar meu pai para me salvar. Embora eu soubesse que ele foi devorado no filme, fui capaz de suspender minha descrença em relação a isso.

O que o levou à ideia de transformar os problemas do filme em uma peça de teatro?

Certa vez, tive de deixar o bigode crescer para um papel e, quando me olhei no espelho, pensei: 'Estou a cara do Quint.' Foi então que tudo começou, mas a ideia parecia meio boba, porque eu tinha passado toda a minha carreira evitando ser associado com meu pai.

Quando li The Jaws Log (O diário do tubarão, em tradução livre), de Carl Gottlieb, e vi documentários sobre o filme, percebi que havia uma relação muito interessante entre Robert, Richard e Roy - esse triângulo que cria um ótimo drama. Além disso, como só precisávamos de três pessoas, a produção não seria cara.

Brinquei com a ideia durante anos, porque achava que o resultado poderia ser vergonhoso - e desrespeitoso em relação ao meu pai e ao filme Tubarão, que adoro. Sem falar em me colocar no lugar do meu pai e interpretá-lo como um alcoólatra - será que eu tinha o direito de fazer isso publicamente?

Cena de 'The Shark Is Broken', com Ian Shaw comoRobert Shaw (esq), Demetri Goritsas como Roy Scheider (centro) e Liam Murray Scott como Richard Dreyfuss. Foto: Helen Maybanks via The New York Times

Você sabia que ele era alcoólatra na época? Ele morreu poucos anos depois de filmar "Tubarão", quando você ainda era muito jovem.

Eu costumava vê-lo bebendo. Muitas vezes eu ficava brincando embaixo da mesa, nos pubs irlandeses, quando ele saía para beber. Mas isso não parecia ser um problema na época. Para mim, parecia normal.

Acho que aquela geração, especialmente os atores provenientes da classe trabalhadora, como Richard Burton, sentia certo desconforto com a profissão no que se referia a vestir roupas justas e passar maquiagem. Assim, a forma que encontravam para demonstrar sua masculinidade era beber muito, uma espécie de método viking para mostrar quem eram.

Como você superou o medo de desrespeitá-lo?

Quando comecei a escrever a peça com Joseph Nixon, percebemos rapidamente que não se tratava só de Tubarão. O pai de Joe morreu de uma maneira muito triste, e a peça acabou se concentrando na relação entre pais e filhos, além de falar de vício e de cinema. Esses outros temas ampliaram o alcance da peça.

No espetáculo, você mostra seu pai em constante conflito com Dreyfuss e dá a impressão de que ele fazia isso para se divertir. Por que você acha que ele se comportava dessa maneira?

Ele realmente não queria fazer Tubarão, porque na época havia sido convidado para fazer o remake de Desencanto, ou estava na disputa pela vaga. Ele preferia ter feito isso, para se livrar da imagem de machão. E se sentiu na obrigação de fazer Tubarão para sustentar a família.

Mas o tubarão não funcionava, de modo que o elenco tinha de ficar esperando. E ele gostava de beber. Dreyfuss realmente o deixava maluco, por isso meu pai achou que ele precisava acordar para a vida. Desafiou Dreyfuss a saltar do alto do mastro do navio e acho que jogou água na cara dele com uma mangueira de bombeiro. Existem muitas histórias, e várias são verdadeiras.

Na peça, seu pai diz que está cutucando Dreyfuss para melhorar o filme. Os personagens não gostavam um do outro. Você acha que ele só estava tentando criar essa tensão no ambiente?

Pessoalmente, acho que foram as duas coisas, porque ele estava irritado com Richard, mas também acredito que ele queria criar uma boa dinâmica de trabalho entre os dois. As atuações no filme são excepcionais, portanto é provável que isso tenha ajudado.

Levando em conta todos os problemas de Tubarão, você também teve problemas durante a produção de The Shark Is Broken?

Não que eu me lembre. Quando comecei a colocar as primeiras ideias no papel, acordava às três da manhã todo suado, pensando que era uma péssima ideia, porque eu tinha medo de ofender minha família. Mas, no que se refere ao processo de escrita, foi muito prazeroso.

Você acha que Tubarão teria sido um filme melhor sem todos os problemas?

Não, porque os problemas fizeram com que todos passassem mais tempo juntos e desenvolvessem o filme, lhes permitiram improvisar. "Você vai precisar de um barco maior" foi uma fala improvisada por Steven Spielberg. Além disso, os atrasos permitiram que meu pai reescrevesse o discurso sobre a tragédia do navio USS Indianapolis, que foi um momento muito importante. Todas essas coisas foram desenvolvidas enquanto eles esperavam.

Quer dizer que o desastre é uma boa receita para o sucesso criativo?

Bom, pode ser.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

LONDRES - Quando Ian Shaw tinha cinco anos, fez algo que deixaria qualquer fã de cinema com inveja: visitou o set de filmagem de Tubarão. No local, na ilha de Martha's Vineyard, um assistente puxou um enorme tecido e o jovem Shaw se viu diante da boca gigante do tubarão comedor de gente, que em breve se tornaria um ícone do cinema. "Fiquei apavorado!", relembrou recentemente Shaw, que atualmente tem 51 anos.

Ian Shaw, filho de Robert Show, estrela de 'Tubarão' é co-autor da peça 'The Shark Is Broken', em que interpreta seu pai. Foto: Lauren Fleishman/The New York Times

Shaw estava no set porque seu pai, Robert Shaw, estrelava o filme como Quint, o caçador de tubarões psicótico que, no fim do filme, foi partido em dois com uma mordida. Shaw disse que visitou muitos dos sets do pai, e que a filmagem de Tubarão se parecia com todas as outras. Mas na época ele não sabia que esse trabalho foi um dos mais problemáticos da história do cinema, repleto de dificuldades técnicas e brigas entre os atores.

Os três tubarões mecânicos da produção quebravam o tempo todo e as gravações sempre atrasavam: Steven Spielberg, o diretor do filme, passou a chamar a equipe de efeitos especiais de "departamento de defeitos especiais". Em certo momento, um barco da produção afundou, jogando duas câmeras ao fundo do mar. (O filme no interior das câmeras sobreviveu.)

O pai de Shaw - que morreu em 1978 - trouxe as próprias dificuldades para a produção. Bebeu muito durante a filmagem e teve conflitos com outro astro, Richard Dreyfuss. Robert Shaw ridicularizava constantemente e tentava humilhar Dreyfuss, fazendo comentários negativos pouco antes de as câmeras começarem a rodar, ou instigando Dreyfuss a fazer bobagens, como subir no mastro de um dos barcos e saltar no mar. Roy Scheider, mais um astro do filme, viu-se no meio das brigas dos dois.

Ian Shaw contou que só ficou sabendo de todo o caos no set de filmagem de Tubarão décadas depois, mas percebeu que havia drama suficiente para uma peça de teatro. Agora, está recebendo muitos elogios da crítica britânica por The Shark Is Broken (O tubarão está quebrado), comédia com três atores em cartaz no Teatro Ambassadors, no West End de Londres, até 15 de janeiro. No espetáculo, Shaw interpreta seu pai, preso em um barco com Dreyfuss (Liam Murray Scott) e Scheider (Demetri Goritsas), enquanto as tensões aumentam e diminuem.

Shaw conversou recentemente sobre a dificuldade de representar o lado mais obscuro de seu pai nos palcos e sobre o potencial criativo do conflito. A seguir, trechos editados dessa conversa.

Na peça, seu pai obviamente não gosta de Tubarão. Ele chegou a levá-lo para assistir ao filme?

Vi o filme quando era bem novo, em alguma sala de exibição. Fiquei com tanto medo que não queria nem entrar na piscina depois. Eu me lembro de ter pesadelos, de imaginar tubarões em volta da minha cama e de chamar meu pai para me salvar. Embora eu soubesse que ele foi devorado no filme, fui capaz de suspender minha descrença em relação a isso.

O que o levou à ideia de transformar os problemas do filme em uma peça de teatro?

Certa vez, tive de deixar o bigode crescer para um papel e, quando me olhei no espelho, pensei: 'Estou a cara do Quint.' Foi então que tudo começou, mas a ideia parecia meio boba, porque eu tinha passado toda a minha carreira evitando ser associado com meu pai.

Quando li The Jaws Log (O diário do tubarão, em tradução livre), de Carl Gottlieb, e vi documentários sobre o filme, percebi que havia uma relação muito interessante entre Robert, Richard e Roy - esse triângulo que cria um ótimo drama. Além disso, como só precisávamos de três pessoas, a produção não seria cara.

Brinquei com a ideia durante anos, porque achava que o resultado poderia ser vergonhoso - e desrespeitoso em relação ao meu pai e ao filme Tubarão, que adoro. Sem falar em me colocar no lugar do meu pai e interpretá-lo como um alcoólatra - será que eu tinha o direito de fazer isso publicamente?

Cena de 'The Shark Is Broken', com Ian Shaw comoRobert Shaw (esq), Demetri Goritsas como Roy Scheider (centro) e Liam Murray Scott como Richard Dreyfuss. Foto: Helen Maybanks via The New York Times

Você sabia que ele era alcoólatra na época? Ele morreu poucos anos depois de filmar "Tubarão", quando você ainda era muito jovem.

Eu costumava vê-lo bebendo. Muitas vezes eu ficava brincando embaixo da mesa, nos pubs irlandeses, quando ele saía para beber. Mas isso não parecia ser um problema na época. Para mim, parecia normal.

Acho que aquela geração, especialmente os atores provenientes da classe trabalhadora, como Richard Burton, sentia certo desconforto com a profissão no que se referia a vestir roupas justas e passar maquiagem. Assim, a forma que encontravam para demonstrar sua masculinidade era beber muito, uma espécie de método viking para mostrar quem eram.

Como você superou o medo de desrespeitá-lo?

Quando comecei a escrever a peça com Joseph Nixon, percebemos rapidamente que não se tratava só de Tubarão. O pai de Joe morreu de uma maneira muito triste, e a peça acabou se concentrando na relação entre pais e filhos, além de falar de vício e de cinema. Esses outros temas ampliaram o alcance da peça.

No espetáculo, você mostra seu pai em constante conflito com Dreyfuss e dá a impressão de que ele fazia isso para se divertir. Por que você acha que ele se comportava dessa maneira?

Ele realmente não queria fazer Tubarão, porque na época havia sido convidado para fazer o remake de Desencanto, ou estava na disputa pela vaga. Ele preferia ter feito isso, para se livrar da imagem de machão. E se sentiu na obrigação de fazer Tubarão para sustentar a família.

Mas o tubarão não funcionava, de modo que o elenco tinha de ficar esperando. E ele gostava de beber. Dreyfuss realmente o deixava maluco, por isso meu pai achou que ele precisava acordar para a vida. Desafiou Dreyfuss a saltar do alto do mastro do navio e acho que jogou água na cara dele com uma mangueira de bombeiro. Existem muitas histórias, e várias são verdadeiras.

Na peça, seu pai diz que está cutucando Dreyfuss para melhorar o filme. Os personagens não gostavam um do outro. Você acha que ele só estava tentando criar essa tensão no ambiente?

Pessoalmente, acho que foram as duas coisas, porque ele estava irritado com Richard, mas também acredito que ele queria criar uma boa dinâmica de trabalho entre os dois. As atuações no filme são excepcionais, portanto é provável que isso tenha ajudado.

Levando em conta todos os problemas de Tubarão, você também teve problemas durante a produção de The Shark Is Broken?

Não que eu me lembre. Quando comecei a colocar as primeiras ideias no papel, acordava às três da manhã todo suado, pensando que era uma péssima ideia, porque eu tinha medo de ofender minha família. Mas, no que se refere ao processo de escrita, foi muito prazeroso.

Você acha que Tubarão teria sido um filme melhor sem todos os problemas?

Não, porque os problemas fizeram com que todos passassem mais tempo juntos e desenvolvessem o filme, lhes permitiram improvisar. "Você vai precisar de um barco maior" foi uma fala improvisada por Steven Spielberg. Além disso, os atrasos permitiram que meu pai reescrevesse o discurso sobre a tragédia do navio USS Indianapolis, que foi um momento muito importante. Todas essas coisas foram desenvolvidas enquanto eles esperavam.

Quer dizer que o desastre é uma boa receita para o sucesso criativo?

Bom, pode ser.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

LONDRES - Quando Ian Shaw tinha cinco anos, fez algo que deixaria qualquer fã de cinema com inveja: visitou o set de filmagem de Tubarão. No local, na ilha de Martha's Vineyard, um assistente puxou um enorme tecido e o jovem Shaw se viu diante da boca gigante do tubarão comedor de gente, que em breve se tornaria um ícone do cinema. "Fiquei apavorado!", relembrou recentemente Shaw, que atualmente tem 51 anos.

Ian Shaw, filho de Robert Show, estrela de 'Tubarão' é co-autor da peça 'The Shark Is Broken', em que interpreta seu pai. Foto: Lauren Fleishman/The New York Times

Shaw estava no set porque seu pai, Robert Shaw, estrelava o filme como Quint, o caçador de tubarões psicótico que, no fim do filme, foi partido em dois com uma mordida. Shaw disse que visitou muitos dos sets do pai, e que a filmagem de Tubarão se parecia com todas as outras. Mas na época ele não sabia que esse trabalho foi um dos mais problemáticos da história do cinema, repleto de dificuldades técnicas e brigas entre os atores.

Os três tubarões mecânicos da produção quebravam o tempo todo e as gravações sempre atrasavam: Steven Spielberg, o diretor do filme, passou a chamar a equipe de efeitos especiais de "departamento de defeitos especiais". Em certo momento, um barco da produção afundou, jogando duas câmeras ao fundo do mar. (O filme no interior das câmeras sobreviveu.)

O pai de Shaw - que morreu em 1978 - trouxe as próprias dificuldades para a produção. Bebeu muito durante a filmagem e teve conflitos com outro astro, Richard Dreyfuss. Robert Shaw ridicularizava constantemente e tentava humilhar Dreyfuss, fazendo comentários negativos pouco antes de as câmeras começarem a rodar, ou instigando Dreyfuss a fazer bobagens, como subir no mastro de um dos barcos e saltar no mar. Roy Scheider, mais um astro do filme, viu-se no meio das brigas dos dois.

Ian Shaw contou que só ficou sabendo de todo o caos no set de filmagem de Tubarão décadas depois, mas percebeu que havia drama suficiente para uma peça de teatro. Agora, está recebendo muitos elogios da crítica britânica por The Shark Is Broken (O tubarão está quebrado), comédia com três atores em cartaz no Teatro Ambassadors, no West End de Londres, até 15 de janeiro. No espetáculo, Shaw interpreta seu pai, preso em um barco com Dreyfuss (Liam Murray Scott) e Scheider (Demetri Goritsas), enquanto as tensões aumentam e diminuem.

Shaw conversou recentemente sobre a dificuldade de representar o lado mais obscuro de seu pai nos palcos e sobre o potencial criativo do conflito. A seguir, trechos editados dessa conversa.

Na peça, seu pai obviamente não gosta de Tubarão. Ele chegou a levá-lo para assistir ao filme?

Vi o filme quando era bem novo, em alguma sala de exibição. Fiquei com tanto medo que não queria nem entrar na piscina depois. Eu me lembro de ter pesadelos, de imaginar tubarões em volta da minha cama e de chamar meu pai para me salvar. Embora eu soubesse que ele foi devorado no filme, fui capaz de suspender minha descrença em relação a isso.

O que o levou à ideia de transformar os problemas do filme em uma peça de teatro?

Certa vez, tive de deixar o bigode crescer para um papel e, quando me olhei no espelho, pensei: 'Estou a cara do Quint.' Foi então que tudo começou, mas a ideia parecia meio boba, porque eu tinha passado toda a minha carreira evitando ser associado com meu pai.

Quando li The Jaws Log (O diário do tubarão, em tradução livre), de Carl Gottlieb, e vi documentários sobre o filme, percebi que havia uma relação muito interessante entre Robert, Richard e Roy - esse triângulo que cria um ótimo drama. Além disso, como só precisávamos de três pessoas, a produção não seria cara.

Brinquei com a ideia durante anos, porque achava que o resultado poderia ser vergonhoso - e desrespeitoso em relação ao meu pai e ao filme Tubarão, que adoro. Sem falar em me colocar no lugar do meu pai e interpretá-lo como um alcoólatra - será que eu tinha o direito de fazer isso publicamente?

Cena de 'The Shark Is Broken', com Ian Shaw comoRobert Shaw (esq), Demetri Goritsas como Roy Scheider (centro) e Liam Murray Scott como Richard Dreyfuss. Foto: Helen Maybanks via The New York Times

Você sabia que ele era alcoólatra na época? Ele morreu poucos anos depois de filmar "Tubarão", quando você ainda era muito jovem.

Eu costumava vê-lo bebendo. Muitas vezes eu ficava brincando embaixo da mesa, nos pubs irlandeses, quando ele saía para beber. Mas isso não parecia ser um problema na época. Para mim, parecia normal.

Acho que aquela geração, especialmente os atores provenientes da classe trabalhadora, como Richard Burton, sentia certo desconforto com a profissão no que se referia a vestir roupas justas e passar maquiagem. Assim, a forma que encontravam para demonstrar sua masculinidade era beber muito, uma espécie de método viking para mostrar quem eram.

Como você superou o medo de desrespeitá-lo?

Quando comecei a escrever a peça com Joseph Nixon, percebemos rapidamente que não se tratava só de Tubarão. O pai de Joe morreu de uma maneira muito triste, e a peça acabou se concentrando na relação entre pais e filhos, além de falar de vício e de cinema. Esses outros temas ampliaram o alcance da peça.

No espetáculo, você mostra seu pai em constante conflito com Dreyfuss e dá a impressão de que ele fazia isso para se divertir. Por que você acha que ele se comportava dessa maneira?

Ele realmente não queria fazer Tubarão, porque na época havia sido convidado para fazer o remake de Desencanto, ou estava na disputa pela vaga. Ele preferia ter feito isso, para se livrar da imagem de machão. E se sentiu na obrigação de fazer Tubarão para sustentar a família.

Mas o tubarão não funcionava, de modo que o elenco tinha de ficar esperando. E ele gostava de beber. Dreyfuss realmente o deixava maluco, por isso meu pai achou que ele precisava acordar para a vida. Desafiou Dreyfuss a saltar do alto do mastro do navio e acho que jogou água na cara dele com uma mangueira de bombeiro. Existem muitas histórias, e várias são verdadeiras.

Na peça, seu pai diz que está cutucando Dreyfuss para melhorar o filme. Os personagens não gostavam um do outro. Você acha que ele só estava tentando criar essa tensão no ambiente?

Pessoalmente, acho que foram as duas coisas, porque ele estava irritado com Richard, mas também acredito que ele queria criar uma boa dinâmica de trabalho entre os dois. As atuações no filme são excepcionais, portanto é provável que isso tenha ajudado.

Levando em conta todos os problemas de Tubarão, você também teve problemas durante a produção de The Shark Is Broken?

Não que eu me lembre. Quando comecei a colocar as primeiras ideias no papel, acordava às três da manhã todo suado, pensando que era uma péssima ideia, porque eu tinha medo de ofender minha família. Mas, no que se refere ao processo de escrita, foi muito prazeroso.

Você acha que Tubarão teria sido um filme melhor sem todos os problemas?

Não, porque os problemas fizeram com que todos passassem mais tempo juntos e desenvolvessem o filme, lhes permitiram improvisar. "Você vai precisar de um barco maior" foi uma fala improvisada por Steven Spielberg. Além disso, os atrasos permitiram que meu pai reescrevesse o discurso sobre a tragédia do navio USS Indianapolis, que foi um momento muito importante. Todas essas coisas foram desenvolvidas enquanto eles esperavam.

Quer dizer que o desastre é uma boa receita para o sucesso criativo?

Bom, pode ser.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

LONDRES - Quando Ian Shaw tinha cinco anos, fez algo que deixaria qualquer fã de cinema com inveja: visitou o set de filmagem de Tubarão. No local, na ilha de Martha's Vineyard, um assistente puxou um enorme tecido e o jovem Shaw se viu diante da boca gigante do tubarão comedor de gente, que em breve se tornaria um ícone do cinema. "Fiquei apavorado!", relembrou recentemente Shaw, que atualmente tem 51 anos.

Ian Shaw, filho de Robert Show, estrela de 'Tubarão' é co-autor da peça 'The Shark Is Broken', em que interpreta seu pai. Foto: Lauren Fleishman/The New York Times

Shaw estava no set porque seu pai, Robert Shaw, estrelava o filme como Quint, o caçador de tubarões psicótico que, no fim do filme, foi partido em dois com uma mordida. Shaw disse que visitou muitos dos sets do pai, e que a filmagem de Tubarão se parecia com todas as outras. Mas na época ele não sabia que esse trabalho foi um dos mais problemáticos da história do cinema, repleto de dificuldades técnicas e brigas entre os atores.

Os três tubarões mecânicos da produção quebravam o tempo todo e as gravações sempre atrasavam: Steven Spielberg, o diretor do filme, passou a chamar a equipe de efeitos especiais de "departamento de defeitos especiais". Em certo momento, um barco da produção afundou, jogando duas câmeras ao fundo do mar. (O filme no interior das câmeras sobreviveu.)

O pai de Shaw - que morreu em 1978 - trouxe as próprias dificuldades para a produção. Bebeu muito durante a filmagem e teve conflitos com outro astro, Richard Dreyfuss. Robert Shaw ridicularizava constantemente e tentava humilhar Dreyfuss, fazendo comentários negativos pouco antes de as câmeras começarem a rodar, ou instigando Dreyfuss a fazer bobagens, como subir no mastro de um dos barcos e saltar no mar. Roy Scheider, mais um astro do filme, viu-se no meio das brigas dos dois.

Ian Shaw contou que só ficou sabendo de todo o caos no set de filmagem de Tubarão décadas depois, mas percebeu que havia drama suficiente para uma peça de teatro. Agora, está recebendo muitos elogios da crítica britânica por The Shark Is Broken (O tubarão está quebrado), comédia com três atores em cartaz no Teatro Ambassadors, no West End de Londres, até 15 de janeiro. No espetáculo, Shaw interpreta seu pai, preso em um barco com Dreyfuss (Liam Murray Scott) e Scheider (Demetri Goritsas), enquanto as tensões aumentam e diminuem.

Shaw conversou recentemente sobre a dificuldade de representar o lado mais obscuro de seu pai nos palcos e sobre o potencial criativo do conflito. A seguir, trechos editados dessa conversa.

Na peça, seu pai obviamente não gosta de Tubarão. Ele chegou a levá-lo para assistir ao filme?

Vi o filme quando era bem novo, em alguma sala de exibição. Fiquei com tanto medo que não queria nem entrar na piscina depois. Eu me lembro de ter pesadelos, de imaginar tubarões em volta da minha cama e de chamar meu pai para me salvar. Embora eu soubesse que ele foi devorado no filme, fui capaz de suspender minha descrença em relação a isso.

O que o levou à ideia de transformar os problemas do filme em uma peça de teatro?

Certa vez, tive de deixar o bigode crescer para um papel e, quando me olhei no espelho, pensei: 'Estou a cara do Quint.' Foi então que tudo começou, mas a ideia parecia meio boba, porque eu tinha passado toda a minha carreira evitando ser associado com meu pai.

Quando li The Jaws Log (O diário do tubarão, em tradução livre), de Carl Gottlieb, e vi documentários sobre o filme, percebi que havia uma relação muito interessante entre Robert, Richard e Roy - esse triângulo que cria um ótimo drama. Além disso, como só precisávamos de três pessoas, a produção não seria cara.

Brinquei com a ideia durante anos, porque achava que o resultado poderia ser vergonhoso - e desrespeitoso em relação ao meu pai e ao filme Tubarão, que adoro. Sem falar em me colocar no lugar do meu pai e interpretá-lo como um alcoólatra - será que eu tinha o direito de fazer isso publicamente?

Cena de 'The Shark Is Broken', com Ian Shaw comoRobert Shaw (esq), Demetri Goritsas como Roy Scheider (centro) e Liam Murray Scott como Richard Dreyfuss. Foto: Helen Maybanks via The New York Times

Você sabia que ele era alcoólatra na época? Ele morreu poucos anos depois de filmar "Tubarão", quando você ainda era muito jovem.

Eu costumava vê-lo bebendo. Muitas vezes eu ficava brincando embaixo da mesa, nos pubs irlandeses, quando ele saía para beber. Mas isso não parecia ser um problema na época. Para mim, parecia normal.

Acho que aquela geração, especialmente os atores provenientes da classe trabalhadora, como Richard Burton, sentia certo desconforto com a profissão no que se referia a vestir roupas justas e passar maquiagem. Assim, a forma que encontravam para demonstrar sua masculinidade era beber muito, uma espécie de método viking para mostrar quem eram.

Como você superou o medo de desrespeitá-lo?

Quando comecei a escrever a peça com Joseph Nixon, percebemos rapidamente que não se tratava só de Tubarão. O pai de Joe morreu de uma maneira muito triste, e a peça acabou se concentrando na relação entre pais e filhos, além de falar de vício e de cinema. Esses outros temas ampliaram o alcance da peça.

No espetáculo, você mostra seu pai em constante conflito com Dreyfuss e dá a impressão de que ele fazia isso para se divertir. Por que você acha que ele se comportava dessa maneira?

Ele realmente não queria fazer Tubarão, porque na época havia sido convidado para fazer o remake de Desencanto, ou estava na disputa pela vaga. Ele preferia ter feito isso, para se livrar da imagem de machão. E se sentiu na obrigação de fazer Tubarão para sustentar a família.

Mas o tubarão não funcionava, de modo que o elenco tinha de ficar esperando. E ele gostava de beber. Dreyfuss realmente o deixava maluco, por isso meu pai achou que ele precisava acordar para a vida. Desafiou Dreyfuss a saltar do alto do mastro do navio e acho que jogou água na cara dele com uma mangueira de bombeiro. Existem muitas histórias, e várias são verdadeiras.

Na peça, seu pai diz que está cutucando Dreyfuss para melhorar o filme. Os personagens não gostavam um do outro. Você acha que ele só estava tentando criar essa tensão no ambiente?

Pessoalmente, acho que foram as duas coisas, porque ele estava irritado com Richard, mas também acredito que ele queria criar uma boa dinâmica de trabalho entre os dois. As atuações no filme são excepcionais, portanto é provável que isso tenha ajudado.

Levando em conta todos os problemas de Tubarão, você também teve problemas durante a produção de The Shark Is Broken?

Não que eu me lembre. Quando comecei a colocar as primeiras ideias no papel, acordava às três da manhã todo suado, pensando que era uma péssima ideia, porque eu tinha medo de ofender minha família. Mas, no que se refere ao processo de escrita, foi muito prazeroso.

Você acha que Tubarão teria sido um filme melhor sem todos os problemas?

Não, porque os problemas fizeram com que todos passassem mais tempo juntos e desenvolvessem o filme, lhes permitiram improvisar. "Você vai precisar de um barco maior" foi uma fala improvisada por Steven Spielberg. Além disso, os atrasos permitiram que meu pai reescrevesse o discurso sobre a tragédia do navio USS Indianapolis, que foi um momento muito importante. Todas essas coisas foram desenvolvidas enquanto eles esperavam.

Quer dizer que o desastre é uma boa receita para o sucesso criativo?

Bom, pode ser.

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