'Frankenstein' faz 200 anos e inspira novas adaptações


O clássico da autora Mary Shelley foi publicado pela primeira vez em 1818 e deve ganhar nova versão para o cinema

Por Dave Itzkoff

Nas cerimônias de premiação do cinema, a maioria dos ganhadores agradece a seus astros, seus agentes, e a outras pessoas que são importantes para eles. Guillermo del Toro, em seu discurso ao receber o Oscar, no início do ano, pelo filme “A forma da água”, agradeceu a uma adolescente que morreu há mais de 150 anos.

“Quando penso em desistir”, afirmou no palco para o público da British Academy of Film and Television Awards em fevereiro, “penso nela”.

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Mary Shelley tinha conhecimento dos experimentos sobre “eletricidade animal” de Luigi Galvani e de seu sobrinho Giovanni Aldini. Foto: The Morgan Library & Museum

“Ela deu voz aos que não têm voz, e presença aos que são invisíveis”, prosseguiu, “e me mostrou que, às vezes, para falar de monstros, precisamos fabricar os nossos próprios”.

O realizador falava de Mary Shelley, a mulher por trás de “Frankenstein”, e nem era a primeira vez. A adaptação do romance - que Mary começou quando tinha apenas 18 anos - havia sido um projeto com o qual o diretor sonhara, e ele definiu a criação sem nome de Viktor Frankenstein como “o mais lindo e comovente” de todos os monstros.

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O mundo terá de esperar pela versão de Del Toro, mas este é o ano de Frankenstein. O 200º aniversário do romance inspirou um sem número de exposições, apresentações e eventos no mundo inteiro, desde Ingolstadt, na Bavária, onde estava o laboratório fictício de Viktor Frankenstein, ao estado de Indiana, onde desde janeiro já foram realizadosmais de 600 eventos.

Mas quando não é o momento do monstro? O romance de Shelley gerou uma série de adaptações, inclusive pelo menos 170 homenagens nas telas.

“A história aborda a parte mais fundamental do que significa ser uma criatura humana encarnada”, disse Elizabeth Campbell Denlinger, uma curadora da mostra “It’s Alive! Frankenstein at 200”, na Morgan Library & Museum de Nova York, que reúne objetos de todo tipo, inclusive páginas originais do manuscrito. “E ela faz com que nos perguntemos: será que eu também sou um monstro?”

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“Frankenstein” nasceu no verão de 1816. Mary Shelley e o marido, Percy, eram hóspedes em uma vila na Suíça com Lord Byron e outros, e passavam os dias chuvosos inventando histórias de fantasmas. Os primeiros vislumbres do monstro apareceram para Mary uma noite.

“Eu vi o pálido estudante de artes profanas ajoelhado ao lado da coisa que ele havia construído”, ela lembrou.

“Frankenstein, ou o Moderno Prometeu” foi publicado anonimamente dois anos mais tarde, em 1818. 

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Desde então, tornou-se a história rara que da literatura se transformou em mito. Mesmo pessoas que nunca puseram os olhos no romance conhecem a história da criatura deformada construída a partir de corpos humanos, que se rebelou contra o seu criador, ou pelo menos, a imagem esverdeada com o pescoço parafusado, personificada por Boris Karloff.

Mas quase desde o começo, esta também ultrapassou os limites da própria romancista que lhe deu vida, deixando para trás algumas das partes de sua construção, a começar pela maioria das preocupações mais filosóficas do monstro, e a sua capacidade básica da fala.

Na primeira produção para o palco, em 1823, a criatura sem nome foi interpretada por T.P. Cooke, um ator famoso pela pantomima, que estabeleceu o modelo de um monstro incapaz de se expressar, quando não inteiramente sem palavras.

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Foi necessário o veículo do filme para catapultar a tradição da cultura pop de Frankenstein para a vida, e também foi preciso chegar ao século 20 para ativar completamente as suas advertências contra a ciência que escaparia do controle do homem. Em um artigo de 1987, o biólogo Leonard Isaacs atribuiu a Mary Shelley o fato de ter se referido ao que é talvez “o primeiro mito do futuro” que “aguarda que a atividade humana se equipare a ele”.

Uma frase de Viktor Frankenstein extraída da versão cinematográfica de James Whale, de 1931 - “Agora eu sei como é sentir-se Deus!” - foi visada frequentemente por censores locais, que a consideravam blasfêmia.

Mas se alguns esperam transformar a história em algo mais positivo em matéria de ciência ética, artistas feministas e críticos a leram como uma alegoria do homem que usurpa o poder procriador da mulher.

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A coleção de poemas de Margaret Atwood de 1967 intitulada “Speeches for Dr. Frankenstein” imaginou o monstro como uma mulher que se dirige ao seu criador.

Outros escritores usaram a história para criar alegorias políticas do século 21.

“Destroyer”, um recente romance em quadrinhos de Victor LaValle, que transporta a história para a era da Black Lives Matter, tem como personagens dois “monstros”: o original de Mary Shelley, que é encontrado com vida no Ártico, e um menino afro-americano que é morto pela polícia e então reanimado pela mãe, cientista e a última descendente viva de Viktor Frankenstein.

LaValle disse que queria assimilar a raiva da criatura - e da mãe - raiva que ele definiu como “o direito dos difamados e dos oprimidos”.

Talvez, mais simplesmente, ele também quisesse levar os leitores de volta ao que o atraíra em Frankenstein inicialmente.

“Quando eu era criança”, ele contou, “o que me fascinava era o medo do monstro. Eu queria um monstro que rasgasse um ser humano ao meio, para melhor ou para pior”.

Nas cerimônias de premiação do cinema, a maioria dos ganhadores agradece a seus astros, seus agentes, e a outras pessoas que são importantes para eles. Guillermo del Toro, em seu discurso ao receber o Oscar, no início do ano, pelo filme “A forma da água”, agradeceu a uma adolescente que morreu há mais de 150 anos.

“Quando penso em desistir”, afirmou no palco para o público da British Academy of Film and Television Awards em fevereiro, “penso nela”.

Mary Shelley tinha conhecimento dos experimentos sobre “eletricidade animal” de Luigi Galvani e de seu sobrinho Giovanni Aldini. Foto: The Morgan Library & Museum

“Ela deu voz aos que não têm voz, e presença aos que são invisíveis”, prosseguiu, “e me mostrou que, às vezes, para falar de monstros, precisamos fabricar os nossos próprios”.

O realizador falava de Mary Shelley, a mulher por trás de “Frankenstein”, e nem era a primeira vez. A adaptação do romance - que Mary começou quando tinha apenas 18 anos - havia sido um projeto com o qual o diretor sonhara, e ele definiu a criação sem nome de Viktor Frankenstein como “o mais lindo e comovente” de todos os monstros.

O mundo terá de esperar pela versão de Del Toro, mas este é o ano de Frankenstein. O 200º aniversário do romance inspirou um sem número de exposições, apresentações e eventos no mundo inteiro, desde Ingolstadt, na Bavária, onde estava o laboratório fictício de Viktor Frankenstein, ao estado de Indiana, onde desde janeiro já foram realizadosmais de 600 eventos.

Mas quando não é o momento do monstro? O romance de Shelley gerou uma série de adaptações, inclusive pelo menos 170 homenagens nas telas.

“A história aborda a parte mais fundamental do que significa ser uma criatura humana encarnada”, disse Elizabeth Campbell Denlinger, uma curadora da mostra “It’s Alive! Frankenstein at 200”, na Morgan Library & Museum de Nova York, que reúne objetos de todo tipo, inclusive páginas originais do manuscrito. “E ela faz com que nos perguntemos: será que eu também sou um monstro?”

“Frankenstein” nasceu no verão de 1816. Mary Shelley e o marido, Percy, eram hóspedes em uma vila na Suíça com Lord Byron e outros, e passavam os dias chuvosos inventando histórias de fantasmas. Os primeiros vislumbres do monstro apareceram para Mary uma noite.

“Eu vi o pálido estudante de artes profanas ajoelhado ao lado da coisa que ele havia construído”, ela lembrou.

“Frankenstein, ou o Moderno Prometeu” foi publicado anonimamente dois anos mais tarde, em 1818. 

Desde então, tornou-se a história rara que da literatura se transformou em mito. Mesmo pessoas que nunca puseram os olhos no romance conhecem a história da criatura deformada construída a partir de corpos humanos, que se rebelou contra o seu criador, ou pelo menos, a imagem esverdeada com o pescoço parafusado, personificada por Boris Karloff.

Mas quase desde o começo, esta também ultrapassou os limites da própria romancista que lhe deu vida, deixando para trás algumas das partes de sua construção, a começar pela maioria das preocupações mais filosóficas do monstro, e a sua capacidade básica da fala.

Na primeira produção para o palco, em 1823, a criatura sem nome foi interpretada por T.P. Cooke, um ator famoso pela pantomima, que estabeleceu o modelo de um monstro incapaz de se expressar, quando não inteiramente sem palavras.

Foi necessário o veículo do filme para catapultar a tradição da cultura pop de Frankenstein para a vida, e também foi preciso chegar ao século 20 para ativar completamente as suas advertências contra a ciência que escaparia do controle do homem. Em um artigo de 1987, o biólogo Leonard Isaacs atribuiu a Mary Shelley o fato de ter se referido ao que é talvez “o primeiro mito do futuro” que “aguarda que a atividade humana se equipare a ele”.

Uma frase de Viktor Frankenstein extraída da versão cinematográfica de James Whale, de 1931 - “Agora eu sei como é sentir-se Deus!” - foi visada frequentemente por censores locais, que a consideravam blasfêmia.

Mas se alguns esperam transformar a história em algo mais positivo em matéria de ciência ética, artistas feministas e críticos a leram como uma alegoria do homem que usurpa o poder procriador da mulher.

A coleção de poemas de Margaret Atwood de 1967 intitulada “Speeches for Dr. Frankenstein” imaginou o monstro como uma mulher que se dirige ao seu criador.

Outros escritores usaram a história para criar alegorias políticas do século 21.

“Destroyer”, um recente romance em quadrinhos de Victor LaValle, que transporta a história para a era da Black Lives Matter, tem como personagens dois “monstros”: o original de Mary Shelley, que é encontrado com vida no Ártico, e um menino afro-americano que é morto pela polícia e então reanimado pela mãe, cientista e a última descendente viva de Viktor Frankenstein.

LaValle disse que queria assimilar a raiva da criatura - e da mãe - raiva que ele definiu como “o direito dos difamados e dos oprimidos”.

Talvez, mais simplesmente, ele também quisesse levar os leitores de volta ao que o atraíra em Frankenstein inicialmente.

“Quando eu era criança”, ele contou, “o que me fascinava era o medo do monstro. Eu queria um monstro que rasgasse um ser humano ao meio, para melhor ou para pior”.

Nas cerimônias de premiação do cinema, a maioria dos ganhadores agradece a seus astros, seus agentes, e a outras pessoas que são importantes para eles. Guillermo del Toro, em seu discurso ao receber o Oscar, no início do ano, pelo filme “A forma da água”, agradeceu a uma adolescente que morreu há mais de 150 anos.

“Quando penso em desistir”, afirmou no palco para o público da British Academy of Film and Television Awards em fevereiro, “penso nela”.

Mary Shelley tinha conhecimento dos experimentos sobre “eletricidade animal” de Luigi Galvani e de seu sobrinho Giovanni Aldini. Foto: The Morgan Library & Museum

“Ela deu voz aos que não têm voz, e presença aos que são invisíveis”, prosseguiu, “e me mostrou que, às vezes, para falar de monstros, precisamos fabricar os nossos próprios”.

O realizador falava de Mary Shelley, a mulher por trás de “Frankenstein”, e nem era a primeira vez. A adaptação do romance - que Mary começou quando tinha apenas 18 anos - havia sido um projeto com o qual o diretor sonhara, e ele definiu a criação sem nome de Viktor Frankenstein como “o mais lindo e comovente” de todos os monstros.

O mundo terá de esperar pela versão de Del Toro, mas este é o ano de Frankenstein. O 200º aniversário do romance inspirou um sem número de exposições, apresentações e eventos no mundo inteiro, desde Ingolstadt, na Bavária, onde estava o laboratório fictício de Viktor Frankenstein, ao estado de Indiana, onde desde janeiro já foram realizadosmais de 600 eventos.

Mas quando não é o momento do monstro? O romance de Shelley gerou uma série de adaptações, inclusive pelo menos 170 homenagens nas telas.

“A história aborda a parte mais fundamental do que significa ser uma criatura humana encarnada”, disse Elizabeth Campbell Denlinger, uma curadora da mostra “It’s Alive! Frankenstein at 200”, na Morgan Library & Museum de Nova York, que reúne objetos de todo tipo, inclusive páginas originais do manuscrito. “E ela faz com que nos perguntemos: será que eu também sou um monstro?”

“Frankenstein” nasceu no verão de 1816. Mary Shelley e o marido, Percy, eram hóspedes em uma vila na Suíça com Lord Byron e outros, e passavam os dias chuvosos inventando histórias de fantasmas. Os primeiros vislumbres do monstro apareceram para Mary uma noite.

“Eu vi o pálido estudante de artes profanas ajoelhado ao lado da coisa que ele havia construído”, ela lembrou.

“Frankenstein, ou o Moderno Prometeu” foi publicado anonimamente dois anos mais tarde, em 1818. 

Desde então, tornou-se a história rara que da literatura se transformou em mito. Mesmo pessoas que nunca puseram os olhos no romance conhecem a história da criatura deformada construída a partir de corpos humanos, que se rebelou contra o seu criador, ou pelo menos, a imagem esverdeada com o pescoço parafusado, personificada por Boris Karloff.

Mas quase desde o começo, esta também ultrapassou os limites da própria romancista que lhe deu vida, deixando para trás algumas das partes de sua construção, a começar pela maioria das preocupações mais filosóficas do monstro, e a sua capacidade básica da fala.

Na primeira produção para o palco, em 1823, a criatura sem nome foi interpretada por T.P. Cooke, um ator famoso pela pantomima, que estabeleceu o modelo de um monstro incapaz de se expressar, quando não inteiramente sem palavras.

Foi necessário o veículo do filme para catapultar a tradição da cultura pop de Frankenstein para a vida, e também foi preciso chegar ao século 20 para ativar completamente as suas advertências contra a ciência que escaparia do controle do homem. Em um artigo de 1987, o biólogo Leonard Isaacs atribuiu a Mary Shelley o fato de ter se referido ao que é talvez “o primeiro mito do futuro” que “aguarda que a atividade humana se equipare a ele”.

Uma frase de Viktor Frankenstein extraída da versão cinematográfica de James Whale, de 1931 - “Agora eu sei como é sentir-se Deus!” - foi visada frequentemente por censores locais, que a consideravam blasfêmia.

Mas se alguns esperam transformar a história em algo mais positivo em matéria de ciência ética, artistas feministas e críticos a leram como uma alegoria do homem que usurpa o poder procriador da mulher.

A coleção de poemas de Margaret Atwood de 1967 intitulada “Speeches for Dr. Frankenstein” imaginou o monstro como uma mulher que se dirige ao seu criador.

Outros escritores usaram a história para criar alegorias políticas do século 21.

“Destroyer”, um recente romance em quadrinhos de Victor LaValle, que transporta a história para a era da Black Lives Matter, tem como personagens dois “monstros”: o original de Mary Shelley, que é encontrado com vida no Ártico, e um menino afro-americano que é morto pela polícia e então reanimado pela mãe, cientista e a última descendente viva de Viktor Frankenstein.

LaValle disse que queria assimilar a raiva da criatura - e da mãe - raiva que ele definiu como “o direito dos difamados e dos oprimidos”.

Talvez, mais simplesmente, ele também quisesse levar os leitores de volta ao que o atraíra em Frankenstein inicialmente.

“Quando eu era criança”, ele contou, “o que me fascinava era o medo do monstro. Eu queria um monstro que rasgasse um ser humano ao meio, para melhor ou para pior”.

Nas cerimônias de premiação do cinema, a maioria dos ganhadores agradece a seus astros, seus agentes, e a outras pessoas que são importantes para eles. Guillermo del Toro, em seu discurso ao receber o Oscar, no início do ano, pelo filme “A forma da água”, agradeceu a uma adolescente que morreu há mais de 150 anos.

“Quando penso em desistir”, afirmou no palco para o público da British Academy of Film and Television Awards em fevereiro, “penso nela”.

Mary Shelley tinha conhecimento dos experimentos sobre “eletricidade animal” de Luigi Galvani e de seu sobrinho Giovanni Aldini. Foto: The Morgan Library & Museum

“Ela deu voz aos que não têm voz, e presença aos que são invisíveis”, prosseguiu, “e me mostrou que, às vezes, para falar de monstros, precisamos fabricar os nossos próprios”.

O realizador falava de Mary Shelley, a mulher por trás de “Frankenstein”, e nem era a primeira vez. A adaptação do romance - que Mary começou quando tinha apenas 18 anos - havia sido um projeto com o qual o diretor sonhara, e ele definiu a criação sem nome de Viktor Frankenstein como “o mais lindo e comovente” de todos os monstros.

O mundo terá de esperar pela versão de Del Toro, mas este é o ano de Frankenstein. O 200º aniversário do romance inspirou um sem número de exposições, apresentações e eventos no mundo inteiro, desde Ingolstadt, na Bavária, onde estava o laboratório fictício de Viktor Frankenstein, ao estado de Indiana, onde desde janeiro já foram realizadosmais de 600 eventos.

Mas quando não é o momento do monstro? O romance de Shelley gerou uma série de adaptações, inclusive pelo menos 170 homenagens nas telas.

“A história aborda a parte mais fundamental do que significa ser uma criatura humana encarnada”, disse Elizabeth Campbell Denlinger, uma curadora da mostra “It’s Alive! Frankenstein at 200”, na Morgan Library & Museum de Nova York, que reúne objetos de todo tipo, inclusive páginas originais do manuscrito. “E ela faz com que nos perguntemos: será que eu também sou um monstro?”

“Frankenstein” nasceu no verão de 1816. Mary Shelley e o marido, Percy, eram hóspedes em uma vila na Suíça com Lord Byron e outros, e passavam os dias chuvosos inventando histórias de fantasmas. Os primeiros vislumbres do monstro apareceram para Mary uma noite.

“Eu vi o pálido estudante de artes profanas ajoelhado ao lado da coisa que ele havia construído”, ela lembrou.

“Frankenstein, ou o Moderno Prometeu” foi publicado anonimamente dois anos mais tarde, em 1818. 

Desde então, tornou-se a história rara que da literatura se transformou em mito. Mesmo pessoas que nunca puseram os olhos no romance conhecem a história da criatura deformada construída a partir de corpos humanos, que se rebelou contra o seu criador, ou pelo menos, a imagem esverdeada com o pescoço parafusado, personificada por Boris Karloff.

Mas quase desde o começo, esta também ultrapassou os limites da própria romancista que lhe deu vida, deixando para trás algumas das partes de sua construção, a começar pela maioria das preocupações mais filosóficas do monstro, e a sua capacidade básica da fala.

Na primeira produção para o palco, em 1823, a criatura sem nome foi interpretada por T.P. Cooke, um ator famoso pela pantomima, que estabeleceu o modelo de um monstro incapaz de se expressar, quando não inteiramente sem palavras.

Foi necessário o veículo do filme para catapultar a tradição da cultura pop de Frankenstein para a vida, e também foi preciso chegar ao século 20 para ativar completamente as suas advertências contra a ciência que escaparia do controle do homem. Em um artigo de 1987, o biólogo Leonard Isaacs atribuiu a Mary Shelley o fato de ter se referido ao que é talvez “o primeiro mito do futuro” que “aguarda que a atividade humana se equipare a ele”.

Uma frase de Viktor Frankenstein extraída da versão cinematográfica de James Whale, de 1931 - “Agora eu sei como é sentir-se Deus!” - foi visada frequentemente por censores locais, que a consideravam blasfêmia.

Mas se alguns esperam transformar a história em algo mais positivo em matéria de ciência ética, artistas feministas e críticos a leram como uma alegoria do homem que usurpa o poder procriador da mulher.

A coleção de poemas de Margaret Atwood de 1967 intitulada “Speeches for Dr. Frankenstein” imaginou o monstro como uma mulher que se dirige ao seu criador.

Outros escritores usaram a história para criar alegorias políticas do século 21.

“Destroyer”, um recente romance em quadrinhos de Victor LaValle, que transporta a história para a era da Black Lives Matter, tem como personagens dois “monstros”: o original de Mary Shelley, que é encontrado com vida no Ártico, e um menino afro-americano que é morto pela polícia e então reanimado pela mãe, cientista e a última descendente viva de Viktor Frankenstein.

LaValle disse que queria assimilar a raiva da criatura - e da mãe - raiva que ele definiu como “o direito dos difamados e dos oprimidos”.

Talvez, mais simplesmente, ele também quisesse levar os leitores de volta ao que o atraíra em Frankenstein inicialmente.

“Quando eu era criança”, ele contou, “o que me fascinava era o medo do monstro. Eu queria um monstro que rasgasse um ser humano ao meio, para melhor ou para pior”.

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