THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - De longe, parecia uma névoa espessa no horizonte. Mas à medida que o navio se aproximava, o oceano borbulhava enquanto 150 baleias-comuns, as segundas maiores criaturas do planeta, mergulhavam e se lançavam contra a superfície da água.
Durante seis semanas em uma expedição de nove semanas, perto da costa da Ilha Elefante, a nordeste da Península Antártica, os pesquisadores se depararam com o maior encontro de baleias-comuns já documentado.
“Foi uma das observações mais espetaculares que já fiz”, disse Helena Herr, ecologista de mamíferos marinhos da Universidade de Hamburgo. “As baleias-comuns pareciam enlouquecer por causa da carga de alimentos com a qual foram confrontadas. Foi absolutamente emocionante.”
Herr e seus colegas documentaram o retorno de um grande número de baleias-comuns às águas que antes constituíam suas áreas de alimentação históricas em um artigo publicado na revista Scientific Reports. A pesquisa fornece um vislumbre de boas notícias no que de outra forma seria uma paisagem preocupante para a biodiversidade global e espécies de habitantes do oceano em particular.
Os seres humanos estão acelerando a extinção em um ritmo sem precedentes, de acordo com avaliações das Nações Unidas. Nos oceanos, a modelagem recente estimou que o aquecimento global causado pelas contínuas emissões de gases de efeito estufa poderia desencadear uma morte em massa de espécies marinhas até 2300.
A recuperação da população de baleias-comuns, no entanto, oferece “um sinal de que, se a gestão e a conservação forem cumpridas, há chances de as espécies se recuperarem”, disse Herr.
Durante grande parte do século 20, a cena nas águas ao redor da Antártida foi marcadamente diferente. Entre 1904 e 1976, baleeiros comerciais desceram nas ricas áreas de alimentação e mataram cerca de 725.000 baleias-comuns no Oceano Antártico, dizimando sua população para apenas 1% de seu tamanho pré-caça.
Quando os integrantes da Comissão Baleeira Internacional finalmente votaram pela proibição da caça às baleias em 1982, após uma campanha de uma década de grupos ambientalistas para salvar as baleias, várias espécies - incluindo as comuns, cachalotes e baleias-sei - já haviam sido caçadas até quase a extinção.
Mas 40 anos após a proibição da caça comercial de baleias, pesquisadores que estudavam outras espécies no Oceano Antártico começaram a perceber que um número crescente de baleias-comuns havia retornado.
Este foi o caso em 2013 para Herr e seus colegas. Na época, eles estavam investigando as baleias Minke quando se depararam com grandes congregações de baleias comuns “por coincidência”. Eles decidiram solicitar financiamento para estudar o renascimento das baleias-comuns.
2018 e 2019, os pesquisadores retornaram à Península Antártica para o primeiro estudo dedicado à população de baleias-comuns. Por meio de pesquisas aéreas, os pesquisadores registraram 100 grupos de baleias-comuns, variando em tamanho de um a quatro indivíduos. Eles também documentaram oito grandes grupos de até 150 baleias que se reuniram para se alimentar.
A pesquisa “confirma que esse padrão ainda está acontecendo e está emergindo ainda mais forte”, disse Jarrod Santora, biólogo pesqueiro da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica que estava entre os primeiros pesquisadores a documentar o aumento das populações de baleias comuns enquanto estudava o krill. (Ele não estava envolvido nesta nova pesquisa.)
Pesquisadores de baleias alertaram que nem todas as espécies de baleias se recuperaram com tanto sucesso desde a proibição da caça. Sally Mizroch, bióloga pesqueira que estuda baleias desde 1979 e não esteve envolvida na pesquisa, descreveu as baleias-comuns como “muito bem-sucedidas”. Ao contrário de outras espécies, como as baleias azuis, as baleias-comuns podem forragear em grandes distâncias e se alimentar de uma variedade de fontes de alimento.
Os cientistas não sabem ao certo por que alguns grupos eram tão grandes. Herr observou que as cenas que eles testemunharam tinham pelo menos alguns paralelos com relatos históricos escritos antes da caça comercial generalizada. Por exemplo, o naturalista William Speirs Bruce descreveu ter visto ondas de baleias se estendendo “de horizonte a horizonte” em uma expedição à Antártica em 1892.
Pesquisas recentes propuseram que a recuperação nas populações de baleias é boa não apenas para as baleias, mas também para todo o ecossistema, por meio de um conceito conhecido como “bomba de baleia”. Os cientistas postulam que, à medida que as baleias se alimentam de krill, elas excretam o ferro, que estava preso nos crustáceos, de volta à água. Isso, por sua vez, pode impulsionar o fitoplâncton, organismos microscópicos que usam dióxido de carbono na fotossíntese e servem como base da cadeia alimentar marinha.
À medida que as baleias comuns trazem o krill para a superfície da água, elas também podem facilitar o sucesso de outros predadores, incluindo aves marinhas e focas, disse Santora. “Há muito mais cooperação e simbiose do que costumamos atribuir ao ecossistema.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES
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