'Pânico climático' de Greta Thunberg é necessário, mas não suficiente


Greta disse ao mundo para "entrar em pânico”, mas medo desmedido pode criar geração convencida que nenhum tipo de ação tem sentido

Por Jochen Bittner
Atualização:

As palavras que mais denotam um país são frequentemente aquelas impossíveis de traduzir. No caso da Alemanha, uma dessas palavras é “Zweckpessimismus”. Significa mais ou menos "pessimismo de propósito" - a atitude de esperar pelo pior para ser capaz de sentir alívio quando o pior, sorte nossa, não ocorrer.

As pessoas que demonstram Zweckpessimismus são frequentemente desagradáveis. Elas tendem a acabar com a graça das conversas com sua postura de “o que puder dar errado dará errado”. Mas os Zweckpessimistas, na maioria dos casos, têm razão, como os pais que alertam seus filhos a respeito de comportamentos estúpidos.

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No ano passado, ocorreu o contrário: o movimento Fridays for Future, que é composto e liderado por jovens, se define pelo “pessimismo de propósito” em relação às gerações anteriores e seu papel nas causas da mudança climática. O Fridays for Future surgiu um ano atrás, a partir dos protestos de uma adolescente sueca, Greta Thunberg, e seus ruidosos alertas sobre o iminente eco-apocalipse, que atravessaram o Norte da Europa e são particularmente intensos na Alemanha. Em junho, 500 estudantes deram as mãos em torno do Reichstag, em uma tentativa de impedir os legisladores de sair para seu recesso de verão.

É tão fácil quanto equivocado ridicularizar este movimento. O jovens não têm apenas o direito de serem moralmente rigorosos: têm o dever de sê-lo. Com a idade vem a rotina intelectual - e com a rotina intelectual, a complacência e a cegueira operacional. Frequentemente é necessário o olhar perplexo de um novato para constatar e romper os impasses sociais e psicológicos da sociedade - seja em marchas contra guerra em Washington, meio século atrás, ou em protestos ambientalistas em Estocolmo e Berlim hoje.

Enquanto membro de uma geração anterior, fico agradecido por essa nova energia jovial. Mas, correndo o risco de soar como um pai dando sermão, ofereço um conselho: Zweckpessimismus tem limite. Também precisamos de otimismo. Sem otimismo, nossos alertas constantes correm o risco de se tornar uma rotina complacente.

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Na Alemanha, pelo menos, a mensagem do Fridays for Future foi recebida e compreendida. Hoje não há nenhum partido político sério e nenhuma empresa responsável que não tenha tornado, recentemente, o clima uma prioridade - e não há dúvida que este movimento é também responsável por essa grande transformação. Falta de conscientização não é mais o problema.

Jovens participam de protesto do Fridays for Future contra mudança climática em Leipzig, Alemanha, em agosto. Foto: Jens Schlueter/EPA, via Shutterstock

O problema real da Alemanha, que impede o caminho de uma transformação real, é mais profundo: a falta de confiança no poder do espírito humano e da tecnologia. É precisamente a respeito destes pontos que os jovens têm de fazer seu próximo esforço - mas é também onde precisamos nos esforçar para ajudá-los.

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As sociedades precisam de jovens moralmente rigorosos, mas também precisam de jovens dispostos a correr riscos e tentar o impossível. Greta Thunberg disse ao mundo para "entrar em pânico”. Mas o medo desmedido pode, em si, ser paralisante e criar uma crescente geração convencida que nenhum tipo de ação tem sentido.

O pessimismo aflige, é claro, não somente os jovens. Em abril, pesquisadores do renomado Allensbach Institute publicaram um estudo devastador demonstrando que a porcentagem de alemães que acreditam no progresso atingiu o menor índice em cinco décadas. Indagados se consideravam que “a humanidade está a caminho de um futuro melhor”, somente 32% responderam que sim, acreditavam no progresso. 

Espantosos 39% afirmaram que pesquisas científicas que coloquem seres humanos em risco, mesmo que baixo, devem ser proibidas. É impressionante: se os alemães descobrissem o fogo amanhã, mais de um terço deles se apressaria em apagar essa assustadora nova fonte de calor e luz. Eles poderiam se queimar!

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E mais. Ao longo dos últimos dois anos, o número anual de startups diminuiu em 100 mil. Sarna Röser, diretora de uma associação de jovens empreendedores, afirma que seus pares estão enfrentando problemas para encontrar o capital de investimento alemão. “Os alemães estão se tornando, definitivamente, mais avessos ao risco”, disse Sarna.

Se alemães de todas as idades estão cada vez mais pessimistas, então é mais importante ainda que os mais jovens entre eles se movam para além do pânico para prover visões e soluções construtivas. Os jovens alemães têm de considerar o seguinte: eles querem viver em um país que é evitado por investidores e ficar para trás em relação aos avanços tecnológicos envolvendo a mudança climática? Ou eles vislumbram uma Alemanha que utiliza sua riqueza e potencial intelectual para se tornar um país pioneiro nos esforços para enfrentar a mudança climática com todo e qualquer meio que a genialidade humana seja capaz de produzir?

Aeronaves movidas a hidrogênio e carros com emissão zero podem ter soado como ficção científica uma década atrás. Hoje, aparecem como opções sérias. Mas torná-los realidade vai exigir investimento, pesquisa, disposição para correr riscos e, sobretudo, otimismo. Os méritos do movimento Fridays for Future com certeza não serão esquecidos. Agora é hora de todos se sacudirem para encarar o trabalho. Não permita que sua juventude seja desperdiçada com sua angústia.

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Jochen Bittner é codiretor da seção de debates do jornal semanal Die Zeit. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

As palavras que mais denotam um país são frequentemente aquelas impossíveis de traduzir. No caso da Alemanha, uma dessas palavras é “Zweckpessimismus”. Significa mais ou menos "pessimismo de propósito" - a atitude de esperar pelo pior para ser capaz de sentir alívio quando o pior, sorte nossa, não ocorrer.

As pessoas que demonstram Zweckpessimismus são frequentemente desagradáveis. Elas tendem a acabar com a graça das conversas com sua postura de “o que puder dar errado dará errado”. Mas os Zweckpessimistas, na maioria dos casos, têm razão, como os pais que alertam seus filhos a respeito de comportamentos estúpidos.

No ano passado, ocorreu o contrário: o movimento Fridays for Future, que é composto e liderado por jovens, se define pelo “pessimismo de propósito” em relação às gerações anteriores e seu papel nas causas da mudança climática. O Fridays for Future surgiu um ano atrás, a partir dos protestos de uma adolescente sueca, Greta Thunberg, e seus ruidosos alertas sobre o iminente eco-apocalipse, que atravessaram o Norte da Europa e são particularmente intensos na Alemanha. Em junho, 500 estudantes deram as mãos em torno do Reichstag, em uma tentativa de impedir os legisladores de sair para seu recesso de verão.

É tão fácil quanto equivocado ridicularizar este movimento. O jovens não têm apenas o direito de serem moralmente rigorosos: têm o dever de sê-lo. Com a idade vem a rotina intelectual - e com a rotina intelectual, a complacência e a cegueira operacional. Frequentemente é necessário o olhar perplexo de um novato para constatar e romper os impasses sociais e psicológicos da sociedade - seja em marchas contra guerra em Washington, meio século atrás, ou em protestos ambientalistas em Estocolmo e Berlim hoje.

Enquanto membro de uma geração anterior, fico agradecido por essa nova energia jovial. Mas, correndo o risco de soar como um pai dando sermão, ofereço um conselho: Zweckpessimismus tem limite. Também precisamos de otimismo. Sem otimismo, nossos alertas constantes correm o risco de se tornar uma rotina complacente.

Na Alemanha, pelo menos, a mensagem do Fridays for Future foi recebida e compreendida. Hoje não há nenhum partido político sério e nenhuma empresa responsável que não tenha tornado, recentemente, o clima uma prioridade - e não há dúvida que este movimento é também responsável por essa grande transformação. Falta de conscientização não é mais o problema.

Jovens participam de protesto do Fridays for Future contra mudança climática em Leipzig, Alemanha, em agosto. Foto: Jens Schlueter/EPA, via Shutterstock

O problema real da Alemanha, que impede o caminho de uma transformação real, é mais profundo: a falta de confiança no poder do espírito humano e da tecnologia. É precisamente a respeito destes pontos que os jovens têm de fazer seu próximo esforço - mas é também onde precisamos nos esforçar para ajudá-los.

As sociedades precisam de jovens moralmente rigorosos, mas também precisam de jovens dispostos a correr riscos e tentar o impossível. Greta Thunberg disse ao mundo para "entrar em pânico”. Mas o medo desmedido pode, em si, ser paralisante e criar uma crescente geração convencida que nenhum tipo de ação tem sentido.

O pessimismo aflige, é claro, não somente os jovens. Em abril, pesquisadores do renomado Allensbach Institute publicaram um estudo devastador demonstrando que a porcentagem de alemães que acreditam no progresso atingiu o menor índice em cinco décadas. Indagados se consideravam que “a humanidade está a caminho de um futuro melhor”, somente 32% responderam que sim, acreditavam no progresso. 

Espantosos 39% afirmaram que pesquisas científicas que coloquem seres humanos em risco, mesmo que baixo, devem ser proibidas. É impressionante: se os alemães descobrissem o fogo amanhã, mais de um terço deles se apressaria em apagar essa assustadora nova fonte de calor e luz. Eles poderiam se queimar!

E mais. Ao longo dos últimos dois anos, o número anual de startups diminuiu em 100 mil. Sarna Röser, diretora de uma associação de jovens empreendedores, afirma que seus pares estão enfrentando problemas para encontrar o capital de investimento alemão. “Os alemães estão se tornando, definitivamente, mais avessos ao risco”, disse Sarna.

Se alemães de todas as idades estão cada vez mais pessimistas, então é mais importante ainda que os mais jovens entre eles se movam para além do pânico para prover visões e soluções construtivas. Os jovens alemães têm de considerar o seguinte: eles querem viver em um país que é evitado por investidores e ficar para trás em relação aos avanços tecnológicos envolvendo a mudança climática? Ou eles vislumbram uma Alemanha que utiliza sua riqueza e potencial intelectual para se tornar um país pioneiro nos esforços para enfrentar a mudança climática com todo e qualquer meio que a genialidade humana seja capaz de produzir?

Aeronaves movidas a hidrogênio e carros com emissão zero podem ter soado como ficção científica uma década atrás. Hoje, aparecem como opções sérias. Mas torná-los realidade vai exigir investimento, pesquisa, disposição para correr riscos e, sobretudo, otimismo. Os méritos do movimento Fridays for Future com certeza não serão esquecidos. Agora é hora de todos se sacudirem para encarar o trabalho. Não permita que sua juventude seja desperdiçada com sua angústia.

Jochen Bittner é codiretor da seção de debates do jornal semanal Die Zeit. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

As palavras que mais denotam um país são frequentemente aquelas impossíveis de traduzir. No caso da Alemanha, uma dessas palavras é “Zweckpessimismus”. Significa mais ou menos "pessimismo de propósito" - a atitude de esperar pelo pior para ser capaz de sentir alívio quando o pior, sorte nossa, não ocorrer.

As pessoas que demonstram Zweckpessimismus são frequentemente desagradáveis. Elas tendem a acabar com a graça das conversas com sua postura de “o que puder dar errado dará errado”. Mas os Zweckpessimistas, na maioria dos casos, têm razão, como os pais que alertam seus filhos a respeito de comportamentos estúpidos.

No ano passado, ocorreu o contrário: o movimento Fridays for Future, que é composto e liderado por jovens, se define pelo “pessimismo de propósito” em relação às gerações anteriores e seu papel nas causas da mudança climática. O Fridays for Future surgiu um ano atrás, a partir dos protestos de uma adolescente sueca, Greta Thunberg, e seus ruidosos alertas sobre o iminente eco-apocalipse, que atravessaram o Norte da Europa e são particularmente intensos na Alemanha. Em junho, 500 estudantes deram as mãos em torno do Reichstag, em uma tentativa de impedir os legisladores de sair para seu recesso de verão.

É tão fácil quanto equivocado ridicularizar este movimento. O jovens não têm apenas o direito de serem moralmente rigorosos: têm o dever de sê-lo. Com a idade vem a rotina intelectual - e com a rotina intelectual, a complacência e a cegueira operacional. Frequentemente é necessário o olhar perplexo de um novato para constatar e romper os impasses sociais e psicológicos da sociedade - seja em marchas contra guerra em Washington, meio século atrás, ou em protestos ambientalistas em Estocolmo e Berlim hoje.

Enquanto membro de uma geração anterior, fico agradecido por essa nova energia jovial. Mas, correndo o risco de soar como um pai dando sermão, ofereço um conselho: Zweckpessimismus tem limite. Também precisamos de otimismo. Sem otimismo, nossos alertas constantes correm o risco de se tornar uma rotina complacente.

Na Alemanha, pelo menos, a mensagem do Fridays for Future foi recebida e compreendida. Hoje não há nenhum partido político sério e nenhuma empresa responsável que não tenha tornado, recentemente, o clima uma prioridade - e não há dúvida que este movimento é também responsável por essa grande transformação. Falta de conscientização não é mais o problema.

Jovens participam de protesto do Fridays for Future contra mudança climática em Leipzig, Alemanha, em agosto. Foto: Jens Schlueter/EPA, via Shutterstock

O problema real da Alemanha, que impede o caminho de uma transformação real, é mais profundo: a falta de confiança no poder do espírito humano e da tecnologia. É precisamente a respeito destes pontos que os jovens têm de fazer seu próximo esforço - mas é também onde precisamos nos esforçar para ajudá-los.

As sociedades precisam de jovens moralmente rigorosos, mas também precisam de jovens dispostos a correr riscos e tentar o impossível. Greta Thunberg disse ao mundo para "entrar em pânico”. Mas o medo desmedido pode, em si, ser paralisante e criar uma crescente geração convencida que nenhum tipo de ação tem sentido.

O pessimismo aflige, é claro, não somente os jovens. Em abril, pesquisadores do renomado Allensbach Institute publicaram um estudo devastador demonstrando que a porcentagem de alemães que acreditam no progresso atingiu o menor índice em cinco décadas. Indagados se consideravam que “a humanidade está a caminho de um futuro melhor”, somente 32% responderam que sim, acreditavam no progresso. 

Espantosos 39% afirmaram que pesquisas científicas que coloquem seres humanos em risco, mesmo que baixo, devem ser proibidas. É impressionante: se os alemães descobrissem o fogo amanhã, mais de um terço deles se apressaria em apagar essa assustadora nova fonte de calor e luz. Eles poderiam se queimar!

E mais. Ao longo dos últimos dois anos, o número anual de startups diminuiu em 100 mil. Sarna Röser, diretora de uma associação de jovens empreendedores, afirma que seus pares estão enfrentando problemas para encontrar o capital de investimento alemão. “Os alemães estão se tornando, definitivamente, mais avessos ao risco”, disse Sarna.

Se alemães de todas as idades estão cada vez mais pessimistas, então é mais importante ainda que os mais jovens entre eles se movam para além do pânico para prover visões e soluções construtivas. Os jovens alemães têm de considerar o seguinte: eles querem viver em um país que é evitado por investidores e ficar para trás em relação aos avanços tecnológicos envolvendo a mudança climática? Ou eles vislumbram uma Alemanha que utiliza sua riqueza e potencial intelectual para se tornar um país pioneiro nos esforços para enfrentar a mudança climática com todo e qualquer meio que a genialidade humana seja capaz de produzir?

Aeronaves movidas a hidrogênio e carros com emissão zero podem ter soado como ficção científica uma década atrás. Hoje, aparecem como opções sérias. Mas torná-los realidade vai exigir investimento, pesquisa, disposição para correr riscos e, sobretudo, otimismo. Os méritos do movimento Fridays for Future com certeza não serão esquecidos. Agora é hora de todos se sacudirem para encarar o trabalho. Não permita que sua juventude seja desperdiçada com sua angústia.

Jochen Bittner é codiretor da seção de debates do jornal semanal Die Zeit. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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