HARARE, ZIMBÁBUE - Talvez o lenço fosse apenas um lenço. Pouco depois de depor Robert Mugabe da presidência, Emmerson Mnangagwa, o novo presidente do Zimbábue, começou a usar um lenço colorido. É verdade que há anos Mnangagwa trabalhava como principal assistente de Mugabe, liderando alguns dos ataques mais violentos aos seus adversários políticos. Mas o lenço, com as cores da bandeira nacional, parecia ser o símbolo de um líder mais brando.
Agora, muitos zimbabuenses dizem que Mnangagwa está revelando sua verdadeira índole. Em janeiro, enquanto manifestantes tomavam as ruas da capital, Harare, protestando contra a deterioração da economia, Mnangagwa mobilizou soldados e policiais para a repressão, resultando em mais de uma dúzia de mortos, além de centenas de feridos à bala, de acordo com organizações da sociedade civil.
A violência coroou um ano de esforços malsucedidos por parte de Mnangagwa e seu governo do ZANU-PF no sentido de convencer os estrangeiros que o Zimbábue mudou. As esperanças iniciais foram extintas quando forças do governo esmagaram os manifestantes após as eleições de julho, após Mnangagwa ter sido eleito formalmente.
A violência assustou os investidores estrangeiros e minou a credibilidade do novo governo diante dos credores internacionais, agravando ainda mais a difícil situação da economia do país. Uma alta de 150% no preço da gasolina deu início à mais nova onda de protestos. Em novembro de 2017, apoiado pelos generais, Mnangagwa promoveu um golpe contra Mugabe.
Com seu lenço colorido, Mnangagwa deu início a uma ofensiva diplomática no exterior. Foi recebido com reações favoráveis, especialmente por parte dos britânicos. Mas havia uma condição: o governo teria de realizar eleições transparentes.
As coisas começaram bem. Mas, depois que o principal partido da oposição, Movimento pela Mudança Democrática, alegou que a votação tinha sido fraudada, insistindo aos eleitores que tomassem as ruas, soldados e policiais foram mobilizados na repressão, matando meia dúzia de manifestantes.
"Foi uma horrível mancha naquela que vinha sendo uma transição tranquila", disse Busisa Moyo, ex-presidente da Confederação de Indústrias do Zimbábue. "Os investidores estrangeiros esperavam uma eleição justa."
Sem a entrada de mais dinheiro no Zimbábue, o governo de Mnangagwa teve de tomar decisões econômicas pouco populares, incluindo a imposição de uma tarifa de 2% sobre as transferências eletrônicas de dinheiro.
Nos anos mais recentes, as transferências eletrônicas se tornaram a única maneira de fazer pagamentos, por causa de uma crise monetária que também tornou os subsídios ao combustível cada vez mais caros para o governo - resultando no recente aumento do preço da gasolina.
No dia 21 de janeiro, Mnangagwa, que estava em viagem oficial à Rússia durante a repressão violenta, voltou a Harare depois de desistir de uma viagem a Davos, na Suíça, onde planejava promover o Zimbábue e mostrar que o país estava aberto para os negócios. Estava usando seu indefectível lenço.