SMITH FALLS, ONTARIO - Pés de maconha no valor de milhões de dólares crescem em baixo de lâmpadas mais brilhantes do que o sol do meio-dia enquanto os funcionários da maior empresa de cannabis do Canadá se movimentam atarefados pelos 47 gigantescos viveiros da sua fábrica, que anteriormente produzia barras de chocolate Hershey.
Agora, ela abriga a Tweed, cuja companhia controladora, a Canopy Growth, foi a primeira produtora de maconha canadense a estrear na Bolsa de Nova York.
Avaliada em mais de US$ 10 bilhões, a Canopy vale mais do que a Bombardier, empresa canadense que é uma das maiores fabricantes de aviões e trens do mundo, e é um exemplo das novas esperanças de enriquecimento rápido desta nação - a indústria da maconha.
No dia 17 de outubro, o Canadá se tornou o segundo país do mundo e a primeira grande economia a legalizar a maconha para todos os usos (o Uruguai legalizou a droga em 2013). As companhias competem para participar do que alguns chamam de Corrida Verde.
"O que está acontecendo é como por ocasião da volta da destilaria canadense Seagram quando a Lei seca em vigor estava perto de acabar", disse a advogada Deborah Weinstein, que tratou do ingresso da Canopy na Bolsa de Toronto. "Mas é mais do que isso. Esta nunca foi uma indústria".
A lei limita os produtos que contêm cannabis; os comestíveis, por exemplo, serão legalizados no ano que vem. A legislação também restringe rigorosamente a publicidade e está repleta de cláusulas burocráticas.
As 12 principais companhias de maconha do Canadá valem atualmente cerca de 55 bilhões de dólares canadenses, ou US$ 42 bilhões, e os investidores estão comprando suas ações. Os lucros, porém, são um sonho do futuro. Na Tweed, por exemplo, as vendas do segmento de maconha para fins medicinais renderam apenas 77 milhões de dólares canadenses. A companhia perdeu 70 milhões de dólares canadenses.
Mas muitos acreditam que nem todo produtor de maconha lucrará e sobreviverá.
Existem 120 empresas licenciadas para o cultivo da maconha medicinal, que no Canadá foi legalizado em 2001. Agora, elas atenderão pessoas que querem simplesmente ficar chapadas e tentam conseguir licenças para a abertura de lojas.
Também surgiram várias empresas para criar softwares que permitem que os cultivadores acompanhem o desenvolvimento de suas plantas e os produtos finais, como o governo exige. Os construtores de estufas, por sua vez, agora têm clientes que vão além dos produtores de tomates e pimentões. As fábricas abandonadas, como aquela em que a Tweed opera, de repente se tornaram imóveis muito procurados.
Até empresas de comunicação canadenses entraram na corrida. Em Toronto, “The Globe and Mail” contratou repórteres e editores para a produção do “Cannabis Professional”, um boletim diário cuja assinatura anual custará 2 mil dólares canadenses.
David Campbell, 50, é um dos que lucram com o boom. Ele foi gerente de companhias que fabricam máquinas conhecidas como "sistemas de extração de fluidos botânicos por dióxido de carbono supercrítico". Elas extraem, por exemplo, a cafeína do café. Mas também são ideais para extrair os ingredientes ativos da planta de maconha para a produção do óleo.
Campbell criou a Advanced Extraction Systems de Charlottetown, na Ilha Prince Edward, só para atender à indústria da Cannabis.
Este ano, a companhia vendeu 12 destes sistemas, inclusive um para uma empresa de maconha medicinal, na Alemanha.
A Advanced começou com um funcionário, Campbell, e agora tem 14, na sua maioria engenheiros.
"Acreditamos que este seja apenas o começo", disse Campbell. "Neste momento, concentramos nossos esforços na Califórnia". / Catherine Porter e Lindsey Wiebe contribuíam para a reportagem.