Influenciadores idosos estão compartilhando uma nova visão da velhice


Em redes sociais como o Instagram e TikTok, o grupo de pessoas com mais de 65 anos está prosperando

Por Charley Locke
Atualização:

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - CATHEDRAL CITY, Califórnia - Robert Reeves, 78 anos, passa a maior parte dos dias descansando à beira da piscina, aproveitando o sol do deserto com seus amigos e vizinhos. Os quatro falam sobre as novidades - a recuperação de uma cirurgia corretiva recente no pé, alguns problemas de inflamação crônica - e gravam vídeos para as redes sociais, onde acumularam milhões de seguidores como os Old Gays.

Em uma tarde escaldante deste mês, Jessay Martin, 68, atravessou a rua para a habitual conversa à beira da piscina, parando para pegar um Bud Light Seltzer de abacaxi na geladeira a caminho do pátio. Lá, ele se sentou em uma cadeira estofada ao lado de uma escultura de madeira bem dotada da forma masculina e esfregou protetor solar em sua careca enquanto o grupo discutia o conceito do vídeo do dia: uma mudança no figurino definido para o single First Class do rapper Jack Harlow.

Bill Lyons, 78, Jessay Martin, 68, Robert Reeves, 78, e Mick Peterson, 66, formam os The Old Gays, grupo que se diverte nas redes sociais.  Foto: Reprodução/Instagram
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“Preciso usar uma roupa de baixo linda para isso”, disse Martin. “Eu preciso dos meus babados na cintura.”

Não foi o primeiro vídeo drag que eles fizeram, disse Bill Lyons, 78 anos, enquanto tomava um gole de seu achocolatado Sure. Ele ergueu as sobrancelhas e disse em um sussurro: “Bob não usou roupa de baixo”.

“Ah, não”, disse Mick Peterson, 66, baixinho.

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Martin riu e disse: “Bem, ele estava com uma saia volumosa!” Reeves, o Bob em questão, arregalou os olhos e fingiu inocência, olhando para as sombras das palmeiras brilhando em sua piscina azul.

Os Old Gays estavam atrasados. Eles ainda tinham que aprender uma dança e filmar uma tomada útil antes do show cover de Tina Turner de Martin naquela noite. “Minha música é tudo que eu sempre quis fazer, mas esses vídeos são como uma grande sobremesa na minha vida”, ele disse. “Eu vivo para eles, de verdade.”

A maioria dos influenciadores do TikTok que vivem nas chamadas casas de colaboração - mansões onde filmam conteúdo juntos - mal tem idade suficiente para assinar legalmente um aluguel. Mas os Old Gays e seus colegas influenciadores são a prova de que gravar vídeos virais sob o mesmo teto não é algo reservado para os jovens. E embora esses influenciadores seniores possam estar atuando para a câmera, eles também estão compartilhando uma nova visão do que significa viver significativamente com a idade.

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Em 2030, 70 milhões de pessoas nos Estados Unidos terão mais de 65 anos, segundo dados do censo; pela primeira vez, o país terá mais idosos do que crianças. A maioria dos americanos mais velhos vive sozinho ou com apenas um parceiro, de acordo com uma pesquisa do Pew. E eles querem continuar assim: uma pesquisa recente da AARP descobriu que 86% das pessoas com mais de 65 anos querem envelhecer em casa em vez de em uma casa de repouso.

Mas para as pessoas que perderam a mobilidade, o custo crescente do atendimento domiciliar pode ser proibitivo. Mesmo aqueles que conseguem se virar sem apoio enfrentam maiores riscos de solidão e depressão. Em vez de depender de parentes mais jovens ou estranhos contratados para os cuidados e para ter companhia, por que não recorrer uns aos outros?

“À medida que você chega à velhice, mudar para uma casa de repouso é o que se espera, e muitas pessoas mais velhas compram essa ideia”, disse Reeves. “O que estamos fazendo, através da força de nossas amizades e nosso apoio mútuo, está mudando o curso da maneira como cada um vive sua vida.”

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Família escolhida

Quando os Old Gays começaram a postar no TikTok, em dezembro de 2020, os quatro homens já tinham meio século de amizade entre eles. Reeves e Lyons se conheceram em San Francisco na década de 1980. Em 2013, Peterson respondeu ao anúncio de Reeves no Craiglist para um quarto em uma casa amigável para gays e nudistas. Em 2014, Martin se mudou para uma casa do outro lado da rua.

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Alguns anos depois, um vizinho mais novo, Ryan Yezak, 35, que conversou com os homens durante suas caminhadas com seu cachorro aos sábados de manhã, sugeriu que filmassem alguns vídeos para o Grindr, onde Yezak trabalhava. Logo, porém, os homens estavam prontos para levar seus talentos a uma plataforma maior.

Hoje, eles têm 7,1 milhões de seguidores no TikTok e algumas centenas de milhares no Instagram, entre eles Rihanna, Jessica Alba, Rosie O’Donnell, Drew Barrymore e Lance Bass. Eles se encontram à beira da piscina todos os dias da semana por volta das 10h30, ensaiando e gravando vídeos que Yezak edita e publica.

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Embora a internet recompense o que é ousado, o apelo dos Old Gays ultrapassa o choque e toca em algo muito mais doce. Quando Reeves tem uma consulta médica, Lyons o leva; Martin cobre os olhos com os comentários atrevidos de Peterson; Yezak e Lyons discutem sobre a limpeza da piscina.

“Sim, temos nossos momentos em família”, disse Martin. “Mas eu realmente me importo com esta pequena unidade.”

O papel de uma vida

Adi Azran, 27, produtor de conteúdo da Flighthouse Media, um estúdio que faz vídeos do TikTok, sentiu que havia alcançado uma epifania criativa em junho, quando mostrou ao colega Brandon Chase, 25, um vídeo de @ourfilipinograndma, no qual uma vovó mostra algumas cantadas e chegou a 12,3 milhões de visualizações.

“Eu fiquei tipo, ‘Cara - os idosos’”, disse Azran. “E ele teve a visão.”

Nos meses seguintes, Azran e Chase planejaram uma série roteirizada sobre vários aposentados vivendo sob o mesmo teto e escalaram os papéis através de centenas de testes; se o sucesso de “Supergatas” ou “Grace e Frankie” fosse um indicador, eles tinham um sucesso nas mãos. Mas o plano mudou após a primeira filmagem com os atores. “Nós ligamos para eles e dissemos: ‘Estamos jogando tudo pela janela’”, disse Chase. “‘Vocês podem ser vocês mesmos daqui em diante.’”

Então, o que você ganha quando dá a seis idosos e dois jovens produtores um ring light e uma plataforma no TikTok? Os vídeos da Retirement House (Casa de repouso) são mais bobos do que chocantes: dublar músicas populares, pregar peças uns nos outros. E embora as cenas ainda sejam um pouco roteirizadas, elas se afastam dos papéis anteriores dos atores.

“Atuo há 30 anos e fiz um bocado de coisas”, disse Monterey Morrissey, 71. “E aqui estou eu fazendo 10 segundos em um iPhone, e 3,5 milhões de pessoas assistem.” (O grupo tem 3,6 milhões de seguidores no TikTok e 184.000 no Instagram.)

Gaylynn Baker, 85 anos, começou sua carreira de atriz aos 19 anos, quando se mudou da pequena cidade do Texas para Nova York e se juntou ao coro do “The Steve Allen Show” na década de 1950. Sessenta e cinco anos depois, ela finalmente encontrou sua grande chance, realizando truques bobos para vídeos de seis segundos assistidos em smartphones ao redor do mundo, em um momento da vida em que a maioria das pessoas não quer mais trabalhar.

“A ironia, claro, é que estamos na Retirement House, mas não tenho nada de que me aposentar”, ela disse. “Estou tendo um ótimo momento.”

‘Que o Melhor Seja o Último’

Ao mesmo tempo, mais de 1 milhão de idosos nos Estados Unidos vivem em lares de idosos - e alguns deles também estão viralizando no TikTok.

“No começo, era apenas uma pequena brincadeira”, disse Lou Scott, 78 anos, que mora no Burr Ridge Senior Living em Burr Ridge, Illinois. “Então viralizou e eu pensei: Ei, talvez eu tenha um talento escondido”. Ele é um convidado regular do Spectrum Retirement TikTok (93.000 seguidores), que é produzido por uma empresa chamada Spectrum Retirement Communities e apresenta residentes de suas instalações de idosos em todo o país.

Scott gravou seu primeiro vídeo logo depois de um mês sozinho em seu apartamento, e a resposta o surpreendeu: milhares de curtidas e comentários de espectadores pedindo que ele fosse seu avô e esperando ser como ele quando forem mais velhos. “Isso me trouxe pessoas”, ele disse. “Quando você fica curioso, mantém sua mente funcionando, seu corpo funcionando.”

Os vídeos da Spectrum Retirement oferecem uma visão mais modesta do envelhecimento na vida comunitária do que seus colegas de Hollywood - brincadeiras no lugar de festas no pátio com palmeiras; luzes fluorescentes em vez de ring lights. Mas eles articulam a mesma mensagem profunda. “As pessoas ainda são pessoas quando vivem em um lar de idosos”, disse Scott.

Baker espera mostrar a humanidade e a alegria de envelhecer em seus vídeos da Retirement House. “Ser sortuda o suficiente para ter o último capítulo de sua vida sendo o melhor capítulo de sua vida?” ela disse. “Se você tem alguma palavra a dizer, pelo amor de Deus, faça com que o melhor seja o último.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - CATHEDRAL CITY, Califórnia - Robert Reeves, 78 anos, passa a maior parte dos dias descansando à beira da piscina, aproveitando o sol do deserto com seus amigos e vizinhos. Os quatro falam sobre as novidades - a recuperação de uma cirurgia corretiva recente no pé, alguns problemas de inflamação crônica - e gravam vídeos para as redes sociais, onde acumularam milhões de seguidores como os Old Gays.

Em uma tarde escaldante deste mês, Jessay Martin, 68, atravessou a rua para a habitual conversa à beira da piscina, parando para pegar um Bud Light Seltzer de abacaxi na geladeira a caminho do pátio. Lá, ele se sentou em uma cadeira estofada ao lado de uma escultura de madeira bem dotada da forma masculina e esfregou protetor solar em sua careca enquanto o grupo discutia o conceito do vídeo do dia: uma mudança no figurino definido para o single First Class do rapper Jack Harlow.

Bill Lyons, 78, Jessay Martin, 68, Robert Reeves, 78, e Mick Peterson, 66, formam os The Old Gays, grupo que se diverte nas redes sociais.  Foto: Reprodução/Instagram

“Preciso usar uma roupa de baixo linda para isso”, disse Martin. “Eu preciso dos meus babados na cintura.”

Não foi o primeiro vídeo drag que eles fizeram, disse Bill Lyons, 78 anos, enquanto tomava um gole de seu achocolatado Sure. Ele ergueu as sobrancelhas e disse em um sussurro: “Bob não usou roupa de baixo”.

“Ah, não”, disse Mick Peterson, 66, baixinho.

Martin riu e disse: “Bem, ele estava com uma saia volumosa!” Reeves, o Bob em questão, arregalou os olhos e fingiu inocência, olhando para as sombras das palmeiras brilhando em sua piscina azul.

Os Old Gays estavam atrasados. Eles ainda tinham que aprender uma dança e filmar uma tomada útil antes do show cover de Tina Turner de Martin naquela noite. “Minha música é tudo que eu sempre quis fazer, mas esses vídeos são como uma grande sobremesa na minha vida”, ele disse. “Eu vivo para eles, de verdade.”

A maioria dos influenciadores do TikTok que vivem nas chamadas casas de colaboração - mansões onde filmam conteúdo juntos - mal tem idade suficiente para assinar legalmente um aluguel. Mas os Old Gays e seus colegas influenciadores são a prova de que gravar vídeos virais sob o mesmo teto não é algo reservado para os jovens. E embora esses influenciadores seniores possam estar atuando para a câmera, eles também estão compartilhando uma nova visão do que significa viver significativamente com a idade.

Em 2030, 70 milhões de pessoas nos Estados Unidos terão mais de 65 anos, segundo dados do censo; pela primeira vez, o país terá mais idosos do que crianças. A maioria dos americanos mais velhos vive sozinho ou com apenas um parceiro, de acordo com uma pesquisa do Pew. E eles querem continuar assim: uma pesquisa recente da AARP descobriu que 86% das pessoas com mais de 65 anos querem envelhecer em casa em vez de em uma casa de repouso.

Mas para as pessoas que perderam a mobilidade, o custo crescente do atendimento domiciliar pode ser proibitivo. Mesmo aqueles que conseguem se virar sem apoio enfrentam maiores riscos de solidão e depressão. Em vez de depender de parentes mais jovens ou estranhos contratados para os cuidados e para ter companhia, por que não recorrer uns aos outros?

“À medida que você chega à velhice, mudar para uma casa de repouso é o que se espera, e muitas pessoas mais velhas compram essa ideia”, disse Reeves. “O que estamos fazendo, através da força de nossas amizades e nosso apoio mútuo, está mudando o curso da maneira como cada um vive sua vida.”

Família escolhida

Quando os Old Gays começaram a postar no TikTok, em dezembro de 2020, os quatro homens já tinham meio século de amizade entre eles. Reeves e Lyons se conheceram em San Francisco na década de 1980. Em 2013, Peterson respondeu ao anúncio de Reeves no Craiglist para um quarto em uma casa amigável para gays e nudistas. Em 2014, Martin se mudou para uma casa do outro lado da rua.

Alguns anos depois, um vizinho mais novo, Ryan Yezak, 35, que conversou com os homens durante suas caminhadas com seu cachorro aos sábados de manhã, sugeriu que filmassem alguns vídeos para o Grindr, onde Yezak trabalhava. Logo, porém, os homens estavam prontos para levar seus talentos a uma plataforma maior.

Hoje, eles têm 7,1 milhões de seguidores no TikTok e algumas centenas de milhares no Instagram, entre eles Rihanna, Jessica Alba, Rosie O’Donnell, Drew Barrymore e Lance Bass. Eles se encontram à beira da piscina todos os dias da semana por volta das 10h30, ensaiando e gravando vídeos que Yezak edita e publica.

Embora a internet recompense o que é ousado, o apelo dos Old Gays ultrapassa o choque e toca em algo muito mais doce. Quando Reeves tem uma consulta médica, Lyons o leva; Martin cobre os olhos com os comentários atrevidos de Peterson; Yezak e Lyons discutem sobre a limpeza da piscina.

“Sim, temos nossos momentos em família”, disse Martin. “Mas eu realmente me importo com esta pequena unidade.”

O papel de uma vida

Adi Azran, 27, produtor de conteúdo da Flighthouse Media, um estúdio que faz vídeos do TikTok, sentiu que havia alcançado uma epifania criativa em junho, quando mostrou ao colega Brandon Chase, 25, um vídeo de @ourfilipinograndma, no qual uma vovó mostra algumas cantadas e chegou a 12,3 milhões de visualizações.

“Eu fiquei tipo, ‘Cara - os idosos’”, disse Azran. “E ele teve a visão.”

Nos meses seguintes, Azran e Chase planejaram uma série roteirizada sobre vários aposentados vivendo sob o mesmo teto e escalaram os papéis através de centenas de testes; se o sucesso de “Supergatas” ou “Grace e Frankie” fosse um indicador, eles tinham um sucesso nas mãos. Mas o plano mudou após a primeira filmagem com os atores. “Nós ligamos para eles e dissemos: ‘Estamos jogando tudo pela janela’”, disse Chase. “‘Vocês podem ser vocês mesmos daqui em diante.’”

Então, o que você ganha quando dá a seis idosos e dois jovens produtores um ring light e uma plataforma no TikTok? Os vídeos da Retirement House (Casa de repouso) são mais bobos do que chocantes: dublar músicas populares, pregar peças uns nos outros. E embora as cenas ainda sejam um pouco roteirizadas, elas se afastam dos papéis anteriores dos atores.

“Atuo há 30 anos e fiz um bocado de coisas”, disse Monterey Morrissey, 71. “E aqui estou eu fazendo 10 segundos em um iPhone, e 3,5 milhões de pessoas assistem.” (O grupo tem 3,6 milhões de seguidores no TikTok e 184.000 no Instagram.)

Gaylynn Baker, 85 anos, começou sua carreira de atriz aos 19 anos, quando se mudou da pequena cidade do Texas para Nova York e se juntou ao coro do “The Steve Allen Show” na década de 1950. Sessenta e cinco anos depois, ela finalmente encontrou sua grande chance, realizando truques bobos para vídeos de seis segundos assistidos em smartphones ao redor do mundo, em um momento da vida em que a maioria das pessoas não quer mais trabalhar.

“A ironia, claro, é que estamos na Retirement House, mas não tenho nada de que me aposentar”, ela disse. “Estou tendo um ótimo momento.”

‘Que o Melhor Seja o Último’

Ao mesmo tempo, mais de 1 milhão de idosos nos Estados Unidos vivem em lares de idosos - e alguns deles também estão viralizando no TikTok.

“No começo, era apenas uma pequena brincadeira”, disse Lou Scott, 78 anos, que mora no Burr Ridge Senior Living em Burr Ridge, Illinois. “Então viralizou e eu pensei: Ei, talvez eu tenha um talento escondido”. Ele é um convidado regular do Spectrum Retirement TikTok (93.000 seguidores), que é produzido por uma empresa chamada Spectrum Retirement Communities e apresenta residentes de suas instalações de idosos em todo o país.

Scott gravou seu primeiro vídeo logo depois de um mês sozinho em seu apartamento, e a resposta o surpreendeu: milhares de curtidas e comentários de espectadores pedindo que ele fosse seu avô e esperando ser como ele quando forem mais velhos. “Isso me trouxe pessoas”, ele disse. “Quando você fica curioso, mantém sua mente funcionando, seu corpo funcionando.”

Os vídeos da Spectrum Retirement oferecem uma visão mais modesta do envelhecimento na vida comunitária do que seus colegas de Hollywood - brincadeiras no lugar de festas no pátio com palmeiras; luzes fluorescentes em vez de ring lights. Mas eles articulam a mesma mensagem profunda. “As pessoas ainda são pessoas quando vivem em um lar de idosos”, disse Scott.

Baker espera mostrar a humanidade e a alegria de envelhecer em seus vídeos da Retirement House. “Ser sortuda o suficiente para ter o último capítulo de sua vida sendo o melhor capítulo de sua vida?” ela disse. “Se você tem alguma palavra a dizer, pelo amor de Deus, faça com que o melhor seja o último.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - CATHEDRAL CITY, Califórnia - Robert Reeves, 78 anos, passa a maior parte dos dias descansando à beira da piscina, aproveitando o sol do deserto com seus amigos e vizinhos. Os quatro falam sobre as novidades - a recuperação de uma cirurgia corretiva recente no pé, alguns problemas de inflamação crônica - e gravam vídeos para as redes sociais, onde acumularam milhões de seguidores como os Old Gays.

Em uma tarde escaldante deste mês, Jessay Martin, 68, atravessou a rua para a habitual conversa à beira da piscina, parando para pegar um Bud Light Seltzer de abacaxi na geladeira a caminho do pátio. Lá, ele se sentou em uma cadeira estofada ao lado de uma escultura de madeira bem dotada da forma masculina e esfregou protetor solar em sua careca enquanto o grupo discutia o conceito do vídeo do dia: uma mudança no figurino definido para o single First Class do rapper Jack Harlow.

Bill Lyons, 78, Jessay Martin, 68, Robert Reeves, 78, e Mick Peterson, 66, formam os The Old Gays, grupo que se diverte nas redes sociais.  Foto: Reprodução/Instagram

“Preciso usar uma roupa de baixo linda para isso”, disse Martin. “Eu preciso dos meus babados na cintura.”

Não foi o primeiro vídeo drag que eles fizeram, disse Bill Lyons, 78 anos, enquanto tomava um gole de seu achocolatado Sure. Ele ergueu as sobrancelhas e disse em um sussurro: “Bob não usou roupa de baixo”.

“Ah, não”, disse Mick Peterson, 66, baixinho.

Martin riu e disse: “Bem, ele estava com uma saia volumosa!” Reeves, o Bob em questão, arregalou os olhos e fingiu inocência, olhando para as sombras das palmeiras brilhando em sua piscina azul.

Os Old Gays estavam atrasados. Eles ainda tinham que aprender uma dança e filmar uma tomada útil antes do show cover de Tina Turner de Martin naquela noite. “Minha música é tudo que eu sempre quis fazer, mas esses vídeos são como uma grande sobremesa na minha vida”, ele disse. “Eu vivo para eles, de verdade.”

A maioria dos influenciadores do TikTok que vivem nas chamadas casas de colaboração - mansões onde filmam conteúdo juntos - mal tem idade suficiente para assinar legalmente um aluguel. Mas os Old Gays e seus colegas influenciadores são a prova de que gravar vídeos virais sob o mesmo teto não é algo reservado para os jovens. E embora esses influenciadores seniores possam estar atuando para a câmera, eles também estão compartilhando uma nova visão do que significa viver significativamente com a idade.

Em 2030, 70 milhões de pessoas nos Estados Unidos terão mais de 65 anos, segundo dados do censo; pela primeira vez, o país terá mais idosos do que crianças. A maioria dos americanos mais velhos vive sozinho ou com apenas um parceiro, de acordo com uma pesquisa do Pew. E eles querem continuar assim: uma pesquisa recente da AARP descobriu que 86% das pessoas com mais de 65 anos querem envelhecer em casa em vez de em uma casa de repouso.

Mas para as pessoas que perderam a mobilidade, o custo crescente do atendimento domiciliar pode ser proibitivo. Mesmo aqueles que conseguem se virar sem apoio enfrentam maiores riscos de solidão e depressão. Em vez de depender de parentes mais jovens ou estranhos contratados para os cuidados e para ter companhia, por que não recorrer uns aos outros?

“À medida que você chega à velhice, mudar para uma casa de repouso é o que se espera, e muitas pessoas mais velhas compram essa ideia”, disse Reeves. “O que estamos fazendo, através da força de nossas amizades e nosso apoio mútuo, está mudando o curso da maneira como cada um vive sua vida.”

Família escolhida

Quando os Old Gays começaram a postar no TikTok, em dezembro de 2020, os quatro homens já tinham meio século de amizade entre eles. Reeves e Lyons se conheceram em San Francisco na década de 1980. Em 2013, Peterson respondeu ao anúncio de Reeves no Craiglist para um quarto em uma casa amigável para gays e nudistas. Em 2014, Martin se mudou para uma casa do outro lado da rua.

Alguns anos depois, um vizinho mais novo, Ryan Yezak, 35, que conversou com os homens durante suas caminhadas com seu cachorro aos sábados de manhã, sugeriu que filmassem alguns vídeos para o Grindr, onde Yezak trabalhava. Logo, porém, os homens estavam prontos para levar seus talentos a uma plataforma maior.

Hoje, eles têm 7,1 milhões de seguidores no TikTok e algumas centenas de milhares no Instagram, entre eles Rihanna, Jessica Alba, Rosie O’Donnell, Drew Barrymore e Lance Bass. Eles se encontram à beira da piscina todos os dias da semana por volta das 10h30, ensaiando e gravando vídeos que Yezak edita e publica.

Embora a internet recompense o que é ousado, o apelo dos Old Gays ultrapassa o choque e toca em algo muito mais doce. Quando Reeves tem uma consulta médica, Lyons o leva; Martin cobre os olhos com os comentários atrevidos de Peterson; Yezak e Lyons discutem sobre a limpeza da piscina.

“Sim, temos nossos momentos em família”, disse Martin. “Mas eu realmente me importo com esta pequena unidade.”

O papel de uma vida

Adi Azran, 27, produtor de conteúdo da Flighthouse Media, um estúdio que faz vídeos do TikTok, sentiu que havia alcançado uma epifania criativa em junho, quando mostrou ao colega Brandon Chase, 25, um vídeo de @ourfilipinograndma, no qual uma vovó mostra algumas cantadas e chegou a 12,3 milhões de visualizações.

“Eu fiquei tipo, ‘Cara - os idosos’”, disse Azran. “E ele teve a visão.”

Nos meses seguintes, Azran e Chase planejaram uma série roteirizada sobre vários aposentados vivendo sob o mesmo teto e escalaram os papéis através de centenas de testes; se o sucesso de “Supergatas” ou “Grace e Frankie” fosse um indicador, eles tinham um sucesso nas mãos. Mas o plano mudou após a primeira filmagem com os atores. “Nós ligamos para eles e dissemos: ‘Estamos jogando tudo pela janela’”, disse Chase. “‘Vocês podem ser vocês mesmos daqui em diante.’”

Então, o que você ganha quando dá a seis idosos e dois jovens produtores um ring light e uma plataforma no TikTok? Os vídeos da Retirement House (Casa de repouso) são mais bobos do que chocantes: dublar músicas populares, pregar peças uns nos outros. E embora as cenas ainda sejam um pouco roteirizadas, elas se afastam dos papéis anteriores dos atores.

“Atuo há 30 anos e fiz um bocado de coisas”, disse Monterey Morrissey, 71. “E aqui estou eu fazendo 10 segundos em um iPhone, e 3,5 milhões de pessoas assistem.” (O grupo tem 3,6 milhões de seguidores no TikTok e 184.000 no Instagram.)

Gaylynn Baker, 85 anos, começou sua carreira de atriz aos 19 anos, quando se mudou da pequena cidade do Texas para Nova York e se juntou ao coro do “The Steve Allen Show” na década de 1950. Sessenta e cinco anos depois, ela finalmente encontrou sua grande chance, realizando truques bobos para vídeos de seis segundos assistidos em smartphones ao redor do mundo, em um momento da vida em que a maioria das pessoas não quer mais trabalhar.

“A ironia, claro, é que estamos na Retirement House, mas não tenho nada de que me aposentar”, ela disse. “Estou tendo um ótimo momento.”

‘Que o Melhor Seja o Último’

Ao mesmo tempo, mais de 1 milhão de idosos nos Estados Unidos vivem em lares de idosos - e alguns deles também estão viralizando no TikTok.

“No começo, era apenas uma pequena brincadeira”, disse Lou Scott, 78 anos, que mora no Burr Ridge Senior Living em Burr Ridge, Illinois. “Então viralizou e eu pensei: Ei, talvez eu tenha um talento escondido”. Ele é um convidado regular do Spectrum Retirement TikTok (93.000 seguidores), que é produzido por uma empresa chamada Spectrum Retirement Communities e apresenta residentes de suas instalações de idosos em todo o país.

Scott gravou seu primeiro vídeo logo depois de um mês sozinho em seu apartamento, e a resposta o surpreendeu: milhares de curtidas e comentários de espectadores pedindo que ele fosse seu avô e esperando ser como ele quando forem mais velhos. “Isso me trouxe pessoas”, ele disse. “Quando você fica curioso, mantém sua mente funcionando, seu corpo funcionando.”

Os vídeos da Spectrum Retirement oferecem uma visão mais modesta do envelhecimento na vida comunitária do que seus colegas de Hollywood - brincadeiras no lugar de festas no pátio com palmeiras; luzes fluorescentes em vez de ring lights. Mas eles articulam a mesma mensagem profunda. “As pessoas ainda são pessoas quando vivem em um lar de idosos”, disse Scott.

Baker espera mostrar a humanidade e a alegria de envelhecer em seus vídeos da Retirement House. “Ser sortuda o suficiente para ter o último capítulo de sua vida sendo o melhor capítulo de sua vida?” ela disse. “Se você tem alguma palavra a dizer, pelo amor de Deus, faça com que o melhor seja o último.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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