Japão precisa de trabalhadores na área de tecnologia; há lugar para mulheres?


O país se esforça para se modernizar digitalmente, mas uma das lacunas de gênero mais gritantes do mundo desenvolvido está impedindo-o

Por Malcolm Foster

TOKIO - Se Anna Matsumoto tivesse ouvido seus professores, ela teria reprimido sua mente curiosa - fazer perguntas, eles disseram a ela, interrompe a aula. E quando, aos 15 anos, ela teve que escolher um curso de estudo durante o ensino médio japonês, ela teria evitado ciências, um caminho que seus professores diziam ser difícil para as meninas.

Anna Matsumoto está indo para os EUA para estudar engenharia e interação humano-computador. Foto: Shiho Fukada/The New York Times

Na contramão, Matsumoto planeja se tornar uma engenheira. O Japão poderia usar muito mais mulheres jovens como ela.

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Apesar de sua imagem experiente em tecnologia e peso econômico, o país é um retardatário digital, com uma cultura tradicional de escritório em que aparelhos de fax e carimbos pessoais conhecidos como hanko permanecem comuns. A pandemia reforçou a necessidade urgente de modernização, acelerando um esforço de transformação digital promovido pelo primeiro-ministro Yoshihide Suga, incluindo a abertura de uma nova Agência Digital destinada a melhorar os serviços online notoriamente emperrados do governo.

Para diminuir a lacuna, o Japão deve tratar de uma grave escassez de trabalhadores de tecnologia e estudantes de engenharia, um déficit agravado pela grande ausência de mulheres. Nos programas universitários que produzem trabalhadores nessas áreas, o Japão tem um dos percentuais mais baixos de mulheres no mundo desenvolvido, de acordo com dados da Unesco. Ele também tem uma das menores proporções de mulheres fazendo pesquisas em ciência e tecnologia.

Melhorar a situação dependerá, em parte, da sociedade japonesa se afastar da ideia de que a tecnologia é um domínio estritamente masculino. É uma atitude reforçada em histórias em quadrinhos e programas de TV e perpetuada em alguns lares, onde os pais temem que as filhas que se tornam cientistas ou engenheiras não se casem.

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Para Matsumoto, manter as mulheres fora da tecnologia é um desperdício e algo ilógico. “Metade da população mundial são mulheres”, disse Matsumoto, 18, que irá para a Universidade de Stanford neste outono e pretende estudar a interação entre humanos e computadores. "É tão ineficiente pensar que só homens estão mudando o mundo."

Com sua população diminuindo e envelhecendo e sua força de trabalho em declínio, o Japão tem pouco espaço para desperdiçar qualquer talento.

O Ministério da Economia, Comércio e Indústria projeta um déficit de 450.000 profissionais de tecnologia da informação no Japão até 2030. Ele comparou a situação a um "penhasco digital" surgindo perante a terceira maior economia do mundo.

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No Ranking Mundial de Competitividade Digital realizado pelo International Institute for Management Development, o Japão ocupa o 27º lugar globalmente e o sétimo na Ásia, atrás de países como Cingapura, China e Coréia do Sul.

O novo impulso digital do Japão pode oferecer uma oportunidade para alavancar suas mulheres. Mas também pode deixá-las ainda mais para trás.

Globalmente, as mulheres perdem mais do que os homens à medida que a automatização assume empregos pouco qualificados, de acordo com o Relatório Científico da Unesco de 2021, publicado em Junho. As mulheres também têm menos oportunidades de adquirir competências nos campos cada vez mais exigentes da inteligência artificial, aprendizagem de máquinas e engenharia de dados, diz o relatório.

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“Devido à digitalização, alguns empregos desaparecerão e as mulheres provavelmente serão mais afetadas do que os homens”, disse Takako Hashimoto, uma ex-engenheira de software da Ricoh que agora é vice-presidente da Universidade de Comércio de Chiba e delegado do W-20, que assessora o grupo dos 20 maiores países sobre questões femininas. “Portanto, há uma oportunidade aqui, mas também um perigo.”

Hashimoto observou que havia poucos programas governamentais no Japão que procuravam atrair as mulheres para a tecnologia. O governo japonês deve estabelecer programas de retreinamento tecnológico para mulheres que desejam voltar a trabalhar depois de ficarem em casa para criar os filhos, ela disse. Outros sugeriram bolsas de estudo expressamente para estudantes do sexo feminino que desejam estudar ciências ou engenharia.

“O governo precisa assumir a liderança nisso”, ela disse. “Na verdade, ainda não associaram a digitalização à igualdade de gênero.”

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Para ajudar a preparar os jovens para o futuro digital, o governo japonês tornou as aulas de programação de computadores obrigatórias nas escolas primárias no ano passado.

Asumi Saito, co-fundadora de uma organização sem fins lucrativos que administra acampamentos tecnológicos de um dia para meninas do ensino fundamental e médio. Foto: Shiho Fukada/The New York Times

Haruka Fujiwara, uma professora em Tsukuba, ao norte de Tóquio, que tem ensinado e coordenado aulas de programação, disse que não viu nenhuma diferença no entusiasmo ou habilidade entre meninas e meninos.

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Aos 15 anos, meninas e meninos japoneses têm desempenho igualmente bom em matemática e ciências em testes padronizados internacionais. Mas neste ponto crítico, quando os alunos devem escolher entre ciências e humanidades no ensino médio, o interesse e a confiança das meninas em matemática e ciências diminuem repentinamente, segundo pesquisas e dados.

Este é o início do "cano furado" do Japão em tecnologia e ciência - quanto maior o nível educacional, menos mulheres, um fenômeno que existe em muitos países. Mas, no caso do Japão, isso se reduz a uma gota, ocasionando uma escassez de mulheres nas escolas de pós-graduação que produzem os maiores talentos em ciência do país.

As mulheres representam 14% dos graduados em programas de engenharia japoneses e 25,8% nas ciências naturais, segundo dados da Unesco. Nos Estados Unidos, os números são de 20,4% e 52,5%, e na Índia são de 30,8% e 51,4%.

Para ajudar a mudar essa tendência e criar um espaço para adolescentes conversarem sobre seu futuro, duas mulheres com formação na área científica, Asumi Saito e Sayaka Tanaka, fundaram juntas uma organização sem fins lucrativos chamada Waffle, que administra acampamentos de tecnologia de um dia para meninas do ensino fundamental e médio.

Saito, 30, e outros oferecem palestras sobre carreira e experiências práticas que enfatizam a solução de problemas, a comunidade e o empreendedorismo para combater a imagem estereotipada de geek da tecnologia.

“Nosso objetivo é eliminar a lacuna de gênero capacitando e educando mulheres na área de tecnologia”, disse Saito, que tem mestrado em análise de dados pela Universidade do Arizona. “Pensamos na tecnologia como uma ferramenta. Depois de obter essa ferramenta e se capacitar, você pode causar um impacto no mundo. ”

A Waffle apoiou 23 equipes, totalizando 75 adolescentes em um concurso de criação de aplicativos - incluindo Matsumoto, cuja equipe de três pessoas criou um aplicativo chamado Household Heroes. Ele divide as tarefas domésticas entre os membros da família e recompensa aqueles que terminam as tarefas adicionando itens a um personagem semelhante a um fofo Pokémon.

“A divisão do trabalho baseada no sexo está profundamente enraizada”, disse Matsumoto. “Para mudar a cabeça das pessoas, decidimos desenvolver este aplicativo.”

As mesmas expectativas culturais também se estendem à criação dos filhos, levando muitas mulheres a abandonar o emprego após o parto. Isso faz com que menos mulheres cheguem a cargos de liderança ou contribuam para inovações tecnológicas.

Megumi Moss, uma ex-funcionária da Sony, disse que sentiu que deveria escolher entre sua carreira e sua família.

Por 10 anos, Moss teve um trabalho exigente, mas recompensador, frequentemente voltando para casa no último trem pouco antes da meia-noite apenas para acordar cedo na manhã seguinte e repetir o ciclo.

Quando ela e seu marido americano, um banqueiro de investimentos, decidiram ter filhos, ela largou seu emprego na Sony. Mas, alguns meses antes de dar à luz sua filha, ela começou um negócio online, o CareFinder, que ajuda a aliviar os deveres das mulheres com os filhos, dividindo-os com babás pré-selecionadas.

“Sinto que estou tratando de um problema social e ajudando a aliviar o fardo que as mulheres carregam”, disse Moss, 45. “Isso é realmente gratificante”.

Matsumoto disse que também queria tornar a vida melhor para meninas e mulheres no Japão.

Um pouco rebelde contra as expectativas culturais do país, ela pintou o cabelo com um rosa brilhante após sua formatura - algo proibido nas escolas de ensino médio japonesas. Ela disse que decidiu fazer faculdade nos EUA depois de saber que não teria problemas por fazer perguntas em salas de aula americanas.

Eventualmente, ela quer voltar para sua terra natal no sul da ilha de Shikoku "porque eu odiava lá", ela disse. “Quero voltar lá para ajudar a criar uma sociedade que não deixe as meninas sofrerem como eu sofri.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

TOKIO - Se Anna Matsumoto tivesse ouvido seus professores, ela teria reprimido sua mente curiosa - fazer perguntas, eles disseram a ela, interrompe a aula. E quando, aos 15 anos, ela teve que escolher um curso de estudo durante o ensino médio japonês, ela teria evitado ciências, um caminho que seus professores diziam ser difícil para as meninas.

Anna Matsumoto está indo para os EUA para estudar engenharia e interação humano-computador. Foto: Shiho Fukada/The New York Times

Na contramão, Matsumoto planeja se tornar uma engenheira. O Japão poderia usar muito mais mulheres jovens como ela.

Apesar de sua imagem experiente em tecnologia e peso econômico, o país é um retardatário digital, com uma cultura tradicional de escritório em que aparelhos de fax e carimbos pessoais conhecidos como hanko permanecem comuns. A pandemia reforçou a necessidade urgente de modernização, acelerando um esforço de transformação digital promovido pelo primeiro-ministro Yoshihide Suga, incluindo a abertura de uma nova Agência Digital destinada a melhorar os serviços online notoriamente emperrados do governo.

Para diminuir a lacuna, o Japão deve tratar de uma grave escassez de trabalhadores de tecnologia e estudantes de engenharia, um déficit agravado pela grande ausência de mulheres. Nos programas universitários que produzem trabalhadores nessas áreas, o Japão tem um dos percentuais mais baixos de mulheres no mundo desenvolvido, de acordo com dados da Unesco. Ele também tem uma das menores proporções de mulheres fazendo pesquisas em ciência e tecnologia.

Melhorar a situação dependerá, em parte, da sociedade japonesa se afastar da ideia de que a tecnologia é um domínio estritamente masculino. É uma atitude reforçada em histórias em quadrinhos e programas de TV e perpetuada em alguns lares, onde os pais temem que as filhas que se tornam cientistas ou engenheiras não se casem.

Para Matsumoto, manter as mulheres fora da tecnologia é um desperdício e algo ilógico. “Metade da população mundial são mulheres”, disse Matsumoto, 18, que irá para a Universidade de Stanford neste outono e pretende estudar a interação entre humanos e computadores. "É tão ineficiente pensar que só homens estão mudando o mundo."

Com sua população diminuindo e envelhecendo e sua força de trabalho em declínio, o Japão tem pouco espaço para desperdiçar qualquer talento.

O Ministério da Economia, Comércio e Indústria projeta um déficit de 450.000 profissionais de tecnologia da informação no Japão até 2030. Ele comparou a situação a um "penhasco digital" surgindo perante a terceira maior economia do mundo.

No Ranking Mundial de Competitividade Digital realizado pelo International Institute for Management Development, o Japão ocupa o 27º lugar globalmente e o sétimo na Ásia, atrás de países como Cingapura, China e Coréia do Sul.

O novo impulso digital do Japão pode oferecer uma oportunidade para alavancar suas mulheres. Mas também pode deixá-las ainda mais para trás.

Globalmente, as mulheres perdem mais do que os homens à medida que a automatização assume empregos pouco qualificados, de acordo com o Relatório Científico da Unesco de 2021, publicado em Junho. As mulheres também têm menos oportunidades de adquirir competências nos campos cada vez mais exigentes da inteligência artificial, aprendizagem de máquinas e engenharia de dados, diz o relatório.

“Devido à digitalização, alguns empregos desaparecerão e as mulheres provavelmente serão mais afetadas do que os homens”, disse Takako Hashimoto, uma ex-engenheira de software da Ricoh que agora é vice-presidente da Universidade de Comércio de Chiba e delegado do W-20, que assessora o grupo dos 20 maiores países sobre questões femininas. “Portanto, há uma oportunidade aqui, mas também um perigo.”

Hashimoto observou que havia poucos programas governamentais no Japão que procuravam atrair as mulheres para a tecnologia. O governo japonês deve estabelecer programas de retreinamento tecnológico para mulheres que desejam voltar a trabalhar depois de ficarem em casa para criar os filhos, ela disse. Outros sugeriram bolsas de estudo expressamente para estudantes do sexo feminino que desejam estudar ciências ou engenharia.

“O governo precisa assumir a liderança nisso”, ela disse. “Na verdade, ainda não associaram a digitalização à igualdade de gênero.”

Para ajudar a preparar os jovens para o futuro digital, o governo japonês tornou as aulas de programação de computadores obrigatórias nas escolas primárias no ano passado.

Asumi Saito, co-fundadora de uma organização sem fins lucrativos que administra acampamentos tecnológicos de um dia para meninas do ensino fundamental e médio. Foto: Shiho Fukada/The New York Times

Haruka Fujiwara, uma professora em Tsukuba, ao norte de Tóquio, que tem ensinado e coordenado aulas de programação, disse que não viu nenhuma diferença no entusiasmo ou habilidade entre meninas e meninos.

Aos 15 anos, meninas e meninos japoneses têm desempenho igualmente bom em matemática e ciências em testes padronizados internacionais. Mas neste ponto crítico, quando os alunos devem escolher entre ciências e humanidades no ensino médio, o interesse e a confiança das meninas em matemática e ciências diminuem repentinamente, segundo pesquisas e dados.

Este é o início do "cano furado" do Japão em tecnologia e ciência - quanto maior o nível educacional, menos mulheres, um fenômeno que existe em muitos países. Mas, no caso do Japão, isso se reduz a uma gota, ocasionando uma escassez de mulheres nas escolas de pós-graduação que produzem os maiores talentos em ciência do país.

As mulheres representam 14% dos graduados em programas de engenharia japoneses e 25,8% nas ciências naturais, segundo dados da Unesco. Nos Estados Unidos, os números são de 20,4% e 52,5%, e na Índia são de 30,8% e 51,4%.

Para ajudar a mudar essa tendência e criar um espaço para adolescentes conversarem sobre seu futuro, duas mulheres com formação na área científica, Asumi Saito e Sayaka Tanaka, fundaram juntas uma organização sem fins lucrativos chamada Waffle, que administra acampamentos de tecnologia de um dia para meninas do ensino fundamental e médio.

Saito, 30, e outros oferecem palestras sobre carreira e experiências práticas que enfatizam a solução de problemas, a comunidade e o empreendedorismo para combater a imagem estereotipada de geek da tecnologia.

“Nosso objetivo é eliminar a lacuna de gênero capacitando e educando mulheres na área de tecnologia”, disse Saito, que tem mestrado em análise de dados pela Universidade do Arizona. “Pensamos na tecnologia como uma ferramenta. Depois de obter essa ferramenta e se capacitar, você pode causar um impacto no mundo. ”

A Waffle apoiou 23 equipes, totalizando 75 adolescentes em um concurso de criação de aplicativos - incluindo Matsumoto, cuja equipe de três pessoas criou um aplicativo chamado Household Heroes. Ele divide as tarefas domésticas entre os membros da família e recompensa aqueles que terminam as tarefas adicionando itens a um personagem semelhante a um fofo Pokémon.

“A divisão do trabalho baseada no sexo está profundamente enraizada”, disse Matsumoto. “Para mudar a cabeça das pessoas, decidimos desenvolver este aplicativo.”

As mesmas expectativas culturais também se estendem à criação dos filhos, levando muitas mulheres a abandonar o emprego após o parto. Isso faz com que menos mulheres cheguem a cargos de liderança ou contribuam para inovações tecnológicas.

Megumi Moss, uma ex-funcionária da Sony, disse que sentiu que deveria escolher entre sua carreira e sua família.

Por 10 anos, Moss teve um trabalho exigente, mas recompensador, frequentemente voltando para casa no último trem pouco antes da meia-noite apenas para acordar cedo na manhã seguinte e repetir o ciclo.

Quando ela e seu marido americano, um banqueiro de investimentos, decidiram ter filhos, ela largou seu emprego na Sony. Mas, alguns meses antes de dar à luz sua filha, ela começou um negócio online, o CareFinder, que ajuda a aliviar os deveres das mulheres com os filhos, dividindo-os com babás pré-selecionadas.

“Sinto que estou tratando de um problema social e ajudando a aliviar o fardo que as mulheres carregam”, disse Moss, 45. “Isso é realmente gratificante”.

Matsumoto disse que também queria tornar a vida melhor para meninas e mulheres no Japão.

Um pouco rebelde contra as expectativas culturais do país, ela pintou o cabelo com um rosa brilhante após sua formatura - algo proibido nas escolas de ensino médio japonesas. Ela disse que decidiu fazer faculdade nos EUA depois de saber que não teria problemas por fazer perguntas em salas de aula americanas.

Eventualmente, ela quer voltar para sua terra natal no sul da ilha de Shikoku "porque eu odiava lá", ela disse. “Quero voltar lá para ajudar a criar uma sociedade que não deixe as meninas sofrerem como eu sofri.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

TOKIO - Se Anna Matsumoto tivesse ouvido seus professores, ela teria reprimido sua mente curiosa - fazer perguntas, eles disseram a ela, interrompe a aula. E quando, aos 15 anos, ela teve que escolher um curso de estudo durante o ensino médio japonês, ela teria evitado ciências, um caminho que seus professores diziam ser difícil para as meninas.

Anna Matsumoto está indo para os EUA para estudar engenharia e interação humano-computador. Foto: Shiho Fukada/The New York Times

Na contramão, Matsumoto planeja se tornar uma engenheira. O Japão poderia usar muito mais mulheres jovens como ela.

Apesar de sua imagem experiente em tecnologia e peso econômico, o país é um retardatário digital, com uma cultura tradicional de escritório em que aparelhos de fax e carimbos pessoais conhecidos como hanko permanecem comuns. A pandemia reforçou a necessidade urgente de modernização, acelerando um esforço de transformação digital promovido pelo primeiro-ministro Yoshihide Suga, incluindo a abertura de uma nova Agência Digital destinada a melhorar os serviços online notoriamente emperrados do governo.

Para diminuir a lacuna, o Japão deve tratar de uma grave escassez de trabalhadores de tecnologia e estudantes de engenharia, um déficit agravado pela grande ausência de mulheres. Nos programas universitários que produzem trabalhadores nessas áreas, o Japão tem um dos percentuais mais baixos de mulheres no mundo desenvolvido, de acordo com dados da Unesco. Ele também tem uma das menores proporções de mulheres fazendo pesquisas em ciência e tecnologia.

Melhorar a situação dependerá, em parte, da sociedade japonesa se afastar da ideia de que a tecnologia é um domínio estritamente masculino. É uma atitude reforçada em histórias em quadrinhos e programas de TV e perpetuada em alguns lares, onde os pais temem que as filhas que se tornam cientistas ou engenheiras não se casem.

Para Matsumoto, manter as mulheres fora da tecnologia é um desperdício e algo ilógico. “Metade da população mundial são mulheres”, disse Matsumoto, 18, que irá para a Universidade de Stanford neste outono e pretende estudar a interação entre humanos e computadores. "É tão ineficiente pensar que só homens estão mudando o mundo."

Com sua população diminuindo e envelhecendo e sua força de trabalho em declínio, o Japão tem pouco espaço para desperdiçar qualquer talento.

O Ministério da Economia, Comércio e Indústria projeta um déficit de 450.000 profissionais de tecnologia da informação no Japão até 2030. Ele comparou a situação a um "penhasco digital" surgindo perante a terceira maior economia do mundo.

No Ranking Mundial de Competitividade Digital realizado pelo International Institute for Management Development, o Japão ocupa o 27º lugar globalmente e o sétimo na Ásia, atrás de países como Cingapura, China e Coréia do Sul.

O novo impulso digital do Japão pode oferecer uma oportunidade para alavancar suas mulheres. Mas também pode deixá-las ainda mais para trás.

Globalmente, as mulheres perdem mais do que os homens à medida que a automatização assume empregos pouco qualificados, de acordo com o Relatório Científico da Unesco de 2021, publicado em Junho. As mulheres também têm menos oportunidades de adquirir competências nos campos cada vez mais exigentes da inteligência artificial, aprendizagem de máquinas e engenharia de dados, diz o relatório.

“Devido à digitalização, alguns empregos desaparecerão e as mulheres provavelmente serão mais afetadas do que os homens”, disse Takako Hashimoto, uma ex-engenheira de software da Ricoh que agora é vice-presidente da Universidade de Comércio de Chiba e delegado do W-20, que assessora o grupo dos 20 maiores países sobre questões femininas. “Portanto, há uma oportunidade aqui, mas também um perigo.”

Hashimoto observou que havia poucos programas governamentais no Japão que procuravam atrair as mulheres para a tecnologia. O governo japonês deve estabelecer programas de retreinamento tecnológico para mulheres que desejam voltar a trabalhar depois de ficarem em casa para criar os filhos, ela disse. Outros sugeriram bolsas de estudo expressamente para estudantes do sexo feminino que desejam estudar ciências ou engenharia.

“O governo precisa assumir a liderança nisso”, ela disse. “Na verdade, ainda não associaram a digitalização à igualdade de gênero.”

Para ajudar a preparar os jovens para o futuro digital, o governo japonês tornou as aulas de programação de computadores obrigatórias nas escolas primárias no ano passado.

Asumi Saito, co-fundadora de uma organização sem fins lucrativos que administra acampamentos tecnológicos de um dia para meninas do ensino fundamental e médio. Foto: Shiho Fukada/The New York Times

Haruka Fujiwara, uma professora em Tsukuba, ao norte de Tóquio, que tem ensinado e coordenado aulas de programação, disse que não viu nenhuma diferença no entusiasmo ou habilidade entre meninas e meninos.

Aos 15 anos, meninas e meninos japoneses têm desempenho igualmente bom em matemática e ciências em testes padronizados internacionais. Mas neste ponto crítico, quando os alunos devem escolher entre ciências e humanidades no ensino médio, o interesse e a confiança das meninas em matemática e ciências diminuem repentinamente, segundo pesquisas e dados.

Este é o início do "cano furado" do Japão em tecnologia e ciência - quanto maior o nível educacional, menos mulheres, um fenômeno que existe em muitos países. Mas, no caso do Japão, isso se reduz a uma gota, ocasionando uma escassez de mulheres nas escolas de pós-graduação que produzem os maiores talentos em ciência do país.

As mulheres representam 14% dos graduados em programas de engenharia japoneses e 25,8% nas ciências naturais, segundo dados da Unesco. Nos Estados Unidos, os números são de 20,4% e 52,5%, e na Índia são de 30,8% e 51,4%.

Para ajudar a mudar essa tendência e criar um espaço para adolescentes conversarem sobre seu futuro, duas mulheres com formação na área científica, Asumi Saito e Sayaka Tanaka, fundaram juntas uma organização sem fins lucrativos chamada Waffle, que administra acampamentos de tecnologia de um dia para meninas do ensino fundamental e médio.

Saito, 30, e outros oferecem palestras sobre carreira e experiências práticas que enfatizam a solução de problemas, a comunidade e o empreendedorismo para combater a imagem estereotipada de geek da tecnologia.

“Nosso objetivo é eliminar a lacuna de gênero capacitando e educando mulheres na área de tecnologia”, disse Saito, que tem mestrado em análise de dados pela Universidade do Arizona. “Pensamos na tecnologia como uma ferramenta. Depois de obter essa ferramenta e se capacitar, você pode causar um impacto no mundo. ”

A Waffle apoiou 23 equipes, totalizando 75 adolescentes em um concurso de criação de aplicativos - incluindo Matsumoto, cuja equipe de três pessoas criou um aplicativo chamado Household Heroes. Ele divide as tarefas domésticas entre os membros da família e recompensa aqueles que terminam as tarefas adicionando itens a um personagem semelhante a um fofo Pokémon.

“A divisão do trabalho baseada no sexo está profundamente enraizada”, disse Matsumoto. “Para mudar a cabeça das pessoas, decidimos desenvolver este aplicativo.”

As mesmas expectativas culturais também se estendem à criação dos filhos, levando muitas mulheres a abandonar o emprego após o parto. Isso faz com que menos mulheres cheguem a cargos de liderança ou contribuam para inovações tecnológicas.

Megumi Moss, uma ex-funcionária da Sony, disse que sentiu que deveria escolher entre sua carreira e sua família.

Por 10 anos, Moss teve um trabalho exigente, mas recompensador, frequentemente voltando para casa no último trem pouco antes da meia-noite apenas para acordar cedo na manhã seguinte e repetir o ciclo.

Quando ela e seu marido americano, um banqueiro de investimentos, decidiram ter filhos, ela largou seu emprego na Sony. Mas, alguns meses antes de dar à luz sua filha, ela começou um negócio online, o CareFinder, que ajuda a aliviar os deveres das mulheres com os filhos, dividindo-os com babás pré-selecionadas.

“Sinto que estou tratando de um problema social e ajudando a aliviar o fardo que as mulheres carregam”, disse Moss, 45. “Isso é realmente gratificante”.

Matsumoto disse que também queria tornar a vida melhor para meninas e mulheres no Japão.

Um pouco rebelde contra as expectativas culturais do país, ela pintou o cabelo com um rosa brilhante após sua formatura - algo proibido nas escolas de ensino médio japonesas. Ela disse que decidiu fazer faculdade nos EUA depois de saber que não teria problemas por fazer perguntas em salas de aula americanas.

Eventualmente, ela quer voltar para sua terra natal no sul da ilha de Shikoku "porque eu odiava lá", ela disse. “Quero voltar lá para ajudar a criar uma sociedade que não deixe as meninas sofrerem como eu sofri.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

TOKIO - Se Anna Matsumoto tivesse ouvido seus professores, ela teria reprimido sua mente curiosa - fazer perguntas, eles disseram a ela, interrompe a aula. E quando, aos 15 anos, ela teve que escolher um curso de estudo durante o ensino médio japonês, ela teria evitado ciências, um caminho que seus professores diziam ser difícil para as meninas.

Anna Matsumoto está indo para os EUA para estudar engenharia e interação humano-computador. Foto: Shiho Fukada/The New York Times

Na contramão, Matsumoto planeja se tornar uma engenheira. O Japão poderia usar muito mais mulheres jovens como ela.

Apesar de sua imagem experiente em tecnologia e peso econômico, o país é um retardatário digital, com uma cultura tradicional de escritório em que aparelhos de fax e carimbos pessoais conhecidos como hanko permanecem comuns. A pandemia reforçou a necessidade urgente de modernização, acelerando um esforço de transformação digital promovido pelo primeiro-ministro Yoshihide Suga, incluindo a abertura de uma nova Agência Digital destinada a melhorar os serviços online notoriamente emperrados do governo.

Para diminuir a lacuna, o Japão deve tratar de uma grave escassez de trabalhadores de tecnologia e estudantes de engenharia, um déficit agravado pela grande ausência de mulheres. Nos programas universitários que produzem trabalhadores nessas áreas, o Japão tem um dos percentuais mais baixos de mulheres no mundo desenvolvido, de acordo com dados da Unesco. Ele também tem uma das menores proporções de mulheres fazendo pesquisas em ciência e tecnologia.

Melhorar a situação dependerá, em parte, da sociedade japonesa se afastar da ideia de que a tecnologia é um domínio estritamente masculino. É uma atitude reforçada em histórias em quadrinhos e programas de TV e perpetuada em alguns lares, onde os pais temem que as filhas que se tornam cientistas ou engenheiras não se casem.

Para Matsumoto, manter as mulheres fora da tecnologia é um desperdício e algo ilógico. “Metade da população mundial são mulheres”, disse Matsumoto, 18, que irá para a Universidade de Stanford neste outono e pretende estudar a interação entre humanos e computadores. "É tão ineficiente pensar que só homens estão mudando o mundo."

Com sua população diminuindo e envelhecendo e sua força de trabalho em declínio, o Japão tem pouco espaço para desperdiçar qualquer talento.

O Ministério da Economia, Comércio e Indústria projeta um déficit de 450.000 profissionais de tecnologia da informação no Japão até 2030. Ele comparou a situação a um "penhasco digital" surgindo perante a terceira maior economia do mundo.

No Ranking Mundial de Competitividade Digital realizado pelo International Institute for Management Development, o Japão ocupa o 27º lugar globalmente e o sétimo na Ásia, atrás de países como Cingapura, China e Coréia do Sul.

O novo impulso digital do Japão pode oferecer uma oportunidade para alavancar suas mulheres. Mas também pode deixá-las ainda mais para trás.

Globalmente, as mulheres perdem mais do que os homens à medida que a automatização assume empregos pouco qualificados, de acordo com o Relatório Científico da Unesco de 2021, publicado em Junho. As mulheres também têm menos oportunidades de adquirir competências nos campos cada vez mais exigentes da inteligência artificial, aprendizagem de máquinas e engenharia de dados, diz o relatório.

“Devido à digitalização, alguns empregos desaparecerão e as mulheres provavelmente serão mais afetadas do que os homens”, disse Takako Hashimoto, uma ex-engenheira de software da Ricoh que agora é vice-presidente da Universidade de Comércio de Chiba e delegado do W-20, que assessora o grupo dos 20 maiores países sobre questões femininas. “Portanto, há uma oportunidade aqui, mas também um perigo.”

Hashimoto observou que havia poucos programas governamentais no Japão que procuravam atrair as mulheres para a tecnologia. O governo japonês deve estabelecer programas de retreinamento tecnológico para mulheres que desejam voltar a trabalhar depois de ficarem em casa para criar os filhos, ela disse. Outros sugeriram bolsas de estudo expressamente para estudantes do sexo feminino que desejam estudar ciências ou engenharia.

“O governo precisa assumir a liderança nisso”, ela disse. “Na verdade, ainda não associaram a digitalização à igualdade de gênero.”

Para ajudar a preparar os jovens para o futuro digital, o governo japonês tornou as aulas de programação de computadores obrigatórias nas escolas primárias no ano passado.

Asumi Saito, co-fundadora de uma organização sem fins lucrativos que administra acampamentos tecnológicos de um dia para meninas do ensino fundamental e médio. Foto: Shiho Fukada/The New York Times

Haruka Fujiwara, uma professora em Tsukuba, ao norte de Tóquio, que tem ensinado e coordenado aulas de programação, disse que não viu nenhuma diferença no entusiasmo ou habilidade entre meninas e meninos.

Aos 15 anos, meninas e meninos japoneses têm desempenho igualmente bom em matemática e ciências em testes padronizados internacionais. Mas neste ponto crítico, quando os alunos devem escolher entre ciências e humanidades no ensino médio, o interesse e a confiança das meninas em matemática e ciências diminuem repentinamente, segundo pesquisas e dados.

Este é o início do "cano furado" do Japão em tecnologia e ciência - quanto maior o nível educacional, menos mulheres, um fenômeno que existe em muitos países. Mas, no caso do Japão, isso se reduz a uma gota, ocasionando uma escassez de mulheres nas escolas de pós-graduação que produzem os maiores talentos em ciência do país.

As mulheres representam 14% dos graduados em programas de engenharia japoneses e 25,8% nas ciências naturais, segundo dados da Unesco. Nos Estados Unidos, os números são de 20,4% e 52,5%, e na Índia são de 30,8% e 51,4%.

Para ajudar a mudar essa tendência e criar um espaço para adolescentes conversarem sobre seu futuro, duas mulheres com formação na área científica, Asumi Saito e Sayaka Tanaka, fundaram juntas uma organização sem fins lucrativos chamada Waffle, que administra acampamentos de tecnologia de um dia para meninas do ensino fundamental e médio.

Saito, 30, e outros oferecem palestras sobre carreira e experiências práticas que enfatizam a solução de problemas, a comunidade e o empreendedorismo para combater a imagem estereotipada de geek da tecnologia.

“Nosso objetivo é eliminar a lacuna de gênero capacitando e educando mulheres na área de tecnologia”, disse Saito, que tem mestrado em análise de dados pela Universidade do Arizona. “Pensamos na tecnologia como uma ferramenta. Depois de obter essa ferramenta e se capacitar, você pode causar um impacto no mundo. ”

A Waffle apoiou 23 equipes, totalizando 75 adolescentes em um concurso de criação de aplicativos - incluindo Matsumoto, cuja equipe de três pessoas criou um aplicativo chamado Household Heroes. Ele divide as tarefas domésticas entre os membros da família e recompensa aqueles que terminam as tarefas adicionando itens a um personagem semelhante a um fofo Pokémon.

“A divisão do trabalho baseada no sexo está profundamente enraizada”, disse Matsumoto. “Para mudar a cabeça das pessoas, decidimos desenvolver este aplicativo.”

As mesmas expectativas culturais também se estendem à criação dos filhos, levando muitas mulheres a abandonar o emprego após o parto. Isso faz com que menos mulheres cheguem a cargos de liderança ou contribuam para inovações tecnológicas.

Megumi Moss, uma ex-funcionária da Sony, disse que sentiu que deveria escolher entre sua carreira e sua família.

Por 10 anos, Moss teve um trabalho exigente, mas recompensador, frequentemente voltando para casa no último trem pouco antes da meia-noite apenas para acordar cedo na manhã seguinte e repetir o ciclo.

Quando ela e seu marido americano, um banqueiro de investimentos, decidiram ter filhos, ela largou seu emprego na Sony. Mas, alguns meses antes de dar à luz sua filha, ela começou um negócio online, o CareFinder, que ajuda a aliviar os deveres das mulheres com os filhos, dividindo-os com babás pré-selecionadas.

“Sinto que estou tratando de um problema social e ajudando a aliviar o fardo que as mulheres carregam”, disse Moss, 45. “Isso é realmente gratificante”.

Matsumoto disse que também queria tornar a vida melhor para meninas e mulheres no Japão.

Um pouco rebelde contra as expectativas culturais do país, ela pintou o cabelo com um rosa brilhante após sua formatura - algo proibido nas escolas de ensino médio japonesas. Ela disse que decidiu fazer faculdade nos EUA depois de saber que não teria problemas por fazer perguntas em salas de aula americanas.

Eventualmente, ela quer voltar para sua terra natal no sul da ilha de Shikoku "porque eu odiava lá", ela disse. “Quero voltar lá para ajudar a criar uma sociedade que não deixe as meninas sofrerem como eu sofri.” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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