NOVA ORLEANS - Linda Hamilton dá uma gorda risada de desafio. Seria intimidadora se não saísse com facilidade, e se não ela não estivesse rindo de si mesma. A atriz costuma contar o episódio de quando foi a um salão de bilhar, pouco depois de O Exterminador do Futuro 2: o Dia do Julgamento, tê-la lançado no panteão da cultura pop. Ela percebeu que as pessoas foram notando a sua presença.
Era mesmo a atriz que havia feito o papel da garçonete e virou guerreira, Sarah Connor, no maior filme de 1991? Nisto, ela ouviu alguém comentar: “Não pode ser ela. Ela jogaria muito melhor do que isso aí!” Lembrando disto, ela deu uma gargalhada. “Sarah Connor poderia jogar de maneira brilhante, não sou Sarah!,” afirmou. “Isto me fez sentir muito real”. Depois de quase trinta anos tentando livrar-se da sombra de Sarah, a atriz de 62 anos finalmente retomou a personagem para fazer O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio, que estreará em novembro.
Quando estava filmando o primeiro filme do Exterminador, lançado em 1984, jamais poderia prever o impacto que isto teria na sua carreira. “Por acaso pensei que pensar que eu me tornaria uma estrela de filmes de ação e aventura? Nunca!” ela disse. “Eu pretendia ser uma atriz shakespeariana, e com O Exterminador, minha carreira tomou outro rumo completamente diferente”.
Naquele filme de ficção científica, Sarah Connor, uma mulher comum, tornava-se alvo de um ciborgue que viajava no tempo (Arnold Schwarzenegger) porque mais tarde ela daria à luz ao salvador da humanidade. Linda passou grande parte do seu papel escondendo-se ou fugindo. Anos mais tarde, quando o diretor James Cameron perguntou se ela gostaria de fazer O Exterminador 2, ela fez apenas um pedido: em lugar de ser mais uma vez a jovem desesperada, ela queria que Sarah enlouquecesse. “Eu escrevi o roteiro inteiramente baseado na sua recomendação”, afirmou Cameron.
Esta Sarah Cameron tinha a guerra nos seus olhos e o seu corpo era uma arma. Linda teria de ficar com uma silhueta surpreendentemente perfeita. “Só havia uma coisa: eu estava grávida de seis meses quando Jim falou comigo”, disse. Ela estava casada com o ator Bruce Abbott na época em que Cameron sugeriu uma continuação; quando voltou com o roteiro definitivo, ela estava cuidando do seu filhinho, Dalton, e Abbott havia pedido o divórcio.
Linda considerou aquele momento a chance de despejar em Sarah tudo o estava sentindo. O resultado foi uma das heroínas de filmes de ação mais inesquecíveis de todos os tempos. A desvantagem foi que Hollywood simplesmente mandou para ela mais mulheres guerreiras, nenhuma tão interessante quanto o personagem que ela acabara de fazer. Durante o primeiro Exterminador, nenhuma chama romântica brotou entre Cameron e a sua protagonista, mas não muito depois de fazerem Exterminador 2, eles foram morar juntos e tiveram uma filha, Josephine.
“Este relacionamento foi um mistério para todos - até para Jim e para mim mesma - porque somos terrivelmente diferentes”, disse Linda. “Acho que o que aconteceu ali foi que ele, na realidade, estava apaixonado por Sarah Connor,” afirmou, “e eu também”. Seu relacionamento durou sete tumultuados anos.
Depois de Exterminador 2, estudos diferentes tentaram estender o seriado sem Linda ou Cameron, com escasso sucesso. Ela se surpreendeu, há dois anos, quando Cameron perguntou se ela seria Sarah mais uma vez. Tim Miller seria o diretor de um novo filme da série Exterminador que Cameron produziria , e ambos achavam que iria funcionar, Linda Hamilton precisava retornar. Precisaram convencê-la. “Não que eu tivesse medo de decepcionar os fãs,” ela disse. “Eu tinha medo de decepcionar Sarah Connor”.
Linda teve de ir mais fundo do que nunca no personagem: aprendeu a usar um lançador de foguetes e adquiriu a silhueta de uma lutadora de 60 anos, e ainda treinou com os Boinas Verdes, enquanto os médicos lhe ministravam suplementos e hormônios para que criasse músculos. “Isto equivaleu a dez vezes o esforço que coloquei no segundo filme”, afirmou.
Em Exterminador: Destino Sombrio, Sarah luta em terra, no ar e na água, e Linda quis fazer a maior parte das cenas de acrobacias. Quanto mais as coisas iam ficando difíceis, Miller suspeitou que ela estava se divertindo mais do que deixava transparecer. Terminado Destino Sombrio, Linda admitiu: “Passei três meses no sofá comendo bolo, e depois um dia acordei e disse: ‘Que se dane! aquilo foi muito divertido!’”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA