Livro de memórias mostra evolução de Mariah Carey em uma estrela pop


“A maior parte das gravadoras não entendia a minha música”, ela escreve sobre os primeiros anos da carreira

Por Jon Caramanica
Atualização:

Na noite chuvosa de meados dos anos 1990, quando Mariah Carey beijou pela primeira vez Derek Jeter – uma tentativa de sair do seu sufocante casamento com Tommy Mottola, o magnata da música que foi fundamental para a sua carreira – a cantora voltou para a sua limusine e ligou o rádio.

O que ela ouviu foi “o beat nojento, perigoso, sensual”, de Mobb Deep,“Shook Ones Pt. II.” A faixa ficou na sua cabeça enquanto voltava para casa, escreve Mariah em suas memórias, “The Meaning of Mariah Carey”. No dia seguinte, começou a trabalhar em uma música baseada em uma amostra de “Shook Ones”, que contava sua história de rebelde romântica. O resultado foi “The Roof (Back in Time)”.

“A maioria das gravadoras realmente não me entendeu”, Mariah Carey escreve sobre seus primeiros anos na música. Foto: Don Emmert/Agence France-Presse/Getty Images
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“The Roof” apareceu no quinto álbum de canções originais de Mariah, “Butterfly” em 1997, um momento propício na sua vida e música. Mariah, a mega-estrela do pop-soul, estava aprofundando suas conexões com o hip-hop, exatamente quando este começava a se impor como língua comum da cultura pop.

Mariah, esposa batalhadora e vigiada, estava tendo os primeiros vislumbres de liberdade romântica e sexual. E Mariah, a filha de pai preto e mãe branca, que foi instigada a menosprezar a sua negritude por seus parceiros dos negócios musicais, declarava quem ela era, alto e bom som.

Para Mariah, todos estes vetores se cruzavam e muitas vezes se sobrepunhan, desde a sua infância. “The Meaning of Mariah Carey” conta essa história de uma maneira vívida e emocional. É um livro de memórias sobre uma artista determinada e talentosa, e sobre uma jovem frustrada praticamente em cada momento em que tentava sentir-se segura de sua identidade. O seu dom musical foi sua luz de esperança.

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Mas embora a música fosse para ela uma espécie de refúgio, para outros foi uma fonte de confusão. “A maior parte das gravadoras não entendia a minha música”, ela escreve sobre os primeiros anos da carreira. “Minha demo era muito mais variada do que a indústria da música esperava na época”. Isto causou problemas com Mottola.

“Desde o momento em que Tom me contratou, ele tentou limpar de mim o elemento ‘urbano’ (leia-se, negro)”, escreve. Toda a carreira de Mariah demonstra a surdez desta abordagem. Ela trouxe para as suas baladas iniciais a rica convicção soul – “I Don’t Wanna Cry”, “Hero”, “One Sweet Day” – que as resgatou do sentimental.

Quando Mariah começou a trabalhar com produtores de hip-hop como Jermaine Dupri, fez algumas das músicas mais bem-sucedidas em termos de criação de toda a sua carreira enquanto ela permanecia no topo das paradas: "Always Be My Baby”, “We Belong Together”, “Heartbreaker”.

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A escrita neste livro – de Mariah em parceria com Michaela Angela Davis – prende o leitor, um pouco fraca, mas decididamente humana. Mariah é apresentada como uma força espiritual e um prodígio musical – flexível, autoconsciente e engraçada. The Meaning of Mariah Carey é menos revelador da vida da cantora em que ele se move.

reference

Uma parte angustiante do livro, por volta do lançamento do álbum e do filme Glitter, de 2001, salta da manipulação de alguns membros da família para o centro de reabilitação e a deslealdade das companhias e além, mas ainda produz uma sensação ambígua que acaba frustrando. Ela não menciona o diagnóstico de distúrbio bipolar que recebeu e foi revelado publicamente em 2018. Os últimos capítulos do livro são apressados, denunciando duetos de divas e o casamento de Mariah com Nick Cannon, que durou oito anos.

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O foco de Mariah é resoluto – sua música é o produto de sua vida. Um manto protetor quando necessário, e o lugar onde ela revelou as suas verdades sombrias para todos ouvirem, ainda que não conseguissem entendê-lo plenamente. Mariah acaba de lançar “The Rarities”, uma coleção de canções inéditas, datadas dos anos 1990.

O álbum contém dramáticas baladas R&B que foram cruciais para o seu sucesso inicial, antes de ela se voltar para a influência do hip-hop, em meados dos anos 1990. Muitas das canções são fortes, mas em grande parte servem de reforço para a história que Mariah está contando.

No entanto, o documento mais revelador é talvez o segundo disco do lançamento: “Live at the Tokyo Dome”, o seu primeiro show no Japão, gravado em 1996. Aqui ela está no pico de sua autoridade vocal e da fama pop. Nos anos que se seguiram, Mariah se desvencilhou do domínio de Mottola, mergulhou mais a fundo no hip-hop, teve seu primeiro fracasso e começou a fraquejar sob as críticas públicas. Sua fama permaneceu intacta, mas se tornou mais complicada e caótica.

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Vista desta perspectiva, e no contexto do que ela revela em suas memórias, a sua apresentação neste concerto parece uma despedida em relação à maneira como ela costumava fazer as coisas, a culminação de uma vida cantando através dos dentes semicerrados. Uma metamorfose se aproximava. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Na noite chuvosa de meados dos anos 1990, quando Mariah Carey beijou pela primeira vez Derek Jeter – uma tentativa de sair do seu sufocante casamento com Tommy Mottola, o magnata da música que foi fundamental para a sua carreira – a cantora voltou para a sua limusine e ligou o rádio.

O que ela ouviu foi “o beat nojento, perigoso, sensual”, de Mobb Deep,“Shook Ones Pt. II.” A faixa ficou na sua cabeça enquanto voltava para casa, escreve Mariah em suas memórias, “The Meaning of Mariah Carey”. No dia seguinte, começou a trabalhar em uma música baseada em uma amostra de “Shook Ones”, que contava sua história de rebelde romântica. O resultado foi “The Roof (Back in Time)”.

“A maioria das gravadoras realmente não me entendeu”, Mariah Carey escreve sobre seus primeiros anos na música. Foto: Don Emmert/Agence France-Presse/Getty Images

“The Roof” apareceu no quinto álbum de canções originais de Mariah, “Butterfly” em 1997, um momento propício na sua vida e música. Mariah, a mega-estrela do pop-soul, estava aprofundando suas conexões com o hip-hop, exatamente quando este começava a se impor como língua comum da cultura pop.

Mariah, esposa batalhadora e vigiada, estava tendo os primeiros vislumbres de liberdade romântica e sexual. E Mariah, a filha de pai preto e mãe branca, que foi instigada a menosprezar a sua negritude por seus parceiros dos negócios musicais, declarava quem ela era, alto e bom som.

Para Mariah, todos estes vetores se cruzavam e muitas vezes se sobrepunhan, desde a sua infância. “The Meaning of Mariah Carey” conta essa história de uma maneira vívida e emocional. É um livro de memórias sobre uma artista determinada e talentosa, e sobre uma jovem frustrada praticamente em cada momento em que tentava sentir-se segura de sua identidade. O seu dom musical foi sua luz de esperança.

Mas embora a música fosse para ela uma espécie de refúgio, para outros foi uma fonte de confusão. “A maior parte das gravadoras não entendia a minha música”, ela escreve sobre os primeiros anos da carreira. “Minha demo era muito mais variada do que a indústria da música esperava na época”. Isto causou problemas com Mottola.

“Desde o momento em que Tom me contratou, ele tentou limpar de mim o elemento ‘urbano’ (leia-se, negro)”, escreve. Toda a carreira de Mariah demonstra a surdez desta abordagem. Ela trouxe para as suas baladas iniciais a rica convicção soul – “I Don’t Wanna Cry”, “Hero”, “One Sweet Day” – que as resgatou do sentimental.

Quando Mariah começou a trabalhar com produtores de hip-hop como Jermaine Dupri, fez algumas das músicas mais bem-sucedidas em termos de criação de toda a sua carreira enquanto ela permanecia no topo das paradas: "Always Be My Baby”, “We Belong Together”, “Heartbreaker”.

A escrita neste livro – de Mariah em parceria com Michaela Angela Davis – prende o leitor, um pouco fraca, mas decididamente humana. Mariah é apresentada como uma força espiritual e um prodígio musical – flexível, autoconsciente e engraçada. The Meaning of Mariah Carey é menos revelador da vida da cantora em que ele se move.

reference

Uma parte angustiante do livro, por volta do lançamento do álbum e do filme Glitter, de 2001, salta da manipulação de alguns membros da família para o centro de reabilitação e a deslealdade das companhias e além, mas ainda produz uma sensação ambígua que acaba frustrando. Ela não menciona o diagnóstico de distúrbio bipolar que recebeu e foi revelado publicamente em 2018. Os últimos capítulos do livro são apressados, denunciando duetos de divas e o casamento de Mariah com Nick Cannon, que durou oito anos.

O foco de Mariah é resoluto – sua música é o produto de sua vida. Um manto protetor quando necessário, e o lugar onde ela revelou as suas verdades sombrias para todos ouvirem, ainda que não conseguissem entendê-lo plenamente. Mariah acaba de lançar “The Rarities”, uma coleção de canções inéditas, datadas dos anos 1990.

O álbum contém dramáticas baladas R&B que foram cruciais para o seu sucesso inicial, antes de ela se voltar para a influência do hip-hop, em meados dos anos 1990. Muitas das canções são fortes, mas em grande parte servem de reforço para a história que Mariah está contando.

No entanto, o documento mais revelador é talvez o segundo disco do lançamento: “Live at the Tokyo Dome”, o seu primeiro show no Japão, gravado em 1996. Aqui ela está no pico de sua autoridade vocal e da fama pop. Nos anos que se seguiram, Mariah se desvencilhou do domínio de Mottola, mergulhou mais a fundo no hip-hop, teve seu primeiro fracasso e começou a fraquejar sob as críticas públicas. Sua fama permaneceu intacta, mas se tornou mais complicada e caótica.

Vista desta perspectiva, e no contexto do que ela revela em suas memórias, a sua apresentação neste concerto parece uma despedida em relação à maneira como ela costumava fazer as coisas, a culminação de uma vida cantando através dos dentes semicerrados. Uma metamorfose se aproximava. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Na noite chuvosa de meados dos anos 1990, quando Mariah Carey beijou pela primeira vez Derek Jeter – uma tentativa de sair do seu sufocante casamento com Tommy Mottola, o magnata da música que foi fundamental para a sua carreira – a cantora voltou para a sua limusine e ligou o rádio.

O que ela ouviu foi “o beat nojento, perigoso, sensual”, de Mobb Deep,“Shook Ones Pt. II.” A faixa ficou na sua cabeça enquanto voltava para casa, escreve Mariah em suas memórias, “The Meaning of Mariah Carey”. No dia seguinte, começou a trabalhar em uma música baseada em uma amostra de “Shook Ones”, que contava sua história de rebelde romântica. O resultado foi “The Roof (Back in Time)”.

“A maioria das gravadoras realmente não me entendeu”, Mariah Carey escreve sobre seus primeiros anos na música. Foto: Don Emmert/Agence France-Presse/Getty Images

“The Roof” apareceu no quinto álbum de canções originais de Mariah, “Butterfly” em 1997, um momento propício na sua vida e música. Mariah, a mega-estrela do pop-soul, estava aprofundando suas conexões com o hip-hop, exatamente quando este começava a se impor como língua comum da cultura pop.

Mariah, esposa batalhadora e vigiada, estava tendo os primeiros vislumbres de liberdade romântica e sexual. E Mariah, a filha de pai preto e mãe branca, que foi instigada a menosprezar a sua negritude por seus parceiros dos negócios musicais, declarava quem ela era, alto e bom som.

Para Mariah, todos estes vetores se cruzavam e muitas vezes se sobrepunhan, desde a sua infância. “The Meaning of Mariah Carey” conta essa história de uma maneira vívida e emocional. É um livro de memórias sobre uma artista determinada e talentosa, e sobre uma jovem frustrada praticamente em cada momento em que tentava sentir-se segura de sua identidade. O seu dom musical foi sua luz de esperança.

Mas embora a música fosse para ela uma espécie de refúgio, para outros foi uma fonte de confusão. “A maior parte das gravadoras não entendia a minha música”, ela escreve sobre os primeiros anos da carreira. “Minha demo era muito mais variada do que a indústria da música esperava na época”. Isto causou problemas com Mottola.

“Desde o momento em que Tom me contratou, ele tentou limpar de mim o elemento ‘urbano’ (leia-se, negro)”, escreve. Toda a carreira de Mariah demonstra a surdez desta abordagem. Ela trouxe para as suas baladas iniciais a rica convicção soul – “I Don’t Wanna Cry”, “Hero”, “One Sweet Day” – que as resgatou do sentimental.

Quando Mariah começou a trabalhar com produtores de hip-hop como Jermaine Dupri, fez algumas das músicas mais bem-sucedidas em termos de criação de toda a sua carreira enquanto ela permanecia no topo das paradas: "Always Be My Baby”, “We Belong Together”, “Heartbreaker”.

A escrita neste livro – de Mariah em parceria com Michaela Angela Davis – prende o leitor, um pouco fraca, mas decididamente humana. Mariah é apresentada como uma força espiritual e um prodígio musical – flexível, autoconsciente e engraçada. The Meaning of Mariah Carey é menos revelador da vida da cantora em que ele se move.

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Uma parte angustiante do livro, por volta do lançamento do álbum e do filme Glitter, de 2001, salta da manipulação de alguns membros da família para o centro de reabilitação e a deslealdade das companhias e além, mas ainda produz uma sensação ambígua que acaba frustrando. Ela não menciona o diagnóstico de distúrbio bipolar que recebeu e foi revelado publicamente em 2018. Os últimos capítulos do livro são apressados, denunciando duetos de divas e o casamento de Mariah com Nick Cannon, que durou oito anos.

O foco de Mariah é resoluto – sua música é o produto de sua vida. Um manto protetor quando necessário, e o lugar onde ela revelou as suas verdades sombrias para todos ouvirem, ainda que não conseguissem entendê-lo plenamente. Mariah acaba de lançar “The Rarities”, uma coleção de canções inéditas, datadas dos anos 1990.

O álbum contém dramáticas baladas R&B que foram cruciais para o seu sucesso inicial, antes de ela se voltar para a influência do hip-hop, em meados dos anos 1990. Muitas das canções são fortes, mas em grande parte servem de reforço para a história que Mariah está contando.

No entanto, o documento mais revelador é talvez o segundo disco do lançamento: “Live at the Tokyo Dome”, o seu primeiro show no Japão, gravado em 1996. Aqui ela está no pico de sua autoridade vocal e da fama pop. Nos anos que se seguiram, Mariah se desvencilhou do domínio de Mottola, mergulhou mais a fundo no hip-hop, teve seu primeiro fracasso e começou a fraquejar sob as críticas públicas. Sua fama permaneceu intacta, mas se tornou mais complicada e caótica.

Vista desta perspectiva, e no contexto do que ela revela em suas memórias, a sua apresentação neste concerto parece uma despedida em relação à maneira como ela costumava fazer as coisas, a culminação de uma vida cantando através dos dentes semicerrados. Uma metamorfose se aproximava. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Na noite chuvosa de meados dos anos 1990, quando Mariah Carey beijou pela primeira vez Derek Jeter – uma tentativa de sair do seu sufocante casamento com Tommy Mottola, o magnata da música que foi fundamental para a sua carreira – a cantora voltou para a sua limusine e ligou o rádio.

O que ela ouviu foi “o beat nojento, perigoso, sensual”, de Mobb Deep,“Shook Ones Pt. II.” A faixa ficou na sua cabeça enquanto voltava para casa, escreve Mariah em suas memórias, “The Meaning of Mariah Carey”. No dia seguinte, começou a trabalhar em uma música baseada em uma amostra de “Shook Ones”, que contava sua história de rebelde romântica. O resultado foi “The Roof (Back in Time)”.

“A maioria das gravadoras realmente não me entendeu”, Mariah Carey escreve sobre seus primeiros anos na música. Foto: Don Emmert/Agence France-Presse/Getty Images

“The Roof” apareceu no quinto álbum de canções originais de Mariah, “Butterfly” em 1997, um momento propício na sua vida e música. Mariah, a mega-estrela do pop-soul, estava aprofundando suas conexões com o hip-hop, exatamente quando este começava a se impor como língua comum da cultura pop.

Mariah, esposa batalhadora e vigiada, estava tendo os primeiros vislumbres de liberdade romântica e sexual. E Mariah, a filha de pai preto e mãe branca, que foi instigada a menosprezar a sua negritude por seus parceiros dos negócios musicais, declarava quem ela era, alto e bom som.

Para Mariah, todos estes vetores se cruzavam e muitas vezes se sobrepunhan, desde a sua infância. “The Meaning of Mariah Carey” conta essa história de uma maneira vívida e emocional. É um livro de memórias sobre uma artista determinada e talentosa, e sobre uma jovem frustrada praticamente em cada momento em que tentava sentir-se segura de sua identidade. O seu dom musical foi sua luz de esperança.

Mas embora a música fosse para ela uma espécie de refúgio, para outros foi uma fonte de confusão. “A maior parte das gravadoras não entendia a minha música”, ela escreve sobre os primeiros anos da carreira. “Minha demo era muito mais variada do que a indústria da música esperava na época”. Isto causou problemas com Mottola.

“Desde o momento em que Tom me contratou, ele tentou limpar de mim o elemento ‘urbano’ (leia-se, negro)”, escreve. Toda a carreira de Mariah demonstra a surdez desta abordagem. Ela trouxe para as suas baladas iniciais a rica convicção soul – “I Don’t Wanna Cry”, “Hero”, “One Sweet Day” – que as resgatou do sentimental.

Quando Mariah começou a trabalhar com produtores de hip-hop como Jermaine Dupri, fez algumas das músicas mais bem-sucedidas em termos de criação de toda a sua carreira enquanto ela permanecia no topo das paradas: "Always Be My Baby”, “We Belong Together”, “Heartbreaker”.

A escrita neste livro – de Mariah em parceria com Michaela Angela Davis – prende o leitor, um pouco fraca, mas decididamente humana. Mariah é apresentada como uma força espiritual e um prodígio musical – flexível, autoconsciente e engraçada. The Meaning of Mariah Carey é menos revelador da vida da cantora em que ele se move.

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Uma parte angustiante do livro, por volta do lançamento do álbum e do filme Glitter, de 2001, salta da manipulação de alguns membros da família para o centro de reabilitação e a deslealdade das companhias e além, mas ainda produz uma sensação ambígua que acaba frustrando. Ela não menciona o diagnóstico de distúrbio bipolar que recebeu e foi revelado publicamente em 2018. Os últimos capítulos do livro são apressados, denunciando duetos de divas e o casamento de Mariah com Nick Cannon, que durou oito anos.

O foco de Mariah é resoluto – sua música é o produto de sua vida. Um manto protetor quando necessário, e o lugar onde ela revelou as suas verdades sombrias para todos ouvirem, ainda que não conseguissem entendê-lo plenamente. Mariah acaba de lançar “The Rarities”, uma coleção de canções inéditas, datadas dos anos 1990.

O álbum contém dramáticas baladas R&B que foram cruciais para o seu sucesso inicial, antes de ela se voltar para a influência do hip-hop, em meados dos anos 1990. Muitas das canções são fortes, mas em grande parte servem de reforço para a história que Mariah está contando.

No entanto, o documento mais revelador é talvez o segundo disco do lançamento: “Live at the Tokyo Dome”, o seu primeiro show no Japão, gravado em 1996. Aqui ela está no pico de sua autoridade vocal e da fama pop. Nos anos que se seguiram, Mariah se desvencilhou do domínio de Mottola, mergulhou mais a fundo no hip-hop, teve seu primeiro fracasso e começou a fraquejar sob as críticas públicas. Sua fama permaneceu intacta, mas se tornou mais complicada e caótica.

Vista desta perspectiva, e no contexto do que ela revela em suas memórias, a sua apresentação neste concerto parece uma despedida em relação à maneira como ela costumava fazer as coisas, a culminação de uma vida cantando através dos dentes semicerrados. Uma metamorfose se aproximava. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Na noite chuvosa de meados dos anos 1990, quando Mariah Carey beijou pela primeira vez Derek Jeter – uma tentativa de sair do seu sufocante casamento com Tommy Mottola, o magnata da música que foi fundamental para a sua carreira – a cantora voltou para a sua limusine e ligou o rádio.

O que ela ouviu foi “o beat nojento, perigoso, sensual”, de Mobb Deep,“Shook Ones Pt. II.” A faixa ficou na sua cabeça enquanto voltava para casa, escreve Mariah em suas memórias, “The Meaning of Mariah Carey”. No dia seguinte, começou a trabalhar em uma música baseada em uma amostra de “Shook Ones”, que contava sua história de rebelde romântica. O resultado foi “The Roof (Back in Time)”.

“A maioria das gravadoras realmente não me entendeu”, Mariah Carey escreve sobre seus primeiros anos na música. Foto: Don Emmert/Agence France-Presse/Getty Images

“The Roof” apareceu no quinto álbum de canções originais de Mariah, “Butterfly” em 1997, um momento propício na sua vida e música. Mariah, a mega-estrela do pop-soul, estava aprofundando suas conexões com o hip-hop, exatamente quando este começava a se impor como língua comum da cultura pop.

Mariah, esposa batalhadora e vigiada, estava tendo os primeiros vislumbres de liberdade romântica e sexual. E Mariah, a filha de pai preto e mãe branca, que foi instigada a menosprezar a sua negritude por seus parceiros dos negócios musicais, declarava quem ela era, alto e bom som.

Para Mariah, todos estes vetores se cruzavam e muitas vezes se sobrepunhan, desde a sua infância. “The Meaning of Mariah Carey” conta essa história de uma maneira vívida e emocional. É um livro de memórias sobre uma artista determinada e talentosa, e sobre uma jovem frustrada praticamente em cada momento em que tentava sentir-se segura de sua identidade. O seu dom musical foi sua luz de esperança.

Mas embora a música fosse para ela uma espécie de refúgio, para outros foi uma fonte de confusão. “A maior parte das gravadoras não entendia a minha música”, ela escreve sobre os primeiros anos da carreira. “Minha demo era muito mais variada do que a indústria da música esperava na época”. Isto causou problemas com Mottola.

“Desde o momento em que Tom me contratou, ele tentou limpar de mim o elemento ‘urbano’ (leia-se, negro)”, escreve. Toda a carreira de Mariah demonstra a surdez desta abordagem. Ela trouxe para as suas baladas iniciais a rica convicção soul – “I Don’t Wanna Cry”, “Hero”, “One Sweet Day” – que as resgatou do sentimental.

Quando Mariah começou a trabalhar com produtores de hip-hop como Jermaine Dupri, fez algumas das músicas mais bem-sucedidas em termos de criação de toda a sua carreira enquanto ela permanecia no topo das paradas: "Always Be My Baby”, “We Belong Together”, “Heartbreaker”.

A escrita neste livro – de Mariah em parceria com Michaela Angela Davis – prende o leitor, um pouco fraca, mas decididamente humana. Mariah é apresentada como uma força espiritual e um prodígio musical – flexível, autoconsciente e engraçada. The Meaning of Mariah Carey é menos revelador da vida da cantora em que ele se move.

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Uma parte angustiante do livro, por volta do lançamento do álbum e do filme Glitter, de 2001, salta da manipulação de alguns membros da família para o centro de reabilitação e a deslealdade das companhias e além, mas ainda produz uma sensação ambígua que acaba frustrando. Ela não menciona o diagnóstico de distúrbio bipolar que recebeu e foi revelado publicamente em 2018. Os últimos capítulos do livro são apressados, denunciando duetos de divas e o casamento de Mariah com Nick Cannon, que durou oito anos.

O foco de Mariah é resoluto – sua música é o produto de sua vida. Um manto protetor quando necessário, e o lugar onde ela revelou as suas verdades sombrias para todos ouvirem, ainda que não conseguissem entendê-lo plenamente. Mariah acaba de lançar “The Rarities”, uma coleção de canções inéditas, datadas dos anos 1990.

O álbum contém dramáticas baladas R&B que foram cruciais para o seu sucesso inicial, antes de ela se voltar para a influência do hip-hop, em meados dos anos 1990. Muitas das canções são fortes, mas em grande parte servem de reforço para a história que Mariah está contando.

No entanto, o documento mais revelador é talvez o segundo disco do lançamento: “Live at the Tokyo Dome”, o seu primeiro show no Japão, gravado em 1996. Aqui ela está no pico de sua autoridade vocal e da fama pop. Nos anos que se seguiram, Mariah se desvencilhou do domínio de Mottola, mergulhou mais a fundo no hip-hop, teve seu primeiro fracasso e começou a fraquejar sob as críticas públicas. Sua fama permaneceu intacta, mas se tornou mais complicada e caótica.

Vista desta perspectiva, e no contexto do que ela revela em suas memórias, a sua apresentação neste concerto parece uma despedida em relação à maneira como ela costumava fazer as coisas, a culminação de uma vida cantando através dos dentes semicerrados. Uma metamorfose se aproximava. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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