Menopausa é diferente nas mulheres negras, sugerem estudos


Falta de conhecimento de muitos médicos sobre as diferenças existentes nestes casos atrapalha mais ainda quem busca ajuda profissional

Por Alisha Haridasani Gupta

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - A gargalhada de seu ginecologista. É disso que Dannette Fogle, professora aposentada de 65 anos de Nova York, se lembra com mais clareza sobre sua introdução à menopausa. Tinha 34 anos quando percebeu alterações em seu ciclo menstrual, que até então era regular - sintoma característico da perimenopausa, momento de transição rumo ao fim da idade reprodutiva da mulher.

Dannette Fogle começou a ter os sintomas da menopausa aos 34 anos, mas seu médico garantiu que não havia motivo de preocupação. Foto: Maansi Srivastava/The New York Times

Para a maioria das mulheres, a perimenopausa não se inicia antes dos 40 anos, mas alguns estudos mostraram que, em mulheres negras, essa transição tende a ocorrer mais cedo em relação a mulheres de outras raças. Fogle, que é negra, também passou a ter ondas de calor noturnas, outro sinal de que seus hormônios estavam mudando. Por isso, foi ao ginecologista em busca de respostas, tranquilidade e talvez algo para amenizar os suores, que já estavam começando a prejudicar seu sono. “Quando eu disse: ‘Acho que estou entrando na menopausa’, ele não só riu alto, como se eu tivesse dito uma coisa absurda, mas também chamou a enfermeira e comentou: ‘Você consegue acreditar nessa mulher?’ Como se eu nem estivesse na sala.”

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Fogle ficou tão desanimada depois desse episódio que decidiu enfrentar a situação sem ajuda médica. A perimenopausa dura em média de quatro a dez anos, mas para ela durou mais de 15. Entrou na menopausa (definida pela ausência do período menstrual por 12 meses consecutivos) quando completou 50 anos.

Um milhão de mulheres americanas lida anualmente com dezenas de sintomas - incluindo ondas de calor, ressecamento vaginal, perda de cabelo, períodos menstruais irregulares e intensos e ganho de peso -, com pouco direcionamento médico e poucas opções de tratamentos para amenizar essas manifestações. Para muitas delas, a transição para a menopausa é desconcertante.

Para as mulheres negras, no entanto, a transição pode ser ainda mais complicada. Pesquisas mostram que a duração, a frequência, a gravidade e até os tipos de sintomas podem ser diferentes entre as raças.

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Quando as mulheres negras buscam cuidados médicos, frequentemente encontram profissionais que não estão cientes dessas diferenças e não têm preparo para ajudá-las a lidar com a transição. Isso pode parecer descaso com suas preocupações - experiência familiar para mulheres negras no consultório médico. As consequências podem ser graves: alguns sintomas da menopausa, quando não tratados, estão associados a um risco elevado de condições crônicas em longo prazo, como doenças cardíacas coronárias e doenças neurodegenerativas. Também podem se transformar em anos de desconforto, que afetam a saúde mental e a qualidade de vida da mulher.

Nos últimos anos, tem havido uma crescente conscientização cultural sobre a menopausa, e surgiram várias startups apoiadas por celebridades, voltadas para o tratamento de seus sintomas. Mas a discussão muitas vezes ainda gira em torno das mulheres brancas, cujas experiências são vistas como “‘a norma’, e o que acontece fora desse padrão acaba sendo excluído ou marginalizado”, disse Omisade Burney-Scott, apresentadora do podcast Black Girl’s Guide to Surviving Menopause (Guia da mulher negra para sobreviver à menopausa), que teve início em 2019.

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Isso significa que as mulheres negras frequentemente não recebem cuidados adequados durante a menopausa, o que indica a elas que seu sofrimento é insignificante, observou a dra. Stephanie Faubion, diretora médica da Sociedade da Menopausa e diretora do Centro Clínico Mayo para a Saúde da Mulher. “Estamos dizendo que realmente não importa se você não está dormindo bem à noite, ou se você está faltando ao trabalho por causa desses sintomas. Estamos menosprezando o sofrimento desse grupo de mulheres em um grau ainda maior do que fazemos com o sofrimento de todas as outras mulheres na menopausa.”

‘Sem orientação nenhuma’

Um estudo pioneiro sobre as diferenças raciais na menopausa, o Swan, sigla de Study of Women’s Health Across the Nation, teve início em 1994. Pesquisadores acompanharam um grupo de mais de três mil mulheres na perimenopausa e na menopausa durante décadas e encontraram algumas diferenças fundamentais: as mulheres negras e hispânicas entram na menopausa mais cedo do que as mulheres brancas, chinesas e japonesas. Também sentem certos sintomas da menopausa durante dez anos ou mais - quase o dobro do tempo - em comparação com as mulheres referidas acima.

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As ondas de calor, sintoma comum da menopausa, muitas vezes são perturbadoras para todas as raças, levando a sudoreses noturnas que podem perturbar o sono e a ocorrências ao longo do dia que podem atrapalhar a capacidade da mulher de se concentrar ou trabalhar. Mas os pesquisadores descobriram que as mulheres negras têm maior probabilidade de experimentar ondas de calor mais intensas e frequentes, bem como de suportar esses sintomas por mais tempo em comparação com as mulheres de outras raças. Existem poucos estudos de qualidade sobre mulheres asiático-americanas - grupo que inclui mulheres de origem chinesa, coreana, sul-asiática e filipina -, mas alguns mostraram que elas têm maior probabilidade de experimentar dor crônica e ansiedade do que ondas de calor.

Quando Anjum Shah, de 55 anos, planejadora urbana em Orlando, na Flórida, começou a ter ondas de calor aos 48 anos, sabia que eram devidas à menopausa, mas estava completamente despreparada para a ansiedade repentina que passou a experimentar. “Eu ia para a cama e, de repente, me levantava, completamente desperta, com o coração acelerado, e pensava: ‘O que há de errado comigo?’”, contou Shah, que é sul-asiática.

Ela procurou o mesmo clínico geral com quem se consultava havia anos. “Perguntei: ‘O que devo fazer?’ O médico respondeu perguntando o que eu gostaria que ele fizesse. Não me deu nenhuma orientação.”

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Um sistema insuficiente

Há um consenso crescente entre especialistas de que a saúde básica da mulher ao entrar na perimenopausa pode afetar significativamente sua experiência, disse a dra. Sherri-Ann Burnett-Bowie, professora associada na Escola de Medicina de Harvard.

Em um artigo publicado em fevereiro, os pesquisadores concluíram que as disparidades nos sintomas da menopausa entre mulheres negras e brancas podem ser explicadas pelo “racismo estrutural” que levou as mulheres negras a ter uma “carga maior de doenças”. Estas, no estudo Swan, de acordo com o artigo, eram mais propensas do que as mulheres brancas a relatar instabilidade financeira, casos de discriminação, “problemas com a polícia, experiências de violência, bem como doença ou morte de membros da família próximos”. Essas experiências podem comprometer a saúde geral de uma pessoa e acelerar o processo de envelhecimento, ressaltou Burnett-Bowie, coautora do artigo - processo conhecido como “deterioração”.

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Mas Faubion observou que é raro que tais descobertas cheguem ao conhecimento dos profissionais que atendem as mulheres diariamente. Uma pesquisa de 2019 da Clínica Mayo com médicos residentes descobriu que 58% haviam assistido a uma palestra sobre menopausa em sua formação, e 20% não tinham nenhum preparo sobre o assunto.

A coreana-americana Carol Kim-Benaissa teve ataques repentinos de ansiedade durante a menopausa, mas não teve fogachos.  Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Vários estudos, incluindo um que foi publicado de dezembro, mostram que, quando procuram um especialista em menopausa, as mulheres negras têm menos probabilidade do que as brancas de receber uma prescrição de terapia hormonal, que não é uma cura milagrosa, mas pode trazer benefícios para a qualidade de vida e a saúde geral das mulheres. Essa diferença nas prescrições pode se dever a um “preconceito racial inconsciente” que leva os médicos a pensar que os sintomas de uma paciente não justificam o tratamento, afirmou a dra. Monica Christmas, diretora do Programa de Menopausa da UChicago Medicine e coautora do estudo. A falta de acesso a profissionais de saúde e o custo das opções de terapia hormonal podem ser outros fatores.

Consequências em longo prazo

Além de todo o desconforto, alguns desses sintomas da menopausa, quando não tratados, podem estar associados a efeitos negativos sobre a saúde em longo prazo. Um estudo de 2021, por exemplo, constatou que as mulheres que tinham ondas de calor frequentes ou persistentes e que não estavam fazendo tratamento hormonal eram mais propensas a ter doenças cardiovasculares, incluindo derrames e insuficiência cardíaca, em comparação com as mulheres com menor incidência de ondas de calor ou que não apresentavam esse sintoma, informou a dra. Rebecca Thurston, diretora do Programa de Saúde Biocomportamental das Mulheres na Universidade de Pittsburgh e autora principal do estudo. Ter mais ondas de calor, especialmente à noite, também está associado a uma diminuição nas habilidades cognitivas.

Tudo isso pode estar relacionado a perturbações do sono, apontou a dra. JoAnn Manson, chefe do departamento de medicina preventiva do Brigham and Women’s Hospital e da Escola de Medicina de Harvard: “Se os sintomas estão interrompendo o sono, a própria interrupção pode ser um fator de risco para doenças cardíacas.” A insônia que pode resultar dos suores noturnos, quando não tratada durante anos, também pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de demência em idade mais avançada.

A idade na menopausa, que pode variar segundo a raça, também pode estar ligada à longevidade como um todo. Algumas pesquisas mostram que as mulheres que atingem a menopausa mais tarde vivem mais.

Muitas coisas, porém, ainda não são totalmente compreendidas. As ondas de calor podem ser um indicador de problemas de saúde subjacentes, e não uma causa, disse Thurston, acrescentando que uma correlação direta entre as ondas de calor frequentes e graves experimentadas por mulheres negras e os riscos de desenvolvimento de problemas de saúde em longo prazo não foi estabelecida, assim como a relação entre os sintomas e as consequências para a saúde em outras raças mal foi estudada.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - A gargalhada de seu ginecologista. É disso que Dannette Fogle, professora aposentada de 65 anos de Nova York, se lembra com mais clareza sobre sua introdução à menopausa. Tinha 34 anos quando percebeu alterações em seu ciclo menstrual, que até então era regular - sintoma característico da perimenopausa, momento de transição rumo ao fim da idade reprodutiva da mulher.

Dannette Fogle começou a ter os sintomas da menopausa aos 34 anos, mas seu médico garantiu que não havia motivo de preocupação. Foto: Maansi Srivastava/The New York Times

Para a maioria das mulheres, a perimenopausa não se inicia antes dos 40 anos, mas alguns estudos mostraram que, em mulheres negras, essa transição tende a ocorrer mais cedo em relação a mulheres de outras raças. Fogle, que é negra, também passou a ter ondas de calor noturnas, outro sinal de que seus hormônios estavam mudando. Por isso, foi ao ginecologista em busca de respostas, tranquilidade e talvez algo para amenizar os suores, que já estavam começando a prejudicar seu sono. “Quando eu disse: ‘Acho que estou entrando na menopausa’, ele não só riu alto, como se eu tivesse dito uma coisa absurda, mas também chamou a enfermeira e comentou: ‘Você consegue acreditar nessa mulher?’ Como se eu nem estivesse na sala.”

Fogle ficou tão desanimada depois desse episódio que decidiu enfrentar a situação sem ajuda médica. A perimenopausa dura em média de quatro a dez anos, mas para ela durou mais de 15. Entrou na menopausa (definida pela ausência do período menstrual por 12 meses consecutivos) quando completou 50 anos.

Um milhão de mulheres americanas lida anualmente com dezenas de sintomas - incluindo ondas de calor, ressecamento vaginal, perda de cabelo, períodos menstruais irregulares e intensos e ganho de peso -, com pouco direcionamento médico e poucas opções de tratamentos para amenizar essas manifestações. Para muitas delas, a transição para a menopausa é desconcertante.

Para as mulheres negras, no entanto, a transição pode ser ainda mais complicada. Pesquisas mostram que a duração, a frequência, a gravidade e até os tipos de sintomas podem ser diferentes entre as raças.

Quando as mulheres negras buscam cuidados médicos, frequentemente encontram profissionais que não estão cientes dessas diferenças e não têm preparo para ajudá-las a lidar com a transição. Isso pode parecer descaso com suas preocupações - experiência familiar para mulheres negras no consultório médico. As consequências podem ser graves: alguns sintomas da menopausa, quando não tratados, estão associados a um risco elevado de condições crônicas em longo prazo, como doenças cardíacas coronárias e doenças neurodegenerativas. Também podem se transformar em anos de desconforto, que afetam a saúde mental e a qualidade de vida da mulher.

Nos últimos anos, tem havido uma crescente conscientização cultural sobre a menopausa, e surgiram várias startups apoiadas por celebridades, voltadas para o tratamento de seus sintomas. Mas a discussão muitas vezes ainda gira em torno das mulheres brancas, cujas experiências são vistas como “‘a norma’, e o que acontece fora desse padrão acaba sendo excluído ou marginalizado”, disse Omisade Burney-Scott, apresentadora do podcast Black Girl’s Guide to Surviving Menopause (Guia da mulher negra para sobreviver à menopausa), que teve início em 2019.

Isso significa que as mulheres negras frequentemente não recebem cuidados adequados durante a menopausa, o que indica a elas que seu sofrimento é insignificante, observou a dra. Stephanie Faubion, diretora médica da Sociedade da Menopausa e diretora do Centro Clínico Mayo para a Saúde da Mulher. “Estamos dizendo que realmente não importa se você não está dormindo bem à noite, ou se você está faltando ao trabalho por causa desses sintomas. Estamos menosprezando o sofrimento desse grupo de mulheres em um grau ainda maior do que fazemos com o sofrimento de todas as outras mulheres na menopausa.”

‘Sem orientação nenhuma’

Um estudo pioneiro sobre as diferenças raciais na menopausa, o Swan, sigla de Study of Women’s Health Across the Nation, teve início em 1994. Pesquisadores acompanharam um grupo de mais de três mil mulheres na perimenopausa e na menopausa durante décadas e encontraram algumas diferenças fundamentais: as mulheres negras e hispânicas entram na menopausa mais cedo do que as mulheres brancas, chinesas e japonesas. Também sentem certos sintomas da menopausa durante dez anos ou mais - quase o dobro do tempo - em comparação com as mulheres referidas acima.

As ondas de calor, sintoma comum da menopausa, muitas vezes são perturbadoras para todas as raças, levando a sudoreses noturnas que podem perturbar o sono e a ocorrências ao longo do dia que podem atrapalhar a capacidade da mulher de se concentrar ou trabalhar. Mas os pesquisadores descobriram que as mulheres negras têm maior probabilidade de experimentar ondas de calor mais intensas e frequentes, bem como de suportar esses sintomas por mais tempo em comparação com as mulheres de outras raças. Existem poucos estudos de qualidade sobre mulheres asiático-americanas - grupo que inclui mulheres de origem chinesa, coreana, sul-asiática e filipina -, mas alguns mostraram que elas têm maior probabilidade de experimentar dor crônica e ansiedade do que ondas de calor.

Quando Anjum Shah, de 55 anos, planejadora urbana em Orlando, na Flórida, começou a ter ondas de calor aos 48 anos, sabia que eram devidas à menopausa, mas estava completamente despreparada para a ansiedade repentina que passou a experimentar. “Eu ia para a cama e, de repente, me levantava, completamente desperta, com o coração acelerado, e pensava: ‘O que há de errado comigo?’”, contou Shah, que é sul-asiática.

Ela procurou o mesmo clínico geral com quem se consultava havia anos. “Perguntei: ‘O que devo fazer?’ O médico respondeu perguntando o que eu gostaria que ele fizesse. Não me deu nenhuma orientação.”

Um sistema insuficiente

Há um consenso crescente entre especialistas de que a saúde básica da mulher ao entrar na perimenopausa pode afetar significativamente sua experiência, disse a dra. Sherri-Ann Burnett-Bowie, professora associada na Escola de Medicina de Harvard.

Em um artigo publicado em fevereiro, os pesquisadores concluíram que as disparidades nos sintomas da menopausa entre mulheres negras e brancas podem ser explicadas pelo “racismo estrutural” que levou as mulheres negras a ter uma “carga maior de doenças”. Estas, no estudo Swan, de acordo com o artigo, eram mais propensas do que as mulheres brancas a relatar instabilidade financeira, casos de discriminação, “problemas com a polícia, experiências de violência, bem como doença ou morte de membros da família próximos”. Essas experiências podem comprometer a saúde geral de uma pessoa e acelerar o processo de envelhecimento, ressaltou Burnett-Bowie, coautora do artigo - processo conhecido como “deterioração”.

Mas Faubion observou que é raro que tais descobertas cheguem ao conhecimento dos profissionais que atendem as mulheres diariamente. Uma pesquisa de 2019 da Clínica Mayo com médicos residentes descobriu que 58% haviam assistido a uma palestra sobre menopausa em sua formação, e 20% não tinham nenhum preparo sobre o assunto.

A coreana-americana Carol Kim-Benaissa teve ataques repentinos de ansiedade durante a menopausa, mas não teve fogachos.  Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Vários estudos, incluindo um que foi publicado de dezembro, mostram que, quando procuram um especialista em menopausa, as mulheres negras têm menos probabilidade do que as brancas de receber uma prescrição de terapia hormonal, que não é uma cura milagrosa, mas pode trazer benefícios para a qualidade de vida e a saúde geral das mulheres. Essa diferença nas prescrições pode se dever a um “preconceito racial inconsciente” que leva os médicos a pensar que os sintomas de uma paciente não justificam o tratamento, afirmou a dra. Monica Christmas, diretora do Programa de Menopausa da UChicago Medicine e coautora do estudo. A falta de acesso a profissionais de saúde e o custo das opções de terapia hormonal podem ser outros fatores.

Consequências em longo prazo

Além de todo o desconforto, alguns desses sintomas da menopausa, quando não tratados, podem estar associados a efeitos negativos sobre a saúde em longo prazo. Um estudo de 2021, por exemplo, constatou que as mulheres que tinham ondas de calor frequentes ou persistentes e que não estavam fazendo tratamento hormonal eram mais propensas a ter doenças cardiovasculares, incluindo derrames e insuficiência cardíaca, em comparação com as mulheres com menor incidência de ondas de calor ou que não apresentavam esse sintoma, informou a dra. Rebecca Thurston, diretora do Programa de Saúde Biocomportamental das Mulheres na Universidade de Pittsburgh e autora principal do estudo. Ter mais ondas de calor, especialmente à noite, também está associado a uma diminuição nas habilidades cognitivas.

Tudo isso pode estar relacionado a perturbações do sono, apontou a dra. JoAnn Manson, chefe do departamento de medicina preventiva do Brigham and Women’s Hospital e da Escola de Medicina de Harvard: “Se os sintomas estão interrompendo o sono, a própria interrupção pode ser um fator de risco para doenças cardíacas.” A insônia que pode resultar dos suores noturnos, quando não tratada durante anos, também pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de demência em idade mais avançada.

A idade na menopausa, que pode variar segundo a raça, também pode estar ligada à longevidade como um todo. Algumas pesquisas mostram que as mulheres que atingem a menopausa mais tarde vivem mais.

Muitas coisas, porém, ainda não são totalmente compreendidas. As ondas de calor podem ser um indicador de problemas de saúde subjacentes, e não uma causa, disse Thurston, acrescentando que uma correlação direta entre as ondas de calor frequentes e graves experimentadas por mulheres negras e os riscos de desenvolvimento de problemas de saúde em longo prazo não foi estabelecida, assim como a relação entre os sintomas e as consequências para a saúde em outras raças mal foi estudada.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - A gargalhada de seu ginecologista. É disso que Dannette Fogle, professora aposentada de 65 anos de Nova York, se lembra com mais clareza sobre sua introdução à menopausa. Tinha 34 anos quando percebeu alterações em seu ciclo menstrual, que até então era regular - sintoma característico da perimenopausa, momento de transição rumo ao fim da idade reprodutiva da mulher.

Dannette Fogle começou a ter os sintomas da menopausa aos 34 anos, mas seu médico garantiu que não havia motivo de preocupação. Foto: Maansi Srivastava/The New York Times

Para a maioria das mulheres, a perimenopausa não se inicia antes dos 40 anos, mas alguns estudos mostraram que, em mulheres negras, essa transição tende a ocorrer mais cedo em relação a mulheres de outras raças. Fogle, que é negra, também passou a ter ondas de calor noturnas, outro sinal de que seus hormônios estavam mudando. Por isso, foi ao ginecologista em busca de respostas, tranquilidade e talvez algo para amenizar os suores, que já estavam começando a prejudicar seu sono. “Quando eu disse: ‘Acho que estou entrando na menopausa’, ele não só riu alto, como se eu tivesse dito uma coisa absurda, mas também chamou a enfermeira e comentou: ‘Você consegue acreditar nessa mulher?’ Como se eu nem estivesse na sala.”

Fogle ficou tão desanimada depois desse episódio que decidiu enfrentar a situação sem ajuda médica. A perimenopausa dura em média de quatro a dez anos, mas para ela durou mais de 15. Entrou na menopausa (definida pela ausência do período menstrual por 12 meses consecutivos) quando completou 50 anos.

Um milhão de mulheres americanas lida anualmente com dezenas de sintomas - incluindo ondas de calor, ressecamento vaginal, perda de cabelo, períodos menstruais irregulares e intensos e ganho de peso -, com pouco direcionamento médico e poucas opções de tratamentos para amenizar essas manifestações. Para muitas delas, a transição para a menopausa é desconcertante.

Para as mulheres negras, no entanto, a transição pode ser ainda mais complicada. Pesquisas mostram que a duração, a frequência, a gravidade e até os tipos de sintomas podem ser diferentes entre as raças.

Quando as mulheres negras buscam cuidados médicos, frequentemente encontram profissionais que não estão cientes dessas diferenças e não têm preparo para ajudá-las a lidar com a transição. Isso pode parecer descaso com suas preocupações - experiência familiar para mulheres negras no consultório médico. As consequências podem ser graves: alguns sintomas da menopausa, quando não tratados, estão associados a um risco elevado de condições crônicas em longo prazo, como doenças cardíacas coronárias e doenças neurodegenerativas. Também podem se transformar em anos de desconforto, que afetam a saúde mental e a qualidade de vida da mulher.

Nos últimos anos, tem havido uma crescente conscientização cultural sobre a menopausa, e surgiram várias startups apoiadas por celebridades, voltadas para o tratamento de seus sintomas. Mas a discussão muitas vezes ainda gira em torno das mulheres brancas, cujas experiências são vistas como “‘a norma’, e o que acontece fora desse padrão acaba sendo excluído ou marginalizado”, disse Omisade Burney-Scott, apresentadora do podcast Black Girl’s Guide to Surviving Menopause (Guia da mulher negra para sobreviver à menopausa), que teve início em 2019.

Isso significa que as mulheres negras frequentemente não recebem cuidados adequados durante a menopausa, o que indica a elas que seu sofrimento é insignificante, observou a dra. Stephanie Faubion, diretora médica da Sociedade da Menopausa e diretora do Centro Clínico Mayo para a Saúde da Mulher. “Estamos dizendo que realmente não importa se você não está dormindo bem à noite, ou se você está faltando ao trabalho por causa desses sintomas. Estamos menosprezando o sofrimento desse grupo de mulheres em um grau ainda maior do que fazemos com o sofrimento de todas as outras mulheres na menopausa.”

‘Sem orientação nenhuma’

Um estudo pioneiro sobre as diferenças raciais na menopausa, o Swan, sigla de Study of Women’s Health Across the Nation, teve início em 1994. Pesquisadores acompanharam um grupo de mais de três mil mulheres na perimenopausa e na menopausa durante décadas e encontraram algumas diferenças fundamentais: as mulheres negras e hispânicas entram na menopausa mais cedo do que as mulheres brancas, chinesas e japonesas. Também sentem certos sintomas da menopausa durante dez anos ou mais - quase o dobro do tempo - em comparação com as mulheres referidas acima.

As ondas de calor, sintoma comum da menopausa, muitas vezes são perturbadoras para todas as raças, levando a sudoreses noturnas que podem perturbar o sono e a ocorrências ao longo do dia que podem atrapalhar a capacidade da mulher de se concentrar ou trabalhar. Mas os pesquisadores descobriram que as mulheres negras têm maior probabilidade de experimentar ondas de calor mais intensas e frequentes, bem como de suportar esses sintomas por mais tempo em comparação com as mulheres de outras raças. Existem poucos estudos de qualidade sobre mulheres asiático-americanas - grupo que inclui mulheres de origem chinesa, coreana, sul-asiática e filipina -, mas alguns mostraram que elas têm maior probabilidade de experimentar dor crônica e ansiedade do que ondas de calor.

Quando Anjum Shah, de 55 anos, planejadora urbana em Orlando, na Flórida, começou a ter ondas de calor aos 48 anos, sabia que eram devidas à menopausa, mas estava completamente despreparada para a ansiedade repentina que passou a experimentar. “Eu ia para a cama e, de repente, me levantava, completamente desperta, com o coração acelerado, e pensava: ‘O que há de errado comigo?’”, contou Shah, que é sul-asiática.

Ela procurou o mesmo clínico geral com quem se consultava havia anos. “Perguntei: ‘O que devo fazer?’ O médico respondeu perguntando o que eu gostaria que ele fizesse. Não me deu nenhuma orientação.”

Um sistema insuficiente

Há um consenso crescente entre especialistas de que a saúde básica da mulher ao entrar na perimenopausa pode afetar significativamente sua experiência, disse a dra. Sherri-Ann Burnett-Bowie, professora associada na Escola de Medicina de Harvard.

Em um artigo publicado em fevereiro, os pesquisadores concluíram que as disparidades nos sintomas da menopausa entre mulheres negras e brancas podem ser explicadas pelo “racismo estrutural” que levou as mulheres negras a ter uma “carga maior de doenças”. Estas, no estudo Swan, de acordo com o artigo, eram mais propensas do que as mulheres brancas a relatar instabilidade financeira, casos de discriminação, “problemas com a polícia, experiências de violência, bem como doença ou morte de membros da família próximos”. Essas experiências podem comprometer a saúde geral de uma pessoa e acelerar o processo de envelhecimento, ressaltou Burnett-Bowie, coautora do artigo - processo conhecido como “deterioração”.

Mas Faubion observou que é raro que tais descobertas cheguem ao conhecimento dos profissionais que atendem as mulheres diariamente. Uma pesquisa de 2019 da Clínica Mayo com médicos residentes descobriu que 58% haviam assistido a uma palestra sobre menopausa em sua formação, e 20% não tinham nenhum preparo sobre o assunto.

A coreana-americana Carol Kim-Benaissa teve ataques repentinos de ansiedade durante a menopausa, mas não teve fogachos.  Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Vários estudos, incluindo um que foi publicado de dezembro, mostram que, quando procuram um especialista em menopausa, as mulheres negras têm menos probabilidade do que as brancas de receber uma prescrição de terapia hormonal, que não é uma cura milagrosa, mas pode trazer benefícios para a qualidade de vida e a saúde geral das mulheres. Essa diferença nas prescrições pode se dever a um “preconceito racial inconsciente” que leva os médicos a pensar que os sintomas de uma paciente não justificam o tratamento, afirmou a dra. Monica Christmas, diretora do Programa de Menopausa da UChicago Medicine e coautora do estudo. A falta de acesso a profissionais de saúde e o custo das opções de terapia hormonal podem ser outros fatores.

Consequências em longo prazo

Além de todo o desconforto, alguns desses sintomas da menopausa, quando não tratados, podem estar associados a efeitos negativos sobre a saúde em longo prazo. Um estudo de 2021, por exemplo, constatou que as mulheres que tinham ondas de calor frequentes ou persistentes e que não estavam fazendo tratamento hormonal eram mais propensas a ter doenças cardiovasculares, incluindo derrames e insuficiência cardíaca, em comparação com as mulheres com menor incidência de ondas de calor ou que não apresentavam esse sintoma, informou a dra. Rebecca Thurston, diretora do Programa de Saúde Biocomportamental das Mulheres na Universidade de Pittsburgh e autora principal do estudo. Ter mais ondas de calor, especialmente à noite, também está associado a uma diminuição nas habilidades cognitivas.

Tudo isso pode estar relacionado a perturbações do sono, apontou a dra. JoAnn Manson, chefe do departamento de medicina preventiva do Brigham and Women’s Hospital e da Escola de Medicina de Harvard: “Se os sintomas estão interrompendo o sono, a própria interrupção pode ser um fator de risco para doenças cardíacas.” A insônia que pode resultar dos suores noturnos, quando não tratada durante anos, também pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de demência em idade mais avançada.

A idade na menopausa, que pode variar segundo a raça, também pode estar ligada à longevidade como um todo. Algumas pesquisas mostram que as mulheres que atingem a menopausa mais tarde vivem mais.

Muitas coisas, porém, ainda não são totalmente compreendidas. As ondas de calor podem ser um indicador de problemas de saúde subjacentes, e não uma causa, disse Thurston, acrescentando que uma correlação direta entre as ondas de calor frequentes e graves experimentadas por mulheres negras e os riscos de desenvolvimento de problemas de saúde em longo prazo não foi estabelecida, assim como a relação entre os sintomas e as consequências para a saúde em outras raças mal foi estudada.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - A gargalhada de seu ginecologista. É disso que Dannette Fogle, professora aposentada de 65 anos de Nova York, se lembra com mais clareza sobre sua introdução à menopausa. Tinha 34 anos quando percebeu alterações em seu ciclo menstrual, que até então era regular - sintoma característico da perimenopausa, momento de transição rumo ao fim da idade reprodutiva da mulher.

Dannette Fogle começou a ter os sintomas da menopausa aos 34 anos, mas seu médico garantiu que não havia motivo de preocupação. Foto: Maansi Srivastava/The New York Times

Para a maioria das mulheres, a perimenopausa não se inicia antes dos 40 anos, mas alguns estudos mostraram que, em mulheres negras, essa transição tende a ocorrer mais cedo em relação a mulheres de outras raças. Fogle, que é negra, também passou a ter ondas de calor noturnas, outro sinal de que seus hormônios estavam mudando. Por isso, foi ao ginecologista em busca de respostas, tranquilidade e talvez algo para amenizar os suores, que já estavam começando a prejudicar seu sono. “Quando eu disse: ‘Acho que estou entrando na menopausa’, ele não só riu alto, como se eu tivesse dito uma coisa absurda, mas também chamou a enfermeira e comentou: ‘Você consegue acreditar nessa mulher?’ Como se eu nem estivesse na sala.”

Fogle ficou tão desanimada depois desse episódio que decidiu enfrentar a situação sem ajuda médica. A perimenopausa dura em média de quatro a dez anos, mas para ela durou mais de 15. Entrou na menopausa (definida pela ausência do período menstrual por 12 meses consecutivos) quando completou 50 anos.

Um milhão de mulheres americanas lida anualmente com dezenas de sintomas - incluindo ondas de calor, ressecamento vaginal, perda de cabelo, períodos menstruais irregulares e intensos e ganho de peso -, com pouco direcionamento médico e poucas opções de tratamentos para amenizar essas manifestações. Para muitas delas, a transição para a menopausa é desconcertante.

Para as mulheres negras, no entanto, a transição pode ser ainda mais complicada. Pesquisas mostram que a duração, a frequência, a gravidade e até os tipos de sintomas podem ser diferentes entre as raças.

Quando as mulheres negras buscam cuidados médicos, frequentemente encontram profissionais que não estão cientes dessas diferenças e não têm preparo para ajudá-las a lidar com a transição. Isso pode parecer descaso com suas preocupações - experiência familiar para mulheres negras no consultório médico. As consequências podem ser graves: alguns sintomas da menopausa, quando não tratados, estão associados a um risco elevado de condições crônicas em longo prazo, como doenças cardíacas coronárias e doenças neurodegenerativas. Também podem se transformar em anos de desconforto, que afetam a saúde mental e a qualidade de vida da mulher.

Nos últimos anos, tem havido uma crescente conscientização cultural sobre a menopausa, e surgiram várias startups apoiadas por celebridades, voltadas para o tratamento de seus sintomas. Mas a discussão muitas vezes ainda gira em torno das mulheres brancas, cujas experiências são vistas como “‘a norma’, e o que acontece fora desse padrão acaba sendo excluído ou marginalizado”, disse Omisade Burney-Scott, apresentadora do podcast Black Girl’s Guide to Surviving Menopause (Guia da mulher negra para sobreviver à menopausa), que teve início em 2019.

Isso significa que as mulheres negras frequentemente não recebem cuidados adequados durante a menopausa, o que indica a elas que seu sofrimento é insignificante, observou a dra. Stephanie Faubion, diretora médica da Sociedade da Menopausa e diretora do Centro Clínico Mayo para a Saúde da Mulher. “Estamos dizendo que realmente não importa se você não está dormindo bem à noite, ou se você está faltando ao trabalho por causa desses sintomas. Estamos menosprezando o sofrimento desse grupo de mulheres em um grau ainda maior do que fazemos com o sofrimento de todas as outras mulheres na menopausa.”

‘Sem orientação nenhuma’

Um estudo pioneiro sobre as diferenças raciais na menopausa, o Swan, sigla de Study of Women’s Health Across the Nation, teve início em 1994. Pesquisadores acompanharam um grupo de mais de três mil mulheres na perimenopausa e na menopausa durante décadas e encontraram algumas diferenças fundamentais: as mulheres negras e hispânicas entram na menopausa mais cedo do que as mulheres brancas, chinesas e japonesas. Também sentem certos sintomas da menopausa durante dez anos ou mais - quase o dobro do tempo - em comparação com as mulheres referidas acima.

As ondas de calor, sintoma comum da menopausa, muitas vezes são perturbadoras para todas as raças, levando a sudoreses noturnas que podem perturbar o sono e a ocorrências ao longo do dia que podem atrapalhar a capacidade da mulher de se concentrar ou trabalhar. Mas os pesquisadores descobriram que as mulheres negras têm maior probabilidade de experimentar ondas de calor mais intensas e frequentes, bem como de suportar esses sintomas por mais tempo em comparação com as mulheres de outras raças. Existem poucos estudos de qualidade sobre mulheres asiático-americanas - grupo que inclui mulheres de origem chinesa, coreana, sul-asiática e filipina -, mas alguns mostraram que elas têm maior probabilidade de experimentar dor crônica e ansiedade do que ondas de calor.

Quando Anjum Shah, de 55 anos, planejadora urbana em Orlando, na Flórida, começou a ter ondas de calor aos 48 anos, sabia que eram devidas à menopausa, mas estava completamente despreparada para a ansiedade repentina que passou a experimentar. “Eu ia para a cama e, de repente, me levantava, completamente desperta, com o coração acelerado, e pensava: ‘O que há de errado comigo?’”, contou Shah, que é sul-asiática.

Ela procurou o mesmo clínico geral com quem se consultava havia anos. “Perguntei: ‘O que devo fazer?’ O médico respondeu perguntando o que eu gostaria que ele fizesse. Não me deu nenhuma orientação.”

Um sistema insuficiente

Há um consenso crescente entre especialistas de que a saúde básica da mulher ao entrar na perimenopausa pode afetar significativamente sua experiência, disse a dra. Sherri-Ann Burnett-Bowie, professora associada na Escola de Medicina de Harvard.

Em um artigo publicado em fevereiro, os pesquisadores concluíram que as disparidades nos sintomas da menopausa entre mulheres negras e brancas podem ser explicadas pelo “racismo estrutural” que levou as mulheres negras a ter uma “carga maior de doenças”. Estas, no estudo Swan, de acordo com o artigo, eram mais propensas do que as mulheres brancas a relatar instabilidade financeira, casos de discriminação, “problemas com a polícia, experiências de violência, bem como doença ou morte de membros da família próximos”. Essas experiências podem comprometer a saúde geral de uma pessoa e acelerar o processo de envelhecimento, ressaltou Burnett-Bowie, coautora do artigo - processo conhecido como “deterioração”.

Mas Faubion observou que é raro que tais descobertas cheguem ao conhecimento dos profissionais que atendem as mulheres diariamente. Uma pesquisa de 2019 da Clínica Mayo com médicos residentes descobriu que 58% haviam assistido a uma palestra sobre menopausa em sua formação, e 20% não tinham nenhum preparo sobre o assunto.

A coreana-americana Carol Kim-Benaissa teve ataques repentinos de ansiedade durante a menopausa, mas não teve fogachos.  Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Vários estudos, incluindo um que foi publicado de dezembro, mostram que, quando procuram um especialista em menopausa, as mulheres negras têm menos probabilidade do que as brancas de receber uma prescrição de terapia hormonal, que não é uma cura milagrosa, mas pode trazer benefícios para a qualidade de vida e a saúde geral das mulheres. Essa diferença nas prescrições pode se dever a um “preconceito racial inconsciente” que leva os médicos a pensar que os sintomas de uma paciente não justificam o tratamento, afirmou a dra. Monica Christmas, diretora do Programa de Menopausa da UChicago Medicine e coautora do estudo. A falta de acesso a profissionais de saúde e o custo das opções de terapia hormonal podem ser outros fatores.

Consequências em longo prazo

Além de todo o desconforto, alguns desses sintomas da menopausa, quando não tratados, podem estar associados a efeitos negativos sobre a saúde em longo prazo. Um estudo de 2021, por exemplo, constatou que as mulheres que tinham ondas de calor frequentes ou persistentes e que não estavam fazendo tratamento hormonal eram mais propensas a ter doenças cardiovasculares, incluindo derrames e insuficiência cardíaca, em comparação com as mulheres com menor incidência de ondas de calor ou que não apresentavam esse sintoma, informou a dra. Rebecca Thurston, diretora do Programa de Saúde Biocomportamental das Mulheres na Universidade de Pittsburgh e autora principal do estudo. Ter mais ondas de calor, especialmente à noite, também está associado a uma diminuição nas habilidades cognitivas.

Tudo isso pode estar relacionado a perturbações do sono, apontou a dra. JoAnn Manson, chefe do departamento de medicina preventiva do Brigham and Women’s Hospital e da Escola de Medicina de Harvard: “Se os sintomas estão interrompendo o sono, a própria interrupção pode ser um fator de risco para doenças cardíacas.” A insônia que pode resultar dos suores noturnos, quando não tratada durante anos, também pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de demência em idade mais avançada.

A idade na menopausa, que pode variar segundo a raça, também pode estar ligada à longevidade como um todo. Algumas pesquisas mostram que as mulheres que atingem a menopausa mais tarde vivem mais.

Muitas coisas, porém, ainda não são totalmente compreendidas. As ondas de calor podem ser um indicador de problemas de saúde subjacentes, e não uma causa, disse Thurston, acrescentando que uma correlação direta entre as ondas de calor frequentes e graves experimentadas por mulheres negras e os riscos de desenvolvimento de problemas de saúde em longo prazo não foi estabelecida, assim como a relação entre os sintomas e as consequências para a saúde em outras raças mal foi estudada.

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THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - A gargalhada de seu ginecologista. É disso que Dannette Fogle, professora aposentada de 65 anos de Nova York, se lembra com mais clareza sobre sua introdução à menopausa. Tinha 34 anos quando percebeu alterações em seu ciclo menstrual, que até então era regular - sintoma característico da perimenopausa, momento de transição rumo ao fim da idade reprodutiva da mulher.

Dannette Fogle começou a ter os sintomas da menopausa aos 34 anos, mas seu médico garantiu que não havia motivo de preocupação. Foto: Maansi Srivastava/The New York Times

Para a maioria das mulheres, a perimenopausa não se inicia antes dos 40 anos, mas alguns estudos mostraram que, em mulheres negras, essa transição tende a ocorrer mais cedo em relação a mulheres de outras raças. Fogle, que é negra, também passou a ter ondas de calor noturnas, outro sinal de que seus hormônios estavam mudando. Por isso, foi ao ginecologista em busca de respostas, tranquilidade e talvez algo para amenizar os suores, que já estavam começando a prejudicar seu sono. “Quando eu disse: ‘Acho que estou entrando na menopausa’, ele não só riu alto, como se eu tivesse dito uma coisa absurda, mas também chamou a enfermeira e comentou: ‘Você consegue acreditar nessa mulher?’ Como se eu nem estivesse na sala.”

Fogle ficou tão desanimada depois desse episódio que decidiu enfrentar a situação sem ajuda médica. A perimenopausa dura em média de quatro a dez anos, mas para ela durou mais de 15. Entrou na menopausa (definida pela ausência do período menstrual por 12 meses consecutivos) quando completou 50 anos.

Um milhão de mulheres americanas lida anualmente com dezenas de sintomas - incluindo ondas de calor, ressecamento vaginal, perda de cabelo, períodos menstruais irregulares e intensos e ganho de peso -, com pouco direcionamento médico e poucas opções de tratamentos para amenizar essas manifestações. Para muitas delas, a transição para a menopausa é desconcertante.

Para as mulheres negras, no entanto, a transição pode ser ainda mais complicada. Pesquisas mostram que a duração, a frequência, a gravidade e até os tipos de sintomas podem ser diferentes entre as raças.

Quando as mulheres negras buscam cuidados médicos, frequentemente encontram profissionais que não estão cientes dessas diferenças e não têm preparo para ajudá-las a lidar com a transição. Isso pode parecer descaso com suas preocupações - experiência familiar para mulheres negras no consultório médico. As consequências podem ser graves: alguns sintomas da menopausa, quando não tratados, estão associados a um risco elevado de condições crônicas em longo prazo, como doenças cardíacas coronárias e doenças neurodegenerativas. Também podem se transformar em anos de desconforto, que afetam a saúde mental e a qualidade de vida da mulher.

Nos últimos anos, tem havido uma crescente conscientização cultural sobre a menopausa, e surgiram várias startups apoiadas por celebridades, voltadas para o tratamento de seus sintomas. Mas a discussão muitas vezes ainda gira em torno das mulheres brancas, cujas experiências são vistas como “‘a norma’, e o que acontece fora desse padrão acaba sendo excluído ou marginalizado”, disse Omisade Burney-Scott, apresentadora do podcast Black Girl’s Guide to Surviving Menopause (Guia da mulher negra para sobreviver à menopausa), que teve início em 2019.

Isso significa que as mulheres negras frequentemente não recebem cuidados adequados durante a menopausa, o que indica a elas que seu sofrimento é insignificante, observou a dra. Stephanie Faubion, diretora médica da Sociedade da Menopausa e diretora do Centro Clínico Mayo para a Saúde da Mulher. “Estamos dizendo que realmente não importa se você não está dormindo bem à noite, ou se você está faltando ao trabalho por causa desses sintomas. Estamos menosprezando o sofrimento desse grupo de mulheres em um grau ainda maior do que fazemos com o sofrimento de todas as outras mulheres na menopausa.”

‘Sem orientação nenhuma’

Um estudo pioneiro sobre as diferenças raciais na menopausa, o Swan, sigla de Study of Women’s Health Across the Nation, teve início em 1994. Pesquisadores acompanharam um grupo de mais de três mil mulheres na perimenopausa e na menopausa durante décadas e encontraram algumas diferenças fundamentais: as mulheres negras e hispânicas entram na menopausa mais cedo do que as mulheres brancas, chinesas e japonesas. Também sentem certos sintomas da menopausa durante dez anos ou mais - quase o dobro do tempo - em comparação com as mulheres referidas acima.

As ondas de calor, sintoma comum da menopausa, muitas vezes são perturbadoras para todas as raças, levando a sudoreses noturnas que podem perturbar o sono e a ocorrências ao longo do dia que podem atrapalhar a capacidade da mulher de se concentrar ou trabalhar. Mas os pesquisadores descobriram que as mulheres negras têm maior probabilidade de experimentar ondas de calor mais intensas e frequentes, bem como de suportar esses sintomas por mais tempo em comparação com as mulheres de outras raças. Existem poucos estudos de qualidade sobre mulheres asiático-americanas - grupo que inclui mulheres de origem chinesa, coreana, sul-asiática e filipina -, mas alguns mostraram que elas têm maior probabilidade de experimentar dor crônica e ansiedade do que ondas de calor.

Quando Anjum Shah, de 55 anos, planejadora urbana em Orlando, na Flórida, começou a ter ondas de calor aos 48 anos, sabia que eram devidas à menopausa, mas estava completamente despreparada para a ansiedade repentina que passou a experimentar. “Eu ia para a cama e, de repente, me levantava, completamente desperta, com o coração acelerado, e pensava: ‘O que há de errado comigo?’”, contou Shah, que é sul-asiática.

Ela procurou o mesmo clínico geral com quem se consultava havia anos. “Perguntei: ‘O que devo fazer?’ O médico respondeu perguntando o que eu gostaria que ele fizesse. Não me deu nenhuma orientação.”

Um sistema insuficiente

Há um consenso crescente entre especialistas de que a saúde básica da mulher ao entrar na perimenopausa pode afetar significativamente sua experiência, disse a dra. Sherri-Ann Burnett-Bowie, professora associada na Escola de Medicina de Harvard.

Em um artigo publicado em fevereiro, os pesquisadores concluíram que as disparidades nos sintomas da menopausa entre mulheres negras e brancas podem ser explicadas pelo “racismo estrutural” que levou as mulheres negras a ter uma “carga maior de doenças”. Estas, no estudo Swan, de acordo com o artigo, eram mais propensas do que as mulheres brancas a relatar instabilidade financeira, casos de discriminação, “problemas com a polícia, experiências de violência, bem como doença ou morte de membros da família próximos”. Essas experiências podem comprometer a saúde geral de uma pessoa e acelerar o processo de envelhecimento, ressaltou Burnett-Bowie, coautora do artigo - processo conhecido como “deterioração”.

Mas Faubion observou que é raro que tais descobertas cheguem ao conhecimento dos profissionais que atendem as mulheres diariamente. Uma pesquisa de 2019 da Clínica Mayo com médicos residentes descobriu que 58% haviam assistido a uma palestra sobre menopausa em sua formação, e 20% não tinham nenhum preparo sobre o assunto.

A coreana-americana Carol Kim-Benaissa teve ataques repentinos de ansiedade durante a menopausa, mas não teve fogachos.  Foto: Gabriella Angotti-Jones/The New York Times

Vários estudos, incluindo um que foi publicado de dezembro, mostram que, quando procuram um especialista em menopausa, as mulheres negras têm menos probabilidade do que as brancas de receber uma prescrição de terapia hormonal, que não é uma cura milagrosa, mas pode trazer benefícios para a qualidade de vida e a saúde geral das mulheres. Essa diferença nas prescrições pode se dever a um “preconceito racial inconsciente” que leva os médicos a pensar que os sintomas de uma paciente não justificam o tratamento, afirmou a dra. Monica Christmas, diretora do Programa de Menopausa da UChicago Medicine e coautora do estudo. A falta de acesso a profissionais de saúde e o custo das opções de terapia hormonal podem ser outros fatores.

Consequências em longo prazo

Além de todo o desconforto, alguns desses sintomas da menopausa, quando não tratados, podem estar associados a efeitos negativos sobre a saúde em longo prazo. Um estudo de 2021, por exemplo, constatou que as mulheres que tinham ondas de calor frequentes ou persistentes e que não estavam fazendo tratamento hormonal eram mais propensas a ter doenças cardiovasculares, incluindo derrames e insuficiência cardíaca, em comparação com as mulheres com menor incidência de ondas de calor ou que não apresentavam esse sintoma, informou a dra. Rebecca Thurston, diretora do Programa de Saúde Biocomportamental das Mulheres na Universidade de Pittsburgh e autora principal do estudo. Ter mais ondas de calor, especialmente à noite, também está associado a uma diminuição nas habilidades cognitivas.

Tudo isso pode estar relacionado a perturbações do sono, apontou a dra. JoAnn Manson, chefe do departamento de medicina preventiva do Brigham and Women’s Hospital e da Escola de Medicina de Harvard: “Se os sintomas estão interrompendo o sono, a própria interrupção pode ser um fator de risco para doenças cardíacas.” A insônia que pode resultar dos suores noturnos, quando não tratada durante anos, também pode ser um fator de risco para o desenvolvimento de demência em idade mais avançada.

A idade na menopausa, que pode variar segundo a raça, também pode estar ligada à longevidade como um todo. Algumas pesquisas mostram que as mulheres que atingem a menopausa mais tarde vivem mais.

Muitas coisas, porém, ainda não são totalmente compreendidas. As ondas de calor podem ser um indicador de problemas de saúde subjacentes, e não uma causa, disse Thurston, acrescentando que uma correlação direta entre as ondas de calor frequentes e graves experimentadas por mulheres negras e os riscos de desenvolvimento de problemas de saúde em longo prazo não foi estabelecida, assim como a relação entre os sintomas e as consequências para a saúde em outras raças mal foi estudada.

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