Depois da 'corrida verde', os fornecedores de maconha legalizada do Canadá estão tropeçando


Maioria dos produtores relata perdas surpreendentes dois anos e meio após a legalização

Por Ian Austen

EXETER, Ontario – O prefeito da comunidade rural de South Huron, na província de Ontário, estava ansioso por uma explosão de empregos quando um produtor de maconha usou suas ações cujo valor estava disparando para comprar uma enorme estufa nos arredores dessa que é a maior cidade da região.

A compra feita há três anos prometia tornar essa comunidade o maior centro do que parecia ser o próximo grande setor em crescimento – o da maconha legal – e criar empregos com altos salários.

A maioria dos produtores de maconha no Canadá ainda está relatando perdas surpreendentes dois anos e meio após a legalização. Foto: Chris Wattie/The New York Times
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Mas antes de os cerca de 200 empregos previstos serem preenchidos – ou antes de qualquer semente de maconha ser plantada, ficou claro que o Canadá já estava produzindo mais maconha do que o mercado desejava. Depois de ficar inativa durante dois anos, a estufa foi vendida no ano passado por um terço do seu preço original de US$ 20,75 milhões.

A experiência de Exeter – e as grandes esperanças geradas – foi desapontadora e reflete a história canadense mais ampla no tocante à comercialização da maconha legal.

Segundo analistas, uma das razões pelas quais as perspectivas animadoras não se materializaram é o sistema de distribuição extremamente regulamentado introduzido pelo Canadá, que proíbe totalmente a propaganda e o marketing da erva. A abertura de lojas em algumas províncias – particularmente na região de Ontário – foi suspensa. Além disso, pesquisas sugerem que muitos canadenses simplesmente não estão interessados em adotar um novo vício.

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“Estávamos aguardando ansiosamente por isso”, disse o prefeito George Finch, de pé na frente do prédio da prefeitura de Exeter que data do século 19. “Parecia bom demais, não é? Que pena. É possível que voltemos aos vegetais novamente”.

Quando o governo do primeiro ministro Justin Trudeau legalizou a maconha em 2018, o objetivo primário foi criar um sistema de justiça mais igualitário, não um novo e importante setor de negócios.

Mas os investidores pensaram de outra maneira e, antes da legalização, uma “corrida verde” tomou conta da Bolsa de Valores de Toronto. O dinheiro foi investido em empresas criadas para atender não só o mercado canadense, mas também de olho em outras oportunidades, particularmente o mercado dos Estados Unidos, onde mais Estados estavam legalizando a maconha.

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Estufas há muito tempo ociosas foram renovadas e vendidas por preços recorde como a de Exeter e novas instalações para cultivo em lugar coberto da maconha surgiram em todo o país. Os jornais que haviam demitido funcionários contrataram jornalistas para cobrir assuntos ligados à maconha. Como os plásticos no filme The Graduate, a maconha parecia destinada a se tornar o próximo grande sucesso no Canadá.

A onda de investimentos produziu o mesmo eco do boom das ações das empresas "ponto-com" no final da década de 1990. E acabou com o mesmo colapso.

Mesmo com uma ligeira recuperação impulsionada pela ampliação das legalização da maconha nos Estados Unidos – Nova York legalizou em março e os eleitores de quatro Estados apoiaram a legalização da erva em novembro - um índice de ações da maconha ainda está 70% abaixo do seu pico de 2018.

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E dois anos e meio depois da legalização, muitos produtores da erva no Canadá ainda contabilizam perdas assombrosas.

Um novo e importante concorrente está surgindo também: parlamentares no México legalizaram o uso recreativo da maconha em março. Assim, o clima de negócios para os plantadores canadenses pode ficar ainda mais desafiador.

“Provavelmente vai ocorrer uma série de reestruturações”, disse Kyle Murray, vice-reitor da Escola de Comércio da Universidade de Alberta, em Edmonton. “As coisas estavam exageradas. O caso é muito similar ao boom e o fracasso das empresas "ponto-com".

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Canopy Growth, o maior produtor do país, perdeu 1,2 bilhão de dólares canadenses, ou US$ 950 milhões, nos primeiros nove meses do seu ano operacional vigente. As demissões se estenderam por todo o setor. Grandes produtores fundiram suas operações para se tornarem mais fortes. As luzes foram permanentemente desligadas em muitas estufas em várias províncias.

Um funcionário cuida de plantações de maconha em uma instalação de cultivo no Canadá. Foto: Alana Paterson/The New York Times

As grandes apostas feitas na maconha, segundo os analistas, foram feitas com base na suposição de que as vendas no Canadá refletiriam o grande salto nas vendas de bebida alcoólica que ocorreu nos Estados Unidos após o fim da Lei Seca.

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“Todos achavam que no Canadá o setor iria mais longe e mais rápido e isso não aconteceu”, afirmou Brendan Kennedy, diretor executivo da Tilray, uma grande produtora em Nanimo, Colúmbia Britânica, que perdeu US$ 272 milhões no ano passado. “Um dos desafios de competir com o mercado ilícito é que os regulamentos são muito rígidos”.

Kennedy é um dos líderes da indústria da maconha no Canadá ainda operando. Mas com os prejuízos se acumulando e o valor das ações despencando, muitos pioneiros já vem se retirando. Quando uma planejada fusão entre a Tilray e a Aphria, com sede em Ontário, for concluída este ano, criando a maior companhia de maconha do mundo, Kennedy continuará como diretor, mas não quer mais ficar na presidência.

Em Ontário, o plano inicial era fazer as vendas por meio de uma sucursal do sistema de lojas de bebidas alcoólicas do governo, como é feito em Quebec. Mas quando o novo governo conservador assumiu em 2018, ele cancelou esses planos, e as vendas só são feitas on-line através de um website da província.

Desde então, os planos da província mudaram outras duas vezes, o que levou a uma introdução irregular de lojas privadas. Mesmo depois de um recente aumento dos licenciamentos, Ontário aprovou a abertura de apenas 575 lojas. Em comparação, Alberta, com uma população que é um terço da de Ontário, tem 583 lojas.

Embora as esperanças iniciais de um êxito comercial com a maconha fossem por demais otimistas, Murray disse estar confiante que um comércio viável surgirá, e o número crescente de pontos de venda é um sinal disso. O fato de os preços terem caído e se equiparado aos preços cobrados na rua também deve ajudar as vendas feitas legalmente.

“Nada disso significa que é um mercado ruim", disse Murray. "Muito dinheiro e muitas companhias estavam envolvidos de início. No final haverá algumas empresas bem-sucedidas por um longo período de tempo. E se tivermos sorte, vamos nos tornar líderes globais." / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

The New York Times Licensing Group – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

EXETER, Ontario – O prefeito da comunidade rural de South Huron, na província de Ontário, estava ansioso por uma explosão de empregos quando um produtor de maconha usou suas ações cujo valor estava disparando para comprar uma enorme estufa nos arredores dessa que é a maior cidade da região.

A compra feita há três anos prometia tornar essa comunidade o maior centro do que parecia ser o próximo grande setor em crescimento – o da maconha legal – e criar empregos com altos salários.

A maioria dos produtores de maconha no Canadá ainda está relatando perdas surpreendentes dois anos e meio após a legalização. Foto: Chris Wattie/The New York Times

Mas antes de os cerca de 200 empregos previstos serem preenchidos – ou antes de qualquer semente de maconha ser plantada, ficou claro que o Canadá já estava produzindo mais maconha do que o mercado desejava. Depois de ficar inativa durante dois anos, a estufa foi vendida no ano passado por um terço do seu preço original de US$ 20,75 milhões.

A experiência de Exeter – e as grandes esperanças geradas – foi desapontadora e reflete a história canadense mais ampla no tocante à comercialização da maconha legal.

Segundo analistas, uma das razões pelas quais as perspectivas animadoras não se materializaram é o sistema de distribuição extremamente regulamentado introduzido pelo Canadá, que proíbe totalmente a propaganda e o marketing da erva. A abertura de lojas em algumas províncias – particularmente na região de Ontário – foi suspensa. Além disso, pesquisas sugerem que muitos canadenses simplesmente não estão interessados em adotar um novo vício.

“Estávamos aguardando ansiosamente por isso”, disse o prefeito George Finch, de pé na frente do prédio da prefeitura de Exeter que data do século 19. “Parecia bom demais, não é? Que pena. É possível que voltemos aos vegetais novamente”.

Quando o governo do primeiro ministro Justin Trudeau legalizou a maconha em 2018, o objetivo primário foi criar um sistema de justiça mais igualitário, não um novo e importante setor de negócios.

Mas os investidores pensaram de outra maneira e, antes da legalização, uma “corrida verde” tomou conta da Bolsa de Valores de Toronto. O dinheiro foi investido em empresas criadas para atender não só o mercado canadense, mas também de olho em outras oportunidades, particularmente o mercado dos Estados Unidos, onde mais Estados estavam legalizando a maconha.

Estufas há muito tempo ociosas foram renovadas e vendidas por preços recorde como a de Exeter e novas instalações para cultivo em lugar coberto da maconha surgiram em todo o país. Os jornais que haviam demitido funcionários contrataram jornalistas para cobrir assuntos ligados à maconha. Como os plásticos no filme The Graduate, a maconha parecia destinada a se tornar o próximo grande sucesso no Canadá.

A onda de investimentos produziu o mesmo eco do boom das ações das empresas "ponto-com" no final da década de 1990. E acabou com o mesmo colapso.

Mesmo com uma ligeira recuperação impulsionada pela ampliação das legalização da maconha nos Estados Unidos – Nova York legalizou em março e os eleitores de quatro Estados apoiaram a legalização da erva em novembro - um índice de ações da maconha ainda está 70% abaixo do seu pico de 2018.

E dois anos e meio depois da legalização, muitos produtores da erva no Canadá ainda contabilizam perdas assombrosas.

Um novo e importante concorrente está surgindo também: parlamentares no México legalizaram o uso recreativo da maconha em março. Assim, o clima de negócios para os plantadores canadenses pode ficar ainda mais desafiador.

“Provavelmente vai ocorrer uma série de reestruturações”, disse Kyle Murray, vice-reitor da Escola de Comércio da Universidade de Alberta, em Edmonton. “As coisas estavam exageradas. O caso é muito similar ao boom e o fracasso das empresas "ponto-com".

Canopy Growth, o maior produtor do país, perdeu 1,2 bilhão de dólares canadenses, ou US$ 950 milhões, nos primeiros nove meses do seu ano operacional vigente. As demissões se estenderam por todo o setor. Grandes produtores fundiram suas operações para se tornarem mais fortes. As luzes foram permanentemente desligadas em muitas estufas em várias províncias.

Um funcionário cuida de plantações de maconha em uma instalação de cultivo no Canadá. Foto: Alana Paterson/The New York Times

As grandes apostas feitas na maconha, segundo os analistas, foram feitas com base na suposição de que as vendas no Canadá refletiriam o grande salto nas vendas de bebida alcoólica que ocorreu nos Estados Unidos após o fim da Lei Seca.

“Todos achavam que no Canadá o setor iria mais longe e mais rápido e isso não aconteceu”, afirmou Brendan Kennedy, diretor executivo da Tilray, uma grande produtora em Nanimo, Colúmbia Britânica, que perdeu US$ 272 milhões no ano passado. “Um dos desafios de competir com o mercado ilícito é que os regulamentos são muito rígidos”.

Kennedy é um dos líderes da indústria da maconha no Canadá ainda operando. Mas com os prejuízos se acumulando e o valor das ações despencando, muitos pioneiros já vem se retirando. Quando uma planejada fusão entre a Tilray e a Aphria, com sede em Ontário, for concluída este ano, criando a maior companhia de maconha do mundo, Kennedy continuará como diretor, mas não quer mais ficar na presidência.

Em Ontário, o plano inicial era fazer as vendas por meio de uma sucursal do sistema de lojas de bebidas alcoólicas do governo, como é feito em Quebec. Mas quando o novo governo conservador assumiu em 2018, ele cancelou esses planos, e as vendas só são feitas on-line através de um website da província.

Desde então, os planos da província mudaram outras duas vezes, o que levou a uma introdução irregular de lojas privadas. Mesmo depois de um recente aumento dos licenciamentos, Ontário aprovou a abertura de apenas 575 lojas. Em comparação, Alberta, com uma população que é um terço da de Ontário, tem 583 lojas.

Embora as esperanças iniciais de um êxito comercial com a maconha fossem por demais otimistas, Murray disse estar confiante que um comércio viável surgirá, e o número crescente de pontos de venda é um sinal disso. O fato de os preços terem caído e se equiparado aos preços cobrados na rua também deve ajudar as vendas feitas legalmente.

“Nada disso significa que é um mercado ruim", disse Murray. "Muito dinheiro e muitas companhias estavam envolvidos de início. No final haverá algumas empresas bem-sucedidas por um longo período de tempo. E se tivermos sorte, vamos nos tornar líderes globais." / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

The New York Times Licensing Group – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

EXETER, Ontario – O prefeito da comunidade rural de South Huron, na província de Ontário, estava ansioso por uma explosão de empregos quando um produtor de maconha usou suas ações cujo valor estava disparando para comprar uma enorme estufa nos arredores dessa que é a maior cidade da região.

A compra feita há três anos prometia tornar essa comunidade o maior centro do que parecia ser o próximo grande setor em crescimento – o da maconha legal – e criar empregos com altos salários.

A maioria dos produtores de maconha no Canadá ainda está relatando perdas surpreendentes dois anos e meio após a legalização. Foto: Chris Wattie/The New York Times

Mas antes de os cerca de 200 empregos previstos serem preenchidos – ou antes de qualquer semente de maconha ser plantada, ficou claro que o Canadá já estava produzindo mais maconha do que o mercado desejava. Depois de ficar inativa durante dois anos, a estufa foi vendida no ano passado por um terço do seu preço original de US$ 20,75 milhões.

A experiência de Exeter – e as grandes esperanças geradas – foi desapontadora e reflete a história canadense mais ampla no tocante à comercialização da maconha legal.

Segundo analistas, uma das razões pelas quais as perspectivas animadoras não se materializaram é o sistema de distribuição extremamente regulamentado introduzido pelo Canadá, que proíbe totalmente a propaganda e o marketing da erva. A abertura de lojas em algumas províncias – particularmente na região de Ontário – foi suspensa. Além disso, pesquisas sugerem que muitos canadenses simplesmente não estão interessados em adotar um novo vício.

“Estávamos aguardando ansiosamente por isso”, disse o prefeito George Finch, de pé na frente do prédio da prefeitura de Exeter que data do século 19. “Parecia bom demais, não é? Que pena. É possível que voltemos aos vegetais novamente”.

Quando o governo do primeiro ministro Justin Trudeau legalizou a maconha em 2018, o objetivo primário foi criar um sistema de justiça mais igualitário, não um novo e importante setor de negócios.

Mas os investidores pensaram de outra maneira e, antes da legalização, uma “corrida verde” tomou conta da Bolsa de Valores de Toronto. O dinheiro foi investido em empresas criadas para atender não só o mercado canadense, mas também de olho em outras oportunidades, particularmente o mercado dos Estados Unidos, onde mais Estados estavam legalizando a maconha.

Estufas há muito tempo ociosas foram renovadas e vendidas por preços recorde como a de Exeter e novas instalações para cultivo em lugar coberto da maconha surgiram em todo o país. Os jornais que haviam demitido funcionários contrataram jornalistas para cobrir assuntos ligados à maconha. Como os plásticos no filme The Graduate, a maconha parecia destinada a se tornar o próximo grande sucesso no Canadá.

A onda de investimentos produziu o mesmo eco do boom das ações das empresas "ponto-com" no final da década de 1990. E acabou com o mesmo colapso.

Mesmo com uma ligeira recuperação impulsionada pela ampliação das legalização da maconha nos Estados Unidos – Nova York legalizou em março e os eleitores de quatro Estados apoiaram a legalização da erva em novembro - um índice de ações da maconha ainda está 70% abaixo do seu pico de 2018.

E dois anos e meio depois da legalização, muitos produtores da erva no Canadá ainda contabilizam perdas assombrosas.

Um novo e importante concorrente está surgindo também: parlamentares no México legalizaram o uso recreativo da maconha em março. Assim, o clima de negócios para os plantadores canadenses pode ficar ainda mais desafiador.

“Provavelmente vai ocorrer uma série de reestruturações”, disse Kyle Murray, vice-reitor da Escola de Comércio da Universidade de Alberta, em Edmonton. “As coisas estavam exageradas. O caso é muito similar ao boom e o fracasso das empresas "ponto-com".

Canopy Growth, o maior produtor do país, perdeu 1,2 bilhão de dólares canadenses, ou US$ 950 milhões, nos primeiros nove meses do seu ano operacional vigente. As demissões se estenderam por todo o setor. Grandes produtores fundiram suas operações para se tornarem mais fortes. As luzes foram permanentemente desligadas em muitas estufas em várias províncias.

Um funcionário cuida de plantações de maconha em uma instalação de cultivo no Canadá. Foto: Alana Paterson/The New York Times

As grandes apostas feitas na maconha, segundo os analistas, foram feitas com base na suposição de que as vendas no Canadá refletiriam o grande salto nas vendas de bebida alcoólica que ocorreu nos Estados Unidos após o fim da Lei Seca.

“Todos achavam que no Canadá o setor iria mais longe e mais rápido e isso não aconteceu”, afirmou Brendan Kennedy, diretor executivo da Tilray, uma grande produtora em Nanimo, Colúmbia Britânica, que perdeu US$ 272 milhões no ano passado. “Um dos desafios de competir com o mercado ilícito é que os regulamentos são muito rígidos”.

Kennedy é um dos líderes da indústria da maconha no Canadá ainda operando. Mas com os prejuízos se acumulando e o valor das ações despencando, muitos pioneiros já vem se retirando. Quando uma planejada fusão entre a Tilray e a Aphria, com sede em Ontário, for concluída este ano, criando a maior companhia de maconha do mundo, Kennedy continuará como diretor, mas não quer mais ficar na presidência.

Em Ontário, o plano inicial era fazer as vendas por meio de uma sucursal do sistema de lojas de bebidas alcoólicas do governo, como é feito em Quebec. Mas quando o novo governo conservador assumiu em 2018, ele cancelou esses planos, e as vendas só são feitas on-line através de um website da província.

Desde então, os planos da província mudaram outras duas vezes, o que levou a uma introdução irregular de lojas privadas. Mesmo depois de um recente aumento dos licenciamentos, Ontário aprovou a abertura de apenas 575 lojas. Em comparação, Alberta, com uma população que é um terço da de Ontário, tem 583 lojas.

Embora as esperanças iniciais de um êxito comercial com a maconha fossem por demais otimistas, Murray disse estar confiante que um comércio viável surgirá, e o número crescente de pontos de venda é um sinal disso. O fato de os preços terem caído e se equiparado aos preços cobrados na rua também deve ajudar as vendas feitas legalmente.

“Nada disso significa que é um mercado ruim", disse Murray. "Muito dinheiro e muitas companhias estavam envolvidos de início. No final haverá algumas empresas bem-sucedidas por um longo período de tempo. E se tivermos sorte, vamos nos tornar líderes globais." / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

The New York Times Licensing Group – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

EXETER, Ontario – O prefeito da comunidade rural de South Huron, na província de Ontário, estava ansioso por uma explosão de empregos quando um produtor de maconha usou suas ações cujo valor estava disparando para comprar uma enorme estufa nos arredores dessa que é a maior cidade da região.

A compra feita há três anos prometia tornar essa comunidade o maior centro do que parecia ser o próximo grande setor em crescimento – o da maconha legal – e criar empregos com altos salários.

A maioria dos produtores de maconha no Canadá ainda está relatando perdas surpreendentes dois anos e meio após a legalização. Foto: Chris Wattie/The New York Times

Mas antes de os cerca de 200 empregos previstos serem preenchidos – ou antes de qualquer semente de maconha ser plantada, ficou claro que o Canadá já estava produzindo mais maconha do que o mercado desejava. Depois de ficar inativa durante dois anos, a estufa foi vendida no ano passado por um terço do seu preço original de US$ 20,75 milhões.

A experiência de Exeter – e as grandes esperanças geradas – foi desapontadora e reflete a história canadense mais ampla no tocante à comercialização da maconha legal.

Segundo analistas, uma das razões pelas quais as perspectivas animadoras não se materializaram é o sistema de distribuição extremamente regulamentado introduzido pelo Canadá, que proíbe totalmente a propaganda e o marketing da erva. A abertura de lojas em algumas províncias – particularmente na região de Ontário – foi suspensa. Além disso, pesquisas sugerem que muitos canadenses simplesmente não estão interessados em adotar um novo vício.

“Estávamos aguardando ansiosamente por isso”, disse o prefeito George Finch, de pé na frente do prédio da prefeitura de Exeter que data do século 19. “Parecia bom demais, não é? Que pena. É possível que voltemos aos vegetais novamente”.

Quando o governo do primeiro ministro Justin Trudeau legalizou a maconha em 2018, o objetivo primário foi criar um sistema de justiça mais igualitário, não um novo e importante setor de negócios.

Mas os investidores pensaram de outra maneira e, antes da legalização, uma “corrida verde” tomou conta da Bolsa de Valores de Toronto. O dinheiro foi investido em empresas criadas para atender não só o mercado canadense, mas também de olho em outras oportunidades, particularmente o mercado dos Estados Unidos, onde mais Estados estavam legalizando a maconha.

Estufas há muito tempo ociosas foram renovadas e vendidas por preços recorde como a de Exeter e novas instalações para cultivo em lugar coberto da maconha surgiram em todo o país. Os jornais que haviam demitido funcionários contrataram jornalistas para cobrir assuntos ligados à maconha. Como os plásticos no filme The Graduate, a maconha parecia destinada a se tornar o próximo grande sucesso no Canadá.

A onda de investimentos produziu o mesmo eco do boom das ações das empresas "ponto-com" no final da década de 1990. E acabou com o mesmo colapso.

Mesmo com uma ligeira recuperação impulsionada pela ampliação das legalização da maconha nos Estados Unidos – Nova York legalizou em março e os eleitores de quatro Estados apoiaram a legalização da erva em novembro - um índice de ações da maconha ainda está 70% abaixo do seu pico de 2018.

E dois anos e meio depois da legalização, muitos produtores da erva no Canadá ainda contabilizam perdas assombrosas.

Um novo e importante concorrente está surgindo também: parlamentares no México legalizaram o uso recreativo da maconha em março. Assim, o clima de negócios para os plantadores canadenses pode ficar ainda mais desafiador.

“Provavelmente vai ocorrer uma série de reestruturações”, disse Kyle Murray, vice-reitor da Escola de Comércio da Universidade de Alberta, em Edmonton. “As coisas estavam exageradas. O caso é muito similar ao boom e o fracasso das empresas "ponto-com".

Canopy Growth, o maior produtor do país, perdeu 1,2 bilhão de dólares canadenses, ou US$ 950 milhões, nos primeiros nove meses do seu ano operacional vigente. As demissões se estenderam por todo o setor. Grandes produtores fundiram suas operações para se tornarem mais fortes. As luzes foram permanentemente desligadas em muitas estufas em várias províncias.

Um funcionário cuida de plantações de maconha em uma instalação de cultivo no Canadá. Foto: Alana Paterson/The New York Times

As grandes apostas feitas na maconha, segundo os analistas, foram feitas com base na suposição de que as vendas no Canadá refletiriam o grande salto nas vendas de bebida alcoólica que ocorreu nos Estados Unidos após o fim da Lei Seca.

“Todos achavam que no Canadá o setor iria mais longe e mais rápido e isso não aconteceu”, afirmou Brendan Kennedy, diretor executivo da Tilray, uma grande produtora em Nanimo, Colúmbia Britânica, que perdeu US$ 272 milhões no ano passado. “Um dos desafios de competir com o mercado ilícito é que os regulamentos são muito rígidos”.

Kennedy é um dos líderes da indústria da maconha no Canadá ainda operando. Mas com os prejuízos se acumulando e o valor das ações despencando, muitos pioneiros já vem se retirando. Quando uma planejada fusão entre a Tilray e a Aphria, com sede em Ontário, for concluída este ano, criando a maior companhia de maconha do mundo, Kennedy continuará como diretor, mas não quer mais ficar na presidência.

Em Ontário, o plano inicial era fazer as vendas por meio de uma sucursal do sistema de lojas de bebidas alcoólicas do governo, como é feito em Quebec. Mas quando o novo governo conservador assumiu em 2018, ele cancelou esses planos, e as vendas só são feitas on-line através de um website da província.

Desde então, os planos da província mudaram outras duas vezes, o que levou a uma introdução irregular de lojas privadas. Mesmo depois de um recente aumento dos licenciamentos, Ontário aprovou a abertura de apenas 575 lojas. Em comparação, Alberta, com uma população que é um terço da de Ontário, tem 583 lojas.

Embora as esperanças iniciais de um êxito comercial com a maconha fossem por demais otimistas, Murray disse estar confiante que um comércio viável surgirá, e o número crescente de pontos de venda é um sinal disso. O fato de os preços terem caído e se equiparado aos preços cobrados na rua também deve ajudar as vendas feitas legalmente.

“Nada disso significa que é um mercado ruim", disse Murray. "Muito dinheiro e muitas companhias estavam envolvidos de início. No final haverá algumas empresas bem-sucedidas por um longo período de tempo. E se tivermos sorte, vamos nos tornar líderes globais." / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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