Indicada ao Oscar por 'Minari', Yuh-Jung Youn não tinha interesse em atuar quando era mais jovem


Estrela coreana teve uma carreira próspera por cinco décadas, tudo por causa de uma escolha que fez ao não ir bem no vestibular

Por Carlos Aguilar

Em seu aniversário de 60 anos, a estrela veterana Yuh-Jung Youn, da Coreia do Sul, fez uma promessa a si mesma. Passaria a colaborar apenas com pessoas em quem confiasse. Mesmo que seus empreendimentos fracassassem, o resultado não a preocuparia muito, desde que ela admirasse as pessoas que fizessem parte deles.

Essa filosofia de vida tardia, surgida depois de décadas de escolhas limitadas e traumas profissionais, levou-a até Minari – Em Busca da Felicidade, a história semiautobiográfica do diretor Lee Isaac Chung sobre uma família coreana que busca se estabelecer no estado americano do Arkansas.

Yuh-jung Youn, a atriz veterana indicada ao Oscar por seu trabalho em Minari, em Seul, na Coreia do Sul. Foto: Peter Ash Lee/The New York Times
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A atuação agridoce de Youn no papel da avó, Soonja, no drama terno sobre imigrantes rendeu-lhe uma indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante, a primeira para uma coreana. "Eu, uma mulher asiática de 73 anos, jamais poderia ter sonhado em ser indicada ao Oscar. Minari me trouxe muitos presentes", disse Youn por videochamada de sua casa em Seul.

Ao narrar esse triunfo e as muitas armadilhas que o precederam, sua expressão pensativa frequentemente se transformava em um sorriso afável, até mesmo em uma risada alegre. Vestida com um top preto recatado e um colar longo, sua presença serena transmitia uma graça natural. Estava tranquila e acolhedora, mas determinada a fazer com que suas ideias fossem compreendidas. Ocasionalmente, a atriz pedia a um amigo que estava fora da câmera que a ajudasse com as palavras inglesas para que pudesse obter maior precisão.

Youn expressou surpresa com o fato de seu colega de filme, o ator Steven Yeun, ter sido o primeiro artista asiático-americano a receber uma indicação ao Oscar de melhor ator: "Tudo que posso dizer é: já era hora! O sucesso de Parasita definitivamente ajudou a trazer mais reconhecimento para os artistas coreanos".

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Parasita, dirigido por Bong Joon Ho, foi o primeiro longa-metragem em um idioma diferente do inglês a ganhar o Oscar de melhor filme, e ressoa na disputa de Youn pelo Oscar de outras maneiras.

Ela havia retornado das filmagens de um novo projeto em Vancouver, um drama da Apple TV intitulado Pachinko, bem a tempo de ouvir o anúncio de sua indicação. Primeiro, ela se sentiu entorpecida. Depois, a mídia coreana começou fazer reportagens efusivas sobre as chances da atriz. "É muito estressante. Eles acham que sou jogadora de futebol ou atleta olímpica. Essa pressão é muito forte para mim. Por causa do filme de Bong, eles têm esperança de que eu possa vencer. Continuo dizendo a ele: 'Isso é culpa sua!'"

Bong, fã de Mulher em Chamas, de Kim Ki-young, a estreia de Youn nas telonas, em 1971, invejou a maneira como a atriz está vivenciando a temporada de prêmios durante a pandemia. "Ele me disse: 'Você tem sorte de poder sentar e fazer ligações pelo Zoom. Nos EUA, há uma corrida em torno da premiação e você tem de ir a todo tipo de lugar.' Pensei que as corridas fossem apenas para os cavalos", afirmou ela.

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É a mais recente virada em uma carreira que cobre mais de 50 anos na televisão e no cinema coreanos – incluindo um recente reality show de culinária chamado Youn's Kitchen e uma nova série de não ficção ambientada em uma pousada, Youn's Stay –, mas a atriz autodidata nunca havia imaginado uma vida nas artes cênicas. Seu sucesso internacional lhe parece fortuito, como todo o resto da sua trajetória. "É constrangedor. A maioria das pessoas se apaixonou pelo cinema ou pelo teatro. Mas, no meu caso, foi apenas um acidente", observou.

Quando ela era adolescente, no início dos anos 1960, um mestre de cerimônias de um game show infantil a viu em uma visita a uma estação de TV e a convidou para distribuir presentes ao público: "Recebi o cheque depois disso, e era um bom dinheiro." Ela aceitou outros trabalhos semelhantes até que um diretor sugeriu que ela fizesse um teste para um drama. Embora estivesse hesitante, a necessidade a impulsionou: Ela tinha sido reprovada num exame de admissão de uma faculdade, o que foi um grande motivo de vergonha para a mãe, ela diz. (Os representantes da atriz esclareceram depois que ela foi aprovada, mas com uma pontuação muito baixa para entrar em uma faculdade de prestígio).

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"Para falar a verdade, eu não sabia o que era atuar. Tentei decorar o texto e fazer tudo o que me pedissem. Na época, eu não sabia se gostava daquilo ou não", recordou.

When she was a teenager in the early 1960s, an M.C. for a children’s game show saw her touring a TV station and invited her to pass out gifts to the audience: “I got the check after that and it was good money.” Similar jobs ensued until a director suggested she audition for a drama. Though she was hesitant, necessity propelled her: She had failed her college entrance exam, causing her mother profound shame, she said. (After publication of this article online, her representatives clarified that she passed but with a low score that meant she couldn’t get into a top-tier college.)

Mas, quando estava com a carreira em ascensão, em meados da década de 1970, Youn se casou e se mudou para a Flórida, onde o marido fazia faculdade. Passou quase uma década como dona de casa, criando os dois filhos nascidos nos Estados Unidos, mas depois se divorciou e voltou para a Coreia do Sul como mãe solteira. Sua fama havia desaparecido e, devido ao sexismo arraigado na sociedade coreana, ela sofreu uma perseguição cruel ao tentar retomar a carreira. "O público telefonava e dizia: 'Ela é divorciada, não deveria estar na TV.' Agora todo mundo gosta muito de mim. Isso é muito estranho, mas faz parte do ser humano", disse.

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Para que os dois filhos pudessem fazer faculdade, ela aceitava papéis quase indiscriminadamente. Mas completar 60 anos – e não ser mais obrigada a sustentar financeiramente a família – significava que ela poderia investir apenas nas pessoas em quem acreditava, como o autor Hong Sang-soo, que ocasionalmente a frustra por causa das muitas tomadas que filma, e Im Sang-soo, que a escalou para papéis inéditos para uma atriz coreana de sua idade. Em O Gosto do Dinheiro (2013), por exemplo, Youn encarna uma mulher poderosa que assedia sexualmente seu secretário mais jovem.

A produtora In-Ah Lee, amiga íntima de Youn, apresentou a atriz a Chung em um festival de cinema. Assim como Bong, Chung a reverenciava em Mulher em Chamas, e o conhecimento e os primeiros trabalhos dele a impressionaram. Ela queria saber mais sobre ele. "Todo mundo me provoca sobre isso agora. Eu me apaixonei pelo Isaac porque ele é um homem muito tranquilo. Eu gostaria que ele também fosse meu filho", revelou Youn.

Chung afirmou em um e-mail que em todos os filmes "ela faz algo surpreendente ou inesperado. Senti que sua vida e sua forma de abordar a vida eram muito parecidas com o papel que eu havia escrito". Ele acrescentou que a atriz é conhecida na Coreia do Sul por seu grande coração e sua atitude séria, e que sabia que ela traria essas qualidades para o papel de Minari de uma forma que atrairia o público".

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Quando Youn leu o roteiro, reconheceu os perigos da experiência coreano-americana e como isso não se encaixa perfeitamente em uma única identidade. "Talvez eu tenha feito esse filme para meus dois filhos também, porque conhecia seus sentimentos."

Uma preparação intensa sempre ajudou Youn a se proteger do próprio passado. "Não fiz curso de atuação e não estudei cinema, por isso eu tinha complexo de inferioridade. Ensaiava muito sempre que recebia um roteiro", contou.

Mas ela é cética quanto a novas perspectivas em Hollywood. Youn, que se desculpou muitas vezes durante a entrevista por achar que soa direta demais em uma língua que não é a sua, teme que sua falta de proficiência em inglês seja um impedimento. Mas, com tempo para aprender as falas, ela está disposta a tentar.

"Pensando bem, valeu a pena. Na época, eu sofria por fazer apenas pequenos papéis e a maioria das pessoas me odiava. Pensei em desistir ou voltar para os Estados Unidos. Mas sou uma sobrevivente. Ainda estou viva e finalmente estou gostando de atuar", concluiu.

The New York Times Licensing Group – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

Em seu aniversário de 60 anos, a estrela veterana Yuh-Jung Youn, da Coreia do Sul, fez uma promessa a si mesma. Passaria a colaborar apenas com pessoas em quem confiasse. Mesmo que seus empreendimentos fracassassem, o resultado não a preocuparia muito, desde que ela admirasse as pessoas que fizessem parte deles.

Essa filosofia de vida tardia, surgida depois de décadas de escolhas limitadas e traumas profissionais, levou-a até Minari – Em Busca da Felicidade, a história semiautobiográfica do diretor Lee Isaac Chung sobre uma família coreana que busca se estabelecer no estado americano do Arkansas.

Yuh-jung Youn, a atriz veterana indicada ao Oscar por seu trabalho em Minari, em Seul, na Coreia do Sul. Foto: Peter Ash Lee/The New York Times

A atuação agridoce de Youn no papel da avó, Soonja, no drama terno sobre imigrantes rendeu-lhe uma indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante, a primeira para uma coreana. "Eu, uma mulher asiática de 73 anos, jamais poderia ter sonhado em ser indicada ao Oscar. Minari me trouxe muitos presentes", disse Youn por videochamada de sua casa em Seul.

Ao narrar esse triunfo e as muitas armadilhas que o precederam, sua expressão pensativa frequentemente se transformava em um sorriso afável, até mesmo em uma risada alegre. Vestida com um top preto recatado e um colar longo, sua presença serena transmitia uma graça natural. Estava tranquila e acolhedora, mas determinada a fazer com que suas ideias fossem compreendidas. Ocasionalmente, a atriz pedia a um amigo que estava fora da câmera que a ajudasse com as palavras inglesas para que pudesse obter maior precisão.

Youn expressou surpresa com o fato de seu colega de filme, o ator Steven Yeun, ter sido o primeiro artista asiático-americano a receber uma indicação ao Oscar de melhor ator: "Tudo que posso dizer é: já era hora! O sucesso de Parasita definitivamente ajudou a trazer mais reconhecimento para os artistas coreanos".

Parasita, dirigido por Bong Joon Ho, foi o primeiro longa-metragem em um idioma diferente do inglês a ganhar o Oscar de melhor filme, e ressoa na disputa de Youn pelo Oscar de outras maneiras.

Ela havia retornado das filmagens de um novo projeto em Vancouver, um drama da Apple TV intitulado Pachinko, bem a tempo de ouvir o anúncio de sua indicação. Primeiro, ela se sentiu entorpecida. Depois, a mídia coreana começou fazer reportagens efusivas sobre as chances da atriz. "É muito estressante. Eles acham que sou jogadora de futebol ou atleta olímpica. Essa pressão é muito forte para mim. Por causa do filme de Bong, eles têm esperança de que eu possa vencer. Continuo dizendo a ele: 'Isso é culpa sua!'"

Bong, fã de Mulher em Chamas, de Kim Ki-young, a estreia de Youn nas telonas, em 1971, invejou a maneira como a atriz está vivenciando a temporada de prêmios durante a pandemia. "Ele me disse: 'Você tem sorte de poder sentar e fazer ligações pelo Zoom. Nos EUA, há uma corrida em torno da premiação e você tem de ir a todo tipo de lugar.' Pensei que as corridas fossem apenas para os cavalos", afirmou ela.

É a mais recente virada em uma carreira que cobre mais de 50 anos na televisão e no cinema coreanos – incluindo um recente reality show de culinária chamado Youn's Kitchen e uma nova série de não ficção ambientada em uma pousada, Youn's Stay –, mas a atriz autodidata nunca havia imaginado uma vida nas artes cênicas. Seu sucesso internacional lhe parece fortuito, como todo o resto da sua trajetória. "É constrangedor. A maioria das pessoas se apaixonou pelo cinema ou pelo teatro. Mas, no meu caso, foi apenas um acidente", observou.

Quando ela era adolescente, no início dos anos 1960, um mestre de cerimônias de um game show infantil a viu em uma visita a uma estação de TV e a convidou para distribuir presentes ao público: "Recebi o cheque depois disso, e era um bom dinheiro." Ela aceitou outros trabalhos semelhantes até que um diretor sugeriu que ela fizesse um teste para um drama. Embora estivesse hesitante, a necessidade a impulsionou: Ela tinha sido reprovada num exame de admissão de uma faculdade, o que foi um grande motivo de vergonha para a mãe, ela diz. (Os representantes da atriz esclareceram depois que ela foi aprovada, mas com uma pontuação muito baixa para entrar em uma faculdade de prestígio).

"Para falar a verdade, eu não sabia o que era atuar. Tentei decorar o texto e fazer tudo o que me pedissem. Na época, eu não sabia se gostava daquilo ou não", recordou.

When she was a teenager in the early 1960s, an M.C. for a children’s game show saw her touring a TV station and invited her to pass out gifts to the audience: “I got the check after that and it was good money.” Similar jobs ensued until a director suggested she audition for a drama. Though she was hesitant, necessity propelled her: She had failed her college entrance exam, causing her mother profound shame, she said. (After publication of this article online, her representatives clarified that she passed but with a low score that meant she couldn’t get into a top-tier college.)

Mas, quando estava com a carreira em ascensão, em meados da década de 1970, Youn se casou e se mudou para a Flórida, onde o marido fazia faculdade. Passou quase uma década como dona de casa, criando os dois filhos nascidos nos Estados Unidos, mas depois se divorciou e voltou para a Coreia do Sul como mãe solteira. Sua fama havia desaparecido e, devido ao sexismo arraigado na sociedade coreana, ela sofreu uma perseguição cruel ao tentar retomar a carreira. "O público telefonava e dizia: 'Ela é divorciada, não deveria estar na TV.' Agora todo mundo gosta muito de mim. Isso é muito estranho, mas faz parte do ser humano", disse.

Para que os dois filhos pudessem fazer faculdade, ela aceitava papéis quase indiscriminadamente. Mas completar 60 anos – e não ser mais obrigada a sustentar financeiramente a família – significava que ela poderia investir apenas nas pessoas em quem acreditava, como o autor Hong Sang-soo, que ocasionalmente a frustra por causa das muitas tomadas que filma, e Im Sang-soo, que a escalou para papéis inéditos para uma atriz coreana de sua idade. Em O Gosto do Dinheiro (2013), por exemplo, Youn encarna uma mulher poderosa que assedia sexualmente seu secretário mais jovem.

A produtora In-Ah Lee, amiga íntima de Youn, apresentou a atriz a Chung em um festival de cinema. Assim como Bong, Chung a reverenciava em Mulher em Chamas, e o conhecimento e os primeiros trabalhos dele a impressionaram. Ela queria saber mais sobre ele. "Todo mundo me provoca sobre isso agora. Eu me apaixonei pelo Isaac porque ele é um homem muito tranquilo. Eu gostaria que ele também fosse meu filho", revelou Youn.

Chung afirmou em um e-mail que em todos os filmes "ela faz algo surpreendente ou inesperado. Senti que sua vida e sua forma de abordar a vida eram muito parecidas com o papel que eu havia escrito". Ele acrescentou que a atriz é conhecida na Coreia do Sul por seu grande coração e sua atitude séria, e que sabia que ela traria essas qualidades para o papel de Minari de uma forma que atrairia o público".

Quando Youn leu o roteiro, reconheceu os perigos da experiência coreano-americana e como isso não se encaixa perfeitamente em uma única identidade. "Talvez eu tenha feito esse filme para meus dois filhos também, porque conhecia seus sentimentos."

Uma preparação intensa sempre ajudou Youn a se proteger do próprio passado. "Não fiz curso de atuação e não estudei cinema, por isso eu tinha complexo de inferioridade. Ensaiava muito sempre que recebia um roteiro", contou.

Mas ela é cética quanto a novas perspectivas em Hollywood. Youn, que se desculpou muitas vezes durante a entrevista por achar que soa direta demais em uma língua que não é a sua, teme que sua falta de proficiência em inglês seja um impedimento. Mas, com tempo para aprender as falas, ela está disposta a tentar.

"Pensando bem, valeu a pena. Na época, eu sofria por fazer apenas pequenos papéis e a maioria das pessoas me odiava. Pensei em desistir ou voltar para os Estados Unidos. Mas sou uma sobrevivente. Ainda estou viva e finalmente estou gostando de atuar", concluiu.

The New York Times Licensing Group – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

Em seu aniversário de 60 anos, a estrela veterana Yuh-Jung Youn, da Coreia do Sul, fez uma promessa a si mesma. Passaria a colaborar apenas com pessoas em quem confiasse. Mesmo que seus empreendimentos fracassassem, o resultado não a preocuparia muito, desde que ela admirasse as pessoas que fizessem parte deles.

Essa filosofia de vida tardia, surgida depois de décadas de escolhas limitadas e traumas profissionais, levou-a até Minari – Em Busca da Felicidade, a história semiautobiográfica do diretor Lee Isaac Chung sobre uma família coreana que busca se estabelecer no estado americano do Arkansas.

Yuh-jung Youn, a atriz veterana indicada ao Oscar por seu trabalho em Minari, em Seul, na Coreia do Sul. Foto: Peter Ash Lee/The New York Times

A atuação agridoce de Youn no papel da avó, Soonja, no drama terno sobre imigrantes rendeu-lhe uma indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante, a primeira para uma coreana. "Eu, uma mulher asiática de 73 anos, jamais poderia ter sonhado em ser indicada ao Oscar. Minari me trouxe muitos presentes", disse Youn por videochamada de sua casa em Seul.

Ao narrar esse triunfo e as muitas armadilhas que o precederam, sua expressão pensativa frequentemente se transformava em um sorriso afável, até mesmo em uma risada alegre. Vestida com um top preto recatado e um colar longo, sua presença serena transmitia uma graça natural. Estava tranquila e acolhedora, mas determinada a fazer com que suas ideias fossem compreendidas. Ocasionalmente, a atriz pedia a um amigo que estava fora da câmera que a ajudasse com as palavras inglesas para que pudesse obter maior precisão.

Youn expressou surpresa com o fato de seu colega de filme, o ator Steven Yeun, ter sido o primeiro artista asiático-americano a receber uma indicação ao Oscar de melhor ator: "Tudo que posso dizer é: já era hora! O sucesso de Parasita definitivamente ajudou a trazer mais reconhecimento para os artistas coreanos".

Parasita, dirigido por Bong Joon Ho, foi o primeiro longa-metragem em um idioma diferente do inglês a ganhar o Oscar de melhor filme, e ressoa na disputa de Youn pelo Oscar de outras maneiras.

Ela havia retornado das filmagens de um novo projeto em Vancouver, um drama da Apple TV intitulado Pachinko, bem a tempo de ouvir o anúncio de sua indicação. Primeiro, ela se sentiu entorpecida. Depois, a mídia coreana começou fazer reportagens efusivas sobre as chances da atriz. "É muito estressante. Eles acham que sou jogadora de futebol ou atleta olímpica. Essa pressão é muito forte para mim. Por causa do filme de Bong, eles têm esperança de que eu possa vencer. Continuo dizendo a ele: 'Isso é culpa sua!'"

Bong, fã de Mulher em Chamas, de Kim Ki-young, a estreia de Youn nas telonas, em 1971, invejou a maneira como a atriz está vivenciando a temporada de prêmios durante a pandemia. "Ele me disse: 'Você tem sorte de poder sentar e fazer ligações pelo Zoom. Nos EUA, há uma corrida em torno da premiação e você tem de ir a todo tipo de lugar.' Pensei que as corridas fossem apenas para os cavalos", afirmou ela.

É a mais recente virada em uma carreira que cobre mais de 50 anos na televisão e no cinema coreanos – incluindo um recente reality show de culinária chamado Youn's Kitchen e uma nova série de não ficção ambientada em uma pousada, Youn's Stay –, mas a atriz autodidata nunca havia imaginado uma vida nas artes cênicas. Seu sucesso internacional lhe parece fortuito, como todo o resto da sua trajetória. "É constrangedor. A maioria das pessoas se apaixonou pelo cinema ou pelo teatro. Mas, no meu caso, foi apenas um acidente", observou.

Quando ela era adolescente, no início dos anos 1960, um mestre de cerimônias de um game show infantil a viu em uma visita a uma estação de TV e a convidou para distribuir presentes ao público: "Recebi o cheque depois disso, e era um bom dinheiro." Ela aceitou outros trabalhos semelhantes até que um diretor sugeriu que ela fizesse um teste para um drama. Embora estivesse hesitante, a necessidade a impulsionou: Ela tinha sido reprovada num exame de admissão de uma faculdade, o que foi um grande motivo de vergonha para a mãe, ela diz. (Os representantes da atriz esclareceram depois que ela foi aprovada, mas com uma pontuação muito baixa para entrar em uma faculdade de prestígio).

"Para falar a verdade, eu não sabia o que era atuar. Tentei decorar o texto e fazer tudo o que me pedissem. Na época, eu não sabia se gostava daquilo ou não", recordou.

When she was a teenager in the early 1960s, an M.C. for a children’s game show saw her touring a TV station and invited her to pass out gifts to the audience: “I got the check after that and it was good money.” Similar jobs ensued until a director suggested she audition for a drama. Though she was hesitant, necessity propelled her: She had failed her college entrance exam, causing her mother profound shame, she said. (After publication of this article online, her representatives clarified that she passed but with a low score that meant she couldn’t get into a top-tier college.)

Mas, quando estava com a carreira em ascensão, em meados da década de 1970, Youn se casou e se mudou para a Flórida, onde o marido fazia faculdade. Passou quase uma década como dona de casa, criando os dois filhos nascidos nos Estados Unidos, mas depois se divorciou e voltou para a Coreia do Sul como mãe solteira. Sua fama havia desaparecido e, devido ao sexismo arraigado na sociedade coreana, ela sofreu uma perseguição cruel ao tentar retomar a carreira. "O público telefonava e dizia: 'Ela é divorciada, não deveria estar na TV.' Agora todo mundo gosta muito de mim. Isso é muito estranho, mas faz parte do ser humano", disse.

Para que os dois filhos pudessem fazer faculdade, ela aceitava papéis quase indiscriminadamente. Mas completar 60 anos – e não ser mais obrigada a sustentar financeiramente a família – significava que ela poderia investir apenas nas pessoas em quem acreditava, como o autor Hong Sang-soo, que ocasionalmente a frustra por causa das muitas tomadas que filma, e Im Sang-soo, que a escalou para papéis inéditos para uma atriz coreana de sua idade. Em O Gosto do Dinheiro (2013), por exemplo, Youn encarna uma mulher poderosa que assedia sexualmente seu secretário mais jovem.

A produtora In-Ah Lee, amiga íntima de Youn, apresentou a atriz a Chung em um festival de cinema. Assim como Bong, Chung a reverenciava em Mulher em Chamas, e o conhecimento e os primeiros trabalhos dele a impressionaram. Ela queria saber mais sobre ele. "Todo mundo me provoca sobre isso agora. Eu me apaixonei pelo Isaac porque ele é um homem muito tranquilo. Eu gostaria que ele também fosse meu filho", revelou Youn.

Chung afirmou em um e-mail que em todos os filmes "ela faz algo surpreendente ou inesperado. Senti que sua vida e sua forma de abordar a vida eram muito parecidas com o papel que eu havia escrito". Ele acrescentou que a atriz é conhecida na Coreia do Sul por seu grande coração e sua atitude séria, e que sabia que ela traria essas qualidades para o papel de Minari de uma forma que atrairia o público".

Quando Youn leu o roteiro, reconheceu os perigos da experiência coreano-americana e como isso não se encaixa perfeitamente em uma única identidade. "Talvez eu tenha feito esse filme para meus dois filhos também, porque conhecia seus sentimentos."

Uma preparação intensa sempre ajudou Youn a se proteger do próprio passado. "Não fiz curso de atuação e não estudei cinema, por isso eu tinha complexo de inferioridade. Ensaiava muito sempre que recebia um roteiro", contou.

Mas ela é cética quanto a novas perspectivas em Hollywood. Youn, que se desculpou muitas vezes durante a entrevista por achar que soa direta demais em uma língua que não é a sua, teme que sua falta de proficiência em inglês seja um impedimento. Mas, com tempo para aprender as falas, ela está disposta a tentar.

"Pensando bem, valeu a pena. Na época, eu sofria por fazer apenas pequenos papéis e a maioria das pessoas me odiava. Pensei em desistir ou voltar para os Estados Unidos. Mas sou uma sobrevivente. Ainda estou viva e finalmente estou gostando de atuar", concluiu.

The New York Times Licensing Group – Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

Em seu aniversário de 60 anos, a estrela veterana Yuh-Jung Youn, da Coreia do Sul, fez uma promessa a si mesma. Passaria a colaborar apenas com pessoas em quem confiasse. Mesmo que seus empreendimentos fracassassem, o resultado não a preocuparia muito, desde que ela admirasse as pessoas que fizessem parte deles.

Essa filosofia de vida tardia, surgida depois de décadas de escolhas limitadas e traumas profissionais, levou-a até Minari – Em Busca da Felicidade, a história semiautobiográfica do diretor Lee Isaac Chung sobre uma família coreana que busca se estabelecer no estado americano do Arkansas.

Yuh-jung Youn, a atriz veterana indicada ao Oscar por seu trabalho em Minari, em Seul, na Coreia do Sul. Foto: Peter Ash Lee/The New York Times

A atuação agridoce de Youn no papel da avó, Soonja, no drama terno sobre imigrantes rendeu-lhe uma indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante, a primeira para uma coreana. "Eu, uma mulher asiática de 73 anos, jamais poderia ter sonhado em ser indicada ao Oscar. Minari me trouxe muitos presentes", disse Youn por videochamada de sua casa em Seul.

Ao narrar esse triunfo e as muitas armadilhas que o precederam, sua expressão pensativa frequentemente se transformava em um sorriso afável, até mesmo em uma risada alegre. Vestida com um top preto recatado e um colar longo, sua presença serena transmitia uma graça natural. Estava tranquila e acolhedora, mas determinada a fazer com que suas ideias fossem compreendidas. Ocasionalmente, a atriz pedia a um amigo que estava fora da câmera que a ajudasse com as palavras inglesas para que pudesse obter maior precisão.

Youn expressou surpresa com o fato de seu colega de filme, o ator Steven Yeun, ter sido o primeiro artista asiático-americano a receber uma indicação ao Oscar de melhor ator: "Tudo que posso dizer é: já era hora! O sucesso de Parasita definitivamente ajudou a trazer mais reconhecimento para os artistas coreanos".

Parasita, dirigido por Bong Joon Ho, foi o primeiro longa-metragem em um idioma diferente do inglês a ganhar o Oscar de melhor filme, e ressoa na disputa de Youn pelo Oscar de outras maneiras.

Ela havia retornado das filmagens de um novo projeto em Vancouver, um drama da Apple TV intitulado Pachinko, bem a tempo de ouvir o anúncio de sua indicação. Primeiro, ela se sentiu entorpecida. Depois, a mídia coreana começou fazer reportagens efusivas sobre as chances da atriz. "É muito estressante. Eles acham que sou jogadora de futebol ou atleta olímpica. Essa pressão é muito forte para mim. Por causa do filme de Bong, eles têm esperança de que eu possa vencer. Continuo dizendo a ele: 'Isso é culpa sua!'"

Bong, fã de Mulher em Chamas, de Kim Ki-young, a estreia de Youn nas telonas, em 1971, invejou a maneira como a atriz está vivenciando a temporada de prêmios durante a pandemia. "Ele me disse: 'Você tem sorte de poder sentar e fazer ligações pelo Zoom. Nos EUA, há uma corrida em torno da premiação e você tem de ir a todo tipo de lugar.' Pensei que as corridas fossem apenas para os cavalos", afirmou ela.

É a mais recente virada em uma carreira que cobre mais de 50 anos na televisão e no cinema coreanos – incluindo um recente reality show de culinária chamado Youn's Kitchen e uma nova série de não ficção ambientada em uma pousada, Youn's Stay –, mas a atriz autodidata nunca havia imaginado uma vida nas artes cênicas. Seu sucesso internacional lhe parece fortuito, como todo o resto da sua trajetória. "É constrangedor. A maioria das pessoas se apaixonou pelo cinema ou pelo teatro. Mas, no meu caso, foi apenas um acidente", observou.

Quando ela era adolescente, no início dos anos 1960, um mestre de cerimônias de um game show infantil a viu em uma visita a uma estação de TV e a convidou para distribuir presentes ao público: "Recebi o cheque depois disso, e era um bom dinheiro." Ela aceitou outros trabalhos semelhantes até que um diretor sugeriu que ela fizesse um teste para um drama. Embora estivesse hesitante, a necessidade a impulsionou: Ela tinha sido reprovada num exame de admissão de uma faculdade, o que foi um grande motivo de vergonha para a mãe, ela diz. (Os representantes da atriz esclareceram depois que ela foi aprovada, mas com uma pontuação muito baixa para entrar em uma faculdade de prestígio).

"Para falar a verdade, eu não sabia o que era atuar. Tentei decorar o texto e fazer tudo o que me pedissem. Na época, eu não sabia se gostava daquilo ou não", recordou.

When she was a teenager in the early 1960s, an M.C. for a children’s game show saw her touring a TV station and invited her to pass out gifts to the audience: “I got the check after that and it was good money.” Similar jobs ensued until a director suggested she audition for a drama. Though she was hesitant, necessity propelled her: She had failed her college entrance exam, causing her mother profound shame, she said. (After publication of this article online, her representatives clarified that she passed but with a low score that meant she couldn’t get into a top-tier college.)

Mas, quando estava com a carreira em ascensão, em meados da década de 1970, Youn se casou e se mudou para a Flórida, onde o marido fazia faculdade. Passou quase uma década como dona de casa, criando os dois filhos nascidos nos Estados Unidos, mas depois se divorciou e voltou para a Coreia do Sul como mãe solteira. Sua fama havia desaparecido e, devido ao sexismo arraigado na sociedade coreana, ela sofreu uma perseguição cruel ao tentar retomar a carreira. "O público telefonava e dizia: 'Ela é divorciada, não deveria estar na TV.' Agora todo mundo gosta muito de mim. Isso é muito estranho, mas faz parte do ser humano", disse.

Para que os dois filhos pudessem fazer faculdade, ela aceitava papéis quase indiscriminadamente. Mas completar 60 anos – e não ser mais obrigada a sustentar financeiramente a família – significava que ela poderia investir apenas nas pessoas em quem acreditava, como o autor Hong Sang-soo, que ocasionalmente a frustra por causa das muitas tomadas que filma, e Im Sang-soo, que a escalou para papéis inéditos para uma atriz coreana de sua idade. Em O Gosto do Dinheiro (2013), por exemplo, Youn encarna uma mulher poderosa que assedia sexualmente seu secretário mais jovem.

A produtora In-Ah Lee, amiga íntima de Youn, apresentou a atriz a Chung em um festival de cinema. Assim como Bong, Chung a reverenciava em Mulher em Chamas, e o conhecimento e os primeiros trabalhos dele a impressionaram. Ela queria saber mais sobre ele. "Todo mundo me provoca sobre isso agora. Eu me apaixonei pelo Isaac porque ele é um homem muito tranquilo. Eu gostaria que ele também fosse meu filho", revelou Youn.

Chung afirmou em um e-mail que em todos os filmes "ela faz algo surpreendente ou inesperado. Senti que sua vida e sua forma de abordar a vida eram muito parecidas com o papel que eu havia escrito". Ele acrescentou que a atriz é conhecida na Coreia do Sul por seu grande coração e sua atitude séria, e que sabia que ela traria essas qualidades para o papel de Minari de uma forma que atrairia o público".

Quando Youn leu o roteiro, reconheceu os perigos da experiência coreano-americana e como isso não se encaixa perfeitamente em uma única identidade. "Talvez eu tenha feito esse filme para meus dois filhos também, porque conhecia seus sentimentos."

Uma preparação intensa sempre ajudou Youn a se proteger do próprio passado. "Não fiz curso de atuação e não estudei cinema, por isso eu tinha complexo de inferioridade. Ensaiava muito sempre que recebia um roteiro", contou.

Mas ela é cética quanto a novas perspectivas em Hollywood. Youn, que se desculpou muitas vezes durante a entrevista por achar que soa direta demais em uma língua que não é a sua, teme que sua falta de proficiência em inglês seja um impedimento. Mas, com tempo para aprender as falas, ela está disposta a tentar.

"Pensando bem, valeu a pena. Na época, eu sofria por fazer apenas pequenos papéis e a maioria das pessoas me odiava. Pensei em desistir ou voltar para os Estados Unidos. Mas sou uma sobrevivente. Ainda estou viva e finalmente estou gostando de atuar", concluiu.

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