A recente manifestação de apoio a empresas de propriedade de negros chamou a atenção para marcas de moda que trabalham com estampas africanas. As marcas, muitas delas fundadas por designers da África Ocidental que vivem nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, estão transformando os padrões tradicionais de tecidos da África Ocidental em silhuetas americanas contemporâneas.
Nicolette Orji, também conhecida como Nikki Billie Jean, fundadora do blog All Things Ankara e também designer, está otimista. “Qualquer pessoa que esteja vendendo qualquer coisa on-line agora está sentindo esse apoio, e é incrível – ainda que meio atrasado.”
Embora o maior mercado para a maioria desses designers sejam os negros nascidos e criados nos Estados Unidos, o sucesso neste ano também trouxe novos compradores. “Quando eu lancei minhas máscaras pela primeira vez, uma das minhas amigas brancas me mandou uma mensagem dizendo, 'Posso comprar isso ou seria uma má ideia?'”, disse Maya Lake, fundadora da Boxing Kitten, a marca que costuma ser creditada como uma das primeiras a colocar os tecidos com estampas associadas à África no radar da moda americana.
“Eu disse que ela deveria comprar. Quero dizer, especialmente agora se você quiser apoiar negócios cujos proprietários são negros. Eu acho que está tudo bem”. Mas, disse Maya, há uma distinção importante entre compradores não-negros que usam seu dinheiro para apoiar designers negros e designers não-negros que usam estampas associadas à África para ganhar dinheiro para si mesmos. “Como negra americana, identifico-me com o tecido de uma maneira diferente”, disse ela.
“Se alguém não tem uma conexão pessoal, culturalmente, com o tecido, isso não é legal”, disse ela, referindo-se a grifes como Stella McCartney, que recebeu críticas por usar estampas africanas. “Apenas ir a um lugar e estudar algo não significa que você pode cooptá-lo para ganhar dinheiro.”
A distinção entre compradores e designers é importante para muitos no setor. “Gostaria de ver estampas africanas em todos os lugares”, disse Yetunde Olukoya, uma estilista nigeriana que se mudou para os Estados Unidos com o marido quando ela tinha 26 anos. “Desde que seja feita na África e valorize as pessoas que realmente tornaram essa moda popular, então eu adoraria vê-la usada em todo o mundo”.
referenceA Ray Darten, marca que ela fundou e começou a vender em sua sala de estar em 2016 com 160 peças que costurou à mão, agora emprega mais de 100 trabalhadores na Nigéria. Para Yetunde, as roupas com estampas africanas vão contra as narrativas que muitas vezes associam grande parte da África à pobreza e às doenças.
“Os americanos precisam aprender que há coisas bonitas que saem daqui”, disse ela. Yetunde estima que cerca de 80% de sua base de clientes seja afro-americana. Para Addie, que se mudou da Nigéria para os Estados Unidos ainda criança, é importante que qualquer estilista que popularize a estampa africana seja de ascendência africana. “Caso contrário, pareceria que teríamos que esperar por outra raça para usar isso antes que o mundo pudesse considerá-lo popular”, disse ela.
Nicolette, do All Things Ankara, viu um aumento acentuado de compradores brancos em seu site em julho, uma tendência que ela acolhe. Ela publica fotografias de modelos que não são negros com estampas africanas. “Se quisermos que essas estampas se popularizem, precisamos que mais pessoas as usem”, disse ela.
referenceParte do que está impulsionando a conversa atual é que, embora os designers africanos vejam a estampa africana como uma forma de divulgar sua cultura, eles a estão vendendo em um país que tem sua própria história e relação com esses tecidos. Muitas pessoas nos Estados Unidos - de todas as cores - cresceram associando roupas com estampas africanas com expressões de orgulho negro, com base em sua popularidade durante a era dos direitos civis e seu uso no movimento Black Power como uma forma de mostrar solidariedade e conexão com a herança africana de alguém.
Eles veem a moda não como uma forma de divulgar a cultura africana, mas de recuperá-la. “A primeira vez que um cliente chorou em um dos meus stands em uma feira, não sabia o que fazer”, disse Yetunde, da Ray Darten. “Mas quando ela começou a me explicar como se sentia, comecei a chorar também. Sou nigeriana, sei de onde venho e não consigo imaginar como seria se não soubesse de onde venho. Não se trata apenas das roupas nas prateleiras. É sobre estar confiante nelas e na cultura”.
Outros designers veem sua herança africana como um ponto de partida a partir do qual podem trazer algo novo para o cenário da moda global. “Enquanto estava de férias, parecendo básica porque não tinha mais nada para vestir, decidi começar a buscar maiôs”, disse Buki Ade em relação ao motivo que a fez fundar a Bfyne, uma empresa de moda praia conhecida por seu uso inovador de alças, mangas e estampas inspiradas por sua herança nigeriana.
“Nesses designs, você pode entrar na sala e não precisa dizer uma palavra porque sua roupa já lhe apresentou”, disse ela. “É um estilo”. Os últimos meses trouxeram mais atenção, incluindo de revistas como Allure e Elle, que ela acredita que não teriam conhecido sua marca se não fosse por um maior reconhecimento aos designers negros. Ela é grata pela atenção, mas acha difícil pensar a respeito da razão pela qual tantos designers negros de repente estão recebendo os holofotes.
Scot Brown, professor da UCLA e historiador de movimentos sociais e da cultura popular afro-americana, não está preocupado se a estampa africana perderá seu significado para a comunidade afro-americana caso se torne popular. Embora ame seus blazers D’iyanu, ele vê o uso inovador desta estampa para roupas de negócios ocidentais como outro sinal de que a moda africana evoluirá e se adaptará constantemente às novas circunstâncias.
“Quando algo se torna popular, sempre há algo novo acontecendo no underground”, disse Brown, acrescentando que as expressões de orgulho negro irão simplesmente evoluir e assumir novas formas. “O estilo africano é um conjunto de criatividade tão vasto, quase infinito, que você não precisa se preocupar em ficar sem gás criativo.” / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA
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