Modern Love: O dia que perseguimos um urso de volta


Quando eu era jovem e novo na cidade, meu vizinho se tornou meu amigo e protetor

Por Pardis Parker

O urso nos perseguiu. Então nós perseguimos o urso. Eu tinha 7 anos. Brent, 9 anos. Idade do urso, desconhecida.

Éramos nós dois, perto da minha casa, fugindo do urso, então corremos em direção a ele.

Ilustração de Brian Rea/The New York Times. 
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A ideia de perseguir um urso-negro não fazia sentido algum. O peso dele era inúmeras vezes maior do que o meu e o de Brent juntos. E embora o comprimento de suas garras fosse mais curto do que o dos gravetos que segurávamos, de alguma forma, elas eram mais ameaçadoras.

Mas nós fizemos isso. Nós o perseguimos. Não por muito tempo. Mas por tempo suficiente para transmitir a mensagem de que nos comer seria uma tarefa árdua.

Para ser franco, esse tipo de coisa não era inconsistente com minha personalidade.

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Aos 4 anos, implorei a meu pai para tirar meu colete salva-vidas na piscina, embora eu não soubesse nadar, então corri a toda velocidade e pulei na parte mais funda.

Aos 5 anos, implorei a meu pai que me deixasse empurrar nosso carrinho de compras na Zellers, depois fugi com ele a toda velocidade e o joguei contra um armário de vidro vigiado por várias câmeras.

Aos seis anos, supliquei a meus pais que me deixassem andar de bicicleta sozinho, então pedalei o mais rápido que pude, caí e me machuquei tanto que minha cabeça, rosto e membros ficaram cobertos de sangue. Um velho parou o carro e levou meu corpo ensanguentado para minha casa. Quando recuperei a consciência, percebi que estava sentado no sofá da nossa sala de estar, de frente para a janela, gemendo no volume máximo, com minha mãe cuidando de mim à minha esquerda e a mãe de Brent, Mary, cuidando de mim à minha direita.

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Inúmeras vezes, lancei a cautela ao vento. Mas raramente fazia isso com Brent (apesar da perseguição ao urso-negro).

Embora apenas dois anos mais velho, ele era, em muitos aspectos, meu protetor. A única pessoa em quem confiava e com quem me sentia seguro. Um verdadeiro amigo.

Quando fiquei doente e não pude sair para brincar, foi ele quem se fantasiou de palhaço e apareceu no gramado da casa onde eu morava, fazendo caretas e caindo para me fazer rir e levantar meu ânimo.

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Quando vi uma garrafa de cerveja em sua geladeira e pedi um gole, foi ele quem me lembrou que minha família não bebia, depois chamou minha mãe, que apareceu em sua porta aparentemente do nada e me mandou voltar para casa gritando.

Quando caí de costas do alto de uma árvore, foi ele quem se ajoelhou ao meu lado enquanto eu recuperava o fôlego, dando tempo para eu me maravilhar com a madeira compensada espalhada ao léu nos galhos acima, que, de alguma maneira, não teve a integridade estrutural para me manter no ar.

Embora ele também fosse apenas uma criança, ele estava lá para mim, não importava a circunstância.

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E minha mãe atribuía isso a Ron.

Brent e sua mãe, Mary, moraram com os pais de Mary em Annapolis Valley, Nova Escócia, antes de se tornarem nossos vizinhos. Isso foi no início dos anos 1980, quando Brent era um bebê e Mary era uma mãe solo na casa dos 20 anos. Os amigos dela, em uma tentativa para arranjar um pretendente para a amiga, convenceram-na a ir a um baile de solteiros no Valley. Foi lá onde Mary conheceu Ron. Eles se deram bem, apaixonaram-se e se mudaram para Lower Sackville, ao lado de nós, onde Ron trabalhava no setor de construção e Mary era enfermeira.

Ron foi um bom exemplo para Brent. Ele era rígido, dava responsabilidades a Brent e eles se divertiam juntos. Saiam para pescar, fazer trilhas e andar de moto na neve juntos, e Brent sempre ajudava quando Ron retirava o painel de seu conversível.

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E da mesma forma que Ron era generoso com Brent, a família deles também era generosa conosco.

Quando Ron e Mary fizeram um churrasco, meus pais foram convidados. Quando Ron e Brent foram assistir ao filme A vingança do ninja, também fui com eles. Quando chegava a hora do jantar da família de Brent, eu era convidado a ficar - e depois elogiava sem parar a refeição para minha mãe e dizia que tinha acabado de comer a "melhor comida já feita" - apenas para Mary explicar à minha mãe que o "prato" que ela servira era um caixa de macarrão com queijo industrializado com rodelas de salsicha cozidas, confirmando para sempre que fui uma criança de muito bom gosto.

Constantemente, Brent e sua família eram calorosos, prestativos e sinceros. E isso importava. Especialmente para nós, uma família de imigrantes estabelecendo-se em nossa primeira casa e com esperanças de um futuro melhor.

As casas ao nosso redor no subúrbio de Halifax eram pequenas e térreas, eram repletas de jovens casais e pais solos que não podiam pagar uma casa em Cavalier, a parte “bonita” de Lower Sackville. À direita de Ron e Mary estava Joyce, uma mãe acolhedora cujo marido trabalhava como segurança. À nossa esquerda estava Maureen, uma mãe solo que trabalhava em um escritório. Do outro lado da rua estava Shelley, uma funcionária administrativa do hospital, e Brian, um funcionário do governo que ansiava por dias de neve porque ganhava dinheiro extra abrindo trilhas e caminhos quando ela aparecia.

Mas a única característica que todos os nossos vizinhos compartilhavam, sem exceção, era a cor da pele. Branca. Tons diferentes, com certeza - alguns claros, outros mais claros - mas a impressão dominante era de uniformidade.

E nós três, meus pais e eu, éramos a exceção. Os que se destacavam. Aqueles que todos conheciam, mesmo que não tivéssemos nos encontrado antes.

Havia uma razão, por exemplo, para aquele estranho - o velho que me encontrou quando bati minha bicicleta - ser capaz de saber tão rapidamente a qual casa eu pertencia. Não havia dúvida.

E embora todos os nossos vizinhos fossem educados e gentis, é igualmente justo dizer que não fomos recebidos de braços abertos - o sentimento predominante nunca foi: "Estamos tão felizes por você não ser branco!" Isso é algo que me tornei mais consciente e atento à medida que fui crescendo, conforme a agradável tolerância que as pessoas demonstram em relação às crianças foi substituída pelas calúnias e, coisas bem piores, direcionadas aos pré-adolescentes.

Mas isso nunca foi um problema com Brent e sua família. Nossa amizade com eles era real. As interações não foram forçadas. Nunca houve a sensação de que eles diziam uma coisa na nossa frente e outra nas nossas costas.

E isso talvez explique por que Brent e eu passamos tanto tempo juntos. Ele foi a única pessoa por quem me senti verdadeiramente acolhido.

Íamos juntos para a escola todas as manhãs e jogávamos nos mesmos times de futebol. No inverno, pegávamos nossos trenós e íamos para o museu Dead Man’s Corner. No verão, subíamos em nossas bicicletas e desaparecíamos por horas, geralmente voltando para casa cobertos de lama. E, todo Halloween, saíamos juntos para pedir gostosuras ou fazer travessuras, sempre tendo certeza de visitar o casal Trekkie primeiro, para não dar tempo de eles darem todas as barras de chocolate de tamanho normal e sobrarem apenas miniaturas.

Para mim, quando criança, esse era o melhor tipo de amizade, sem conversas sobre raça ou diferenças para lidar. Nada parecido com as conversas que surgiram para mim à medida que fui crescendo. Ou das conversas que eu podia evitar enquanto tivesse Brent ao meu lado. Nós dois. Juntos.

E, então, ele se mudou para Newfoundland em 1990.

Ron e Mary se casaram, Ron adotou Brent e o trabalho árduo de Ron o levou a um emprego melhor em outro lugar.

Algo bom, com certeza. Fiquei feliz pelo meu amigo. Mas triste por mim.

E então, antes de ele ir embora, encontramos o urso.

Era outono. Estávamos na área florestal atrás de nossas casas, brincando com gravetos, a uma pequena distância de uma trilha. Havia folhas no chão e uma árvore recém-derrubada.

E então, como mágica, havia um urso-negro atrás de nós. A cerca de seis metros de distância. Apenas olhando em nossa direção.

Congelamos. Encaramos o urso de volta.

Até que ele se contraiu e tombou para frente.

E começamos a correr. O mais rápido que pudemos. Com o urso bem atrás de nós.

Na trilha, depois de subirmos uma pequena colina, chegamos ao topo e percebemos que o urso havia parado de correr - não estava mais nos perseguindo. Com certeza, cansado e com a barriga cheia de crianças que já havia comido. O que significava que estávamos ali no topo da colina e o urso lá embaixo, sem nenhuma vantagem clara (exceto seu tamanho, força, garras, instintos e o fato de ser um urso da cabeça aos pés).

Então, nós o encaramos de novo, e ele nos encarou. E depois, em uníssono, levantamos nossos gravetos bem alto, soltamos gritos primitivos e corremos colina abaixo. Em direção ao urso. Enquanto isso, ele se virou, correu e desapareceu na floresta. Restando a nós a vitória. Os campeões com dor de garganta. A dupla invencível.

O urso havia nos perseguido, mas nós também o perseguimos.

Como sempre fizemos.

Afastando coisas ruins.

Com Brent ao meu lado.

Nós dois.

Juntos.

TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

O urso nos perseguiu. Então nós perseguimos o urso. Eu tinha 7 anos. Brent, 9 anos. Idade do urso, desconhecida.

Éramos nós dois, perto da minha casa, fugindo do urso, então corremos em direção a ele.

Ilustração de Brian Rea/The New York Times. 

A ideia de perseguir um urso-negro não fazia sentido algum. O peso dele era inúmeras vezes maior do que o meu e o de Brent juntos. E embora o comprimento de suas garras fosse mais curto do que o dos gravetos que segurávamos, de alguma forma, elas eram mais ameaçadoras.

Mas nós fizemos isso. Nós o perseguimos. Não por muito tempo. Mas por tempo suficiente para transmitir a mensagem de que nos comer seria uma tarefa árdua.

Para ser franco, esse tipo de coisa não era inconsistente com minha personalidade.

Aos 4 anos, implorei a meu pai para tirar meu colete salva-vidas na piscina, embora eu não soubesse nadar, então corri a toda velocidade e pulei na parte mais funda.

Aos 5 anos, implorei a meu pai que me deixasse empurrar nosso carrinho de compras na Zellers, depois fugi com ele a toda velocidade e o joguei contra um armário de vidro vigiado por várias câmeras.

Aos seis anos, supliquei a meus pais que me deixassem andar de bicicleta sozinho, então pedalei o mais rápido que pude, caí e me machuquei tanto que minha cabeça, rosto e membros ficaram cobertos de sangue. Um velho parou o carro e levou meu corpo ensanguentado para minha casa. Quando recuperei a consciência, percebi que estava sentado no sofá da nossa sala de estar, de frente para a janela, gemendo no volume máximo, com minha mãe cuidando de mim à minha esquerda e a mãe de Brent, Mary, cuidando de mim à minha direita.

Inúmeras vezes, lancei a cautela ao vento. Mas raramente fazia isso com Brent (apesar da perseguição ao urso-negro).

Embora apenas dois anos mais velho, ele era, em muitos aspectos, meu protetor. A única pessoa em quem confiava e com quem me sentia seguro. Um verdadeiro amigo.

Quando fiquei doente e não pude sair para brincar, foi ele quem se fantasiou de palhaço e apareceu no gramado da casa onde eu morava, fazendo caretas e caindo para me fazer rir e levantar meu ânimo.

Quando vi uma garrafa de cerveja em sua geladeira e pedi um gole, foi ele quem me lembrou que minha família não bebia, depois chamou minha mãe, que apareceu em sua porta aparentemente do nada e me mandou voltar para casa gritando.

Quando caí de costas do alto de uma árvore, foi ele quem se ajoelhou ao meu lado enquanto eu recuperava o fôlego, dando tempo para eu me maravilhar com a madeira compensada espalhada ao léu nos galhos acima, que, de alguma maneira, não teve a integridade estrutural para me manter no ar.

Embora ele também fosse apenas uma criança, ele estava lá para mim, não importava a circunstância.

E minha mãe atribuía isso a Ron.

Brent e sua mãe, Mary, moraram com os pais de Mary em Annapolis Valley, Nova Escócia, antes de se tornarem nossos vizinhos. Isso foi no início dos anos 1980, quando Brent era um bebê e Mary era uma mãe solo na casa dos 20 anos. Os amigos dela, em uma tentativa para arranjar um pretendente para a amiga, convenceram-na a ir a um baile de solteiros no Valley. Foi lá onde Mary conheceu Ron. Eles se deram bem, apaixonaram-se e se mudaram para Lower Sackville, ao lado de nós, onde Ron trabalhava no setor de construção e Mary era enfermeira.

Ron foi um bom exemplo para Brent. Ele era rígido, dava responsabilidades a Brent e eles se divertiam juntos. Saiam para pescar, fazer trilhas e andar de moto na neve juntos, e Brent sempre ajudava quando Ron retirava o painel de seu conversível.

E da mesma forma que Ron era generoso com Brent, a família deles também era generosa conosco.

Quando Ron e Mary fizeram um churrasco, meus pais foram convidados. Quando Ron e Brent foram assistir ao filme A vingança do ninja, também fui com eles. Quando chegava a hora do jantar da família de Brent, eu era convidado a ficar - e depois elogiava sem parar a refeição para minha mãe e dizia que tinha acabado de comer a "melhor comida já feita" - apenas para Mary explicar à minha mãe que o "prato" que ela servira era um caixa de macarrão com queijo industrializado com rodelas de salsicha cozidas, confirmando para sempre que fui uma criança de muito bom gosto.

Constantemente, Brent e sua família eram calorosos, prestativos e sinceros. E isso importava. Especialmente para nós, uma família de imigrantes estabelecendo-se em nossa primeira casa e com esperanças de um futuro melhor.

As casas ao nosso redor no subúrbio de Halifax eram pequenas e térreas, eram repletas de jovens casais e pais solos que não podiam pagar uma casa em Cavalier, a parte “bonita” de Lower Sackville. À direita de Ron e Mary estava Joyce, uma mãe acolhedora cujo marido trabalhava como segurança. À nossa esquerda estava Maureen, uma mãe solo que trabalhava em um escritório. Do outro lado da rua estava Shelley, uma funcionária administrativa do hospital, e Brian, um funcionário do governo que ansiava por dias de neve porque ganhava dinheiro extra abrindo trilhas e caminhos quando ela aparecia.

Mas a única característica que todos os nossos vizinhos compartilhavam, sem exceção, era a cor da pele. Branca. Tons diferentes, com certeza - alguns claros, outros mais claros - mas a impressão dominante era de uniformidade.

E nós três, meus pais e eu, éramos a exceção. Os que se destacavam. Aqueles que todos conheciam, mesmo que não tivéssemos nos encontrado antes.

Havia uma razão, por exemplo, para aquele estranho - o velho que me encontrou quando bati minha bicicleta - ser capaz de saber tão rapidamente a qual casa eu pertencia. Não havia dúvida.

E embora todos os nossos vizinhos fossem educados e gentis, é igualmente justo dizer que não fomos recebidos de braços abertos - o sentimento predominante nunca foi: "Estamos tão felizes por você não ser branco!" Isso é algo que me tornei mais consciente e atento à medida que fui crescendo, conforme a agradável tolerância que as pessoas demonstram em relação às crianças foi substituída pelas calúnias e, coisas bem piores, direcionadas aos pré-adolescentes.

Mas isso nunca foi um problema com Brent e sua família. Nossa amizade com eles era real. As interações não foram forçadas. Nunca houve a sensação de que eles diziam uma coisa na nossa frente e outra nas nossas costas.

E isso talvez explique por que Brent e eu passamos tanto tempo juntos. Ele foi a única pessoa por quem me senti verdadeiramente acolhido.

Íamos juntos para a escola todas as manhãs e jogávamos nos mesmos times de futebol. No inverno, pegávamos nossos trenós e íamos para o museu Dead Man’s Corner. No verão, subíamos em nossas bicicletas e desaparecíamos por horas, geralmente voltando para casa cobertos de lama. E, todo Halloween, saíamos juntos para pedir gostosuras ou fazer travessuras, sempre tendo certeza de visitar o casal Trekkie primeiro, para não dar tempo de eles darem todas as barras de chocolate de tamanho normal e sobrarem apenas miniaturas.

Para mim, quando criança, esse era o melhor tipo de amizade, sem conversas sobre raça ou diferenças para lidar. Nada parecido com as conversas que surgiram para mim à medida que fui crescendo. Ou das conversas que eu podia evitar enquanto tivesse Brent ao meu lado. Nós dois. Juntos.

E, então, ele se mudou para Newfoundland em 1990.

Ron e Mary se casaram, Ron adotou Brent e o trabalho árduo de Ron o levou a um emprego melhor em outro lugar.

Algo bom, com certeza. Fiquei feliz pelo meu amigo. Mas triste por mim.

E então, antes de ele ir embora, encontramos o urso.

Era outono. Estávamos na área florestal atrás de nossas casas, brincando com gravetos, a uma pequena distância de uma trilha. Havia folhas no chão e uma árvore recém-derrubada.

E então, como mágica, havia um urso-negro atrás de nós. A cerca de seis metros de distância. Apenas olhando em nossa direção.

Congelamos. Encaramos o urso de volta.

Até que ele se contraiu e tombou para frente.

E começamos a correr. O mais rápido que pudemos. Com o urso bem atrás de nós.

Na trilha, depois de subirmos uma pequena colina, chegamos ao topo e percebemos que o urso havia parado de correr - não estava mais nos perseguindo. Com certeza, cansado e com a barriga cheia de crianças que já havia comido. O que significava que estávamos ali no topo da colina e o urso lá embaixo, sem nenhuma vantagem clara (exceto seu tamanho, força, garras, instintos e o fato de ser um urso da cabeça aos pés).

Então, nós o encaramos de novo, e ele nos encarou. E depois, em uníssono, levantamos nossos gravetos bem alto, soltamos gritos primitivos e corremos colina abaixo. Em direção ao urso. Enquanto isso, ele se virou, correu e desapareceu na floresta. Restando a nós a vitória. Os campeões com dor de garganta. A dupla invencível.

O urso havia nos perseguido, mas nós também o perseguimos.

Como sempre fizemos.

Afastando coisas ruins.

Com Brent ao meu lado.

Nós dois.

Juntos.

TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

O urso nos perseguiu. Então nós perseguimos o urso. Eu tinha 7 anos. Brent, 9 anos. Idade do urso, desconhecida.

Éramos nós dois, perto da minha casa, fugindo do urso, então corremos em direção a ele.

Ilustração de Brian Rea/The New York Times. 

A ideia de perseguir um urso-negro não fazia sentido algum. O peso dele era inúmeras vezes maior do que o meu e o de Brent juntos. E embora o comprimento de suas garras fosse mais curto do que o dos gravetos que segurávamos, de alguma forma, elas eram mais ameaçadoras.

Mas nós fizemos isso. Nós o perseguimos. Não por muito tempo. Mas por tempo suficiente para transmitir a mensagem de que nos comer seria uma tarefa árdua.

Para ser franco, esse tipo de coisa não era inconsistente com minha personalidade.

Aos 4 anos, implorei a meu pai para tirar meu colete salva-vidas na piscina, embora eu não soubesse nadar, então corri a toda velocidade e pulei na parte mais funda.

Aos 5 anos, implorei a meu pai que me deixasse empurrar nosso carrinho de compras na Zellers, depois fugi com ele a toda velocidade e o joguei contra um armário de vidro vigiado por várias câmeras.

Aos seis anos, supliquei a meus pais que me deixassem andar de bicicleta sozinho, então pedalei o mais rápido que pude, caí e me machuquei tanto que minha cabeça, rosto e membros ficaram cobertos de sangue. Um velho parou o carro e levou meu corpo ensanguentado para minha casa. Quando recuperei a consciência, percebi que estava sentado no sofá da nossa sala de estar, de frente para a janela, gemendo no volume máximo, com minha mãe cuidando de mim à minha esquerda e a mãe de Brent, Mary, cuidando de mim à minha direita.

Inúmeras vezes, lancei a cautela ao vento. Mas raramente fazia isso com Brent (apesar da perseguição ao urso-negro).

Embora apenas dois anos mais velho, ele era, em muitos aspectos, meu protetor. A única pessoa em quem confiava e com quem me sentia seguro. Um verdadeiro amigo.

Quando fiquei doente e não pude sair para brincar, foi ele quem se fantasiou de palhaço e apareceu no gramado da casa onde eu morava, fazendo caretas e caindo para me fazer rir e levantar meu ânimo.

Quando vi uma garrafa de cerveja em sua geladeira e pedi um gole, foi ele quem me lembrou que minha família não bebia, depois chamou minha mãe, que apareceu em sua porta aparentemente do nada e me mandou voltar para casa gritando.

Quando caí de costas do alto de uma árvore, foi ele quem se ajoelhou ao meu lado enquanto eu recuperava o fôlego, dando tempo para eu me maravilhar com a madeira compensada espalhada ao léu nos galhos acima, que, de alguma maneira, não teve a integridade estrutural para me manter no ar.

Embora ele também fosse apenas uma criança, ele estava lá para mim, não importava a circunstância.

E minha mãe atribuía isso a Ron.

Brent e sua mãe, Mary, moraram com os pais de Mary em Annapolis Valley, Nova Escócia, antes de se tornarem nossos vizinhos. Isso foi no início dos anos 1980, quando Brent era um bebê e Mary era uma mãe solo na casa dos 20 anos. Os amigos dela, em uma tentativa para arranjar um pretendente para a amiga, convenceram-na a ir a um baile de solteiros no Valley. Foi lá onde Mary conheceu Ron. Eles se deram bem, apaixonaram-se e se mudaram para Lower Sackville, ao lado de nós, onde Ron trabalhava no setor de construção e Mary era enfermeira.

Ron foi um bom exemplo para Brent. Ele era rígido, dava responsabilidades a Brent e eles se divertiam juntos. Saiam para pescar, fazer trilhas e andar de moto na neve juntos, e Brent sempre ajudava quando Ron retirava o painel de seu conversível.

E da mesma forma que Ron era generoso com Brent, a família deles também era generosa conosco.

Quando Ron e Mary fizeram um churrasco, meus pais foram convidados. Quando Ron e Brent foram assistir ao filme A vingança do ninja, também fui com eles. Quando chegava a hora do jantar da família de Brent, eu era convidado a ficar - e depois elogiava sem parar a refeição para minha mãe e dizia que tinha acabado de comer a "melhor comida já feita" - apenas para Mary explicar à minha mãe que o "prato" que ela servira era um caixa de macarrão com queijo industrializado com rodelas de salsicha cozidas, confirmando para sempre que fui uma criança de muito bom gosto.

Constantemente, Brent e sua família eram calorosos, prestativos e sinceros. E isso importava. Especialmente para nós, uma família de imigrantes estabelecendo-se em nossa primeira casa e com esperanças de um futuro melhor.

As casas ao nosso redor no subúrbio de Halifax eram pequenas e térreas, eram repletas de jovens casais e pais solos que não podiam pagar uma casa em Cavalier, a parte “bonita” de Lower Sackville. À direita de Ron e Mary estava Joyce, uma mãe acolhedora cujo marido trabalhava como segurança. À nossa esquerda estava Maureen, uma mãe solo que trabalhava em um escritório. Do outro lado da rua estava Shelley, uma funcionária administrativa do hospital, e Brian, um funcionário do governo que ansiava por dias de neve porque ganhava dinheiro extra abrindo trilhas e caminhos quando ela aparecia.

Mas a única característica que todos os nossos vizinhos compartilhavam, sem exceção, era a cor da pele. Branca. Tons diferentes, com certeza - alguns claros, outros mais claros - mas a impressão dominante era de uniformidade.

E nós três, meus pais e eu, éramos a exceção. Os que se destacavam. Aqueles que todos conheciam, mesmo que não tivéssemos nos encontrado antes.

Havia uma razão, por exemplo, para aquele estranho - o velho que me encontrou quando bati minha bicicleta - ser capaz de saber tão rapidamente a qual casa eu pertencia. Não havia dúvida.

E embora todos os nossos vizinhos fossem educados e gentis, é igualmente justo dizer que não fomos recebidos de braços abertos - o sentimento predominante nunca foi: "Estamos tão felizes por você não ser branco!" Isso é algo que me tornei mais consciente e atento à medida que fui crescendo, conforme a agradável tolerância que as pessoas demonstram em relação às crianças foi substituída pelas calúnias e, coisas bem piores, direcionadas aos pré-adolescentes.

Mas isso nunca foi um problema com Brent e sua família. Nossa amizade com eles era real. As interações não foram forçadas. Nunca houve a sensação de que eles diziam uma coisa na nossa frente e outra nas nossas costas.

E isso talvez explique por que Brent e eu passamos tanto tempo juntos. Ele foi a única pessoa por quem me senti verdadeiramente acolhido.

Íamos juntos para a escola todas as manhãs e jogávamos nos mesmos times de futebol. No inverno, pegávamos nossos trenós e íamos para o museu Dead Man’s Corner. No verão, subíamos em nossas bicicletas e desaparecíamos por horas, geralmente voltando para casa cobertos de lama. E, todo Halloween, saíamos juntos para pedir gostosuras ou fazer travessuras, sempre tendo certeza de visitar o casal Trekkie primeiro, para não dar tempo de eles darem todas as barras de chocolate de tamanho normal e sobrarem apenas miniaturas.

Para mim, quando criança, esse era o melhor tipo de amizade, sem conversas sobre raça ou diferenças para lidar. Nada parecido com as conversas que surgiram para mim à medida que fui crescendo. Ou das conversas que eu podia evitar enquanto tivesse Brent ao meu lado. Nós dois. Juntos.

E, então, ele se mudou para Newfoundland em 1990.

Ron e Mary se casaram, Ron adotou Brent e o trabalho árduo de Ron o levou a um emprego melhor em outro lugar.

Algo bom, com certeza. Fiquei feliz pelo meu amigo. Mas triste por mim.

E então, antes de ele ir embora, encontramos o urso.

Era outono. Estávamos na área florestal atrás de nossas casas, brincando com gravetos, a uma pequena distância de uma trilha. Havia folhas no chão e uma árvore recém-derrubada.

E então, como mágica, havia um urso-negro atrás de nós. A cerca de seis metros de distância. Apenas olhando em nossa direção.

Congelamos. Encaramos o urso de volta.

Até que ele se contraiu e tombou para frente.

E começamos a correr. O mais rápido que pudemos. Com o urso bem atrás de nós.

Na trilha, depois de subirmos uma pequena colina, chegamos ao topo e percebemos que o urso havia parado de correr - não estava mais nos perseguindo. Com certeza, cansado e com a barriga cheia de crianças que já havia comido. O que significava que estávamos ali no topo da colina e o urso lá embaixo, sem nenhuma vantagem clara (exceto seu tamanho, força, garras, instintos e o fato de ser um urso da cabeça aos pés).

Então, nós o encaramos de novo, e ele nos encarou. E depois, em uníssono, levantamos nossos gravetos bem alto, soltamos gritos primitivos e corremos colina abaixo. Em direção ao urso. Enquanto isso, ele se virou, correu e desapareceu na floresta. Restando a nós a vitória. Os campeões com dor de garganta. A dupla invencível.

O urso havia nos perseguido, mas nós também o perseguimos.

Como sempre fizemos.

Afastando coisas ruins.

Com Brent ao meu lado.

Nós dois.

Juntos.

TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

O urso nos perseguiu. Então nós perseguimos o urso. Eu tinha 7 anos. Brent, 9 anos. Idade do urso, desconhecida.

Éramos nós dois, perto da minha casa, fugindo do urso, então corremos em direção a ele.

Ilustração de Brian Rea/The New York Times. 

A ideia de perseguir um urso-negro não fazia sentido algum. O peso dele era inúmeras vezes maior do que o meu e o de Brent juntos. E embora o comprimento de suas garras fosse mais curto do que o dos gravetos que segurávamos, de alguma forma, elas eram mais ameaçadoras.

Mas nós fizemos isso. Nós o perseguimos. Não por muito tempo. Mas por tempo suficiente para transmitir a mensagem de que nos comer seria uma tarefa árdua.

Para ser franco, esse tipo de coisa não era inconsistente com minha personalidade.

Aos 4 anos, implorei a meu pai para tirar meu colete salva-vidas na piscina, embora eu não soubesse nadar, então corri a toda velocidade e pulei na parte mais funda.

Aos 5 anos, implorei a meu pai que me deixasse empurrar nosso carrinho de compras na Zellers, depois fugi com ele a toda velocidade e o joguei contra um armário de vidro vigiado por várias câmeras.

Aos seis anos, supliquei a meus pais que me deixassem andar de bicicleta sozinho, então pedalei o mais rápido que pude, caí e me machuquei tanto que minha cabeça, rosto e membros ficaram cobertos de sangue. Um velho parou o carro e levou meu corpo ensanguentado para minha casa. Quando recuperei a consciência, percebi que estava sentado no sofá da nossa sala de estar, de frente para a janela, gemendo no volume máximo, com minha mãe cuidando de mim à minha esquerda e a mãe de Brent, Mary, cuidando de mim à minha direita.

Inúmeras vezes, lancei a cautela ao vento. Mas raramente fazia isso com Brent (apesar da perseguição ao urso-negro).

Embora apenas dois anos mais velho, ele era, em muitos aspectos, meu protetor. A única pessoa em quem confiava e com quem me sentia seguro. Um verdadeiro amigo.

Quando fiquei doente e não pude sair para brincar, foi ele quem se fantasiou de palhaço e apareceu no gramado da casa onde eu morava, fazendo caretas e caindo para me fazer rir e levantar meu ânimo.

Quando vi uma garrafa de cerveja em sua geladeira e pedi um gole, foi ele quem me lembrou que minha família não bebia, depois chamou minha mãe, que apareceu em sua porta aparentemente do nada e me mandou voltar para casa gritando.

Quando caí de costas do alto de uma árvore, foi ele quem se ajoelhou ao meu lado enquanto eu recuperava o fôlego, dando tempo para eu me maravilhar com a madeira compensada espalhada ao léu nos galhos acima, que, de alguma maneira, não teve a integridade estrutural para me manter no ar.

Embora ele também fosse apenas uma criança, ele estava lá para mim, não importava a circunstância.

E minha mãe atribuía isso a Ron.

Brent e sua mãe, Mary, moraram com os pais de Mary em Annapolis Valley, Nova Escócia, antes de se tornarem nossos vizinhos. Isso foi no início dos anos 1980, quando Brent era um bebê e Mary era uma mãe solo na casa dos 20 anos. Os amigos dela, em uma tentativa para arranjar um pretendente para a amiga, convenceram-na a ir a um baile de solteiros no Valley. Foi lá onde Mary conheceu Ron. Eles se deram bem, apaixonaram-se e se mudaram para Lower Sackville, ao lado de nós, onde Ron trabalhava no setor de construção e Mary era enfermeira.

Ron foi um bom exemplo para Brent. Ele era rígido, dava responsabilidades a Brent e eles se divertiam juntos. Saiam para pescar, fazer trilhas e andar de moto na neve juntos, e Brent sempre ajudava quando Ron retirava o painel de seu conversível.

E da mesma forma que Ron era generoso com Brent, a família deles também era generosa conosco.

Quando Ron e Mary fizeram um churrasco, meus pais foram convidados. Quando Ron e Brent foram assistir ao filme A vingança do ninja, também fui com eles. Quando chegava a hora do jantar da família de Brent, eu era convidado a ficar - e depois elogiava sem parar a refeição para minha mãe e dizia que tinha acabado de comer a "melhor comida já feita" - apenas para Mary explicar à minha mãe que o "prato" que ela servira era um caixa de macarrão com queijo industrializado com rodelas de salsicha cozidas, confirmando para sempre que fui uma criança de muito bom gosto.

Constantemente, Brent e sua família eram calorosos, prestativos e sinceros. E isso importava. Especialmente para nós, uma família de imigrantes estabelecendo-se em nossa primeira casa e com esperanças de um futuro melhor.

As casas ao nosso redor no subúrbio de Halifax eram pequenas e térreas, eram repletas de jovens casais e pais solos que não podiam pagar uma casa em Cavalier, a parte “bonita” de Lower Sackville. À direita de Ron e Mary estava Joyce, uma mãe acolhedora cujo marido trabalhava como segurança. À nossa esquerda estava Maureen, uma mãe solo que trabalhava em um escritório. Do outro lado da rua estava Shelley, uma funcionária administrativa do hospital, e Brian, um funcionário do governo que ansiava por dias de neve porque ganhava dinheiro extra abrindo trilhas e caminhos quando ela aparecia.

Mas a única característica que todos os nossos vizinhos compartilhavam, sem exceção, era a cor da pele. Branca. Tons diferentes, com certeza - alguns claros, outros mais claros - mas a impressão dominante era de uniformidade.

E nós três, meus pais e eu, éramos a exceção. Os que se destacavam. Aqueles que todos conheciam, mesmo que não tivéssemos nos encontrado antes.

Havia uma razão, por exemplo, para aquele estranho - o velho que me encontrou quando bati minha bicicleta - ser capaz de saber tão rapidamente a qual casa eu pertencia. Não havia dúvida.

E embora todos os nossos vizinhos fossem educados e gentis, é igualmente justo dizer que não fomos recebidos de braços abertos - o sentimento predominante nunca foi: "Estamos tão felizes por você não ser branco!" Isso é algo que me tornei mais consciente e atento à medida que fui crescendo, conforme a agradável tolerância que as pessoas demonstram em relação às crianças foi substituída pelas calúnias e, coisas bem piores, direcionadas aos pré-adolescentes.

Mas isso nunca foi um problema com Brent e sua família. Nossa amizade com eles era real. As interações não foram forçadas. Nunca houve a sensação de que eles diziam uma coisa na nossa frente e outra nas nossas costas.

E isso talvez explique por que Brent e eu passamos tanto tempo juntos. Ele foi a única pessoa por quem me senti verdadeiramente acolhido.

Íamos juntos para a escola todas as manhãs e jogávamos nos mesmos times de futebol. No inverno, pegávamos nossos trenós e íamos para o museu Dead Man’s Corner. No verão, subíamos em nossas bicicletas e desaparecíamos por horas, geralmente voltando para casa cobertos de lama. E, todo Halloween, saíamos juntos para pedir gostosuras ou fazer travessuras, sempre tendo certeza de visitar o casal Trekkie primeiro, para não dar tempo de eles darem todas as barras de chocolate de tamanho normal e sobrarem apenas miniaturas.

Para mim, quando criança, esse era o melhor tipo de amizade, sem conversas sobre raça ou diferenças para lidar. Nada parecido com as conversas que surgiram para mim à medida que fui crescendo. Ou das conversas que eu podia evitar enquanto tivesse Brent ao meu lado. Nós dois. Juntos.

E, então, ele se mudou para Newfoundland em 1990.

Ron e Mary se casaram, Ron adotou Brent e o trabalho árduo de Ron o levou a um emprego melhor em outro lugar.

Algo bom, com certeza. Fiquei feliz pelo meu amigo. Mas triste por mim.

E então, antes de ele ir embora, encontramos o urso.

Era outono. Estávamos na área florestal atrás de nossas casas, brincando com gravetos, a uma pequena distância de uma trilha. Havia folhas no chão e uma árvore recém-derrubada.

E então, como mágica, havia um urso-negro atrás de nós. A cerca de seis metros de distância. Apenas olhando em nossa direção.

Congelamos. Encaramos o urso de volta.

Até que ele se contraiu e tombou para frente.

E começamos a correr. O mais rápido que pudemos. Com o urso bem atrás de nós.

Na trilha, depois de subirmos uma pequena colina, chegamos ao topo e percebemos que o urso havia parado de correr - não estava mais nos perseguindo. Com certeza, cansado e com a barriga cheia de crianças que já havia comido. O que significava que estávamos ali no topo da colina e o urso lá embaixo, sem nenhuma vantagem clara (exceto seu tamanho, força, garras, instintos e o fato de ser um urso da cabeça aos pés).

Então, nós o encaramos de novo, e ele nos encarou. E depois, em uníssono, levantamos nossos gravetos bem alto, soltamos gritos primitivos e corremos colina abaixo. Em direção ao urso. Enquanto isso, ele se virou, correu e desapareceu na floresta. Restando a nós a vitória. Os campeões com dor de garganta. A dupla invencível.

O urso havia nos perseguido, mas nós também o perseguimos.

Como sempre fizemos.

Afastando coisas ruins.

Com Brent ao meu lado.

Nós dois.

Juntos.

TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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