Modern Love: Namore como um monge


‘Não estamos aqui para impressionar uns aos outros. Estamos aqui para nos conectar.’

Por Jay Shetty
Atualização:

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Dez anos atrás, quando eu tinha 25 anos, não namorava - ou sequer considerava a possibilidade de um romance - havia mais de três anos. Durante esse tempo, vivi como monge hindu, meditando, estudando escrituras antigas, viajando e servindo por toda a Índia e Europa com meus companheiros monges.

Os monges são notoriamente celibatários, mas o celibato não significa apenas que você não está fazendo sexo. Significa que você não está interagindo com outras pessoas de uma forma que possa ser considerada romântica. A palavra sânscrita para monge, brahmacharyi, significa “o uso correto da energia”.

Não é que o romance e a energia sexual estejam errados. Mas minha prática ensina que todos nós temos uma quantidade limitada de energia, que pode ser direcionada em várias direções ou em uma. Quando a energia é espalhada, é difícil criar impulso ou impacto.

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Como monges, fomos treinados para direcionar nossa energia para a compreensão de nossa psique, como vemos o mundo e interagimos com ele. Se você não desenvolveu uma compreensão profunda de suas motivações e obstáculos, é mais difícil caminhar pela vida com paciência e compaixão.

Tentamos evitar qualquer coisa que possa nos distrair dessa missão de autorrealização, seja videogame, festas com amigos ou namoro. Quando voltei a Londres como monge, um de meus velhos amigos disse: “Costumávamos ser o braço direito um do outro. Mas você não bebe mais. Você não flerta com as garotas. Agora o que vamos fazer?”

Tornar-me um monge mudou profundamente meu foco. Durante a faculdade em Londres, dediquei tanto tempo a uma namorada que morava longe que perdi a maior parte das aulas. O celibato me permitiu usar esse tempo e espaço para me entender e desenvolver a capacidade de aquietar minha mente.

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Eu me juntei aos monges porque queria encontrar meu propósito e servir aos outros. Não saí por rejeitar nada do que havia estudado. Pelo contrário, saí porque queria trazer para o mundo o que havia aprendido. Foto: Brian Rea/The New York Times

Achei que seria um monge para sempre, mas decidi que esse não era mais o caminho para mim. Quando deixei o ashram para sempre, não assistia à TV, não via um filme ou ouvia música havia três anos. Eu não sabia quem havia vencido a Copa do Mundo ou quem era o primeiro-ministro da Inglaterra. E, aparentemente, eu não fazia ideia de como impressionar uma mulher.

Eu tinha esquecido que não deveria nem tentar impressionar uma mulher. Apenas alguns meses fora do ashram, eu já estava voltando às normas sociais da vida romântica, tentando causar a melhor primeira impressão - e falhando.

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“Você acha que eles têm algo vegano no cardápio?” minha acompanhante disse.

Estávamos no Locanda Locatelli, um dos melhores restaurantes de Londres, mas como vegana, ela parecia mais preocupada do que animada.

“Eles são famosos por suas massas frescas”, eu disse, tentando parecer otimista, mas havia nos inscrito para um menu degustação especial e não sabia se ela teria muita escolha.

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“Massa fresca geralmente tem ovos”, ela disse, “mas veremos”.

Radhi e eu éramos voluntários na organização de um evento de caridade. Ela achava que as pessoas deveriam ficar animadas para participar desde o momento em que saíssem da estação de metrô, então trouxemos um artista de rua para tocar seu tambor de lata de lixo na saída ao lado de uma placa para o nosso evento. Radhi era o coração de nossa equipe e eu já sabia que gostava dela. Assim que realizamos o evento, comecei a planejar esse encontro, reservando o restaurante com um mês de antecedência.

Eu tinha pouco dinheiro - eu estava dando aulas particulares para estudantes universitários - e a levei para ver Wicked antes do jantar. A noite ia me custar quase uma semana de renda, e eu queria que fosse perfeita.

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Quando entramos em uma cabine de couro, estremeci; veganos não são conhecidos por apreciar cabines de couro. Mas as luzes estavam baixas, o ambiente lindo, e eu ainda esperava ouvir como ela estava impressionada.

“O atendimento é incrível, certo?” Eu disse. “E esta massa -”

Ela sorriu educadamente, mas não estava comendo muito.

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Depois do jantar, eu a levei para casa e a deixei do lado de fora de seu apartamento. Ela me agradeceu e deu um adeus amigável, mas a noite havia fracassado. Claramente, eu não tinha ideia do que estava fazendo.

Eu me juntei aos monges porque queria encontrar meu propósito e servir aos outros. Não saí por rejeitar nada do que havia estudado. Pelo contrário, saí porque queria trazer para o mundo o que havia aprendido.

Eu estava começando a fazer isso agora que estava de volta a Londres, dando pequenos workshops sobre a interseção da filosofia oriental e da vida moderna para qualquer um que aparecesse. Mas eu ainda não tinha descoberto como trazer o que havia aprendido para minha vida amorosa.

Monges nunca tentam impressionar ninguém. Como monge, você se esforça para dominar seu ego e sua mente. Achamos que o amor é seu próprio quebra-cabeça, mas quando você explora os caminhos escuros de sua própria mente, como os monges são treinados para fazer, você desenvolve paciência, compreensão e compaixão consigo mesmo, o que você pode trazer para todos os seus relacionamentos. Passar pelo processo de aprender a amar a si mesmo, como os monges também são treinados para fazer, ensina como amar outra pessoa.

O restaurante chique foi um movimento exibicionista. Meu ego queria encantar Radhi, queria que ela dissesse: “Uau, obrigada por me trazer aqui. Como você conseguiu esta reserva? Ao invés do que ela realmente disse: “Eu ficaria perfeitamente feliz em ir a uma mercearia e comprar pão”.

Meu ego queria ficar bem e conquistar sua admiração, mas isso me distraiu do que eu realmente queria, conhecer Radhi e fazer com que ela me conhecesse.

Antes de me tornar um monge, meus hábitos de namoro não me levaram a lugar nenhum. Impulsionado por minha insegurança ou necessidade de me sentir valorizado, fiz coisas legais para as mulheres para que elas me validassem. Quando me tornei um monge, felizmente deixei essa dinâmica para trás, mas agora, por hábito, havia voltado a ela.

Meus professores monges nunca tentaram me impressionar e nunca quiseram que eu os impressionasse. Quando pensei em tudo o que aprendi com eles, através de horas de aula, estudo e histórias, um gesto simples se destacou como representativo de grande parte da filosofia: a reverência. Quando víamos um monge mais velho, nos curvávamos diante dele. Meu professor sempre se curvou para mim em troca.

Mais velho do que eu, mais sábio e experiente, compassivo e puro, ele se curvava por respeito e conexão. Eu não precisava fazer nada ou ser alguém para ele se curvar diante de mim. Nossas reverências diziam que não importa quem você é, não importa sua posição ou origem, você nunca é melhor ou pior do que ninguém e não está tentando ser.

Essa era a crença subjacente que eu queria trazer para Radhi, uma crença sobre a qual esperava construir nosso relacionamento: não estamos aqui para impressionar um ao outro. Estamos aqui para nos conectar. Para reconhecer e aceitar o outro. A reverência foi a maior lição que aprendi sobre o amor.

Radhi me contaria mais tarde que sua comunidade estava preocupada com o fato dela namorar um ex-monge. A avó dela temia que eu a deixasse e voltasse para o ashram. Seus amigos achavam que eu era contra assistir TV ou ir ao cinema e imaginavam que tudo o que podíamos fazer juntos era sentar e meditar.

Até a própria Radhi temia que, ao ficar comigo, pudesse me afastar de minha prática espiritual. Mas o treinamento do monge é o treinamento da mente. Ser um monge pode ter me fechado para certas coisas - não voltei a comer carne ou beber álcool, por exemplo - mas abriu minha mente para a compreensão e aceitação.

Eu respeitava que cada um estivesse se movendo em seu próprio ritmo, em seu próprio tempo. Meu caminho não era certo ou errado; eles não eram muito lentos ou muito rápidos. Aprendi a ver a essência de um monge em todos que conheci. Todo mundo tem uma parte de si que é compassiva, amorosa e bonita.

Eu vi essa essência em Radhi no momento em que nos conhecemos. Ela não precisou ir a um ashram para adquiri-la. Ela parecia ser mais monge do que eu jamais seria, e não precisávamos de um restaurante chique para nos conectar. Em nosso próximo encontro, levei-a a um curso de cordas ao ar livre, onde nos ajudamos a balançar em árvores, escalar muros e andar em traves estreitas. Estávamos nos curvando um para o outro, do nosso jeito.

Radhi e eu estamos juntos desde então. Eu trouxe a lição da reverência e tudo que aprendi com os monges para nosso relacionamento, e agora ensino essas lições para os outros. Os monges, que não dizem nada sobre o amor romântico, ensinaram-me tudo o que eu precisava saber sobre o amor romântico. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Dez anos atrás, quando eu tinha 25 anos, não namorava - ou sequer considerava a possibilidade de um romance - havia mais de três anos. Durante esse tempo, vivi como monge hindu, meditando, estudando escrituras antigas, viajando e servindo por toda a Índia e Europa com meus companheiros monges.

Os monges são notoriamente celibatários, mas o celibato não significa apenas que você não está fazendo sexo. Significa que você não está interagindo com outras pessoas de uma forma que possa ser considerada romântica. A palavra sânscrita para monge, brahmacharyi, significa “o uso correto da energia”.

Não é que o romance e a energia sexual estejam errados. Mas minha prática ensina que todos nós temos uma quantidade limitada de energia, que pode ser direcionada em várias direções ou em uma. Quando a energia é espalhada, é difícil criar impulso ou impacto.

Como monges, fomos treinados para direcionar nossa energia para a compreensão de nossa psique, como vemos o mundo e interagimos com ele. Se você não desenvolveu uma compreensão profunda de suas motivações e obstáculos, é mais difícil caminhar pela vida com paciência e compaixão.

Tentamos evitar qualquer coisa que possa nos distrair dessa missão de autorrealização, seja videogame, festas com amigos ou namoro. Quando voltei a Londres como monge, um de meus velhos amigos disse: “Costumávamos ser o braço direito um do outro. Mas você não bebe mais. Você não flerta com as garotas. Agora o que vamos fazer?”

Tornar-me um monge mudou profundamente meu foco. Durante a faculdade em Londres, dediquei tanto tempo a uma namorada que morava longe que perdi a maior parte das aulas. O celibato me permitiu usar esse tempo e espaço para me entender e desenvolver a capacidade de aquietar minha mente.

Eu me juntei aos monges porque queria encontrar meu propósito e servir aos outros. Não saí por rejeitar nada do que havia estudado. Pelo contrário, saí porque queria trazer para o mundo o que havia aprendido. Foto: Brian Rea/The New York Times

Achei que seria um monge para sempre, mas decidi que esse não era mais o caminho para mim. Quando deixei o ashram para sempre, não assistia à TV, não via um filme ou ouvia música havia três anos. Eu não sabia quem havia vencido a Copa do Mundo ou quem era o primeiro-ministro da Inglaterra. E, aparentemente, eu não fazia ideia de como impressionar uma mulher.

Eu tinha esquecido que não deveria nem tentar impressionar uma mulher. Apenas alguns meses fora do ashram, eu já estava voltando às normas sociais da vida romântica, tentando causar a melhor primeira impressão - e falhando.

“Você acha que eles têm algo vegano no cardápio?” minha acompanhante disse.

Estávamos no Locanda Locatelli, um dos melhores restaurantes de Londres, mas como vegana, ela parecia mais preocupada do que animada.

“Eles são famosos por suas massas frescas”, eu disse, tentando parecer otimista, mas havia nos inscrito para um menu degustação especial e não sabia se ela teria muita escolha.

“Massa fresca geralmente tem ovos”, ela disse, “mas veremos”.

Radhi e eu éramos voluntários na organização de um evento de caridade. Ela achava que as pessoas deveriam ficar animadas para participar desde o momento em que saíssem da estação de metrô, então trouxemos um artista de rua para tocar seu tambor de lata de lixo na saída ao lado de uma placa para o nosso evento. Radhi era o coração de nossa equipe e eu já sabia que gostava dela. Assim que realizamos o evento, comecei a planejar esse encontro, reservando o restaurante com um mês de antecedência.

Eu tinha pouco dinheiro - eu estava dando aulas particulares para estudantes universitários - e a levei para ver Wicked antes do jantar. A noite ia me custar quase uma semana de renda, e eu queria que fosse perfeita.

Quando entramos em uma cabine de couro, estremeci; veganos não são conhecidos por apreciar cabines de couro. Mas as luzes estavam baixas, o ambiente lindo, e eu ainda esperava ouvir como ela estava impressionada.

“O atendimento é incrível, certo?” Eu disse. “E esta massa -”

Ela sorriu educadamente, mas não estava comendo muito.

Depois do jantar, eu a levei para casa e a deixei do lado de fora de seu apartamento. Ela me agradeceu e deu um adeus amigável, mas a noite havia fracassado. Claramente, eu não tinha ideia do que estava fazendo.

Eu me juntei aos monges porque queria encontrar meu propósito e servir aos outros. Não saí por rejeitar nada do que havia estudado. Pelo contrário, saí porque queria trazer para o mundo o que havia aprendido.

Eu estava começando a fazer isso agora que estava de volta a Londres, dando pequenos workshops sobre a interseção da filosofia oriental e da vida moderna para qualquer um que aparecesse. Mas eu ainda não tinha descoberto como trazer o que havia aprendido para minha vida amorosa.

Monges nunca tentam impressionar ninguém. Como monge, você se esforça para dominar seu ego e sua mente. Achamos que o amor é seu próprio quebra-cabeça, mas quando você explora os caminhos escuros de sua própria mente, como os monges são treinados para fazer, você desenvolve paciência, compreensão e compaixão consigo mesmo, o que você pode trazer para todos os seus relacionamentos. Passar pelo processo de aprender a amar a si mesmo, como os monges também são treinados para fazer, ensina como amar outra pessoa.

O restaurante chique foi um movimento exibicionista. Meu ego queria encantar Radhi, queria que ela dissesse: “Uau, obrigada por me trazer aqui. Como você conseguiu esta reserva? Ao invés do que ela realmente disse: “Eu ficaria perfeitamente feliz em ir a uma mercearia e comprar pão”.

Meu ego queria ficar bem e conquistar sua admiração, mas isso me distraiu do que eu realmente queria, conhecer Radhi e fazer com que ela me conhecesse.

Antes de me tornar um monge, meus hábitos de namoro não me levaram a lugar nenhum. Impulsionado por minha insegurança ou necessidade de me sentir valorizado, fiz coisas legais para as mulheres para que elas me validassem. Quando me tornei um monge, felizmente deixei essa dinâmica para trás, mas agora, por hábito, havia voltado a ela.

Meus professores monges nunca tentaram me impressionar e nunca quiseram que eu os impressionasse. Quando pensei em tudo o que aprendi com eles, através de horas de aula, estudo e histórias, um gesto simples se destacou como representativo de grande parte da filosofia: a reverência. Quando víamos um monge mais velho, nos curvávamos diante dele. Meu professor sempre se curvou para mim em troca.

Mais velho do que eu, mais sábio e experiente, compassivo e puro, ele se curvava por respeito e conexão. Eu não precisava fazer nada ou ser alguém para ele se curvar diante de mim. Nossas reverências diziam que não importa quem você é, não importa sua posição ou origem, você nunca é melhor ou pior do que ninguém e não está tentando ser.

Essa era a crença subjacente que eu queria trazer para Radhi, uma crença sobre a qual esperava construir nosso relacionamento: não estamos aqui para impressionar um ao outro. Estamos aqui para nos conectar. Para reconhecer e aceitar o outro. A reverência foi a maior lição que aprendi sobre o amor.

Radhi me contaria mais tarde que sua comunidade estava preocupada com o fato dela namorar um ex-monge. A avó dela temia que eu a deixasse e voltasse para o ashram. Seus amigos achavam que eu era contra assistir TV ou ir ao cinema e imaginavam que tudo o que podíamos fazer juntos era sentar e meditar.

Até a própria Radhi temia que, ao ficar comigo, pudesse me afastar de minha prática espiritual. Mas o treinamento do monge é o treinamento da mente. Ser um monge pode ter me fechado para certas coisas - não voltei a comer carne ou beber álcool, por exemplo - mas abriu minha mente para a compreensão e aceitação.

Eu respeitava que cada um estivesse se movendo em seu próprio ritmo, em seu próprio tempo. Meu caminho não era certo ou errado; eles não eram muito lentos ou muito rápidos. Aprendi a ver a essência de um monge em todos que conheci. Todo mundo tem uma parte de si que é compassiva, amorosa e bonita.

Eu vi essa essência em Radhi no momento em que nos conhecemos. Ela não precisou ir a um ashram para adquiri-la. Ela parecia ser mais monge do que eu jamais seria, e não precisávamos de um restaurante chique para nos conectar. Em nosso próximo encontro, levei-a a um curso de cordas ao ar livre, onde nos ajudamos a balançar em árvores, escalar muros e andar em traves estreitas. Estávamos nos curvando um para o outro, do nosso jeito.

Radhi e eu estamos juntos desde então. Eu trouxe a lição da reverência e tudo que aprendi com os monges para nosso relacionamento, e agora ensino essas lições para os outros. Os monges, que não dizem nada sobre o amor romântico, ensinaram-me tudo o que eu precisava saber sobre o amor romântico. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Dez anos atrás, quando eu tinha 25 anos, não namorava - ou sequer considerava a possibilidade de um romance - havia mais de três anos. Durante esse tempo, vivi como monge hindu, meditando, estudando escrituras antigas, viajando e servindo por toda a Índia e Europa com meus companheiros monges.

Os monges são notoriamente celibatários, mas o celibato não significa apenas que você não está fazendo sexo. Significa que você não está interagindo com outras pessoas de uma forma que possa ser considerada romântica. A palavra sânscrita para monge, brahmacharyi, significa “o uso correto da energia”.

Não é que o romance e a energia sexual estejam errados. Mas minha prática ensina que todos nós temos uma quantidade limitada de energia, que pode ser direcionada em várias direções ou em uma. Quando a energia é espalhada, é difícil criar impulso ou impacto.

Como monges, fomos treinados para direcionar nossa energia para a compreensão de nossa psique, como vemos o mundo e interagimos com ele. Se você não desenvolveu uma compreensão profunda de suas motivações e obstáculos, é mais difícil caminhar pela vida com paciência e compaixão.

Tentamos evitar qualquer coisa que possa nos distrair dessa missão de autorrealização, seja videogame, festas com amigos ou namoro. Quando voltei a Londres como monge, um de meus velhos amigos disse: “Costumávamos ser o braço direito um do outro. Mas você não bebe mais. Você não flerta com as garotas. Agora o que vamos fazer?”

Tornar-me um monge mudou profundamente meu foco. Durante a faculdade em Londres, dediquei tanto tempo a uma namorada que morava longe que perdi a maior parte das aulas. O celibato me permitiu usar esse tempo e espaço para me entender e desenvolver a capacidade de aquietar minha mente.

Eu me juntei aos monges porque queria encontrar meu propósito e servir aos outros. Não saí por rejeitar nada do que havia estudado. Pelo contrário, saí porque queria trazer para o mundo o que havia aprendido. Foto: Brian Rea/The New York Times

Achei que seria um monge para sempre, mas decidi que esse não era mais o caminho para mim. Quando deixei o ashram para sempre, não assistia à TV, não via um filme ou ouvia música havia três anos. Eu não sabia quem havia vencido a Copa do Mundo ou quem era o primeiro-ministro da Inglaterra. E, aparentemente, eu não fazia ideia de como impressionar uma mulher.

Eu tinha esquecido que não deveria nem tentar impressionar uma mulher. Apenas alguns meses fora do ashram, eu já estava voltando às normas sociais da vida romântica, tentando causar a melhor primeira impressão - e falhando.

“Você acha que eles têm algo vegano no cardápio?” minha acompanhante disse.

Estávamos no Locanda Locatelli, um dos melhores restaurantes de Londres, mas como vegana, ela parecia mais preocupada do que animada.

“Eles são famosos por suas massas frescas”, eu disse, tentando parecer otimista, mas havia nos inscrito para um menu degustação especial e não sabia se ela teria muita escolha.

“Massa fresca geralmente tem ovos”, ela disse, “mas veremos”.

Radhi e eu éramos voluntários na organização de um evento de caridade. Ela achava que as pessoas deveriam ficar animadas para participar desde o momento em que saíssem da estação de metrô, então trouxemos um artista de rua para tocar seu tambor de lata de lixo na saída ao lado de uma placa para o nosso evento. Radhi era o coração de nossa equipe e eu já sabia que gostava dela. Assim que realizamos o evento, comecei a planejar esse encontro, reservando o restaurante com um mês de antecedência.

Eu tinha pouco dinheiro - eu estava dando aulas particulares para estudantes universitários - e a levei para ver Wicked antes do jantar. A noite ia me custar quase uma semana de renda, e eu queria que fosse perfeita.

Quando entramos em uma cabine de couro, estremeci; veganos não são conhecidos por apreciar cabines de couro. Mas as luzes estavam baixas, o ambiente lindo, e eu ainda esperava ouvir como ela estava impressionada.

“O atendimento é incrível, certo?” Eu disse. “E esta massa -”

Ela sorriu educadamente, mas não estava comendo muito.

Depois do jantar, eu a levei para casa e a deixei do lado de fora de seu apartamento. Ela me agradeceu e deu um adeus amigável, mas a noite havia fracassado. Claramente, eu não tinha ideia do que estava fazendo.

Eu me juntei aos monges porque queria encontrar meu propósito e servir aos outros. Não saí por rejeitar nada do que havia estudado. Pelo contrário, saí porque queria trazer para o mundo o que havia aprendido.

Eu estava começando a fazer isso agora que estava de volta a Londres, dando pequenos workshops sobre a interseção da filosofia oriental e da vida moderna para qualquer um que aparecesse. Mas eu ainda não tinha descoberto como trazer o que havia aprendido para minha vida amorosa.

Monges nunca tentam impressionar ninguém. Como monge, você se esforça para dominar seu ego e sua mente. Achamos que o amor é seu próprio quebra-cabeça, mas quando você explora os caminhos escuros de sua própria mente, como os monges são treinados para fazer, você desenvolve paciência, compreensão e compaixão consigo mesmo, o que você pode trazer para todos os seus relacionamentos. Passar pelo processo de aprender a amar a si mesmo, como os monges também são treinados para fazer, ensina como amar outra pessoa.

O restaurante chique foi um movimento exibicionista. Meu ego queria encantar Radhi, queria que ela dissesse: “Uau, obrigada por me trazer aqui. Como você conseguiu esta reserva? Ao invés do que ela realmente disse: “Eu ficaria perfeitamente feliz em ir a uma mercearia e comprar pão”.

Meu ego queria ficar bem e conquistar sua admiração, mas isso me distraiu do que eu realmente queria, conhecer Radhi e fazer com que ela me conhecesse.

Antes de me tornar um monge, meus hábitos de namoro não me levaram a lugar nenhum. Impulsionado por minha insegurança ou necessidade de me sentir valorizado, fiz coisas legais para as mulheres para que elas me validassem. Quando me tornei um monge, felizmente deixei essa dinâmica para trás, mas agora, por hábito, havia voltado a ela.

Meus professores monges nunca tentaram me impressionar e nunca quiseram que eu os impressionasse. Quando pensei em tudo o que aprendi com eles, através de horas de aula, estudo e histórias, um gesto simples se destacou como representativo de grande parte da filosofia: a reverência. Quando víamos um monge mais velho, nos curvávamos diante dele. Meu professor sempre se curvou para mim em troca.

Mais velho do que eu, mais sábio e experiente, compassivo e puro, ele se curvava por respeito e conexão. Eu não precisava fazer nada ou ser alguém para ele se curvar diante de mim. Nossas reverências diziam que não importa quem você é, não importa sua posição ou origem, você nunca é melhor ou pior do que ninguém e não está tentando ser.

Essa era a crença subjacente que eu queria trazer para Radhi, uma crença sobre a qual esperava construir nosso relacionamento: não estamos aqui para impressionar um ao outro. Estamos aqui para nos conectar. Para reconhecer e aceitar o outro. A reverência foi a maior lição que aprendi sobre o amor.

Radhi me contaria mais tarde que sua comunidade estava preocupada com o fato dela namorar um ex-monge. A avó dela temia que eu a deixasse e voltasse para o ashram. Seus amigos achavam que eu era contra assistir TV ou ir ao cinema e imaginavam que tudo o que podíamos fazer juntos era sentar e meditar.

Até a própria Radhi temia que, ao ficar comigo, pudesse me afastar de minha prática espiritual. Mas o treinamento do monge é o treinamento da mente. Ser um monge pode ter me fechado para certas coisas - não voltei a comer carne ou beber álcool, por exemplo - mas abriu minha mente para a compreensão e aceitação.

Eu respeitava que cada um estivesse se movendo em seu próprio ritmo, em seu próprio tempo. Meu caminho não era certo ou errado; eles não eram muito lentos ou muito rápidos. Aprendi a ver a essência de um monge em todos que conheci. Todo mundo tem uma parte de si que é compassiva, amorosa e bonita.

Eu vi essa essência em Radhi no momento em que nos conhecemos. Ela não precisou ir a um ashram para adquiri-la. Ela parecia ser mais monge do que eu jamais seria, e não precisávamos de um restaurante chique para nos conectar. Em nosso próximo encontro, levei-a a um curso de cordas ao ar livre, onde nos ajudamos a balançar em árvores, escalar muros e andar em traves estreitas. Estávamos nos curvando um para o outro, do nosso jeito.

Radhi e eu estamos juntos desde então. Eu trouxe a lição da reverência e tudo que aprendi com os monges para nosso relacionamento, e agora ensino essas lições para os outros. Os monges, que não dizem nada sobre o amor romântico, ensinaram-me tudo o que eu precisava saber sobre o amor romântico. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Dez anos atrás, quando eu tinha 25 anos, não namorava - ou sequer considerava a possibilidade de um romance - havia mais de três anos. Durante esse tempo, vivi como monge hindu, meditando, estudando escrituras antigas, viajando e servindo por toda a Índia e Europa com meus companheiros monges.

Os monges são notoriamente celibatários, mas o celibato não significa apenas que você não está fazendo sexo. Significa que você não está interagindo com outras pessoas de uma forma que possa ser considerada romântica. A palavra sânscrita para monge, brahmacharyi, significa “o uso correto da energia”.

Não é que o romance e a energia sexual estejam errados. Mas minha prática ensina que todos nós temos uma quantidade limitada de energia, que pode ser direcionada em várias direções ou em uma. Quando a energia é espalhada, é difícil criar impulso ou impacto.

Como monges, fomos treinados para direcionar nossa energia para a compreensão de nossa psique, como vemos o mundo e interagimos com ele. Se você não desenvolveu uma compreensão profunda de suas motivações e obstáculos, é mais difícil caminhar pela vida com paciência e compaixão.

Tentamos evitar qualquer coisa que possa nos distrair dessa missão de autorrealização, seja videogame, festas com amigos ou namoro. Quando voltei a Londres como monge, um de meus velhos amigos disse: “Costumávamos ser o braço direito um do outro. Mas você não bebe mais. Você não flerta com as garotas. Agora o que vamos fazer?”

Tornar-me um monge mudou profundamente meu foco. Durante a faculdade em Londres, dediquei tanto tempo a uma namorada que morava longe que perdi a maior parte das aulas. O celibato me permitiu usar esse tempo e espaço para me entender e desenvolver a capacidade de aquietar minha mente.

Eu me juntei aos monges porque queria encontrar meu propósito e servir aos outros. Não saí por rejeitar nada do que havia estudado. Pelo contrário, saí porque queria trazer para o mundo o que havia aprendido. Foto: Brian Rea/The New York Times

Achei que seria um monge para sempre, mas decidi que esse não era mais o caminho para mim. Quando deixei o ashram para sempre, não assistia à TV, não via um filme ou ouvia música havia três anos. Eu não sabia quem havia vencido a Copa do Mundo ou quem era o primeiro-ministro da Inglaterra. E, aparentemente, eu não fazia ideia de como impressionar uma mulher.

Eu tinha esquecido que não deveria nem tentar impressionar uma mulher. Apenas alguns meses fora do ashram, eu já estava voltando às normas sociais da vida romântica, tentando causar a melhor primeira impressão - e falhando.

“Você acha que eles têm algo vegano no cardápio?” minha acompanhante disse.

Estávamos no Locanda Locatelli, um dos melhores restaurantes de Londres, mas como vegana, ela parecia mais preocupada do que animada.

“Eles são famosos por suas massas frescas”, eu disse, tentando parecer otimista, mas havia nos inscrito para um menu degustação especial e não sabia se ela teria muita escolha.

“Massa fresca geralmente tem ovos”, ela disse, “mas veremos”.

Radhi e eu éramos voluntários na organização de um evento de caridade. Ela achava que as pessoas deveriam ficar animadas para participar desde o momento em que saíssem da estação de metrô, então trouxemos um artista de rua para tocar seu tambor de lata de lixo na saída ao lado de uma placa para o nosso evento. Radhi era o coração de nossa equipe e eu já sabia que gostava dela. Assim que realizamos o evento, comecei a planejar esse encontro, reservando o restaurante com um mês de antecedência.

Eu tinha pouco dinheiro - eu estava dando aulas particulares para estudantes universitários - e a levei para ver Wicked antes do jantar. A noite ia me custar quase uma semana de renda, e eu queria que fosse perfeita.

Quando entramos em uma cabine de couro, estremeci; veganos não são conhecidos por apreciar cabines de couro. Mas as luzes estavam baixas, o ambiente lindo, e eu ainda esperava ouvir como ela estava impressionada.

“O atendimento é incrível, certo?” Eu disse. “E esta massa -”

Ela sorriu educadamente, mas não estava comendo muito.

Depois do jantar, eu a levei para casa e a deixei do lado de fora de seu apartamento. Ela me agradeceu e deu um adeus amigável, mas a noite havia fracassado. Claramente, eu não tinha ideia do que estava fazendo.

Eu me juntei aos monges porque queria encontrar meu propósito e servir aos outros. Não saí por rejeitar nada do que havia estudado. Pelo contrário, saí porque queria trazer para o mundo o que havia aprendido.

Eu estava começando a fazer isso agora que estava de volta a Londres, dando pequenos workshops sobre a interseção da filosofia oriental e da vida moderna para qualquer um que aparecesse. Mas eu ainda não tinha descoberto como trazer o que havia aprendido para minha vida amorosa.

Monges nunca tentam impressionar ninguém. Como monge, você se esforça para dominar seu ego e sua mente. Achamos que o amor é seu próprio quebra-cabeça, mas quando você explora os caminhos escuros de sua própria mente, como os monges são treinados para fazer, você desenvolve paciência, compreensão e compaixão consigo mesmo, o que você pode trazer para todos os seus relacionamentos. Passar pelo processo de aprender a amar a si mesmo, como os monges também são treinados para fazer, ensina como amar outra pessoa.

O restaurante chique foi um movimento exibicionista. Meu ego queria encantar Radhi, queria que ela dissesse: “Uau, obrigada por me trazer aqui. Como você conseguiu esta reserva? Ao invés do que ela realmente disse: “Eu ficaria perfeitamente feliz em ir a uma mercearia e comprar pão”.

Meu ego queria ficar bem e conquistar sua admiração, mas isso me distraiu do que eu realmente queria, conhecer Radhi e fazer com que ela me conhecesse.

Antes de me tornar um monge, meus hábitos de namoro não me levaram a lugar nenhum. Impulsionado por minha insegurança ou necessidade de me sentir valorizado, fiz coisas legais para as mulheres para que elas me validassem. Quando me tornei um monge, felizmente deixei essa dinâmica para trás, mas agora, por hábito, havia voltado a ela.

Meus professores monges nunca tentaram me impressionar e nunca quiseram que eu os impressionasse. Quando pensei em tudo o que aprendi com eles, através de horas de aula, estudo e histórias, um gesto simples se destacou como representativo de grande parte da filosofia: a reverência. Quando víamos um monge mais velho, nos curvávamos diante dele. Meu professor sempre se curvou para mim em troca.

Mais velho do que eu, mais sábio e experiente, compassivo e puro, ele se curvava por respeito e conexão. Eu não precisava fazer nada ou ser alguém para ele se curvar diante de mim. Nossas reverências diziam que não importa quem você é, não importa sua posição ou origem, você nunca é melhor ou pior do que ninguém e não está tentando ser.

Essa era a crença subjacente que eu queria trazer para Radhi, uma crença sobre a qual esperava construir nosso relacionamento: não estamos aqui para impressionar um ao outro. Estamos aqui para nos conectar. Para reconhecer e aceitar o outro. A reverência foi a maior lição que aprendi sobre o amor.

Radhi me contaria mais tarde que sua comunidade estava preocupada com o fato dela namorar um ex-monge. A avó dela temia que eu a deixasse e voltasse para o ashram. Seus amigos achavam que eu era contra assistir TV ou ir ao cinema e imaginavam que tudo o que podíamos fazer juntos era sentar e meditar.

Até a própria Radhi temia que, ao ficar comigo, pudesse me afastar de minha prática espiritual. Mas o treinamento do monge é o treinamento da mente. Ser um monge pode ter me fechado para certas coisas - não voltei a comer carne ou beber álcool, por exemplo - mas abriu minha mente para a compreensão e aceitação.

Eu respeitava que cada um estivesse se movendo em seu próprio ritmo, em seu próprio tempo. Meu caminho não era certo ou errado; eles não eram muito lentos ou muito rápidos. Aprendi a ver a essência de um monge em todos que conheci. Todo mundo tem uma parte de si que é compassiva, amorosa e bonita.

Eu vi essa essência em Radhi no momento em que nos conhecemos. Ela não precisou ir a um ashram para adquiri-la. Ela parecia ser mais monge do que eu jamais seria, e não precisávamos de um restaurante chique para nos conectar. Em nosso próximo encontro, levei-a a um curso de cordas ao ar livre, onde nos ajudamos a balançar em árvores, escalar muros e andar em traves estreitas. Estávamos nos curvando um para o outro, do nosso jeito.

Radhi e eu estamos juntos desde então. Eu trouxe a lição da reverência e tudo que aprendi com os monges para nosso relacionamento, e agora ensino essas lições para os outros. Os monges, que não dizem nada sobre o amor romântico, ensinaram-me tudo o que eu precisava saber sobre o amor romântico. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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