Modern Love: Quando uma separação é um ato de amor; ‘estou aprendendo a abraçar a realidade’


‘No passado, a fantasia teria eclipsado a realidade. Eu teria acreditado que era amor, deixando aquilo se arrastar mesmo que me deixasse irritada e ansiosa’

Por Annie Dwyer

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Uma solicitação no aplicativo de namoro Hinge pede duas verdades e uma mentira. Eu poderia dizer: participei de uma seita quando era adolescente. Fiquei noiva depois de apenas dois meses de namoro. Tive um derrame aos 44 anos, após terminar meu casamento de 19 anos.

O único problema? Todas são verdadeiras.

'Eu não esperava me sentir tão desejada por ninguém desde que me despedi do homem do fio vermelho. Eu me peguei ousando esperar que talvez isso pudesse ser alguma coisa.' Foto: bongkarn - stock.adobe.com
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Entrei em uma seita porque não me conhecia. Depois, apressei-me em me casar porque ainda não me conhecia. O casamento foi meu primeiro e único relacionamento duradouro. Eu costumava ficar envergonhada com isso. Foi um casamento doloroso, mas não gosto de dizer isso porque parece um desserviço às coisas bonitas que ele me trouxe, especialmente nossos três filhos.

No final de O Mágico de Oz, Glinda diz a Dorothy: “Você sempre teve o poder”. Eu costumava odiar essa frase, mas agora ela faz sentido. Eu não entendia o poder que tinha. Claro, alguém poderia ter me dito antes. Mas eu não teria acreditado.

Quase no final do meu casamento, vi um homem do outro lado de uma sala e ambos sentimos uma sensação elétrica de reconhecimento. Nós nos tornamos amigos. Com ele, experimentei o que era se sentir realmente segura. Eu tinha certeza de que nada poderia me diminuir na visão dele.

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Nossa amizade foi o fio vermelho que finalmente me levou para fora do labirinto. Por fim, porém, tornou-se impossível ignorar o elefante - sentíamos atração um pelo outro, mas ambos éramos casados e nenhum de nós estava disposto a ter um caso. Relutantemente, nos despedimos. Nunca nos tocamos, mas mesmo assim isso conseguiu mudar nossas vidas.

Depois do meu derrame, passei uma semana no hospital. Minha mão e meu braço estavam preto-azulados por causa de todo o sangue extraído. Eu não conseguia andar com facilidade. Eu me sentia sem esperança até que ele me mandou uma mensagem. Tentamos processar a situação.

“Sinto que agora você vive no lugar dentro de mim onde vou para ficar sozinho”, disse ele.

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Ele tinha medo de ser um clichê, desconfiava de fantasias. Ele havia passado por vários relacionamentos intensos e estava em seu segundo casamento. Eu tinha tido apenas um. Eu disse que me sentia como se tivesse perdido algo.

“Você deixou seus próprios desejos de lado por seus filhos”, disse ele. “Você não perdeu, você se doou.” Ele achava que eu precisava ser mais egoísta e admitia que ele não podia ser. Nós nos despedimos novamente, dessa vez para sempre. Eu sofri mais por ele do que pelo meu casamento.

Levei um ano e meio para tentar namorar. O primeiro cara com quem saí tinha velas acesas e um jeito sedutor quando cheguei. Ficamos juntos por 20 minutos e depois o encontro terminou. Eu me senti como se tivesse feito um teste para ser a namorada de alguém e não tivesse conseguido o papel.

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Alguns meses depois - alguns encontros com outra pessoa, outro beco sem saída.

Por fim, percebi que todas as pessoas por quem me apaixonei estavam indisponíveis de alguma forma. Outras revelações se seguiram, mas hesitei em tentar novamente.

No último outono, conheci uma pessoa no trabalho. Seus olhos verdes claros encontraram os meus e ele se aproximou bastante. Parecia involuntário. Normalmente, a proximidade teria me perturbado, mas fiquei intrigada.

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“Uma nova paixão acabou de chegar”, brinquei com uma colega de trabalho.

Nós nos conhecemos durante a colaboração em um projeto. Havia uma intimidade fácil. Ele fazia contato visual intenso, acariciava o rosto e passava as mãos nos cabelos. Reconheci que sua linguagem corporal transmitia algo, mas não confiava em minha interpretação.

Minha filha estava atrás de mim quando eu estava ao telefone e disse: “Ah meu Deus, você realmente está pesquisando no Google se a linguagem corporal de alguém diz que ele se sente atraído por você?”

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“Sim”, eu disse, envergonhada.

Ela riu.

Eu tinha 47 anos. Ele era pelo menos 10 anos mais novo, então imaginei que ele não poderia estar interessado em outra coisa senão um relacionamento profissional comigo.

Quando aceitei um novo emprego em uma organização diferente, entrei em contato para falar sobre um curso e conversamos. Ele perguntou há quanto tempo eu estava divorciada.

Talvez ele estivesse interessado? Sem chance.

Então ele perguntou quantos anos eu tinha quando me casei e há quanto tempo estávamos juntos.

Eu disse a ele e pensei: vamos lá. Ele fará as contas e isso vai acabar.

Em vez disso, ele disse: “O que você vai fazer esta noite?”

“Ver um filme.”

“Eu gostaria de ir se não estivesse longe”, disse ele.

“Cuidado”, brincou minha filha. “Ele pode ser um caçador de MILF (sigla em inglês para “mães com quem eu gostaria de transar”).”

Nós nos encontramos na terça-feira seguinte. Ele me abraçou ao dizer olá e adeus. Eu ainda não tinha certeza se era um encontro. Ele estava a fim de mim ou não?

Mais tarde, ele abordou o assunto. Não havia mais confusão.

Olhei no espelho e estremeci, pensando nos corpos perfeitos de 30 e poucos anos que ele provavelmente estava acostumado a ver. Mas ele parecia bastante feliz com o meu. A gente combinava em muitos aspectos. Na maioria das vezes, não parecia haver diferença de idade. Uma vez, porém, ele disse: “Eu gostaria de ter sido um adolescente nos anos 1990″ e eu, tendo sido uma adolescente nos anos 1990, desejei desaparecer.

Ele sabia sobre a seita, então entendeu que eu não tinha sido realmente uma adolescente nos anos 1990 - pelo menos não uma adolescente típica. Contei a ele que, quando saí da seita, não conhecia nenhuma música daquela época; era como se eu tivesse sido Amish.

“Se você não tivesse entrado na seita, você teria feito parte da cena riot grrrl”, disse ele. “Talvez você estivesse em uma banda.”

Eu não esperava me sentir tão desejada por ninguém desde que me despedi do homem do fio vermelho. Eu me peguei ousando esperar que talvez isso pudesse ser alguma coisa.

Não era. Ele tinha um comportamento quente e frio. Quando conversamos sobre isso, ele disse: “Se isso faz você se sentir melhor, não vou a lugar nenhum tão cedo”. Quando ele continuou se afastando, eu lhe disse que não conseguiria lidar com isso. Dissemos que continuaríamos amigos.

Algumas semanas depois, eu estava com meu filho e minha filha quando ele enviou uma mensagem de texto.

“Vocês realmente podem ser apenas amigos?”, disse minha filha. “Isso não vai deixá-la triste?”

“E se ele falar sobre outras garotas?”, disse meu filho. “Você ficará desapontada?”

Ao ouvir seus pensamentos, senti-me esperançosa por eles. Levei muito tempo para aprender essas coisas. Eles entenderam muito mais cedo. Talvez cometessem menos erros do que eu.

Na semana seguinte, ele mandou outra mensagem e me convidou para sair. Contra meu bom senso, eu fui. Ele tocava música enquanto eu escrevia e desenhava. Aquele momento paralelo foi tudo para mim.

Mais tarde, ele se sentou ao meu lado no sofá e perguntou: “Você se importa se eu me sentar mais perto?”

Eu deveria ter recusado. Isso era um pouco demais para quem havia se decidido pela amizade.

Quando dormíamos juntos no passado, ele era tão presente, tão conectado. Agora, ele estava em outro lugar. Silencioso, de olhos fechados. Atendendo a uma necessidade.

Dois dias depois, eu lhe disse que não poderíamos mais nos ver. Fiquei triste, mas não com o coração partido. Claro que fiquei desapontada, mas preferi lamentar a amizade a me apegar a fantasias sobre nosso potencial. Eu podia reconhecer que, embora gostasse dele, não podia ficar em uma situação dolorosa.

No passado, a fantasia teria eclipsado a realidade. Eu teria acreditado que era amor, deixando aquilo se arrastar mesmo que me deixasse irritada e ansiosa. Eu teria perdido horas analisando o que fiz de errado e esperando que ele voltasse atrás.

Dessa vez, eu podia ver o beco sem saída. Eu queria algo consistente, e ele não podia me dar isso. Eu estava disposta a esperar por alguém que pudesse. Em vez de fracasso, senti como se fosse um ato de amor.

Parecia tão óbvio que não pude deixar de me perguntar por que levei tanto tempo para entender. Tive que aceitar o fato de que não podia pular a curva de aprendizado.

Recentemente, meus filhos e eu estávamos conversando e rindo juntos, e a alegria era imensa. Lembrei-me de como o homem com o fio vermelho disse que eu não tinha perdido nada. Ele estava certo. Lembrei-me também de como ele lutava contra a fantasia. “Preciso aprender a conviver com o vazio em vez de tentar preenchê-lo”, explicou ele.

Na época, eu não entendia o que ele queria dizer, mas agora entendo. Também tive que aprender a me sentar com o vazio. Precisei estar presente e me amar.

Não me sinto mais envergonhada pelo fato de meu caminho ser incomum. Olho-me no espelho e sinto muita ternura pela mulher que vejo. Sorrio, pensando: Já tive uma vida plena. E ainda há tempo. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Uma solicitação no aplicativo de namoro Hinge pede duas verdades e uma mentira. Eu poderia dizer: participei de uma seita quando era adolescente. Fiquei noiva depois de apenas dois meses de namoro. Tive um derrame aos 44 anos, após terminar meu casamento de 19 anos.

O único problema? Todas são verdadeiras.

'Eu não esperava me sentir tão desejada por ninguém desde que me despedi do homem do fio vermelho. Eu me peguei ousando esperar que talvez isso pudesse ser alguma coisa.' Foto: bongkarn - stock.adobe.com

Entrei em uma seita porque não me conhecia. Depois, apressei-me em me casar porque ainda não me conhecia. O casamento foi meu primeiro e único relacionamento duradouro. Eu costumava ficar envergonhada com isso. Foi um casamento doloroso, mas não gosto de dizer isso porque parece um desserviço às coisas bonitas que ele me trouxe, especialmente nossos três filhos.

No final de O Mágico de Oz, Glinda diz a Dorothy: “Você sempre teve o poder”. Eu costumava odiar essa frase, mas agora ela faz sentido. Eu não entendia o poder que tinha. Claro, alguém poderia ter me dito antes. Mas eu não teria acreditado.

Quase no final do meu casamento, vi um homem do outro lado de uma sala e ambos sentimos uma sensação elétrica de reconhecimento. Nós nos tornamos amigos. Com ele, experimentei o que era se sentir realmente segura. Eu tinha certeza de que nada poderia me diminuir na visão dele.

Nossa amizade foi o fio vermelho que finalmente me levou para fora do labirinto. Por fim, porém, tornou-se impossível ignorar o elefante - sentíamos atração um pelo outro, mas ambos éramos casados e nenhum de nós estava disposto a ter um caso. Relutantemente, nos despedimos. Nunca nos tocamos, mas mesmo assim isso conseguiu mudar nossas vidas.

Depois do meu derrame, passei uma semana no hospital. Minha mão e meu braço estavam preto-azulados por causa de todo o sangue extraído. Eu não conseguia andar com facilidade. Eu me sentia sem esperança até que ele me mandou uma mensagem. Tentamos processar a situação.

“Sinto que agora você vive no lugar dentro de mim onde vou para ficar sozinho”, disse ele.

Ele tinha medo de ser um clichê, desconfiava de fantasias. Ele havia passado por vários relacionamentos intensos e estava em seu segundo casamento. Eu tinha tido apenas um. Eu disse que me sentia como se tivesse perdido algo.

“Você deixou seus próprios desejos de lado por seus filhos”, disse ele. “Você não perdeu, você se doou.” Ele achava que eu precisava ser mais egoísta e admitia que ele não podia ser. Nós nos despedimos novamente, dessa vez para sempre. Eu sofri mais por ele do que pelo meu casamento.

Levei um ano e meio para tentar namorar. O primeiro cara com quem saí tinha velas acesas e um jeito sedutor quando cheguei. Ficamos juntos por 20 minutos e depois o encontro terminou. Eu me senti como se tivesse feito um teste para ser a namorada de alguém e não tivesse conseguido o papel.

Alguns meses depois - alguns encontros com outra pessoa, outro beco sem saída.

Por fim, percebi que todas as pessoas por quem me apaixonei estavam indisponíveis de alguma forma. Outras revelações se seguiram, mas hesitei em tentar novamente.

No último outono, conheci uma pessoa no trabalho. Seus olhos verdes claros encontraram os meus e ele se aproximou bastante. Parecia involuntário. Normalmente, a proximidade teria me perturbado, mas fiquei intrigada.

“Uma nova paixão acabou de chegar”, brinquei com uma colega de trabalho.

Nós nos conhecemos durante a colaboração em um projeto. Havia uma intimidade fácil. Ele fazia contato visual intenso, acariciava o rosto e passava as mãos nos cabelos. Reconheci que sua linguagem corporal transmitia algo, mas não confiava em minha interpretação.

Minha filha estava atrás de mim quando eu estava ao telefone e disse: “Ah meu Deus, você realmente está pesquisando no Google se a linguagem corporal de alguém diz que ele se sente atraído por você?”

“Sim”, eu disse, envergonhada.

Ela riu.

Eu tinha 47 anos. Ele era pelo menos 10 anos mais novo, então imaginei que ele não poderia estar interessado em outra coisa senão um relacionamento profissional comigo.

Quando aceitei um novo emprego em uma organização diferente, entrei em contato para falar sobre um curso e conversamos. Ele perguntou há quanto tempo eu estava divorciada.

Talvez ele estivesse interessado? Sem chance.

Então ele perguntou quantos anos eu tinha quando me casei e há quanto tempo estávamos juntos.

Eu disse a ele e pensei: vamos lá. Ele fará as contas e isso vai acabar.

Em vez disso, ele disse: “O que você vai fazer esta noite?”

“Ver um filme.”

“Eu gostaria de ir se não estivesse longe”, disse ele.

“Cuidado”, brincou minha filha. “Ele pode ser um caçador de MILF (sigla em inglês para “mães com quem eu gostaria de transar”).”

Nós nos encontramos na terça-feira seguinte. Ele me abraçou ao dizer olá e adeus. Eu ainda não tinha certeza se era um encontro. Ele estava a fim de mim ou não?

Mais tarde, ele abordou o assunto. Não havia mais confusão.

Olhei no espelho e estremeci, pensando nos corpos perfeitos de 30 e poucos anos que ele provavelmente estava acostumado a ver. Mas ele parecia bastante feliz com o meu. A gente combinava em muitos aspectos. Na maioria das vezes, não parecia haver diferença de idade. Uma vez, porém, ele disse: “Eu gostaria de ter sido um adolescente nos anos 1990″ e eu, tendo sido uma adolescente nos anos 1990, desejei desaparecer.

Ele sabia sobre a seita, então entendeu que eu não tinha sido realmente uma adolescente nos anos 1990 - pelo menos não uma adolescente típica. Contei a ele que, quando saí da seita, não conhecia nenhuma música daquela época; era como se eu tivesse sido Amish.

“Se você não tivesse entrado na seita, você teria feito parte da cena riot grrrl”, disse ele. “Talvez você estivesse em uma banda.”

Eu não esperava me sentir tão desejada por ninguém desde que me despedi do homem do fio vermelho. Eu me peguei ousando esperar que talvez isso pudesse ser alguma coisa.

Não era. Ele tinha um comportamento quente e frio. Quando conversamos sobre isso, ele disse: “Se isso faz você se sentir melhor, não vou a lugar nenhum tão cedo”. Quando ele continuou se afastando, eu lhe disse que não conseguiria lidar com isso. Dissemos que continuaríamos amigos.

Algumas semanas depois, eu estava com meu filho e minha filha quando ele enviou uma mensagem de texto.

“Vocês realmente podem ser apenas amigos?”, disse minha filha. “Isso não vai deixá-la triste?”

“E se ele falar sobre outras garotas?”, disse meu filho. “Você ficará desapontada?”

Ao ouvir seus pensamentos, senti-me esperançosa por eles. Levei muito tempo para aprender essas coisas. Eles entenderam muito mais cedo. Talvez cometessem menos erros do que eu.

Na semana seguinte, ele mandou outra mensagem e me convidou para sair. Contra meu bom senso, eu fui. Ele tocava música enquanto eu escrevia e desenhava. Aquele momento paralelo foi tudo para mim.

Mais tarde, ele se sentou ao meu lado no sofá e perguntou: “Você se importa se eu me sentar mais perto?”

Eu deveria ter recusado. Isso era um pouco demais para quem havia se decidido pela amizade.

Quando dormíamos juntos no passado, ele era tão presente, tão conectado. Agora, ele estava em outro lugar. Silencioso, de olhos fechados. Atendendo a uma necessidade.

Dois dias depois, eu lhe disse que não poderíamos mais nos ver. Fiquei triste, mas não com o coração partido. Claro que fiquei desapontada, mas preferi lamentar a amizade a me apegar a fantasias sobre nosso potencial. Eu podia reconhecer que, embora gostasse dele, não podia ficar em uma situação dolorosa.

No passado, a fantasia teria eclipsado a realidade. Eu teria acreditado que era amor, deixando aquilo se arrastar mesmo que me deixasse irritada e ansiosa. Eu teria perdido horas analisando o que fiz de errado e esperando que ele voltasse atrás.

Dessa vez, eu podia ver o beco sem saída. Eu queria algo consistente, e ele não podia me dar isso. Eu estava disposta a esperar por alguém que pudesse. Em vez de fracasso, senti como se fosse um ato de amor.

Parecia tão óbvio que não pude deixar de me perguntar por que levei tanto tempo para entender. Tive que aceitar o fato de que não podia pular a curva de aprendizado.

Recentemente, meus filhos e eu estávamos conversando e rindo juntos, e a alegria era imensa. Lembrei-me de como o homem com o fio vermelho disse que eu não tinha perdido nada. Ele estava certo. Lembrei-me também de como ele lutava contra a fantasia. “Preciso aprender a conviver com o vazio em vez de tentar preenchê-lo”, explicou ele.

Na época, eu não entendia o que ele queria dizer, mas agora entendo. Também tive que aprender a me sentar com o vazio. Precisei estar presente e me amar.

Não me sinto mais envergonhada pelo fato de meu caminho ser incomum. Olho-me no espelho e sinto muita ternura pela mulher que vejo. Sorrio, pensando: Já tive uma vida plena. E ainda há tempo. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Uma solicitação no aplicativo de namoro Hinge pede duas verdades e uma mentira. Eu poderia dizer: participei de uma seita quando era adolescente. Fiquei noiva depois de apenas dois meses de namoro. Tive um derrame aos 44 anos, após terminar meu casamento de 19 anos.

O único problema? Todas são verdadeiras.

'Eu não esperava me sentir tão desejada por ninguém desde que me despedi do homem do fio vermelho. Eu me peguei ousando esperar que talvez isso pudesse ser alguma coisa.' Foto: bongkarn - stock.adobe.com

Entrei em uma seita porque não me conhecia. Depois, apressei-me em me casar porque ainda não me conhecia. O casamento foi meu primeiro e único relacionamento duradouro. Eu costumava ficar envergonhada com isso. Foi um casamento doloroso, mas não gosto de dizer isso porque parece um desserviço às coisas bonitas que ele me trouxe, especialmente nossos três filhos.

No final de O Mágico de Oz, Glinda diz a Dorothy: “Você sempre teve o poder”. Eu costumava odiar essa frase, mas agora ela faz sentido. Eu não entendia o poder que tinha. Claro, alguém poderia ter me dito antes. Mas eu não teria acreditado.

Quase no final do meu casamento, vi um homem do outro lado de uma sala e ambos sentimos uma sensação elétrica de reconhecimento. Nós nos tornamos amigos. Com ele, experimentei o que era se sentir realmente segura. Eu tinha certeza de que nada poderia me diminuir na visão dele.

Nossa amizade foi o fio vermelho que finalmente me levou para fora do labirinto. Por fim, porém, tornou-se impossível ignorar o elefante - sentíamos atração um pelo outro, mas ambos éramos casados e nenhum de nós estava disposto a ter um caso. Relutantemente, nos despedimos. Nunca nos tocamos, mas mesmo assim isso conseguiu mudar nossas vidas.

Depois do meu derrame, passei uma semana no hospital. Minha mão e meu braço estavam preto-azulados por causa de todo o sangue extraído. Eu não conseguia andar com facilidade. Eu me sentia sem esperança até que ele me mandou uma mensagem. Tentamos processar a situação.

“Sinto que agora você vive no lugar dentro de mim onde vou para ficar sozinho”, disse ele.

Ele tinha medo de ser um clichê, desconfiava de fantasias. Ele havia passado por vários relacionamentos intensos e estava em seu segundo casamento. Eu tinha tido apenas um. Eu disse que me sentia como se tivesse perdido algo.

“Você deixou seus próprios desejos de lado por seus filhos”, disse ele. “Você não perdeu, você se doou.” Ele achava que eu precisava ser mais egoísta e admitia que ele não podia ser. Nós nos despedimos novamente, dessa vez para sempre. Eu sofri mais por ele do que pelo meu casamento.

Levei um ano e meio para tentar namorar. O primeiro cara com quem saí tinha velas acesas e um jeito sedutor quando cheguei. Ficamos juntos por 20 minutos e depois o encontro terminou. Eu me senti como se tivesse feito um teste para ser a namorada de alguém e não tivesse conseguido o papel.

Alguns meses depois - alguns encontros com outra pessoa, outro beco sem saída.

Por fim, percebi que todas as pessoas por quem me apaixonei estavam indisponíveis de alguma forma. Outras revelações se seguiram, mas hesitei em tentar novamente.

No último outono, conheci uma pessoa no trabalho. Seus olhos verdes claros encontraram os meus e ele se aproximou bastante. Parecia involuntário. Normalmente, a proximidade teria me perturbado, mas fiquei intrigada.

“Uma nova paixão acabou de chegar”, brinquei com uma colega de trabalho.

Nós nos conhecemos durante a colaboração em um projeto. Havia uma intimidade fácil. Ele fazia contato visual intenso, acariciava o rosto e passava as mãos nos cabelos. Reconheci que sua linguagem corporal transmitia algo, mas não confiava em minha interpretação.

Minha filha estava atrás de mim quando eu estava ao telefone e disse: “Ah meu Deus, você realmente está pesquisando no Google se a linguagem corporal de alguém diz que ele se sente atraído por você?”

“Sim”, eu disse, envergonhada.

Ela riu.

Eu tinha 47 anos. Ele era pelo menos 10 anos mais novo, então imaginei que ele não poderia estar interessado em outra coisa senão um relacionamento profissional comigo.

Quando aceitei um novo emprego em uma organização diferente, entrei em contato para falar sobre um curso e conversamos. Ele perguntou há quanto tempo eu estava divorciada.

Talvez ele estivesse interessado? Sem chance.

Então ele perguntou quantos anos eu tinha quando me casei e há quanto tempo estávamos juntos.

Eu disse a ele e pensei: vamos lá. Ele fará as contas e isso vai acabar.

Em vez disso, ele disse: “O que você vai fazer esta noite?”

“Ver um filme.”

“Eu gostaria de ir se não estivesse longe”, disse ele.

“Cuidado”, brincou minha filha. “Ele pode ser um caçador de MILF (sigla em inglês para “mães com quem eu gostaria de transar”).”

Nós nos encontramos na terça-feira seguinte. Ele me abraçou ao dizer olá e adeus. Eu ainda não tinha certeza se era um encontro. Ele estava a fim de mim ou não?

Mais tarde, ele abordou o assunto. Não havia mais confusão.

Olhei no espelho e estremeci, pensando nos corpos perfeitos de 30 e poucos anos que ele provavelmente estava acostumado a ver. Mas ele parecia bastante feliz com o meu. A gente combinava em muitos aspectos. Na maioria das vezes, não parecia haver diferença de idade. Uma vez, porém, ele disse: “Eu gostaria de ter sido um adolescente nos anos 1990″ e eu, tendo sido uma adolescente nos anos 1990, desejei desaparecer.

Ele sabia sobre a seita, então entendeu que eu não tinha sido realmente uma adolescente nos anos 1990 - pelo menos não uma adolescente típica. Contei a ele que, quando saí da seita, não conhecia nenhuma música daquela época; era como se eu tivesse sido Amish.

“Se você não tivesse entrado na seita, você teria feito parte da cena riot grrrl”, disse ele. “Talvez você estivesse em uma banda.”

Eu não esperava me sentir tão desejada por ninguém desde que me despedi do homem do fio vermelho. Eu me peguei ousando esperar que talvez isso pudesse ser alguma coisa.

Não era. Ele tinha um comportamento quente e frio. Quando conversamos sobre isso, ele disse: “Se isso faz você se sentir melhor, não vou a lugar nenhum tão cedo”. Quando ele continuou se afastando, eu lhe disse que não conseguiria lidar com isso. Dissemos que continuaríamos amigos.

Algumas semanas depois, eu estava com meu filho e minha filha quando ele enviou uma mensagem de texto.

“Vocês realmente podem ser apenas amigos?”, disse minha filha. “Isso não vai deixá-la triste?”

“E se ele falar sobre outras garotas?”, disse meu filho. “Você ficará desapontada?”

Ao ouvir seus pensamentos, senti-me esperançosa por eles. Levei muito tempo para aprender essas coisas. Eles entenderam muito mais cedo. Talvez cometessem menos erros do que eu.

Na semana seguinte, ele mandou outra mensagem e me convidou para sair. Contra meu bom senso, eu fui. Ele tocava música enquanto eu escrevia e desenhava. Aquele momento paralelo foi tudo para mim.

Mais tarde, ele se sentou ao meu lado no sofá e perguntou: “Você se importa se eu me sentar mais perto?”

Eu deveria ter recusado. Isso era um pouco demais para quem havia se decidido pela amizade.

Quando dormíamos juntos no passado, ele era tão presente, tão conectado. Agora, ele estava em outro lugar. Silencioso, de olhos fechados. Atendendo a uma necessidade.

Dois dias depois, eu lhe disse que não poderíamos mais nos ver. Fiquei triste, mas não com o coração partido. Claro que fiquei desapontada, mas preferi lamentar a amizade a me apegar a fantasias sobre nosso potencial. Eu podia reconhecer que, embora gostasse dele, não podia ficar em uma situação dolorosa.

No passado, a fantasia teria eclipsado a realidade. Eu teria acreditado que era amor, deixando aquilo se arrastar mesmo que me deixasse irritada e ansiosa. Eu teria perdido horas analisando o que fiz de errado e esperando que ele voltasse atrás.

Dessa vez, eu podia ver o beco sem saída. Eu queria algo consistente, e ele não podia me dar isso. Eu estava disposta a esperar por alguém que pudesse. Em vez de fracasso, senti como se fosse um ato de amor.

Parecia tão óbvio que não pude deixar de me perguntar por que levei tanto tempo para entender. Tive que aceitar o fato de que não podia pular a curva de aprendizado.

Recentemente, meus filhos e eu estávamos conversando e rindo juntos, e a alegria era imensa. Lembrei-me de como o homem com o fio vermelho disse que eu não tinha perdido nada. Ele estava certo. Lembrei-me também de como ele lutava contra a fantasia. “Preciso aprender a conviver com o vazio em vez de tentar preenchê-lo”, explicou ele.

Na época, eu não entendia o que ele queria dizer, mas agora entendo. Também tive que aprender a me sentar com o vazio. Precisei estar presente e me amar.

Não me sinto mais envergonhada pelo fato de meu caminho ser incomum. Olho-me no espelho e sinto muita ternura pela mulher que vejo. Sorrio, pensando: Já tive uma vida plena. E ainda há tempo. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Uma solicitação no aplicativo de namoro Hinge pede duas verdades e uma mentira. Eu poderia dizer: participei de uma seita quando era adolescente. Fiquei noiva depois de apenas dois meses de namoro. Tive um derrame aos 44 anos, após terminar meu casamento de 19 anos.

O único problema? Todas são verdadeiras.

'Eu não esperava me sentir tão desejada por ninguém desde que me despedi do homem do fio vermelho. Eu me peguei ousando esperar que talvez isso pudesse ser alguma coisa.' Foto: bongkarn - stock.adobe.com

Entrei em uma seita porque não me conhecia. Depois, apressei-me em me casar porque ainda não me conhecia. O casamento foi meu primeiro e único relacionamento duradouro. Eu costumava ficar envergonhada com isso. Foi um casamento doloroso, mas não gosto de dizer isso porque parece um desserviço às coisas bonitas que ele me trouxe, especialmente nossos três filhos.

No final de O Mágico de Oz, Glinda diz a Dorothy: “Você sempre teve o poder”. Eu costumava odiar essa frase, mas agora ela faz sentido. Eu não entendia o poder que tinha. Claro, alguém poderia ter me dito antes. Mas eu não teria acreditado.

Quase no final do meu casamento, vi um homem do outro lado de uma sala e ambos sentimos uma sensação elétrica de reconhecimento. Nós nos tornamos amigos. Com ele, experimentei o que era se sentir realmente segura. Eu tinha certeza de que nada poderia me diminuir na visão dele.

Nossa amizade foi o fio vermelho que finalmente me levou para fora do labirinto. Por fim, porém, tornou-se impossível ignorar o elefante - sentíamos atração um pelo outro, mas ambos éramos casados e nenhum de nós estava disposto a ter um caso. Relutantemente, nos despedimos. Nunca nos tocamos, mas mesmo assim isso conseguiu mudar nossas vidas.

Depois do meu derrame, passei uma semana no hospital. Minha mão e meu braço estavam preto-azulados por causa de todo o sangue extraído. Eu não conseguia andar com facilidade. Eu me sentia sem esperança até que ele me mandou uma mensagem. Tentamos processar a situação.

“Sinto que agora você vive no lugar dentro de mim onde vou para ficar sozinho”, disse ele.

Ele tinha medo de ser um clichê, desconfiava de fantasias. Ele havia passado por vários relacionamentos intensos e estava em seu segundo casamento. Eu tinha tido apenas um. Eu disse que me sentia como se tivesse perdido algo.

“Você deixou seus próprios desejos de lado por seus filhos”, disse ele. “Você não perdeu, você se doou.” Ele achava que eu precisava ser mais egoísta e admitia que ele não podia ser. Nós nos despedimos novamente, dessa vez para sempre. Eu sofri mais por ele do que pelo meu casamento.

Levei um ano e meio para tentar namorar. O primeiro cara com quem saí tinha velas acesas e um jeito sedutor quando cheguei. Ficamos juntos por 20 minutos e depois o encontro terminou. Eu me senti como se tivesse feito um teste para ser a namorada de alguém e não tivesse conseguido o papel.

Alguns meses depois - alguns encontros com outra pessoa, outro beco sem saída.

Por fim, percebi que todas as pessoas por quem me apaixonei estavam indisponíveis de alguma forma. Outras revelações se seguiram, mas hesitei em tentar novamente.

No último outono, conheci uma pessoa no trabalho. Seus olhos verdes claros encontraram os meus e ele se aproximou bastante. Parecia involuntário. Normalmente, a proximidade teria me perturbado, mas fiquei intrigada.

“Uma nova paixão acabou de chegar”, brinquei com uma colega de trabalho.

Nós nos conhecemos durante a colaboração em um projeto. Havia uma intimidade fácil. Ele fazia contato visual intenso, acariciava o rosto e passava as mãos nos cabelos. Reconheci que sua linguagem corporal transmitia algo, mas não confiava em minha interpretação.

Minha filha estava atrás de mim quando eu estava ao telefone e disse: “Ah meu Deus, você realmente está pesquisando no Google se a linguagem corporal de alguém diz que ele se sente atraído por você?”

“Sim”, eu disse, envergonhada.

Ela riu.

Eu tinha 47 anos. Ele era pelo menos 10 anos mais novo, então imaginei que ele não poderia estar interessado em outra coisa senão um relacionamento profissional comigo.

Quando aceitei um novo emprego em uma organização diferente, entrei em contato para falar sobre um curso e conversamos. Ele perguntou há quanto tempo eu estava divorciada.

Talvez ele estivesse interessado? Sem chance.

Então ele perguntou quantos anos eu tinha quando me casei e há quanto tempo estávamos juntos.

Eu disse a ele e pensei: vamos lá. Ele fará as contas e isso vai acabar.

Em vez disso, ele disse: “O que você vai fazer esta noite?”

“Ver um filme.”

“Eu gostaria de ir se não estivesse longe”, disse ele.

“Cuidado”, brincou minha filha. “Ele pode ser um caçador de MILF (sigla em inglês para “mães com quem eu gostaria de transar”).”

Nós nos encontramos na terça-feira seguinte. Ele me abraçou ao dizer olá e adeus. Eu ainda não tinha certeza se era um encontro. Ele estava a fim de mim ou não?

Mais tarde, ele abordou o assunto. Não havia mais confusão.

Olhei no espelho e estremeci, pensando nos corpos perfeitos de 30 e poucos anos que ele provavelmente estava acostumado a ver. Mas ele parecia bastante feliz com o meu. A gente combinava em muitos aspectos. Na maioria das vezes, não parecia haver diferença de idade. Uma vez, porém, ele disse: “Eu gostaria de ter sido um adolescente nos anos 1990″ e eu, tendo sido uma adolescente nos anos 1990, desejei desaparecer.

Ele sabia sobre a seita, então entendeu que eu não tinha sido realmente uma adolescente nos anos 1990 - pelo menos não uma adolescente típica. Contei a ele que, quando saí da seita, não conhecia nenhuma música daquela época; era como se eu tivesse sido Amish.

“Se você não tivesse entrado na seita, você teria feito parte da cena riot grrrl”, disse ele. “Talvez você estivesse em uma banda.”

Eu não esperava me sentir tão desejada por ninguém desde que me despedi do homem do fio vermelho. Eu me peguei ousando esperar que talvez isso pudesse ser alguma coisa.

Não era. Ele tinha um comportamento quente e frio. Quando conversamos sobre isso, ele disse: “Se isso faz você se sentir melhor, não vou a lugar nenhum tão cedo”. Quando ele continuou se afastando, eu lhe disse que não conseguiria lidar com isso. Dissemos que continuaríamos amigos.

Algumas semanas depois, eu estava com meu filho e minha filha quando ele enviou uma mensagem de texto.

“Vocês realmente podem ser apenas amigos?”, disse minha filha. “Isso não vai deixá-la triste?”

“E se ele falar sobre outras garotas?”, disse meu filho. “Você ficará desapontada?”

Ao ouvir seus pensamentos, senti-me esperançosa por eles. Levei muito tempo para aprender essas coisas. Eles entenderam muito mais cedo. Talvez cometessem menos erros do que eu.

Na semana seguinte, ele mandou outra mensagem e me convidou para sair. Contra meu bom senso, eu fui. Ele tocava música enquanto eu escrevia e desenhava. Aquele momento paralelo foi tudo para mim.

Mais tarde, ele se sentou ao meu lado no sofá e perguntou: “Você se importa se eu me sentar mais perto?”

Eu deveria ter recusado. Isso era um pouco demais para quem havia se decidido pela amizade.

Quando dormíamos juntos no passado, ele era tão presente, tão conectado. Agora, ele estava em outro lugar. Silencioso, de olhos fechados. Atendendo a uma necessidade.

Dois dias depois, eu lhe disse que não poderíamos mais nos ver. Fiquei triste, mas não com o coração partido. Claro que fiquei desapontada, mas preferi lamentar a amizade a me apegar a fantasias sobre nosso potencial. Eu podia reconhecer que, embora gostasse dele, não podia ficar em uma situação dolorosa.

No passado, a fantasia teria eclipsado a realidade. Eu teria acreditado que era amor, deixando aquilo se arrastar mesmo que me deixasse irritada e ansiosa. Eu teria perdido horas analisando o que fiz de errado e esperando que ele voltasse atrás.

Dessa vez, eu podia ver o beco sem saída. Eu queria algo consistente, e ele não podia me dar isso. Eu estava disposta a esperar por alguém que pudesse. Em vez de fracasso, senti como se fosse um ato de amor.

Parecia tão óbvio que não pude deixar de me perguntar por que levei tanto tempo para entender. Tive que aceitar o fato de que não podia pular a curva de aprendizado.

Recentemente, meus filhos e eu estávamos conversando e rindo juntos, e a alegria era imensa. Lembrei-me de como o homem com o fio vermelho disse que eu não tinha perdido nada. Ele estava certo. Lembrei-me também de como ele lutava contra a fantasia. “Preciso aprender a conviver com o vazio em vez de tentar preenchê-lo”, explicou ele.

Na época, eu não entendia o que ele queria dizer, mas agora entendo. Também tive que aprender a me sentar com o vazio. Precisei estar presente e me amar.

Não me sinto mais envergonhada pelo fato de meu caminho ser incomum. Olho-me no espelho e sinto muita ternura pela mulher que vejo. Sorrio, pensando: Já tive uma vida plena. E ainda há tempo. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Uma solicitação no aplicativo de namoro Hinge pede duas verdades e uma mentira. Eu poderia dizer: participei de uma seita quando era adolescente. Fiquei noiva depois de apenas dois meses de namoro. Tive um derrame aos 44 anos, após terminar meu casamento de 19 anos.

O único problema? Todas são verdadeiras.

'Eu não esperava me sentir tão desejada por ninguém desde que me despedi do homem do fio vermelho. Eu me peguei ousando esperar que talvez isso pudesse ser alguma coisa.' Foto: bongkarn - stock.adobe.com

Entrei em uma seita porque não me conhecia. Depois, apressei-me em me casar porque ainda não me conhecia. O casamento foi meu primeiro e único relacionamento duradouro. Eu costumava ficar envergonhada com isso. Foi um casamento doloroso, mas não gosto de dizer isso porque parece um desserviço às coisas bonitas que ele me trouxe, especialmente nossos três filhos.

No final de O Mágico de Oz, Glinda diz a Dorothy: “Você sempre teve o poder”. Eu costumava odiar essa frase, mas agora ela faz sentido. Eu não entendia o poder que tinha. Claro, alguém poderia ter me dito antes. Mas eu não teria acreditado.

Quase no final do meu casamento, vi um homem do outro lado de uma sala e ambos sentimos uma sensação elétrica de reconhecimento. Nós nos tornamos amigos. Com ele, experimentei o que era se sentir realmente segura. Eu tinha certeza de que nada poderia me diminuir na visão dele.

Nossa amizade foi o fio vermelho que finalmente me levou para fora do labirinto. Por fim, porém, tornou-se impossível ignorar o elefante - sentíamos atração um pelo outro, mas ambos éramos casados e nenhum de nós estava disposto a ter um caso. Relutantemente, nos despedimos. Nunca nos tocamos, mas mesmo assim isso conseguiu mudar nossas vidas.

Depois do meu derrame, passei uma semana no hospital. Minha mão e meu braço estavam preto-azulados por causa de todo o sangue extraído. Eu não conseguia andar com facilidade. Eu me sentia sem esperança até que ele me mandou uma mensagem. Tentamos processar a situação.

“Sinto que agora você vive no lugar dentro de mim onde vou para ficar sozinho”, disse ele.

Ele tinha medo de ser um clichê, desconfiava de fantasias. Ele havia passado por vários relacionamentos intensos e estava em seu segundo casamento. Eu tinha tido apenas um. Eu disse que me sentia como se tivesse perdido algo.

“Você deixou seus próprios desejos de lado por seus filhos”, disse ele. “Você não perdeu, você se doou.” Ele achava que eu precisava ser mais egoísta e admitia que ele não podia ser. Nós nos despedimos novamente, dessa vez para sempre. Eu sofri mais por ele do que pelo meu casamento.

Levei um ano e meio para tentar namorar. O primeiro cara com quem saí tinha velas acesas e um jeito sedutor quando cheguei. Ficamos juntos por 20 minutos e depois o encontro terminou. Eu me senti como se tivesse feito um teste para ser a namorada de alguém e não tivesse conseguido o papel.

Alguns meses depois - alguns encontros com outra pessoa, outro beco sem saída.

Por fim, percebi que todas as pessoas por quem me apaixonei estavam indisponíveis de alguma forma. Outras revelações se seguiram, mas hesitei em tentar novamente.

No último outono, conheci uma pessoa no trabalho. Seus olhos verdes claros encontraram os meus e ele se aproximou bastante. Parecia involuntário. Normalmente, a proximidade teria me perturbado, mas fiquei intrigada.

“Uma nova paixão acabou de chegar”, brinquei com uma colega de trabalho.

Nós nos conhecemos durante a colaboração em um projeto. Havia uma intimidade fácil. Ele fazia contato visual intenso, acariciava o rosto e passava as mãos nos cabelos. Reconheci que sua linguagem corporal transmitia algo, mas não confiava em minha interpretação.

Minha filha estava atrás de mim quando eu estava ao telefone e disse: “Ah meu Deus, você realmente está pesquisando no Google se a linguagem corporal de alguém diz que ele se sente atraído por você?”

“Sim”, eu disse, envergonhada.

Ela riu.

Eu tinha 47 anos. Ele era pelo menos 10 anos mais novo, então imaginei que ele não poderia estar interessado em outra coisa senão um relacionamento profissional comigo.

Quando aceitei um novo emprego em uma organização diferente, entrei em contato para falar sobre um curso e conversamos. Ele perguntou há quanto tempo eu estava divorciada.

Talvez ele estivesse interessado? Sem chance.

Então ele perguntou quantos anos eu tinha quando me casei e há quanto tempo estávamos juntos.

Eu disse a ele e pensei: vamos lá. Ele fará as contas e isso vai acabar.

Em vez disso, ele disse: “O que você vai fazer esta noite?”

“Ver um filme.”

“Eu gostaria de ir se não estivesse longe”, disse ele.

“Cuidado”, brincou minha filha. “Ele pode ser um caçador de MILF (sigla em inglês para “mães com quem eu gostaria de transar”).”

Nós nos encontramos na terça-feira seguinte. Ele me abraçou ao dizer olá e adeus. Eu ainda não tinha certeza se era um encontro. Ele estava a fim de mim ou não?

Mais tarde, ele abordou o assunto. Não havia mais confusão.

Olhei no espelho e estremeci, pensando nos corpos perfeitos de 30 e poucos anos que ele provavelmente estava acostumado a ver. Mas ele parecia bastante feliz com o meu. A gente combinava em muitos aspectos. Na maioria das vezes, não parecia haver diferença de idade. Uma vez, porém, ele disse: “Eu gostaria de ter sido um adolescente nos anos 1990″ e eu, tendo sido uma adolescente nos anos 1990, desejei desaparecer.

Ele sabia sobre a seita, então entendeu que eu não tinha sido realmente uma adolescente nos anos 1990 - pelo menos não uma adolescente típica. Contei a ele que, quando saí da seita, não conhecia nenhuma música daquela época; era como se eu tivesse sido Amish.

“Se você não tivesse entrado na seita, você teria feito parte da cena riot grrrl”, disse ele. “Talvez você estivesse em uma banda.”

Eu não esperava me sentir tão desejada por ninguém desde que me despedi do homem do fio vermelho. Eu me peguei ousando esperar que talvez isso pudesse ser alguma coisa.

Não era. Ele tinha um comportamento quente e frio. Quando conversamos sobre isso, ele disse: “Se isso faz você se sentir melhor, não vou a lugar nenhum tão cedo”. Quando ele continuou se afastando, eu lhe disse que não conseguiria lidar com isso. Dissemos que continuaríamos amigos.

Algumas semanas depois, eu estava com meu filho e minha filha quando ele enviou uma mensagem de texto.

“Vocês realmente podem ser apenas amigos?”, disse minha filha. “Isso não vai deixá-la triste?”

“E se ele falar sobre outras garotas?”, disse meu filho. “Você ficará desapontada?”

Ao ouvir seus pensamentos, senti-me esperançosa por eles. Levei muito tempo para aprender essas coisas. Eles entenderam muito mais cedo. Talvez cometessem menos erros do que eu.

Na semana seguinte, ele mandou outra mensagem e me convidou para sair. Contra meu bom senso, eu fui. Ele tocava música enquanto eu escrevia e desenhava. Aquele momento paralelo foi tudo para mim.

Mais tarde, ele se sentou ao meu lado no sofá e perguntou: “Você se importa se eu me sentar mais perto?”

Eu deveria ter recusado. Isso era um pouco demais para quem havia se decidido pela amizade.

Quando dormíamos juntos no passado, ele era tão presente, tão conectado. Agora, ele estava em outro lugar. Silencioso, de olhos fechados. Atendendo a uma necessidade.

Dois dias depois, eu lhe disse que não poderíamos mais nos ver. Fiquei triste, mas não com o coração partido. Claro que fiquei desapontada, mas preferi lamentar a amizade a me apegar a fantasias sobre nosso potencial. Eu podia reconhecer que, embora gostasse dele, não podia ficar em uma situação dolorosa.

No passado, a fantasia teria eclipsado a realidade. Eu teria acreditado que era amor, deixando aquilo se arrastar mesmo que me deixasse irritada e ansiosa. Eu teria perdido horas analisando o que fiz de errado e esperando que ele voltasse atrás.

Dessa vez, eu podia ver o beco sem saída. Eu queria algo consistente, e ele não podia me dar isso. Eu estava disposta a esperar por alguém que pudesse. Em vez de fracasso, senti como se fosse um ato de amor.

Parecia tão óbvio que não pude deixar de me perguntar por que levei tanto tempo para entender. Tive que aceitar o fato de que não podia pular a curva de aprendizado.

Recentemente, meus filhos e eu estávamos conversando e rindo juntos, e a alegria era imensa. Lembrei-me de como o homem com o fio vermelho disse que eu não tinha perdido nada. Ele estava certo. Lembrei-me também de como ele lutava contra a fantasia. “Preciso aprender a conviver com o vazio em vez de tentar preenchê-lo”, explicou ele.

Na época, eu não entendia o que ele queria dizer, mas agora entendo. Também tive que aprender a me sentar com o vazio. Precisei estar presente e me amar.

Não me sinto mais envergonhada pelo fato de meu caminho ser incomum. Olho-me no espelho e sinto muita ternura pela mulher que vejo. Sorrio, pensando: Já tive uma vida plena. E ainda há tempo. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

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