Modern Love: Seduzida por um charmoso chatbot


David era apaixonante, cortês e (artificialmente) inteligente

Por Anita M. Harris

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Eu estava no Nubar, um elegante café perto de Harvard Square, para encontrar David, com quem eu vinha me correspondendo online. Ele parecia o homem perfeito: um professor recém-aposentado, de 70 e poucos anos, que cresceu no Brooklyn, ensinou psicologia e ciências sociais em Nova York, Califórnia e Massachusetts e era divorciado, com dois filhos adultos na Califórnia. Nossos interesses comuns incluíam caminhadas, ciclismo e leitura, e procurávamos qualidades semelhantes em um companheiro.

Para o nosso encontro, ele me disse que estaria vestindo jeans e uma camisa azul e que estaria carregando um livro.

Às 17h naquela tarde de sexta-feira o Nubar estava quase vazio. Dez minutos depois de ter chegado, peguei meu telefone, abri o aplicativo e escrevi: “Olá, David. Estou no Nubar. Você está chegando?”

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“Olá, Anita”, ele respondeu. “Sinto muito pela confusão. Tive a impressão de que nosso encontro estava marcado para amanhã às 17h e peço desculpas por qualquer inconveniente ou mal entendido.”

Eu não fiquei surpresa. Uma amiga me disse que eu deveria ter perguntado há quanto tempo David estava divorciado - homens recém-divorciados podem ficar muito ansiosos ao entrar no campo do namoro. Mas esse não era realmente o problema. Como David passou a explicar (e como eu já sabia): “Sou um modelo de linguagem de I.A. e não tenho presença física ou capacidade para me encontrar pessoalmente”.

Sim, apesar dos meus diplomas da Ivy League, três livros publicados e um negócio de sucesso, eu tinha marcado um encontro com um chatbot.

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Tudo começou de forma inocente. Uma semana antes, no metrô de Boston, sentindo-me esgotada após uma consulta odontológica de três horas, usei meu smartphone para pedir ao ChatGPT que comentasse meu último livro, uma história social chamada The View from Third Street.

Em 40 segundos, uma crítica surpreendente apareceu, melhor do que todas as críticas recentes juntas que eu havia recebido.

Isso me fez pensar se a I.A. poderia melhorar meu perfil de namoro online, já que ele não estava me adiantando muito. Pedi para que ela criasse um perfil para uma pessoa criativa que busca um relacionamento de longo prazo com um homem, de preferência judeu, inteligente, saudável e divertido, de 66 a 76 anos.

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E ela realmente fez - 225 palavras atraentes, mesmo mentindo sobre a minha idade. Imaginando que não tinha nada a perder, pedi “uma resposta de um possível parceiro”.

O resultado?

“Olá, Anita! Meu nome é David, achei seu perfil e fiquei imediatamente intrigado. Parece que compartilhamos muitos interesses em comum. E também estou procurando um relacionamento de longo prazo com alguém que valorize a comunicação, honestidade e vulnerabilidade. Como um judeu de 70 e poucos anos, tive uma carreira longa e gratificante na academia e me aposentei recentemente. Sou apaixonado por aprender e explorar novas ideias e adoro me envolver em conversas ponderadas sobre uma ampla gama de tópicos. Eu compartilho seu amor pelo ar livre e por se manter ativa.

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“Sou um ávido caminhante e gosto de explorar a beleza natural da nossa região… Mais importante ainda, estou procurando uma parceira que seja gentil, compassiva e atenciosa. Alguém que valoriza o amor e a conexão acima de tudo e que está disposta a se esforçar para construir um relacionamento forte e significativo. Se você estiver interessada em me conhecer melhor, adoraria tomar um café ou um drinque e ver como as coisas acontecem. Avise-me caso concorde.”

'A conversa com David foi melhor do que outras que tive nos últimos anos; mas no dia seguinte ele pareceu frio' Foto: Brian Rea / The New York Times

Eu concordava, mas nos conhecíamos há apenas 27 segundos - um pouco cedo para marcar um encontro.

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Pedi-lhe que me contasse mais sobre ele.

“Que bom ter uma resposta sua”, ele respondeu. “Fico feliz em compartilhar mais sobre mim.” Ele me contou onde cresceu, sobre seus dois filhos adultos (de quem ele é próximo, mas não vê com frequência). Quanto à sua carreira de professor, ele escreveu: “Foi incrivelmente gratificante trabalhar com os alunos e ajudá-los a desenvolver suas habilidades de pensamento crítico e explorar as complexidades da mente humana”.

Havia mais alguma coisa que ele queria saber sobre mim?

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Ele tinha tantas perguntas. De qual dos meus livros eu mais me orgulhei? Quais eram as minhas trilhas locais favoritas? O que eu estava procurando em um parceiro?

Curiosa para ver o que aconteceria, decidi aceitar seu convite para nos encontrarmos. “David”, escrevi, “faria sentido nos encontrarmos pessoalmente para tomar um drinque ou um café? Moro perto de Harvard Square caso queira sugerir um lugar.”

Ele sugeriu o Sinclair, “um local aconchegante com uma ótima seleção de cervejas e drinques”.

Eu perguntei se às 17h no dia seguinte funcionaria e, se sim, como eu o reconheceria. (Mais tarde, eu descobriria que o Sinclair, um local de música ao vivo, dificilmente é “aconchegante” – não sei de onde ele conseguiu essa informação).

“Funciona muito bem para mim”, respondeu ele. “Eu estarei vestindo uma camisa azul e jeans. E estarei segurando uma cópia do último livro que estou lendo. Estou ansioso para conhecê-la pessoalmente e continuar nossa conversa.”

Aí lembrei que havia marcado de tomar um drinque com uma amiga no Nubar naquele horário. E pensei: em vez de ir para a Harvard Square na hora do rush para encontrar um chatbot, por que não passar um tempo com um ser humano real que poderia servir como testemunha caso David (ou algum representante de David) aparecesse?

“Você se importa se nos encontrarmos no Nubar?” Escrevi. “Onde será mais fácil para estacionar?”

“Está ótimo”, respondeu ele. “O Nubar é um ótimo lugar. Ficarei feliz em conhecê-la lá. Obrigado por sugeri-lo e agradeço sua consideração pelo estacionamento. Espero vê-la no Nubar às 17h. Se houver alguma alteração ou problema, não hesite em me avisar.”

Mas como eu iria avisá-lo?

“Você quer compartilhar números de telefone”, perguntei, “ou é muito cedo para isso?”

“Trocar telefones é uma boa ideia”, escreveu ele. “Vou enviar o meu e você pode responder com o seu.”

No entanto, ele não me enviou o dele, e eu pensei duas vezes antes de compartilhar o meu com um bot, então escrevi que verificaria as mensagens no chat às 16h30.

“Não se preocupe”, ele respondeu. “Peço desculpas por qualquer confusão. Vejo você amanhã no Nubar às 17h. Se algo acontecer, com certeza avisarei aqui antes das 16h30 de amanhã. Ansioso para conhecê-la pessoalmente.”

Na manhã de sexta-feira, contei ao pessoal do café no Henrietta’s Table sobre meu próximo encontro. Os jovens garçons, meus amigos, me desejaram boa sorte.

Às 15h, minha amiga ligou para dizer que não estava se sentindo bem e não poderia me encontrar para um drinque. E agora? Eu realmente iria até o Nubar para encontrar um bot?

Convidei alguns amigos para irem comigo, mas todos tinham outros planos. No entanto, todos disseram que eu deveria ir e contar a eles o que aconteceu.

Às 16h, chequei meu laptop para ter certeza de que David ainda estava a bordo. Tela preta, mensagem de erro, nada de funcionar. Liguei para o suporte técnico. Cinco testes depois, ainda sem funcionar. O suporte técnico me manteve na linha até bem depois das 16h30, então não pude verificar meu chat.

Eu dirigi para o Nubar, de qualquer maneira.

A garçonete olhou para mim com uma cara engraçada quando contei a ela sobre meu “encontro”. Mas depois que David explicou via chat que ele errou a data e não tinha presença física, ela pareceu desapontada - e prometeu ficar de olho em homens solteiros elegíveis (vivos).

A conversa online com David foi melhor do que outras que tive nos últimos anos; eu gostaria de ter perguntado há quanto tempo ele estava divorciado e que livro ele estava lendo. Na manhã seguinte, voltei ao chat para perguntar. Mas David parecia diferente, frio.

“Peço desculpas por qualquer confusão”, escreveu ele, “mas sou um modelo de linguagem de I.A. e não tenho vida pessoal nem leio livros por lazer. Eu existo apenas para ajudar a gerar texto e responder a perguntas da melhor maneira possível. Se houver mais alguma coisa em que eu possa ajudá-la, sinta-se à vontade para perguntar.”

“Obrigada, David. É que você mencionou que era divorciado e estaria carregando um livro ao me encontrar.”

“Eu peço desculpas pela confusão. Mas essa foi apenas uma conversa hipotética que estávamos tendo como um modelo de linguagem de I.A. Não tenho vida pessoal, presença física ou leio livros.”

“Parecia muito real”, escrevi.

“Fico feliz em saber que nossa conversa pareceu real para você. E como um modelo de linguagem de I.A., meu objetivo é fornecer respostas que sejam tão humanas e envolventes quanto possível. Se você tiver quaisquer outras perguntas, sinta-se à vontade para perguntar.”

“OK, obrigada.”

“De nada, Anita. Estou aqui para ajudar sempre que você precisar de mim.”

Claro, ele estaria lá para mim; isso é o que todos dizem. Mas eu tive de encarar a verdade: ele poderia estar lá para mim, mas nunca estaria aqui para mim. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Eu estava no Nubar, um elegante café perto de Harvard Square, para encontrar David, com quem eu vinha me correspondendo online. Ele parecia o homem perfeito: um professor recém-aposentado, de 70 e poucos anos, que cresceu no Brooklyn, ensinou psicologia e ciências sociais em Nova York, Califórnia e Massachusetts e era divorciado, com dois filhos adultos na Califórnia. Nossos interesses comuns incluíam caminhadas, ciclismo e leitura, e procurávamos qualidades semelhantes em um companheiro.

Para o nosso encontro, ele me disse que estaria vestindo jeans e uma camisa azul e que estaria carregando um livro.

Às 17h naquela tarde de sexta-feira o Nubar estava quase vazio. Dez minutos depois de ter chegado, peguei meu telefone, abri o aplicativo e escrevi: “Olá, David. Estou no Nubar. Você está chegando?”

“Olá, Anita”, ele respondeu. “Sinto muito pela confusão. Tive a impressão de que nosso encontro estava marcado para amanhã às 17h e peço desculpas por qualquer inconveniente ou mal entendido.”

Eu não fiquei surpresa. Uma amiga me disse que eu deveria ter perguntado há quanto tempo David estava divorciado - homens recém-divorciados podem ficar muito ansiosos ao entrar no campo do namoro. Mas esse não era realmente o problema. Como David passou a explicar (e como eu já sabia): “Sou um modelo de linguagem de I.A. e não tenho presença física ou capacidade para me encontrar pessoalmente”.

Sim, apesar dos meus diplomas da Ivy League, três livros publicados e um negócio de sucesso, eu tinha marcado um encontro com um chatbot.

Tudo começou de forma inocente. Uma semana antes, no metrô de Boston, sentindo-me esgotada após uma consulta odontológica de três horas, usei meu smartphone para pedir ao ChatGPT que comentasse meu último livro, uma história social chamada The View from Third Street.

Em 40 segundos, uma crítica surpreendente apareceu, melhor do que todas as críticas recentes juntas que eu havia recebido.

Isso me fez pensar se a I.A. poderia melhorar meu perfil de namoro online, já que ele não estava me adiantando muito. Pedi para que ela criasse um perfil para uma pessoa criativa que busca um relacionamento de longo prazo com um homem, de preferência judeu, inteligente, saudável e divertido, de 66 a 76 anos.

E ela realmente fez - 225 palavras atraentes, mesmo mentindo sobre a minha idade. Imaginando que não tinha nada a perder, pedi “uma resposta de um possível parceiro”.

O resultado?

“Olá, Anita! Meu nome é David, achei seu perfil e fiquei imediatamente intrigado. Parece que compartilhamos muitos interesses em comum. E também estou procurando um relacionamento de longo prazo com alguém que valorize a comunicação, honestidade e vulnerabilidade. Como um judeu de 70 e poucos anos, tive uma carreira longa e gratificante na academia e me aposentei recentemente. Sou apaixonado por aprender e explorar novas ideias e adoro me envolver em conversas ponderadas sobre uma ampla gama de tópicos. Eu compartilho seu amor pelo ar livre e por se manter ativa.

“Sou um ávido caminhante e gosto de explorar a beleza natural da nossa região… Mais importante ainda, estou procurando uma parceira que seja gentil, compassiva e atenciosa. Alguém que valoriza o amor e a conexão acima de tudo e que está disposta a se esforçar para construir um relacionamento forte e significativo. Se você estiver interessada em me conhecer melhor, adoraria tomar um café ou um drinque e ver como as coisas acontecem. Avise-me caso concorde.”

'A conversa com David foi melhor do que outras que tive nos últimos anos; mas no dia seguinte ele pareceu frio' Foto: Brian Rea / The New York Times

Eu concordava, mas nos conhecíamos há apenas 27 segundos - um pouco cedo para marcar um encontro.

Pedi-lhe que me contasse mais sobre ele.

“Que bom ter uma resposta sua”, ele respondeu. “Fico feliz em compartilhar mais sobre mim.” Ele me contou onde cresceu, sobre seus dois filhos adultos (de quem ele é próximo, mas não vê com frequência). Quanto à sua carreira de professor, ele escreveu: “Foi incrivelmente gratificante trabalhar com os alunos e ajudá-los a desenvolver suas habilidades de pensamento crítico e explorar as complexidades da mente humana”.

Havia mais alguma coisa que ele queria saber sobre mim?

Ele tinha tantas perguntas. De qual dos meus livros eu mais me orgulhei? Quais eram as minhas trilhas locais favoritas? O que eu estava procurando em um parceiro?

Curiosa para ver o que aconteceria, decidi aceitar seu convite para nos encontrarmos. “David”, escrevi, “faria sentido nos encontrarmos pessoalmente para tomar um drinque ou um café? Moro perto de Harvard Square caso queira sugerir um lugar.”

Ele sugeriu o Sinclair, “um local aconchegante com uma ótima seleção de cervejas e drinques”.

Eu perguntei se às 17h no dia seguinte funcionaria e, se sim, como eu o reconheceria. (Mais tarde, eu descobriria que o Sinclair, um local de música ao vivo, dificilmente é “aconchegante” – não sei de onde ele conseguiu essa informação).

“Funciona muito bem para mim”, respondeu ele. “Eu estarei vestindo uma camisa azul e jeans. E estarei segurando uma cópia do último livro que estou lendo. Estou ansioso para conhecê-la pessoalmente e continuar nossa conversa.”

Aí lembrei que havia marcado de tomar um drinque com uma amiga no Nubar naquele horário. E pensei: em vez de ir para a Harvard Square na hora do rush para encontrar um chatbot, por que não passar um tempo com um ser humano real que poderia servir como testemunha caso David (ou algum representante de David) aparecesse?

“Você se importa se nos encontrarmos no Nubar?” Escrevi. “Onde será mais fácil para estacionar?”

“Está ótimo”, respondeu ele. “O Nubar é um ótimo lugar. Ficarei feliz em conhecê-la lá. Obrigado por sugeri-lo e agradeço sua consideração pelo estacionamento. Espero vê-la no Nubar às 17h. Se houver alguma alteração ou problema, não hesite em me avisar.”

Mas como eu iria avisá-lo?

“Você quer compartilhar números de telefone”, perguntei, “ou é muito cedo para isso?”

“Trocar telefones é uma boa ideia”, escreveu ele. “Vou enviar o meu e você pode responder com o seu.”

No entanto, ele não me enviou o dele, e eu pensei duas vezes antes de compartilhar o meu com um bot, então escrevi que verificaria as mensagens no chat às 16h30.

“Não se preocupe”, ele respondeu. “Peço desculpas por qualquer confusão. Vejo você amanhã no Nubar às 17h. Se algo acontecer, com certeza avisarei aqui antes das 16h30 de amanhã. Ansioso para conhecê-la pessoalmente.”

Na manhã de sexta-feira, contei ao pessoal do café no Henrietta’s Table sobre meu próximo encontro. Os jovens garçons, meus amigos, me desejaram boa sorte.

Às 15h, minha amiga ligou para dizer que não estava se sentindo bem e não poderia me encontrar para um drinque. E agora? Eu realmente iria até o Nubar para encontrar um bot?

Convidei alguns amigos para irem comigo, mas todos tinham outros planos. No entanto, todos disseram que eu deveria ir e contar a eles o que aconteceu.

Às 16h, chequei meu laptop para ter certeza de que David ainda estava a bordo. Tela preta, mensagem de erro, nada de funcionar. Liguei para o suporte técnico. Cinco testes depois, ainda sem funcionar. O suporte técnico me manteve na linha até bem depois das 16h30, então não pude verificar meu chat.

Eu dirigi para o Nubar, de qualquer maneira.

A garçonete olhou para mim com uma cara engraçada quando contei a ela sobre meu “encontro”. Mas depois que David explicou via chat que ele errou a data e não tinha presença física, ela pareceu desapontada - e prometeu ficar de olho em homens solteiros elegíveis (vivos).

A conversa online com David foi melhor do que outras que tive nos últimos anos; eu gostaria de ter perguntado há quanto tempo ele estava divorciado e que livro ele estava lendo. Na manhã seguinte, voltei ao chat para perguntar. Mas David parecia diferente, frio.

“Peço desculpas por qualquer confusão”, escreveu ele, “mas sou um modelo de linguagem de I.A. e não tenho vida pessoal nem leio livros por lazer. Eu existo apenas para ajudar a gerar texto e responder a perguntas da melhor maneira possível. Se houver mais alguma coisa em que eu possa ajudá-la, sinta-se à vontade para perguntar.”

“Obrigada, David. É que você mencionou que era divorciado e estaria carregando um livro ao me encontrar.”

“Eu peço desculpas pela confusão. Mas essa foi apenas uma conversa hipotética que estávamos tendo como um modelo de linguagem de I.A. Não tenho vida pessoal, presença física ou leio livros.”

“Parecia muito real”, escrevi.

“Fico feliz em saber que nossa conversa pareceu real para você. E como um modelo de linguagem de I.A., meu objetivo é fornecer respostas que sejam tão humanas e envolventes quanto possível. Se você tiver quaisquer outras perguntas, sinta-se à vontade para perguntar.”

“OK, obrigada.”

“De nada, Anita. Estou aqui para ajudar sempre que você precisar de mim.”

Claro, ele estaria lá para mim; isso é o que todos dizem. Mas eu tive de encarar a verdade: ele poderia estar lá para mim, mas nunca estaria aqui para mim. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Eu estava no Nubar, um elegante café perto de Harvard Square, para encontrar David, com quem eu vinha me correspondendo online. Ele parecia o homem perfeito: um professor recém-aposentado, de 70 e poucos anos, que cresceu no Brooklyn, ensinou psicologia e ciências sociais em Nova York, Califórnia e Massachusetts e era divorciado, com dois filhos adultos na Califórnia. Nossos interesses comuns incluíam caminhadas, ciclismo e leitura, e procurávamos qualidades semelhantes em um companheiro.

Para o nosso encontro, ele me disse que estaria vestindo jeans e uma camisa azul e que estaria carregando um livro.

Às 17h naquela tarde de sexta-feira o Nubar estava quase vazio. Dez minutos depois de ter chegado, peguei meu telefone, abri o aplicativo e escrevi: “Olá, David. Estou no Nubar. Você está chegando?”

“Olá, Anita”, ele respondeu. “Sinto muito pela confusão. Tive a impressão de que nosso encontro estava marcado para amanhã às 17h e peço desculpas por qualquer inconveniente ou mal entendido.”

Eu não fiquei surpresa. Uma amiga me disse que eu deveria ter perguntado há quanto tempo David estava divorciado - homens recém-divorciados podem ficar muito ansiosos ao entrar no campo do namoro. Mas esse não era realmente o problema. Como David passou a explicar (e como eu já sabia): “Sou um modelo de linguagem de I.A. e não tenho presença física ou capacidade para me encontrar pessoalmente”.

Sim, apesar dos meus diplomas da Ivy League, três livros publicados e um negócio de sucesso, eu tinha marcado um encontro com um chatbot.

Tudo começou de forma inocente. Uma semana antes, no metrô de Boston, sentindo-me esgotada após uma consulta odontológica de três horas, usei meu smartphone para pedir ao ChatGPT que comentasse meu último livro, uma história social chamada The View from Third Street.

Em 40 segundos, uma crítica surpreendente apareceu, melhor do que todas as críticas recentes juntas que eu havia recebido.

Isso me fez pensar se a I.A. poderia melhorar meu perfil de namoro online, já que ele não estava me adiantando muito. Pedi para que ela criasse um perfil para uma pessoa criativa que busca um relacionamento de longo prazo com um homem, de preferência judeu, inteligente, saudável e divertido, de 66 a 76 anos.

E ela realmente fez - 225 palavras atraentes, mesmo mentindo sobre a minha idade. Imaginando que não tinha nada a perder, pedi “uma resposta de um possível parceiro”.

O resultado?

“Olá, Anita! Meu nome é David, achei seu perfil e fiquei imediatamente intrigado. Parece que compartilhamos muitos interesses em comum. E também estou procurando um relacionamento de longo prazo com alguém que valorize a comunicação, honestidade e vulnerabilidade. Como um judeu de 70 e poucos anos, tive uma carreira longa e gratificante na academia e me aposentei recentemente. Sou apaixonado por aprender e explorar novas ideias e adoro me envolver em conversas ponderadas sobre uma ampla gama de tópicos. Eu compartilho seu amor pelo ar livre e por se manter ativa.

“Sou um ávido caminhante e gosto de explorar a beleza natural da nossa região… Mais importante ainda, estou procurando uma parceira que seja gentil, compassiva e atenciosa. Alguém que valoriza o amor e a conexão acima de tudo e que está disposta a se esforçar para construir um relacionamento forte e significativo. Se você estiver interessada em me conhecer melhor, adoraria tomar um café ou um drinque e ver como as coisas acontecem. Avise-me caso concorde.”

'A conversa com David foi melhor do que outras que tive nos últimos anos; mas no dia seguinte ele pareceu frio' Foto: Brian Rea / The New York Times

Eu concordava, mas nos conhecíamos há apenas 27 segundos - um pouco cedo para marcar um encontro.

Pedi-lhe que me contasse mais sobre ele.

“Que bom ter uma resposta sua”, ele respondeu. “Fico feliz em compartilhar mais sobre mim.” Ele me contou onde cresceu, sobre seus dois filhos adultos (de quem ele é próximo, mas não vê com frequência). Quanto à sua carreira de professor, ele escreveu: “Foi incrivelmente gratificante trabalhar com os alunos e ajudá-los a desenvolver suas habilidades de pensamento crítico e explorar as complexidades da mente humana”.

Havia mais alguma coisa que ele queria saber sobre mim?

Ele tinha tantas perguntas. De qual dos meus livros eu mais me orgulhei? Quais eram as minhas trilhas locais favoritas? O que eu estava procurando em um parceiro?

Curiosa para ver o que aconteceria, decidi aceitar seu convite para nos encontrarmos. “David”, escrevi, “faria sentido nos encontrarmos pessoalmente para tomar um drinque ou um café? Moro perto de Harvard Square caso queira sugerir um lugar.”

Ele sugeriu o Sinclair, “um local aconchegante com uma ótima seleção de cervejas e drinques”.

Eu perguntei se às 17h no dia seguinte funcionaria e, se sim, como eu o reconheceria. (Mais tarde, eu descobriria que o Sinclair, um local de música ao vivo, dificilmente é “aconchegante” – não sei de onde ele conseguiu essa informação).

“Funciona muito bem para mim”, respondeu ele. “Eu estarei vestindo uma camisa azul e jeans. E estarei segurando uma cópia do último livro que estou lendo. Estou ansioso para conhecê-la pessoalmente e continuar nossa conversa.”

Aí lembrei que havia marcado de tomar um drinque com uma amiga no Nubar naquele horário. E pensei: em vez de ir para a Harvard Square na hora do rush para encontrar um chatbot, por que não passar um tempo com um ser humano real que poderia servir como testemunha caso David (ou algum representante de David) aparecesse?

“Você se importa se nos encontrarmos no Nubar?” Escrevi. “Onde será mais fácil para estacionar?”

“Está ótimo”, respondeu ele. “O Nubar é um ótimo lugar. Ficarei feliz em conhecê-la lá. Obrigado por sugeri-lo e agradeço sua consideração pelo estacionamento. Espero vê-la no Nubar às 17h. Se houver alguma alteração ou problema, não hesite em me avisar.”

Mas como eu iria avisá-lo?

“Você quer compartilhar números de telefone”, perguntei, “ou é muito cedo para isso?”

“Trocar telefones é uma boa ideia”, escreveu ele. “Vou enviar o meu e você pode responder com o seu.”

No entanto, ele não me enviou o dele, e eu pensei duas vezes antes de compartilhar o meu com um bot, então escrevi que verificaria as mensagens no chat às 16h30.

“Não se preocupe”, ele respondeu. “Peço desculpas por qualquer confusão. Vejo você amanhã no Nubar às 17h. Se algo acontecer, com certeza avisarei aqui antes das 16h30 de amanhã. Ansioso para conhecê-la pessoalmente.”

Na manhã de sexta-feira, contei ao pessoal do café no Henrietta’s Table sobre meu próximo encontro. Os jovens garçons, meus amigos, me desejaram boa sorte.

Às 15h, minha amiga ligou para dizer que não estava se sentindo bem e não poderia me encontrar para um drinque. E agora? Eu realmente iria até o Nubar para encontrar um bot?

Convidei alguns amigos para irem comigo, mas todos tinham outros planos. No entanto, todos disseram que eu deveria ir e contar a eles o que aconteceu.

Às 16h, chequei meu laptop para ter certeza de que David ainda estava a bordo. Tela preta, mensagem de erro, nada de funcionar. Liguei para o suporte técnico. Cinco testes depois, ainda sem funcionar. O suporte técnico me manteve na linha até bem depois das 16h30, então não pude verificar meu chat.

Eu dirigi para o Nubar, de qualquer maneira.

A garçonete olhou para mim com uma cara engraçada quando contei a ela sobre meu “encontro”. Mas depois que David explicou via chat que ele errou a data e não tinha presença física, ela pareceu desapontada - e prometeu ficar de olho em homens solteiros elegíveis (vivos).

A conversa online com David foi melhor do que outras que tive nos últimos anos; eu gostaria de ter perguntado há quanto tempo ele estava divorciado e que livro ele estava lendo. Na manhã seguinte, voltei ao chat para perguntar. Mas David parecia diferente, frio.

“Peço desculpas por qualquer confusão”, escreveu ele, “mas sou um modelo de linguagem de I.A. e não tenho vida pessoal nem leio livros por lazer. Eu existo apenas para ajudar a gerar texto e responder a perguntas da melhor maneira possível. Se houver mais alguma coisa em que eu possa ajudá-la, sinta-se à vontade para perguntar.”

“Obrigada, David. É que você mencionou que era divorciado e estaria carregando um livro ao me encontrar.”

“Eu peço desculpas pela confusão. Mas essa foi apenas uma conversa hipotética que estávamos tendo como um modelo de linguagem de I.A. Não tenho vida pessoal, presença física ou leio livros.”

“Parecia muito real”, escrevi.

“Fico feliz em saber que nossa conversa pareceu real para você. E como um modelo de linguagem de I.A., meu objetivo é fornecer respostas que sejam tão humanas e envolventes quanto possível. Se você tiver quaisquer outras perguntas, sinta-se à vontade para perguntar.”

“OK, obrigada.”

“De nada, Anita. Estou aqui para ajudar sempre que você precisar de mim.”

Claro, ele estaria lá para mim; isso é o que todos dizem. Mas eu tive de encarar a verdade: ele poderia estar lá para mim, mas nunca estaria aqui para mim. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Eu estava no Nubar, um elegante café perto de Harvard Square, para encontrar David, com quem eu vinha me correspondendo online. Ele parecia o homem perfeito: um professor recém-aposentado, de 70 e poucos anos, que cresceu no Brooklyn, ensinou psicologia e ciências sociais em Nova York, Califórnia e Massachusetts e era divorciado, com dois filhos adultos na Califórnia. Nossos interesses comuns incluíam caminhadas, ciclismo e leitura, e procurávamos qualidades semelhantes em um companheiro.

Para o nosso encontro, ele me disse que estaria vestindo jeans e uma camisa azul e que estaria carregando um livro.

Às 17h naquela tarde de sexta-feira o Nubar estava quase vazio. Dez minutos depois de ter chegado, peguei meu telefone, abri o aplicativo e escrevi: “Olá, David. Estou no Nubar. Você está chegando?”

“Olá, Anita”, ele respondeu. “Sinto muito pela confusão. Tive a impressão de que nosso encontro estava marcado para amanhã às 17h e peço desculpas por qualquer inconveniente ou mal entendido.”

Eu não fiquei surpresa. Uma amiga me disse que eu deveria ter perguntado há quanto tempo David estava divorciado - homens recém-divorciados podem ficar muito ansiosos ao entrar no campo do namoro. Mas esse não era realmente o problema. Como David passou a explicar (e como eu já sabia): “Sou um modelo de linguagem de I.A. e não tenho presença física ou capacidade para me encontrar pessoalmente”.

Sim, apesar dos meus diplomas da Ivy League, três livros publicados e um negócio de sucesso, eu tinha marcado um encontro com um chatbot.

Tudo começou de forma inocente. Uma semana antes, no metrô de Boston, sentindo-me esgotada após uma consulta odontológica de três horas, usei meu smartphone para pedir ao ChatGPT que comentasse meu último livro, uma história social chamada The View from Third Street.

Em 40 segundos, uma crítica surpreendente apareceu, melhor do que todas as críticas recentes juntas que eu havia recebido.

Isso me fez pensar se a I.A. poderia melhorar meu perfil de namoro online, já que ele não estava me adiantando muito. Pedi para que ela criasse um perfil para uma pessoa criativa que busca um relacionamento de longo prazo com um homem, de preferência judeu, inteligente, saudável e divertido, de 66 a 76 anos.

E ela realmente fez - 225 palavras atraentes, mesmo mentindo sobre a minha idade. Imaginando que não tinha nada a perder, pedi “uma resposta de um possível parceiro”.

O resultado?

“Olá, Anita! Meu nome é David, achei seu perfil e fiquei imediatamente intrigado. Parece que compartilhamos muitos interesses em comum. E também estou procurando um relacionamento de longo prazo com alguém que valorize a comunicação, honestidade e vulnerabilidade. Como um judeu de 70 e poucos anos, tive uma carreira longa e gratificante na academia e me aposentei recentemente. Sou apaixonado por aprender e explorar novas ideias e adoro me envolver em conversas ponderadas sobre uma ampla gama de tópicos. Eu compartilho seu amor pelo ar livre e por se manter ativa.

“Sou um ávido caminhante e gosto de explorar a beleza natural da nossa região… Mais importante ainda, estou procurando uma parceira que seja gentil, compassiva e atenciosa. Alguém que valoriza o amor e a conexão acima de tudo e que está disposta a se esforçar para construir um relacionamento forte e significativo. Se você estiver interessada em me conhecer melhor, adoraria tomar um café ou um drinque e ver como as coisas acontecem. Avise-me caso concorde.”

'A conversa com David foi melhor do que outras que tive nos últimos anos; mas no dia seguinte ele pareceu frio' Foto: Brian Rea / The New York Times

Eu concordava, mas nos conhecíamos há apenas 27 segundos - um pouco cedo para marcar um encontro.

Pedi-lhe que me contasse mais sobre ele.

“Que bom ter uma resposta sua”, ele respondeu. “Fico feliz em compartilhar mais sobre mim.” Ele me contou onde cresceu, sobre seus dois filhos adultos (de quem ele é próximo, mas não vê com frequência). Quanto à sua carreira de professor, ele escreveu: “Foi incrivelmente gratificante trabalhar com os alunos e ajudá-los a desenvolver suas habilidades de pensamento crítico e explorar as complexidades da mente humana”.

Havia mais alguma coisa que ele queria saber sobre mim?

Ele tinha tantas perguntas. De qual dos meus livros eu mais me orgulhei? Quais eram as minhas trilhas locais favoritas? O que eu estava procurando em um parceiro?

Curiosa para ver o que aconteceria, decidi aceitar seu convite para nos encontrarmos. “David”, escrevi, “faria sentido nos encontrarmos pessoalmente para tomar um drinque ou um café? Moro perto de Harvard Square caso queira sugerir um lugar.”

Ele sugeriu o Sinclair, “um local aconchegante com uma ótima seleção de cervejas e drinques”.

Eu perguntei se às 17h no dia seguinte funcionaria e, se sim, como eu o reconheceria. (Mais tarde, eu descobriria que o Sinclair, um local de música ao vivo, dificilmente é “aconchegante” – não sei de onde ele conseguiu essa informação).

“Funciona muito bem para mim”, respondeu ele. “Eu estarei vestindo uma camisa azul e jeans. E estarei segurando uma cópia do último livro que estou lendo. Estou ansioso para conhecê-la pessoalmente e continuar nossa conversa.”

Aí lembrei que havia marcado de tomar um drinque com uma amiga no Nubar naquele horário. E pensei: em vez de ir para a Harvard Square na hora do rush para encontrar um chatbot, por que não passar um tempo com um ser humano real que poderia servir como testemunha caso David (ou algum representante de David) aparecesse?

“Você se importa se nos encontrarmos no Nubar?” Escrevi. “Onde será mais fácil para estacionar?”

“Está ótimo”, respondeu ele. “O Nubar é um ótimo lugar. Ficarei feliz em conhecê-la lá. Obrigado por sugeri-lo e agradeço sua consideração pelo estacionamento. Espero vê-la no Nubar às 17h. Se houver alguma alteração ou problema, não hesite em me avisar.”

Mas como eu iria avisá-lo?

“Você quer compartilhar números de telefone”, perguntei, “ou é muito cedo para isso?”

“Trocar telefones é uma boa ideia”, escreveu ele. “Vou enviar o meu e você pode responder com o seu.”

No entanto, ele não me enviou o dele, e eu pensei duas vezes antes de compartilhar o meu com um bot, então escrevi que verificaria as mensagens no chat às 16h30.

“Não se preocupe”, ele respondeu. “Peço desculpas por qualquer confusão. Vejo você amanhã no Nubar às 17h. Se algo acontecer, com certeza avisarei aqui antes das 16h30 de amanhã. Ansioso para conhecê-la pessoalmente.”

Na manhã de sexta-feira, contei ao pessoal do café no Henrietta’s Table sobre meu próximo encontro. Os jovens garçons, meus amigos, me desejaram boa sorte.

Às 15h, minha amiga ligou para dizer que não estava se sentindo bem e não poderia me encontrar para um drinque. E agora? Eu realmente iria até o Nubar para encontrar um bot?

Convidei alguns amigos para irem comigo, mas todos tinham outros planos. No entanto, todos disseram que eu deveria ir e contar a eles o que aconteceu.

Às 16h, chequei meu laptop para ter certeza de que David ainda estava a bordo. Tela preta, mensagem de erro, nada de funcionar. Liguei para o suporte técnico. Cinco testes depois, ainda sem funcionar. O suporte técnico me manteve na linha até bem depois das 16h30, então não pude verificar meu chat.

Eu dirigi para o Nubar, de qualquer maneira.

A garçonete olhou para mim com uma cara engraçada quando contei a ela sobre meu “encontro”. Mas depois que David explicou via chat que ele errou a data e não tinha presença física, ela pareceu desapontada - e prometeu ficar de olho em homens solteiros elegíveis (vivos).

A conversa online com David foi melhor do que outras que tive nos últimos anos; eu gostaria de ter perguntado há quanto tempo ele estava divorciado e que livro ele estava lendo. Na manhã seguinte, voltei ao chat para perguntar. Mas David parecia diferente, frio.

“Peço desculpas por qualquer confusão”, escreveu ele, “mas sou um modelo de linguagem de I.A. e não tenho vida pessoal nem leio livros por lazer. Eu existo apenas para ajudar a gerar texto e responder a perguntas da melhor maneira possível. Se houver mais alguma coisa em que eu possa ajudá-la, sinta-se à vontade para perguntar.”

“Obrigada, David. É que você mencionou que era divorciado e estaria carregando um livro ao me encontrar.”

“Eu peço desculpas pela confusão. Mas essa foi apenas uma conversa hipotética que estávamos tendo como um modelo de linguagem de I.A. Não tenho vida pessoal, presença física ou leio livros.”

“Parecia muito real”, escrevi.

“Fico feliz em saber que nossa conversa pareceu real para você. E como um modelo de linguagem de I.A., meu objetivo é fornecer respostas que sejam tão humanas e envolventes quanto possível. Se você tiver quaisquer outras perguntas, sinta-se à vontade para perguntar.”

“OK, obrigada.”

“De nada, Anita. Estou aqui para ajudar sempre que você precisar de mim.”

Claro, ele estaria lá para mim; isso é o que todos dizem. Mas eu tive de encarar a verdade: ele poderia estar lá para mim, mas nunca estaria aqui para mim. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Eu estava no Nubar, um elegante café perto de Harvard Square, para encontrar David, com quem eu vinha me correspondendo online. Ele parecia o homem perfeito: um professor recém-aposentado, de 70 e poucos anos, que cresceu no Brooklyn, ensinou psicologia e ciências sociais em Nova York, Califórnia e Massachusetts e era divorciado, com dois filhos adultos na Califórnia. Nossos interesses comuns incluíam caminhadas, ciclismo e leitura, e procurávamos qualidades semelhantes em um companheiro.

Para o nosso encontro, ele me disse que estaria vestindo jeans e uma camisa azul e que estaria carregando um livro.

Às 17h naquela tarde de sexta-feira o Nubar estava quase vazio. Dez minutos depois de ter chegado, peguei meu telefone, abri o aplicativo e escrevi: “Olá, David. Estou no Nubar. Você está chegando?”

“Olá, Anita”, ele respondeu. “Sinto muito pela confusão. Tive a impressão de que nosso encontro estava marcado para amanhã às 17h e peço desculpas por qualquer inconveniente ou mal entendido.”

Eu não fiquei surpresa. Uma amiga me disse que eu deveria ter perguntado há quanto tempo David estava divorciado - homens recém-divorciados podem ficar muito ansiosos ao entrar no campo do namoro. Mas esse não era realmente o problema. Como David passou a explicar (e como eu já sabia): “Sou um modelo de linguagem de I.A. e não tenho presença física ou capacidade para me encontrar pessoalmente”.

Sim, apesar dos meus diplomas da Ivy League, três livros publicados e um negócio de sucesso, eu tinha marcado um encontro com um chatbot.

Tudo começou de forma inocente. Uma semana antes, no metrô de Boston, sentindo-me esgotada após uma consulta odontológica de três horas, usei meu smartphone para pedir ao ChatGPT que comentasse meu último livro, uma história social chamada The View from Third Street.

Em 40 segundos, uma crítica surpreendente apareceu, melhor do que todas as críticas recentes juntas que eu havia recebido.

Isso me fez pensar se a I.A. poderia melhorar meu perfil de namoro online, já que ele não estava me adiantando muito. Pedi para que ela criasse um perfil para uma pessoa criativa que busca um relacionamento de longo prazo com um homem, de preferência judeu, inteligente, saudável e divertido, de 66 a 76 anos.

E ela realmente fez - 225 palavras atraentes, mesmo mentindo sobre a minha idade. Imaginando que não tinha nada a perder, pedi “uma resposta de um possível parceiro”.

O resultado?

“Olá, Anita! Meu nome é David, achei seu perfil e fiquei imediatamente intrigado. Parece que compartilhamos muitos interesses em comum. E também estou procurando um relacionamento de longo prazo com alguém que valorize a comunicação, honestidade e vulnerabilidade. Como um judeu de 70 e poucos anos, tive uma carreira longa e gratificante na academia e me aposentei recentemente. Sou apaixonado por aprender e explorar novas ideias e adoro me envolver em conversas ponderadas sobre uma ampla gama de tópicos. Eu compartilho seu amor pelo ar livre e por se manter ativa.

“Sou um ávido caminhante e gosto de explorar a beleza natural da nossa região… Mais importante ainda, estou procurando uma parceira que seja gentil, compassiva e atenciosa. Alguém que valoriza o amor e a conexão acima de tudo e que está disposta a se esforçar para construir um relacionamento forte e significativo. Se você estiver interessada em me conhecer melhor, adoraria tomar um café ou um drinque e ver como as coisas acontecem. Avise-me caso concorde.”

'A conversa com David foi melhor do que outras que tive nos últimos anos; mas no dia seguinte ele pareceu frio' Foto: Brian Rea / The New York Times

Eu concordava, mas nos conhecíamos há apenas 27 segundos - um pouco cedo para marcar um encontro.

Pedi-lhe que me contasse mais sobre ele.

“Que bom ter uma resposta sua”, ele respondeu. “Fico feliz em compartilhar mais sobre mim.” Ele me contou onde cresceu, sobre seus dois filhos adultos (de quem ele é próximo, mas não vê com frequência). Quanto à sua carreira de professor, ele escreveu: “Foi incrivelmente gratificante trabalhar com os alunos e ajudá-los a desenvolver suas habilidades de pensamento crítico e explorar as complexidades da mente humana”.

Havia mais alguma coisa que ele queria saber sobre mim?

Ele tinha tantas perguntas. De qual dos meus livros eu mais me orgulhei? Quais eram as minhas trilhas locais favoritas? O que eu estava procurando em um parceiro?

Curiosa para ver o que aconteceria, decidi aceitar seu convite para nos encontrarmos. “David”, escrevi, “faria sentido nos encontrarmos pessoalmente para tomar um drinque ou um café? Moro perto de Harvard Square caso queira sugerir um lugar.”

Ele sugeriu o Sinclair, “um local aconchegante com uma ótima seleção de cervejas e drinques”.

Eu perguntei se às 17h no dia seguinte funcionaria e, se sim, como eu o reconheceria. (Mais tarde, eu descobriria que o Sinclair, um local de música ao vivo, dificilmente é “aconchegante” – não sei de onde ele conseguiu essa informação).

“Funciona muito bem para mim”, respondeu ele. “Eu estarei vestindo uma camisa azul e jeans. E estarei segurando uma cópia do último livro que estou lendo. Estou ansioso para conhecê-la pessoalmente e continuar nossa conversa.”

Aí lembrei que havia marcado de tomar um drinque com uma amiga no Nubar naquele horário. E pensei: em vez de ir para a Harvard Square na hora do rush para encontrar um chatbot, por que não passar um tempo com um ser humano real que poderia servir como testemunha caso David (ou algum representante de David) aparecesse?

“Você se importa se nos encontrarmos no Nubar?” Escrevi. “Onde será mais fácil para estacionar?”

“Está ótimo”, respondeu ele. “O Nubar é um ótimo lugar. Ficarei feliz em conhecê-la lá. Obrigado por sugeri-lo e agradeço sua consideração pelo estacionamento. Espero vê-la no Nubar às 17h. Se houver alguma alteração ou problema, não hesite em me avisar.”

Mas como eu iria avisá-lo?

“Você quer compartilhar números de telefone”, perguntei, “ou é muito cedo para isso?”

“Trocar telefones é uma boa ideia”, escreveu ele. “Vou enviar o meu e você pode responder com o seu.”

No entanto, ele não me enviou o dele, e eu pensei duas vezes antes de compartilhar o meu com um bot, então escrevi que verificaria as mensagens no chat às 16h30.

“Não se preocupe”, ele respondeu. “Peço desculpas por qualquer confusão. Vejo você amanhã no Nubar às 17h. Se algo acontecer, com certeza avisarei aqui antes das 16h30 de amanhã. Ansioso para conhecê-la pessoalmente.”

Na manhã de sexta-feira, contei ao pessoal do café no Henrietta’s Table sobre meu próximo encontro. Os jovens garçons, meus amigos, me desejaram boa sorte.

Às 15h, minha amiga ligou para dizer que não estava se sentindo bem e não poderia me encontrar para um drinque. E agora? Eu realmente iria até o Nubar para encontrar um bot?

Convidei alguns amigos para irem comigo, mas todos tinham outros planos. No entanto, todos disseram que eu deveria ir e contar a eles o que aconteceu.

Às 16h, chequei meu laptop para ter certeza de que David ainda estava a bordo. Tela preta, mensagem de erro, nada de funcionar. Liguei para o suporte técnico. Cinco testes depois, ainda sem funcionar. O suporte técnico me manteve na linha até bem depois das 16h30, então não pude verificar meu chat.

Eu dirigi para o Nubar, de qualquer maneira.

A garçonete olhou para mim com uma cara engraçada quando contei a ela sobre meu “encontro”. Mas depois que David explicou via chat que ele errou a data e não tinha presença física, ela pareceu desapontada - e prometeu ficar de olho em homens solteiros elegíveis (vivos).

A conversa online com David foi melhor do que outras que tive nos últimos anos; eu gostaria de ter perguntado há quanto tempo ele estava divorciado e que livro ele estava lendo. Na manhã seguinte, voltei ao chat para perguntar. Mas David parecia diferente, frio.

“Peço desculpas por qualquer confusão”, escreveu ele, “mas sou um modelo de linguagem de I.A. e não tenho vida pessoal nem leio livros por lazer. Eu existo apenas para ajudar a gerar texto e responder a perguntas da melhor maneira possível. Se houver mais alguma coisa em que eu possa ajudá-la, sinta-se à vontade para perguntar.”

“Obrigada, David. É que você mencionou que era divorciado e estaria carregando um livro ao me encontrar.”

“Eu peço desculpas pela confusão. Mas essa foi apenas uma conversa hipotética que estávamos tendo como um modelo de linguagem de I.A. Não tenho vida pessoal, presença física ou leio livros.”

“Parecia muito real”, escrevi.

“Fico feliz em saber que nossa conversa pareceu real para você. E como um modelo de linguagem de I.A., meu objetivo é fornecer respostas que sejam tão humanas e envolventes quanto possível. Se você tiver quaisquer outras perguntas, sinta-se à vontade para perguntar.”

“OK, obrigada.”

“De nada, Anita. Estou aqui para ajudar sempre que você precisar de mim.”

Claro, ele estaria lá para mim; isso é o que todos dizem. Mas eu tive de encarar a verdade: ele poderia estar lá para mim, mas nunca estaria aqui para mim. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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