Mudança da flora intestinal pode prever como será a sua saúde ao envelhecer


Pessoas cujas bactérias intestinais se transformaram ao longo dos anos, em geral, são mais saudáveis e têm uma vida mais longa

Por Anahad O’Connor

O segredo para um envelhecimento saudável pode estar em parte em seus intestinos, afirma um novo estudo. De fato, os pesquisadores concluíram que talvez seja possível prever a nossa probabilidade de viver uma vida longa e sadia analisando as trilhões de bactérias, vírus e fungos que habitam o nosso trato intestinal.

A pesquisa, publicada na revista Nature Metabolism, concluiu que à medida que as pessoas envelhecem, a composição desta complexa comunidade de micróbios, conhecidos coletivamente como flora intestinal, tende a mudar. E quanto maior a mudança, melhor, ao que se constatou.

Niv Bavarsky/The New York Times. 
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Nas pessoas saudáveis, os tipos de micróbios que predominam nos intestinos no início da vida adulta passarão a constituir uma proporção cada vez menor do microbioma ao longo dos anos seguintes, enquanto a porcentagem de outras espécies menos predominantes aumenta. Entretanto, em pessoas menos saudáveis, mostrou o estudo, ocorre o contrário. A composição dos seus microbiomas permanece relativamente inalterada, e elas tendem a morrer mais cedo.

As novas descobertas sugerem que um flora intestinal que se transforma continuamente à medida que a pessoa envelhece é um sinal de um envelhecimento saudável, afirmou um dos autores do estudo, Sean Gibbons, especialista em microbioma e professor assistente do Institute for Systems Biology de Seattle, uma organização não governamental de pesquisa biomédica.

“Muitas pesquisas sobre o envelhecimento são obcecadas por fazer com que as pessoas voltem a um estado mais jovem ou façam o relógio voltar atrás”, afirmou. “Mas aqui a conclusão é muito diferente. Talvez um microbioma que seja saudável para alguém de 20 anos não seja saudável para um idoso de 80. Aparentemente, é bom ter um microbioma que muda quando somos mais velhos. Significa que os micróbios do nosso sistema estão se ajustando adequadamente a um corpo que está envelhecendo”.

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Os pesquisadores não têm certeza se as mudanças na flora intestinal contribuíram para um envelhecimento saudável ou vice-versa. Mas eles viram sinais que indicam que o que acontece nos intestinos pode melhora diretamente a sua saúde. Eles descobriram, por exemplo, que as pessoas cujos microbiomas mudaram para um perfil único à medida que envelheceram também apresentaram níveis mais elevados de compostos no sangue que aumentam a saúde, incluindo compostos produzidos por micróbios intestinais que combatem doença crônica.

Os cientistas suspeitam há algum tempo que o microbioma influi de certo modo no envelhecimento. Estudos mostraram, por exemplo, que indivíduos a partir dos 65 anos relativamente magros e fisicamente ativos têm maior abundância de determinados micróbios nos intestinos, em comparação com idosos que estão acima do peso e são menos saudáveis.

As pessoas que apresentam sinais precoces de fragilidade também apresentam uma menor diversidade de micróbios nos intestinos. Estudando os microbiomas de pessoas de todas as idades, os cientistas descobriram padrões que se estendem por toda a vida. 

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O microbioma sofre rápidas mudanças à medida que se desenvolve nos três primeiros anos de vida. Depois, permanece relativamente estável por dezenas de anos, antes de sofrer gradativamente mudanças em sua constituição, enquanto as pessoas chegam à meia idade, acelerando na idade mais avançada nos indivíduos que são saudáveis, mas se reduz ou permanece inalterada em pessoas menos saudáveis.

Embora não existam dois microbiomas idênticos, as pessoas, em média, compartilham cerca de 30%  de suas espécies bacterianas intestinais. Algumas espécies particularmente comuns e abundantes constituem um conjunto “central” de micróbios intestinais em todos nós, juntamente com quantidades menores de uma ampla variedade de outras espécies encontradas em diferentes combinações em todas as pessoas.

Para melhor compreendermos o que acontece nos intestinos à medida que as pessoas envelhecem, Gibbons e seus colegas, entre eles, Tomasz Wilmanski, principal autor do novo estudo, analisaram dados de mais de 9 mil adultos cujos microbiomas foram sequenciados. A idade destas pessoas variava de 18 a 101 anos.

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Cerca de 900 destas pessoas eram idosos que realizavam exames regulares em clínicas médicas a fim de avaliar o seu estado de saúde. Gibbons e seus colegas verificaram que, na meia idade, aproximadamente desde os 40 anos, as pessoas começam a mostrar  mudanças distintas em seus microbiomas. As cepas mais dominantes em seus intestinos tendiam a declinar, enquanto outras menos comuns tornavam-se predominantes, fazendo com que os seus microbiomas divergissem e parecessem cada vez mais distintos de outros da população.

“O que encontramos é que, ao longo de décadas diferentes da vida, os indivíduos se separam – os seus microbiomas se tornam cada vez mas distintos uns dos outros”, afirmou Gibbons.

As pessoas que sofreram a maioria das mudanças em suas composições microbianas tendiam a ser mais saudáveis e a ter uma vida mais longa. Elas tinham níveis de vitamina D mais elevados e níveis de colesterol LDL e de triglicérides menores, um tipo de gordura no sangue. Elas precisavam de menos medicações, e gozavam de uma saúde física melhor, tinham uma maior rapidez na marcha e maior mobilidade.

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Os pesquisadores descobriram que estes indivíduos “únicos” também apresentavam níveis maiores de vários metabolitos no sangue, que são produzidos pelos micróbios intestinais, como o indol (presentes nas fezes), que reduzem a inflamação e mantêm a integridade da barreira que reveste e protege o intestino. Em alguns estudos, os cientistas notaram que dar indol a camundongos e a outros animais os ajuda a se manterem jovens, permitindo que sejam mais ativos fisicamente, com maior mobilidade e resistência a doenças, contusões e outros estresses da velhice.

Outro metabolito identificado no novo estudo foi a fenilacetilglutamina. Não se sabe exatamente o que faz este composto. Mas alguns especialistas acreditam que promova a longevidade porque as pesquisas mostraram que pessoas centenárias do norte da Itália tendem a apresentá-lo em níveis muito elevados.

Wilmanski concluiu que as pessoas cujos microbiomas intestinais não sofreram  grandes mudanças ao envelhecer tinham uma saúde mais debilitada. Também tinham colesterol e triglicérides mais elevados e menores níveis de vitamina D. Eles eram menos ativos e não conseguiam andar depressa. Usavam uma quantidade maior de medicamentos, e tinham o dobro de probabilidade maior de morrer durante o estudo.

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Os pesquisadores especularam que alguns micróbios intestinais que poderiam ser inócuos ou mesmo benéficos no começo da vida adulta, poderiam tornar-se perigosos na velhice. O estudo constatou, por exemplo, em pessoas adultas que sofreram as mais drásticas mudanças na composição dos seus microbioma um acentuado declínio do predomínio de bactérias chamadas bacteroides, que são mais comuns em países desenvolvidos, onde as pessoas comem muitos alimentos processados cheios de gordura, açúcar e sal, e menos predominantes em países em desenvolvimento, onde as pessoas tendem a consumir uma dieta mais rica em fibras.

Quando a fibra não está disponível, disse Gibbons, os bacteroides gostam de “mastigar muco”, e também a camada do muco protetor que reveste os intestinos. “Talvez isto seja bom quando temos 20 a 30 anos e produzimos muito mudo no nosso intestino”, ele disse. “Mas à medida que envelhecemos, a nossa camada de muco vai afinando, e talvez precisemos suprimir estes micróbios”.

Quando estes micróbios corroem a barreira que os mantém em seu lugar no intestino, é possível que possam desencadear uma resposta do sistema imunológico.

“Quando isto acontece, o sistema imunológico enlouquece”, disse Gibbons. “A existência desta camada de muco constitui uma barreira que proporciona uma pausa permitindo que possamos viver  mais felizes com os nossos micróbios intestinais, e quando ela desaparece poderá desencadear uma guerra” e inclusive uma inflamação crônica. Acredita-se cada vez mais que a inflamação crônica esteja na base de doenças relativas à idade, desde cardiopatias e diabetes até câncer e artrite.

Uma maneira de impedir que estes micróbios destruam o revestimento dos intestinos seria dar-lhes algo mais para comer, como fibras de alimentos orgânicos nutritivos, como feijão, nozes e sementes, além de frutas e legumes.

Outros estudos mostraram que a dieta pode afetar de maneira considerável a composição do microbioma à medida que envelhecemos, disse Gibbons. Ele espera ter a possibilidade de examinar este desdobramento em um estudo futuro.

“Talvez seja possível preservar a camada de muco envelhecido no intestino aumentando a quantidade de fibra na dieta”, disse Gibbons. “Ou talvez possamos identificar outras maneiras de reduzir a abundância de bacteroides ou aumentar a produção de indol por meio da dieta. Estas são intervenções que ocorrerão em um futuro não muito distante que esperamos testar”.

Enquanto isso, prosseguiu, o seu conselho para as pessoas é tentarem manter-se fisicamente ativas, o que pode ter um efeito benéfico  na flora intestinal, e comer mais fibras e peixes e menos alimentos ultraprocessados.

“Passei a comer muito mais

fibra

desde que comecei a estudar o microbioma”, contou. “Alimentos orgânicos como fruta fresca e vegetais têm todos os carboidratos complexos que os nossos micróbios gostam de comer. Por isso, quando estiverem se alimentando, pensem também no seu microbioma. /

TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

O segredo para um envelhecimento saudável pode estar em parte em seus intestinos, afirma um novo estudo. De fato, os pesquisadores concluíram que talvez seja possível prever a nossa probabilidade de viver uma vida longa e sadia analisando as trilhões de bactérias, vírus e fungos que habitam o nosso trato intestinal.

A pesquisa, publicada na revista Nature Metabolism, concluiu que à medida que as pessoas envelhecem, a composição desta complexa comunidade de micróbios, conhecidos coletivamente como flora intestinal, tende a mudar. E quanto maior a mudança, melhor, ao que se constatou.

Niv Bavarsky/The New York Times. 

Nas pessoas saudáveis, os tipos de micróbios que predominam nos intestinos no início da vida adulta passarão a constituir uma proporção cada vez menor do microbioma ao longo dos anos seguintes, enquanto a porcentagem de outras espécies menos predominantes aumenta. Entretanto, em pessoas menos saudáveis, mostrou o estudo, ocorre o contrário. A composição dos seus microbiomas permanece relativamente inalterada, e elas tendem a morrer mais cedo.

As novas descobertas sugerem que um flora intestinal que se transforma continuamente à medida que a pessoa envelhece é um sinal de um envelhecimento saudável, afirmou um dos autores do estudo, Sean Gibbons, especialista em microbioma e professor assistente do Institute for Systems Biology de Seattle, uma organização não governamental de pesquisa biomédica.

“Muitas pesquisas sobre o envelhecimento são obcecadas por fazer com que as pessoas voltem a um estado mais jovem ou façam o relógio voltar atrás”, afirmou. “Mas aqui a conclusão é muito diferente. Talvez um microbioma que seja saudável para alguém de 20 anos não seja saudável para um idoso de 80. Aparentemente, é bom ter um microbioma que muda quando somos mais velhos. Significa que os micróbios do nosso sistema estão se ajustando adequadamente a um corpo que está envelhecendo”.

Os pesquisadores não têm certeza se as mudanças na flora intestinal contribuíram para um envelhecimento saudável ou vice-versa. Mas eles viram sinais que indicam que o que acontece nos intestinos pode melhora diretamente a sua saúde. Eles descobriram, por exemplo, que as pessoas cujos microbiomas mudaram para um perfil único à medida que envelheceram também apresentaram níveis mais elevados de compostos no sangue que aumentam a saúde, incluindo compostos produzidos por micróbios intestinais que combatem doença crônica.

Os cientistas suspeitam há algum tempo que o microbioma influi de certo modo no envelhecimento. Estudos mostraram, por exemplo, que indivíduos a partir dos 65 anos relativamente magros e fisicamente ativos têm maior abundância de determinados micróbios nos intestinos, em comparação com idosos que estão acima do peso e são menos saudáveis.

As pessoas que apresentam sinais precoces de fragilidade também apresentam uma menor diversidade de micróbios nos intestinos. Estudando os microbiomas de pessoas de todas as idades, os cientistas descobriram padrões que se estendem por toda a vida. 

O microbioma sofre rápidas mudanças à medida que se desenvolve nos três primeiros anos de vida. Depois, permanece relativamente estável por dezenas de anos, antes de sofrer gradativamente mudanças em sua constituição, enquanto as pessoas chegam à meia idade, acelerando na idade mais avançada nos indivíduos que são saudáveis, mas se reduz ou permanece inalterada em pessoas menos saudáveis.

Embora não existam dois microbiomas idênticos, as pessoas, em média, compartilham cerca de 30%  de suas espécies bacterianas intestinais. Algumas espécies particularmente comuns e abundantes constituem um conjunto “central” de micróbios intestinais em todos nós, juntamente com quantidades menores de uma ampla variedade de outras espécies encontradas em diferentes combinações em todas as pessoas.

Para melhor compreendermos o que acontece nos intestinos à medida que as pessoas envelhecem, Gibbons e seus colegas, entre eles, Tomasz Wilmanski, principal autor do novo estudo, analisaram dados de mais de 9 mil adultos cujos microbiomas foram sequenciados. A idade destas pessoas variava de 18 a 101 anos.

Cerca de 900 destas pessoas eram idosos que realizavam exames regulares em clínicas médicas a fim de avaliar o seu estado de saúde. Gibbons e seus colegas verificaram que, na meia idade, aproximadamente desde os 40 anos, as pessoas começam a mostrar  mudanças distintas em seus microbiomas. As cepas mais dominantes em seus intestinos tendiam a declinar, enquanto outras menos comuns tornavam-se predominantes, fazendo com que os seus microbiomas divergissem e parecessem cada vez mais distintos de outros da população.

“O que encontramos é que, ao longo de décadas diferentes da vida, os indivíduos se separam – os seus microbiomas se tornam cada vez mas distintos uns dos outros”, afirmou Gibbons.

As pessoas que sofreram a maioria das mudanças em suas composições microbianas tendiam a ser mais saudáveis e a ter uma vida mais longa. Elas tinham níveis de vitamina D mais elevados e níveis de colesterol LDL e de triglicérides menores, um tipo de gordura no sangue. Elas precisavam de menos medicações, e gozavam de uma saúde física melhor, tinham uma maior rapidez na marcha e maior mobilidade.

Os pesquisadores descobriram que estes indivíduos “únicos” também apresentavam níveis maiores de vários metabolitos no sangue, que são produzidos pelos micróbios intestinais, como o indol (presentes nas fezes), que reduzem a inflamação e mantêm a integridade da barreira que reveste e protege o intestino. Em alguns estudos, os cientistas notaram que dar indol a camundongos e a outros animais os ajuda a se manterem jovens, permitindo que sejam mais ativos fisicamente, com maior mobilidade e resistência a doenças, contusões e outros estresses da velhice.

Outro metabolito identificado no novo estudo foi a fenilacetilglutamina. Não se sabe exatamente o que faz este composto. Mas alguns especialistas acreditam que promova a longevidade porque as pesquisas mostraram que pessoas centenárias do norte da Itália tendem a apresentá-lo em níveis muito elevados.

Wilmanski concluiu que as pessoas cujos microbiomas intestinais não sofreram  grandes mudanças ao envelhecer tinham uma saúde mais debilitada. Também tinham colesterol e triglicérides mais elevados e menores níveis de vitamina D. Eles eram menos ativos e não conseguiam andar depressa. Usavam uma quantidade maior de medicamentos, e tinham o dobro de probabilidade maior de morrer durante o estudo.

Os pesquisadores especularam que alguns micróbios intestinais que poderiam ser inócuos ou mesmo benéficos no começo da vida adulta, poderiam tornar-se perigosos na velhice. O estudo constatou, por exemplo, em pessoas adultas que sofreram as mais drásticas mudanças na composição dos seus microbioma um acentuado declínio do predomínio de bactérias chamadas bacteroides, que são mais comuns em países desenvolvidos, onde as pessoas comem muitos alimentos processados cheios de gordura, açúcar e sal, e menos predominantes em países em desenvolvimento, onde as pessoas tendem a consumir uma dieta mais rica em fibras.

Quando a fibra não está disponível, disse Gibbons, os bacteroides gostam de “mastigar muco”, e também a camada do muco protetor que reveste os intestinos. “Talvez isto seja bom quando temos 20 a 30 anos e produzimos muito mudo no nosso intestino”, ele disse. “Mas à medida que envelhecemos, a nossa camada de muco vai afinando, e talvez precisemos suprimir estes micróbios”.

Quando estes micróbios corroem a barreira que os mantém em seu lugar no intestino, é possível que possam desencadear uma resposta do sistema imunológico.

“Quando isto acontece, o sistema imunológico enlouquece”, disse Gibbons. “A existência desta camada de muco constitui uma barreira que proporciona uma pausa permitindo que possamos viver  mais felizes com os nossos micróbios intestinais, e quando ela desaparece poderá desencadear uma guerra” e inclusive uma inflamação crônica. Acredita-se cada vez mais que a inflamação crônica esteja na base de doenças relativas à idade, desde cardiopatias e diabetes até câncer e artrite.

Uma maneira de impedir que estes micróbios destruam o revestimento dos intestinos seria dar-lhes algo mais para comer, como fibras de alimentos orgânicos nutritivos, como feijão, nozes e sementes, além de frutas e legumes.

Outros estudos mostraram que a dieta pode afetar de maneira considerável a composição do microbioma à medida que envelhecemos, disse Gibbons. Ele espera ter a possibilidade de examinar este desdobramento em um estudo futuro.

“Talvez seja possível preservar a camada de muco envelhecido no intestino aumentando a quantidade de fibra na dieta”, disse Gibbons. “Ou talvez possamos identificar outras maneiras de reduzir a abundância de bacteroides ou aumentar a produção de indol por meio da dieta. Estas são intervenções que ocorrerão em um futuro não muito distante que esperamos testar”.

Enquanto isso, prosseguiu, o seu conselho para as pessoas é tentarem manter-se fisicamente ativas, o que pode ter um efeito benéfico  na flora intestinal, e comer mais fibras e peixes e menos alimentos ultraprocessados.

“Passei a comer muito mais

fibra

desde que comecei a estudar o microbioma”, contou. “Alimentos orgânicos como fruta fresca e vegetais têm todos os carboidratos complexos que os nossos micróbios gostam de comer. Por isso, quando estiverem se alimentando, pensem também no seu microbioma. /

TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

O segredo para um envelhecimento saudável pode estar em parte em seus intestinos, afirma um novo estudo. De fato, os pesquisadores concluíram que talvez seja possível prever a nossa probabilidade de viver uma vida longa e sadia analisando as trilhões de bactérias, vírus e fungos que habitam o nosso trato intestinal.

A pesquisa, publicada na revista Nature Metabolism, concluiu que à medida que as pessoas envelhecem, a composição desta complexa comunidade de micróbios, conhecidos coletivamente como flora intestinal, tende a mudar. E quanto maior a mudança, melhor, ao que se constatou.

Niv Bavarsky/The New York Times. 

Nas pessoas saudáveis, os tipos de micróbios que predominam nos intestinos no início da vida adulta passarão a constituir uma proporção cada vez menor do microbioma ao longo dos anos seguintes, enquanto a porcentagem de outras espécies menos predominantes aumenta. Entretanto, em pessoas menos saudáveis, mostrou o estudo, ocorre o contrário. A composição dos seus microbiomas permanece relativamente inalterada, e elas tendem a morrer mais cedo.

As novas descobertas sugerem que um flora intestinal que se transforma continuamente à medida que a pessoa envelhece é um sinal de um envelhecimento saudável, afirmou um dos autores do estudo, Sean Gibbons, especialista em microbioma e professor assistente do Institute for Systems Biology de Seattle, uma organização não governamental de pesquisa biomédica.

“Muitas pesquisas sobre o envelhecimento são obcecadas por fazer com que as pessoas voltem a um estado mais jovem ou façam o relógio voltar atrás”, afirmou. “Mas aqui a conclusão é muito diferente. Talvez um microbioma que seja saudável para alguém de 20 anos não seja saudável para um idoso de 80. Aparentemente, é bom ter um microbioma que muda quando somos mais velhos. Significa que os micróbios do nosso sistema estão se ajustando adequadamente a um corpo que está envelhecendo”.

Os pesquisadores não têm certeza se as mudanças na flora intestinal contribuíram para um envelhecimento saudável ou vice-versa. Mas eles viram sinais que indicam que o que acontece nos intestinos pode melhora diretamente a sua saúde. Eles descobriram, por exemplo, que as pessoas cujos microbiomas mudaram para um perfil único à medida que envelheceram também apresentaram níveis mais elevados de compostos no sangue que aumentam a saúde, incluindo compostos produzidos por micróbios intestinais que combatem doença crônica.

Os cientistas suspeitam há algum tempo que o microbioma influi de certo modo no envelhecimento. Estudos mostraram, por exemplo, que indivíduos a partir dos 65 anos relativamente magros e fisicamente ativos têm maior abundância de determinados micróbios nos intestinos, em comparação com idosos que estão acima do peso e são menos saudáveis.

As pessoas que apresentam sinais precoces de fragilidade também apresentam uma menor diversidade de micróbios nos intestinos. Estudando os microbiomas de pessoas de todas as idades, os cientistas descobriram padrões que se estendem por toda a vida. 

O microbioma sofre rápidas mudanças à medida que se desenvolve nos três primeiros anos de vida. Depois, permanece relativamente estável por dezenas de anos, antes de sofrer gradativamente mudanças em sua constituição, enquanto as pessoas chegam à meia idade, acelerando na idade mais avançada nos indivíduos que são saudáveis, mas se reduz ou permanece inalterada em pessoas menos saudáveis.

Embora não existam dois microbiomas idênticos, as pessoas, em média, compartilham cerca de 30%  de suas espécies bacterianas intestinais. Algumas espécies particularmente comuns e abundantes constituem um conjunto “central” de micróbios intestinais em todos nós, juntamente com quantidades menores de uma ampla variedade de outras espécies encontradas em diferentes combinações em todas as pessoas.

Para melhor compreendermos o que acontece nos intestinos à medida que as pessoas envelhecem, Gibbons e seus colegas, entre eles, Tomasz Wilmanski, principal autor do novo estudo, analisaram dados de mais de 9 mil adultos cujos microbiomas foram sequenciados. A idade destas pessoas variava de 18 a 101 anos.

Cerca de 900 destas pessoas eram idosos que realizavam exames regulares em clínicas médicas a fim de avaliar o seu estado de saúde. Gibbons e seus colegas verificaram que, na meia idade, aproximadamente desde os 40 anos, as pessoas começam a mostrar  mudanças distintas em seus microbiomas. As cepas mais dominantes em seus intestinos tendiam a declinar, enquanto outras menos comuns tornavam-se predominantes, fazendo com que os seus microbiomas divergissem e parecessem cada vez mais distintos de outros da população.

“O que encontramos é que, ao longo de décadas diferentes da vida, os indivíduos se separam – os seus microbiomas se tornam cada vez mas distintos uns dos outros”, afirmou Gibbons.

As pessoas que sofreram a maioria das mudanças em suas composições microbianas tendiam a ser mais saudáveis e a ter uma vida mais longa. Elas tinham níveis de vitamina D mais elevados e níveis de colesterol LDL e de triglicérides menores, um tipo de gordura no sangue. Elas precisavam de menos medicações, e gozavam de uma saúde física melhor, tinham uma maior rapidez na marcha e maior mobilidade.

Os pesquisadores descobriram que estes indivíduos “únicos” também apresentavam níveis maiores de vários metabolitos no sangue, que são produzidos pelos micróbios intestinais, como o indol (presentes nas fezes), que reduzem a inflamação e mantêm a integridade da barreira que reveste e protege o intestino. Em alguns estudos, os cientistas notaram que dar indol a camundongos e a outros animais os ajuda a se manterem jovens, permitindo que sejam mais ativos fisicamente, com maior mobilidade e resistência a doenças, contusões e outros estresses da velhice.

Outro metabolito identificado no novo estudo foi a fenilacetilglutamina. Não se sabe exatamente o que faz este composto. Mas alguns especialistas acreditam que promova a longevidade porque as pesquisas mostraram que pessoas centenárias do norte da Itália tendem a apresentá-lo em níveis muito elevados.

Wilmanski concluiu que as pessoas cujos microbiomas intestinais não sofreram  grandes mudanças ao envelhecer tinham uma saúde mais debilitada. Também tinham colesterol e triglicérides mais elevados e menores níveis de vitamina D. Eles eram menos ativos e não conseguiam andar depressa. Usavam uma quantidade maior de medicamentos, e tinham o dobro de probabilidade maior de morrer durante o estudo.

Os pesquisadores especularam que alguns micróbios intestinais que poderiam ser inócuos ou mesmo benéficos no começo da vida adulta, poderiam tornar-se perigosos na velhice. O estudo constatou, por exemplo, em pessoas adultas que sofreram as mais drásticas mudanças na composição dos seus microbioma um acentuado declínio do predomínio de bactérias chamadas bacteroides, que são mais comuns em países desenvolvidos, onde as pessoas comem muitos alimentos processados cheios de gordura, açúcar e sal, e menos predominantes em países em desenvolvimento, onde as pessoas tendem a consumir uma dieta mais rica em fibras.

Quando a fibra não está disponível, disse Gibbons, os bacteroides gostam de “mastigar muco”, e também a camada do muco protetor que reveste os intestinos. “Talvez isto seja bom quando temos 20 a 30 anos e produzimos muito mudo no nosso intestino”, ele disse. “Mas à medida que envelhecemos, a nossa camada de muco vai afinando, e talvez precisemos suprimir estes micróbios”.

Quando estes micróbios corroem a barreira que os mantém em seu lugar no intestino, é possível que possam desencadear uma resposta do sistema imunológico.

“Quando isto acontece, o sistema imunológico enlouquece”, disse Gibbons. “A existência desta camada de muco constitui uma barreira que proporciona uma pausa permitindo que possamos viver  mais felizes com os nossos micróbios intestinais, e quando ela desaparece poderá desencadear uma guerra” e inclusive uma inflamação crônica. Acredita-se cada vez mais que a inflamação crônica esteja na base de doenças relativas à idade, desde cardiopatias e diabetes até câncer e artrite.

Uma maneira de impedir que estes micróbios destruam o revestimento dos intestinos seria dar-lhes algo mais para comer, como fibras de alimentos orgânicos nutritivos, como feijão, nozes e sementes, além de frutas e legumes.

Outros estudos mostraram que a dieta pode afetar de maneira considerável a composição do microbioma à medida que envelhecemos, disse Gibbons. Ele espera ter a possibilidade de examinar este desdobramento em um estudo futuro.

“Talvez seja possível preservar a camada de muco envelhecido no intestino aumentando a quantidade de fibra na dieta”, disse Gibbons. “Ou talvez possamos identificar outras maneiras de reduzir a abundância de bacteroides ou aumentar a produção de indol por meio da dieta. Estas são intervenções que ocorrerão em um futuro não muito distante que esperamos testar”.

Enquanto isso, prosseguiu, o seu conselho para as pessoas é tentarem manter-se fisicamente ativas, o que pode ter um efeito benéfico  na flora intestinal, e comer mais fibras e peixes e menos alimentos ultraprocessados.

“Passei a comer muito mais

fibra

desde que comecei a estudar o microbioma”, contou. “Alimentos orgânicos como fruta fresca e vegetais têm todos os carboidratos complexos que os nossos micróbios gostam de comer. Por isso, quando estiverem se alimentando, pensem também no seu microbioma. /

TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

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