Músicos estão transformando a expectativa da música indígena nos Estados Unidos


Artistas descendentes de povos originários fazem música instrumental fugindo - mas nem tanto - dos tambores

Por Grayson Haver Currin
Atualização:

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Raven Chacon - compositor, improvisador e artista visual diné nascido na fronteira da Nação Navajo - não tinha certeza se deveria aceitar o pedido que logo lhe renderia o Prêmio Pulitzer de música. Um conjunto de Milwaukee, no Wisconsin, havia lhe pedido que escrevesse uma peça para seu concerto anual de Ação de Graças em 2021, a ser promovido em uma catedral de 175 anos no centro da cidade. A ideia cheirava a clichê, um verniz das festas de fim de ano. “Minha primeira reação é recusar qualquer convite relacionado ao Dia de Ação de Graças, não porque eu seja anti-Ação de Graças, mas porque é o único momento em que somos convidados para fazer coisas”, disse Chacon, de 44 anos, em uma recente entrevista por telefone.

Mas aos poucos reconsiderou a encomenda, reconhecendo que uma apresentação em uma catedral (com um enorme órgão de tubos) seria uma oportunidade rara de abordar o papel violento da Igreja Católica na conquista dos nativos americanos. Escreveu Voiceless Mass (Massa sem voz), e, na estreia, posicionou violinos, flautas e percussão ao redor da plateia. “Quando você sabe que o compositor é nativo, há muitas suposições”, afirmou Chacon, contando as vezes em que até os fãs declararam ouvir o deserto em sua música. “Mas estou interessado no que é importante para a comunidade que represento - terra, justiça, injustiça. Para mim, é importante fazer um trabalho que seja desafiador, difícil de digerir.”

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Quando “Voiceless Mass” ganhou o Pulitzer em maio, Chacon se tornou o primeiro nativo americano a receber o prêmio. Essa honra faz parte de uma recente onda de representação e reconhecimento de artistas indígenas na literatura, na culinária e na TV por streaming. “Nossos melhores artistas são realmente bons, e as pessoas estão percebendo isso, o que significa que nem sempre começamos do zero”, observou Paul Chaat Smith, curador do Museu Nacional do Índio Americano, em entrevista.

Mas Chacon também é o primeiro compositor de harsh noise a ganhar o Pulitzer, ascensão improvável para alguém que começou a fazer música na Nação Navajo, transformando tambores em câmaras de eco amplificadas antes de se tornar figurinha carimbada em espaços experimentais em Los Angeles. Na verdade, ele é apenas um de inúmeros artistas indígenas que atingem um público mais amplo ao trabalhar à margem da música moderna. A arte sonora imersiva de Suzanne Kite, os instrumentos metálicos de Warren Realrider, os solos de violino espinhosos de Laura Ortman - esses músicos e muitos de seus pares estão rapidamente transformando a ideia do que significa o som nativo.

'Voiceless Mass' de Raven Chacon ganhou o Pulitzer em maio. 'Se você ouvir que há um compositor nativo, muitas suposições acontecem', disse. Foto: Camilo Fuentealba/The New York Times
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Em sua infância em Tahlequah, Oklahoma, capital da Nação Cherokee, Nathan Young, outro músico prolífico, percebeu que a história da música nativa americana era mais profunda do que os encantamentos em uma pow-wow. Seu pai, membro da Tribo Delaware, vendia fitas raras de cerimônias de peiote da Igreja Nativa Americana, contendo melodias hipnóticas de cantores como Joe Rush. “Pensei nos sons que nossos ancestrais faziam, coisas que nunca poderíamos imaginar, como se talvez não considerássemos o que poderia ser ‘música nativa’”, disse Young, de 46 anos, de sua casa em Tulsa, Oklahoma, pensando no que havia se perdido através de séculos de genocídio.

Durante a faculdade, uma fita VHS do ícone eletrônico japonês Merzbow ampliou a percepção de Young do que é considerado música, bem como uma gravação caseira que artistas maori da Nova Zelândia tocavam enquanto uma tradicional tatuagem Ta moko era feita: “Eles esfregavam uma pedra na outra, fazendo essa ‘música ambiente primitiva’. Ouvir outros indígenas produzindo esses sons me fez perceber que eu não era o único que pensava assim, interessado nesse tipo de barulho.”

De volta a Oklahoma, Young se juntou ao Postcommodity, influente coletivo indígena do qual Chacon fazia parte. Logo, estava dirigindo a gravadora Peyote Tapes e gravando dezenas de álbuns da dupla Ajilvsga, que usa muitas distorções.

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Enquanto Young batalhava contra o preconceito de que toda a música nativa americana precisava incluir cânticos e tambores de pow-wows, Joe Rainey se inclinou para o typecasting. Criado perto de Little Earth, complexo habitacional de Minneapolis, em Minnesota, que há décadas abriga membros de dezenas de tribos, Rainey começou a gravar pow-wows quando tinha oito anos. Usando um gravador portátil, acumulou cerca de 500 horas de apresentações.

Durante mais de 20 anos, Rainey, que trabalha como instalador de aquecimento, ventilação e ar-condicionado, também foi cantor de pow-wow, participando de concursos que às vezes ofereciam prêmios de US$ 10 mil. O pouco entendimento das pow-wows modernas como espaços sagrados intrigava o cantor ojibwe. “Para você, podemos estar conjurando energias”, brincou Rainey, de 35 anos, pai de cinco filhos, em entrevista de sua casa em Oneida, no Wisconsin. “Mas nos apresentamos para nos divertirmos, para cantar e dançar.”

Até meados de 2020, Rainey havia sido, durante um ano, parceiro de um produtor veterano de Minneapolis, Andrew Broder, tentando em vão encontrar um contexto moderno adequado para sua música. Quando Broder participou de uma pow-wow em Little Earth, entendeu que estava compreendendo mal o material. “O som lembrava o de um carro que passa tocando música alta pela cidade. Essas vozes e a percussão ecoando pelos conjuntos habitacionais tinham uma qualidade semelhante. Era para lá que eu queria ir, onde o som estava”, contou Broder por telefone.

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Broder e Rainey começaram a trabalhar em torno de um axioma de “caos organizado”, usando as produções abrasivas do Public Enemy e a franqueza narrativa de Nas. O resultado, Niineta - que foi lançado em maio e cujo título em ojibwe significa “apenas eu” -, adiciona camadas de canções e tambores de pow-wow de força industrial e rajadas de estática, sugerindo uma representação musical radical do que Rainey muitas vezes chama de “índio urbano”. Samples do primo de Rainey, que está preso, e de amigos mortos garantem um toque de solenidade e dor. “Este álbum me ajudou a ter certeza de que eu estava mentalmente bem e me deu força para continuar”, afirmou Rainey.

People You Must Look at Me, uma das primeiras performances de Kite, ajudou-a a processar a perda da mãe, que se suicidou, e a abraçar sua identidade como artista indígena cujos ancestrais escaparam a pé de Wounded Knee. Seu trabalho agora incorpora meia dúzia de outras disciplinas, incluindo inteligência artificial - todas as formas de aprender com o passado dos indígenas americanos, a fim de reimaginar seu futuro: “Não estou muito interessada na música artística ocidental. Há muito que aprender com membros da comunidade que não têm um diploma. Vejo isso como o caminho para gerar coisas novas.”

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The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Raven Chacon - compositor, improvisador e artista visual diné nascido na fronteira da Nação Navajo - não tinha certeza se deveria aceitar o pedido que logo lhe renderia o Prêmio Pulitzer de música. Um conjunto de Milwaukee, no Wisconsin, havia lhe pedido que escrevesse uma peça para seu concerto anual de Ação de Graças em 2021, a ser promovido em uma catedral de 175 anos no centro da cidade. A ideia cheirava a clichê, um verniz das festas de fim de ano. “Minha primeira reação é recusar qualquer convite relacionado ao Dia de Ação de Graças, não porque eu seja anti-Ação de Graças, mas porque é o único momento em que somos convidados para fazer coisas”, disse Chacon, de 44 anos, em uma recente entrevista por telefone.

Mas aos poucos reconsiderou a encomenda, reconhecendo que uma apresentação em uma catedral (com um enorme órgão de tubos) seria uma oportunidade rara de abordar o papel violento da Igreja Católica na conquista dos nativos americanos. Escreveu Voiceless Mass (Massa sem voz), e, na estreia, posicionou violinos, flautas e percussão ao redor da plateia. “Quando você sabe que o compositor é nativo, há muitas suposições”, afirmou Chacon, contando as vezes em que até os fãs declararam ouvir o deserto em sua música. “Mas estou interessado no que é importante para a comunidade que represento - terra, justiça, injustiça. Para mim, é importante fazer um trabalho que seja desafiador, difícil de digerir.”

Quando “Voiceless Mass” ganhou o Pulitzer em maio, Chacon se tornou o primeiro nativo americano a receber o prêmio. Essa honra faz parte de uma recente onda de representação e reconhecimento de artistas indígenas na literatura, na culinária e na TV por streaming. “Nossos melhores artistas são realmente bons, e as pessoas estão percebendo isso, o que significa que nem sempre começamos do zero”, observou Paul Chaat Smith, curador do Museu Nacional do Índio Americano, em entrevista.

Mas Chacon também é o primeiro compositor de harsh noise a ganhar o Pulitzer, ascensão improvável para alguém que começou a fazer música na Nação Navajo, transformando tambores em câmaras de eco amplificadas antes de se tornar figurinha carimbada em espaços experimentais em Los Angeles. Na verdade, ele é apenas um de inúmeros artistas indígenas que atingem um público mais amplo ao trabalhar à margem da música moderna. A arte sonora imersiva de Suzanne Kite, os instrumentos metálicos de Warren Realrider, os solos de violino espinhosos de Laura Ortman - esses músicos e muitos de seus pares estão rapidamente transformando a ideia do que significa o som nativo.

'Voiceless Mass' de Raven Chacon ganhou o Pulitzer em maio. 'Se você ouvir que há um compositor nativo, muitas suposições acontecem', disse. Foto: Camilo Fuentealba/The New York Times

Em sua infância em Tahlequah, Oklahoma, capital da Nação Cherokee, Nathan Young, outro músico prolífico, percebeu que a história da música nativa americana era mais profunda do que os encantamentos em uma pow-wow. Seu pai, membro da Tribo Delaware, vendia fitas raras de cerimônias de peiote da Igreja Nativa Americana, contendo melodias hipnóticas de cantores como Joe Rush. “Pensei nos sons que nossos ancestrais faziam, coisas que nunca poderíamos imaginar, como se talvez não considerássemos o que poderia ser ‘música nativa’”, disse Young, de 46 anos, de sua casa em Tulsa, Oklahoma, pensando no que havia se perdido através de séculos de genocídio.

Durante a faculdade, uma fita VHS do ícone eletrônico japonês Merzbow ampliou a percepção de Young do que é considerado música, bem como uma gravação caseira que artistas maori da Nova Zelândia tocavam enquanto uma tradicional tatuagem Ta moko era feita: “Eles esfregavam uma pedra na outra, fazendo essa ‘música ambiente primitiva’. Ouvir outros indígenas produzindo esses sons me fez perceber que eu não era o único que pensava assim, interessado nesse tipo de barulho.”

De volta a Oklahoma, Young se juntou ao Postcommodity, influente coletivo indígena do qual Chacon fazia parte. Logo, estava dirigindo a gravadora Peyote Tapes e gravando dezenas de álbuns da dupla Ajilvsga, que usa muitas distorções.

Enquanto Young batalhava contra o preconceito de que toda a música nativa americana precisava incluir cânticos e tambores de pow-wows, Joe Rainey se inclinou para o typecasting. Criado perto de Little Earth, complexo habitacional de Minneapolis, em Minnesota, que há décadas abriga membros de dezenas de tribos, Rainey começou a gravar pow-wows quando tinha oito anos. Usando um gravador portátil, acumulou cerca de 500 horas de apresentações.

Durante mais de 20 anos, Rainey, que trabalha como instalador de aquecimento, ventilação e ar-condicionado, também foi cantor de pow-wow, participando de concursos que às vezes ofereciam prêmios de US$ 10 mil. O pouco entendimento das pow-wows modernas como espaços sagrados intrigava o cantor ojibwe. “Para você, podemos estar conjurando energias”, brincou Rainey, de 35 anos, pai de cinco filhos, em entrevista de sua casa em Oneida, no Wisconsin. “Mas nos apresentamos para nos divertirmos, para cantar e dançar.”

Até meados de 2020, Rainey havia sido, durante um ano, parceiro de um produtor veterano de Minneapolis, Andrew Broder, tentando em vão encontrar um contexto moderno adequado para sua música. Quando Broder participou de uma pow-wow em Little Earth, entendeu que estava compreendendo mal o material. “O som lembrava o de um carro que passa tocando música alta pela cidade. Essas vozes e a percussão ecoando pelos conjuntos habitacionais tinham uma qualidade semelhante. Era para lá que eu queria ir, onde o som estava”, contou Broder por telefone.

Broder e Rainey começaram a trabalhar em torno de um axioma de “caos organizado”, usando as produções abrasivas do Public Enemy e a franqueza narrativa de Nas. O resultado, Niineta - que foi lançado em maio e cujo título em ojibwe significa “apenas eu” -, adiciona camadas de canções e tambores de pow-wow de força industrial e rajadas de estática, sugerindo uma representação musical radical do que Rainey muitas vezes chama de “índio urbano”. Samples do primo de Rainey, que está preso, e de amigos mortos garantem um toque de solenidade e dor. “Este álbum me ajudou a ter certeza de que eu estava mentalmente bem e me deu força para continuar”, afirmou Rainey.

People You Must Look at Me, uma das primeiras performances de Kite, ajudou-a a processar a perda da mãe, que se suicidou, e a abraçar sua identidade como artista indígena cujos ancestrais escaparam a pé de Wounded Knee. Seu trabalho agora incorpora meia dúzia de outras disciplinas, incluindo inteligência artificial - todas as formas de aprender com o passado dos indígenas americanos, a fim de reimaginar seu futuro: “Não estou muito interessada na música artística ocidental. Há muito que aprender com membros da comunidade que não têm um diploma. Vejo isso como o caminho para gerar coisas novas.”

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Raven Chacon - compositor, improvisador e artista visual diné nascido na fronteira da Nação Navajo - não tinha certeza se deveria aceitar o pedido que logo lhe renderia o Prêmio Pulitzer de música. Um conjunto de Milwaukee, no Wisconsin, havia lhe pedido que escrevesse uma peça para seu concerto anual de Ação de Graças em 2021, a ser promovido em uma catedral de 175 anos no centro da cidade. A ideia cheirava a clichê, um verniz das festas de fim de ano. “Minha primeira reação é recusar qualquer convite relacionado ao Dia de Ação de Graças, não porque eu seja anti-Ação de Graças, mas porque é o único momento em que somos convidados para fazer coisas”, disse Chacon, de 44 anos, em uma recente entrevista por telefone.

Mas aos poucos reconsiderou a encomenda, reconhecendo que uma apresentação em uma catedral (com um enorme órgão de tubos) seria uma oportunidade rara de abordar o papel violento da Igreja Católica na conquista dos nativos americanos. Escreveu Voiceless Mass (Massa sem voz), e, na estreia, posicionou violinos, flautas e percussão ao redor da plateia. “Quando você sabe que o compositor é nativo, há muitas suposições”, afirmou Chacon, contando as vezes em que até os fãs declararam ouvir o deserto em sua música. “Mas estou interessado no que é importante para a comunidade que represento - terra, justiça, injustiça. Para mim, é importante fazer um trabalho que seja desafiador, difícil de digerir.”

Quando “Voiceless Mass” ganhou o Pulitzer em maio, Chacon se tornou o primeiro nativo americano a receber o prêmio. Essa honra faz parte de uma recente onda de representação e reconhecimento de artistas indígenas na literatura, na culinária e na TV por streaming. “Nossos melhores artistas são realmente bons, e as pessoas estão percebendo isso, o que significa que nem sempre começamos do zero”, observou Paul Chaat Smith, curador do Museu Nacional do Índio Americano, em entrevista.

Mas Chacon também é o primeiro compositor de harsh noise a ganhar o Pulitzer, ascensão improvável para alguém que começou a fazer música na Nação Navajo, transformando tambores em câmaras de eco amplificadas antes de se tornar figurinha carimbada em espaços experimentais em Los Angeles. Na verdade, ele é apenas um de inúmeros artistas indígenas que atingem um público mais amplo ao trabalhar à margem da música moderna. A arte sonora imersiva de Suzanne Kite, os instrumentos metálicos de Warren Realrider, os solos de violino espinhosos de Laura Ortman - esses músicos e muitos de seus pares estão rapidamente transformando a ideia do que significa o som nativo.

'Voiceless Mass' de Raven Chacon ganhou o Pulitzer em maio. 'Se você ouvir que há um compositor nativo, muitas suposições acontecem', disse. Foto: Camilo Fuentealba/The New York Times

Em sua infância em Tahlequah, Oklahoma, capital da Nação Cherokee, Nathan Young, outro músico prolífico, percebeu que a história da música nativa americana era mais profunda do que os encantamentos em uma pow-wow. Seu pai, membro da Tribo Delaware, vendia fitas raras de cerimônias de peiote da Igreja Nativa Americana, contendo melodias hipnóticas de cantores como Joe Rush. “Pensei nos sons que nossos ancestrais faziam, coisas que nunca poderíamos imaginar, como se talvez não considerássemos o que poderia ser ‘música nativa’”, disse Young, de 46 anos, de sua casa em Tulsa, Oklahoma, pensando no que havia se perdido através de séculos de genocídio.

Durante a faculdade, uma fita VHS do ícone eletrônico japonês Merzbow ampliou a percepção de Young do que é considerado música, bem como uma gravação caseira que artistas maori da Nova Zelândia tocavam enquanto uma tradicional tatuagem Ta moko era feita: “Eles esfregavam uma pedra na outra, fazendo essa ‘música ambiente primitiva’. Ouvir outros indígenas produzindo esses sons me fez perceber que eu não era o único que pensava assim, interessado nesse tipo de barulho.”

De volta a Oklahoma, Young se juntou ao Postcommodity, influente coletivo indígena do qual Chacon fazia parte. Logo, estava dirigindo a gravadora Peyote Tapes e gravando dezenas de álbuns da dupla Ajilvsga, que usa muitas distorções.

Enquanto Young batalhava contra o preconceito de que toda a música nativa americana precisava incluir cânticos e tambores de pow-wows, Joe Rainey se inclinou para o typecasting. Criado perto de Little Earth, complexo habitacional de Minneapolis, em Minnesota, que há décadas abriga membros de dezenas de tribos, Rainey começou a gravar pow-wows quando tinha oito anos. Usando um gravador portátil, acumulou cerca de 500 horas de apresentações.

Durante mais de 20 anos, Rainey, que trabalha como instalador de aquecimento, ventilação e ar-condicionado, também foi cantor de pow-wow, participando de concursos que às vezes ofereciam prêmios de US$ 10 mil. O pouco entendimento das pow-wows modernas como espaços sagrados intrigava o cantor ojibwe. “Para você, podemos estar conjurando energias”, brincou Rainey, de 35 anos, pai de cinco filhos, em entrevista de sua casa em Oneida, no Wisconsin. “Mas nos apresentamos para nos divertirmos, para cantar e dançar.”

Até meados de 2020, Rainey havia sido, durante um ano, parceiro de um produtor veterano de Minneapolis, Andrew Broder, tentando em vão encontrar um contexto moderno adequado para sua música. Quando Broder participou de uma pow-wow em Little Earth, entendeu que estava compreendendo mal o material. “O som lembrava o de um carro que passa tocando música alta pela cidade. Essas vozes e a percussão ecoando pelos conjuntos habitacionais tinham uma qualidade semelhante. Era para lá que eu queria ir, onde o som estava”, contou Broder por telefone.

Broder e Rainey começaram a trabalhar em torno de um axioma de “caos organizado”, usando as produções abrasivas do Public Enemy e a franqueza narrativa de Nas. O resultado, Niineta - que foi lançado em maio e cujo título em ojibwe significa “apenas eu” -, adiciona camadas de canções e tambores de pow-wow de força industrial e rajadas de estática, sugerindo uma representação musical radical do que Rainey muitas vezes chama de “índio urbano”. Samples do primo de Rainey, que está preso, e de amigos mortos garantem um toque de solenidade e dor. “Este álbum me ajudou a ter certeza de que eu estava mentalmente bem e me deu força para continuar”, afirmou Rainey.

People You Must Look at Me, uma das primeiras performances de Kite, ajudou-a a processar a perda da mãe, que se suicidou, e a abraçar sua identidade como artista indígena cujos ancestrais escaparam a pé de Wounded Knee. Seu trabalho agora incorpora meia dúzia de outras disciplinas, incluindo inteligência artificial - todas as formas de aprender com o passado dos indígenas americanos, a fim de reimaginar seu futuro: “Não estou muito interessada na música artística ocidental. Há muito que aprender com membros da comunidade que não têm um diploma. Vejo isso como o caminho para gerar coisas novas.”

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