THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - A Alemanha está tentando todas as medidas para combater uma crise de energia que só deve piorar neste inverno (no hemisfério norte). Os edifícios públicos podem ser aquecidos a apenas 18º C e a maioria das piscinas privadas nem mesmo são aquecidas. A partir deste mês, outdoors e outros pontos de referência ficam escuros às 22h. O governo até estendeu a vida de dois dos últimos reatores nucleares do país.
Mas a única coisa que a Alemanha não fará, aparentemente, é colocar um limite geral de velocidade nas lendárias autoestradas, uma proposta levantada - e derrubada - embora pudesse economizar gasolina e reduzir as emissões de dióxido de carbono.
A questão do limite de velocidade tem uma ressonância especial na Alemanha, semelhante aos debates sobre o controle de armas nos Estados Unidos. A ausência de limites é tão sacrossanta que quando um desenvolvedor tcheco postou um vídeo de si mesmo no YouTube no ano passado dirigindo a quase 418 Km/h - ou tão rápido quanto um avião bimotor voa - os promotores não puderam apresentar acusações.
Uma promessa de não haver limites gerais de velocidade nas autoestradas foi parte do acordo que permitiu que a atual coalizão de três partidos, que inclui os ambientalistas Verdes, bem como o Partido Democrático Liberal, de mentalidade libertária, assumisse o poder.
“O Partido Democrático Liberal transformou isso em uma questão de identidade”, disse Wolfgang Schroeder, professor de ciência política da Universidade de Kassel, na Alemanha central, que estuda a coalizão. “Eles disseram: ‘Somos o partido dos motoristas e da liberdade, e não queremos nenhuma interferência do Estado’.”
Ainda assim, o clima sobre as restrições de velocidade vem mudando nas últimas duas décadas, com a atual crise do petróleo parecendo acelerar a mudança, talvez pelo menos na mente do público, se não na classe política.
Em abril, dois meses após a Rússia atacar a Ucrânia e enquanto a Alemanha tentava reduzir sua dependência energética da Rússia, Ricarda Lang, colíder dos Verdes, propôs um limite de velocidade temporário para ajudar a economizar gasolina.
Embora a ideia tenha sido bloqueada pelos parceiros da coalizão, uma pesquisa recente encomendada pela revista Der Spiegel descobriu que 55% dos alemães apoiavam a ideia de um limite de velocidade imediato, embora temporário, com 39% contra.
O Ministério do Meio Ambiente alemão descobriu que, se um limite de velocidade de 100 km/h fosse estabelecido nas autoestradas, com um limite de 80 km/h em outras estradas, os 48 milhões de automóveis da Alemanha poderiam economizar 2,1 bilhões de litros de combustível todos os anos.
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Se os motoristas realmente mantivessem essa velocidade, 5,4 milhões de toneladas métricas de emissões de dióxido de carbono poderiam ser economizadas, cerca de 3% de todo o CO2 emitido pelo transporte. Se os motoristas mantivessem um limite de velocidade de 130 km/h - um limite mais realista - a economia cairia para 1,9 milhão de toneladas, ou pouco mais de 1% do total de emissões de transporte.
Atualmente, cerca de 30% do sistema de autoestradas tem restrições permanentes. Outras partes têm limites temporários ligados a obras.
Em 2020, o ADAC - um clube automobilístico de quase 120 anos na Alemanha com mais de 20 milhões de membros - parou de fazer lobby contra os limites. Pesquisas com seus membros descobriram que, pela primeira vez em quase três décadas, a maioria não se opunha mais a um limite.
“É bem simples: a sociedade está mudando e, com ela, o ADAC”, disse Katrin van Randenborgh, porta-voz do clube.
Outra parte do debate envolve acidentes. Embora a autoestrada seja elogiada por sua segurança quando comparada com outras rodovias, números oficiais mostram que onde ela não tem restrição de velocidade, há 75% mais acidentes com morte do que em trechos com limite de velocidade.
No entanto, Bernd Reuther, especialista em trânsito do Partido Democrata Liberal, defendeu o status quo.
“Contamos com o senso de responsabilidade das pessoas e não queremos regulamentar”, ele disse.
Com o acordo de coalizão sem consolidar novos limites de velocidade, Reuther e o Partido Democrata Liberal dizem sentir que a questão está resolvida, pelo menos até o próximo governo.
Estabelecer limites de velocidade seria um passo fácil, embora modesto, para ajudar a atingir as metas de emissão do país, de acordo com Swantje Henrike Michaelsen, legisladora dos Verdes e membro do comitê parlamentar de trânsito. Mas, ela disse, “tornou-se um símbolo gritante na política”.
Seu partido optou por se concentrar “no progresso que podemos fazer juntos”, em vez de pressionar a questão divisória, ela acrescentou.
Com o membro dominante da coalizão, o Partido Social Democrata, desempenhando um papel mais mediador, as coisas parecem destinadas a permanecer como estão.
“É uma espécie de pacto de não agressão que estamos vendo entre os membros da coalizão que é especialmente importante quando se trata de posições ideológicas”, disse Schroeder. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES
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