Não consegue ouvir conversas em uma multidão? Isso pode ser perda auditiva oculta


Exames tradicionais geralmente perdem essa condição comum que só aparece com ruído de fundo

Por Emma Yasinski

THE NEW YORK TIMES LIFE/STYLE - Até alguns meses atrás, Lucie Gendreau, de 66 anos, nunca havia se preocupado muito com sua audição. Ela nunca notou nada de errado com ela e raramente se expunha aos tipos de intensidade de ruído conhecidos por causar perda auditiva. Quando jovem, ela havia ido ao show de Roberta Flack, mas nunca foi de ouvir heavy metal. Ela prefere passar horas na biblioteca do que em um jogo de futebol americano barulhento.

Definindo-se agora como uma introvertida que mora em Boston, Gendreau tem um zumbido leve, que começou com seus 30 anos, mas, até recentemente, nenhum outro problema de audição. Ela vive uma vida tranquila, literal e figurativamente, ocasionalmente participando de testes clínicos em seu tempo livre.

Não há teste conclusivo para perda auditiva oculta, mas se você se esforçar para entender a conversa sempre que a mesa do lado tiver mais do que alguns convidados, pode ser que você tenha Foto: Timo Lenzen/The New York Times
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Em outubro, ela se sentou em uma cabine à prova de som enquanto os pesquisadores executavam um estranho tipo de exame de audição. Em vez de pedir que ela levantasse a mão quando ouvisse um som, eles pediram que ela repetisse palavras que foram ditas contra diferentes volumes de ruído de fundo.

Ela ficou chocada com o que ouviu – ou melhor ainda – não ouviu. “Eu simplesmente não conseguia discernir as palavras”, ela disse. Era como se todos estivessem falando outra língua. “Foi uma experiência meio frustrante.”

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Acontece que Gendreau tem o que os audiologistas chamam de perda auditiva oculta, uma condição na qual as pessoas podem detectar sons, mas lutam para entendê-los em ambientes barulhentos. Uma pessoa com perda auditiva oculta pode passar por um audiograma tradicional, levantando a mão sempre que o técnico emite um bipe de volume e tom variados, e pode conversar com outra pessoa em uma sala silenciosa. Mas mude essa conversa para um bar lotado e parecerá que seu companheiro está falando coisas sem sentido.

Quantas pessoas têm perda auditiva oculta?

Não está claro quantas pessoas sofrem com a condição, que foi descrita pela primeira vez em 2009. Os cientistas ainda estão desenvolvendo testes para diagnosticá-la, o que é difícil, pois muitas pessoas que a experimentam podem não perceber e não consultarem um audiologista.

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Uma maneira pela qual os pesquisadores tentaram estimar a prevalência de perda auditiva oculta é calculando quantas pessoas vão ao audiologista reclamando de dificuldade para ouvir, mas acabam pontuando bem no audiograma. Essas dificuldades relatadas “provavelmente podem ser devido à perda auditiva oculta”, disse Yin Ren, otorrinolaringologista do Centro Médico Wexner da Ohio State University.

Um estudo de 2018 disse que isso descreveu 15% dos pacientes. Outro de 2020 encontrou cerca de 10% dos pacientes que se queixaram de perda auditiva sem um diagnóstico claro.

Stéphane Maison, um audiologista e pesquisador do hospital Mass Eye and Ear que administrou o estudo do qual Gendreau fez parte, disse que mesmo esses números podem subestimar a prevalência da perda auditiva oculta. “Isso só vai falar sobre as pessoas que decidiram marcar uma consulta”, ele disse.

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Sarah Sydlowski, presidente da Academia Americana de Audiologia e audiologista da Cleveland Clinic, concordou. Ela disse que pessoas com esse tipo de perda auditiva “nem sempre reconhecem a dificuldade” que estão tendo; assim, elas não consultam um audiologista. Essas estimativas também não identificariam aqueles com perda auditiva tradicional e oculta combinadas.

Embora o risco pareça aumentar com a idade, a perda auditiva oculta tende a ocorrer mais cedo do que a perda auditiva tradicional, aparecendo mesmo em estudantes universitários.

O que causa a perda auditiva oculta?

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Durante décadas, os cientistas presumiram que as partes de nossos ouvidos mais suscetíveis à perda auditiva induzida por ruído eram os minúsculos pelos em nossa cóclea, no fundo de nossos ouvidos, que vibram quando as ondas sonoras encontram os lados de nossas cabeças. Quando estes estão danificados, é como se alguém tivesse baixado o volume do mundo e você não pudesse ouvir sons, mesmo no silêncio de uma biblioteca.

Alguns pacientes podem ter reclamado que não conseguiram, digamos, ouvir o árbitro em um jogo entre crianças, mas desde que suas células ciliadas estivessem intactas e eles pudessem ouvir em uma sala de testes silenciosa, os médicos geralmente não encontravam nada de errado. Em 2009, no entanto, armados com uma nova tecnologia de imagem que pode ver além dessas células ciliadas, os pesquisadores expuseram camundongos a níveis sonoros de shows de rock e procuraram sinais de danos mais profundos no sistema auditivo.

Eles descobriram que as células cerebrais com as quais esses pelos se comunicam são ainda mais frágeis do que as próprias células ciliadas; enquanto as células ciliadas nas orelhas dos animais permaneceram intactas após o “show”, suas células cerebrais correspondentes murcharam.

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Essas células cerebrais formam dois feixes principais de neurônios que traduzem as vibrações dos pelos em sinais químicos que nossos cérebros podem interpretar. Um feixe responde a sons mais altos e outro responde a sons mais baixos. Maison explicou que aqueles sintonizados com ruídos altos são mais propensos a serem danificados primeiro, deixando aquele projetado para entradas mais suaves fazendo o trabalho restante.

Quando isso acontece, se você estiver em um local silencioso e seu amigo estiver sussurrando para você, você não terá problemas para entendê-lo. Se você decidir ir a uma festa, no entanto, esse feixe de células sussurrantes ficará sobrecarregado pelo ruído de fundo e enviará ao seu cérebro uma mensagem distorcida e indecifrável.

Como você sabe se tem perda auditiva?

Não há teste conclusivo para perda auditiva oculta, mas se você se esforçar para entender a conversa sempre que a mesa do lado tiver mais do que alguns convidados, pode ser que você tenha. Nos últimos cinco anos, Maison disse que sua equipe tem trabalhado para desenvolver e validar uma série de testes como os que Gendreau fez, mas os critérios diagnósticos ainda não são definitivos e, por enquanto, poucos audiologistas testam a perda auditiva oculta.

Gendreau fez inúmeros exames de audição e até mesmo uma ressonância magnética antes da recente avaliação com Maison. Nenhum detectou sua perda auditiva oculta. “Era decepcionante a cada vez”, ela disse.

Em 2017, a Associated Press publicou um teste online que você pode tentar em casa, mas não pode fornecer um diagnóstico. Ainda assim, os especialistas disseram que, se você acha que pode ter perda auditiva oculta porque está tendo problemas para acompanhar conversas quando há ruído de fundo ou tem um zumbido persistente nos ouvidos, vale a pena se consultar com um audiologista.

O que você pode fazer?

Os pesquisadores estão testando terapias em animais que eles esperam que ajudem a regenerar as fibras nervosas danificadas, mas atualmente não há como reverter a perda auditiva oculta. Se você for diagnosticado, os audiologistas recomendam algumas estratégias que podem ajudá-lo a se comunicar melhor.

Em vez de pedir a alguém para falar mais alto, peça-lhe para repetir mais devagar, disse Sydlowski. Falar “mais claramente é muito mais eficaz do que falar mais alto, que é o que todos nós tendemos a fazer”, ela disse.

Outra estratégia recomendada pelo Maison é “certificar-se de que o ruído de fundo esteja atrás de você”. Se você estiver em um restaurante lotado com um amigo, faça com que ele se sente contra a parede, enquanto você fica de frente para ele.

Essa estratégia funciona especialmente bem se você tiver um microfone direcional, que amplifica os sons diretamente à sua frente, mas amortece os sons vindos dos lados e de trás, disse Ren. Basta conectar o microfone aos fones de ouvido ou aparelho auditivo e apontá-lo para a pessoa que está falando./TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES LIFE/STYLE - Até alguns meses atrás, Lucie Gendreau, de 66 anos, nunca havia se preocupado muito com sua audição. Ela nunca notou nada de errado com ela e raramente se expunha aos tipos de intensidade de ruído conhecidos por causar perda auditiva. Quando jovem, ela havia ido ao show de Roberta Flack, mas nunca foi de ouvir heavy metal. Ela prefere passar horas na biblioteca do que em um jogo de futebol americano barulhento.

Definindo-se agora como uma introvertida que mora em Boston, Gendreau tem um zumbido leve, que começou com seus 30 anos, mas, até recentemente, nenhum outro problema de audição. Ela vive uma vida tranquila, literal e figurativamente, ocasionalmente participando de testes clínicos em seu tempo livre.

Não há teste conclusivo para perda auditiva oculta, mas se você se esforçar para entender a conversa sempre que a mesa do lado tiver mais do que alguns convidados, pode ser que você tenha Foto: Timo Lenzen/The New York Times

Em outubro, ela se sentou em uma cabine à prova de som enquanto os pesquisadores executavam um estranho tipo de exame de audição. Em vez de pedir que ela levantasse a mão quando ouvisse um som, eles pediram que ela repetisse palavras que foram ditas contra diferentes volumes de ruído de fundo.

Ela ficou chocada com o que ouviu – ou melhor ainda – não ouviu. “Eu simplesmente não conseguia discernir as palavras”, ela disse. Era como se todos estivessem falando outra língua. “Foi uma experiência meio frustrante.”

Acontece que Gendreau tem o que os audiologistas chamam de perda auditiva oculta, uma condição na qual as pessoas podem detectar sons, mas lutam para entendê-los em ambientes barulhentos. Uma pessoa com perda auditiva oculta pode passar por um audiograma tradicional, levantando a mão sempre que o técnico emite um bipe de volume e tom variados, e pode conversar com outra pessoa em uma sala silenciosa. Mas mude essa conversa para um bar lotado e parecerá que seu companheiro está falando coisas sem sentido.

Quantas pessoas têm perda auditiva oculta?

Não está claro quantas pessoas sofrem com a condição, que foi descrita pela primeira vez em 2009. Os cientistas ainda estão desenvolvendo testes para diagnosticá-la, o que é difícil, pois muitas pessoas que a experimentam podem não perceber e não consultarem um audiologista.

Uma maneira pela qual os pesquisadores tentaram estimar a prevalência de perda auditiva oculta é calculando quantas pessoas vão ao audiologista reclamando de dificuldade para ouvir, mas acabam pontuando bem no audiograma. Essas dificuldades relatadas “provavelmente podem ser devido à perda auditiva oculta”, disse Yin Ren, otorrinolaringologista do Centro Médico Wexner da Ohio State University.

Um estudo de 2018 disse que isso descreveu 15% dos pacientes. Outro de 2020 encontrou cerca de 10% dos pacientes que se queixaram de perda auditiva sem um diagnóstico claro.

Stéphane Maison, um audiologista e pesquisador do hospital Mass Eye and Ear que administrou o estudo do qual Gendreau fez parte, disse que mesmo esses números podem subestimar a prevalência da perda auditiva oculta. “Isso só vai falar sobre as pessoas que decidiram marcar uma consulta”, ele disse.

Sarah Sydlowski, presidente da Academia Americana de Audiologia e audiologista da Cleveland Clinic, concordou. Ela disse que pessoas com esse tipo de perda auditiva “nem sempre reconhecem a dificuldade” que estão tendo; assim, elas não consultam um audiologista. Essas estimativas também não identificariam aqueles com perda auditiva tradicional e oculta combinadas.

Embora o risco pareça aumentar com a idade, a perda auditiva oculta tende a ocorrer mais cedo do que a perda auditiva tradicional, aparecendo mesmo em estudantes universitários.

O que causa a perda auditiva oculta?

Durante décadas, os cientistas presumiram que as partes de nossos ouvidos mais suscetíveis à perda auditiva induzida por ruído eram os minúsculos pelos em nossa cóclea, no fundo de nossos ouvidos, que vibram quando as ondas sonoras encontram os lados de nossas cabeças. Quando estes estão danificados, é como se alguém tivesse baixado o volume do mundo e você não pudesse ouvir sons, mesmo no silêncio de uma biblioteca.

Alguns pacientes podem ter reclamado que não conseguiram, digamos, ouvir o árbitro em um jogo entre crianças, mas desde que suas células ciliadas estivessem intactas e eles pudessem ouvir em uma sala de testes silenciosa, os médicos geralmente não encontravam nada de errado. Em 2009, no entanto, armados com uma nova tecnologia de imagem que pode ver além dessas células ciliadas, os pesquisadores expuseram camundongos a níveis sonoros de shows de rock e procuraram sinais de danos mais profundos no sistema auditivo.

Eles descobriram que as células cerebrais com as quais esses pelos se comunicam são ainda mais frágeis do que as próprias células ciliadas; enquanto as células ciliadas nas orelhas dos animais permaneceram intactas após o “show”, suas células cerebrais correspondentes murcharam.

Essas células cerebrais formam dois feixes principais de neurônios que traduzem as vibrações dos pelos em sinais químicos que nossos cérebros podem interpretar. Um feixe responde a sons mais altos e outro responde a sons mais baixos. Maison explicou que aqueles sintonizados com ruídos altos são mais propensos a serem danificados primeiro, deixando aquele projetado para entradas mais suaves fazendo o trabalho restante.

Quando isso acontece, se você estiver em um local silencioso e seu amigo estiver sussurrando para você, você não terá problemas para entendê-lo. Se você decidir ir a uma festa, no entanto, esse feixe de células sussurrantes ficará sobrecarregado pelo ruído de fundo e enviará ao seu cérebro uma mensagem distorcida e indecifrável.

Como você sabe se tem perda auditiva?

Não há teste conclusivo para perda auditiva oculta, mas se você se esforçar para entender a conversa sempre que a mesa do lado tiver mais do que alguns convidados, pode ser que você tenha. Nos últimos cinco anos, Maison disse que sua equipe tem trabalhado para desenvolver e validar uma série de testes como os que Gendreau fez, mas os critérios diagnósticos ainda não são definitivos e, por enquanto, poucos audiologistas testam a perda auditiva oculta.

Gendreau fez inúmeros exames de audição e até mesmo uma ressonância magnética antes da recente avaliação com Maison. Nenhum detectou sua perda auditiva oculta. “Era decepcionante a cada vez”, ela disse.

Em 2017, a Associated Press publicou um teste online que você pode tentar em casa, mas não pode fornecer um diagnóstico. Ainda assim, os especialistas disseram que, se você acha que pode ter perda auditiva oculta porque está tendo problemas para acompanhar conversas quando há ruído de fundo ou tem um zumbido persistente nos ouvidos, vale a pena se consultar com um audiologista.

O que você pode fazer?

Os pesquisadores estão testando terapias em animais que eles esperam que ajudem a regenerar as fibras nervosas danificadas, mas atualmente não há como reverter a perda auditiva oculta. Se você for diagnosticado, os audiologistas recomendam algumas estratégias que podem ajudá-lo a se comunicar melhor.

Em vez de pedir a alguém para falar mais alto, peça-lhe para repetir mais devagar, disse Sydlowski. Falar “mais claramente é muito mais eficaz do que falar mais alto, que é o que todos nós tendemos a fazer”, ela disse.

Outra estratégia recomendada pelo Maison é “certificar-se de que o ruído de fundo esteja atrás de você”. Se você estiver em um restaurante lotado com um amigo, faça com que ele se sente contra a parede, enquanto você fica de frente para ele.

Essa estratégia funciona especialmente bem se você tiver um microfone direcional, que amplifica os sons diretamente à sua frente, mas amortece os sons vindos dos lados e de trás, disse Ren. Basta conectar o microfone aos fones de ouvido ou aparelho auditivo e apontá-lo para a pessoa que está falando./TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES LIFE/STYLE - Até alguns meses atrás, Lucie Gendreau, de 66 anos, nunca havia se preocupado muito com sua audição. Ela nunca notou nada de errado com ela e raramente se expunha aos tipos de intensidade de ruído conhecidos por causar perda auditiva. Quando jovem, ela havia ido ao show de Roberta Flack, mas nunca foi de ouvir heavy metal. Ela prefere passar horas na biblioteca do que em um jogo de futebol americano barulhento.

Definindo-se agora como uma introvertida que mora em Boston, Gendreau tem um zumbido leve, que começou com seus 30 anos, mas, até recentemente, nenhum outro problema de audição. Ela vive uma vida tranquila, literal e figurativamente, ocasionalmente participando de testes clínicos em seu tempo livre.

Não há teste conclusivo para perda auditiva oculta, mas se você se esforçar para entender a conversa sempre que a mesa do lado tiver mais do que alguns convidados, pode ser que você tenha Foto: Timo Lenzen/The New York Times

Em outubro, ela se sentou em uma cabine à prova de som enquanto os pesquisadores executavam um estranho tipo de exame de audição. Em vez de pedir que ela levantasse a mão quando ouvisse um som, eles pediram que ela repetisse palavras que foram ditas contra diferentes volumes de ruído de fundo.

Ela ficou chocada com o que ouviu – ou melhor ainda – não ouviu. “Eu simplesmente não conseguia discernir as palavras”, ela disse. Era como se todos estivessem falando outra língua. “Foi uma experiência meio frustrante.”

Acontece que Gendreau tem o que os audiologistas chamam de perda auditiva oculta, uma condição na qual as pessoas podem detectar sons, mas lutam para entendê-los em ambientes barulhentos. Uma pessoa com perda auditiva oculta pode passar por um audiograma tradicional, levantando a mão sempre que o técnico emite um bipe de volume e tom variados, e pode conversar com outra pessoa em uma sala silenciosa. Mas mude essa conversa para um bar lotado e parecerá que seu companheiro está falando coisas sem sentido.

Quantas pessoas têm perda auditiva oculta?

Não está claro quantas pessoas sofrem com a condição, que foi descrita pela primeira vez em 2009. Os cientistas ainda estão desenvolvendo testes para diagnosticá-la, o que é difícil, pois muitas pessoas que a experimentam podem não perceber e não consultarem um audiologista.

Uma maneira pela qual os pesquisadores tentaram estimar a prevalência de perda auditiva oculta é calculando quantas pessoas vão ao audiologista reclamando de dificuldade para ouvir, mas acabam pontuando bem no audiograma. Essas dificuldades relatadas “provavelmente podem ser devido à perda auditiva oculta”, disse Yin Ren, otorrinolaringologista do Centro Médico Wexner da Ohio State University.

Um estudo de 2018 disse que isso descreveu 15% dos pacientes. Outro de 2020 encontrou cerca de 10% dos pacientes que se queixaram de perda auditiva sem um diagnóstico claro.

Stéphane Maison, um audiologista e pesquisador do hospital Mass Eye and Ear que administrou o estudo do qual Gendreau fez parte, disse que mesmo esses números podem subestimar a prevalência da perda auditiva oculta. “Isso só vai falar sobre as pessoas que decidiram marcar uma consulta”, ele disse.

Sarah Sydlowski, presidente da Academia Americana de Audiologia e audiologista da Cleveland Clinic, concordou. Ela disse que pessoas com esse tipo de perda auditiva “nem sempre reconhecem a dificuldade” que estão tendo; assim, elas não consultam um audiologista. Essas estimativas também não identificariam aqueles com perda auditiva tradicional e oculta combinadas.

Embora o risco pareça aumentar com a idade, a perda auditiva oculta tende a ocorrer mais cedo do que a perda auditiva tradicional, aparecendo mesmo em estudantes universitários.

O que causa a perda auditiva oculta?

Durante décadas, os cientistas presumiram que as partes de nossos ouvidos mais suscetíveis à perda auditiva induzida por ruído eram os minúsculos pelos em nossa cóclea, no fundo de nossos ouvidos, que vibram quando as ondas sonoras encontram os lados de nossas cabeças. Quando estes estão danificados, é como se alguém tivesse baixado o volume do mundo e você não pudesse ouvir sons, mesmo no silêncio de uma biblioteca.

Alguns pacientes podem ter reclamado que não conseguiram, digamos, ouvir o árbitro em um jogo entre crianças, mas desde que suas células ciliadas estivessem intactas e eles pudessem ouvir em uma sala de testes silenciosa, os médicos geralmente não encontravam nada de errado. Em 2009, no entanto, armados com uma nova tecnologia de imagem que pode ver além dessas células ciliadas, os pesquisadores expuseram camundongos a níveis sonoros de shows de rock e procuraram sinais de danos mais profundos no sistema auditivo.

Eles descobriram que as células cerebrais com as quais esses pelos se comunicam são ainda mais frágeis do que as próprias células ciliadas; enquanto as células ciliadas nas orelhas dos animais permaneceram intactas após o “show”, suas células cerebrais correspondentes murcharam.

Essas células cerebrais formam dois feixes principais de neurônios que traduzem as vibrações dos pelos em sinais químicos que nossos cérebros podem interpretar. Um feixe responde a sons mais altos e outro responde a sons mais baixos. Maison explicou que aqueles sintonizados com ruídos altos são mais propensos a serem danificados primeiro, deixando aquele projetado para entradas mais suaves fazendo o trabalho restante.

Quando isso acontece, se você estiver em um local silencioso e seu amigo estiver sussurrando para você, você não terá problemas para entendê-lo. Se você decidir ir a uma festa, no entanto, esse feixe de células sussurrantes ficará sobrecarregado pelo ruído de fundo e enviará ao seu cérebro uma mensagem distorcida e indecifrável.

Como você sabe se tem perda auditiva?

Não há teste conclusivo para perda auditiva oculta, mas se você se esforçar para entender a conversa sempre que a mesa do lado tiver mais do que alguns convidados, pode ser que você tenha. Nos últimos cinco anos, Maison disse que sua equipe tem trabalhado para desenvolver e validar uma série de testes como os que Gendreau fez, mas os critérios diagnósticos ainda não são definitivos e, por enquanto, poucos audiologistas testam a perda auditiva oculta.

Gendreau fez inúmeros exames de audição e até mesmo uma ressonância magnética antes da recente avaliação com Maison. Nenhum detectou sua perda auditiva oculta. “Era decepcionante a cada vez”, ela disse.

Em 2017, a Associated Press publicou um teste online que você pode tentar em casa, mas não pode fornecer um diagnóstico. Ainda assim, os especialistas disseram que, se você acha que pode ter perda auditiva oculta porque está tendo problemas para acompanhar conversas quando há ruído de fundo ou tem um zumbido persistente nos ouvidos, vale a pena se consultar com um audiologista.

O que você pode fazer?

Os pesquisadores estão testando terapias em animais que eles esperam que ajudem a regenerar as fibras nervosas danificadas, mas atualmente não há como reverter a perda auditiva oculta. Se você for diagnosticado, os audiologistas recomendam algumas estratégias que podem ajudá-lo a se comunicar melhor.

Em vez de pedir a alguém para falar mais alto, peça-lhe para repetir mais devagar, disse Sydlowski. Falar “mais claramente é muito mais eficaz do que falar mais alto, que é o que todos nós tendemos a fazer”, ela disse.

Outra estratégia recomendada pelo Maison é “certificar-se de que o ruído de fundo esteja atrás de você”. Se você estiver em um restaurante lotado com um amigo, faça com que ele se sente contra a parede, enquanto você fica de frente para ele.

Essa estratégia funciona especialmente bem se você tiver um microfone direcional, que amplifica os sons diretamente à sua frente, mas amortece os sons vindos dos lados e de trás, disse Ren. Basta conectar o microfone aos fones de ouvido ou aparelho auditivo e apontá-lo para a pessoa que está falando./TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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