Não o chame de Machine Gun Kelly: o amadurecimento do rapper Colson Baker


Seus álbuns competem com uma carreira florescente no cinema

Por Alexis Soloski

Poucos dias antes de Los Angeles ordenar que as pessoas permanecessem em suas casas, em março, Colson Baker, um rapper mais conhecido como Machine Gun Kelly (Metralhadora Kelly, em tradução livre), estava sentado no sofá com um violão acústico. Por baixo de sua camiseta branca, era possível ver suas tatuagens. A cabeleira despenteada aparecia em baixo do boné dos Cleveland Cavaliers.

“Querido”, ouviu-se a voz de uma mulher fora da câmera. “Estou surpresa de ver que está acordado”.

“Também estou surpreso de estar acordado”, ele disse.

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Colson Baker é maisconhecido Machine Gun Kelly. Foto: Daniel Dorsa/The New York Times

Baker guarda outra surpresa. Acompanhado por um companheiro de banda, arrebentou em um vertiginoso cover instrumental de Misery Business, da banda Paramore, uma canção em que uma adolescente se gaba do rapaz que ela roubou. Ele carregou o vídeo no Instagram - a legenda diz: #LockdownSessions Day 1- e foi visto mais de 1,2 milhões de vezes.

Baker, 30 anos, se tornou conhecido por suas músicas rap-pop como Rap Devil, uma faixa corrosiva direcionado a Eminem (com letras do tipo: “Estou cheio desses agasalhos e desses bonés bregas”), e Hollywood Whore, música composta depois da fama que morde a mão das gravadoras que o alimentam.

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Entretanto, sua música às vezes é superada pelas suas tolices dignas dos tabloides, como quando fumou um baseado com Pete Davidson na entrega do Globo de Ouro, e sua série de namoradas famosas, reais (Amber Rose, Sommer Ray) e, outras que não passam de boatos (Halsey, Noah Cyrus).

Seus álbuns competem com uma carreira florescente no cinema, inclusive, mais recentemente, O Rei de Staten Island, que tem roteiro de Davidson. Com um improvável jeito de queridinho da moda - cabelo loiro de anjo, olhar sonolento, altura de 1,93 -, já desfilou para John Varvatos e foi vestido por Berlutti e Balmain.

Mas no lockdown, com os sets de filmagem fechados e um guarda-roupa de canalha chique, as atenções se voltaram para a sua música. Bem, sua música e seu discutido relacionamento com a atriz Megan Fox.

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Além do post da banda Paramore, Baker fez covers improvisados de Oasis, Rihanna e John Mayer. As músicas - uma miscelânea de pop, rap, coisa mais velhas, novidades - são quase tão hardcore quanto aqueles brinquedos de apertar.

Filmados em um iPhone em sua casa de estilo espanhol, com seis quartos, em San Fernando Valley, os vídeos compensam o que falta neles em inovação e refinamento com uma energia bizarra e sua intimidade entremeada por maconha. As #LockdownSessions atraíram nada menos que 26 milhões de visualizações para cada post (foram cerca de 20) e conseguiram chegar ao Top 10 Músicas da Semana do YouTube.

A gravadora disse a Baker que estes posts tirados da manga do agasalho renderam uma adesão on-line maior do que qualquer um dos seus vídeos gravados e editados por profissionais. Em vez de chamá-lo fake, mole, afetado, - os riscos ocupacionais dos rappers brancos, talvez - os fãs responderam com incontáveis emojis de coração e fogo, além de apelos para que ele publicasse as músicas no Spotify.

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“Desde sempre fui um cara ansioso por respeito, desde que era o único branco em um grupo de rap batalhando por um nome”, ele disse. “Se isto não revela a pessoa super insegura que está dentro de mim, tipo: ‘Seja você mesmo, e tudo estará bem’, não sei o que mais poderia”.

Baseados do tamanho de ‘cannoli’

A separação entre Baker, o chapado introspectivo, e Machine Gun Kelly, o demônio do rap, ficou clarano início de março, quando Baker passou algumas noites em Nova York promovendo Big Time Adolescence, filme estrelado por Pete Davidson, em que ele tem um papel secundário.

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Horas antes de tomar o avião para Cleveland, onde assistiria ao jogo de vôlei da filha de 10 anos, ele fez uma parada em La Biblioteca, um bar de tequila meio clandestino perto do Grand Central Terminal, para umas doses de mezcal. “Estou muito animado e numa vibe”, disse ao barista.

Na ocasião, usava um trench coat de couro, calças de couro, uma camiseta rasgada - o traje do rebelde da alta moda. Com um emaranhado de correntes no pescoço e pérolas saltando de um bolso, ele parecia um cantor de coral bem alto que se revoltou.

Na rua, ele havia fumado um baseado do tamanho de um ‘cannoli’. No bar, tomou cinco doses de mezcal, uma delas com um escorpião dentro. Depois pediu uma cerveja.

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“Será que vão deixá-lo tomar o avião?”, perguntou um sujeito da publicidade. Apoiado para trás em uma cadeira alta com o pé na mesa, os olhos de Baker ficaram embaçados e ele começou a falar arrastado. Falou do seu álbum. Tickets to My Downfall, com lançamento em julho, que se afasta do rap e ruma para o pop-punk, o que ele considera um progresso. “Levei dez anos para evoluir para este som”, afirmou.

Baker chegou à conclusão de que não queria mais que o chamassem Machine Gun Kelly, pelo menos não em todo lugar ou o tempo todo. Em 2106, o diretor Cameron Crowse o encorajou a usar o seu nome de nascimento em Roadies, um seriado da Showtime, em que faz o papel de roadie e, ocasionalmente, barista, para uma banda de rock em turnê. No ano passado, começou a pedir aos amigos que o chamassem de “Colson”.

“As pessoas perguntavam: ‘Você tem um nome!?’ E eu: ‘É, engraçado, não?’ ”

Potencial

Baker, filho de missionários, teve uma infância itinerante: Texas, Quênia, Egito. Depois que sua mãe abandonou a família, ele e o pai se estabelecerem inicialmente em Denver e depois em Cleveland.

Aos 11 anos - magricela, alvo de bullying - Baker descobriu o rap, e trabalhou com suas criações ao longo de toda a sua adolescência. “Eu estava sempre perambulando pelos corredores fazendo rap para qualquer um”, lembra. Ele falava para os amigos que um dia apareceria nos maiores palcos, que outras pessoas iriam cantar suas letras.

“Eles falavam: Cara, cala a boca. Estamos na aula de matemática - em Cleveland”, contou.

Trabalhando em uma loja de camisetas pintadas com aerógrafo no shopping, ele era o mestre de cerimôniaspara quem quisesse ouvir e lançou uma série de fitas inquietas, uma mistura de tirar o fôlego que atraiu ouvintes locais. Aos 19 anos, tornou-se o pai de Casie, a filha que teve com Emma Cannon, sua namorada na época.

Além da música, Colson Baker também se aventura pelo cinema e é visto como um artista versátil. Foto: Daniel Dorsa/The New York Times

Em 2011, depois de uma apresentação no festival SXSW, Sean Combs quis conhecê-lo e o contratou para gravar para a Bad Boy Records. No ano seguinte, lançou seu álbum de estreia com um selo importante, Lace up, com um single bastante presunçoso, Wild Boy.

“Ele consegue fazer trap music pornográfica ou uma canção rap cheia de emoção que faz a gente chorar”, disse Combs. “É um sujeito que um dia poderá ganhar o EGOT (Emmy, Grammy, Oscar, Tony) com seu próprio trabalho. Ele é incrivelmente versátil”.

Antes de lançar o segundo álbum, General Admission, em 2015, Baker estreou no cinema no musical Nos bastidores da Fama, no papel de um rapper chamado Kid Culprit que humilha sua namorada pop star. “Eu sempre fui um cara que andava com a câmera onde quer que fosse”, contou, “por isso, acho que sempre quis fazer alguma coisa relacionada ao cinema”.

Atuou em vários papéis menores, em geral de vilão, mau caráter. Em 2016, depois de um telefonema exaltado para o diretor de casting, Crowe o contratou para Roadies.

No filme de terror Birdbox, da Netflix, fez o papel de outro sujeito desprezível, e apareceu a lado de Davidson em O Rei de Staten Island e Big Time Adolescence. No ano passado, co-estrelou The Dirt: Confissões do MötleyCrüe, filme biográfico sobre a banda Mötley Crüe, em que fez o papel de Tommy Lee, na maior parte, sem camisa.

Baker fez 30 anos na quarentena. Em geral, ele comemora com um evento digno do Grande Gatsby. Desta vez, ficou na maior parte em casa, e festejou com a banda.

“Estava realmente assustado com a possibilidade de ter uma sensação de vazio”, contou em uma entrevista por telefone em maio. “E, ironicamente, sentado na minha casa, em um clima mais calmo com os meus amigos mais próximos, foi a coisa que mais me deixou feliz”.

Seu vizinho, Jeff Lewis, que estrelava o programa reality sobre reformas, Flipping Out, se queixou de que foi bem mais barulhento do que calmo. “Havia pelo menos 14 pessoas, somente na entrada da garagem,” contou em seu show Sirius XM.

Nas últimas semanas, ele não hesitou em dar o seu apoio ao movimento Black Lives Matter, ao participar de uma manifestação em Los Angeles, segurando um cartaz com as palavras “Silence Is Betrayal” (Silêncio é traição) que postou no Instagram. Disse aos fãs racistas: “Não quero nada com o seu negócio”, e fez o cover Killing in the Name, da banda Rage Against the Machine, uma música de protesto sobre a brutalidade da polícia.

Será que agora ele se tornou o Machine Gun Kelly mais velho e mais maduro - um homem que se envolve em política, que pede desculpas aos vizinhos com champagne premium?

Não é bem assim. Enquanto faz palhaçadas e faz bolinhas de fumaça para a câmera, seu pai, com o qual ele se reconciliou recentemente, acaba de sair do hospital em Denver. (Nada a ver com covid-19).

“É um saco porque o que eu quero mesmo é gritar, chorar sentado no meu quarto, na esperança de que alguém venha me dizer que tudo vai dar certo”, ele disse.

Mas, acrescentou, o seu negócio é aguentar e mostrar o lado bom. Por isso, em vez de gritar, ele fica sentado no chão - no joelho que aparece pelo rasgo da calça mandou tatuar uma folha de maconha -tocando o hino adolescente Skater Boi, de Avril Lavigne, na guitarra elétrica, batendo a cabeça enquanto desliza os dedos para cima e para baixo no braço da guitarra.

Junto com os milhões de fãs, o pai o está observando.

“Ele está muito empolgado porque estou tocando guitarra agora. No outro dia, ele me telefonou e me disse que está realmente começando a gostar da minha música”, disse Baker. “Está super orgulhoso de mim”.

Há algumas semanas, postou um novo vídeo, uma compilação dos fãs fazendo suas próprias #LockdownSessions com Bloody Valentine usando as letras dele como trilha sonora para as suas paixões e confusões no lockdown. Ele falou: “Estou tentando dar às pessoas uma válvula de escape para sorrir nestes tempos difíceis”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

Poucos dias antes de Los Angeles ordenar que as pessoas permanecessem em suas casas, em março, Colson Baker, um rapper mais conhecido como Machine Gun Kelly (Metralhadora Kelly, em tradução livre), estava sentado no sofá com um violão acústico. Por baixo de sua camiseta branca, era possível ver suas tatuagens. A cabeleira despenteada aparecia em baixo do boné dos Cleveland Cavaliers.

“Querido”, ouviu-se a voz de uma mulher fora da câmera. “Estou surpresa de ver que está acordado”.

“Também estou surpreso de estar acordado”, ele disse.

Colson Baker é maisconhecido Machine Gun Kelly. Foto: Daniel Dorsa/The New York Times

Baker guarda outra surpresa. Acompanhado por um companheiro de banda, arrebentou em um vertiginoso cover instrumental de Misery Business, da banda Paramore, uma canção em que uma adolescente se gaba do rapaz que ela roubou. Ele carregou o vídeo no Instagram - a legenda diz: #LockdownSessions Day 1- e foi visto mais de 1,2 milhões de vezes.

Baker, 30 anos, se tornou conhecido por suas músicas rap-pop como Rap Devil, uma faixa corrosiva direcionado a Eminem (com letras do tipo: “Estou cheio desses agasalhos e desses bonés bregas”), e Hollywood Whore, música composta depois da fama que morde a mão das gravadoras que o alimentam.

Entretanto, sua música às vezes é superada pelas suas tolices dignas dos tabloides, como quando fumou um baseado com Pete Davidson na entrega do Globo de Ouro, e sua série de namoradas famosas, reais (Amber Rose, Sommer Ray) e, outras que não passam de boatos (Halsey, Noah Cyrus).

Seus álbuns competem com uma carreira florescente no cinema, inclusive, mais recentemente, O Rei de Staten Island, que tem roteiro de Davidson. Com um improvável jeito de queridinho da moda - cabelo loiro de anjo, olhar sonolento, altura de 1,93 -, já desfilou para John Varvatos e foi vestido por Berlutti e Balmain.

Mas no lockdown, com os sets de filmagem fechados e um guarda-roupa de canalha chique, as atenções se voltaram para a sua música. Bem, sua música e seu discutido relacionamento com a atriz Megan Fox.

Além do post da banda Paramore, Baker fez covers improvisados de Oasis, Rihanna e John Mayer. As músicas - uma miscelânea de pop, rap, coisa mais velhas, novidades - são quase tão hardcore quanto aqueles brinquedos de apertar.

Filmados em um iPhone em sua casa de estilo espanhol, com seis quartos, em San Fernando Valley, os vídeos compensam o que falta neles em inovação e refinamento com uma energia bizarra e sua intimidade entremeada por maconha. As #LockdownSessions atraíram nada menos que 26 milhões de visualizações para cada post (foram cerca de 20) e conseguiram chegar ao Top 10 Músicas da Semana do YouTube.

A gravadora disse a Baker que estes posts tirados da manga do agasalho renderam uma adesão on-line maior do que qualquer um dos seus vídeos gravados e editados por profissionais. Em vez de chamá-lo fake, mole, afetado, - os riscos ocupacionais dos rappers brancos, talvez - os fãs responderam com incontáveis emojis de coração e fogo, além de apelos para que ele publicasse as músicas no Spotify.

“Desde sempre fui um cara ansioso por respeito, desde que era o único branco em um grupo de rap batalhando por um nome”, ele disse. “Se isto não revela a pessoa super insegura que está dentro de mim, tipo: ‘Seja você mesmo, e tudo estará bem’, não sei o que mais poderia”.

Baseados do tamanho de ‘cannoli’

A separação entre Baker, o chapado introspectivo, e Machine Gun Kelly, o demônio do rap, ficou clarano início de março, quando Baker passou algumas noites em Nova York promovendo Big Time Adolescence, filme estrelado por Pete Davidson, em que ele tem um papel secundário.

Horas antes de tomar o avião para Cleveland, onde assistiria ao jogo de vôlei da filha de 10 anos, ele fez uma parada em La Biblioteca, um bar de tequila meio clandestino perto do Grand Central Terminal, para umas doses de mezcal. “Estou muito animado e numa vibe”, disse ao barista.

Na ocasião, usava um trench coat de couro, calças de couro, uma camiseta rasgada - o traje do rebelde da alta moda. Com um emaranhado de correntes no pescoço e pérolas saltando de um bolso, ele parecia um cantor de coral bem alto que se revoltou.

Na rua, ele havia fumado um baseado do tamanho de um ‘cannoli’. No bar, tomou cinco doses de mezcal, uma delas com um escorpião dentro. Depois pediu uma cerveja.

“Será que vão deixá-lo tomar o avião?”, perguntou um sujeito da publicidade. Apoiado para trás em uma cadeira alta com o pé na mesa, os olhos de Baker ficaram embaçados e ele começou a falar arrastado. Falou do seu álbum. Tickets to My Downfall, com lançamento em julho, que se afasta do rap e ruma para o pop-punk, o que ele considera um progresso. “Levei dez anos para evoluir para este som”, afirmou.

Baker chegou à conclusão de que não queria mais que o chamassem Machine Gun Kelly, pelo menos não em todo lugar ou o tempo todo. Em 2106, o diretor Cameron Crowse o encorajou a usar o seu nome de nascimento em Roadies, um seriado da Showtime, em que faz o papel de roadie e, ocasionalmente, barista, para uma banda de rock em turnê. No ano passado, começou a pedir aos amigos que o chamassem de “Colson”.

“As pessoas perguntavam: ‘Você tem um nome!?’ E eu: ‘É, engraçado, não?’ ”

Potencial

Baker, filho de missionários, teve uma infância itinerante: Texas, Quênia, Egito. Depois que sua mãe abandonou a família, ele e o pai se estabelecerem inicialmente em Denver e depois em Cleveland.

Aos 11 anos - magricela, alvo de bullying - Baker descobriu o rap, e trabalhou com suas criações ao longo de toda a sua adolescência. “Eu estava sempre perambulando pelos corredores fazendo rap para qualquer um”, lembra. Ele falava para os amigos que um dia apareceria nos maiores palcos, que outras pessoas iriam cantar suas letras.

“Eles falavam: Cara, cala a boca. Estamos na aula de matemática - em Cleveland”, contou.

Trabalhando em uma loja de camisetas pintadas com aerógrafo no shopping, ele era o mestre de cerimôniaspara quem quisesse ouvir e lançou uma série de fitas inquietas, uma mistura de tirar o fôlego que atraiu ouvintes locais. Aos 19 anos, tornou-se o pai de Casie, a filha que teve com Emma Cannon, sua namorada na época.

Além da música, Colson Baker também se aventura pelo cinema e é visto como um artista versátil. Foto: Daniel Dorsa/The New York Times

Em 2011, depois de uma apresentação no festival SXSW, Sean Combs quis conhecê-lo e o contratou para gravar para a Bad Boy Records. No ano seguinte, lançou seu álbum de estreia com um selo importante, Lace up, com um single bastante presunçoso, Wild Boy.

“Ele consegue fazer trap music pornográfica ou uma canção rap cheia de emoção que faz a gente chorar”, disse Combs. “É um sujeito que um dia poderá ganhar o EGOT (Emmy, Grammy, Oscar, Tony) com seu próprio trabalho. Ele é incrivelmente versátil”.

Antes de lançar o segundo álbum, General Admission, em 2015, Baker estreou no cinema no musical Nos bastidores da Fama, no papel de um rapper chamado Kid Culprit que humilha sua namorada pop star. “Eu sempre fui um cara que andava com a câmera onde quer que fosse”, contou, “por isso, acho que sempre quis fazer alguma coisa relacionada ao cinema”.

Atuou em vários papéis menores, em geral de vilão, mau caráter. Em 2016, depois de um telefonema exaltado para o diretor de casting, Crowe o contratou para Roadies.

No filme de terror Birdbox, da Netflix, fez o papel de outro sujeito desprezível, e apareceu a lado de Davidson em O Rei de Staten Island e Big Time Adolescence. No ano passado, co-estrelou The Dirt: Confissões do MötleyCrüe, filme biográfico sobre a banda Mötley Crüe, em que fez o papel de Tommy Lee, na maior parte, sem camisa.

Baker fez 30 anos na quarentena. Em geral, ele comemora com um evento digno do Grande Gatsby. Desta vez, ficou na maior parte em casa, e festejou com a banda.

“Estava realmente assustado com a possibilidade de ter uma sensação de vazio”, contou em uma entrevista por telefone em maio. “E, ironicamente, sentado na minha casa, em um clima mais calmo com os meus amigos mais próximos, foi a coisa que mais me deixou feliz”.

Seu vizinho, Jeff Lewis, que estrelava o programa reality sobre reformas, Flipping Out, se queixou de que foi bem mais barulhento do que calmo. “Havia pelo menos 14 pessoas, somente na entrada da garagem,” contou em seu show Sirius XM.

Nas últimas semanas, ele não hesitou em dar o seu apoio ao movimento Black Lives Matter, ao participar de uma manifestação em Los Angeles, segurando um cartaz com as palavras “Silence Is Betrayal” (Silêncio é traição) que postou no Instagram. Disse aos fãs racistas: “Não quero nada com o seu negócio”, e fez o cover Killing in the Name, da banda Rage Against the Machine, uma música de protesto sobre a brutalidade da polícia.

Será que agora ele se tornou o Machine Gun Kelly mais velho e mais maduro - um homem que se envolve em política, que pede desculpas aos vizinhos com champagne premium?

Não é bem assim. Enquanto faz palhaçadas e faz bolinhas de fumaça para a câmera, seu pai, com o qual ele se reconciliou recentemente, acaba de sair do hospital em Denver. (Nada a ver com covid-19).

“É um saco porque o que eu quero mesmo é gritar, chorar sentado no meu quarto, na esperança de que alguém venha me dizer que tudo vai dar certo”, ele disse.

Mas, acrescentou, o seu negócio é aguentar e mostrar o lado bom. Por isso, em vez de gritar, ele fica sentado no chão - no joelho que aparece pelo rasgo da calça mandou tatuar uma folha de maconha -tocando o hino adolescente Skater Boi, de Avril Lavigne, na guitarra elétrica, batendo a cabeça enquanto desliza os dedos para cima e para baixo no braço da guitarra.

Junto com os milhões de fãs, o pai o está observando.

“Ele está muito empolgado porque estou tocando guitarra agora. No outro dia, ele me telefonou e me disse que está realmente começando a gostar da minha música”, disse Baker. “Está super orgulhoso de mim”.

Há algumas semanas, postou um novo vídeo, uma compilação dos fãs fazendo suas próprias #LockdownSessions com Bloody Valentine usando as letras dele como trilha sonora para as suas paixões e confusões no lockdown. Ele falou: “Estou tentando dar às pessoas uma válvula de escape para sorrir nestes tempos difíceis”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

Poucos dias antes de Los Angeles ordenar que as pessoas permanecessem em suas casas, em março, Colson Baker, um rapper mais conhecido como Machine Gun Kelly (Metralhadora Kelly, em tradução livre), estava sentado no sofá com um violão acústico. Por baixo de sua camiseta branca, era possível ver suas tatuagens. A cabeleira despenteada aparecia em baixo do boné dos Cleveland Cavaliers.

“Querido”, ouviu-se a voz de uma mulher fora da câmera. “Estou surpresa de ver que está acordado”.

“Também estou surpreso de estar acordado”, ele disse.

Colson Baker é maisconhecido Machine Gun Kelly. Foto: Daniel Dorsa/The New York Times

Baker guarda outra surpresa. Acompanhado por um companheiro de banda, arrebentou em um vertiginoso cover instrumental de Misery Business, da banda Paramore, uma canção em que uma adolescente se gaba do rapaz que ela roubou. Ele carregou o vídeo no Instagram - a legenda diz: #LockdownSessions Day 1- e foi visto mais de 1,2 milhões de vezes.

Baker, 30 anos, se tornou conhecido por suas músicas rap-pop como Rap Devil, uma faixa corrosiva direcionado a Eminem (com letras do tipo: “Estou cheio desses agasalhos e desses bonés bregas”), e Hollywood Whore, música composta depois da fama que morde a mão das gravadoras que o alimentam.

Entretanto, sua música às vezes é superada pelas suas tolices dignas dos tabloides, como quando fumou um baseado com Pete Davidson na entrega do Globo de Ouro, e sua série de namoradas famosas, reais (Amber Rose, Sommer Ray) e, outras que não passam de boatos (Halsey, Noah Cyrus).

Seus álbuns competem com uma carreira florescente no cinema, inclusive, mais recentemente, O Rei de Staten Island, que tem roteiro de Davidson. Com um improvável jeito de queridinho da moda - cabelo loiro de anjo, olhar sonolento, altura de 1,93 -, já desfilou para John Varvatos e foi vestido por Berlutti e Balmain.

Mas no lockdown, com os sets de filmagem fechados e um guarda-roupa de canalha chique, as atenções se voltaram para a sua música. Bem, sua música e seu discutido relacionamento com a atriz Megan Fox.

Além do post da banda Paramore, Baker fez covers improvisados de Oasis, Rihanna e John Mayer. As músicas - uma miscelânea de pop, rap, coisa mais velhas, novidades - são quase tão hardcore quanto aqueles brinquedos de apertar.

Filmados em um iPhone em sua casa de estilo espanhol, com seis quartos, em San Fernando Valley, os vídeos compensam o que falta neles em inovação e refinamento com uma energia bizarra e sua intimidade entremeada por maconha. As #LockdownSessions atraíram nada menos que 26 milhões de visualizações para cada post (foram cerca de 20) e conseguiram chegar ao Top 10 Músicas da Semana do YouTube.

A gravadora disse a Baker que estes posts tirados da manga do agasalho renderam uma adesão on-line maior do que qualquer um dos seus vídeos gravados e editados por profissionais. Em vez de chamá-lo fake, mole, afetado, - os riscos ocupacionais dos rappers brancos, talvez - os fãs responderam com incontáveis emojis de coração e fogo, além de apelos para que ele publicasse as músicas no Spotify.

“Desde sempre fui um cara ansioso por respeito, desde que era o único branco em um grupo de rap batalhando por um nome”, ele disse. “Se isto não revela a pessoa super insegura que está dentro de mim, tipo: ‘Seja você mesmo, e tudo estará bem’, não sei o que mais poderia”.

Baseados do tamanho de ‘cannoli’

A separação entre Baker, o chapado introspectivo, e Machine Gun Kelly, o demônio do rap, ficou clarano início de março, quando Baker passou algumas noites em Nova York promovendo Big Time Adolescence, filme estrelado por Pete Davidson, em que ele tem um papel secundário.

Horas antes de tomar o avião para Cleveland, onde assistiria ao jogo de vôlei da filha de 10 anos, ele fez uma parada em La Biblioteca, um bar de tequila meio clandestino perto do Grand Central Terminal, para umas doses de mezcal. “Estou muito animado e numa vibe”, disse ao barista.

Na ocasião, usava um trench coat de couro, calças de couro, uma camiseta rasgada - o traje do rebelde da alta moda. Com um emaranhado de correntes no pescoço e pérolas saltando de um bolso, ele parecia um cantor de coral bem alto que se revoltou.

Na rua, ele havia fumado um baseado do tamanho de um ‘cannoli’. No bar, tomou cinco doses de mezcal, uma delas com um escorpião dentro. Depois pediu uma cerveja.

“Será que vão deixá-lo tomar o avião?”, perguntou um sujeito da publicidade. Apoiado para trás em uma cadeira alta com o pé na mesa, os olhos de Baker ficaram embaçados e ele começou a falar arrastado. Falou do seu álbum. Tickets to My Downfall, com lançamento em julho, que se afasta do rap e ruma para o pop-punk, o que ele considera um progresso. “Levei dez anos para evoluir para este som”, afirmou.

Baker chegou à conclusão de que não queria mais que o chamassem Machine Gun Kelly, pelo menos não em todo lugar ou o tempo todo. Em 2106, o diretor Cameron Crowse o encorajou a usar o seu nome de nascimento em Roadies, um seriado da Showtime, em que faz o papel de roadie e, ocasionalmente, barista, para uma banda de rock em turnê. No ano passado, começou a pedir aos amigos que o chamassem de “Colson”.

“As pessoas perguntavam: ‘Você tem um nome!?’ E eu: ‘É, engraçado, não?’ ”

Potencial

Baker, filho de missionários, teve uma infância itinerante: Texas, Quênia, Egito. Depois que sua mãe abandonou a família, ele e o pai se estabelecerem inicialmente em Denver e depois em Cleveland.

Aos 11 anos - magricela, alvo de bullying - Baker descobriu o rap, e trabalhou com suas criações ao longo de toda a sua adolescência. “Eu estava sempre perambulando pelos corredores fazendo rap para qualquer um”, lembra. Ele falava para os amigos que um dia apareceria nos maiores palcos, que outras pessoas iriam cantar suas letras.

“Eles falavam: Cara, cala a boca. Estamos na aula de matemática - em Cleveland”, contou.

Trabalhando em uma loja de camisetas pintadas com aerógrafo no shopping, ele era o mestre de cerimôniaspara quem quisesse ouvir e lançou uma série de fitas inquietas, uma mistura de tirar o fôlego que atraiu ouvintes locais. Aos 19 anos, tornou-se o pai de Casie, a filha que teve com Emma Cannon, sua namorada na época.

Além da música, Colson Baker também se aventura pelo cinema e é visto como um artista versátil. Foto: Daniel Dorsa/The New York Times

Em 2011, depois de uma apresentação no festival SXSW, Sean Combs quis conhecê-lo e o contratou para gravar para a Bad Boy Records. No ano seguinte, lançou seu álbum de estreia com um selo importante, Lace up, com um single bastante presunçoso, Wild Boy.

“Ele consegue fazer trap music pornográfica ou uma canção rap cheia de emoção que faz a gente chorar”, disse Combs. “É um sujeito que um dia poderá ganhar o EGOT (Emmy, Grammy, Oscar, Tony) com seu próprio trabalho. Ele é incrivelmente versátil”.

Antes de lançar o segundo álbum, General Admission, em 2015, Baker estreou no cinema no musical Nos bastidores da Fama, no papel de um rapper chamado Kid Culprit que humilha sua namorada pop star. “Eu sempre fui um cara que andava com a câmera onde quer que fosse”, contou, “por isso, acho que sempre quis fazer alguma coisa relacionada ao cinema”.

Atuou em vários papéis menores, em geral de vilão, mau caráter. Em 2016, depois de um telefonema exaltado para o diretor de casting, Crowe o contratou para Roadies.

No filme de terror Birdbox, da Netflix, fez o papel de outro sujeito desprezível, e apareceu a lado de Davidson em O Rei de Staten Island e Big Time Adolescence. No ano passado, co-estrelou The Dirt: Confissões do MötleyCrüe, filme biográfico sobre a banda Mötley Crüe, em que fez o papel de Tommy Lee, na maior parte, sem camisa.

Baker fez 30 anos na quarentena. Em geral, ele comemora com um evento digno do Grande Gatsby. Desta vez, ficou na maior parte em casa, e festejou com a banda.

“Estava realmente assustado com a possibilidade de ter uma sensação de vazio”, contou em uma entrevista por telefone em maio. “E, ironicamente, sentado na minha casa, em um clima mais calmo com os meus amigos mais próximos, foi a coisa que mais me deixou feliz”.

Seu vizinho, Jeff Lewis, que estrelava o programa reality sobre reformas, Flipping Out, se queixou de que foi bem mais barulhento do que calmo. “Havia pelo menos 14 pessoas, somente na entrada da garagem,” contou em seu show Sirius XM.

Nas últimas semanas, ele não hesitou em dar o seu apoio ao movimento Black Lives Matter, ao participar de uma manifestação em Los Angeles, segurando um cartaz com as palavras “Silence Is Betrayal” (Silêncio é traição) que postou no Instagram. Disse aos fãs racistas: “Não quero nada com o seu negócio”, e fez o cover Killing in the Name, da banda Rage Against the Machine, uma música de protesto sobre a brutalidade da polícia.

Será que agora ele se tornou o Machine Gun Kelly mais velho e mais maduro - um homem que se envolve em política, que pede desculpas aos vizinhos com champagne premium?

Não é bem assim. Enquanto faz palhaçadas e faz bolinhas de fumaça para a câmera, seu pai, com o qual ele se reconciliou recentemente, acaba de sair do hospital em Denver. (Nada a ver com covid-19).

“É um saco porque o que eu quero mesmo é gritar, chorar sentado no meu quarto, na esperança de que alguém venha me dizer que tudo vai dar certo”, ele disse.

Mas, acrescentou, o seu negócio é aguentar e mostrar o lado bom. Por isso, em vez de gritar, ele fica sentado no chão - no joelho que aparece pelo rasgo da calça mandou tatuar uma folha de maconha -tocando o hino adolescente Skater Boi, de Avril Lavigne, na guitarra elétrica, batendo a cabeça enquanto desliza os dedos para cima e para baixo no braço da guitarra.

Junto com os milhões de fãs, o pai o está observando.

“Ele está muito empolgado porque estou tocando guitarra agora. No outro dia, ele me telefonou e me disse que está realmente começando a gostar da minha música”, disse Baker. “Está super orgulhoso de mim”.

Há algumas semanas, postou um novo vídeo, uma compilação dos fãs fazendo suas próprias #LockdownSessions com Bloody Valentine usando as letras dele como trilha sonora para as suas paixões e confusões no lockdown. Ele falou: “Estou tentando dar às pessoas uma válvula de escape para sorrir nestes tempos difíceis”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times.

Poucos dias antes de Los Angeles ordenar que as pessoas permanecessem em suas casas, em março, Colson Baker, um rapper mais conhecido como Machine Gun Kelly (Metralhadora Kelly, em tradução livre), estava sentado no sofá com um violão acústico. Por baixo de sua camiseta branca, era possível ver suas tatuagens. A cabeleira despenteada aparecia em baixo do boné dos Cleveland Cavaliers.

“Querido”, ouviu-se a voz de uma mulher fora da câmera. “Estou surpresa de ver que está acordado”.

“Também estou surpreso de estar acordado”, ele disse.

Colson Baker é maisconhecido Machine Gun Kelly. Foto: Daniel Dorsa/The New York Times

Baker guarda outra surpresa. Acompanhado por um companheiro de banda, arrebentou em um vertiginoso cover instrumental de Misery Business, da banda Paramore, uma canção em que uma adolescente se gaba do rapaz que ela roubou. Ele carregou o vídeo no Instagram - a legenda diz: #LockdownSessions Day 1- e foi visto mais de 1,2 milhões de vezes.

Baker, 30 anos, se tornou conhecido por suas músicas rap-pop como Rap Devil, uma faixa corrosiva direcionado a Eminem (com letras do tipo: “Estou cheio desses agasalhos e desses bonés bregas”), e Hollywood Whore, música composta depois da fama que morde a mão das gravadoras que o alimentam.

Entretanto, sua música às vezes é superada pelas suas tolices dignas dos tabloides, como quando fumou um baseado com Pete Davidson na entrega do Globo de Ouro, e sua série de namoradas famosas, reais (Amber Rose, Sommer Ray) e, outras que não passam de boatos (Halsey, Noah Cyrus).

Seus álbuns competem com uma carreira florescente no cinema, inclusive, mais recentemente, O Rei de Staten Island, que tem roteiro de Davidson. Com um improvável jeito de queridinho da moda - cabelo loiro de anjo, olhar sonolento, altura de 1,93 -, já desfilou para John Varvatos e foi vestido por Berlutti e Balmain.

Mas no lockdown, com os sets de filmagem fechados e um guarda-roupa de canalha chique, as atenções se voltaram para a sua música. Bem, sua música e seu discutido relacionamento com a atriz Megan Fox.

Além do post da banda Paramore, Baker fez covers improvisados de Oasis, Rihanna e John Mayer. As músicas - uma miscelânea de pop, rap, coisa mais velhas, novidades - são quase tão hardcore quanto aqueles brinquedos de apertar.

Filmados em um iPhone em sua casa de estilo espanhol, com seis quartos, em San Fernando Valley, os vídeos compensam o que falta neles em inovação e refinamento com uma energia bizarra e sua intimidade entremeada por maconha. As #LockdownSessions atraíram nada menos que 26 milhões de visualizações para cada post (foram cerca de 20) e conseguiram chegar ao Top 10 Músicas da Semana do YouTube.

A gravadora disse a Baker que estes posts tirados da manga do agasalho renderam uma adesão on-line maior do que qualquer um dos seus vídeos gravados e editados por profissionais. Em vez de chamá-lo fake, mole, afetado, - os riscos ocupacionais dos rappers brancos, talvez - os fãs responderam com incontáveis emojis de coração e fogo, além de apelos para que ele publicasse as músicas no Spotify.

“Desde sempre fui um cara ansioso por respeito, desde que era o único branco em um grupo de rap batalhando por um nome”, ele disse. “Se isto não revela a pessoa super insegura que está dentro de mim, tipo: ‘Seja você mesmo, e tudo estará bem’, não sei o que mais poderia”.

Baseados do tamanho de ‘cannoli’

A separação entre Baker, o chapado introspectivo, e Machine Gun Kelly, o demônio do rap, ficou clarano início de março, quando Baker passou algumas noites em Nova York promovendo Big Time Adolescence, filme estrelado por Pete Davidson, em que ele tem um papel secundário.

Horas antes de tomar o avião para Cleveland, onde assistiria ao jogo de vôlei da filha de 10 anos, ele fez uma parada em La Biblioteca, um bar de tequila meio clandestino perto do Grand Central Terminal, para umas doses de mezcal. “Estou muito animado e numa vibe”, disse ao barista.

Na ocasião, usava um trench coat de couro, calças de couro, uma camiseta rasgada - o traje do rebelde da alta moda. Com um emaranhado de correntes no pescoço e pérolas saltando de um bolso, ele parecia um cantor de coral bem alto que se revoltou.

Na rua, ele havia fumado um baseado do tamanho de um ‘cannoli’. No bar, tomou cinco doses de mezcal, uma delas com um escorpião dentro. Depois pediu uma cerveja.

“Será que vão deixá-lo tomar o avião?”, perguntou um sujeito da publicidade. Apoiado para trás em uma cadeira alta com o pé na mesa, os olhos de Baker ficaram embaçados e ele começou a falar arrastado. Falou do seu álbum. Tickets to My Downfall, com lançamento em julho, que se afasta do rap e ruma para o pop-punk, o que ele considera um progresso. “Levei dez anos para evoluir para este som”, afirmou.

Baker chegou à conclusão de que não queria mais que o chamassem Machine Gun Kelly, pelo menos não em todo lugar ou o tempo todo. Em 2106, o diretor Cameron Crowse o encorajou a usar o seu nome de nascimento em Roadies, um seriado da Showtime, em que faz o papel de roadie e, ocasionalmente, barista, para uma banda de rock em turnê. No ano passado, começou a pedir aos amigos que o chamassem de “Colson”.

“As pessoas perguntavam: ‘Você tem um nome!?’ E eu: ‘É, engraçado, não?’ ”

Potencial

Baker, filho de missionários, teve uma infância itinerante: Texas, Quênia, Egito. Depois que sua mãe abandonou a família, ele e o pai se estabelecerem inicialmente em Denver e depois em Cleveland.

Aos 11 anos - magricela, alvo de bullying - Baker descobriu o rap, e trabalhou com suas criações ao longo de toda a sua adolescência. “Eu estava sempre perambulando pelos corredores fazendo rap para qualquer um”, lembra. Ele falava para os amigos que um dia apareceria nos maiores palcos, que outras pessoas iriam cantar suas letras.

“Eles falavam: Cara, cala a boca. Estamos na aula de matemática - em Cleveland”, contou.

Trabalhando em uma loja de camisetas pintadas com aerógrafo no shopping, ele era o mestre de cerimôniaspara quem quisesse ouvir e lançou uma série de fitas inquietas, uma mistura de tirar o fôlego que atraiu ouvintes locais. Aos 19 anos, tornou-se o pai de Casie, a filha que teve com Emma Cannon, sua namorada na época.

Além da música, Colson Baker também se aventura pelo cinema e é visto como um artista versátil. Foto: Daniel Dorsa/The New York Times

Em 2011, depois de uma apresentação no festival SXSW, Sean Combs quis conhecê-lo e o contratou para gravar para a Bad Boy Records. No ano seguinte, lançou seu álbum de estreia com um selo importante, Lace up, com um single bastante presunçoso, Wild Boy.

“Ele consegue fazer trap music pornográfica ou uma canção rap cheia de emoção que faz a gente chorar”, disse Combs. “É um sujeito que um dia poderá ganhar o EGOT (Emmy, Grammy, Oscar, Tony) com seu próprio trabalho. Ele é incrivelmente versátil”.

Antes de lançar o segundo álbum, General Admission, em 2015, Baker estreou no cinema no musical Nos bastidores da Fama, no papel de um rapper chamado Kid Culprit que humilha sua namorada pop star. “Eu sempre fui um cara que andava com a câmera onde quer que fosse”, contou, “por isso, acho que sempre quis fazer alguma coisa relacionada ao cinema”.

Atuou em vários papéis menores, em geral de vilão, mau caráter. Em 2016, depois de um telefonema exaltado para o diretor de casting, Crowe o contratou para Roadies.

No filme de terror Birdbox, da Netflix, fez o papel de outro sujeito desprezível, e apareceu a lado de Davidson em O Rei de Staten Island e Big Time Adolescence. No ano passado, co-estrelou The Dirt: Confissões do MötleyCrüe, filme biográfico sobre a banda Mötley Crüe, em que fez o papel de Tommy Lee, na maior parte, sem camisa.

Baker fez 30 anos na quarentena. Em geral, ele comemora com um evento digno do Grande Gatsby. Desta vez, ficou na maior parte em casa, e festejou com a banda.

“Estava realmente assustado com a possibilidade de ter uma sensação de vazio”, contou em uma entrevista por telefone em maio. “E, ironicamente, sentado na minha casa, em um clima mais calmo com os meus amigos mais próximos, foi a coisa que mais me deixou feliz”.

Seu vizinho, Jeff Lewis, que estrelava o programa reality sobre reformas, Flipping Out, se queixou de que foi bem mais barulhento do que calmo. “Havia pelo menos 14 pessoas, somente na entrada da garagem,” contou em seu show Sirius XM.

Nas últimas semanas, ele não hesitou em dar o seu apoio ao movimento Black Lives Matter, ao participar de uma manifestação em Los Angeles, segurando um cartaz com as palavras “Silence Is Betrayal” (Silêncio é traição) que postou no Instagram. Disse aos fãs racistas: “Não quero nada com o seu negócio”, e fez o cover Killing in the Name, da banda Rage Against the Machine, uma música de protesto sobre a brutalidade da polícia.

Será que agora ele se tornou o Machine Gun Kelly mais velho e mais maduro - um homem que se envolve em política, que pede desculpas aos vizinhos com champagne premium?

Não é bem assim. Enquanto faz palhaçadas e faz bolinhas de fumaça para a câmera, seu pai, com o qual ele se reconciliou recentemente, acaba de sair do hospital em Denver. (Nada a ver com covid-19).

“É um saco porque o que eu quero mesmo é gritar, chorar sentado no meu quarto, na esperança de que alguém venha me dizer que tudo vai dar certo”, ele disse.

Mas, acrescentou, o seu negócio é aguentar e mostrar o lado bom. Por isso, em vez de gritar, ele fica sentado no chão - no joelho que aparece pelo rasgo da calça mandou tatuar uma folha de maconha -tocando o hino adolescente Skater Boi, de Avril Lavigne, na guitarra elétrica, batendo a cabeça enquanto desliza os dedos para cima e para baixo no braço da guitarra.

Junto com os milhões de fãs, o pai o está observando.

“Ele está muito empolgado porque estou tocando guitarra agora. No outro dia, ele me telefonou e me disse que está realmente começando a gostar da minha música”, disse Baker. “Está super orgulhoso de mim”.

Há algumas semanas, postou um novo vídeo, uma compilação dos fãs fazendo suas próprias #LockdownSessions com Bloody Valentine usando as letras dele como trilha sonora para as suas paixões e confusões no lockdown. Ele falou: “Estou tentando dar às pessoas uma válvula de escape para sorrir nestes tempos difíceis”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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