A briga pelo cliente entre startups de entrega rápida de alimentos


O mais novo achado do capital de risco é a indústria de entregas rápidas online de gêneros alimentícios. A Getir, uma empresa turca fundada há seis anos, tenta superar seus novos concorrentes expandindo-se mundialmente

Por Eshe Nelson

LONDRES – Ziguezagueando pelo centro de Londres, entre as bicicletas e as scooters da UberEats, Just Eat e Deliveroo, há uma nova empresa que acaba de entrar prometendo satisfação quase instantânea para o seu desejo de uma barra de chocolate ou uma porção de sorvete: a Getir, uma empresa turca que afirma entregar os produtos solicitados em 10 minutos.

A velocidade das entregas da Getir, de uma rede de depósitos no bairro, se equipara ao ritmo espantoso da recente expansão da companhia. Depois de cinco anos e meio trabalhando com o modelo do qual é pioneira na Turquia, de repente, este ano, ela se instalou em seis países europeus, comprou uma concorrente e, até o final de 2021, espera estar em pelo menos três cidades americanas, incluindo Nova York. Em apenas seis meses, a Getir captou cerca de US$ 1 bilhão para alimentar esta explosão.

Um entregador da Getir se encontra com um cliente em Londres. Foto: Suzie Howell/The New York Times
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“Nós aceleramos os nossos planos de ir para outros países porque se não fizermos isso, outras farão”, disse Nazim Salur, um dos fundadores da Getir (em turco, a palavra significa “levar”). “É uma corrida contra o tempo”.

Salur tem razão de estar sempre espiando o que vem atrás. Somente em Londres, cinco novas empresas de entregas de produtos alimentícios tomaram as ruas no ano que passou, ou quase. A Glovo, uma empresa espanhola aberta há seis anos, captou mais de meio bilhão de dólares em abril, apenas um mês depois de a Gopuff, de Filadélfia, captar US$ 1,5 bilhão de investidores, entre eles o Vision Fund do SoftBank.

Fechadas em casa durante meses na pandemia, milhões de pessoas começaram a usar esse serviço de entregas. Os pedidos de muitas coisas, como vinho, café, flores e macarrão, aumentaram consideravelmente. Os investidores aproveitaram o momento e estão apoiando companhias que entregam tudo o que uma pessoa possa desejar, não só logo, mas no prazo de minutos, sejam fraldas para bebês, pizza congelada ou uma garrafa de champagne gelado.

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As entregas rápidas de produtos alimentícios são o próximo passo na onda do luxo subsidiado pelo capital de risco servindo uma geração acostumada a pedir serviços de táxi em minutos, veraneando em lugares baratos graças ao Airbnb e desse modo desfrutando ainda mais de todo a diversão disponível ‘on demand’.

“Isso não é apenas para os ricos, os que têm dinheiro para gastar”, disse Salur. “ É acessível”, acrescentou. 

O caminho para a lucratividade andou bem difícil no setor de entregas de alimentos. Mas isso não fez com que os capitalistas de risco deixassem de investir cerca de US$ 14 bilhões em empresas online de entrega de produtos alimentícios desde o início de 2020, segundo dados da PitchBook. Somente este ano, a Getir concluiu três rodadas de financiamento.

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Os funcionários da loja Getir coletam pedidos usando um aplicativo em um depósito em Londres. Foto: Suzie Howell/The New York Times

A empresa é lucrativa? “Sim e não”, disse Salur. Depois de um ano ou dois, um bairro pode ser lucrativo, afirmou, o que não significa que a companhia como um todo já tenha sido lucrativa.

Alex Frederick, um analisa da PitchBook que estuda o setor de tecnologia de alimentos, disse que esta indústria parecia caminhar para um período de escalada relâmpago, 'blitzscaling’, termo cunhado por Reid Hoffman, que ajudou a construir a PayPal e fundou o LinkedIn, para descrever uma empresa que corre para servir uma base global de clientes antes de qualquer um dos seus concorrentes. E neste momento, há muita concorrência sem muita variação entre as companhias, acrescentou Frederick.

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“É uma corrida para conseguir uma fatia de mercado às custas da lucratividade”.

O empreendedorismo é uma decisão que apareceu tardiamente em sua carreira para Salur, 59 anos, depois de anos vendendo plantas industriais fechadas. Desde então, ele se concentra na velocidade e na logística urbanas. Fundou a Getir em Istambul em 2015 com dois outros investidores, três anos depois de criar um aplicativo de serviço de táxi que levava os carros até as pessoas em três minutos. Em março, quando a Getir captou US$ 300 milhões, fazendo com que o valor de mercado da empresa chegasse a US$ 2,6 bilhões, ela se tornou o segundo unicórnio da Turquia, termo usado para definir uma companhia avaliada em mais de U$ 1 milhão. Hoje, ela vale US$ 7,5 bilhões.

No início, a Getir tentou duas maneiras para chegar ao seu objetivo de 10 minutos. A primeira: ela armazenava de 300 a 400 ofertas da empresa em vans que estavam sempre em movimento. Mas os clientes pediam mais produtos do que as vans podiam acomodar (a empresa agora imagina que o número ótimo seja cerca de 1.500 itens). As entregas por vans foram eliminadas.

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Foi escolhida a segunda opção: entregas por bicicletas elétricas ou ciclomotores de uma série das chamadas lojas escuras, usadas somente para armazenamento – um híbrido de depósito e pequeno supermercado sem clientes – com corredores estreitos ladeados por prateleiras com os itens estocados. Em Londres, a Getir tem mais de 30 destas lojas, e começou a fazer entregas em Manchester e Birmingham. Na Grã-Bretanha, ela está abrindo cerca de 10 lojas por mês e espera ter 100 até o final do ano.Mais clientes significam mais lojas, não lojas maiores, segundo Salur.

Entregadores da Getir em Londres. Foto: Suzie Howell/The New York Times

O desafio é encontrar os imóveis – eles devem ficar próximos das casas das pessoas – e depois tratar com as diferentes autoridades locais. Por exemplo, Londres é dividida em 33 conselhos, cada um dos quais emite licenças e planeja as decisões.

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Em Battersea, no sudoeste da Londres, Vito Parrinello, gerente de várias lojas escuras que até pouco tempo atrás administrava restaurantes italianos, determinou que os entregadores não devem incomodar os seus novos vizinhos. A loja escura está localizada embaixo deuma ponte ferroviária, atrás de um novo conjunto de prédios de apartamentos. De cada lado das bicicletas elétricas à espera de uma viagem há avisos que dizem “Sem Fumar, Sem Gritar, Sem Música Alta”.

No seu interior, ouve-se o som intermitente de uma campainha que avisa a equipe da chegada de um pedido. Um funcionário que atua como selecionador pega um cesto, coleta os artigos e os empacota em sacos para o entregador. Em uma parede, há uma fileira de refrigeradores, um deles com um estoque exclusivamente de champagne. A qualquer momento, dois ou três selecionadores percorrem os corredores, e em Battersea, a atmosfera é calma e silenciosa enquanto os seus movimentos estão sendo medidos em termos de segundos. Recentemente, o tempo médio que leva para embalar uma encomenda foi de 103 segundos.

Reduzir os segundos para uma entrega exige muita eficiência nas lojas – ela não pode depender dos entregadores correndo para atender o cliente, disse Parrinello. “Não quero que eles sequer sintam a pressão correndo pelas ruas”, acrescentou.

A maioria dos funcionários da Getir, na empresa como um todo, são empregados em horário integral com férias pagas e aposentadoria porque a companhia evitou o modelo econômico do horário flexível, que provocou processos trabalhistas para empresas como Uber e Deliveroo. Mas oferece contratos para pessoas que queiram flexibilidade ou que procuram um emprego a curto prazo.

“Existe a ideia de que se este trabalho não é por contrato, não pode funcionar”, disse Salur. “Eu peço que diferenciem, então funcionará”. E acrescentou: “Quando você olha as cadeias de supermercados, todas essas outras empresas, elas empregam pessoas e não vão à falência”.

Contratar funcionários em lugar de colaboradores gera lealdade, mas tem o seu custo.

A Getir compra os seus produtos de atacadistas e depois cobra de 5% a 8% a mais do que os preços de um grande supermercado. Fundamentalmente, os preços não são muito mais caros do que os das pequenas lojas de conveniência.

Na Turquia, 95% das lojas escuras são franquias de propriedade independente, disse Salur. Ele acha que este sistema produz gerentes melhores. Trata-se de um modelo que a Getir poderá levar para os seus novos mercados quando estiver mais estabelecida.

Mas este foi um ano de trabalho intenso. Até 2021, a Getir operava somente na Turquia. Este ano, além das cidades na Inglaterra, a Getir foi implantada em Amsterdã, Paris e Berlim. No início de julho, ela fez a sua primeira aquisição: a Blok, outra empresa de entrega de produtos alimentícios, que operava na Espanha e na Itália. A empresa havia sido fundada apenas cinco meses antes.

“É crescimento, crescimento, crescimento”, disse Salur. “É o que respiramos neste momento”.

Este artigo foi publicado originalmente no jornal “The New York Times”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

LONDRES – Ziguezagueando pelo centro de Londres, entre as bicicletas e as scooters da UberEats, Just Eat e Deliveroo, há uma nova empresa que acaba de entrar prometendo satisfação quase instantânea para o seu desejo de uma barra de chocolate ou uma porção de sorvete: a Getir, uma empresa turca que afirma entregar os produtos solicitados em 10 minutos.

A velocidade das entregas da Getir, de uma rede de depósitos no bairro, se equipara ao ritmo espantoso da recente expansão da companhia. Depois de cinco anos e meio trabalhando com o modelo do qual é pioneira na Turquia, de repente, este ano, ela se instalou em seis países europeus, comprou uma concorrente e, até o final de 2021, espera estar em pelo menos três cidades americanas, incluindo Nova York. Em apenas seis meses, a Getir captou cerca de US$ 1 bilhão para alimentar esta explosão.

Um entregador da Getir se encontra com um cliente em Londres. Foto: Suzie Howell/The New York Times

“Nós aceleramos os nossos planos de ir para outros países porque se não fizermos isso, outras farão”, disse Nazim Salur, um dos fundadores da Getir (em turco, a palavra significa “levar”). “É uma corrida contra o tempo”.

Salur tem razão de estar sempre espiando o que vem atrás. Somente em Londres, cinco novas empresas de entregas de produtos alimentícios tomaram as ruas no ano que passou, ou quase. A Glovo, uma empresa espanhola aberta há seis anos, captou mais de meio bilhão de dólares em abril, apenas um mês depois de a Gopuff, de Filadélfia, captar US$ 1,5 bilhão de investidores, entre eles o Vision Fund do SoftBank.

Fechadas em casa durante meses na pandemia, milhões de pessoas começaram a usar esse serviço de entregas. Os pedidos de muitas coisas, como vinho, café, flores e macarrão, aumentaram consideravelmente. Os investidores aproveitaram o momento e estão apoiando companhias que entregam tudo o que uma pessoa possa desejar, não só logo, mas no prazo de minutos, sejam fraldas para bebês, pizza congelada ou uma garrafa de champagne gelado.

As entregas rápidas de produtos alimentícios são o próximo passo na onda do luxo subsidiado pelo capital de risco servindo uma geração acostumada a pedir serviços de táxi em minutos, veraneando em lugares baratos graças ao Airbnb e desse modo desfrutando ainda mais de todo a diversão disponível ‘on demand’.

“Isso não é apenas para os ricos, os que têm dinheiro para gastar”, disse Salur. “ É acessível”, acrescentou. 

O caminho para a lucratividade andou bem difícil no setor de entregas de alimentos. Mas isso não fez com que os capitalistas de risco deixassem de investir cerca de US$ 14 bilhões em empresas online de entrega de produtos alimentícios desde o início de 2020, segundo dados da PitchBook. Somente este ano, a Getir concluiu três rodadas de financiamento.

Os funcionários da loja Getir coletam pedidos usando um aplicativo em um depósito em Londres. Foto: Suzie Howell/The New York Times

A empresa é lucrativa? “Sim e não”, disse Salur. Depois de um ano ou dois, um bairro pode ser lucrativo, afirmou, o que não significa que a companhia como um todo já tenha sido lucrativa.

Alex Frederick, um analisa da PitchBook que estuda o setor de tecnologia de alimentos, disse que esta indústria parecia caminhar para um período de escalada relâmpago, 'blitzscaling’, termo cunhado por Reid Hoffman, que ajudou a construir a PayPal e fundou o LinkedIn, para descrever uma empresa que corre para servir uma base global de clientes antes de qualquer um dos seus concorrentes. E neste momento, há muita concorrência sem muita variação entre as companhias, acrescentou Frederick.

“É uma corrida para conseguir uma fatia de mercado às custas da lucratividade”.

O empreendedorismo é uma decisão que apareceu tardiamente em sua carreira para Salur, 59 anos, depois de anos vendendo plantas industriais fechadas. Desde então, ele se concentra na velocidade e na logística urbanas. Fundou a Getir em Istambul em 2015 com dois outros investidores, três anos depois de criar um aplicativo de serviço de táxi que levava os carros até as pessoas em três minutos. Em março, quando a Getir captou US$ 300 milhões, fazendo com que o valor de mercado da empresa chegasse a US$ 2,6 bilhões, ela se tornou o segundo unicórnio da Turquia, termo usado para definir uma companhia avaliada em mais de U$ 1 milhão. Hoje, ela vale US$ 7,5 bilhões.

No início, a Getir tentou duas maneiras para chegar ao seu objetivo de 10 minutos. A primeira: ela armazenava de 300 a 400 ofertas da empresa em vans que estavam sempre em movimento. Mas os clientes pediam mais produtos do que as vans podiam acomodar (a empresa agora imagina que o número ótimo seja cerca de 1.500 itens). As entregas por vans foram eliminadas.

Foi escolhida a segunda opção: entregas por bicicletas elétricas ou ciclomotores de uma série das chamadas lojas escuras, usadas somente para armazenamento – um híbrido de depósito e pequeno supermercado sem clientes – com corredores estreitos ladeados por prateleiras com os itens estocados. Em Londres, a Getir tem mais de 30 destas lojas, e começou a fazer entregas em Manchester e Birmingham. Na Grã-Bretanha, ela está abrindo cerca de 10 lojas por mês e espera ter 100 até o final do ano.Mais clientes significam mais lojas, não lojas maiores, segundo Salur.

Entregadores da Getir em Londres. Foto: Suzie Howell/The New York Times

O desafio é encontrar os imóveis – eles devem ficar próximos das casas das pessoas – e depois tratar com as diferentes autoridades locais. Por exemplo, Londres é dividida em 33 conselhos, cada um dos quais emite licenças e planeja as decisões.

Em Battersea, no sudoeste da Londres, Vito Parrinello, gerente de várias lojas escuras que até pouco tempo atrás administrava restaurantes italianos, determinou que os entregadores não devem incomodar os seus novos vizinhos. A loja escura está localizada embaixo deuma ponte ferroviária, atrás de um novo conjunto de prédios de apartamentos. De cada lado das bicicletas elétricas à espera de uma viagem há avisos que dizem “Sem Fumar, Sem Gritar, Sem Música Alta”.

No seu interior, ouve-se o som intermitente de uma campainha que avisa a equipe da chegada de um pedido. Um funcionário que atua como selecionador pega um cesto, coleta os artigos e os empacota em sacos para o entregador. Em uma parede, há uma fileira de refrigeradores, um deles com um estoque exclusivamente de champagne. A qualquer momento, dois ou três selecionadores percorrem os corredores, e em Battersea, a atmosfera é calma e silenciosa enquanto os seus movimentos estão sendo medidos em termos de segundos. Recentemente, o tempo médio que leva para embalar uma encomenda foi de 103 segundos.

Reduzir os segundos para uma entrega exige muita eficiência nas lojas – ela não pode depender dos entregadores correndo para atender o cliente, disse Parrinello. “Não quero que eles sequer sintam a pressão correndo pelas ruas”, acrescentou.

A maioria dos funcionários da Getir, na empresa como um todo, são empregados em horário integral com férias pagas e aposentadoria porque a companhia evitou o modelo econômico do horário flexível, que provocou processos trabalhistas para empresas como Uber e Deliveroo. Mas oferece contratos para pessoas que queiram flexibilidade ou que procuram um emprego a curto prazo.

“Existe a ideia de que se este trabalho não é por contrato, não pode funcionar”, disse Salur. “Eu peço que diferenciem, então funcionará”. E acrescentou: “Quando você olha as cadeias de supermercados, todas essas outras empresas, elas empregam pessoas e não vão à falência”.

Contratar funcionários em lugar de colaboradores gera lealdade, mas tem o seu custo.

A Getir compra os seus produtos de atacadistas e depois cobra de 5% a 8% a mais do que os preços de um grande supermercado. Fundamentalmente, os preços não são muito mais caros do que os das pequenas lojas de conveniência.

Na Turquia, 95% das lojas escuras são franquias de propriedade independente, disse Salur. Ele acha que este sistema produz gerentes melhores. Trata-se de um modelo que a Getir poderá levar para os seus novos mercados quando estiver mais estabelecida.

Mas este foi um ano de trabalho intenso. Até 2021, a Getir operava somente na Turquia. Este ano, além das cidades na Inglaterra, a Getir foi implantada em Amsterdã, Paris e Berlim. No início de julho, ela fez a sua primeira aquisição: a Blok, outra empresa de entrega de produtos alimentícios, que operava na Espanha e na Itália. A empresa havia sido fundada apenas cinco meses antes.

“É crescimento, crescimento, crescimento”, disse Salur. “É o que respiramos neste momento”.

Este artigo foi publicado originalmente no jornal “The New York Times”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

LONDRES – Ziguezagueando pelo centro de Londres, entre as bicicletas e as scooters da UberEats, Just Eat e Deliveroo, há uma nova empresa que acaba de entrar prometendo satisfação quase instantânea para o seu desejo de uma barra de chocolate ou uma porção de sorvete: a Getir, uma empresa turca que afirma entregar os produtos solicitados em 10 minutos.

A velocidade das entregas da Getir, de uma rede de depósitos no bairro, se equipara ao ritmo espantoso da recente expansão da companhia. Depois de cinco anos e meio trabalhando com o modelo do qual é pioneira na Turquia, de repente, este ano, ela se instalou em seis países europeus, comprou uma concorrente e, até o final de 2021, espera estar em pelo menos três cidades americanas, incluindo Nova York. Em apenas seis meses, a Getir captou cerca de US$ 1 bilhão para alimentar esta explosão.

Um entregador da Getir se encontra com um cliente em Londres. Foto: Suzie Howell/The New York Times

“Nós aceleramos os nossos planos de ir para outros países porque se não fizermos isso, outras farão”, disse Nazim Salur, um dos fundadores da Getir (em turco, a palavra significa “levar”). “É uma corrida contra o tempo”.

Salur tem razão de estar sempre espiando o que vem atrás. Somente em Londres, cinco novas empresas de entregas de produtos alimentícios tomaram as ruas no ano que passou, ou quase. A Glovo, uma empresa espanhola aberta há seis anos, captou mais de meio bilhão de dólares em abril, apenas um mês depois de a Gopuff, de Filadélfia, captar US$ 1,5 bilhão de investidores, entre eles o Vision Fund do SoftBank.

Fechadas em casa durante meses na pandemia, milhões de pessoas começaram a usar esse serviço de entregas. Os pedidos de muitas coisas, como vinho, café, flores e macarrão, aumentaram consideravelmente. Os investidores aproveitaram o momento e estão apoiando companhias que entregam tudo o que uma pessoa possa desejar, não só logo, mas no prazo de minutos, sejam fraldas para bebês, pizza congelada ou uma garrafa de champagne gelado.

As entregas rápidas de produtos alimentícios são o próximo passo na onda do luxo subsidiado pelo capital de risco servindo uma geração acostumada a pedir serviços de táxi em minutos, veraneando em lugares baratos graças ao Airbnb e desse modo desfrutando ainda mais de todo a diversão disponível ‘on demand’.

“Isso não é apenas para os ricos, os que têm dinheiro para gastar”, disse Salur. “ É acessível”, acrescentou. 

O caminho para a lucratividade andou bem difícil no setor de entregas de alimentos. Mas isso não fez com que os capitalistas de risco deixassem de investir cerca de US$ 14 bilhões em empresas online de entrega de produtos alimentícios desde o início de 2020, segundo dados da PitchBook. Somente este ano, a Getir concluiu três rodadas de financiamento.

Os funcionários da loja Getir coletam pedidos usando um aplicativo em um depósito em Londres. Foto: Suzie Howell/The New York Times

A empresa é lucrativa? “Sim e não”, disse Salur. Depois de um ano ou dois, um bairro pode ser lucrativo, afirmou, o que não significa que a companhia como um todo já tenha sido lucrativa.

Alex Frederick, um analisa da PitchBook que estuda o setor de tecnologia de alimentos, disse que esta indústria parecia caminhar para um período de escalada relâmpago, 'blitzscaling’, termo cunhado por Reid Hoffman, que ajudou a construir a PayPal e fundou o LinkedIn, para descrever uma empresa que corre para servir uma base global de clientes antes de qualquer um dos seus concorrentes. E neste momento, há muita concorrência sem muita variação entre as companhias, acrescentou Frederick.

“É uma corrida para conseguir uma fatia de mercado às custas da lucratividade”.

O empreendedorismo é uma decisão que apareceu tardiamente em sua carreira para Salur, 59 anos, depois de anos vendendo plantas industriais fechadas. Desde então, ele se concentra na velocidade e na logística urbanas. Fundou a Getir em Istambul em 2015 com dois outros investidores, três anos depois de criar um aplicativo de serviço de táxi que levava os carros até as pessoas em três minutos. Em março, quando a Getir captou US$ 300 milhões, fazendo com que o valor de mercado da empresa chegasse a US$ 2,6 bilhões, ela se tornou o segundo unicórnio da Turquia, termo usado para definir uma companhia avaliada em mais de U$ 1 milhão. Hoje, ela vale US$ 7,5 bilhões.

No início, a Getir tentou duas maneiras para chegar ao seu objetivo de 10 minutos. A primeira: ela armazenava de 300 a 400 ofertas da empresa em vans que estavam sempre em movimento. Mas os clientes pediam mais produtos do que as vans podiam acomodar (a empresa agora imagina que o número ótimo seja cerca de 1.500 itens). As entregas por vans foram eliminadas.

Foi escolhida a segunda opção: entregas por bicicletas elétricas ou ciclomotores de uma série das chamadas lojas escuras, usadas somente para armazenamento – um híbrido de depósito e pequeno supermercado sem clientes – com corredores estreitos ladeados por prateleiras com os itens estocados. Em Londres, a Getir tem mais de 30 destas lojas, e começou a fazer entregas em Manchester e Birmingham. Na Grã-Bretanha, ela está abrindo cerca de 10 lojas por mês e espera ter 100 até o final do ano.Mais clientes significam mais lojas, não lojas maiores, segundo Salur.

Entregadores da Getir em Londres. Foto: Suzie Howell/The New York Times

O desafio é encontrar os imóveis – eles devem ficar próximos das casas das pessoas – e depois tratar com as diferentes autoridades locais. Por exemplo, Londres é dividida em 33 conselhos, cada um dos quais emite licenças e planeja as decisões.

Em Battersea, no sudoeste da Londres, Vito Parrinello, gerente de várias lojas escuras que até pouco tempo atrás administrava restaurantes italianos, determinou que os entregadores não devem incomodar os seus novos vizinhos. A loja escura está localizada embaixo deuma ponte ferroviária, atrás de um novo conjunto de prédios de apartamentos. De cada lado das bicicletas elétricas à espera de uma viagem há avisos que dizem “Sem Fumar, Sem Gritar, Sem Música Alta”.

No seu interior, ouve-se o som intermitente de uma campainha que avisa a equipe da chegada de um pedido. Um funcionário que atua como selecionador pega um cesto, coleta os artigos e os empacota em sacos para o entregador. Em uma parede, há uma fileira de refrigeradores, um deles com um estoque exclusivamente de champagne. A qualquer momento, dois ou três selecionadores percorrem os corredores, e em Battersea, a atmosfera é calma e silenciosa enquanto os seus movimentos estão sendo medidos em termos de segundos. Recentemente, o tempo médio que leva para embalar uma encomenda foi de 103 segundos.

Reduzir os segundos para uma entrega exige muita eficiência nas lojas – ela não pode depender dos entregadores correndo para atender o cliente, disse Parrinello. “Não quero que eles sequer sintam a pressão correndo pelas ruas”, acrescentou.

A maioria dos funcionários da Getir, na empresa como um todo, são empregados em horário integral com férias pagas e aposentadoria porque a companhia evitou o modelo econômico do horário flexível, que provocou processos trabalhistas para empresas como Uber e Deliveroo. Mas oferece contratos para pessoas que queiram flexibilidade ou que procuram um emprego a curto prazo.

“Existe a ideia de que se este trabalho não é por contrato, não pode funcionar”, disse Salur. “Eu peço que diferenciem, então funcionará”. E acrescentou: “Quando você olha as cadeias de supermercados, todas essas outras empresas, elas empregam pessoas e não vão à falência”.

Contratar funcionários em lugar de colaboradores gera lealdade, mas tem o seu custo.

A Getir compra os seus produtos de atacadistas e depois cobra de 5% a 8% a mais do que os preços de um grande supermercado. Fundamentalmente, os preços não são muito mais caros do que os das pequenas lojas de conveniência.

Na Turquia, 95% das lojas escuras são franquias de propriedade independente, disse Salur. Ele acha que este sistema produz gerentes melhores. Trata-se de um modelo que a Getir poderá levar para os seus novos mercados quando estiver mais estabelecida.

Mas este foi um ano de trabalho intenso. Até 2021, a Getir operava somente na Turquia. Este ano, além das cidades na Inglaterra, a Getir foi implantada em Amsterdã, Paris e Berlim. No início de julho, ela fez a sua primeira aquisição: a Blok, outra empresa de entrega de produtos alimentícios, que operava na Espanha e na Itália. A empresa havia sido fundada apenas cinco meses antes.

“É crescimento, crescimento, crescimento”, disse Salur. “É o que respiramos neste momento”.

Este artigo foi publicado originalmente no jornal “The New York Times”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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