Salvatore Cerchio surpreendeu a comunidade científica que estuda as baleias, em 2015, quando encontrou pela primeira vez exemplos de uma nova espécie vivendo em ambiente selvagem. Agora, ele mapeou o habitat da espécie, batizada de baleia de Omura, em homenagem ao destacado biólogo japonês Hideo Omura, especialista na área. O mais surpreendente no estudo, publicado em março, é que as baleias de Omura, embora sejam difíceis de ver, estão espalhadas por todo o mundo tropical.
Cerchio, que também é pesquisador ligado ao Aquário da Nova Inglaterra, em Boston, encontrou uma população perto da costa noroeste de Madagascar, e reuniu relatos de observações no Japão, Austrália, Brasil e Indonésia, entre outros. No total, foram identificados 161 relatos de observação das baleias de Omura em 95 locais.
Para cientistas, a descoberta serve como lembrete do quanto ainda é desconhecido a respeito dos oceanos do planeta. As novas descobertas parecem ter nascido de inovações tecnológicas nos dispositivos de gravação, avanços na análise genética - e simplesmente do conhecimento de saber o que procurar. Christopher W. Clark, especialista em acústica de cetáceos, disse que durante décadas os pesquisadores simplesmente mergulhavam o equivalente a um gravador de fitas K-7 na água, gravando enquanto havia espaço na fita, e então traziam o dispositivo de volta ao barco.
Mais sofisticados, os aparelhos de hoje permitem que os pesquisadores posicionem gravadores no leito oceânico por períodos de seis a 12 meses. Também são capazes de detectar uma maior variedade de timbres. Clark, que não participou do estudo, disse ter planos de voltar às próprias gravações em busca dos sinais típicos das baleias de Omura. De acordo com o ele, as baleias de Omura cantam em frequências tão baixas que, ao mergulhar no habitat delas, foi mais fácil sentir do que ouvir seus padrões rítmicos de canto, e normalmente era necessário acelerar a gravação para poder ouvi-los. Ele disse que muitos especialistas e observadores amadores de baleias pensaram ter visto algumas Bryde, espécie um pouco maior, quando na verdade estavam observando baleias de Omura.
Os pesquisadores japoneses identificaram as baleias de Omura em 2003, com base num episódio de encalhamento em 1998 no Japão e em tecidos extraídos de oito animais mortos nos anos 1970. As baleias têm corpos relativamente pequenos, uma composição genética distinta e crânios de formato incomum, o que leva os pesquisadores à conclusão de que teriam se separado das primas há cerca de 17 milhões de anos.
São baleias de barbatana, o que significa que filtram seu alimento na água, e podem ser identificadas pela coloração assimétrica. Preferem ambientes tropicais e não migram, de acordo com Cerchio. Depois do estudo de 2015, no qual ele descreveu mais de 40 baleias vistas em ambiente selvagem e ampliou a distribuição da espécie para além do Indo-Pacífico, Cerchio disse que as pessoas enviaram a ele imagens de baleias parecidas. “Aos poucos, tornou-se claro que havia muito mais delas do que poderíamos pesquisar ou contar”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL