Em Nova York, as pessoas estão dando uns amassos (em todos os lugares)


Sedentos por demonstrações públicas de afeto, algumas pessoas viram a reabertura de Nova York como uma oportunidade para 'engolir a cara uns dos outros'

Por Valeriya Safronova

NOVA YORK – Em uma tarde de junho, a cena no Hudson River Park parecia tirada de um quadro do pintor Thomas Cole: abelhas e borboletas dançando no ar, a água brilhando ao longe, suas partes menos atraentes suavizadas pelo sol do meio-dia.

Muitos casais expressavam o seu afeto como se tivessem visto as fotos do casal Jennifer Lopez e Ben Affleck aos beijos apaixonados como um sinal do universo de que se abraçar, ser românticos e felizes em público voltava a ser permitido.

Tirando as máscaras para um beijo, no Domino Park de Williamsburg. Foto: Elizabeth Bick/The New York Times
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Um casal de rostos colados embaixo de uma árvore virava de um lado e do outro para tirar selfies. Enquanto a poucos metros dali, dois corpos estavam enlaçados sobre a grama, as cabeças escondidas embaixo de uma camisa de flanela. Outros dois estavam deitados um ao lado do outro, olhando para os galhos e as folhas de uma árvore exuberante.

Por volta das 19h30, no bar Brass Monkey, a cena era menos romântica, e mais sedenta. Os três andares do estabelecimento estavam lotados de pessoas no seu segundo ou terceiro drinque. 

Grupos de amigos, a centímetros de distância um de outro, continuavam fechados em seus círculos, como torcidas em um baile colegial. Uma mulher, mais experiente, sussurrava que havia esquecido como iniciar um bate-papo com um estranho.

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Mas segundo as observações de Marisol Delarosa, gerente do bar, não tardaria para que ali começassem a se formar engarrafamentos criados por “pessoas tão apaixonadas que não se dão conta do que acontece ao redor”. Em junho, ela disse, a voracidade dos clientes do bar já tinha subido de nível.

Times Square. Foto: Elizabeth Bick/The New York Times

“Quando reabrimos com restrições em abril, ainda havia os que observavam: ‘Como é que vamos fazer isso? Vamos apertar as mãos?”, disse Delarosa. “Desde que as restrições foram retiradas, parece que abriram uma torneira. A hesitação desapareceu”.

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“As pessoas baixaram ligeiramente os seus padrões ou, quem sabe, aumentaram o escopo do que acham atraente”, acrescentou. Recentemente, ela ouviu uma cliente dizer a uma amiga: “Eu agarraria ele. Antes da pandemia, provavelmente não”.

Delarosa, como os seus clientes, percebe a tensão entre a reabertura total e a possibilidade de que as novas variantes do coronavírus possam obrigar a fechar tudo novamente.

“Você tem que viver a vida agora”, ela disse. “As pessoas estão mandando ver, engolindo a cara umas das outras nas sextas e sábados à noite”.

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Williamsburg. Foto: Elizabeth Bick/The New York Times

Naquela tarde, as ruas de Lower Manhattan estavam tão cheias que uma visitante poderia ser perdoada por achar que tinha esquecido de algum feriado nacional. (Bem, honestamente, era o Mês do Orgulho LGBTQIA+.)

Uma fila tortuosa começava na West Fourth Street, terminando na entrada do Cubbyhole, um bar gay. Na Greenwich Avenue, pessoas jorravam do Fiddlesticks Pub, a massa de corpos suados no ar ainda quente. Na Greenwich Treehouse, onde ainda havia espaço para se respirar, apareceu uma bandeja coberta de doses de jell-o (gelatina com álcool), e com ela, a sensação de um renascimento indecente e espalhafatoso.

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Entre 11 da noite e a meia-noite, na Union Pool em Williamsburg, Brooklyn, pelo menos dois casais estavam se abraçando freneticamente, um casal em um banco e outro perto do caminhão de tacos. Nas proximidades, um homem e uma mulher saíram devagar de um ponto próximo de algumas latas de cerveja abandonadas rumo à saída, os olhos sem desgrudar do outro corpo e as mãos agarrando periodicamente o cotovelo um do outro – e outras curvas.

Ao que tudo indica, em quase todas as noites de junho, cenas semelhantes da vida que renascia ocorriam em toda a cidade de Nova York. Pela metade do mês, as pessoas podiam se misturar na maioria dos bares, lounges e boates, coisa que não faziam desde março de 2020.

Um casal em Corona Park, em Nova York. Foto: Elizabeth Bick/The New York Times
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O Metropolitan, um bar gay em Williamsburg, reabriu a sua pista de dança e, no dia 31 de maio, trouxe de volta os horários na madrugada. Uma semana mais tarde, em uma noite asfixiante de sábado, a largura e o comprimento da pista de dança podiam ser medidos pela quantidade de peitos expostos e de torsos nus que deslizavam para frente e para trás, um contra o outro, ao ritmo da música.

O Boom Boom Room, uma instituição do centro da cidade, conhecida por suas soirées pós-Met Gala e sua clientela de celebridades, reabriu em meados de junho com uma festa para 600 pessoas com música ao vivo, incluindo Madonna, Kaytranada e Honey Dijon. As pessoas se tocavam, se abraçavam, deslizando pela pista de dança.

“Muitos se agarravam pelos cantos”, contou Amar Lalvani, diretor executivo da Standard International, proprietária do Standard, High Line, um hotel em Nova York, em cuja cobertura está o Boom Boom Room, e o seu primo menos esnobe, Le Bain. “Havia casais subindo as escada e indo para lá. Foi uma festa de proximidade total, uma festa feliz”.

Antes, as pessoas hesitavam muito mais, disse Lalvani. Mas desde o início de junho, começaram a deixar isso de lado. “As pessoas precisam de um pouco de permissividade agora para dizer que está tudo bem, e não está apenas tudo bem, está ótimo”, acrescentou.

Este artigo foi publicado originalmente pelo jornal “The New York Times” . / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

NOVA YORK – Em uma tarde de junho, a cena no Hudson River Park parecia tirada de um quadro do pintor Thomas Cole: abelhas e borboletas dançando no ar, a água brilhando ao longe, suas partes menos atraentes suavizadas pelo sol do meio-dia.

Muitos casais expressavam o seu afeto como se tivessem visto as fotos do casal Jennifer Lopez e Ben Affleck aos beijos apaixonados como um sinal do universo de que se abraçar, ser românticos e felizes em público voltava a ser permitido.

Tirando as máscaras para um beijo, no Domino Park de Williamsburg. Foto: Elizabeth Bick/The New York Times

Um casal de rostos colados embaixo de uma árvore virava de um lado e do outro para tirar selfies. Enquanto a poucos metros dali, dois corpos estavam enlaçados sobre a grama, as cabeças escondidas embaixo de uma camisa de flanela. Outros dois estavam deitados um ao lado do outro, olhando para os galhos e as folhas de uma árvore exuberante.

Por volta das 19h30, no bar Brass Monkey, a cena era menos romântica, e mais sedenta. Os três andares do estabelecimento estavam lotados de pessoas no seu segundo ou terceiro drinque. 

Grupos de amigos, a centímetros de distância um de outro, continuavam fechados em seus círculos, como torcidas em um baile colegial. Uma mulher, mais experiente, sussurrava que havia esquecido como iniciar um bate-papo com um estranho.

Mas segundo as observações de Marisol Delarosa, gerente do bar, não tardaria para que ali começassem a se formar engarrafamentos criados por “pessoas tão apaixonadas que não se dão conta do que acontece ao redor”. Em junho, ela disse, a voracidade dos clientes do bar já tinha subido de nível.

Times Square. Foto: Elizabeth Bick/The New York Times

“Quando reabrimos com restrições em abril, ainda havia os que observavam: ‘Como é que vamos fazer isso? Vamos apertar as mãos?”, disse Delarosa. “Desde que as restrições foram retiradas, parece que abriram uma torneira. A hesitação desapareceu”.

“As pessoas baixaram ligeiramente os seus padrões ou, quem sabe, aumentaram o escopo do que acham atraente”, acrescentou. Recentemente, ela ouviu uma cliente dizer a uma amiga: “Eu agarraria ele. Antes da pandemia, provavelmente não”.

Delarosa, como os seus clientes, percebe a tensão entre a reabertura total e a possibilidade de que as novas variantes do coronavírus possam obrigar a fechar tudo novamente.

“Você tem que viver a vida agora”, ela disse. “As pessoas estão mandando ver, engolindo a cara umas das outras nas sextas e sábados à noite”.

Williamsburg. Foto: Elizabeth Bick/The New York Times

Naquela tarde, as ruas de Lower Manhattan estavam tão cheias que uma visitante poderia ser perdoada por achar que tinha esquecido de algum feriado nacional. (Bem, honestamente, era o Mês do Orgulho LGBTQIA+.)

Uma fila tortuosa começava na West Fourth Street, terminando na entrada do Cubbyhole, um bar gay. Na Greenwich Avenue, pessoas jorravam do Fiddlesticks Pub, a massa de corpos suados no ar ainda quente. Na Greenwich Treehouse, onde ainda havia espaço para se respirar, apareceu uma bandeja coberta de doses de jell-o (gelatina com álcool), e com ela, a sensação de um renascimento indecente e espalhafatoso.

Entre 11 da noite e a meia-noite, na Union Pool em Williamsburg, Brooklyn, pelo menos dois casais estavam se abraçando freneticamente, um casal em um banco e outro perto do caminhão de tacos. Nas proximidades, um homem e uma mulher saíram devagar de um ponto próximo de algumas latas de cerveja abandonadas rumo à saída, os olhos sem desgrudar do outro corpo e as mãos agarrando periodicamente o cotovelo um do outro – e outras curvas.

Ao que tudo indica, em quase todas as noites de junho, cenas semelhantes da vida que renascia ocorriam em toda a cidade de Nova York. Pela metade do mês, as pessoas podiam se misturar na maioria dos bares, lounges e boates, coisa que não faziam desde março de 2020.

Um casal em Corona Park, em Nova York. Foto: Elizabeth Bick/The New York Times

O Metropolitan, um bar gay em Williamsburg, reabriu a sua pista de dança e, no dia 31 de maio, trouxe de volta os horários na madrugada. Uma semana mais tarde, em uma noite asfixiante de sábado, a largura e o comprimento da pista de dança podiam ser medidos pela quantidade de peitos expostos e de torsos nus que deslizavam para frente e para trás, um contra o outro, ao ritmo da música.

O Boom Boom Room, uma instituição do centro da cidade, conhecida por suas soirées pós-Met Gala e sua clientela de celebridades, reabriu em meados de junho com uma festa para 600 pessoas com música ao vivo, incluindo Madonna, Kaytranada e Honey Dijon. As pessoas se tocavam, se abraçavam, deslizando pela pista de dança.

“Muitos se agarravam pelos cantos”, contou Amar Lalvani, diretor executivo da Standard International, proprietária do Standard, High Line, um hotel em Nova York, em cuja cobertura está o Boom Boom Room, e o seu primo menos esnobe, Le Bain. “Havia casais subindo as escada e indo para lá. Foi uma festa de proximidade total, uma festa feliz”.

Antes, as pessoas hesitavam muito mais, disse Lalvani. Mas desde o início de junho, começaram a deixar isso de lado. “As pessoas precisam de um pouco de permissividade agora para dizer que está tudo bem, e não está apenas tudo bem, está ótimo”, acrescentou.

Este artigo foi publicado originalmente pelo jornal “The New York Times” . / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

NOVA YORK – Em uma tarde de junho, a cena no Hudson River Park parecia tirada de um quadro do pintor Thomas Cole: abelhas e borboletas dançando no ar, a água brilhando ao longe, suas partes menos atraentes suavizadas pelo sol do meio-dia.

Muitos casais expressavam o seu afeto como se tivessem visto as fotos do casal Jennifer Lopez e Ben Affleck aos beijos apaixonados como um sinal do universo de que se abraçar, ser românticos e felizes em público voltava a ser permitido.

Tirando as máscaras para um beijo, no Domino Park de Williamsburg. Foto: Elizabeth Bick/The New York Times

Um casal de rostos colados embaixo de uma árvore virava de um lado e do outro para tirar selfies. Enquanto a poucos metros dali, dois corpos estavam enlaçados sobre a grama, as cabeças escondidas embaixo de uma camisa de flanela. Outros dois estavam deitados um ao lado do outro, olhando para os galhos e as folhas de uma árvore exuberante.

Por volta das 19h30, no bar Brass Monkey, a cena era menos romântica, e mais sedenta. Os três andares do estabelecimento estavam lotados de pessoas no seu segundo ou terceiro drinque. 

Grupos de amigos, a centímetros de distância um de outro, continuavam fechados em seus círculos, como torcidas em um baile colegial. Uma mulher, mais experiente, sussurrava que havia esquecido como iniciar um bate-papo com um estranho.

Mas segundo as observações de Marisol Delarosa, gerente do bar, não tardaria para que ali começassem a se formar engarrafamentos criados por “pessoas tão apaixonadas que não se dão conta do que acontece ao redor”. Em junho, ela disse, a voracidade dos clientes do bar já tinha subido de nível.

Times Square. Foto: Elizabeth Bick/The New York Times

“Quando reabrimos com restrições em abril, ainda havia os que observavam: ‘Como é que vamos fazer isso? Vamos apertar as mãos?”, disse Delarosa. “Desde que as restrições foram retiradas, parece que abriram uma torneira. A hesitação desapareceu”.

“As pessoas baixaram ligeiramente os seus padrões ou, quem sabe, aumentaram o escopo do que acham atraente”, acrescentou. Recentemente, ela ouviu uma cliente dizer a uma amiga: “Eu agarraria ele. Antes da pandemia, provavelmente não”.

Delarosa, como os seus clientes, percebe a tensão entre a reabertura total e a possibilidade de que as novas variantes do coronavírus possam obrigar a fechar tudo novamente.

“Você tem que viver a vida agora”, ela disse. “As pessoas estão mandando ver, engolindo a cara umas das outras nas sextas e sábados à noite”.

Williamsburg. Foto: Elizabeth Bick/The New York Times

Naquela tarde, as ruas de Lower Manhattan estavam tão cheias que uma visitante poderia ser perdoada por achar que tinha esquecido de algum feriado nacional. (Bem, honestamente, era o Mês do Orgulho LGBTQIA+.)

Uma fila tortuosa começava na West Fourth Street, terminando na entrada do Cubbyhole, um bar gay. Na Greenwich Avenue, pessoas jorravam do Fiddlesticks Pub, a massa de corpos suados no ar ainda quente. Na Greenwich Treehouse, onde ainda havia espaço para se respirar, apareceu uma bandeja coberta de doses de jell-o (gelatina com álcool), e com ela, a sensação de um renascimento indecente e espalhafatoso.

Entre 11 da noite e a meia-noite, na Union Pool em Williamsburg, Brooklyn, pelo menos dois casais estavam se abraçando freneticamente, um casal em um banco e outro perto do caminhão de tacos. Nas proximidades, um homem e uma mulher saíram devagar de um ponto próximo de algumas latas de cerveja abandonadas rumo à saída, os olhos sem desgrudar do outro corpo e as mãos agarrando periodicamente o cotovelo um do outro – e outras curvas.

Ao que tudo indica, em quase todas as noites de junho, cenas semelhantes da vida que renascia ocorriam em toda a cidade de Nova York. Pela metade do mês, as pessoas podiam se misturar na maioria dos bares, lounges e boates, coisa que não faziam desde março de 2020.

Um casal em Corona Park, em Nova York. Foto: Elizabeth Bick/The New York Times

O Metropolitan, um bar gay em Williamsburg, reabriu a sua pista de dança e, no dia 31 de maio, trouxe de volta os horários na madrugada. Uma semana mais tarde, em uma noite asfixiante de sábado, a largura e o comprimento da pista de dança podiam ser medidos pela quantidade de peitos expostos e de torsos nus que deslizavam para frente e para trás, um contra o outro, ao ritmo da música.

O Boom Boom Room, uma instituição do centro da cidade, conhecida por suas soirées pós-Met Gala e sua clientela de celebridades, reabriu em meados de junho com uma festa para 600 pessoas com música ao vivo, incluindo Madonna, Kaytranada e Honey Dijon. As pessoas se tocavam, se abraçavam, deslizando pela pista de dança.

“Muitos se agarravam pelos cantos”, contou Amar Lalvani, diretor executivo da Standard International, proprietária do Standard, High Line, um hotel em Nova York, em cuja cobertura está o Boom Boom Room, e o seu primo menos esnobe, Le Bain. “Havia casais subindo as escada e indo para lá. Foi uma festa de proximidade total, uma festa feliz”.

Antes, as pessoas hesitavam muito mais, disse Lalvani. Mas desde o início de junho, começaram a deixar isso de lado. “As pessoas precisam de um pouco de permissividade agora para dizer que está tudo bem, e não está apenas tudo bem, está ótimo”, acrescentou.

Este artigo foi publicado originalmente pelo jornal “The New York Times” . / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

NOVA YORK – Em uma tarde de junho, a cena no Hudson River Park parecia tirada de um quadro do pintor Thomas Cole: abelhas e borboletas dançando no ar, a água brilhando ao longe, suas partes menos atraentes suavizadas pelo sol do meio-dia.

Muitos casais expressavam o seu afeto como se tivessem visto as fotos do casal Jennifer Lopez e Ben Affleck aos beijos apaixonados como um sinal do universo de que se abraçar, ser românticos e felizes em público voltava a ser permitido.

Tirando as máscaras para um beijo, no Domino Park de Williamsburg. Foto: Elizabeth Bick/The New York Times

Um casal de rostos colados embaixo de uma árvore virava de um lado e do outro para tirar selfies. Enquanto a poucos metros dali, dois corpos estavam enlaçados sobre a grama, as cabeças escondidas embaixo de uma camisa de flanela. Outros dois estavam deitados um ao lado do outro, olhando para os galhos e as folhas de uma árvore exuberante.

Por volta das 19h30, no bar Brass Monkey, a cena era menos romântica, e mais sedenta. Os três andares do estabelecimento estavam lotados de pessoas no seu segundo ou terceiro drinque. 

Grupos de amigos, a centímetros de distância um de outro, continuavam fechados em seus círculos, como torcidas em um baile colegial. Uma mulher, mais experiente, sussurrava que havia esquecido como iniciar um bate-papo com um estranho.

Mas segundo as observações de Marisol Delarosa, gerente do bar, não tardaria para que ali começassem a se formar engarrafamentos criados por “pessoas tão apaixonadas que não se dão conta do que acontece ao redor”. Em junho, ela disse, a voracidade dos clientes do bar já tinha subido de nível.

Times Square. Foto: Elizabeth Bick/The New York Times

“Quando reabrimos com restrições em abril, ainda havia os que observavam: ‘Como é que vamos fazer isso? Vamos apertar as mãos?”, disse Delarosa. “Desde que as restrições foram retiradas, parece que abriram uma torneira. A hesitação desapareceu”.

“As pessoas baixaram ligeiramente os seus padrões ou, quem sabe, aumentaram o escopo do que acham atraente”, acrescentou. Recentemente, ela ouviu uma cliente dizer a uma amiga: “Eu agarraria ele. Antes da pandemia, provavelmente não”.

Delarosa, como os seus clientes, percebe a tensão entre a reabertura total e a possibilidade de que as novas variantes do coronavírus possam obrigar a fechar tudo novamente.

“Você tem que viver a vida agora”, ela disse. “As pessoas estão mandando ver, engolindo a cara umas das outras nas sextas e sábados à noite”.

Williamsburg. Foto: Elizabeth Bick/The New York Times

Naquela tarde, as ruas de Lower Manhattan estavam tão cheias que uma visitante poderia ser perdoada por achar que tinha esquecido de algum feriado nacional. (Bem, honestamente, era o Mês do Orgulho LGBTQIA+.)

Uma fila tortuosa começava na West Fourth Street, terminando na entrada do Cubbyhole, um bar gay. Na Greenwich Avenue, pessoas jorravam do Fiddlesticks Pub, a massa de corpos suados no ar ainda quente. Na Greenwich Treehouse, onde ainda havia espaço para se respirar, apareceu uma bandeja coberta de doses de jell-o (gelatina com álcool), e com ela, a sensação de um renascimento indecente e espalhafatoso.

Entre 11 da noite e a meia-noite, na Union Pool em Williamsburg, Brooklyn, pelo menos dois casais estavam se abraçando freneticamente, um casal em um banco e outro perto do caminhão de tacos. Nas proximidades, um homem e uma mulher saíram devagar de um ponto próximo de algumas latas de cerveja abandonadas rumo à saída, os olhos sem desgrudar do outro corpo e as mãos agarrando periodicamente o cotovelo um do outro – e outras curvas.

Ao que tudo indica, em quase todas as noites de junho, cenas semelhantes da vida que renascia ocorriam em toda a cidade de Nova York. Pela metade do mês, as pessoas podiam se misturar na maioria dos bares, lounges e boates, coisa que não faziam desde março de 2020.

Um casal em Corona Park, em Nova York. Foto: Elizabeth Bick/The New York Times

O Metropolitan, um bar gay em Williamsburg, reabriu a sua pista de dança e, no dia 31 de maio, trouxe de volta os horários na madrugada. Uma semana mais tarde, em uma noite asfixiante de sábado, a largura e o comprimento da pista de dança podiam ser medidos pela quantidade de peitos expostos e de torsos nus que deslizavam para frente e para trás, um contra o outro, ao ritmo da música.

O Boom Boom Room, uma instituição do centro da cidade, conhecida por suas soirées pós-Met Gala e sua clientela de celebridades, reabriu em meados de junho com uma festa para 600 pessoas com música ao vivo, incluindo Madonna, Kaytranada e Honey Dijon. As pessoas se tocavam, se abraçavam, deslizando pela pista de dança.

“Muitos se agarravam pelos cantos”, contou Amar Lalvani, diretor executivo da Standard International, proprietária do Standard, High Line, um hotel em Nova York, em cuja cobertura está o Boom Boom Room, e o seu primo menos esnobe, Le Bain. “Havia casais subindo as escada e indo para lá. Foi uma festa de proximidade total, uma festa feliz”.

Antes, as pessoas hesitavam muito mais, disse Lalvani. Mas desde o início de junho, começaram a deixar isso de lado. “As pessoas precisam de um pouco de permissividade agora para dizer que está tudo bem, e não está apenas tudo bem, está ótimo”, acrescentou.

Este artigo foi publicado originalmente pelo jornal “The New York Times” . / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

NOVA YORK – Em uma tarde de junho, a cena no Hudson River Park parecia tirada de um quadro do pintor Thomas Cole: abelhas e borboletas dançando no ar, a água brilhando ao longe, suas partes menos atraentes suavizadas pelo sol do meio-dia.

Muitos casais expressavam o seu afeto como se tivessem visto as fotos do casal Jennifer Lopez e Ben Affleck aos beijos apaixonados como um sinal do universo de que se abraçar, ser românticos e felizes em público voltava a ser permitido.

Tirando as máscaras para um beijo, no Domino Park de Williamsburg. Foto: Elizabeth Bick/The New York Times

Um casal de rostos colados embaixo de uma árvore virava de um lado e do outro para tirar selfies. Enquanto a poucos metros dali, dois corpos estavam enlaçados sobre a grama, as cabeças escondidas embaixo de uma camisa de flanela. Outros dois estavam deitados um ao lado do outro, olhando para os galhos e as folhas de uma árvore exuberante.

Por volta das 19h30, no bar Brass Monkey, a cena era menos romântica, e mais sedenta. Os três andares do estabelecimento estavam lotados de pessoas no seu segundo ou terceiro drinque. 

Grupos de amigos, a centímetros de distância um de outro, continuavam fechados em seus círculos, como torcidas em um baile colegial. Uma mulher, mais experiente, sussurrava que havia esquecido como iniciar um bate-papo com um estranho.

Mas segundo as observações de Marisol Delarosa, gerente do bar, não tardaria para que ali começassem a se formar engarrafamentos criados por “pessoas tão apaixonadas que não se dão conta do que acontece ao redor”. Em junho, ela disse, a voracidade dos clientes do bar já tinha subido de nível.

Times Square. Foto: Elizabeth Bick/The New York Times

“Quando reabrimos com restrições em abril, ainda havia os que observavam: ‘Como é que vamos fazer isso? Vamos apertar as mãos?”, disse Delarosa. “Desde que as restrições foram retiradas, parece que abriram uma torneira. A hesitação desapareceu”.

“As pessoas baixaram ligeiramente os seus padrões ou, quem sabe, aumentaram o escopo do que acham atraente”, acrescentou. Recentemente, ela ouviu uma cliente dizer a uma amiga: “Eu agarraria ele. Antes da pandemia, provavelmente não”.

Delarosa, como os seus clientes, percebe a tensão entre a reabertura total e a possibilidade de que as novas variantes do coronavírus possam obrigar a fechar tudo novamente.

“Você tem que viver a vida agora”, ela disse. “As pessoas estão mandando ver, engolindo a cara umas das outras nas sextas e sábados à noite”.

Williamsburg. Foto: Elizabeth Bick/The New York Times

Naquela tarde, as ruas de Lower Manhattan estavam tão cheias que uma visitante poderia ser perdoada por achar que tinha esquecido de algum feriado nacional. (Bem, honestamente, era o Mês do Orgulho LGBTQIA+.)

Uma fila tortuosa começava na West Fourth Street, terminando na entrada do Cubbyhole, um bar gay. Na Greenwich Avenue, pessoas jorravam do Fiddlesticks Pub, a massa de corpos suados no ar ainda quente. Na Greenwich Treehouse, onde ainda havia espaço para se respirar, apareceu uma bandeja coberta de doses de jell-o (gelatina com álcool), e com ela, a sensação de um renascimento indecente e espalhafatoso.

Entre 11 da noite e a meia-noite, na Union Pool em Williamsburg, Brooklyn, pelo menos dois casais estavam se abraçando freneticamente, um casal em um banco e outro perto do caminhão de tacos. Nas proximidades, um homem e uma mulher saíram devagar de um ponto próximo de algumas latas de cerveja abandonadas rumo à saída, os olhos sem desgrudar do outro corpo e as mãos agarrando periodicamente o cotovelo um do outro – e outras curvas.

Ao que tudo indica, em quase todas as noites de junho, cenas semelhantes da vida que renascia ocorriam em toda a cidade de Nova York. Pela metade do mês, as pessoas podiam se misturar na maioria dos bares, lounges e boates, coisa que não faziam desde março de 2020.

Um casal em Corona Park, em Nova York. Foto: Elizabeth Bick/The New York Times

O Metropolitan, um bar gay em Williamsburg, reabriu a sua pista de dança e, no dia 31 de maio, trouxe de volta os horários na madrugada. Uma semana mais tarde, em uma noite asfixiante de sábado, a largura e o comprimento da pista de dança podiam ser medidos pela quantidade de peitos expostos e de torsos nus que deslizavam para frente e para trás, um contra o outro, ao ritmo da música.

O Boom Boom Room, uma instituição do centro da cidade, conhecida por suas soirées pós-Met Gala e sua clientela de celebridades, reabriu em meados de junho com uma festa para 600 pessoas com música ao vivo, incluindo Madonna, Kaytranada e Honey Dijon. As pessoas se tocavam, se abraçavam, deslizando pela pista de dança.

“Muitos se agarravam pelos cantos”, contou Amar Lalvani, diretor executivo da Standard International, proprietária do Standard, High Line, um hotel em Nova York, em cuja cobertura está o Boom Boom Room, e o seu primo menos esnobe, Le Bain. “Havia casais subindo as escada e indo para lá. Foi uma festa de proximidade total, uma festa feliz”.

Antes, as pessoas hesitavam muito mais, disse Lalvani. Mas desde o início de junho, começaram a deixar isso de lado. “As pessoas precisam de um pouco de permissividade agora para dizer que está tudo bem, e não está apenas tudo bem, está ótimo”, acrescentou.

Este artigo foi publicado originalmente pelo jornal “The New York Times” . / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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