Nuvens de gafanhotos podem expandir seu alcance em um mundo mais quente e com mais tempestades


Essas pragas devoradoras de colheitas adoram condições áridas e chuvas ocasionais. O aquecimento global está oferecendo mais das duas coisas

Por Raymond Zhong

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - O aumento das temperaturas poderá expandir a área do mundo sob ameaça de gafanhotos devoradores de colheitas em até 25% nas próximas décadas, descobriu um novo estudo, à medida que mais lugares sofrem com os ciclos de seca e as chuvas torrenciais que dão origem a enxames bíblicos de insetos.

Danos às colheitas no Quénia. Em 2019, as piores infestações de gafanhotos numa geração começaram a atingir uma parte do globo, desde a África Oriental até à Índia central. Foto: Khadija Farah/The New York Times

Os gafanhotos do deserto são o flagelo dos agricultores no norte da África, no Oriente Médio e no sul da Ásia há milênios. Eles adoram condições quentes e secas, mas precisam de chuvas ocasionais que umedeçam o solo onde incubam seus ovos.

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O aquecimento causado pelas atividades humanas está esquentando o território dos gafanhotos e intensificando as chuvas esporádicas na região. Isso vem expondo novas áreas a potenciais infestações, de acordo com o estudo publicado na revista científica Science Advances.

“Dado que esses países muitas vezes são celeiros globais e já estão enfrentando extremos climáticos, como secas, inundações e ondas de calor, a possível escalada dos riscos de gafanhotos nessas regiões pode exacerbar os desafios”, disse Xiaogang He, um dos autores do estudo e professor assistente de engenharia civil e ambiental na Universidade Nacional de Singapura.

Outros cientistas alertaram que as mudanças climáticas também estão afetando as ameaças de gafanhotos de outra forma importante. Quando não estão se reunindo às dezenas de milhões e devastando paisagens inteiras, esses insetos levam vidas mansas e solitárias em zonas áridas. À medida que o planeta aquece, algumas dessas áreas podem se tornar quentes e secas demais até mesmo para os gafanhotos, diminuindo os territórios onde podem se multiplicar.

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Isso pode facilitar a utilização de pesticidas para impedir surtos antes que estes se transformem em pragas generalizadas, disse Christine N. Meynard, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisa para Agricultura, Alimentação e Ambiente em Montpellier, França. “Se você puder se concentrar em áreas menores” para combater os gafanhotos, “será muito melhor”, disse Meynard, que não participou do novo estudo.

As invasões de gafanhotos talvez sejam mais conhecidas como uma forma de castigo divino, mas os cientistas há muito compreenderam que a vida dos insetos está intimamente ligada ao tempo, ao clima e à ecologia.

As pragas devoram as colheitas em alguns dos locais mais pobres do planeta. Foto: Khadija Farah/The New York Times
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Durante longos períodos, os gafanhotos do deserto ficam dispersos e escondidos em locais secos, como o Saara e o Sahel na África e o deserto do Thar na Índia e no Paquistão. Quando chove, seus ovos se desenvolvem, assim como a vegetação circundante, dando aos filhotes muito o que comer.

Quando a terra volta a secar, eles começam a se reunir nos locais onde ainda há vegetação. E então voam em enxames em busca de mais comida, escurecendo os céus e devorando as colheitas em alguns dos lugares mais pobres do planeta.

Em 2019, as piores infestações de gafanhotos das últimas décadas começaram a atingir uma parte do globo, desde a África Oriental até à Índia central. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês) e suas agências parceiras empreenderam uma vasta operação para proteger as lavouras e o gado e para garantir o abastecimento de alimentos para dezenas de milhões de pessoas.

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Xiaogang He e seus colegas usaram modelos matemáticos para estudar como os fatores climáticos moldam a forma como as invasões de gafanhotos acontecem em grandes áreas. E descobriram que a sincronia das chuvas sazonais em toda a região pode fazer com que locais distantes corram um risco desproporcional de sofrer enxames ao mesmo tempo.

Índia e Marrocos, por exemplo, estão separados por milhares de quilômetros. E, ainda assim, é altamente provável que as pragas de gafanhotos estejam sincronizadas nos dois países, descobriram os pesquisadores. O mesmo se aplica a Paquistão e Argélia. “Infestações de gafanhotos simultâneas têm o potencial de provocar quebras de safras generalizadas, colocando em risco a segurança alimentar global”, disse ele.

Com base no que ele e seus colegas determinaram sobre como as chuvas, as temperaturas, a umidade do solo e os ventos afetam o local onde os gafanhotos vão parar, eles também previram como o aquecimento global poderá mudar o quadro.

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Eles calcularam que o alcance total das pragas pode aumentar de 5% a 25% antes de 2100, dependendo de quanto o planeta esquente. Alguns lugares que não têm gafanhotos hoje podem começar a vê-los nas próximas décadas, descobriram os pesquisadores. Entre essas áreas estão Afeganistão, Índia, Irã e Turcomenistão.

Uma espécie diferente, o gafanhoto sul-americano, assola fazendas na Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. Outras pesquisas previram que o aquecimento também aumentará a distribuição geográfica dessa praga.

Além do clima e da ecologia, Meynard e outros pesquisadores veem as condições sociopolíticas como outro fator importante por trás dos riscos que os gafanhotos representam. Por exemplo: no Iêmen, devastado por conflitos, as populações de pragas conseguiram crescer sem controle nos últimos anos, o que pode ter agravado os surtos em 2019 e 2020.

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Os países mais estáveis melhoraram o monitoramento e a gestão dos gafanhotos, disse Meynard. “Houve um progresso, definitivamente”, disse ela. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - O aumento das temperaturas poderá expandir a área do mundo sob ameaça de gafanhotos devoradores de colheitas em até 25% nas próximas décadas, descobriu um novo estudo, à medida que mais lugares sofrem com os ciclos de seca e as chuvas torrenciais que dão origem a enxames bíblicos de insetos.

Danos às colheitas no Quénia. Em 2019, as piores infestações de gafanhotos numa geração começaram a atingir uma parte do globo, desde a África Oriental até à Índia central. Foto: Khadija Farah/The New York Times

Os gafanhotos do deserto são o flagelo dos agricultores no norte da África, no Oriente Médio e no sul da Ásia há milênios. Eles adoram condições quentes e secas, mas precisam de chuvas ocasionais que umedeçam o solo onde incubam seus ovos.

O aquecimento causado pelas atividades humanas está esquentando o território dos gafanhotos e intensificando as chuvas esporádicas na região. Isso vem expondo novas áreas a potenciais infestações, de acordo com o estudo publicado na revista científica Science Advances.

“Dado que esses países muitas vezes são celeiros globais e já estão enfrentando extremos climáticos, como secas, inundações e ondas de calor, a possível escalada dos riscos de gafanhotos nessas regiões pode exacerbar os desafios”, disse Xiaogang He, um dos autores do estudo e professor assistente de engenharia civil e ambiental na Universidade Nacional de Singapura.

Outros cientistas alertaram que as mudanças climáticas também estão afetando as ameaças de gafanhotos de outra forma importante. Quando não estão se reunindo às dezenas de milhões e devastando paisagens inteiras, esses insetos levam vidas mansas e solitárias em zonas áridas. À medida que o planeta aquece, algumas dessas áreas podem se tornar quentes e secas demais até mesmo para os gafanhotos, diminuindo os territórios onde podem se multiplicar.

Isso pode facilitar a utilização de pesticidas para impedir surtos antes que estes se transformem em pragas generalizadas, disse Christine N. Meynard, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisa para Agricultura, Alimentação e Ambiente em Montpellier, França. “Se você puder se concentrar em áreas menores” para combater os gafanhotos, “será muito melhor”, disse Meynard, que não participou do novo estudo.

As invasões de gafanhotos talvez sejam mais conhecidas como uma forma de castigo divino, mas os cientistas há muito compreenderam que a vida dos insetos está intimamente ligada ao tempo, ao clima e à ecologia.

As pragas devoram as colheitas em alguns dos locais mais pobres do planeta. Foto: Khadija Farah/The New York Times

Durante longos períodos, os gafanhotos do deserto ficam dispersos e escondidos em locais secos, como o Saara e o Sahel na África e o deserto do Thar na Índia e no Paquistão. Quando chove, seus ovos se desenvolvem, assim como a vegetação circundante, dando aos filhotes muito o que comer.

Quando a terra volta a secar, eles começam a se reunir nos locais onde ainda há vegetação. E então voam em enxames em busca de mais comida, escurecendo os céus e devorando as colheitas em alguns dos lugares mais pobres do planeta.

Em 2019, as piores infestações de gafanhotos das últimas décadas começaram a atingir uma parte do globo, desde a África Oriental até à Índia central. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês) e suas agências parceiras empreenderam uma vasta operação para proteger as lavouras e o gado e para garantir o abastecimento de alimentos para dezenas de milhões de pessoas.

Xiaogang He e seus colegas usaram modelos matemáticos para estudar como os fatores climáticos moldam a forma como as invasões de gafanhotos acontecem em grandes áreas. E descobriram que a sincronia das chuvas sazonais em toda a região pode fazer com que locais distantes corram um risco desproporcional de sofrer enxames ao mesmo tempo.

Índia e Marrocos, por exemplo, estão separados por milhares de quilômetros. E, ainda assim, é altamente provável que as pragas de gafanhotos estejam sincronizadas nos dois países, descobriram os pesquisadores. O mesmo se aplica a Paquistão e Argélia. “Infestações de gafanhotos simultâneas têm o potencial de provocar quebras de safras generalizadas, colocando em risco a segurança alimentar global”, disse ele.

Com base no que ele e seus colegas determinaram sobre como as chuvas, as temperaturas, a umidade do solo e os ventos afetam o local onde os gafanhotos vão parar, eles também previram como o aquecimento global poderá mudar o quadro.

Eles calcularam que o alcance total das pragas pode aumentar de 5% a 25% antes de 2100, dependendo de quanto o planeta esquente. Alguns lugares que não têm gafanhotos hoje podem começar a vê-los nas próximas décadas, descobriram os pesquisadores. Entre essas áreas estão Afeganistão, Índia, Irã e Turcomenistão.

Uma espécie diferente, o gafanhoto sul-americano, assola fazendas na Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. Outras pesquisas previram que o aquecimento também aumentará a distribuição geográfica dessa praga.

Além do clima e da ecologia, Meynard e outros pesquisadores veem as condições sociopolíticas como outro fator importante por trás dos riscos que os gafanhotos representam. Por exemplo: no Iêmen, devastado por conflitos, as populações de pragas conseguiram crescer sem controle nos últimos anos, o que pode ter agravado os surtos em 2019 e 2020.

Os países mais estáveis melhoraram o monitoramento e a gestão dos gafanhotos, disse Meynard. “Houve um progresso, definitivamente”, disse ela. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - O aumento das temperaturas poderá expandir a área do mundo sob ameaça de gafanhotos devoradores de colheitas em até 25% nas próximas décadas, descobriu um novo estudo, à medida que mais lugares sofrem com os ciclos de seca e as chuvas torrenciais que dão origem a enxames bíblicos de insetos.

Danos às colheitas no Quénia. Em 2019, as piores infestações de gafanhotos numa geração começaram a atingir uma parte do globo, desde a África Oriental até à Índia central. Foto: Khadija Farah/The New York Times

Os gafanhotos do deserto são o flagelo dos agricultores no norte da África, no Oriente Médio e no sul da Ásia há milênios. Eles adoram condições quentes e secas, mas precisam de chuvas ocasionais que umedeçam o solo onde incubam seus ovos.

O aquecimento causado pelas atividades humanas está esquentando o território dos gafanhotos e intensificando as chuvas esporádicas na região. Isso vem expondo novas áreas a potenciais infestações, de acordo com o estudo publicado na revista científica Science Advances.

“Dado que esses países muitas vezes são celeiros globais e já estão enfrentando extremos climáticos, como secas, inundações e ondas de calor, a possível escalada dos riscos de gafanhotos nessas regiões pode exacerbar os desafios”, disse Xiaogang He, um dos autores do estudo e professor assistente de engenharia civil e ambiental na Universidade Nacional de Singapura.

Outros cientistas alertaram que as mudanças climáticas também estão afetando as ameaças de gafanhotos de outra forma importante. Quando não estão se reunindo às dezenas de milhões e devastando paisagens inteiras, esses insetos levam vidas mansas e solitárias em zonas áridas. À medida que o planeta aquece, algumas dessas áreas podem se tornar quentes e secas demais até mesmo para os gafanhotos, diminuindo os territórios onde podem se multiplicar.

Isso pode facilitar a utilização de pesticidas para impedir surtos antes que estes se transformem em pragas generalizadas, disse Christine N. Meynard, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisa para Agricultura, Alimentação e Ambiente em Montpellier, França. “Se você puder se concentrar em áreas menores” para combater os gafanhotos, “será muito melhor”, disse Meynard, que não participou do novo estudo.

As invasões de gafanhotos talvez sejam mais conhecidas como uma forma de castigo divino, mas os cientistas há muito compreenderam que a vida dos insetos está intimamente ligada ao tempo, ao clima e à ecologia.

As pragas devoram as colheitas em alguns dos locais mais pobres do planeta. Foto: Khadija Farah/The New York Times

Durante longos períodos, os gafanhotos do deserto ficam dispersos e escondidos em locais secos, como o Saara e o Sahel na África e o deserto do Thar na Índia e no Paquistão. Quando chove, seus ovos se desenvolvem, assim como a vegetação circundante, dando aos filhotes muito o que comer.

Quando a terra volta a secar, eles começam a se reunir nos locais onde ainda há vegetação. E então voam em enxames em busca de mais comida, escurecendo os céus e devorando as colheitas em alguns dos lugares mais pobres do planeta.

Em 2019, as piores infestações de gafanhotos das últimas décadas começaram a atingir uma parte do globo, desde a África Oriental até à Índia central. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês) e suas agências parceiras empreenderam uma vasta operação para proteger as lavouras e o gado e para garantir o abastecimento de alimentos para dezenas de milhões de pessoas.

Xiaogang He e seus colegas usaram modelos matemáticos para estudar como os fatores climáticos moldam a forma como as invasões de gafanhotos acontecem em grandes áreas. E descobriram que a sincronia das chuvas sazonais em toda a região pode fazer com que locais distantes corram um risco desproporcional de sofrer enxames ao mesmo tempo.

Índia e Marrocos, por exemplo, estão separados por milhares de quilômetros. E, ainda assim, é altamente provável que as pragas de gafanhotos estejam sincronizadas nos dois países, descobriram os pesquisadores. O mesmo se aplica a Paquistão e Argélia. “Infestações de gafanhotos simultâneas têm o potencial de provocar quebras de safras generalizadas, colocando em risco a segurança alimentar global”, disse ele.

Com base no que ele e seus colegas determinaram sobre como as chuvas, as temperaturas, a umidade do solo e os ventos afetam o local onde os gafanhotos vão parar, eles também previram como o aquecimento global poderá mudar o quadro.

Eles calcularam que o alcance total das pragas pode aumentar de 5% a 25% antes de 2100, dependendo de quanto o planeta esquente. Alguns lugares que não têm gafanhotos hoje podem começar a vê-los nas próximas décadas, descobriram os pesquisadores. Entre essas áreas estão Afeganistão, Índia, Irã e Turcomenistão.

Uma espécie diferente, o gafanhoto sul-americano, assola fazendas na Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. Outras pesquisas previram que o aquecimento também aumentará a distribuição geográfica dessa praga.

Além do clima e da ecologia, Meynard e outros pesquisadores veem as condições sociopolíticas como outro fator importante por trás dos riscos que os gafanhotos representam. Por exemplo: no Iêmen, devastado por conflitos, as populações de pragas conseguiram crescer sem controle nos últimos anos, o que pode ter agravado os surtos em 2019 e 2020.

Os países mais estáveis melhoraram o monitoramento e a gestão dos gafanhotos, disse Meynard. “Houve um progresso, definitivamente”, disse ela. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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