O calor extremo irá transformar a vida no mundo inteiro


Metade do mundo poderá enfrentar em breve um calor perigoso; medimos as consequências diárias desse aquecimento

Por Alissa J. Rubin, James Glanz, Jeremy White, Emily Rhyne, Noah Throop, Josh Holder e Ben Hubbard

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Em uma rua sem árvores sob um sol escaldante, o soldador Abbas Abdul Karim trabalha sobre uma bancada de metal.

Todos os que vivem em Basra, no Iraque, contam com um calor intenso, mas para Karim ele é implacável. Ele precisa trabalhar durante o dia para enxergar o ferro que ele habilmente molda para corrimãos de escadas ou solda em batentes de portas.

O calor é tão cansativo que ele nunca se acostuma. “Eu sinto meus olhos queimarem”, ele diz.

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Trabalhar ao ar livre nas temperaturas escaldantes do verão no sul do Iraque não é apenas árduo. Pode causar danos a longo prazo para o corpo.

Conhecemos o risco para Karim porque o medimos.

No final da manhã, o ar ao redor de Karim atingiu um índice de 52 graus Celsius. Isso cria um alto risco de insolação - especialmente com suas roupas pesadas e o sol direto. Imagens térmicas mostram um calor adicional saindo de seu equipamento, tornando seu espaço de trabalho ainda mais perigoso.

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Abbas Abdul Karim trabalha sobre uma bancada de metal no calor do dia em Basra, Iraque, onde, em 22 de novembro de 2022, o ar ao redor do soldador media 52 graus Celsius. Foto: Emily Rhyne/The New York Times

A luta do corpo para suar e se resfriar pode causar desidratação e colocar uma pressão extra nos rins. Com o tempo, isso aumenta o risco de pedras nos rins e doenças renais.

O coração também trabalha mais, esforçando-se para bombear mais sangue para a pele e levar o calor para fora do corpo.

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Enquanto Karim trabalhava, nosso monitor descobriu que seus batimentos aumentaram, indicando aos especialistas que sua temperatura corporal havia subido cerca de 1 grau, o que causa um estresse perigosamente alto para o coração.

O sangue que chegava ao cérebro de Karim provavelmente foi reduzido por cerca de uma hora, pois o fluxo de sangue era necessário em outro lugar. Ele se sentiu instável e teve que parar. “Parece que o calor está saindo da minha cabeça”, ele disse.

O que Karim estava experimentando não era uma onda de calor. Era apenas um dia normal de agosto em Basra, uma cidade no limite da mudança climática - e um vislumbre do futuro para grande parte do planeta, à medida que as emissões humanas de carbono alteram o clima.

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Em 2050, quase metade do mundo poderá viver em áreas com níveis perigosos de calor por pelo menos um mês, incluindo Miami; Lagos, Nigéria; e Xangai, segundo projeções de pesquisadores da Universidade de Harvard, em Massachusetts, e da Universidade de Washington.

Ao rastrearmos as atividades diárias das pessoas em Basra e na Cidade do Kuwait, documentamos sua exposição ao calor e como isso transformou suas vidas.

O que vimos revelou a enorme distância entre aqueles que têm meios para se proteger e aqueles que não têm. Também vimos uma realidade ainda mais perturbadora: ninguém pode escapar totalmente do calor debilitante.

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O calor despertou Kadhim Fadhil Enad do sono. O ar condicionado de sua família havia quebrado e ele começou a suar no escuro.

As altas temperaturas se manteriam pelo resto do dia. Para ele e muitos outros em Basra, o calor crescente alterou os dias de trabalho e os horários de sono.

Quando Enad, 25, e seu irmão, Rahda, saíram para trabalhar pouco depois das 4 da manhã, parecia que estava 46 graus lá fora.

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Enad e seu irmão trabalham na construção civil como mão de obra diária. Nos verões sufocantes do sul do Iraque, isso significa correr para terminar o máximo possível antes que o sol apareça e comece o calor mais forte do dia.

Um menino que desmaiou na rua enquanto brincava no calor em Basra. Foto: Emily Rhyne/The New York Times

Mesmo que consigam adaptar o horário, como fez Enad, e comecem a trabalhar no meio da noite, ainda é tão quente que o cansaço atrapalha a jornada de trabalho, reduz a produtividade e prejudica o rendimento.

O calor extremo está alterando a vida em todo o mundo, inclusive no Paquistão, Índia, Tunísia, México, China central e outros lugares. E quanto mais as temperaturas subirem, maior será o número de trabalhadores afetados.

Os efeitos do calor extremo já somam centenas de bilhões de dólares em trabalho perdido a cada ano em todo o mundo.

Eram 5h30 da manhã na Cidade do Kuwait quando Abdullah Husain, 36, saiu de seu apartamento para passear com seus cachorros. O sol mal havia nascido, mas o dia já estava escaldante.

No verão, ele disse, é preciso sair com os cachorros cedo, antes que o asfalto fique tão quente que queime suas patas.

“Depois do nascer do sol tudo é um inferno”, ele disse.

Husain, professor assistente de ciências ambientais na Universidade do Kuwait, vive uma vida muito diferente da de Enad em Basra. Mas os dias de ambos os homens são moldados por um calor inexorável.

Basra e a Cidade do Kuwait ficam a cerca de 130 quilômetros de distância e geralmente têm o mesmo clima, com temperaturas de verão ultrapassando 38 graus por semanas a fio. Mas de outras maneiras, são mundos separados.

Ambos os lugares produzem petróleo, mas no Kuwait ele gerou muita riqueza e proporcionou aos cidadãos um alto padrão de vida. Essa vasta lacuna econômica fica clara no modo com que as pessoas podem se proteger do calor, uma divisão entre ricos e pobres que está ocorrendo cada vez mais em todo o mundo.

Uma visão de Basra, Iraque, um país onde a maioria das pessoas tem baixa renda e eletricidade limitada para tentar se refrescar. Foto: Emily Rhyne/The New York Times

Husain dirige para o trabalho em rodovias largas em um carro com ar condicionado. Enad caminha para o trabalho em ruas repletas de lixo em rápida decomposição. Husain leciona em uma universidade fortemente climatizada. Mesmo trabalhando à noite, Enad não consegue escapar de seu mundo aquecido.

A tremenda riqueza de petróleo do Kuwait permite que ele proteja as pessoas do calor - mas essas proteções têm seu próprio custo, afetando tanto a cultura quanto o estilo de vida.

Quando o calor bate, as pessoas abandonam os parques e as áreas de refeições ao ar livre. Escorregadores, balanços e outros equipamentos de playground ficam tão quentes que podem queimar as pernas das crianças. A maioria dos kuwaitianos evita sair de casa.

Isso afeta a saúde deles. Apesar da abundância de sol, muitos kuwaitianos sofrem de deficiências de vitamina D, produzida pela utilização que o corpo faz da luz solar. Muitos também estão acima do peso.

Até o final do século, Basra, Cidade do Kuwait e muitas outras cidades provavelmente terão muitos dias perigosamente quentes por ano. A quantidade desses dias depende do que as pessoas fizerem nesse meio tempo. De acordo com as previsões dos pesquisadores de Harvard, mesmo que os humanos reduzam significativamente as emissões de carbono, até o ano 2100, a Cidade do Kuwait e Basra experimentarão meses de calor e umidade mais quentes do que 39 graus, muito mais do que na última década.

As estimativas para o futuro são inexatas, mas os cientistas concordam que a situação vai piorar - e pode ser catastrófica se as emissões não forem reduzidas. Nesse cenário, Miami, por exemplo, pode experimentar um calor perigoso por quase metade do ano. Husain, o professor, disse que a maioria dos kuaitianos não pensa na relação entre a queima de combustíveis fósseis e o calor.

Um shopping na cidade do Kuwait, no Kuwait, país onde a enorme riqueza do petróleo permite que a maioria das pessoas passe a vida dentro de casa, com ar-condicionado. Foto: Noah Throop/The New York Times

“As pessoas reclamam, mas não é algo que se traduza em ação ou mudança de comportamento”, disse. “Elas gostam de se bronzear ou ir à praia, mas se estiver muito calor, ficam em casa no ar condicionado.”

E como as emissões atmosféricas não respeitam fronteiras, a Cidade do Kuwait e Basra continuarão a esquentar independentemente do que façam, a menos que grandes emissores como Estados Unidos e China mudem de rumo.

Antes de Karim, o soldador, nascer em 1983, Basra era uma cidade mais verde e fria. Os bosques de tamareiras amenizavam a temperatura e os canais que irrigavam os jardins de Basra lhe renderam o apelido de “a Veneza do Oriente”.

Muitos desses majestosos palmeirais foram derrubados quando Karim era criança, e muitos poucos permaneceram quando Enad, o trabalhador da construção civil, estava crescendo no início dos anos 2000. Mas, mesmo assim, a cidade ainda era pontilhada de tamargueiras, arbustos fartos que brotavam anualmente com flores rosas e brancas. Agora, a maioria delas também se foi. Sem elas, Basra tornou-se uma cidade de concreto e asfalto, que absorve o sol e irradia calor muito depois do pôr do sol.

No futuro, muitas pessoas ao redor do mundo irão migrar para escapar do calor. Mas provavelmente haverá muitos outros que, como Karim e Enad, carecem de recursos para chegar a um país mais verde. E os países mais ricos que já estreitaram suas fronteiras provavelmente tornarão a imigração ainda mais difícil à medida que as pressões climáticas aumentarem. Karim e Enad sonham em morar em outro lugar.

Karim quer um lugar “mais verde”, Enad quer um lugar “mais fresco”. Enad espera casar e ter filhos, e criá-los em algum lugar que tenha “espaço para a natureza”. “As casas serão de madeira e haverá uma floresta”, ele disse. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Em uma rua sem árvores sob um sol escaldante, o soldador Abbas Abdul Karim trabalha sobre uma bancada de metal.

Todos os que vivem em Basra, no Iraque, contam com um calor intenso, mas para Karim ele é implacável. Ele precisa trabalhar durante o dia para enxergar o ferro que ele habilmente molda para corrimãos de escadas ou solda em batentes de portas.

O calor é tão cansativo que ele nunca se acostuma. “Eu sinto meus olhos queimarem”, ele diz.

Trabalhar ao ar livre nas temperaturas escaldantes do verão no sul do Iraque não é apenas árduo. Pode causar danos a longo prazo para o corpo.

Conhecemos o risco para Karim porque o medimos.

No final da manhã, o ar ao redor de Karim atingiu um índice de 52 graus Celsius. Isso cria um alto risco de insolação - especialmente com suas roupas pesadas e o sol direto. Imagens térmicas mostram um calor adicional saindo de seu equipamento, tornando seu espaço de trabalho ainda mais perigoso.

Abbas Abdul Karim trabalha sobre uma bancada de metal no calor do dia em Basra, Iraque, onde, em 22 de novembro de 2022, o ar ao redor do soldador media 52 graus Celsius. Foto: Emily Rhyne/The New York Times

A luta do corpo para suar e se resfriar pode causar desidratação e colocar uma pressão extra nos rins. Com o tempo, isso aumenta o risco de pedras nos rins e doenças renais.

O coração também trabalha mais, esforçando-se para bombear mais sangue para a pele e levar o calor para fora do corpo.

Enquanto Karim trabalhava, nosso monitor descobriu que seus batimentos aumentaram, indicando aos especialistas que sua temperatura corporal havia subido cerca de 1 grau, o que causa um estresse perigosamente alto para o coração.

O sangue que chegava ao cérebro de Karim provavelmente foi reduzido por cerca de uma hora, pois o fluxo de sangue era necessário em outro lugar. Ele se sentiu instável e teve que parar. “Parece que o calor está saindo da minha cabeça”, ele disse.

O que Karim estava experimentando não era uma onda de calor. Era apenas um dia normal de agosto em Basra, uma cidade no limite da mudança climática - e um vislumbre do futuro para grande parte do planeta, à medida que as emissões humanas de carbono alteram o clima.

Em 2050, quase metade do mundo poderá viver em áreas com níveis perigosos de calor por pelo menos um mês, incluindo Miami; Lagos, Nigéria; e Xangai, segundo projeções de pesquisadores da Universidade de Harvard, em Massachusetts, e da Universidade de Washington.

Ao rastrearmos as atividades diárias das pessoas em Basra e na Cidade do Kuwait, documentamos sua exposição ao calor e como isso transformou suas vidas.

O que vimos revelou a enorme distância entre aqueles que têm meios para se proteger e aqueles que não têm. Também vimos uma realidade ainda mais perturbadora: ninguém pode escapar totalmente do calor debilitante.

O calor despertou Kadhim Fadhil Enad do sono. O ar condicionado de sua família havia quebrado e ele começou a suar no escuro.

As altas temperaturas se manteriam pelo resto do dia. Para ele e muitos outros em Basra, o calor crescente alterou os dias de trabalho e os horários de sono.

Quando Enad, 25, e seu irmão, Rahda, saíram para trabalhar pouco depois das 4 da manhã, parecia que estava 46 graus lá fora.

Enad e seu irmão trabalham na construção civil como mão de obra diária. Nos verões sufocantes do sul do Iraque, isso significa correr para terminar o máximo possível antes que o sol apareça e comece o calor mais forte do dia.

Um menino que desmaiou na rua enquanto brincava no calor em Basra. Foto: Emily Rhyne/The New York Times

Mesmo que consigam adaptar o horário, como fez Enad, e comecem a trabalhar no meio da noite, ainda é tão quente que o cansaço atrapalha a jornada de trabalho, reduz a produtividade e prejudica o rendimento.

O calor extremo está alterando a vida em todo o mundo, inclusive no Paquistão, Índia, Tunísia, México, China central e outros lugares. E quanto mais as temperaturas subirem, maior será o número de trabalhadores afetados.

Os efeitos do calor extremo já somam centenas de bilhões de dólares em trabalho perdido a cada ano em todo o mundo.

Eram 5h30 da manhã na Cidade do Kuwait quando Abdullah Husain, 36, saiu de seu apartamento para passear com seus cachorros. O sol mal havia nascido, mas o dia já estava escaldante.

No verão, ele disse, é preciso sair com os cachorros cedo, antes que o asfalto fique tão quente que queime suas patas.

“Depois do nascer do sol tudo é um inferno”, ele disse.

Husain, professor assistente de ciências ambientais na Universidade do Kuwait, vive uma vida muito diferente da de Enad em Basra. Mas os dias de ambos os homens são moldados por um calor inexorável.

Basra e a Cidade do Kuwait ficam a cerca de 130 quilômetros de distância e geralmente têm o mesmo clima, com temperaturas de verão ultrapassando 38 graus por semanas a fio. Mas de outras maneiras, são mundos separados.

Ambos os lugares produzem petróleo, mas no Kuwait ele gerou muita riqueza e proporcionou aos cidadãos um alto padrão de vida. Essa vasta lacuna econômica fica clara no modo com que as pessoas podem se proteger do calor, uma divisão entre ricos e pobres que está ocorrendo cada vez mais em todo o mundo.

Uma visão de Basra, Iraque, um país onde a maioria das pessoas tem baixa renda e eletricidade limitada para tentar se refrescar. Foto: Emily Rhyne/The New York Times

Husain dirige para o trabalho em rodovias largas em um carro com ar condicionado. Enad caminha para o trabalho em ruas repletas de lixo em rápida decomposição. Husain leciona em uma universidade fortemente climatizada. Mesmo trabalhando à noite, Enad não consegue escapar de seu mundo aquecido.

A tremenda riqueza de petróleo do Kuwait permite que ele proteja as pessoas do calor - mas essas proteções têm seu próprio custo, afetando tanto a cultura quanto o estilo de vida.

Quando o calor bate, as pessoas abandonam os parques e as áreas de refeições ao ar livre. Escorregadores, balanços e outros equipamentos de playground ficam tão quentes que podem queimar as pernas das crianças. A maioria dos kuwaitianos evita sair de casa.

Isso afeta a saúde deles. Apesar da abundância de sol, muitos kuwaitianos sofrem de deficiências de vitamina D, produzida pela utilização que o corpo faz da luz solar. Muitos também estão acima do peso.

Até o final do século, Basra, Cidade do Kuwait e muitas outras cidades provavelmente terão muitos dias perigosamente quentes por ano. A quantidade desses dias depende do que as pessoas fizerem nesse meio tempo. De acordo com as previsões dos pesquisadores de Harvard, mesmo que os humanos reduzam significativamente as emissões de carbono, até o ano 2100, a Cidade do Kuwait e Basra experimentarão meses de calor e umidade mais quentes do que 39 graus, muito mais do que na última década.

As estimativas para o futuro são inexatas, mas os cientistas concordam que a situação vai piorar - e pode ser catastrófica se as emissões não forem reduzidas. Nesse cenário, Miami, por exemplo, pode experimentar um calor perigoso por quase metade do ano. Husain, o professor, disse que a maioria dos kuaitianos não pensa na relação entre a queima de combustíveis fósseis e o calor.

Um shopping na cidade do Kuwait, no Kuwait, país onde a enorme riqueza do petróleo permite que a maioria das pessoas passe a vida dentro de casa, com ar-condicionado. Foto: Noah Throop/The New York Times

“As pessoas reclamam, mas não é algo que se traduza em ação ou mudança de comportamento”, disse. “Elas gostam de se bronzear ou ir à praia, mas se estiver muito calor, ficam em casa no ar condicionado.”

E como as emissões atmosféricas não respeitam fronteiras, a Cidade do Kuwait e Basra continuarão a esquentar independentemente do que façam, a menos que grandes emissores como Estados Unidos e China mudem de rumo.

Antes de Karim, o soldador, nascer em 1983, Basra era uma cidade mais verde e fria. Os bosques de tamareiras amenizavam a temperatura e os canais que irrigavam os jardins de Basra lhe renderam o apelido de “a Veneza do Oriente”.

Muitos desses majestosos palmeirais foram derrubados quando Karim era criança, e muitos poucos permaneceram quando Enad, o trabalhador da construção civil, estava crescendo no início dos anos 2000. Mas, mesmo assim, a cidade ainda era pontilhada de tamargueiras, arbustos fartos que brotavam anualmente com flores rosas e brancas. Agora, a maioria delas também se foi. Sem elas, Basra tornou-se uma cidade de concreto e asfalto, que absorve o sol e irradia calor muito depois do pôr do sol.

No futuro, muitas pessoas ao redor do mundo irão migrar para escapar do calor. Mas provavelmente haverá muitos outros que, como Karim e Enad, carecem de recursos para chegar a um país mais verde. E os países mais ricos que já estreitaram suas fronteiras provavelmente tornarão a imigração ainda mais difícil à medida que as pressões climáticas aumentarem. Karim e Enad sonham em morar em outro lugar.

Karim quer um lugar “mais verde”, Enad quer um lugar “mais fresco”. Enad espera casar e ter filhos, e criá-los em algum lugar que tenha “espaço para a natureza”. “As casas serão de madeira e haverá uma floresta”, ele disse. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Em uma rua sem árvores sob um sol escaldante, o soldador Abbas Abdul Karim trabalha sobre uma bancada de metal.

Todos os que vivem em Basra, no Iraque, contam com um calor intenso, mas para Karim ele é implacável. Ele precisa trabalhar durante o dia para enxergar o ferro que ele habilmente molda para corrimãos de escadas ou solda em batentes de portas.

O calor é tão cansativo que ele nunca se acostuma. “Eu sinto meus olhos queimarem”, ele diz.

Trabalhar ao ar livre nas temperaturas escaldantes do verão no sul do Iraque não é apenas árduo. Pode causar danos a longo prazo para o corpo.

Conhecemos o risco para Karim porque o medimos.

No final da manhã, o ar ao redor de Karim atingiu um índice de 52 graus Celsius. Isso cria um alto risco de insolação - especialmente com suas roupas pesadas e o sol direto. Imagens térmicas mostram um calor adicional saindo de seu equipamento, tornando seu espaço de trabalho ainda mais perigoso.

Abbas Abdul Karim trabalha sobre uma bancada de metal no calor do dia em Basra, Iraque, onde, em 22 de novembro de 2022, o ar ao redor do soldador media 52 graus Celsius. Foto: Emily Rhyne/The New York Times

A luta do corpo para suar e se resfriar pode causar desidratação e colocar uma pressão extra nos rins. Com o tempo, isso aumenta o risco de pedras nos rins e doenças renais.

O coração também trabalha mais, esforçando-se para bombear mais sangue para a pele e levar o calor para fora do corpo.

Enquanto Karim trabalhava, nosso monitor descobriu que seus batimentos aumentaram, indicando aos especialistas que sua temperatura corporal havia subido cerca de 1 grau, o que causa um estresse perigosamente alto para o coração.

O sangue que chegava ao cérebro de Karim provavelmente foi reduzido por cerca de uma hora, pois o fluxo de sangue era necessário em outro lugar. Ele se sentiu instável e teve que parar. “Parece que o calor está saindo da minha cabeça”, ele disse.

O que Karim estava experimentando não era uma onda de calor. Era apenas um dia normal de agosto em Basra, uma cidade no limite da mudança climática - e um vislumbre do futuro para grande parte do planeta, à medida que as emissões humanas de carbono alteram o clima.

Em 2050, quase metade do mundo poderá viver em áreas com níveis perigosos de calor por pelo menos um mês, incluindo Miami; Lagos, Nigéria; e Xangai, segundo projeções de pesquisadores da Universidade de Harvard, em Massachusetts, e da Universidade de Washington.

Ao rastrearmos as atividades diárias das pessoas em Basra e na Cidade do Kuwait, documentamos sua exposição ao calor e como isso transformou suas vidas.

O que vimos revelou a enorme distância entre aqueles que têm meios para se proteger e aqueles que não têm. Também vimos uma realidade ainda mais perturbadora: ninguém pode escapar totalmente do calor debilitante.

O calor despertou Kadhim Fadhil Enad do sono. O ar condicionado de sua família havia quebrado e ele começou a suar no escuro.

As altas temperaturas se manteriam pelo resto do dia. Para ele e muitos outros em Basra, o calor crescente alterou os dias de trabalho e os horários de sono.

Quando Enad, 25, e seu irmão, Rahda, saíram para trabalhar pouco depois das 4 da manhã, parecia que estava 46 graus lá fora.

Enad e seu irmão trabalham na construção civil como mão de obra diária. Nos verões sufocantes do sul do Iraque, isso significa correr para terminar o máximo possível antes que o sol apareça e comece o calor mais forte do dia.

Um menino que desmaiou na rua enquanto brincava no calor em Basra. Foto: Emily Rhyne/The New York Times

Mesmo que consigam adaptar o horário, como fez Enad, e comecem a trabalhar no meio da noite, ainda é tão quente que o cansaço atrapalha a jornada de trabalho, reduz a produtividade e prejudica o rendimento.

O calor extremo está alterando a vida em todo o mundo, inclusive no Paquistão, Índia, Tunísia, México, China central e outros lugares. E quanto mais as temperaturas subirem, maior será o número de trabalhadores afetados.

Os efeitos do calor extremo já somam centenas de bilhões de dólares em trabalho perdido a cada ano em todo o mundo.

Eram 5h30 da manhã na Cidade do Kuwait quando Abdullah Husain, 36, saiu de seu apartamento para passear com seus cachorros. O sol mal havia nascido, mas o dia já estava escaldante.

No verão, ele disse, é preciso sair com os cachorros cedo, antes que o asfalto fique tão quente que queime suas patas.

“Depois do nascer do sol tudo é um inferno”, ele disse.

Husain, professor assistente de ciências ambientais na Universidade do Kuwait, vive uma vida muito diferente da de Enad em Basra. Mas os dias de ambos os homens são moldados por um calor inexorável.

Basra e a Cidade do Kuwait ficam a cerca de 130 quilômetros de distância e geralmente têm o mesmo clima, com temperaturas de verão ultrapassando 38 graus por semanas a fio. Mas de outras maneiras, são mundos separados.

Ambos os lugares produzem petróleo, mas no Kuwait ele gerou muita riqueza e proporcionou aos cidadãos um alto padrão de vida. Essa vasta lacuna econômica fica clara no modo com que as pessoas podem se proteger do calor, uma divisão entre ricos e pobres que está ocorrendo cada vez mais em todo o mundo.

Uma visão de Basra, Iraque, um país onde a maioria das pessoas tem baixa renda e eletricidade limitada para tentar se refrescar. Foto: Emily Rhyne/The New York Times

Husain dirige para o trabalho em rodovias largas em um carro com ar condicionado. Enad caminha para o trabalho em ruas repletas de lixo em rápida decomposição. Husain leciona em uma universidade fortemente climatizada. Mesmo trabalhando à noite, Enad não consegue escapar de seu mundo aquecido.

A tremenda riqueza de petróleo do Kuwait permite que ele proteja as pessoas do calor - mas essas proteções têm seu próprio custo, afetando tanto a cultura quanto o estilo de vida.

Quando o calor bate, as pessoas abandonam os parques e as áreas de refeições ao ar livre. Escorregadores, balanços e outros equipamentos de playground ficam tão quentes que podem queimar as pernas das crianças. A maioria dos kuwaitianos evita sair de casa.

Isso afeta a saúde deles. Apesar da abundância de sol, muitos kuwaitianos sofrem de deficiências de vitamina D, produzida pela utilização que o corpo faz da luz solar. Muitos também estão acima do peso.

Até o final do século, Basra, Cidade do Kuwait e muitas outras cidades provavelmente terão muitos dias perigosamente quentes por ano. A quantidade desses dias depende do que as pessoas fizerem nesse meio tempo. De acordo com as previsões dos pesquisadores de Harvard, mesmo que os humanos reduzam significativamente as emissões de carbono, até o ano 2100, a Cidade do Kuwait e Basra experimentarão meses de calor e umidade mais quentes do que 39 graus, muito mais do que na última década.

As estimativas para o futuro são inexatas, mas os cientistas concordam que a situação vai piorar - e pode ser catastrófica se as emissões não forem reduzidas. Nesse cenário, Miami, por exemplo, pode experimentar um calor perigoso por quase metade do ano. Husain, o professor, disse que a maioria dos kuaitianos não pensa na relação entre a queima de combustíveis fósseis e o calor.

Um shopping na cidade do Kuwait, no Kuwait, país onde a enorme riqueza do petróleo permite que a maioria das pessoas passe a vida dentro de casa, com ar-condicionado. Foto: Noah Throop/The New York Times

“As pessoas reclamam, mas não é algo que se traduza em ação ou mudança de comportamento”, disse. “Elas gostam de se bronzear ou ir à praia, mas se estiver muito calor, ficam em casa no ar condicionado.”

E como as emissões atmosféricas não respeitam fronteiras, a Cidade do Kuwait e Basra continuarão a esquentar independentemente do que façam, a menos que grandes emissores como Estados Unidos e China mudem de rumo.

Antes de Karim, o soldador, nascer em 1983, Basra era uma cidade mais verde e fria. Os bosques de tamareiras amenizavam a temperatura e os canais que irrigavam os jardins de Basra lhe renderam o apelido de “a Veneza do Oriente”.

Muitos desses majestosos palmeirais foram derrubados quando Karim era criança, e muitos poucos permaneceram quando Enad, o trabalhador da construção civil, estava crescendo no início dos anos 2000. Mas, mesmo assim, a cidade ainda era pontilhada de tamargueiras, arbustos fartos que brotavam anualmente com flores rosas e brancas. Agora, a maioria delas também se foi. Sem elas, Basra tornou-se uma cidade de concreto e asfalto, que absorve o sol e irradia calor muito depois do pôr do sol.

No futuro, muitas pessoas ao redor do mundo irão migrar para escapar do calor. Mas provavelmente haverá muitos outros que, como Karim e Enad, carecem de recursos para chegar a um país mais verde. E os países mais ricos que já estreitaram suas fronteiras provavelmente tornarão a imigração ainda mais difícil à medida que as pressões climáticas aumentarem. Karim e Enad sonham em morar em outro lugar.

Karim quer um lugar “mais verde”, Enad quer um lugar “mais fresco”. Enad espera casar e ter filhos, e criá-los em algum lugar que tenha “espaço para a natureza”. “As casas serão de madeira e haverá uma floresta”, ele disse. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Em uma rua sem árvores sob um sol escaldante, o soldador Abbas Abdul Karim trabalha sobre uma bancada de metal.

Todos os que vivem em Basra, no Iraque, contam com um calor intenso, mas para Karim ele é implacável. Ele precisa trabalhar durante o dia para enxergar o ferro que ele habilmente molda para corrimãos de escadas ou solda em batentes de portas.

O calor é tão cansativo que ele nunca se acostuma. “Eu sinto meus olhos queimarem”, ele diz.

Trabalhar ao ar livre nas temperaturas escaldantes do verão no sul do Iraque não é apenas árduo. Pode causar danos a longo prazo para o corpo.

Conhecemos o risco para Karim porque o medimos.

No final da manhã, o ar ao redor de Karim atingiu um índice de 52 graus Celsius. Isso cria um alto risco de insolação - especialmente com suas roupas pesadas e o sol direto. Imagens térmicas mostram um calor adicional saindo de seu equipamento, tornando seu espaço de trabalho ainda mais perigoso.

Abbas Abdul Karim trabalha sobre uma bancada de metal no calor do dia em Basra, Iraque, onde, em 22 de novembro de 2022, o ar ao redor do soldador media 52 graus Celsius. Foto: Emily Rhyne/The New York Times

A luta do corpo para suar e se resfriar pode causar desidratação e colocar uma pressão extra nos rins. Com o tempo, isso aumenta o risco de pedras nos rins e doenças renais.

O coração também trabalha mais, esforçando-se para bombear mais sangue para a pele e levar o calor para fora do corpo.

Enquanto Karim trabalhava, nosso monitor descobriu que seus batimentos aumentaram, indicando aos especialistas que sua temperatura corporal havia subido cerca de 1 grau, o que causa um estresse perigosamente alto para o coração.

O sangue que chegava ao cérebro de Karim provavelmente foi reduzido por cerca de uma hora, pois o fluxo de sangue era necessário em outro lugar. Ele se sentiu instável e teve que parar. “Parece que o calor está saindo da minha cabeça”, ele disse.

O que Karim estava experimentando não era uma onda de calor. Era apenas um dia normal de agosto em Basra, uma cidade no limite da mudança climática - e um vislumbre do futuro para grande parte do planeta, à medida que as emissões humanas de carbono alteram o clima.

Em 2050, quase metade do mundo poderá viver em áreas com níveis perigosos de calor por pelo menos um mês, incluindo Miami; Lagos, Nigéria; e Xangai, segundo projeções de pesquisadores da Universidade de Harvard, em Massachusetts, e da Universidade de Washington.

Ao rastrearmos as atividades diárias das pessoas em Basra e na Cidade do Kuwait, documentamos sua exposição ao calor e como isso transformou suas vidas.

O que vimos revelou a enorme distância entre aqueles que têm meios para se proteger e aqueles que não têm. Também vimos uma realidade ainda mais perturbadora: ninguém pode escapar totalmente do calor debilitante.

O calor despertou Kadhim Fadhil Enad do sono. O ar condicionado de sua família havia quebrado e ele começou a suar no escuro.

As altas temperaturas se manteriam pelo resto do dia. Para ele e muitos outros em Basra, o calor crescente alterou os dias de trabalho e os horários de sono.

Quando Enad, 25, e seu irmão, Rahda, saíram para trabalhar pouco depois das 4 da manhã, parecia que estava 46 graus lá fora.

Enad e seu irmão trabalham na construção civil como mão de obra diária. Nos verões sufocantes do sul do Iraque, isso significa correr para terminar o máximo possível antes que o sol apareça e comece o calor mais forte do dia.

Um menino que desmaiou na rua enquanto brincava no calor em Basra. Foto: Emily Rhyne/The New York Times

Mesmo que consigam adaptar o horário, como fez Enad, e comecem a trabalhar no meio da noite, ainda é tão quente que o cansaço atrapalha a jornada de trabalho, reduz a produtividade e prejudica o rendimento.

O calor extremo está alterando a vida em todo o mundo, inclusive no Paquistão, Índia, Tunísia, México, China central e outros lugares. E quanto mais as temperaturas subirem, maior será o número de trabalhadores afetados.

Os efeitos do calor extremo já somam centenas de bilhões de dólares em trabalho perdido a cada ano em todo o mundo.

Eram 5h30 da manhã na Cidade do Kuwait quando Abdullah Husain, 36, saiu de seu apartamento para passear com seus cachorros. O sol mal havia nascido, mas o dia já estava escaldante.

No verão, ele disse, é preciso sair com os cachorros cedo, antes que o asfalto fique tão quente que queime suas patas.

“Depois do nascer do sol tudo é um inferno”, ele disse.

Husain, professor assistente de ciências ambientais na Universidade do Kuwait, vive uma vida muito diferente da de Enad em Basra. Mas os dias de ambos os homens são moldados por um calor inexorável.

Basra e a Cidade do Kuwait ficam a cerca de 130 quilômetros de distância e geralmente têm o mesmo clima, com temperaturas de verão ultrapassando 38 graus por semanas a fio. Mas de outras maneiras, são mundos separados.

Ambos os lugares produzem petróleo, mas no Kuwait ele gerou muita riqueza e proporcionou aos cidadãos um alto padrão de vida. Essa vasta lacuna econômica fica clara no modo com que as pessoas podem se proteger do calor, uma divisão entre ricos e pobres que está ocorrendo cada vez mais em todo o mundo.

Uma visão de Basra, Iraque, um país onde a maioria das pessoas tem baixa renda e eletricidade limitada para tentar se refrescar. Foto: Emily Rhyne/The New York Times

Husain dirige para o trabalho em rodovias largas em um carro com ar condicionado. Enad caminha para o trabalho em ruas repletas de lixo em rápida decomposição. Husain leciona em uma universidade fortemente climatizada. Mesmo trabalhando à noite, Enad não consegue escapar de seu mundo aquecido.

A tremenda riqueza de petróleo do Kuwait permite que ele proteja as pessoas do calor - mas essas proteções têm seu próprio custo, afetando tanto a cultura quanto o estilo de vida.

Quando o calor bate, as pessoas abandonam os parques e as áreas de refeições ao ar livre. Escorregadores, balanços e outros equipamentos de playground ficam tão quentes que podem queimar as pernas das crianças. A maioria dos kuwaitianos evita sair de casa.

Isso afeta a saúde deles. Apesar da abundância de sol, muitos kuwaitianos sofrem de deficiências de vitamina D, produzida pela utilização que o corpo faz da luz solar. Muitos também estão acima do peso.

Até o final do século, Basra, Cidade do Kuwait e muitas outras cidades provavelmente terão muitos dias perigosamente quentes por ano. A quantidade desses dias depende do que as pessoas fizerem nesse meio tempo. De acordo com as previsões dos pesquisadores de Harvard, mesmo que os humanos reduzam significativamente as emissões de carbono, até o ano 2100, a Cidade do Kuwait e Basra experimentarão meses de calor e umidade mais quentes do que 39 graus, muito mais do que na última década.

As estimativas para o futuro são inexatas, mas os cientistas concordam que a situação vai piorar - e pode ser catastrófica se as emissões não forem reduzidas. Nesse cenário, Miami, por exemplo, pode experimentar um calor perigoso por quase metade do ano. Husain, o professor, disse que a maioria dos kuaitianos não pensa na relação entre a queima de combustíveis fósseis e o calor.

Um shopping na cidade do Kuwait, no Kuwait, país onde a enorme riqueza do petróleo permite que a maioria das pessoas passe a vida dentro de casa, com ar-condicionado. Foto: Noah Throop/The New York Times

“As pessoas reclamam, mas não é algo que se traduza em ação ou mudança de comportamento”, disse. “Elas gostam de se bronzear ou ir à praia, mas se estiver muito calor, ficam em casa no ar condicionado.”

E como as emissões atmosféricas não respeitam fronteiras, a Cidade do Kuwait e Basra continuarão a esquentar independentemente do que façam, a menos que grandes emissores como Estados Unidos e China mudem de rumo.

Antes de Karim, o soldador, nascer em 1983, Basra era uma cidade mais verde e fria. Os bosques de tamareiras amenizavam a temperatura e os canais que irrigavam os jardins de Basra lhe renderam o apelido de “a Veneza do Oriente”.

Muitos desses majestosos palmeirais foram derrubados quando Karim era criança, e muitos poucos permaneceram quando Enad, o trabalhador da construção civil, estava crescendo no início dos anos 2000. Mas, mesmo assim, a cidade ainda era pontilhada de tamargueiras, arbustos fartos que brotavam anualmente com flores rosas e brancas. Agora, a maioria delas também se foi. Sem elas, Basra tornou-se uma cidade de concreto e asfalto, que absorve o sol e irradia calor muito depois do pôr do sol.

No futuro, muitas pessoas ao redor do mundo irão migrar para escapar do calor. Mas provavelmente haverá muitos outros que, como Karim e Enad, carecem de recursos para chegar a um país mais verde. E os países mais ricos que já estreitaram suas fronteiras provavelmente tornarão a imigração ainda mais difícil à medida que as pressões climáticas aumentarem. Karim e Enad sonham em morar em outro lugar.

Karim quer um lugar “mais verde”, Enad quer um lugar “mais fresco”. Enad espera casar e ter filhos, e criá-los em algum lugar que tenha “espaço para a natureza”. “As casas serão de madeira e haverá uma floresta”, ele disse. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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