Os hostels, redutos para os econômicos, lutam para sobreviver à pandemia


Neste verão, motivados pela vacinação, os viajantes com orçamento limitado começaram a voltar para os hostels. Mas os desafios estão longe de acabar

Por Alexandra E. Petri

Benedita Vasconcellos, proprietária do Goodmorning Solo Traveller Hostel em Lisboa, esteve prestes a vender o seu querido negócio em junho passado. O hostel a manteve jovem e conectada aos viajantes, ela disse, mas a pandemia fechou o negócio de 10 anos por meses, deixando Vasconcellos se sentindo como uma atleta ferida preocupada em voltar pro jogo.

Por conta da pandemia de coronavírus, muitos hostels ao redor do mundo tiveram que se reinventar ou fecharam as portas. Foto: Ana Brigida/The New York Times

“Decidi não vender e enfrentar as consequências, quaisquer que fossem”, disse Vasconcellos, 65 anos. “Se continuar, continuará e será ótimo.”

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Quanto ao futuro do hostel, Vasconcellos disse: “Eu ainda tenho dúvidas”.

Neste verão, impulsionados pela vacinação, os viajantes com orçamento limitado começaram a voltar para os hostels, reservando camas nos dormitórios e reaprendendo a dividir espaços e conversar com estranhos. À medida que os hostels ressurgiam, isso ocorria de acordo com as diretrizes locais que foram gradualmente atenuadas ou suspensas, permitindo que muitos voltassem a se parecer e se sentir como hostels de novo. Houve conversas nas salas comuns, dormitórios totalmente reservados e algumas atividades - embora não todas - de volta.

Mas as viagens mudaram drasticamente, e os hostels, a espinha dorsal das viagens acessíveis, quase não sobreviveram. O futuro para muitos é incerto. Os hostels - pequenos negócios em sua maioria - são construídos com base na comunidade e na camaradagem, são lugares onde as pessoas se conhecem, compartilham refeições e cervejas e podem até planejar a próxima etapa de sua viagem juntas. Eles são uma placa de Petri para amizades, mas em uma pandemia, havia a preocupação de que eles também pudessem ser uma placa de Petri para a covid-19.

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Restrições de fronteira, lockdowns e distanciamento social foram particularmente devastadores. E os desafios ainda não acabaram: a variante delta, considerada mais contagiosa, traz incertezas para as viagens de outono. No início deste mês, a União Europeia retirou os Estados Unidos de uma lista segura de países, abrindo caminho para que alguns de seus estados imponham restrições, especialmente a viajantes não vacinados, ou banindo completamente os viajantes americanos considerados não essenciais. Países fora do bloco também tomaram medidas semelhantes, incluindo a Noruega.

“Estamos fazendo ajustes constantes”, disse Melkorka Ragnhildardottir, gerente do Kex Hostel em Reiquiavique, na Islândia. “Você só precisa aceitar as coisas como elas vêm.”

Um aumento no número de viajantes domésticos ou a assistência de programas governamentais ajudaram os hostels a sobreviverem. Mas os proprietários e gerentes tiveram que repensar suas estratégias operacionais, desde começar fábricas de bagel até o aluguel de dormitórios apenas para reservas de grupos ou para criação de espaços de trabalho. Muitos se apegam à crença de que os hostels desempenham um papel vital no ecossistema de viagens - uma forma barata de visitar novas cidades e fazer amigos enquanto se viaja - uma forma, eles dizem, que nem mesmo uma pandemia pode eliminar.

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“O mundo dos hostels é incrivelmente criativo”, disse Kash Bhattacharya, um blogueiro de viagens e autor de The Grand Hostels: Luxury Hostels of the World. “Ele ainda tem a capacidade de confundir as expectativas.”

“Algumas coisas vão mudar, mas não acho que o núcleo dos hostels mude”, disse Vasconcellos. “As pessoas querem conhecer novas pessoas. As pessoas querem viajar.”

Benedita Vasconcellos, proprietária doGoodmorning Solo Traveller Hostel, em Lisboa. Foto: Ana Brigida/The New York Times
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Novas formas de fazer negócios

Linda Martinez, co-proprietária do Beehive Hostel em Roma com seu marido, teve dificuldades após a reabertura em junho de 2020, com poucos visitantes, apesar da alta temporada. Quando a segunda onda do coronavírus chegou no último outono, o hostel e a confiança do casal entraram em baixa. “Embora tivéssemos o Behive por mais de 20 anos, nos sentíamos muito mal”, disse Martinez.

As habilidades de seu marido para fazer pão ajudaram a salvá-los. Em outubro, eles inauguraram a Beehive Bagels, que entrega bagels feitos na hora em Roma e pela Itália.

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Em sua época mais movimentada, a Beehive Bagels produzia 1.200 bagels por semana. As vendas caíram recentemente, mas o impacto da carga de carboidratos na moral permaneceu.

“O negócio do bagel foi um impulso não apenas financeiro, mas psicológico e emocional”, disse Martinez, 54 anos. “Isso nos ajudou a superar esse período ruim em que estávamos.” O Beehive está ocupado principalmente com turistas europeus, uma mudança em relação aos seus hóspedes predominantemente americanos, mas ainda não está no mesmo nível pré-pandêmico. Nuvens de preocupação permanecem para o final do outono, acrescentou Martinez.

Muitos hostels se voltaram para o crescente contingente de viajantes desvinculados dos escritórios e que abraçaram o trabalho remoto. O Goodmorning em Lisboa começou a oferecer opções de estadia de longo prazo com tudo incluído e construiu um espaço modesto de coworking. O El Granado em Granada, Espanha, oferece descontos em dois espaços de coworking na cidade. O The Yard, um hostel em Bangkok, converteu seus oito dormitórios em escritórios que aluga para startups locais.

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Mas mesmo com as inovações, as empresas, incluindo a Goodmorning, definharam e muitos hostels desapareceram. De acordo com o site global de reservas Hostelworld, cerca de 13% das 17.700 propriedades que estavam em seu site em dezembro de 2019 foram temporariamente ou permanentemente fechadas em dezembro de 2020. Este ano, cerca de 6% fecharam, um terço na Ásia.

Em geral, as reservas em hostels permanecem drasticamente abaixo dos níveis pré-pandêmicos. De acordo com o Hostelworld, as reservas em 2020 diminuíram 79% em comparação com 2019 e, no primeiro semestre de 2021, caíram ainda mais - uma queda de 73% - em comparação com o mesmo período em 2020.

Mas a maioria dos viajantes ainda está escolhendo dormitórios, segundo o Hostelworld, ecoando uma tendência que os proprietários de hostels viram mesmo antes da vacinação. Os fóruns de viagens no Reddit estão mais uma vez cheios de viajantes fazendo perguntas sobre hostels, com pelo menos um moderador dizendo que as consultas são menos sobre os protocolos covid e mais focadas no ambiente.

Anika Rodriguez (esq) e sua irmã Leyla: elas escolheram ficar em hostel pagando por um quarto privado. Foto: Michael Drost-Hansen/The New York Times

Algumas preocupações constantes entre os viajantes

Anika Rodriguez estava economizando há um tempo para uma viagem à Europa após sua graduação em cosmetologia, que foi rigorosa e a manteve em casa, ela disse. “Nunca via ninguém e não fiz novos amigos”, disse Rodriguez, 20 anos. "Eu estava ficando louca."

Em julho, ela e sua irmã, Leyla, que havia acabado de terminar o ensino médio, deixaram a Califórnia com uma passagem só de ida para a Grécia. Elas estão totalmente vacinadas e estão se hospedando em dormitórios, e ocasionalmente com amigos. Elas dizem que seguem diligentemente as orientações locais. As notícias sobre novos casos e diminuição da imunidade não fez com que repensassem a viagem, mas elas se perguntam se os dormitórios continuam a ser a melhor opção, disse Leyla, 18.

“Não é tão mais caro ficar em um quarto privado para ficarmos seguras”, disse Anika. O maior medo delas é ficarem presas ou terem que encerrar a viagem mais cedo, elas disseram.

Entre mochileiros, especialistas em viagens e proprietários de hostels, o consenso esmagador é que, embora alguns ambientes possam ser mais silenciosos do que outros - bares de hostels estão fechando mais cedo, por exemplo, ou a falta de jantares em família - e o grupo de viajantes seja menos diversificado internacionalmente, a vibração do hostel que faz com que os viajantes se sintam em casa permanece.

Depois que os planos de ficar com um amigo no Havaí não deram certo em abril, Kalanny Nogueras encontrou um hostel com boas críticas que tinha quartos privados e dormitórios disponíveis.

“Estou realmente fazendo justiça a uma viagem solo se ficar no meu próprio quarto?” Nogueras, 21, lembra de ter pensado. Ela estava viajando sozinha pela primeira vez, totalmente vacinada, visitando um estado com rígidos regulamentos de pandemia e o clima geral parecia otimista. Ela reservou uma cama em um dormitório para quatro pessoas.

“Só vou viajar desse jeito agora”, ela disse, dizendo que fez uma amiga em seu primeiro quarto.

Mesmo assim, alguns viajantes escolhem quartos privados.

Depois de viajar por 30 dias, totalmente vacinada, Barbara Konchinski, que é da área de Boston, se hospedou em um hostel na Guatemala em maio. Passar de um isolamento total para dividir um quarto com estranhos a fez refletir. Konchinski, 31, optou por um quarto privado.

“Por mais ansiosa que estivesse, eu realmente sentia falta de estar perto das pessoas e de ouvir histórias diferentes”, disse Konchinski.

Em junho, Ellie Beargeon, ex-militar acostumada a dividir uma tenda com cerca de 40 outros oficiais, ficou em um hostel em Denver em uma viagem de carro para o oeste. Beargeon, 24, que está totalmente vacinada, reservou uma cama em um dormitório de 16 camas que estava lotado quando ela chegou.

Mas ela se sentiu desconfortável, principalmente por causa dos hóspedes que não respeitavam as regras do hostel. Ela cancelou sua próxima reserva em um hostel em Utah e decidiu acampar. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Benedita Vasconcellos, proprietária do Goodmorning Solo Traveller Hostel em Lisboa, esteve prestes a vender o seu querido negócio em junho passado. O hostel a manteve jovem e conectada aos viajantes, ela disse, mas a pandemia fechou o negócio de 10 anos por meses, deixando Vasconcellos se sentindo como uma atleta ferida preocupada em voltar pro jogo.

Por conta da pandemia de coronavírus, muitos hostels ao redor do mundo tiveram que se reinventar ou fecharam as portas. Foto: Ana Brigida/The New York Times

“Decidi não vender e enfrentar as consequências, quaisquer que fossem”, disse Vasconcellos, 65 anos. “Se continuar, continuará e será ótimo.”

Quanto ao futuro do hostel, Vasconcellos disse: “Eu ainda tenho dúvidas”.

Neste verão, impulsionados pela vacinação, os viajantes com orçamento limitado começaram a voltar para os hostels, reservando camas nos dormitórios e reaprendendo a dividir espaços e conversar com estranhos. À medida que os hostels ressurgiam, isso ocorria de acordo com as diretrizes locais que foram gradualmente atenuadas ou suspensas, permitindo que muitos voltassem a se parecer e se sentir como hostels de novo. Houve conversas nas salas comuns, dormitórios totalmente reservados e algumas atividades - embora não todas - de volta.

Mas as viagens mudaram drasticamente, e os hostels, a espinha dorsal das viagens acessíveis, quase não sobreviveram. O futuro para muitos é incerto. Os hostels - pequenos negócios em sua maioria - são construídos com base na comunidade e na camaradagem, são lugares onde as pessoas se conhecem, compartilham refeições e cervejas e podem até planejar a próxima etapa de sua viagem juntas. Eles são uma placa de Petri para amizades, mas em uma pandemia, havia a preocupação de que eles também pudessem ser uma placa de Petri para a covid-19.

Restrições de fronteira, lockdowns e distanciamento social foram particularmente devastadores. E os desafios ainda não acabaram: a variante delta, considerada mais contagiosa, traz incertezas para as viagens de outono. No início deste mês, a União Europeia retirou os Estados Unidos de uma lista segura de países, abrindo caminho para que alguns de seus estados imponham restrições, especialmente a viajantes não vacinados, ou banindo completamente os viajantes americanos considerados não essenciais. Países fora do bloco também tomaram medidas semelhantes, incluindo a Noruega.

“Estamos fazendo ajustes constantes”, disse Melkorka Ragnhildardottir, gerente do Kex Hostel em Reiquiavique, na Islândia. “Você só precisa aceitar as coisas como elas vêm.”

Um aumento no número de viajantes domésticos ou a assistência de programas governamentais ajudaram os hostels a sobreviverem. Mas os proprietários e gerentes tiveram que repensar suas estratégias operacionais, desde começar fábricas de bagel até o aluguel de dormitórios apenas para reservas de grupos ou para criação de espaços de trabalho. Muitos se apegam à crença de que os hostels desempenham um papel vital no ecossistema de viagens - uma forma barata de visitar novas cidades e fazer amigos enquanto se viaja - uma forma, eles dizem, que nem mesmo uma pandemia pode eliminar.

“O mundo dos hostels é incrivelmente criativo”, disse Kash Bhattacharya, um blogueiro de viagens e autor de The Grand Hostels: Luxury Hostels of the World. “Ele ainda tem a capacidade de confundir as expectativas.”

“Algumas coisas vão mudar, mas não acho que o núcleo dos hostels mude”, disse Vasconcellos. “As pessoas querem conhecer novas pessoas. As pessoas querem viajar.”

Benedita Vasconcellos, proprietária doGoodmorning Solo Traveller Hostel, em Lisboa. Foto: Ana Brigida/The New York Times

Novas formas de fazer negócios

Linda Martinez, co-proprietária do Beehive Hostel em Roma com seu marido, teve dificuldades após a reabertura em junho de 2020, com poucos visitantes, apesar da alta temporada. Quando a segunda onda do coronavírus chegou no último outono, o hostel e a confiança do casal entraram em baixa. “Embora tivéssemos o Behive por mais de 20 anos, nos sentíamos muito mal”, disse Martinez.

As habilidades de seu marido para fazer pão ajudaram a salvá-los. Em outubro, eles inauguraram a Beehive Bagels, que entrega bagels feitos na hora em Roma e pela Itália.

Em sua época mais movimentada, a Beehive Bagels produzia 1.200 bagels por semana. As vendas caíram recentemente, mas o impacto da carga de carboidratos na moral permaneceu.

“O negócio do bagel foi um impulso não apenas financeiro, mas psicológico e emocional”, disse Martinez, 54 anos. “Isso nos ajudou a superar esse período ruim em que estávamos.” O Beehive está ocupado principalmente com turistas europeus, uma mudança em relação aos seus hóspedes predominantemente americanos, mas ainda não está no mesmo nível pré-pandêmico. Nuvens de preocupação permanecem para o final do outono, acrescentou Martinez.

Muitos hostels se voltaram para o crescente contingente de viajantes desvinculados dos escritórios e que abraçaram o trabalho remoto. O Goodmorning em Lisboa começou a oferecer opções de estadia de longo prazo com tudo incluído e construiu um espaço modesto de coworking. O El Granado em Granada, Espanha, oferece descontos em dois espaços de coworking na cidade. O The Yard, um hostel em Bangkok, converteu seus oito dormitórios em escritórios que aluga para startups locais.

Mas mesmo com as inovações, as empresas, incluindo a Goodmorning, definharam e muitos hostels desapareceram. De acordo com o site global de reservas Hostelworld, cerca de 13% das 17.700 propriedades que estavam em seu site em dezembro de 2019 foram temporariamente ou permanentemente fechadas em dezembro de 2020. Este ano, cerca de 6% fecharam, um terço na Ásia.

Em geral, as reservas em hostels permanecem drasticamente abaixo dos níveis pré-pandêmicos. De acordo com o Hostelworld, as reservas em 2020 diminuíram 79% em comparação com 2019 e, no primeiro semestre de 2021, caíram ainda mais - uma queda de 73% - em comparação com o mesmo período em 2020.

Mas a maioria dos viajantes ainda está escolhendo dormitórios, segundo o Hostelworld, ecoando uma tendência que os proprietários de hostels viram mesmo antes da vacinação. Os fóruns de viagens no Reddit estão mais uma vez cheios de viajantes fazendo perguntas sobre hostels, com pelo menos um moderador dizendo que as consultas são menos sobre os protocolos covid e mais focadas no ambiente.

Anika Rodriguez (esq) e sua irmã Leyla: elas escolheram ficar em hostel pagando por um quarto privado. Foto: Michael Drost-Hansen/The New York Times

Algumas preocupações constantes entre os viajantes

Anika Rodriguez estava economizando há um tempo para uma viagem à Europa após sua graduação em cosmetologia, que foi rigorosa e a manteve em casa, ela disse. “Nunca via ninguém e não fiz novos amigos”, disse Rodriguez, 20 anos. "Eu estava ficando louca."

Em julho, ela e sua irmã, Leyla, que havia acabado de terminar o ensino médio, deixaram a Califórnia com uma passagem só de ida para a Grécia. Elas estão totalmente vacinadas e estão se hospedando em dormitórios, e ocasionalmente com amigos. Elas dizem que seguem diligentemente as orientações locais. As notícias sobre novos casos e diminuição da imunidade não fez com que repensassem a viagem, mas elas se perguntam se os dormitórios continuam a ser a melhor opção, disse Leyla, 18.

“Não é tão mais caro ficar em um quarto privado para ficarmos seguras”, disse Anika. O maior medo delas é ficarem presas ou terem que encerrar a viagem mais cedo, elas disseram.

Entre mochileiros, especialistas em viagens e proprietários de hostels, o consenso esmagador é que, embora alguns ambientes possam ser mais silenciosos do que outros - bares de hostels estão fechando mais cedo, por exemplo, ou a falta de jantares em família - e o grupo de viajantes seja menos diversificado internacionalmente, a vibração do hostel que faz com que os viajantes se sintam em casa permanece.

Depois que os planos de ficar com um amigo no Havaí não deram certo em abril, Kalanny Nogueras encontrou um hostel com boas críticas que tinha quartos privados e dormitórios disponíveis.

“Estou realmente fazendo justiça a uma viagem solo se ficar no meu próprio quarto?” Nogueras, 21, lembra de ter pensado. Ela estava viajando sozinha pela primeira vez, totalmente vacinada, visitando um estado com rígidos regulamentos de pandemia e o clima geral parecia otimista. Ela reservou uma cama em um dormitório para quatro pessoas.

“Só vou viajar desse jeito agora”, ela disse, dizendo que fez uma amiga em seu primeiro quarto.

Mesmo assim, alguns viajantes escolhem quartos privados.

Depois de viajar por 30 dias, totalmente vacinada, Barbara Konchinski, que é da área de Boston, se hospedou em um hostel na Guatemala em maio. Passar de um isolamento total para dividir um quarto com estranhos a fez refletir. Konchinski, 31, optou por um quarto privado.

“Por mais ansiosa que estivesse, eu realmente sentia falta de estar perto das pessoas e de ouvir histórias diferentes”, disse Konchinski.

Em junho, Ellie Beargeon, ex-militar acostumada a dividir uma tenda com cerca de 40 outros oficiais, ficou em um hostel em Denver em uma viagem de carro para o oeste. Beargeon, 24, que está totalmente vacinada, reservou uma cama em um dormitório de 16 camas que estava lotado quando ela chegou.

Mas ela se sentiu desconfortável, principalmente por causa dos hóspedes que não respeitavam as regras do hostel. Ela cancelou sua próxima reserva em um hostel em Utah e decidiu acampar. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Benedita Vasconcellos, proprietária do Goodmorning Solo Traveller Hostel em Lisboa, esteve prestes a vender o seu querido negócio em junho passado. O hostel a manteve jovem e conectada aos viajantes, ela disse, mas a pandemia fechou o negócio de 10 anos por meses, deixando Vasconcellos se sentindo como uma atleta ferida preocupada em voltar pro jogo.

Por conta da pandemia de coronavírus, muitos hostels ao redor do mundo tiveram que se reinventar ou fecharam as portas. Foto: Ana Brigida/The New York Times

“Decidi não vender e enfrentar as consequências, quaisquer que fossem”, disse Vasconcellos, 65 anos. “Se continuar, continuará e será ótimo.”

Quanto ao futuro do hostel, Vasconcellos disse: “Eu ainda tenho dúvidas”.

Neste verão, impulsionados pela vacinação, os viajantes com orçamento limitado começaram a voltar para os hostels, reservando camas nos dormitórios e reaprendendo a dividir espaços e conversar com estranhos. À medida que os hostels ressurgiam, isso ocorria de acordo com as diretrizes locais que foram gradualmente atenuadas ou suspensas, permitindo que muitos voltassem a se parecer e se sentir como hostels de novo. Houve conversas nas salas comuns, dormitórios totalmente reservados e algumas atividades - embora não todas - de volta.

Mas as viagens mudaram drasticamente, e os hostels, a espinha dorsal das viagens acessíveis, quase não sobreviveram. O futuro para muitos é incerto. Os hostels - pequenos negócios em sua maioria - são construídos com base na comunidade e na camaradagem, são lugares onde as pessoas se conhecem, compartilham refeições e cervejas e podem até planejar a próxima etapa de sua viagem juntas. Eles são uma placa de Petri para amizades, mas em uma pandemia, havia a preocupação de que eles também pudessem ser uma placa de Petri para a covid-19.

Restrições de fronteira, lockdowns e distanciamento social foram particularmente devastadores. E os desafios ainda não acabaram: a variante delta, considerada mais contagiosa, traz incertezas para as viagens de outono. No início deste mês, a União Europeia retirou os Estados Unidos de uma lista segura de países, abrindo caminho para que alguns de seus estados imponham restrições, especialmente a viajantes não vacinados, ou banindo completamente os viajantes americanos considerados não essenciais. Países fora do bloco também tomaram medidas semelhantes, incluindo a Noruega.

“Estamos fazendo ajustes constantes”, disse Melkorka Ragnhildardottir, gerente do Kex Hostel em Reiquiavique, na Islândia. “Você só precisa aceitar as coisas como elas vêm.”

Um aumento no número de viajantes domésticos ou a assistência de programas governamentais ajudaram os hostels a sobreviverem. Mas os proprietários e gerentes tiveram que repensar suas estratégias operacionais, desde começar fábricas de bagel até o aluguel de dormitórios apenas para reservas de grupos ou para criação de espaços de trabalho. Muitos se apegam à crença de que os hostels desempenham um papel vital no ecossistema de viagens - uma forma barata de visitar novas cidades e fazer amigos enquanto se viaja - uma forma, eles dizem, que nem mesmo uma pandemia pode eliminar.

“O mundo dos hostels é incrivelmente criativo”, disse Kash Bhattacharya, um blogueiro de viagens e autor de The Grand Hostels: Luxury Hostels of the World. “Ele ainda tem a capacidade de confundir as expectativas.”

“Algumas coisas vão mudar, mas não acho que o núcleo dos hostels mude”, disse Vasconcellos. “As pessoas querem conhecer novas pessoas. As pessoas querem viajar.”

Benedita Vasconcellos, proprietária doGoodmorning Solo Traveller Hostel, em Lisboa. Foto: Ana Brigida/The New York Times

Novas formas de fazer negócios

Linda Martinez, co-proprietária do Beehive Hostel em Roma com seu marido, teve dificuldades após a reabertura em junho de 2020, com poucos visitantes, apesar da alta temporada. Quando a segunda onda do coronavírus chegou no último outono, o hostel e a confiança do casal entraram em baixa. “Embora tivéssemos o Behive por mais de 20 anos, nos sentíamos muito mal”, disse Martinez.

As habilidades de seu marido para fazer pão ajudaram a salvá-los. Em outubro, eles inauguraram a Beehive Bagels, que entrega bagels feitos na hora em Roma e pela Itália.

Em sua época mais movimentada, a Beehive Bagels produzia 1.200 bagels por semana. As vendas caíram recentemente, mas o impacto da carga de carboidratos na moral permaneceu.

“O negócio do bagel foi um impulso não apenas financeiro, mas psicológico e emocional”, disse Martinez, 54 anos. “Isso nos ajudou a superar esse período ruim em que estávamos.” O Beehive está ocupado principalmente com turistas europeus, uma mudança em relação aos seus hóspedes predominantemente americanos, mas ainda não está no mesmo nível pré-pandêmico. Nuvens de preocupação permanecem para o final do outono, acrescentou Martinez.

Muitos hostels se voltaram para o crescente contingente de viajantes desvinculados dos escritórios e que abraçaram o trabalho remoto. O Goodmorning em Lisboa começou a oferecer opções de estadia de longo prazo com tudo incluído e construiu um espaço modesto de coworking. O El Granado em Granada, Espanha, oferece descontos em dois espaços de coworking na cidade. O The Yard, um hostel em Bangkok, converteu seus oito dormitórios em escritórios que aluga para startups locais.

Mas mesmo com as inovações, as empresas, incluindo a Goodmorning, definharam e muitos hostels desapareceram. De acordo com o site global de reservas Hostelworld, cerca de 13% das 17.700 propriedades que estavam em seu site em dezembro de 2019 foram temporariamente ou permanentemente fechadas em dezembro de 2020. Este ano, cerca de 6% fecharam, um terço na Ásia.

Em geral, as reservas em hostels permanecem drasticamente abaixo dos níveis pré-pandêmicos. De acordo com o Hostelworld, as reservas em 2020 diminuíram 79% em comparação com 2019 e, no primeiro semestre de 2021, caíram ainda mais - uma queda de 73% - em comparação com o mesmo período em 2020.

Mas a maioria dos viajantes ainda está escolhendo dormitórios, segundo o Hostelworld, ecoando uma tendência que os proprietários de hostels viram mesmo antes da vacinação. Os fóruns de viagens no Reddit estão mais uma vez cheios de viajantes fazendo perguntas sobre hostels, com pelo menos um moderador dizendo que as consultas são menos sobre os protocolos covid e mais focadas no ambiente.

Anika Rodriguez (esq) e sua irmã Leyla: elas escolheram ficar em hostel pagando por um quarto privado. Foto: Michael Drost-Hansen/The New York Times

Algumas preocupações constantes entre os viajantes

Anika Rodriguez estava economizando há um tempo para uma viagem à Europa após sua graduação em cosmetologia, que foi rigorosa e a manteve em casa, ela disse. “Nunca via ninguém e não fiz novos amigos”, disse Rodriguez, 20 anos. "Eu estava ficando louca."

Em julho, ela e sua irmã, Leyla, que havia acabado de terminar o ensino médio, deixaram a Califórnia com uma passagem só de ida para a Grécia. Elas estão totalmente vacinadas e estão se hospedando em dormitórios, e ocasionalmente com amigos. Elas dizem que seguem diligentemente as orientações locais. As notícias sobre novos casos e diminuição da imunidade não fez com que repensassem a viagem, mas elas se perguntam se os dormitórios continuam a ser a melhor opção, disse Leyla, 18.

“Não é tão mais caro ficar em um quarto privado para ficarmos seguras”, disse Anika. O maior medo delas é ficarem presas ou terem que encerrar a viagem mais cedo, elas disseram.

Entre mochileiros, especialistas em viagens e proprietários de hostels, o consenso esmagador é que, embora alguns ambientes possam ser mais silenciosos do que outros - bares de hostels estão fechando mais cedo, por exemplo, ou a falta de jantares em família - e o grupo de viajantes seja menos diversificado internacionalmente, a vibração do hostel que faz com que os viajantes se sintam em casa permanece.

Depois que os planos de ficar com um amigo no Havaí não deram certo em abril, Kalanny Nogueras encontrou um hostel com boas críticas que tinha quartos privados e dormitórios disponíveis.

“Estou realmente fazendo justiça a uma viagem solo se ficar no meu próprio quarto?” Nogueras, 21, lembra de ter pensado. Ela estava viajando sozinha pela primeira vez, totalmente vacinada, visitando um estado com rígidos regulamentos de pandemia e o clima geral parecia otimista. Ela reservou uma cama em um dormitório para quatro pessoas.

“Só vou viajar desse jeito agora”, ela disse, dizendo que fez uma amiga em seu primeiro quarto.

Mesmo assim, alguns viajantes escolhem quartos privados.

Depois de viajar por 30 dias, totalmente vacinada, Barbara Konchinski, que é da área de Boston, se hospedou em um hostel na Guatemala em maio. Passar de um isolamento total para dividir um quarto com estranhos a fez refletir. Konchinski, 31, optou por um quarto privado.

“Por mais ansiosa que estivesse, eu realmente sentia falta de estar perto das pessoas e de ouvir histórias diferentes”, disse Konchinski.

Em junho, Ellie Beargeon, ex-militar acostumada a dividir uma tenda com cerca de 40 outros oficiais, ficou em um hostel em Denver em uma viagem de carro para o oeste. Beargeon, 24, que está totalmente vacinada, reservou uma cama em um dormitório de 16 camas que estava lotado quando ela chegou.

Mas ela se sentiu desconfortável, principalmente por causa dos hóspedes que não respeitavam as regras do hostel. Ela cancelou sua próxima reserva em um hostel em Utah e decidiu acampar. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Benedita Vasconcellos, proprietária do Goodmorning Solo Traveller Hostel em Lisboa, esteve prestes a vender o seu querido negócio em junho passado. O hostel a manteve jovem e conectada aos viajantes, ela disse, mas a pandemia fechou o negócio de 10 anos por meses, deixando Vasconcellos se sentindo como uma atleta ferida preocupada em voltar pro jogo.

Por conta da pandemia de coronavírus, muitos hostels ao redor do mundo tiveram que se reinventar ou fecharam as portas. Foto: Ana Brigida/The New York Times

“Decidi não vender e enfrentar as consequências, quaisquer que fossem”, disse Vasconcellos, 65 anos. “Se continuar, continuará e será ótimo.”

Quanto ao futuro do hostel, Vasconcellos disse: “Eu ainda tenho dúvidas”.

Neste verão, impulsionados pela vacinação, os viajantes com orçamento limitado começaram a voltar para os hostels, reservando camas nos dormitórios e reaprendendo a dividir espaços e conversar com estranhos. À medida que os hostels ressurgiam, isso ocorria de acordo com as diretrizes locais que foram gradualmente atenuadas ou suspensas, permitindo que muitos voltassem a se parecer e se sentir como hostels de novo. Houve conversas nas salas comuns, dormitórios totalmente reservados e algumas atividades - embora não todas - de volta.

Mas as viagens mudaram drasticamente, e os hostels, a espinha dorsal das viagens acessíveis, quase não sobreviveram. O futuro para muitos é incerto. Os hostels - pequenos negócios em sua maioria - são construídos com base na comunidade e na camaradagem, são lugares onde as pessoas se conhecem, compartilham refeições e cervejas e podem até planejar a próxima etapa de sua viagem juntas. Eles são uma placa de Petri para amizades, mas em uma pandemia, havia a preocupação de que eles também pudessem ser uma placa de Petri para a covid-19.

Restrições de fronteira, lockdowns e distanciamento social foram particularmente devastadores. E os desafios ainda não acabaram: a variante delta, considerada mais contagiosa, traz incertezas para as viagens de outono. No início deste mês, a União Europeia retirou os Estados Unidos de uma lista segura de países, abrindo caminho para que alguns de seus estados imponham restrições, especialmente a viajantes não vacinados, ou banindo completamente os viajantes americanos considerados não essenciais. Países fora do bloco também tomaram medidas semelhantes, incluindo a Noruega.

“Estamos fazendo ajustes constantes”, disse Melkorka Ragnhildardottir, gerente do Kex Hostel em Reiquiavique, na Islândia. “Você só precisa aceitar as coisas como elas vêm.”

Um aumento no número de viajantes domésticos ou a assistência de programas governamentais ajudaram os hostels a sobreviverem. Mas os proprietários e gerentes tiveram que repensar suas estratégias operacionais, desde começar fábricas de bagel até o aluguel de dormitórios apenas para reservas de grupos ou para criação de espaços de trabalho. Muitos se apegam à crença de que os hostels desempenham um papel vital no ecossistema de viagens - uma forma barata de visitar novas cidades e fazer amigos enquanto se viaja - uma forma, eles dizem, que nem mesmo uma pandemia pode eliminar.

“O mundo dos hostels é incrivelmente criativo”, disse Kash Bhattacharya, um blogueiro de viagens e autor de The Grand Hostels: Luxury Hostels of the World. “Ele ainda tem a capacidade de confundir as expectativas.”

“Algumas coisas vão mudar, mas não acho que o núcleo dos hostels mude”, disse Vasconcellos. “As pessoas querem conhecer novas pessoas. As pessoas querem viajar.”

Benedita Vasconcellos, proprietária doGoodmorning Solo Traveller Hostel, em Lisboa. Foto: Ana Brigida/The New York Times

Novas formas de fazer negócios

Linda Martinez, co-proprietária do Beehive Hostel em Roma com seu marido, teve dificuldades após a reabertura em junho de 2020, com poucos visitantes, apesar da alta temporada. Quando a segunda onda do coronavírus chegou no último outono, o hostel e a confiança do casal entraram em baixa. “Embora tivéssemos o Behive por mais de 20 anos, nos sentíamos muito mal”, disse Martinez.

As habilidades de seu marido para fazer pão ajudaram a salvá-los. Em outubro, eles inauguraram a Beehive Bagels, que entrega bagels feitos na hora em Roma e pela Itália.

Em sua época mais movimentada, a Beehive Bagels produzia 1.200 bagels por semana. As vendas caíram recentemente, mas o impacto da carga de carboidratos na moral permaneceu.

“O negócio do bagel foi um impulso não apenas financeiro, mas psicológico e emocional”, disse Martinez, 54 anos. “Isso nos ajudou a superar esse período ruim em que estávamos.” O Beehive está ocupado principalmente com turistas europeus, uma mudança em relação aos seus hóspedes predominantemente americanos, mas ainda não está no mesmo nível pré-pandêmico. Nuvens de preocupação permanecem para o final do outono, acrescentou Martinez.

Muitos hostels se voltaram para o crescente contingente de viajantes desvinculados dos escritórios e que abraçaram o trabalho remoto. O Goodmorning em Lisboa começou a oferecer opções de estadia de longo prazo com tudo incluído e construiu um espaço modesto de coworking. O El Granado em Granada, Espanha, oferece descontos em dois espaços de coworking na cidade. O The Yard, um hostel em Bangkok, converteu seus oito dormitórios em escritórios que aluga para startups locais.

Mas mesmo com as inovações, as empresas, incluindo a Goodmorning, definharam e muitos hostels desapareceram. De acordo com o site global de reservas Hostelworld, cerca de 13% das 17.700 propriedades que estavam em seu site em dezembro de 2019 foram temporariamente ou permanentemente fechadas em dezembro de 2020. Este ano, cerca de 6% fecharam, um terço na Ásia.

Em geral, as reservas em hostels permanecem drasticamente abaixo dos níveis pré-pandêmicos. De acordo com o Hostelworld, as reservas em 2020 diminuíram 79% em comparação com 2019 e, no primeiro semestre de 2021, caíram ainda mais - uma queda de 73% - em comparação com o mesmo período em 2020.

Mas a maioria dos viajantes ainda está escolhendo dormitórios, segundo o Hostelworld, ecoando uma tendência que os proprietários de hostels viram mesmo antes da vacinação. Os fóruns de viagens no Reddit estão mais uma vez cheios de viajantes fazendo perguntas sobre hostels, com pelo menos um moderador dizendo que as consultas são menos sobre os protocolos covid e mais focadas no ambiente.

Anika Rodriguez (esq) e sua irmã Leyla: elas escolheram ficar em hostel pagando por um quarto privado. Foto: Michael Drost-Hansen/The New York Times

Algumas preocupações constantes entre os viajantes

Anika Rodriguez estava economizando há um tempo para uma viagem à Europa após sua graduação em cosmetologia, que foi rigorosa e a manteve em casa, ela disse. “Nunca via ninguém e não fiz novos amigos”, disse Rodriguez, 20 anos. "Eu estava ficando louca."

Em julho, ela e sua irmã, Leyla, que havia acabado de terminar o ensino médio, deixaram a Califórnia com uma passagem só de ida para a Grécia. Elas estão totalmente vacinadas e estão se hospedando em dormitórios, e ocasionalmente com amigos. Elas dizem que seguem diligentemente as orientações locais. As notícias sobre novos casos e diminuição da imunidade não fez com que repensassem a viagem, mas elas se perguntam se os dormitórios continuam a ser a melhor opção, disse Leyla, 18.

“Não é tão mais caro ficar em um quarto privado para ficarmos seguras”, disse Anika. O maior medo delas é ficarem presas ou terem que encerrar a viagem mais cedo, elas disseram.

Entre mochileiros, especialistas em viagens e proprietários de hostels, o consenso esmagador é que, embora alguns ambientes possam ser mais silenciosos do que outros - bares de hostels estão fechando mais cedo, por exemplo, ou a falta de jantares em família - e o grupo de viajantes seja menos diversificado internacionalmente, a vibração do hostel que faz com que os viajantes se sintam em casa permanece.

Depois que os planos de ficar com um amigo no Havaí não deram certo em abril, Kalanny Nogueras encontrou um hostel com boas críticas que tinha quartos privados e dormitórios disponíveis.

“Estou realmente fazendo justiça a uma viagem solo se ficar no meu próprio quarto?” Nogueras, 21, lembra de ter pensado. Ela estava viajando sozinha pela primeira vez, totalmente vacinada, visitando um estado com rígidos regulamentos de pandemia e o clima geral parecia otimista. Ela reservou uma cama em um dormitório para quatro pessoas.

“Só vou viajar desse jeito agora”, ela disse, dizendo que fez uma amiga em seu primeiro quarto.

Mesmo assim, alguns viajantes escolhem quartos privados.

Depois de viajar por 30 dias, totalmente vacinada, Barbara Konchinski, que é da área de Boston, se hospedou em um hostel na Guatemala em maio. Passar de um isolamento total para dividir um quarto com estranhos a fez refletir. Konchinski, 31, optou por um quarto privado.

“Por mais ansiosa que estivesse, eu realmente sentia falta de estar perto das pessoas e de ouvir histórias diferentes”, disse Konchinski.

Em junho, Ellie Beargeon, ex-militar acostumada a dividir uma tenda com cerca de 40 outros oficiais, ficou em um hostel em Denver em uma viagem de carro para o oeste. Beargeon, 24, que está totalmente vacinada, reservou uma cama em um dormitório de 16 camas que estava lotado quando ela chegou.

Mas ela se sentiu desconfortável, principalmente por causa dos hóspedes que não respeitavam as regras do hostel. Ela cancelou sua próxima reserva em um hostel em Utah e decidiu acampar. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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Benedita Vasconcellos, proprietária do Goodmorning Solo Traveller Hostel em Lisboa, esteve prestes a vender o seu querido negócio em junho passado. O hostel a manteve jovem e conectada aos viajantes, ela disse, mas a pandemia fechou o negócio de 10 anos por meses, deixando Vasconcellos se sentindo como uma atleta ferida preocupada em voltar pro jogo.

Por conta da pandemia de coronavírus, muitos hostels ao redor do mundo tiveram que se reinventar ou fecharam as portas. Foto: Ana Brigida/The New York Times

“Decidi não vender e enfrentar as consequências, quaisquer que fossem”, disse Vasconcellos, 65 anos. “Se continuar, continuará e será ótimo.”

Quanto ao futuro do hostel, Vasconcellos disse: “Eu ainda tenho dúvidas”.

Neste verão, impulsionados pela vacinação, os viajantes com orçamento limitado começaram a voltar para os hostels, reservando camas nos dormitórios e reaprendendo a dividir espaços e conversar com estranhos. À medida que os hostels ressurgiam, isso ocorria de acordo com as diretrizes locais que foram gradualmente atenuadas ou suspensas, permitindo que muitos voltassem a se parecer e se sentir como hostels de novo. Houve conversas nas salas comuns, dormitórios totalmente reservados e algumas atividades - embora não todas - de volta.

Mas as viagens mudaram drasticamente, e os hostels, a espinha dorsal das viagens acessíveis, quase não sobreviveram. O futuro para muitos é incerto. Os hostels - pequenos negócios em sua maioria - são construídos com base na comunidade e na camaradagem, são lugares onde as pessoas se conhecem, compartilham refeições e cervejas e podem até planejar a próxima etapa de sua viagem juntas. Eles são uma placa de Petri para amizades, mas em uma pandemia, havia a preocupação de que eles também pudessem ser uma placa de Petri para a covid-19.

Restrições de fronteira, lockdowns e distanciamento social foram particularmente devastadores. E os desafios ainda não acabaram: a variante delta, considerada mais contagiosa, traz incertezas para as viagens de outono. No início deste mês, a União Europeia retirou os Estados Unidos de uma lista segura de países, abrindo caminho para que alguns de seus estados imponham restrições, especialmente a viajantes não vacinados, ou banindo completamente os viajantes americanos considerados não essenciais. Países fora do bloco também tomaram medidas semelhantes, incluindo a Noruega.

“Estamos fazendo ajustes constantes”, disse Melkorka Ragnhildardottir, gerente do Kex Hostel em Reiquiavique, na Islândia. “Você só precisa aceitar as coisas como elas vêm.”

Um aumento no número de viajantes domésticos ou a assistência de programas governamentais ajudaram os hostels a sobreviverem. Mas os proprietários e gerentes tiveram que repensar suas estratégias operacionais, desde começar fábricas de bagel até o aluguel de dormitórios apenas para reservas de grupos ou para criação de espaços de trabalho. Muitos se apegam à crença de que os hostels desempenham um papel vital no ecossistema de viagens - uma forma barata de visitar novas cidades e fazer amigos enquanto se viaja - uma forma, eles dizem, que nem mesmo uma pandemia pode eliminar.

“O mundo dos hostels é incrivelmente criativo”, disse Kash Bhattacharya, um blogueiro de viagens e autor de The Grand Hostels: Luxury Hostels of the World. “Ele ainda tem a capacidade de confundir as expectativas.”

“Algumas coisas vão mudar, mas não acho que o núcleo dos hostels mude”, disse Vasconcellos. “As pessoas querem conhecer novas pessoas. As pessoas querem viajar.”

Benedita Vasconcellos, proprietária doGoodmorning Solo Traveller Hostel, em Lisboa. Foto: Ana Brigida/The New York Times

Novas formas de fazer negócios

Linda Martinez, co-proprietária do Beehive Hostel em Roma com seu marido, teve dificuldades após a reabertura em junho de 2020, com poucos visitantes, apesar da alta temporada. Quando a segunda onda do coronavírus chegou no último outono, o hostel e a confiança do casal entraram em baixa. “Embora tivéssemos o Behive por mais de 20 anos, nos sentíamos muito mal”, disse Martinez.

As habilidades de seu marido para fazer pão ajudaram a salvá-los. Em outubro, eles inauguraram a Beehive Bagels, que entrega bagels feitos na hora em Roma e pela Itália.

Em sua época mais movimentada, a Beehive Bagels produzia 1.200 bagels por semana. As vendas caíram recentemente, mas o impacto da carga de carboidratos na moral permaneceu.

“O negócio do bagel foi um impulso não apenas financeiro, mas psicológico e emocional”, disse Martinez, 54 anos. “Isso nos ajudou a superar esse período ruim em que estávamos.” O Beehive está ocupado principalmente com turistas europeus, uma mudança em relação aos seus hóspedes predominantemente americanos, mas ainda não está no mesmo nível pré-pandêmico. Nuvens de preocupação permanecem para o final do outono, acrescentou Martinez.

Muitos hostels se voltaram para o crescente contingente de viajantes desvinculados dos escritórios e que abraçaram o trabalho remoto. O Goodmorning em Lisboa começou a oferecer opções de estadia de longo prazo com tudo incluído e construiu um espaço modesto de coworking. O El Granado em Granada, Espanha, oferece descontos em dois espaços de coworking na cidade. O The Yard, um hostel em Bangkok, converteu seus oito dormitórios em escritórios que aluga para startups locais.

Mas mesmo com as inovações, as empresas, incluindo a Goodmorning, definharam e muitos hostels desapareceram. De acordo com o site global de reservas Hostelworld, cerca de 13% das 17.700 propriedades que estavam em seu site em dezembro de 2019 foram temporariamente ou permanentemente fechadas em dezembro de 2020. Este ano, cerca de 6% fecharam, um terço na Ásia.

Em geral, as reservas em hostels permanecem drasticamente abaixo dos níveis pré-pandêmicos. De acordo com o Hostelworld, as reservas em 2020 diminuíram 79% em comparação com 2019 e, no primeiro semestre de 2021, caíram ainda mais - uma queda de 73% - em comparação com o mesmo período em 2020.

Mas a maioria dos viajantes ainda está escolhendo dormitórios, segundo o Hostelworld, ecoando uma tendência que os proprietários de hostels viram mesmo antes da vacinação. Os fóruns de viagens no Reddit estão mais uma vez cheios de viajantes fazendo perguntas sobre hostels, com pelo menos um moderador dizendo que as consultas são menos sobre os protocolos covid e mais focadas no ambiente.

Anika Rodriguez (esq) e sua irmã Leyla: elas escolheram ficar em hostel pagando por um quarto privado. Foto: Michael Drost-Hansen/The New York Times

Algumas preocupações constantes entre os viajantes

Anika Rodriguez estava economizando há um tempo para uma viagem à Europa após sua graduação em cosmetologia, que foi rigorosa e a manteve em casa, ela disse. “Nunca via ninguém e não fiz novos amigos”, disse Rodriguez, 20 anos. "Eu estava ficando louca."

Em julho, ela e sua irmã, Leyla, que havia acabado de terminar o ensino médio, deixaram a Califórnia com uma passagem só de ida para a Grécia. Elas estão totalmente vacinadas e estão se hospedando em dormitórios, e ocasionalmente com amigos. Elas dizem que seguem diligentemente as orientações locais. As notícias sobre novos casos e diminuição da imunidade não fez com que repensassem a viagem, mas elas se perguntam se os dormitórios continuam a ser a melhor opção, disse Leyla, 18.

“Não é tão mais caro ficar em um quarto privado para ficarmos seguras”, disse Anika. O maior medo delas é ficarem presas ou terem que encerrar a viagem mais cedo, elas disseram.

Entre mochileiros, especialistas em viagens e proprietários de hostels, o consenso esmagador é que, embora alguns ambientes possam ser mais silenciosos do que outros - bares de hostels estão fechando mais cedo, por exemplo, ou a falta de jantares em família - e o grupo de viajantes seja menos diversificado internacionalmente, a vibração do hostel que faz com que os viajantes se sintam em casa permanece.

Depois que os planos de ficar com um amigo no Havaí não deram certo em abril, Kalanny Nogueras encontrou um hostel com boas críticas que tinha quartos privados e dormitórios disponíveis.

“Estou realmente fazendo justiça a uma viagem solo se ficar no meu próprio quarto?” Nogueras, 21, lembra de ter pensado. Ela estava viajando sozinha pela primeira vez, totalmente vacinada, visitando um estado com rígidos regulamentos de pandemia e o clima geral parecia otimista. Ela reservou uma cama em um dormitório para quatro pessoas.

“Só vou viajar desse jeito agora”, ela disse, dizendo que fez uma amiga em seu primeiro quarto.

Mesmo assim, alguns viajantes escolhem quartos privados.

Depois de viajar por 30 dias, totalmente vacinada, Barbara Konchinski, que é da área de Boston, se hospedou em um hostel na Guatemala em maio. Passar de um isolamento total para dividir um quarto com estranhos a fez refletir. Konchinski, 31, optou por um quarto privado.

“Por mais ansiosa que estivesse, eu realmente sentia falta de estar perto das pessoas e de ouvir histórias diferentes”, disse Konchinski.

Em junho, Ellie Beargeon, ex-militar acostumada a dividir uma tenda com cerca de 40 outros oficiais, ficou em um hostel em Denver em uma viagem de carro para o oeste. Beargeon, 24, que está totalmente vacinada, reservou uma cama em um dormitório de 16 camas que estava lotado quando ela chegou.

Mas ela se sentiu desconfortável, principalmente por causa dos hóspedes que não respeitavam as regras do hostel. Ela cancelou sua próxima reserva em um hostel em Utah e decidiu acampar. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

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