Pandemia aumenta demanda de pacientes por cirurgias plásticas


A quarentena proporciona um momento de privacidade perfeito para quem quer passar por um procedimento estético

Por Matt Richtel
Atualização:

Um número crescente de pessoas, presas em casa e cansadas de olhar para seus próprios rostos abatidos no Zoom, estão encontrando uma solução: lifting facial e dos olhos, redução de papada e de barriga e muito mais. Em um momento em que muitos campos médicos estão sofrendo com o lockdown por conta do adiamento de lucrativos processos eletivos, os procedimentos de cirurgia estética estão aumentando, dizem os médicos, impulsionados pela demanda inesperada de pacientes que encontraram na pandemia do coronavírus um momento perfeito para melhorias corporais.

“Nunca fiz tanto lifting facial em um verão [do hemisfério norte] como fiz neste ano”, disse Diane Alexander, cirurgiã plástica de Atlanta, nos EUA. Ela disse que realizou 251 procedimentos até o final de julho a partir de 18 de maio, quando sua clínica abriu as portas para cirurgias eletivas. “Quase todos os pacientes de lifting facial que chegam dizem: ‘Tenho feito essas reuniões por Zoom e não sei o que aconteceu, mas minha aparência está péssima’”.

Patrice Solorzanoe sua filha, Jena, aproveitaram a quarentena para fazer cirurgias estéticas. Foto: Haiyun Jiang/The New York Times
continua após a publicidade

“Este é o mundo mais estranho em que vivo”, acrescentou Diane. “O mundo está fechado, estamos todos preocupados com a crise global, a economia está quebrando e as pessoas chegam e ainda querem se sentir bem com elas mesmas.” Uma de suas pacientes, uma mulher de 55 anos chamada Joanne, que pediu que seu sobrenome não fosse divulgado porque temia parecer fútil, disse que considerou a possibilidade de fazer algum procedimento em seu rosto por anos.

Mas a pandemia finalmente tornou isso possível porque ela conseguiu esconder os hematomas e o inchaço durante o período de recuperação. “Saber que todo mundo está em casa, usando uma máscara facial, e não saindo por causa do distanciamento social, fez desse o momento certo”, disse ela.

“Nenhum amigo sabe que eu fiz isso. Os familiares não sabem, nem minha irmã e mãe sabem”. A tendência é, em muitos aspectos, surpreendente em um momento econômico difícil. A cirurgia estética geralmente não é coberta pelo seguro de saúde, então os procedimentos podem custar até US$ 25 mil para uma completa transformação de corpo - barriga, seios, rosto - e menos para trabalhos avulsos, como US$ 3.300 para cirurgia de pálpebras e US$ 10 mil para lifting e aumento de mama.

continua após a publicidade

Os pacientes dizem que estão usando fundos que poderiam ter gasto em viagens, shows, ingressos para esportes ou outros prazeres em suas vidas pré-pandêmicas. Como as seguradoras geralmente não dão cobertura, é difícil rastrear o número preciso de procedimentos cosméticos que estão sendo realizados.

Lynn Jeffers, presidente da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos, disse que nos EUA "a demanda está definitivamente maior do que esperávamos", entretanto, ela disse: "O que não sabemos é se a demanda reprimida é transitória e vai voltar ao normal, ou mesmo se vai cair”.

Antes da covid-19, os procedimentos cosméticos invasivos, como lifting facial, estavam diminuindo em favor de melhorias mínimas, como injeções de botox, preenchimentos e outros procedimentos a laser para produção de colágeno na pele. Desde 2000, os procedimentos injetáveis aumentaram 878%, segundo a Sociedade dos Cirurgiões Plásticos, enquanto as cirurgias de pálpebras caíram 36% e as plásticas faciais caíram 8% nesse período.

continua após a publicidade

Colleen Nolan, diretora-executiva da Academia Americana de Cirurgia Cosmética, outra organização profissional, disse que ouviu de cirurgiões de todo o país que os pacientes estavam optando por procedimentos mais invasivos agora do que no passado recente. “Eles estavam optando por preenchimentos e botox porque não tinham nenhum tempo de inatividade”, disse ela em relação aos pacientes. “Agora eles percebem que podem ter o procedimento realizado e passar por isso com privacidade”. 

A solidão da quarentena foi precisamente o que motivou Patrice Solorzano, 62 anos, que gastou US$ 20 mil em um procedimento conhecido no setor como “transformação da mamãe” - uma abdominoplastia, aumento e lifting das mamas. Ela foi submetida a uma cirurgia em 26 de junho, seguida por uma recuperação de duas semanas em sua casa nos arredores de Dayton, Ohio.

“Eu estava bem. Eu me levantei, fui para minha escrivaninha e voltei a trabalhar de casa”. Patrice, que supervisiona 160 pessoas em 25 localidades ao redor do mundo como empreiteira militar trabalhando na gestão de contas para a Força Aérea, disse que a despesa não era um fardo financeiro em parte porque ela não estava gastando como antes.

continua após a publicidade

“Eu definitivamente não gasto com gasolina”, disse ela. “Nós não vamos ao shopping e realmente não vamos às compras.” Ela gastou outros US$ 10 mil em uma cirurgia de lifting e aumento de mamas para sua filha, Jena Solorzano, 24 anos, que disse que estava indo para a faculdade de direito e achou que este momento era ideal para resolver um problema de imagem corporal que a incomodava há anos. Ela culpou parcialmente as redes sociais por querer o procedimento.

“Não ajuda que cada página mostre uma mulher ou um homem lindo”, disse ela, acrescentando: “A covid-19, de fato, nos deu a oportunidade perfeita para fazer uma cirurgia mais drástica”. A solidão da quarentena também motivou algumas pessoas. Uma segunda paciente de Diane em Atlanta disse que fez um lifting facial não apenas porque teve tempo para se recuperar, mas também porque ficou cara a cara com uma vida solitária durante a covid-19.

“Eu tenho ótimas amigas, mas elas têm maridos, e isso faz desse um momento solitário. Percebi que quero muito conhecer alguém”, disse a mulher, 57 anos, que é divorciada. Ela pediu que seu nome não fosse mencionado em uma matéria de jornal porque “parece muito fútil se submeter a um procedimento estético enquanto tantas pessoas estão sofrendo”. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

continua após a publicidade

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Um número crescente de pessoas, presas em casa e cansadas de olhar para seus próprios rostos abatidos no Zoom, estão encontrando uma solução: lifting facial e dos olhos, redução de papada e de barriga e muito mais. Em um momento em que muitos campos médicos estão sofrendo com o lockdown por conta do adiamento de lucrativos processos eletivos, os procedimentos de cirurgia estética estão aumentando, dizem os médicos, impulsionados pela demanda inesperada de pacientes que encontraram na pandemia do coronavírus um momento perfeito para melhorias corporais.

“Nunca fiz tanto lifting facial em um verão [do hemisfério norte] como fiz neste ano”, disse Diane Alexander, cirurgiã plástica de Atlanta, nos EUA. Ela disse que realizou 251 procedimentos até o final de julho a partir de 18 de maio, quando sua clínica abriu as portas para cirurgias eletivas. “Quase todos os pacientes de lifting facial que chegam dizem: ‘Tenho feito essas reuniões por Zoom e não sei o que aconteceu, mas minha aparência está péssima’”.

Patrice Solorzanoe sua filha, Jena, aproveitaram a quarentena para fazer cirurgias estéticas. Foto: Haiyun Jiang/The New York Times

“Este é o mundo mais estranho em que vivo”, acrescentou Diane. “O mundo está fechado, estamos todos preocupados com a crise global, a economia está quebrando e as pessoas chegam e ainda querem se sentir bem com elas mesmas.” Uma de suas pacientes, uma mulher de 55 anos chamada Joanne, que pediu que seu sobrenome não fosse divulgado porque temia parecer fútil, disse que considerou a possibilidade de fazer algum procedimento em seu rosto por anos.

Mas a pandemia finalmente tornou isso possível porque ela conseguiu esconder os hematomas e o inchaço durante o período de recuperação. “Saber que todo mundo está em casa, usando uma máscara facial, e não saindo por causa do distanciamento social, fez desse o momento certo”, disse ela.

“Nenhum amigo sabe que eu fiz isso. Os familiares não sabem, nem minha irmã e mãe sabem”. A tendência é, em muitos aspectos, surpreendente em um momento econômico difícil. A cirurgia estética geralmente não é coberta pelo seguro de saúde, então os procedimentos podem custar até US$ 25 mil para uma completa transformação de corpo - barriga, seios, rosto - e menos para trabalhos avulsos, como US$ 3.300 para cirurgia de pálpebras e US$ 10 mil para lifting e aumento de mama.

Os pacientes dizem que estão usando fundos que poderiam ter gasto em viagens, shows, ingressos para esportes ou outros prazeres em suas vidas pré-pandêmicas. Como as seguradoras geralmente não dão cobertura, é difícil rastrear o número preciso de procedimentos cosméticos que estão sendo realizados.

Lynn Jeffers, presidente da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos, disse que nos EUA "a demanda está definitivamente maior do que esperávamos", entretanto, ela disse: "O que não sabemos é se a demanda reprimida é transitória e vai voltar ao normal, ou mesmo se vai cair”.

Antes da covid-19, os procedimentos cosméticos invasivos, como lifting facial, estavam diminuindo em favor de melhorias mínimas, como injeções de botox, preenchimentos e outros procedimentos a laser para produção de colágeno na pele. Desde 2000, os procedimentos injetáveis aumentaram 878%, segundo a Sociedade dos Cirurgiões Plásticos, enquanto as cirurgias de pálpebras caíram 36% e as plásticas faciais caíram 8% nesse período.

Colleen Nolan, diretora-executiva da Academia Americana de Cirurgia Cosmética, outra organização profissional, disse que ouviu de cirurgiões de todo o país que os pacientes estavam optando por procedimentos mais invasivos agora do que no passado recente. “Eles estavam optando por preenchimentos e botox porque não tinham nenhum tempo de inatividade”, disse ela em relação aos pacientes. “Agora eles percebem que podem ter o procedimento realizado e passar por isso com privacidade”. 

A solidão da quarentena foi precisamente o que motivou Patrice Solorzano, 62 anos, que gastou US$ 20 mil em um procedimento conhecido no setor como “transformação da mamãe” - uma abdominoplastia, aumento e lifting das mamas. Ela foi submetida a uma cirurgia em 26 de junho, seguida por uma recuperação de duas semanas em sua casa nos arredores de Dayton, Ohio.

“Eu estava bem. Eu me levantei, fui para minha escrivaninha e voltei a trabalhar de casa”. Patrice, que supervisiona 160 pessoas em 25 localidades ao redor do mundo como empreiteira militar trabalhando na gestão de contas para a Força Aérea, disse que a despesa não era um fardo financeiro em parte porque ela não estava gastando como antes.

“Eu definitivamente não gasto com gasolina”, disse ela. “Nós não vamos ao shopping e realmente não vamos às compras.” Ela gastou outros US$ 10 mil em uma cirurgia de lifting e aumento de mamas para sua filha, Jena Solorzano, 24 anos, que disse que estava indo para a faculdade de direito e achou que este momento era ideal para resolver um problema de imagem corporal que a incomodava há anos. Ela culpou parcialmente as redes sociais por querer o procedimento.

“Não ajuda que cada página mostre uma mulher ou um homem lindo”, disse ela, acrescentando: “A covid-19, de fato, nos deu a oportunidade perfeita para fazer uma cirurgia mais drástica”. A solidão da quarentena também motivou algumas pessoas. Uma segunda paciente de Diane em Atlanta disse que fez um lifting facial não apenas porque teve tempo para se recuperar, mas também porque ficou cara a cara com uma vida solitária durante a covid-19.

“Eu tenho ótimas amigas, mas elas têm maridos, e isso faz desse um momento solitário. Percebi que quero muito conhecer alguém”, disse a mulher, 57 anos, que é divorciada. Ela pediu que seu nome não fosse mencionado em uma matéria de jornal porque “parece muito fútil se submeter a um procedimento estético enquanto tantas pessoas estão sofrendo”. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Um número crescente de pessoas, presas em casa e cansadas de olhar para seus próprios rostos abatidos no Zoom, estão encontrando uma solução: lifting facial e dos olhos, redução de papada e de barriga e muito mais. Em um momento em que muitos campos médicos estão sofrendo com o lockdown por conta do adiamento de lucrativos processos eletivos, os procedimentos de cirurgia estética estão aumentando, dizem os médicos, impulsionados pela demanda inesperada de pacientes que encontraram na pandemia do coronavírus um momento perfeito para melhorias corporais.

“Nunca fiz tanto lifting facial em um verão [do hemisfério norte] como fiz neste ano”, disse Diane Alexander, cirurgiã plástica de Atlanta, nos EUA. Ela disse que realizou 251 procedimentos até o final de julho a partir de 18 de maio, quando sua clínica abriu as portas para cirurgias eletivas. “Quase todos os pacientes de lifting facial que chegam dizem: ‘Tenho feito essas reuniões por Zoom e não sei o que aconteceu, mas minha aparência está péssima’”.

Patrice Solorzanoe sua filha, Jena, aproveitaram a quarentena para fazer cirurgias estéticas. Foto: Haiyun Jiang/The New York Times

“Este é o mundo mais estranho em que vivo”, acrescentou Diane. “O mundo está fechado, estamos todos preocupados com a crise global, a economia está quebrando e as pessoas chegam e ainda querem se sentir bem com elas mesmas.” Uma de suas pacientes, uma mulher de 55 anos chamada Joanne, que pediu que seu sobrenome não fosse divulgado porque temia parecer fútil, disse que considerou a possibilidade de fazer algum procedimento em seu rosto por anos.

Mas a pandemia finalmente tornou isso possível porque ela conseguiu esconder os hematomas e o inchaço durante o período de recuperação. “Saber que todo mundo está em casa, usando uma máscara facial, e não saindo por causa do distanciamento social, fez desse o momento certo”, disse ela.

“Nenhum amigo sabe que eu fiz isso. Os familiares não sabem, nem minha irmã e mãe sabem”. A tendência é, em muitos aspectos, surpreendente em um momento econômico difícil. A cirurgia estética geralmente não é coberta pelo seguro de saúde, então os procedimentos podem custar até US$ 25 mil para uma completa transformação de corpo - barriga, seios, rosto - e menos para trabalhos avulsos, como US$ 3.300 para cirurgia de pálpebras e US$ 10 mil para lifting e aumento de mama.

Os pacientes dizem que estão usando fundos que poderiam ter gasto em viagens, shows, ingressos para esportes ou outros prazeres em suas vidas pré-pandêmicas. Como as seguradoras geralmente não dão cobertura, é difícil rastrear o número preciso de procedimentos cosméticos que estão sendo realizados.

Lynn Jeffers, presidente da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos, disse que nos EUA "a demanda está definitivamente maior do que esperávamos", entretanto, ela disse: "O que não sabemos é se a demanda reprimida é transitória e vai voltar ao normal, ou mesmo se vai cair”.

Antes da covid-19, os procedimentos cosméticos invasivos, como lifting facial, estavam diminuindo em favor de melhorias mínimas, como injeções de botox, preenchimentos e outros procedimentos a laser para produção de colágeno na pele. Desde 2000, os procedimentos injetáveis aumentaram 878%, segundo a Sociedade dos Cirurgiões Plásticos, enquanto as cirurgias de pálpebras caíram 36% e as plásticas faciais caíram 8% nesse período.

Colleen Nolan, diretora-executiva da Academia Americana de Cirurgia Cosmética, outra organização profissional, disse que ouviu de cirurgiões de todo o país que os pacientes estavam optando por procedimentos mais invasivos agora do que no passado recente. “Eles estavam optando por preenchimentos e botox porque não tinham nenhum tempo de inatividade”, disse ela em relação aos pacientes. “Agora eles percebem que podem ter o procedimento realizado e passar por isso com privacidade”. 

A solidão da quarentena foi precisamente o que motivou Patrice Solorzano, 62 anos, que gastou US$ 20 mil em um procedimento conhecido no setor como “transformação da mamãe” - uma abdominoplastia, aumento e lifting das mamas. Ela foi submetida a uma cirurgia em 26 de junho, seguida por uma recuperação de duas semanas em sua casa nos arredores de Dayton, Ohio.

“Eu estava bem. Eu me levantei, fui para minha escrivaninha e voltei a trabalhar de casa”. Patrice, que supervisiona 160 pessoas em 25 localidades ao redor do mundo como empreiteira militar trabalhando na gestão de contas para a Força Aérea, disse que a despesa não era um fardo financeiro em parte porque ela não estava gastando como antes.

“Eu definitivamente não gasto com gasolina”, disse ela. “Nós não vamos ao shopping e realmente não vamos às compras.” Ela gastou outros US$ 10 mil em uma cirurgia de lifting e aumento de mamas para sua filha, Jena Solorzano, 24 anos, que disse que estava indo para a faculdade de direito e achou que este momento era ideal para resolver um problema de imagem corporal que a incomodava há anos. Ela culpou parcialmente as redes sociais por querer o procedimento.

“Não ajuda que cada página mostre uma mulher ou um homem lindo”, disse ela, acrescentando: “A covid-19, de fato, nos deu a oportunidade perfeita para fazer uma cirurgia mais drástica”. A solidão da quarentena também motivou algumas pessoas. Uma segunda paciente de Diane em Atlanta disse que fez um lifting facial não apenas porque teve tempo para se recuperar, mas também porque ficou cara a cara com uma vida solitária durante a covid-19.

“Eu tenho ótimas amigas, mas elas têm maridos, e isso faz desse um momento solitário. Percebi que quero muito conhecer alguém”, disse a mulher, 57 anos, que é divorciada. Ela pediu que seu nome não fosse mencionado em uma matéria de jornal porque “parece muito fútil se submeter a um procedimento estético enquanto tantas pessoas estão sofrendo”. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Um número crescente de pessoas, presas em casa e cansadas de olhar para seus próprios rostos abatidos no Zoom, estão encontrando uma solução: lifting facial e dos olhos, redução de papada e de barriga e muito mais. Em um momento em que muitos campos médicos estão sofrendo com o lockdown por conta do adiamento de lucrativos processos eletivos, os procedimentos de cirurgia estética estão aumentando, dizem os médicos, impulsionados pela demanda inesperada de pacientes que encontraram na pandemia do coronavírus um momento perfeito para melhorias corporais.

“Nunca fiz tanto lifting facial em um verão [do hemisfério norte] como fiz neste ano”, disse Diane Alexander, cirurgiã plástica de Atlanta, nos EUA. Ela disse que realizou 251 procedimentos até o final de julho a partir de 18 de maio, quando sua clínica abriu as portas para cirurgias eletivas. “Quase todos os pacientes de lifting facial que chegam dizem: ‘Tenho feito essas reuniões por Zoom e não sei o que aconteceu, mas minha aparência está péssima’”.

Patrice Solorzanoe sua filha, Jena, aproveitaram a quarentena para fazer cirurgias estéticas. Foto: Haiyun Jiang/The New York Times

“Este é o mundo mais estranho em que vivo”, acrescentou Diane. “O mundo está fechado, estamos todos preocupados com a crise global, a economia está quebrando e as pessoas chegam e ainda querem se sentir bem com elas mesmas.” Uma de suas pacientes, uma mulher de 55 anos chamada Joanne, que pediu que seu sobrenome não fosse divulgado porque temia parecer fútil, disse que considerou a possibilidade de fazer algum procedimento em seu rosto por anos.

Mas a pandemia finalmente tornou isso possível porque ela conseguiu esconder os hematomas e o inchaço durante o período de recuperação. “Saber que todo mundo está em casa, usando uma máscara facial, e não saindo por causa do distanciamento social, fez desse o momento certo”, disse ela.

“Nenhum amigo sabe que eu fiz isso. Os familiares não sabem, nem minha irmã e mãe sabem”. A tendência é, em muitos aspectos, surpreendente em um momento econômico difícil. A cirurgia estética geralmente não é coberta pelo seguro de saúde, então os procedimentos podem custar até US$ 25 mil para uma completa transformação de corpo - barriga, seios, rosto - e menos para trabalhos avulsos, como US$ 3.300 para cirurgia de pálpebras e US$ 10 mil para lifting e aumento de mama.

Os pacientes dizem que estão usando fundos que poderiam ter gasto em viagens, shows, ingressos para esportes ou outros prazeres em suas vidas pré-pandêmicas. Como as seguradoras geralmente não dão cobertura, é difícil rastrear o número preciso de procedimentos cosméticos que estão sendo realizados.

Lynn Jeffers, presidente da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos, disse que nos EUA "a demanda está definitivamente maior do que esperávamos", entretanto, ela disse: "O que não sabemos é se a demanda reprimida é transitória e vai voltar ao normal, ou mesmo se vai cair”.

Antes da covid-19, os procedimentos cosméticos invasivos, como lifting facial, estavam diminuindo em favor de melhorias mínimas, como injeções de botox, preenchimentos e outros procedimentos a laser para produção de colágeno na pele. Desde 2000, os procedimentos injetáveis aumentaram 878%, segundo a Sociedade dos Cirurgiões Plásticos, enquanto as cirurgias de pálpebras caíram 36% e as plásticas faciais caíram 8% nesse período.

Colleen Nolan, diretora-executiva da Academia Americana de Cirurgia Cosmética, outra organização profissional, disse que ouviu de cirurgiões de todo o país que os pacientes estavam optando por procedimentos mais invasivos agora do que no passado recente. “Eles estavam optando por preenchimentos e botox porque não tinham nenhum tempo de inatividade”, disse ela em relação aos pacientes. “Agora eles percebem que podem ter o procedimento realizado e passar por isso com privacidade”. 

A solidão da quarentena foi precisamente o que motivou Patrice Solorzano, 62 anos, que gastou US$ 20 mil em um procedimento conhecido no setor como “transformação da mamãe” - uma abdominoplastia, aumento e lifting das mamas. Ela foi submetida a uma cirurgia em 26 de junho, seguida por uma recuperação de duas semanas em sua casa nos arredores de Dayton, Ohio.

“Eu estava bem. Eu me levantei, fui para minha escrivaninha e voltei a trabalhar de casa”. Patrice, que supervisiona 160 pessoas em 25 localidades ao redor do mundo como empreiteira militar trabalhando na gestão de contas para a Força Aérea, disse que a despesa não era um fardo financeiro em parte porque ela não estava gastando como antes.

“Eu definitivamente não gasto com gasolina”, disse ela. “Nós não vamos ao shopping e realmente não vamos às compras.” Ela gastou outros US$ 10 mil em uma cirurgia de lifting e aumento de mamas para sua filha, Jena Solorzano, 24 anos, que disse que estava indo para a faculdade de direito e achou que este momento era ideal para resolver um problema de imagem corporal que a incomodava há anos. Ela culpou parcialmente as redes sociais por querer o procedimento.

“Não ajuda que cada página mostre uma mulher ou um homem lindo”, disse ela, acrescentando: “A covid-19, de fato, nos deu a oportunidade perfeita para fazer uma cirurgia mais drástica”. A solidão da quarentena também motivou algumas pessoas. Uma segunda paciente de Diane em Atlanta disse que fez um lifting facial não apenas porque teve tempo para se recuperar, mas também porque ficou cara a cara com uma vida solitária durante a covid-19.

“Eu tenho ótimas amigas, mas elas têm maridos, e isso faz desse um momento solitário. Percebi que quero muito conhecer alguém”, disse a mulher, 57 anos, que é divorciada. Ela pediu que seu nome não fosse mencionado em uma matéria de jornal porque “parece muito fútil se submeter a um procedimento estético enquanto tantas pessoas estão sofrendo”. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.