Em um moderno forno de Pasadena, na Califórnia, um fermento que poderia ser tão antigo quanto o do antigo Egito foi usado recentemente para fazer um pão particularmente aromático de massa azeda. O padeiro, Seamus Blackley, estava experimentando com um fermento que retirara de um pão do antigo Egito de 4 mil anos atrás. Ele tentava fazer o próprio pão usando os mesmos ingredientes, com alguns dos mesmos métodos dos antigos. Deu certo, e Blackley - que é também o criador do Xbox, físico e autodenominado "nerd do pão" - postouos resultados no Twitter. “O miolo é leve e aerado”, escreveu. “O aroma e o sabor são incríveis”.
Blackley coleciona leveduras silvestres de florestas medievais, conhece fluentemente a linguagem dos antigos grãos, e faz vídeos enquanto faz o pão. Além disso, é um apaixonado de história do antigo Egito. “Eu acho o máximo”, disse em uma entrevista. “Acredito que é realmente importante; devemos muito a este povo antigo. E no entanto, muitas vezes, ou quem sabe sempre, tendemos a achar que as pessoas que viviam na antiguidade eram simples ou estúpidas; é lógico que esta é a maior bobagem. Este povo era brilhante”.
O físico também escreve tuítes sobre a sua paixão pelos antigos esporos que o ajudaram a conectar-se com outras pessoas que têm os seus mesmos interesses, como Richard Bowman, biólogo da Universidade de Iowa, e Serena Love, arqueóloga e membro honorário da pesquisa da Universidade de Queensland, na Austrália.
Bowman faz cerveja, e entrou em contato com Blackley para falar da levedura. Foi Bowman que encontrou uma maneira para Blackley extrair cepas de leveduras do antigos artefatos sem danificá-los. Love ajudou Blackley a conseguir o acesso aos artefatos - como cerâmicas outrora usadas para fazer ou armazenar cerveja e pão - do Museum of Fine Arts de Boston e do Peabody Museum de Harvard. Blackley utilizou o método de Bowman para retirar amostras de leveduras que há milênios haviam aderido à cerâmica porosa.
Blackley tambémtinha uma amostra do pão do Império Médio, proveniente de um templo mortuário do faraó Mentuhotep II e hoje se encontra no Museum of Fine Arts. “No local havia três pães, como oferendas, e o edifíciofoi construído em cima disso”, explicou Love.
Blackley extraiu a levedura, levou-a para a sua casa e usou cevada e farinha de farro para acordar os esporos adormecidos. A levedura é uma coisa viva - um fungo. Ele metaboliza carboidratos, e os seus subprodutos são o álcool e o dióxido de carbono. “O álcool auxilia a criação da cerveja, e as bolhas de dióxido de carbono ajudam a massa a expandir-se", argumentou.
Os esporos da levedura podem continuar adormecidos - em lugar de morrer - e permanecer tranquilamente viáveis por milhares de anos até serem extraídos, disse Bowman. Há uma advertência a fazer: ainda não se sabe ao certo o que Blackley fez com uma antiga cepa de leveduras. As suas extrações podem ter sido contaminadas por esporos modernos, de modo que o Bowman está trabalhando para verificar as amostras.
Assim que as amostras forem verificadas, Blackley espera experimentarcom estilos de cozimento que imitam os métodos dos antigos egípcios. Ele quer aperfeiçoar a sua técnica de extração de esporos. “É um projeto de hobby para todos nós”, afirmou. “Esta é realmente a grande tradição da ciência amadora - as pessoas fazem alguma coisa porque acham que é a coisa certa a fazer - tenho muito orgulho disso”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA