Para norte-coreanas, fuga à Coreia do Sul não garante felicidade


Filhos de mulheres da Coreia do Norte concebidos durante passagem pela China são discriminados por sua origem ao chegar ao lado sul-coreano

Por Choe Sang-Hun

SEUL, COREIA DO SUL - Depois que a mãe de Seon-mi escapou da Coreia do Norte, na esperança de chegar à Coreia do Sul, ela foi vendida por traficantes a um homem na China. O sujeito era um esquizofrênico violento, e a mãe estava presa, de acordo com os cuidadores sul-coreanos de Seon-mi. Ela não tinha documentos regulares na China e poderia ser forçada a voltar à Coreia do Norte, onde seria presa, torturada ou pior. Os dois tiveram uma filha, Seon-mi, que agora tem 11 anos.

Mais de 32 mil norte-coreanos escaparam para a Coreia do Sul depois que a fome atingiu seu país nos anos 1990, e sua penosa jornada muitas vezes é agravada por anos passados num verdadeiro limbo na China, de acordo com desertores, pesquisadores de direitos humanos e autoridades sul-coreanas.

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Seon-mi, que vive no abrigo Durihana, passa por dificuldades na Coreia do Sul Foto: Jean Chung para The New York Times

Algumas ficam no país por anos, obrigadas a trabalhar na indústria do sexo ou a viver com homens que não conseguiram encontrar mulheres chinesas antes das imigrantes precisarem de ajuda para chegar à Coreia do Sul.

Quando Seon-mi tinha cerca de 6 anos, o pai dela matou seus avós com uma faca e, em seguida, suicidou-se. Antes de fazê-lo, cortou Seon-mi nove vezes, no queixo, pescoço e ombro. Apesar de repetidas cirurgias plásticas na Coreia do Sul, as cicatrizes da menina ainda são visíveis.

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“Eu costumava chorar no canto do quarto enquanto meu pai abusava da minha mãe", contou ela, lembrando dos primeiros anos na China. “Certa vez, ela tentou se matar usando veneno de rato.” Nos anos mais recentes, 80% dos imigrantes norte-coreanos que chegam à Coreia do Sul são mulheres, e quase todas vieram pela China.

Ativistas dos direitos humanos, missionários e contrabandistas ajudam muitos desertores a ir da China a países como Laos e Tailândia, onde podem requisitar asilo nas embaixadas sul-coreanas e, um dia, chegar à Coreia do Sul. A mãe de Seon-mi chegou ao país com a ajuda de um contrabandista e, posteriormente, mandou buscar a filha, que podia vir ao país legalmente, já que tinha passaporte chinês.

Mas muitas das mulheres e seus filhos nascidos na China descobrem que o sofrimento não termina quando finalmente chegam à Coreia do Sul. Como as crianças são chinesas, o governo da Coreia do Sul não as considera oficialmente como desertoras do norte. Isso significa que seu acesso aos serviços de apoio a desertores é limitado, incluindo atendimento de saúde gratuito, matrícula gratuita no ensino superior e subsídios de moradia.

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Cerca de 1.530 filhos chineses de desertoras norte-coreanas foram matriculados em escolas sul-coreanas. Com frequência, os colegas os provocam por causa de sua origem. O problema se complica ainda mais porque as mães costumam iniciar novas famílias com homens que conhecem na Coreia do Sul, gerando um desgaste em casa.

Seon-mi, 11 anos, na segunda fileira, à esquerda, e Mi-yeon, no centro, tiveram dificuldades de adaptação às escolas públicas da Coreia do Sul Foto: Jean Chung para The New York Times

Muitos abandonam os estudos e acabam em abrigos, como a Escola Internacional Durihana, do reverendo Chun Ki-won, como ocorreu com Seon-mi pouco depois de chegar à Coreia do Sul, em 2015. A mãe e o padrasto decidiram que ela não conseguiria se adaptar às escolas públicas da Coreia do Sul.

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Mi-yeon, 15 anos, cresceu em Mudanjiang, nordeste da China, onde frequentemente via o pai, alcoólatra, espancar a mãe, norte-coreana. Em meio à violência na família, o pai chegou a delatar a mãe como imigrante ilegal para a polícia chinesa, fazendo com que ela fosse enviada de volta à Coreia do Norte. Depois de libertada da prisão, ela voltou à China.

Mi-yeon foi com a mãe quando ela fugiu da China com a ajuda de contrabandistas em 2014. Na Coreia do Sul, Mi-yeon teve dificuldades em fazer amizade na escola depois que espalhou-se o boato de que ela era chinesa. A mãe trabalhava muito e mal tinha tempo de cuidar dela, além de começar a sair com outro homem. Assim, Mi-yeon chegou ao abrigo em 2016.

Alguns legisladores tentaram aprovar leis para ampliar o acesso aos benefícios para incluir os filhos de desertores norte-coreanos, particularmente os nascidos na China. Mas seus esforços não foram longe na Coreia do Sul, onde a garantia dos direitos humanos dos norte-coreanos raramente é tratada como prioridade.

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Mi-yeon disse esperar que o mundo preste mais atenção ao drama das norte-coreanas vendidas na China, e de seus filhos. “A vida era difícil na China, mas as coisas não mudaram para nós na Coreia do Sul", disse ela.

SEUL, COREIA DO SUL - Depois que a mãe de Seon-mi escapou da Coreia do Norte, na esperança de chegar à Coreia do Sul, ela foi vendida por traficantes a um homem na China. O sujeito era um esquizofrênico violento, e a mãe estava presa, de acordo com os cuidadores sul-coreanos de Seon-mi. Ela não tinha documentos regulares na China e poderia ser forçada a voltar à Coreia do Norte, onde seria presa, torturada ou pior. Os dois tiveram uma filha, Seon-mi, que agora tem 11 anos.

Mais de 32 mil norte-coreanos escaparam para a Coreia do Sul depois que a fome atingiu seu país nos anos 1990, e sua penosa jornada muitas vezes é agravada por anos passados num verdadeiro limbo na China, de acordo com desertores, pesquisadores de direitos humanos e autoridades sul-coreanas.

Seon-mi, que vive no abrigo Durihana, passa por dificuldades na Coreia do Sul Foto: Jean Chung para The New York Times

Algumas ficam no país por anos, obrigadas a trabalhar na indústria do sexo ou a viver com homens que não conseguiram encontrar mulheres chinesas antes das imigrantes precisarem de ajuda para chegar à Coreia do Sul.

Quando Seon-mi tinha cerca de 6 anos, o pai dela matou seus avós com uma faca e, em seguida, suicidou-se. Antes de fazê-lo, cortou Seon-mi nove vezes, no queixo, pescoço e ombro. Apesar de repetidas cirurgias plásticas na Coreia do Sul, as cicatrizes da menina ainda são visíveis.

“Eu costumava chorar no canto do quarto enquanto meu pai abusava da minha mãe", contou ela, lembrando dos primeiros anos na China. “Certa vez, ela tentou se matar usando veneno de rato.” Nos anos mais recentes, 80% dos imigrantes norte-coreanos que chegam à Coreia do Sul são mulheres, e quase todas vieram pela China.

Ativistas dos direitos humanos, missionários e contrabandistas ajudam muitos desertores a ir da China a países como Laos e Tailândia, onde podem requisitar asilo nas embaixadas sul-coreanas e, um dia, chegar à Coreia do Sul. A mãe de Seon-mi chegou ao país com a ajuda de um contrabandista e, posteriormente, mandou buscar a filha, que podia vir ao país legalmente, já que tinha passaporte chinês.

Mas muitas das mulheres e seus filhos nascidos na China descobrem que o sofrimento não termina quando finalmente chegam à Coreia do Sul. Como as crianças são chinesas, o governo da Coreia do Sul não as considera oficialmente como desertoras do norte. Isso significa que seu acesso aos serviços de apoio a desertores é limitado, incluindo atendimento de saúde gratuito, matrícula gratuita no ensino superior e subsídios de moradia.

Cerca de 1.530 filhos chineses de desertoras norte-coreanas foram matriculados em escolas sul-coreanas. Com frequência, os colegas os provocam por causa de sua origem. O problema se complica ainda mais porque as mães costumam iniciar novas famílias com homens que conhecem na Coreia do Sul, gerando um desgaste em casa.

Seon-mi, 11 anos, na segunda fileira, à esquerda, e Mi-yeon, no centro, tiveram dificuldades de adaptação às escolas públicas da Coreia do Sul Foto: Jean Chung para The New York Times

Muitos abandonam os estudos e acabam em abrigos, como a Escola Internacional Durihana, do reverendo Chun Ki-won, como ocorreu com Seon-mi pouco depois de chegar à Coreia do Sul, em 2015. A mãe e o padrasto decidiram que ela não conseguiria se adaptar às escolas públicas da Coreia do Sul.

Mi-yeon, 15 anos, cresceu em Mudanjiang, nordeste da China, onde frequentemente via o pai, alcoólatra, espancar a mãe, norte-coreana. Em meio à violência na família, o pai chegou a delatar a mãe como imigrante ilegal para a polícia chinesa, fazendo com que ela fosse enviada de volta à Coreia do Norte. Depois de libertada da prisão, ela voltou à China.

Mi-yeon foi com a mãe quando ela fugiu da China com a ajuda de contrabandistas em 2014. Na Coreia do Sul, Mi-yeon teve dificuldades em fazer amizade na escola depois que espalhou-se o boato de que ela era chinesa. A mãe trabalhava muito e mal tinha tempo de cuidar dela, além de começar a sair com outro homem. Assim, Mi-yeon chegou ao abrigo em 2016.

Alguns legisladores tentaram aprovar leis para ampliar o acesso aos benefícios para incluir os filhos de desertores norte-coreanos, particularmente os nascidos na China. Mas seus esforços não foram longe na Coreia do Sul, onde a garantia dos direitos humanos dos norte-coreanos raramente é tratada como prioridade.

Mi-yeon disse esperar que o mundo preste mais atenção ao drama das norte-coreanas vendidas na China, e de seus filhos. “A vida era difícil na China, mas as coisas não mudaram para nós na Coreia do Sul", disse ela.

SEUL, COREIA DO SUL - Depois que a mãe de Seon-mi escapou da Coreia do Norte, na esperança de chegar à Coreia do Sul, ela foi vendida por traficantes a um homem na China. O sujeito era um esquizofrênico violento, e a mãe estava presa, de acordo com os cuidadores sul-coreanos de Seon-mi. Ela não tinha documentos regulares na China e poderia ser forçada a voltar à Coreia do Norte, onde seria presa, torturada ou pior. Os dois tiveram uma filha, Seon-mi, que agora tem 11 anos.

Mais de 32 mil norte-coreanos escaparam para a Coreia do Sul depois que a fome atingiu seu país nos anos 1990, e sua penosa jornada muitas vezes é agravada por anos passados num verdadeiro limbo na China, de acordo com desertores, pesquisadores de direitos humanos e autoridades sul-coreanas.

Seon-mi, que vive no abrigo Durihana, passa por dificuldades na Coreia do Sul Foto: Jean Chung para The New York Times

Algumas ficam no país por anos, obrigadas a trabalhar na indústria do sexo ou a viver com homens que não conseguiram encontrar mulheres chinesas antes das imigrantes precisarem de ajuda para chegar à Coreia do Sul.

Quando Seon-mi tinha cerca de 6 anos, o pai dela matou seus avós com uma faca e, em seguida, suicidou-se. Antes de fazê-lo, cortou Seon-mi nove vezes, no queixo, pescoço e ombro. Apesar de repetidas cirurgias plásticas na Coreia do Sul, as cicatrizes da menina ainda são visíveis.

“Eu costumava chorar no canto do quarto enquanto meu pai abusava da minha mãe", contou ela, lembrando dos primeiros anos na China. “Certa vez, ela tentou se matar usando veneno de rato.” Nos anos mais recentes, 80% dos imigrantes norte-coreanos que chegam à Coreia do Sul são mulheres, e quase todas vieram pela China.

Ativistas dos direitos humanos, missionários e contrabandistas ajudam muitos desertores a ir da China a países como Laos e Tailândia, onde podem requisitar asilo nas embaixadas sul-coreanas e, um dia, chegar à Coreia do Sul. A mãe de Seon-mi chegou ao país com a ajuda de um contrabandista e, posteriormente, mandou buscar a filha, que podia vir ao país legalmente, já que tinha passaporte chinês.

Mas muitas das mulheres e seus filhos nascidos na China descobrem que o sofrimento não termina quando finalmente chegam à Coreia do Sul. Como as crianças são chinesas, o governo da Coreia do Sul não as considera oficialmente como desertoras do norte. Isso significa que seu acesso aos serviços de apoio a desertores é limitado, incluindo atendimento de saúde gratuito, matrícula gratuita no ensino superior e subsídios de moradia.

Cerca de 1.530 filhos chineses de desertoras norte-coreanas foram matriculados em escolas sul-coreanas. Com frequência, os colegas os provocam por causa de sua origem. O problema se complica ainda mais porque as mães costumam iniciar novas famílias com homens que conhecem na Coreia do Sul, gerando um desgaste em casa.

Seon-mi, 11 anos, na segunda fileira, à esquerda, e Mi-yeon, no centro, tiveram dificuldades de adaptação às escolas públicas da Coreia do Sul Foto: Jean Chung para The New York Times

Muitos abandonam os estudos e acabam em abrigos, como a Escola Internacional Durihana, do reverendo Chun Ki-won, como ocorreu com Seon-mi pouco depois de chegar à Coreia do Sul, em 2015. A mãe e o padrasto decidiram que ela não conseguiria se adaptar às escolas públicas da Coreia do Sul.

Mi-yeon, 15 anos, cresceu em Mudanjiang, nordeste da China, onde frequentemente via o pai, alcoólatra, espancar a mãe, norte-coreana. Em meio à violência na família, o pai chegou a delatar a mãe como imigrante ilegal para a polícia chinesa, fazendo com que ela fosse enviada de volta à Coreia do Norte. Depois de libertada da prisão, ela voltou à China.

Mi-yeon foi com a mãe quando ela fugiu da China com a ajuda de contrabandistas em 2014. Na Coreia do Sul, Mi-yeon teve dificuldades em fazer amizade na escola depois que espalhou-se o boato de que ela era chinesa. A mãe trabalhava muito e mal tinha tempo de cuidar dela, além de começar a sair com outro homem. Assim, Mi-yeon chegou ao abrigo em 2016.

Alguns legisladores tentaram aprovar leis para ampliar o acesso aos benefícios para incluir os filhos de desertores norte-coreanos, particularmente os nascidos na China. Mas seus esforços não foram longe na Coreia do Sul, onde a garantia dos direitos humanos dos norte-coreanos raramente é tratada como prioridade.

Mi-yeon disse esperar que o mundo preste mais atenção ao drama das norte-coreanas vendidas na China, e de seus filhos. “A vida era difícil na China, mas as coisas não mudaram para nós na Coreia do Sul", disse ela.

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