Paraíso escondido: conheça as piscinas naturais de tirar o fôlego em rios da República Dominicana


A um mundo de distância dos luxuosos resorts de praia all-inclusive do País, as piscinas naturais frescas e de água-marinha tentam os viajantes a entrar e sentir um formigamento bom

Por Mya Guarnieri

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - A lagoa cercada de árvores brilhava com uma cor que normalmente só se vê em enxaguantes bucais e, sob a superfície de sua água cristalina, os galhos caídos pareciam mãos abertas prontas para um abraço. As pedras no fundo pareciam estar a poucos metros de profundidade, ou, quem sabe, incrivelmente profundas – a claridade da água tornava impossível saber.

Hoyo Claro, piscina natural conhecida na República Dominicana como cenote, fica a apenas alguns quilômetros dos luxuosos resorts de praia “all-inclusive” de Punta Cana, mas parece um universo diferente.

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Se as praias de areia branca do Caribe são a cara da República Dominicana, seus riachos, rios e cenotes são suas veias, artérias e coração. A capital, Santo Domingo, é margeada por três rios, o Haina, o Isabela e o Ozama, em cujas margens os conquistadores espanhóis construíram seu forte, o primeiro das Américas, em 1496.

O país, que compartilha com o Haiti o território da ilha de São Domingos (também conhecida como Hispaniola), a oeste, está repleto de cursos d’água e salpicado por irresistíveis cenotes de cor azul neon.

As águas frias e cor de jade de uma piscina no Rio Caño Frío, perto da Praia de Rincón, na Península de Samaná Foto: Ricardo Piantini/The New York Times
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Amigos dominicanos não gostaram muito do meu plano de alugar um carro e visitar os rios e cenotes sozinha no verão passado. O país tem a reputação de ser um pouco bruto, ideia reforçada por um aviso do Departamento de Estado dos EUA, que adverte os cidadãos americanos a ter especial cautela ao viajar à República Dominicana. E, com 65 de cada cem mil dominicanos morrendo em acidentes de trânsito todo ano, o país também tem a mais alta taxa de mortalidade no trânsito das Américas, de acordo com dados do Banco Mundial.

Em vez disso, juntei-me a dois desses amigos, Hogla Enecia Pérez e Manuel Herrera, em uma jornada por algumas estradas de terra acidentadas, onde é melhor caminhar do que dirigir. Hogla alugou um carro para visitarmos um rio. E, com o utilitário esportivo, de um primo, com tração nas quatro rodas, Manuel levou a mim e, em um dos dias, sua família a outras piscinas naturais.

Na República Dominicana, as pequenas lagoas rurais, como a Hoyo Claro, são identificadas apenas por uma pequena placa de plástico, pouco visível da estrada, por isso encontrá-las é uma ótima maneira de conhecer o calor e a hospitalidade dominicanos: você certamente vai ter de parar e pedir informações a um morador local.

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Quando encontrar uma dessas piscinas e mergulhar na água fresca e clara, vai sentir as batidas do coração da própria República Dominicana, assim como eu.

Magia nos manguezais

O Rio Caño Frío, cercado por manguezais e florestas exuberantes, atrai os banhistas com três piscinas, apelidadas de Amor, Filhos e Divórcio Foto: Ricardo Piantini/The New York Times
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Para me proteger do sol do meio-dia, fiquei sob a sombra de uma árvore de mangue nas águas cor de jade do Rio Caño Frío, um curso de água fresca na Península de Samaná, no litoral norte. A água me chegava ao peito e eu ainda conseguia ver os dedos dos pés, com os quais brincava na areia. Minha vontade era de me enraizar ali para sempre, mas Hogla me chamou e saí da água.

Um morador local descalço nos conduziu a uma floresta exuberante, onde seguimos uma trilha ladeada de orquídeas selvagens por alguns minutos antes de chegar a um trio de piscinas, locais onde moitas de árvores, troncos caídos e outras barreiras naturais haviam isolado o rio em partes menores: a primeira apelidada de Amor; a segunda, de Filhos; e a última, de Divórcio.

Segundo nosso guia, as piscinas têm propriedades místicas. Se quiser encontrar o amor verdadeiro, pule na piscina do Amor. Mais filhos? Mergulhe na segunda piscina. E se estiver precisando de um divórcio... – ele abriu um sorriso.

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A piscina Amor no Rio Caño Frío, perto da praia de Rincón, na Península de Samaná Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Para entrar na piscina do amor – círculo verde-esmeralda com brotos cinzentos e desgrenhados das árvores de mangue –, primeiro tivemos de nos equilibrar precariamente sobre um emaranhado de raízes e galhos. Nós dois hesitamos. Quando olhei para baixo, era impossível dizer qual era a profundidade da água ou se o leito do rio era macio. Havia pedras? Finalmente, mergulhamos. A água estava fria e relativamente rasa e, felizmente, o fundo era arenoso.

A piscina Filhos foi mais fácil de entrar. Um banco de areia branca descia gradualmente até uma lagoa rasa tingida de um verde claro e nítido que me lembrava vidro romano. Sem a sombra da primeira piscina, o sol me esquentou a cabeça, embora, ao mergulhar, eu sentisse arrepios.

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Hogla e eu nos aquecemos no tronco de uma árvore caída que dividia a lagoa em duas, e tive aquela deliciosa sensação de tirar o suéter no primeiro dia quente da primavera.

O verde-água brilhante da piscina Divórcio era o mais claro e, com sombra e sol, essa era a mais convidativa das três, mas a superstição nos impediu de nadar. Embora Hogla e eu já fôssemos divorciadas, não queríamos nos sujeitar a passar novamente por essa provação.

Em vez disso, fomos à vizinha Praia Rincón, onde uma fileira de barracas minúsculas e coloridas oferecia uma variedade de pratos locais preparados em fogões de barro. Comemos lagosta e polvo frescos servidos com dois pratos de tostones caseiros e um monte de arroz com guandu (um tipo de feijão) preparado à moda de Samaná, com leite de coco; tudo isso nos custou 1.500 pesos (cerca de US$ 26). Tomamos água de coco fresca direto do coco, batizada com rum local (300 pesos).

Traga seu cooler e relaxe

O Río San Juan deságua no oceano na extremidade oeste de Valley Beach, proporcionando às famílias, que às vezes trazem coolers com bebidas e lanches, uma pausa do calor do meio-dia Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Não muito longe dali, na Península de Samaná, aninhada entre duas montanhas verdejantes, a areia dourada da Praia do Vale oferecia um local para passar as horas observando o balé do sol sobre o palco cerúleo do Oceano Atlântico. Na extremidade oeste da praia, o pequeno e imaculado Rio San Juan – que não deve ser confundido com o município de mesmo nome, distante várias horas de carro a noroeste – atraía os habitantes locais para relaxar em suas águas, com coolers cheios de bebidas e lanches.

Margeada por um impressionante paredão de rocha que dá lugar a uma suave fileira de árvores, a água proporcionava um refúgio fresco e calmo depois de ser agitada pela intensa rebentação da costa do Atlântico. O rio estreito e raso, sombreado por árvores salientes, curvava-se graciosamente para dentro de um bosque verde-esmeralda.

Segui Manuel, sua esposa e seus dois filhos até a água e fiquei surpresa ao descobrir que eles conheciam a outra família que estava ali, apesar de estarmos a certa distância de Santo Domingo. O grupo conversou, colocando as fofocas em dia, enquanto as crianças corriam entre o rio e o mar.

Se não quiser levar um cooler, você pode comprar comida na praia, embora seja um pouco mais cara do que em Rincón. Pergunte a um dos vendedores ambulantes sobre o almoço e vai receber um peixe inteiro, retirado do oceano, frito no pequeno restaurante na estrada e servido com arroz e guandu por cerca de dois mil pesos.

Visitantes de Río San Juan podem almoçar peixe frito, retirado do oceano, próximo à Valley Beach Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Águas claras enganam a vista

Borboletas voejavam ao nosso redor e cabras mantinham a guarda ao longo da estrada de terra de 800 metros que levava às profundezas da floresta até Hoyo Claro, cenote próximo ao resort praiano de Punta Cana. Em uma manhã de domingo, o local estava vazio, exceto por uma família, e o ar estava calmo.

A piscina natural é cercada por rochas escuras, folhas caídas e árvores altas e finas com raízes que parecem crescer diretamente da água, como dedos agarrados ao fundo. Seus troncos marrons com manchas cinzentas contrastam fortemente com o ciano fluorescente da água.

Embora houvesse escadas, entrei na água fria a partir de um banco de areia e, depois de mergulhar, peixinhos nadaram ao meu redor. Afundei a cabeça e, de repente, a água não parecia tão fria assim.

Tentei nadar até o fundo para chegar à camada rochosa, mas a água clara pode enganar os olhos: as pedras estavam muito mais longe do que pareciam, e eu não conseguia alcançá-las. A água também distorceu a distância até um dos troncos de árvore caídos: superestimei a distância da superfície e acabei com um hematoma na panturrilha. Esses mesmos troncos de árvores também podem servir como bancos quando você estiver cansado de nadar ou flutuar – ou se estiver com a perna machucada.

O grande salto

A Reserva Ecológica Olhos Indígenas, perto de Punta Cana, tem 13 lagoas e em quatro delas você pode nadar. Duas têm plataformas para pular Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

A panturrilha ainda estava dolorida quando me posicionei na plataforma acima de um cenote na Reserva Ecológica Olhos Indígenas. Pensei em pular na água azul-turquesa três metros abaixo, o azul pontuado pelas enormes pedras cor de âmbar que recobrem o chão da lagoa. Será que a água era profunda o suficiente? Será que eu poderia quebrar uma perna – ou coisa pior – nas rochas abaixo? Um turista espanhol se jogou na água e acenou para mim. Ele estava bem. Ainda assim, hesitei.

Abastecida pelo Rio Yauya, a reserva tem 13 lagoas, quatro das quais se prestam à natação, e duas têm plataformas para saltos. A primeira, a Laguna Inriri, estava silenciosa e quase vazia, exceto por uma mulher grávida boiando tranquilamente, seu corpo projetando uma sombra em forma de cruz nas rochas lisas do fundo. Galhos com folhas cor de esmeralda se debruçavam sobre a piscina, fazendo sombra nas bordas. Uma trilha bem cuidada levava à segunda, onde me deparei com o turista espanhol que me incentivou a entrar.

Incapaz de resistir por mais tempo, saltei. As solas dos pés foram as primeiras partes a atingir a água fria e, em seguida, fui completamente engolida. Com os pulmões em estado de choque com a imersão repentina, subi de volta à superfície e arfei em busca de ar. O calor e a umidade tropicais me encheram a boca e, à medida que o corpo se ajustava, uma sensação de paz absoluta tomou conta de mim. Olhei para as rochas abaixo e as imaginei como fissuras na terra.

Grupo pula em uma das piscinas da reserva Olhos Indígenas, que fica no terreno do Puntacana Resort and Club Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Eu estava perto de algo essencial – as origens do mundo ou, talvez, de mim mesma. Boiei de costas e avistei um céu azul sem nuvens, emoldurado por folhas iluminadas pelo sol, que pareciam luminosas. A luz se refletia na superfície ondulante da água, lançando linhas ondulantes em uma árvore que se arqueava sobre a piscina.

Manuel interrompeu meu devaneio com um grito: “Vamos! Tem mais cenotes para ver”. Com relutância, nadei até as escadas.

Quando saí para o calor, o frescor da água permaneceu na cabeça e nas costas e, pela primeira vez na vida, entendi o termo “formigamento na coluna”. Da nuca, as pontadas se espalharam até um ponto entre as escápulas. A água parecia ter um poder – a força vital de um país inteiro. Esse formigamento continuou enquanto eu seguia com Manuel para ver os outros cenotes.

Se decidir visitar

Os caminhos para os cenotes ou rios geralmente passam por florestas exuberantes e bonitas e, às vezes, são ladeados por flores como orquídeas selvagens Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

O Ministério do Turismo da República Dominicana lista 18 cenotes e nascentes em seu site, incluindo o Hoyo Claro e o Parque Ecológico Olhos Indígenas. Há algumas maneiras de chegar a eles por conta própria.

  • Contrate um guia: muitos hotéis oferecem passeios de um dia mediante o pagamento de uma taxa. Se seu hotel não oferecer passeios de um dia para esses locais, alguns podem ajudar a organizar um. Você também pode contratar um guia turístico local; o site toursbylocals.com é uma maneira de entrar em contato com um deles. Para falantes de espanhol, o grupo do Facebook “ Viajando a República Dominicana” também parece ser um ótimo recurso para passeios, guias e dicas.
  • Alugue um carro: grandes agências de aluguel de carros, como Enterprise, Budget e Hertz, operam na República Dominicana. Os preços variam de acordo com o veículo e a disponibilidade; é obrigatório contratar o seguro de responsabilidade civil local. O Ministério do Turismo recomenda que você se certifique de que o seguro adquirido por meio da agência de aluguel de carros também inclua o seguro “casa del conductor”, que pode ajudar a mantê-lo fora da cadeia em caso de acidente. (Se houver um acidente grave, a polícia levará os envolvidos para a cadeia enquanto o caso é resolvido; esse tipo de seguro permite que você fique em um hotel.) Embora os acidentes de carro na República Dominicana sejam bastante comuns, dirigir é razoavelmente seguro para os turistas. Apenas se certifique de dirigir de forma defensiva e de prestar atenção também às motos.
  • Transporte público: a República Dominicana tem um bom sistema de transporte público; é possível ir de ônibus até a cidade principal mais próxima para visitar qualquer um dos cenotes ou rios. No entanto, como três dos quatro destinos são bastante remotos, você vai precisar contratar um motorista local para ir da cidade até a piscina natural. O Olhos Indígenas é a exceção, pois esse parque está situado dentro do Puntacana Resort and Club. É fácil conseguir um táxi local ou um Uber para chegar até lá.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - A lagoa cercada de árvores brilhava com uma cor que normalmente só se vê em enxaguantes bucais e, sob a superfície de sua água cristalina, os galhos caídos pareciam mãos abertas prontas para um abraço. As pedras no fundo pareciam estar a poucos metros de profundidade, ou, quem sabe, incrivelmente profundas – a claridade da água tornava impossível saber.

Hoyo Claro, piscina natural conhecida na República Dominicana como cenote, fica a apenas alguns quilômetros dos luxuosos resorts de praia “all-inclusive” de Punta Cana, mas parece um universo diferente.

Se as praias de areia branca do Caribe são a cara da República Dominicana, seus riachos, rios e cenotes são suas veias, artérias e coração. A capital, Santo Domingo, é margeada por três rios, o Haina, o Isabela e o Ozama, em cujas margens os conquistadores espanhóis construíram seu forte, o primeiro das Américas, em 1496.

O país, que compartilha com o Haiti o território da ilha de São Domingos (também conhecida como Hispaniola), a oeste, está repleto de cursos d’água e salpicado por irresistíveis cenotes de cor azul neon.

As águas frias e cor de jade de uma piscina no Rio Caño Frío, perto da Praia de Rincón, na Península de Samaná Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Amigos dominicanos não gostaram muito do meu plano de alugar um carro e visitar os rios e cenotes sozinha no verão passado. O país tem a reputação de ser um pouco bruto, ideia reforçada por um aviso do Departamento de Estado dos EUA, que adverte os cidadãos americanos a ter especial cautela ao viajar à República Dominicana. E, com 65 de cada cem mil dominicanos morrendo em acidentes de trânsito todo ano, o país também tem a mais alta taxa de mortalidade no trânsito das Américas, de acordo com dados do Banco Mundial.

Em vez disso, juntei-me a dois desses amigos, Hogla Enecia Pérez e Manuel Herrera, em uma jornada por algumas estradas de terra acidentadas, onde é melhor caminhar do que dirigir. Hogla alugou um carro para visitarmos um rio. E, com o utilitário esportivo, de um primo, com tração nas quatro rodas, Manuel levou a mim e, em um dos dias, sua família a outras piscinas naturais.

Na República Dominicana, as pequenas lagoas rurais, como a Hoyo Claro, são identificadas apenas por uma pequena placa de plástico, pouco visível da estrada, por isso encontrá-las é uma ótima maneira de conhecer o calor e a hospitalidade dominicanos: você certamente vai ter de parar e pedir informações a um morador local.

Quando encontrar uma dessas piscinas e mergulhar na água fresca e clara, vai sentir as batidas do coração da própria República Dominicana, assim como eu.

Magia nos manguezais

O Rio Caño Frío, cercado por manguezais e florestas exuberantes, atrai os banhistas com três piscinas, apelidadas de Amor, Filhos e Divórcio Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Para me proteger do sol do meio-dia, fiquei sob a sombra de uma árvore de mangue nas águas cor de jade do Rio Caño Frío, um curso de água fresca na Península de Samaná, no litoral norte. A água me chegava ao peito e eu ainda conseguia ver os dedos dos pés, com os quais brincava na areia. Minha vontade era de me enraizar ali para sempre, mas Hogla me chamou e saí da água.

Um morador local descalço nos conduziu a uma floresta exuberante, onde seguimos uma trilha ladeada de orquídeas selvagens por alguns minutos antes de chegar a um trio de piscinas, locais onde moitas de árvores, troncos caídos e outras barreiras naturais haviam isolado o rio em partes menores: a primeira apelidada de Amor; a segunda, de Filhos; e a última, de Divórcio.

Segundo nosso guia, as piscinas têm propriedades místicas. Se quiser encontrar o amor verdadeiro, pule na piscina do Amor. Mais filhos? Mergulhe na segunda piscina. E se estiver precisando de um divórcio... – ele abriu um sorriso.

A piscina Amor no Rio Caño Frío, perto da praia de Rincón, na Península de Samaná Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Para entrar na piscina do amor – círculo verde-esmeralda com brotos cinzentos e desgrenhados das árvores de mangue –, primeiro tivemos de nos equilibrar precariamente sobre um emaranhado de raízes e galhos. Nós dois hesitamos. Quando olhei para baixo, era impossível dizer qual era a profundidade da água ou se o leito do rio era macio. Havia pedras? Finalmente, mergulhamos. A água estava fria e relativamente rasa e, felizmente, o fundo era arenoso.

A piscina Filhos foi mais fácil de entrar. Um banco de areia branca descia gradualmente até uma lagoa rasa tingida de um verde claro e nítido que me lembrava vidro romano. Sem a sombra da primeira piscina, o sol me esquentou a cabeça, embora, ao mergulhar, eu sentisse arrepios.

Hogla e eu nos aquecemos no tronco de uma árvore caída que dividia a lagoa em duas, e tive aquela deliciosa sensação de tirar o suéter no primeiro dia quente da primavera.

O verde-água brilhante da piscina Divórcio era o mais claro e, com sombra e sol, essa era a mais convidativa das três, mas a superstição nos impediu de nadar. Embora Hogla e eu já fôssemos divorciadas, não queríamos nos sujeitar a passar novamente por essa provação.

Em vez disso, fomos à vizinha Praia Rincón, onde uma fileira de barracas minúsculas e coloridas oferecia uma variedade de pratos locais preparados em fogões de barro. Comemos lagosta e polvo frescos servidos com dois pratos de tostones caseiros e um monte de arroz com guandu (um tipo de feijão) preparado à moda de Samaná, com leite de coco; tudo isso nos custou 1.500 pesos (cerca de US$ 26). Tomamos água de coco fresca direto do coco, batizada com rum local (300 pesos).

Traga seu cooler e relaxe

O Río San Juan deságua no oceano na extremidade oeste de Valley Beach, proporcionando às famílias, que às vezes trazem coolers com bebidas e lanches, uma pausa do calor do meio-dia Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Não muito longe dali, na Península de Samaná, aninhada entre duas montanhas verdejantes, a areia dourada da Praia do Vale oferecia um local para passar as horas observando o balé do sol sobre o palco cerúleo do Oceano Atlântico. Na extremidade oeste da praia, o pequeno e imaculado Rio San Juan – que não deve ser confundido com o município de mesmo nome, distante várias horas de carro a noroeste – atraía os habitantes locais para relaxar em suas águas, com coolers cheios de bebidas e lanches.

Margeada por um impressionante paredão de rocha que dá lugar a uma suave fileira de árvores, a água proporcionava um refúgio fresco e calmo depois de ser agitada pela intensa rebentação da costa do Atlântico. O rio estreito e raso, sombreado por árvores salientes, curvava-se graciosamente para dentro de um bosque verde-esmeralda.

Segui Manuel, sua esposa e seus dois filhos até a água e fiquei surpresa ao descobrir que eles conheciam a outra família que estava ali, apesar de estarmos a certa distância de Santo Domingo. O grupo conversou, colocando as fofocas em dia, enquanto as crianças corriam entre o rio e o mar.

Se não quiser levar um cooler, você pode comprar comida na praia, embora seja um pouco mais cara do que em Rincón. Pergunte a um dos vendedores ambulantes sobre o almoço e vai receber um peixe inteiro, retirado do oceano, frito no pequeno restaurante na estrada e servido com arroz e guandu por cerca de dois mil pesos.

Visitantes de Río San Juan podem almoçar peixe frito, retirado do oceano, próximo à Valley Beach Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Águas claras enganam a vista

Borboletas voejavam ao nosso redor e cabras mantinham a guarda ao longo da estrada de terra de 800 metros que levava às profundezas da floresta até Hoyo Claro, cenote próximo ao resort praiano de Punta Cana. Em uma manhã de domingo, o local estava vazio, exceto por uma família, e o ar estava calmo.

A piscina natural é cercada por rochas escuras, folhas caídas e árvores altas e finas com raízes que parecem crescer diretamente da água, como dedos agarrados ao fundo. Seus troncos marrons com manchas cinzentas contrastam fortemente com o ciano fluorescente da água.

Embora houvesse escadas, entrei na água fria a partir de um banco de areia e, depois de mergulhar, peixinhos nadaram ao meu redor. Afundei a cabeça e, de repente, a água não parecia tão fria assim.

Tentei nadar até o fundo para chegar à camada rochosa, mas a água clara pode enganar os olhos: as pedras estavam muito mais longe do que pareciam, e eu não conseguia alcançá-las. A água também distorceu a distância até um dos troncos de árvore caídos: superestimei a distância da superfície e acabei com um hematoma na panturrilha. Esses mesmos troncos de árvores também podem servir como bancos quando você estiver cansado de nadar ou flutuar – ou se estiver com a perna machucada.

O grande salto

A Reserva Ecológica Olhos Indígenas, perto de Punta Cana, tem 13 lagoas e em quatro delas você pode nadar. Duas têm plataformas para pular Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

A panturrilha ainda estava dolorida quando me posicionei na plataforma acima de um cenote na Reserva Ecológica Olhos Indígenas. Pensei em pular na água azul-turquesa três metros abaixo, o azul pontuado pelas enormes pedras cor de âmbar que recobrem o chão da lagoa. Será que a água era profunda o suficiente? Será que eu poderia quebrar uma perna – ou coisa pior – nas rochas abaixo? Um turista espanhol se jogou na água e acenou para mim. Ele estava bem. Ainda assim, hesitei.

Abastecida pelo Rio Yauya, a reserva tem 13 lagoas, quatro das quais se prestam à natação, e duas têm plataformas para saltos. A primeira, a Laguna Inriri, estava silenciosa e quase vazia, exceto por uma mulher grávida boiando tranquilamente, seu corpo projetando uma sombra em forma de cruz nas rochas lisas do fundo. Galhos com folhas cor de esmeralda se debruçavam sobre a piscina, fazendo sombra nas bordas. Uma trilha bem cuidada levava à segunda, onde me deparei com o turista espanhol que me incentivou a entrar.

Incapaz de resistir por mais tempo, saltei. As solas dos pés foram as primeiras partes a atingir a água fria e, em seguida, fui completamente engolida. Com os pulmões em estado de choque com a imersão repentina, subi de volta à superfície e arfei em busca de ar. O calor e a umidade tropicais me encheram a boca e, à medida que o corpo se ajustava, uma sensação de paz absoluta tomou conta de mim. Olhei para as rochas abaixo e as imaginei como fissuras na terra.

Grupo pula em uma das piscinas da reserva Olhos Indígenas, que fica no terreno do Puntacana Resort and Club Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Eu estava perto de algo essencial – as origens do mundo ou, talvez, de mim mesma. Boiei de costas e avistei um céu azul sem nuvens, emoldurado por folhas iluminadas pelo sol, que pareciam luminosas. A luz se refletia na superfície ondulante da água, lançando linhas ondulantes em uma árvore que se arqueava sobre a piscina.

Manuel interrompeu meu devaneio com um grito: “Vamos! Tem mais cenotes para ver”. Com relutância, nadei até as escadas.

Quando saí para o calor, o frescor da água permaneceu na cabeça e nas costas e, pela primeira vez na vida, entendi o termo “formigamento na coluna”. Da nuca, as pontadas se espalharam até um ponto entre as escápulas. A água parecia ter um poder – a força vital de um país inteiro. Esse formigamento continuou enquanto eu seguia com Manuel para ver os outros cenotes.

Se decidir visitar

Os caminhos para os cenotes ou rios geralmente passam por florestas exuberantes e bonitas e, às vezes, são ladeados por flores como orquídeas selvagens Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

O Ministério do Turismo da República Dominicana lista 18 cenotes e nascentes em seu site, incluindo o Hoyo Claro e o Parque Ecológico Olhos Indígenas. Há algumas maneiras de chegar a eles por conta própria.

  • Contrate um guia: muitos hotéis oferecem passeios de um dia mediante o pagamento de uma taxa. Se seu hotel não oferecer passeios de um dia para esses locais, alguns podem ajudar a organizar um. Você também pode contratar um guia turístico local; o site toursbylocals.com é uma maneira de entrar em contato com um deles. Para falantes de espanhol, o grupo do Facebook “ Viajando a República Dominicana” também parece ser um ótimo recurso para passeios, guias e dicas.
  • Alugue um carro: grandes agências de aluguel de carros, como Enterprise, Budget e Hertz, operam na República Dominicana. Os preços variam de acordo com o veículo e a disponibilidade; é obrigatório contratar o seguro de responsabilidade civil local. O Ministério do Turismo recomenda que você se certifique de que o seguro adquirido por meio da agência de aluguel de carros também inclua o seguro “casa del conductor”, que pode ajudar a mantê-lo fora da cadeia em caso de acidente. (Se houver um acidente grave, a polícia levará os envolvidos para a cadeia enquanto o caso é resolvido; esse tipo de seguro permite que você fique em um hotel.) Embora os acidentes de carro na República Dominicana sejam bastante comuns, dirigir é razoavelmente seguro para os turistas. Apenas se certifique de dirigir de forma defensiva e de prestar atenção também às motos.
  • Transporte público: a República Dominicana tem um bom sistema de transporte público; é possível ir de ônibus até a cidade principal mais próxima para visitar qualquer um dos cenotes ou rios. No entanto, como três dos quatro destinos são bastante remotos, você vai precisar contratar um motorista local para ir da cidade até a piscina natural. O Olhos Indígenas é a exceção, pois esse parque está situado dentro do Puntacana Resort and Club. É fácil conseguir um táxi local ou um Uber para chegar até lá.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - A lagoa cercada de árvores brilhava com uma cor que normalmente só se vê em enxaguantes bucais e, sob a superfície de sua água cristalina, os galhos caídos pareciam mãos abertas prontas para um abraço. As pedras no fundo pareciam estar a poucos metros de profundidade, ou, quem sabe, incrivelmente profundas – a claridade da água tornava impossível saber.

Hoyo Claro, piscina natural conhecida na República Dominicana como cenote, fica a apenas alguns quilômetros dos luxuosos resorts de praia “all-inclusive” de Punta Cana, mas parece um universo diferente.

Se as praias de areia branca do Caribe são a cara da República Dominicana, seus riachos, rios e cenotes são suas veias, artérias e coração. A capital, Santo Domingo, é margeada por três rios, o Haina, o Isabela e o Ozama, em cujas margens os conquistadores espanhóis construíram seu forte, o primeiro das Américas, em 1496.

O país, que compartilha com o Haiti o território da ilha de São Domingos (também conhecida como Hispaniola), a oeste, está repleto de cursos d’água e salpicado por irresistíveis cenotes de cor azul neon.

As águas frias e cor de jade de uma piscina no Rio Caño Frío, perto da Praia de Rincón, na Península de Samaná Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Amigos dominicanos não gostaram muito do meu plano de alugar um carro e visitar os rios e cenotes sozinha no verão passado. O país tem a reputação de ser um pouco bruto, ideia reforçada por um aviso do Departamento de Estado dos EUA, que adverte os cidadãos americanos a ter especial cautela ao viajar à República Dominicana. E, com 65 de cada cem mil dominicanos morrendo em acidentes de trânsito todo ano, o país também tem a mais alta taxa de mortalidade no trânsito das Américas, de acordo com dados do Banco Mundial.

Em vez disso, juntei-me a dois desses amigos, Hogla Enecia Pérez e Manuel Herrera, em uma jornada por algumas estradas de terra acidentadas, onde é melhor caminhar do que dirigir. Hogla alugou um carro para visitarmos um rio. E, com o utilitário esportivo, de um primo, com tração nas quatro rodas, Manuel levou a mim e, em um dos dias, sua família a outras piscinas naturais.

Na República Dominicana, as pequenas lagoas rurais, como a Hoyo Claro, são identificadas apenas por uma pequena placa de plástico, pouco visível da estrada, por isso encontrá-las é uma ótima maneira de conhecer o calor e a hospitalidade dominicanos: você certamente vai ter de parar e pedir informações a um morador local.

Quando encontrar uma dessas piscinas e mergulhar na água fresca e clara, vai sentir as batidas do coração da própria República Dominicana, assim como eu.

Magia nos manguezais

O Rio Caño Frío, cercado por manguezais e florestas exuberantes, atrai os banhistas com três piscinas, apelidadas de Amor, Filhos e Divórcio Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Para me proteger do sol do meio-dia, fiquei sob a sombra de uma árvore de mangue nas águas cor de jade do Rio Caño Frío, um curso de água fresca na Península de Samaná, no litoral norte. A água me chegava ao peito e eu ainda conseguia ver os dedos dos pés, com os quais brincava na areia. Minha vontade era de me enraizar ali para sempre, mas Hogla me chamou e saí da água.

Um morador local descalço nos conduziu a uma floresta exuberante, onde seguimos uma trilha ladeada de orquídeas selvagens por alguns minutos antes de chegar a um trio de piscinas, locais onde moitas de árvores, troncos caídos e outras barreiras naturais haviam isolado o rio em partes menores: a primeira apelidada de Amor; a segunda, de Filhos; e a última, de Divórcio.

Segundo nosso guia, as piscinas têm propriedades místicas. Se quiser encontrar o amor verdadeiro, pule na piscina do Amor. Mais filhos? Mergulhe na segunda piscina. E se estiver precisando de um divórcio... – ele abriu um sorriso.

A piscina Amor no Rio Caño Frío, perto da praia de Rincón, na Península de Samaná Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Para entrar na piscina do amor – círculo verde-esmeralda com brotos cinzentos e desgrenhados das árvores de mangue –, primeiro tivemos de nos equilibrar precariamente sobre um emaranhado de raízes e galhos. Nós dois hesitamos. Quando olhei para baixo, era impossível dizer qual era a profundidade da água ou se o leito do rio era macio. Havia pedras? Finalmente, mergulhamos. A água estava fria e relativamente rasa e, felizmente, o fundo era arenoso.

A piscina Filhos foi mais fácil de entrar. Um banco de areia branca descia gradualmente até uma lagoa rasa tingida de um verde claro e nítido que me lembrava vidro romano. Sem a sombra da primeira piscina, o sol me esquentou a cabeça, embora, ao mergulhar, eu sentisse arrepios.

Hogla e eu nos aquecemos no tronco de uma árvore caída que dividia a lagoa em duas, e tive aquela deliciosa sensação de tirar o suéter no primeiro dia quente da primavera.

O verde-água brilhante da piscina Divórcio era o mais claro e, com sombra e sol, essa era a mais convidativa das três, mas a superstição nos impediu de nadar. Embora Hogla e eu já fôssemos divorciadas, não queríamos nos sujeitar a passar novamente por essa provação.

Em vez disso, fomos à vizinha Praia Rincón, onde uma fileira de barracas minúsculas e coloridas oferecia uma variedade de pratos locais preparados em fogões de barro. Comemos lagosta e polvo frescos servidos com dois pratos de tostones caseiros e um monte de arroz com guandu (um tipo de feijão) preparado à moda de Samaná, com leite de coco; tudo isso nos custou 1.500 pesos (cerca de US$ 26). Tomamos água de coco fresca direto do coco, batizada com rum local (300 pesos).

Traga seu cooler e relaxe

O Río San Juan deságua no oceano na extremidade oeste de Valley Beach, proporcionando às famílias, que às vezes trazem coolers com bebidas e lanches, uma pausa do calor do meio-dia Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Não muito longe dali, na Península de Samaná, aninhada entre duas montanhas verdejantes, a areia dourada da Praia do Vale oferecia um local para passar as horas observando o balé do sol sobre o palco cerúleo do Oceano Atlântico. Na extremidade oeste da praia, o pequeno e imaculado Rio San Juan – que não deve ser confundido com o município de mesmo nome, distante várias horas de carro a noroeste – atraía os habitantes locais para relaxar em suas águas, com coolers cheios de bebidas e lanches.

Margeada por um impressionante paredão de rocha que dá lugar a uma suave fileira de árvores, a água proporcionava um refúgio fresco e calmo depois de ser agitada pela intensa rebentação da costa do Atlântico. O rio estreito e raso, sombreado por árvores salientes, curvava-se graciosamente para dentro de um bosque verde-esmeralda.

Segui Manuel, sua esposa e seus dois filhos até a água e fiquei surpresa ao descobrir que eles conheciam a outra família que estava ali, apesar de estarmos a certa distância de Santo Domingo. O grupo conversou, colocando as fofocas em dia, enquanto as crianças corriam entre o rio e o mar.

Se não quiser levar um cooler, você pode comprar comida na praia, embora seja um pouco mais cara do que em Rincón. Pergunte a um dos vendedores ambulantes sobre o almoço e vai receber um peixe inteiro, retirado do oceano, frito no pequeno restaurante na estrada e servido com arroz e guandu por cerca de dois mil pesos.

Visitantes de Río San Juan podem almoçar peixe frito, retirado do oceano, próximo à Valley Beach Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Águas claras enganam a vista

Borboletas voejavam ao nosso redor e cabras mantinham a guarda ao longo da estrada de terra de 800 metros que levava às profundezas da floresta até Hoyo Claro, cenote próximo ao resort praiano de Punta Cana. Em uma manhã de domingo, o local estava vazio, exceto por uma família, e o ar estava calmo.

A piscina natural é cercada por rochas escuras, folhas caídas e árvores altas e finas com raízes que parecem crescer diretamente da água, como dedos agarrados ao fundo. Seus troncos marrons com manchas cinzentas contrastam fortemente com o ciano fluorescente da água.

Embora houvesse escadas, entrei na água fria a partir de um banco de areia e, depois de mergulhar, peixinhos nadaram ao meu redor. Afundei a cabeça e, de repente, a água não parecia tão fria assim.

Tentei nadar até o fundo para chegar à camada rochosa, mas a água clara pode enganar os olhos: as pedras estavam muito mais longe do que pareciam, e eu não conseguia alcançá-las. A água também distorceu a distância até um dos troncos de árvore caídos: superestimei a distância da superfície e acabei com um hematoma na panturrilha. Esses mesmos troncos de árvores também podem servir como bancos quando você estiver cansado de nadar ou flutuar – ou se estiver com a perna machucada.

O grande salto

A Reserva Ecológica Olhos Indígenas, perto de Punta Cana, tem 13 lagoas e em quatro delas você pode nadar. Duas têm plataformas para pular Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

A panturrilha ainda estava dolorida quando me posicionei na plataforma acima de um cenote na Reserva Ecológica Olhos Indígenas. Pensei em pular na água azul-turquesa três metros abaixo, o azul pontuado pelas enormes pedras cor de âmbar que recobrem o chão da lagoa. Será que a água era profunda o suficiente? Será que eu poderia quebrar uma perna – ou coisa pior – nas rochas abaixo? Um turista espanhol se jogou na água e acenou para mim. Ele estava bem. Ainda assim, hesitei.

Abastecida pelo Rio Yauya, a reserva tem 13 lagoas, quatro das quais se prestam à natação, e duas têm plataformas para saltos. A primeira, a Laguna Inriri, estava silenciosa e quase vazia, exceto por uma mulher grávida boiando tranquilamente, seu corpo projetando uma sombra em forma de cruz nas rochas lisas do fundo. Galhos com folhas cor de esmeralda se debruçavam sobre a piscina, fazendo sombra nas bordas. Uma trilha bem cuidada levava à segunda, onde me deparei com o turista espanhol que me incentivou a entrar.

Incapaz de resistir por mais tempo, saltei. As solas dos pés foram as primeiras partes a atingir a água fria e, em seguida, fui completamente engolida. Com os pulmões em estado de choque com a imersão repentina, subi de volta à superfície e arfei em busca de ar. O calor e a umidade tropicais me encheram a boca e, à medida que o corpo se ajustava, uma sensação de paz absoluta tomou conta de mim. Olhei para as rochas abaixo e as imaginei como fissuras na terra.

Grupo pula em uma das piscinas da reserva Olhos Indígenas, que fica no terreno do Puntacana Resort and Club Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Eu estava perto de algo essencial – as origens do mundo ou, talvez, de mim mesma. Boiei de costas e avistei um céu azul sem nuvens, emoldurado por folhas iluminadas pelo sol, que pareciam luminosas. A luz se refletia na superfície ondulante da água, lançando linhas ondulantes em uma árvore que se arqueava sobre a piscina.

Manuel interrompeu meu devaneio com um grito: “Vamos! Tem mais cenotes para ver”. Com relutância, nadei até as escadas.

Quando saí para o calor, o frescor da água permaneceu na cabeça e nas costas e, pela primeira vez na vida, entendi o termo “formigamento na coluna”. Da nuca, as pontadas se espalharam até um ponto entre as escápulas. A água parecia ter um poder – a força vital de um país inteiro. Esse formigamento continuou enquanto eu seguia com Manuel para ver os outros cenotes.

Se decidir visitar

Os caminhos para os cenotes ou rios geralmente passam por florestas exuberantes e bonitas e, às vezes, são ladeados por flores como orquídeas selvagens Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

O Ministério do Turismo da República Dominicana lista 18 cenotes e nascentes em seu site, incluindo o Hoyo Claro e o Parque Ecológico Olhos Indígenas. Há algumas maneiras de chegar a eles por conta própria.

  • Contrate um guia: muitos hotéis oferecem passeios de um dia mediante o pagamento de uma taxa. Se seu hotel não oferecer passeios de um dia para esses locais, alguns podem ajudar a organizar um. Você também pode contratar um guia turístico local; o site toursbylocals.com é uma maneira de entrar em contato com um deles. Para falantes de espanhol, o grupo do Facebook “ Viajando a República Dominicana” também parece ser um ótimo recurso para passeios, guias e dicas.
  • Alugue um carro: grandes agências de aluguel de carros, como Enterprise, Budget e Hertz, operam na República Dominicana. Os preços variam de acordo com o veículo e a disponibilidade; é obrigatório contratar o seguro de responsabilidade civil local. O Ministério do Turismo recomenda que você se certifique de que o seguro adquirido por meio da agência de aluguel de carros também inclua o seguro “casa del conductor”, que pode ajudar a mantê-lo fora da cadeia em caso de acidente. (Se houver um acidente grave, a polícia levará os envolvidos para a cadeia enquanto o caso é resolvido; esse tipo de seguro permite que você fique em um hotel.) Embora os acidentes de carro na República Dominicana sejam bastante comuns, dirigir é razoavelmente seguro para os turistas. Apenas se certifique de dirigir de forma defensiva e de prestar atenção também às motos.
  • Transporte público: a República Dominicana tem um bom sistema de transporte público; é possível ir de ônibus até a cidade principal mais próxima para visitar qualquer um dos cenotes ou rios. No entanto, como três dos quatro destinos são bastante remotos, você vai precisar contratar um motorista local para ir da cidade até a piscina natural. O Olhos Indígenas é a exceção, pois esse parque está situado dentro do Puntacana Resort and Club. É fácil conseguir um táxi local ou um Uber para chegar até lá.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - A lagoa cercada de árvores brilhava com uma cor que normalmente só se vê em enxaguantes bucais e, sob a superfície de sua água cristalina, os galhos caídos pareciam mãos abertas prontas para um abraço. As pedras no fundo pareciam estar a poucos metros de profundidade, ou, quem sabe, incrivelmente profundas – a claridade da água tornava impossível saber.

Hoyo Claro, piscina natural conhecida na República Dominicana como cenote, fica a apenas alguns quilômetros dos luxuosos resorts de praia “all-inclusive” de Punta Cana, mas parece um universo diferente.

Se as praias de areia branca do Caribe são a cara da República Dominicana, seus riachos, rios e cenotes são suas veias, artérias e coração. A capital, Santo Domingo, é margeada por três rios, o Haina, o Isabela e o Ozama, em cujas margens os conquistadores espanhóis construíram seu forte, o primeiro das Américas, em 1496.

O país, que compartilha com o Haiti o território da ilha de São Domingos (também conhecida como Hispaniola), a oeste, está repleto de cursos d’água e salpicado por irresistíveis cenotes de cor azul neon.

As águas frias e cor de jade de uma piscina no Rio Caño Frío, perto da Praia de Rincón, na Península de Samaná Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Amigos dominicanos não gostaram muito do meu plano de alugar um carro e visitar os rios e cenotes sozinha no verão passado. O país tem a reputação de ser um pouco bruto, ideia reforçada por um aviso do Departamento de Estado dos EUA, que adverte os cidadãos americanos a ter especial cautela ao viajar à República Dominicana. E, com 65 de cada cem mil dominicanos morrendo em acidentes de trânsito todo ano, o país também tem a mais alta taxa de mortalidade no trânsito das Américas, de acordo com dados do Banco Mundial.

Em vez disso, juntei-me a dois desses amigos, Hogla Enecia Pérez e Manuel Herrera, em uma jornada por algumas estradas de terra acidentadas, onde é melhor caminhar do que dirigir. Hogla alugou um carro para visitarmos um rio. E, com o utilitário esportivo, de um primo, com tração nas quatro rodas, Manuel levou a mim e, em um dos dias, sua família a outras piscinas naturais.

Na República Dominicana, as pequenas lagoas rurais, como a Hoyo Claro, são identificadas apenas por uma pequena placa de plástico, pouco visível da estrada, por isso encontrá-las é uma ótima maneira de conhecer o calor e a hospitalidade dominicanos: você certamente vai ter de parar e pedir informações a um morador local.

Quando encontrar uma dessas piscinas e mergulhar na água fresca e clara, vai sentir as batidas do coração da própria República Dominicana, assim como eu.

Magia nos manguezais

O Rio Caño Frío, cercado por manguezais e florestas exuberantes, atrai os banhistas com três piscinas, apelidadas de Amor, Filhos e Divórcio Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Para me proteger do sol do meio-dia, fiquei sob a sombra de uma árvore de mangue nas águas cor de jade do Rio Caño Frío, um curso de água fresca na Península de Samaná, no litoral norte. A água me chegava ao peito e eu ainda conseguia ver os dedos dos pés, com os quais brincava na areia. Minha vontade era de me enraizar ali para sempre, mas Hogla me chamou e saí da água.

Um morador local descalço nos conduziu a uma floresta exuberante, onde seguimos uma trilha ladeada de orquídeas selvagens por alguns minutos antes de chegar a um trio de piscinas, locais onde moitas de árvores, troncos caídos e outras barreiras naturais haviam isolado o rio em partes menores: a primeira apelidada de Amor; a segunda, de Filhos; e a última, de Divórcio.

Segundo nosso guia, as piscinas têm propriedades místicas. Se quiser encontrar o amor verdadeiro, pule na piscina do Amor. Mais filhos? Mergulhe na segunda piscina. E se estiver precisando de um divórcio... – ele abriu um sorriso.

A piscina Amor no Rio Caño Frío, perto da praia de Rincón, na Península de Samaná Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Para entrar na piscina do amor – círculo verde-esmeralda com brotos cinzentos e desgrenhados das árvores de mangue –, primeiro tivemos de nos equilibrar precariamente sobre um emaranhado de raízes e galhos. Nós dois hesitamos. Quando olhei para baixo, era impossível dizer qual era a profundidade da água ou se o leito do rio era macio. Havia pedras? Finalmente, mergulhamos. A água estava fria e relativamente rasa e, felizmente, o fundo era arenoso.

A piscina Filhos foi mais fácil de entrar. Um banco de areia branca descia gradualmente até uma lagoa rasa tingida de um verde claro e nítido que me lembrava vidro romano. Sem a sombra da primeira piscina, o sol me esquentou a cabeça, embora, ao mergulhar, eu sentisse arrepios.

Hogla e eu nos aquecemos no tronco de uma árvore caída que dividia a lagoa em duas, e tive aquela deliciosa sensação de tirar o suéter no primeiro dia quente da primavera.

O verde-água brilhante da piscina Divórcio era o mais claro e, com sombra e sol, essa era a mais convidativa das três, mas a superstição nos impediu de nadar. Embora Hogla e eu já fôssemos divorciadas, não queríamos nos sujeitar a passar novamente por essa provação.

Em vez disso, fomos à vizinha Praia Rincón, onde uma fileira de barracas minúsculas e coloridas oferecia uma variedade de pratos locais preparados em fogões de barro. Comemos lagosta e polvo frescos servidos com dois pratos de tostones caseiros e um monte de arroz com guandu (um tipo de feijão) preparado à moda de Samaná, com leite de coco; tudo isso nos custou 1.500 pesos (cerca de US$ 26). Tomamos água de coco fresca direto do coco, batizada com rum local (300 pesos).

Traga seu cooler e relaxe

O Río San Juan deságua no oceano na extremidade oeste de Valley Beach, proporcionando às famílias, que às vezes trazem coolers com bebidas e lanches, uma pausa do calor do meio-dia Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Não muito longe dali, na Península de Samaná, aninhada entre duas montanhas verdejantes, a areia dourada da Praia do Vale oferecia um local para passar as horas observando o balé do sol sobre o palco cerúleo do Oceano Atlântico. Na extremidade oeste da praia, o pequeno e imaculado Rio San Juan – que não deve ser confundido com o município de mesmo nome, distante várias horas de carro a noroeste – atraía os habitantes locais para relaxar em suas águas, com coolers cheios de bebidas e lanches.

Margeada por um impressionante paredão de rocha que dá lugar a uma suave fileira de árvores, a água proporcionava um refúgio fresco e calmo depois de ser agitada pela intensa rebentação da costa do Atlântico. O rio estreito e raso, sombreado por árvores salientes, curvava-se graciosamente para dentro de um bosque verde-esmeralda.

Segui Manuel, sua esposa e seus dois filhos até a água e fiquei surpresa ao descobrir que eles conheciam a outra família que estava ali, apesar de estarmos a certa distância de Santo Domingo. O grupo conversou, colocando as fofocas em dia, enquanto as crianças corriam entre o rio e o mar.

Se não quiser levar um cooler, você pode comprar comida na praia, embora seja um pouco mais cara do que em Rincón. Pergunte a um dos vendedores ambulantes sobre o almoço e vai receber um peixe inteiro, retirado do oceano, frito no pequeno restaurante na estrada e servido com arroz e guandu por cerca de dois mil pesos.

Visitantes de Río San Juan podem almoçar peixe frito, retirado do oceano, próximo à Valley Beach Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Águas claras enganam a vista

Borboletas voejavam ao nosso redor e cabras mantinham a guarda ao longo da estrada de terra de 800 metros que levava às profundezas da floresta até Hoyo Claro, cenote próximo ao resort praiano de Punta Cana. Em uma manhã de domingo, o local estava vazio, exceto por uma família, e o ar estava calmo.

A piscina natural é cercada por rochas escuras, folhas caídas e árvores altas e finas com raízes que parecem crescer diretamente da água, como dedos agarrados ao fundo. Seus troncos marrons com manchas cinzentas contrastam fortemente com o ciano fluorescente da água.

Embora houvesse escadas, entrei na água fria a partir de um banco de areia e, depois de mergulhar, peixinhos nadaram ao meu redor. Afundei a cabeça e, de repente, a água não parecia tão fria assim.

Tentei nadar até o fundo para chegar à camada rochosa, mas a água clara pode enganar os olhos: as pedras estavam muito mais longe do que pareciam, e eu não conseguia alcançá-las. A água também distorceu a distância até um dos troncos de árvore caídos: superestimei a distância da superfície e acabei com um hematoma na panturrilha. Esses mesmos troncos de árvores também podem servir como bancos quando você estiver cansado de nadar ou flutuar – ou se estiver com a perna machucada.

O grande salto

A Reserva Ecológica Olhos Indígenas, perto de Punta Cana, tem 13 lagoas e em quatro delas você pode nadar. Duas têm plataformas para pular Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

A panturrilha ainda estava dolorida quando me posicionei na plataforma acima de um cenote na Reserva Ecológica Olhos Indígenas. Pensei em pular na água azul-turquesa três metros abaixo, o azul pontuado pelas enormes pedras cor de âmbar que recobrem o chão da lagoa. Será que a água era profunda o suficiente? Será que eu poderia quebrar uma perna – ou coisa pior – nas rochas abaixo? Um turista espanhol se jogou na água e acenou para mim. Ele estava bem. Ainda assim, hesitei.

Abastecida pelo Rio Yauya, a reserva tem 13 lagoas, quatro das quais se prestam à natação, e duas têm plataformas para saltos. A primeira, a Laguna Inriri, estava silenciosa e quase vazia, exceto por uma mulher grávida boiando tranquilamente, seu corpo projetando uma sombra em forma de cruz nas rochas lisas do fundo. Galhos com folhas cor de esmeralda se debruçavam sobre a piscina, fazendo sombra nas bordas. Uma trilha bem cuidada levava à segunda, onde me deparei com o turista espanhol que me incentivou a entrar.

Incapaz de resistir por mais tempo, saltei. As solas dos pés foram as primeiras partes a atingir a água fria e, em seguida, fui completamente engolida. Com os pulmões em estado de choque com a imersão repentina, subi de volta à superfície e arfei em busca de ar. O calor e a umidade tropicais me encheram a boca e, à medida que o corpo se ajustava, uma sensação de paz absoluta tomou conta de mim. Olhei para as rochas abaixo e as imaginei como fissuras na terra.

Grupo pula em uma das piscinas da reserva Olhos Indígenas, que fica no terreno do Puntacana Resort and Club Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Eu estava perto de algo essencial – as origens do mundo ou, talvez, de mim mesma. Boiei de costas e avistei um céu azul sem nuvens, emoldurado por folhas iluminadas pelo sol, que pareciam luminosas. A luz se refletia na superfície ondulante da água, lançando linhas ondulantes em uma árvore que se arqueava sobre a piscina.

Manuel interrompeu meu devaneio com um grito: “Vamos! Tem mais cenotes para ver”. Com relutância, nadei até as escadas.

Quando saí para o calor, o frescor da água permaneceu na cabeça e nas costas e, pela primeira vez na vida, entendi o termo “formigamento na coluna”. Da nuca, as pontadas se espalharam até um ponto entre as escápulas. A água parecia ter um poder – a força vital de um país inteiro. Esse formigamento continuou enquanto eu seguia com Manuel para ver os outros cenotes.

Se decidir visitar

Os caminhos para os cenotes ou rios geralmente passam por florestas exuberantes e bonitas e, às vezes, são ladeados por flores como orquídeas selvagens Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

O Ministério do Turismo da República Dominicana lista 18 cenotes e nascentes em seu site, incluindo o Hoyo Claro e o Parque Ecológico Olhos Indígenas. Há algumas maneiras de chegar a eles por conta própria.

  • Contrate um guia: muitos hotéis oferecem passeios de um dia mediante o pagamento de uma taxa. Se seu hotel não oferecer passeios de um dia para esses locais, alguns podem ajudar a organizar um. Você também pode contratar um guia turístico local; o site toursbylocals.com é uma maneira de entrar em contato com um deles. Para falantes de espanhol, o grupo do Facebook “ Viajando a República Dominicana” também parece ser um ótimo recurso para passeios, guias e dicas.
  • Alugue um carro: grandes agências de aluguel de carros, como Enterprise, Budget e Hertz, operam na República Dominicana. Os preços variam de acordo com o veículo e a disponibilidade; é obrigatório contratar o seguro de responsabilidade civil local. O Ministério do Turismo recomenda que você se certifique de que o seguro adquirido por meio da agência de aluguel de carros também inclua o seguro “casa del conductor”, que pode ajudar a mantê-lo fora da cadeia em caso de acidente. (Se houver um acidente grave, a polícia levará os envolvidos para a cadeia enquanto o caso é resolvido; esse tipo de seguro permite que você fique em um hotel.) Embora os acidentes de carro na República Dominicana sejam bastante comuns, dirigir é razoavelmente seguro para os turistas. Apenas se certifique de dirigir de forma defensiva e de prestar atenção também às motos.
  • Transporte público: a República Dominicana tem um bom sistema de transporte público; é possível ir de ônibus até a cidade principal mais próxima para visitar qualquer um dos cenotes ou rios. No entanto, como três dos quatro destinos são bastante remotos, você vai precisar contratar um motorista local para ir da cidade até a piscina natural. O Olhos Indígenas é a exceção, pois esse parque está situado dentro do Puntacana Resort and Club. É fácil conseguir um táxi local ou um Uber para chegar até lá.

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - A lagoa cercada de árvores brilhava com uma cor que normalmente só se vê em enxaguantes bucais e, sob a superfície de sua água cristalina, os galhos caídos pareciam mãos abertas prontas para um abraço. As pedras no fundo pareciam estar a poucos metros de profundidade, ou, quem sabe, incrivelmente profundas – a claridade da água tornava impossível saber.

Hoyo Claro, piscina natural conhecida na República Dominicana como cenote, fica a apenas alguns quilômetros dos luxuosos resorts de praia “all-inclusive” de Punta Cana, mas parece um universo diferente.

Se as praias de areia branca do Caribe são a cara da República Dominicana, seus riachos, rios e cenotes são suas veias, artérias e coração. A capital, Santo Domingo, é margeada por três rios, o Haina, o Isabela e o Ozama, em cujas margens os conquistadores espanhóis construíram seu forte, o primeiro das Américas, em 1496.

O país, que compartilha com o Haiti o território da ilha de São Domingos (também conhecida como Hispaniola), a oeste, está repleto de cursos d’água e salpicado por irresistíveis cenotes de cor azul neon.

As águas frias e cor de jade de uma piscina no Rio Caño Frío, perto da Praia de Rincón, na Península de Samaná Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Amigos dominicanos não gostaram muito do meu plano de alugar um carro e visitar os rios e cenotes sozinha no verão passado. O país tem a reputação de ser um pouco bruto, ideia reforçada por um aviso do Departamento de Estado dos EUA, que adverte os cidadãos americanos a ter especial cautela ao viajar à República Dominicana. E, com 65 de cada cem mil dominicanos morrendo em acidentes de trânsito todo ano, o país também tem a mais alta taxa de mortalidade no trânsito das Américas, de acordo com dados do Banco Mundial.

Em vez disso, juntei-me a dois desses amigos, Hogla Enecia Pérez e Manuel Herrera, em uma jornada por algumas estradas de terra acidentadas, onde é melhor caminhar do que dirigir. Hogla alugou um carro para visitarmos um rio. E, com o utilitário esportivo, de um primo, com tração nas quatro rodas, Manuel levou a mim e, em um dos dias, sua família a outras piscinas naturais.

Na República Dominicana, as pequenas lagoas rurais, como a Hoyo Claro, são identificadas apenas por uma pequena placa de plástico, pouco visível da estrada, por isso encontrá-las é uma ótima maneira de conhecer o calor e a hospitalidade dominicanos: você certamente vai ter de parar e pedir informações a um morador local.

Quando encontrar uma dessas piscinas e mergulhar na água fresca e clara, vai sentir as batidas do coração da própria República Dominicana, assim como eu.

Magia nos manguezais

O Rio Caño Frío, cercado por manguezais e florestas exuberantes, atrai os banhistas com três piscinas, apelidadas de Amor, Filhos e Divórcio Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Para me proteger do sol do meio-dia, fiquei sob a sombra de uma árvore de mangue nas águas cor de jade do Rio Caño Frío, um curso de água fresca na Península de Samaná, no litoral norte. A água me chegava ao peito e eu ainda conseguia ver os dedos dos pés, com os quais brincava na areia. Minha vontade era de me enraizar ali para sempre, mas Hogla me chamou e saí da água.

Um morador local descalço nos conduziu a uma floresta exuberante, onde seguimos uma trilha ladeada de orquídeas selvagens por alguns minutos antes de chegar a um trio de piscinas, locais onde moitas de árvores, troncos caídos e outras barreiras naturais haviam isolado o rio em partes menores: a primeira apelidada de Amor; a segunda, de Filhos; e a última, de Divórcio.

Segundo nosso guia, as piscinas têm propriedades místicas. Se quiser encontrar o amor verdadeiro, pule na piscina do Amor. Mais filhos? Mergulhe na segunda piscina. E se estiver precisando de um divórcio... – ele abriu um sorriso.

A piscina Amor no Rio Caño Frío, perto da praia de Rincón, na Península de Samaná Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Para entrar na piscina do amor – círculo verde-esmeralda com brotos cinzentos e desgrenhados das árvores de mangue –, primeiro tivemos de nos equilibrar precariamente sobre um emaranhado de raízes e galhos. Nós dois hesitamos. Quando olhei para baixo, era impossível dizer qual era a profundidade da água ou se o leito do rio era macio. Havia pedras? Finalmente, mergulhamos. A água estava fria e relativamente rasa e, felizmente, o fundo era arenoso.

A piscina Filhos foi mais fácil de entrar. Um banco de areia branca descia gradualmente até uma lagoa rasa tingida de um verde claro e nítido que me lembrava vidro romano. Sem a sombra da primeira piscina, o sol me esquentou a cabeça, embora, ao mergulhar, eu sentisse arrepios.

Hogla e eu nos aquecemos no tronco de uma árvore caída que dividia a lagoa em duas, e tive aquela deliciosa sensação de tirar o suéter no primeiro dia quente da primavera.

O verde-água brilhante da piscina Divórcio era o mais claro e, com sombra e sol, essa era a mais convidativa das três, mas a superstição nos impediu de nadar. Embora Hogla e eu já fôssemos divorciadas, não queríamos nos sujeitar a passar novamente por essa provação.

Em vez disso, fomos à vizinha Praia Rincón, onde uma fileira de barracas minúsculas e coloridas oferecia uma variedade de pratos locais preparados em fogões de barro. Comemos lagosta e polvo frescos servidos com dois pratos de tostones caseiros e um monte de arroz com guandu (um tipo de feijão) preparado à moda de Samaná, com leite de coco; tudo isso nos custou 1.500 pesos (cerca de US$ 26). Tomamos água de coco fresca direto do coco, batizada com rum local (300 pesos).

Traga seu cooler e relaxe

O Río San Juan deságua no oceano na extremidade oeste de Valley Beach, proporcionando às famílias, que às vezes trazem coolers com bebidas e lanches, uma pausa do calor do meio-dia Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Não muito longe dali, na Península de Samaná, aninhada entre duas montanhas verdejantes, a areia dourada da Praia do Vale oferecia um local para passar as horas observando o balé do sol sobre o palco cerúleo do Oceano Atlântico. Na extremidade oeste da praia, o pequeno e imaculado Rio San Juan – que não deve ser confundido com o município de mesmo nome, distante várias horas de carro a noroeste – atraía os habitantes locais para relaxar em suas águas, com coolers cheios de bebidas e lanches.

Margeada por um impressionante paredão de rocha que dá lugar a uma suave fileira de árvores, a água proporcionava um refúgio fresco e calmo depois de ser agitada pela intensa rebentação da costa do Atlântico. O rio estreito e raso, sombreado por árvores salientes, curvava-se graciosamente para dentro de um bosque verde-esmeralda.

Segui Manuel, sua esposa e seus dois filhos até a água e fiquei surpresa ao descobrir que eles conheciam a outra família que estava ali, apesar de estarmos a certa distância de Santo Domingo. O grupo conversou, colocando as fofocas em dia, enquanto as crianças corriam entre o rio e o mar.

Se não quiser levar um cooler, você pode comprar comida na praia, embora seja um pouco mais cara do que em Rincón. Pergunte a um dos vendedores ambulantes sobre o almoço e vai receber um peixe inteiro, retirado do oceano, frito no pequeno restaurante na estrada e servido com arroz e guandu por cerca de dois mil pesos.

Visitantes de Río San Juan podem almoçar peixe frito, retirado do oceano, próximo à Valley Beach Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Águas claras enganam a vista

Borboletas voejavam ao nosso redor e cabras mantinham a guarda ao longo da estrada de terra de 800 metros que levava às profundezas da floresta até Hoyo Claro, cenote próximo ao resort praiano de Punta Cana. Em uma manhã de domingo, o local estava vazio, exceto por uma família, e o ar estava calmo.

A piscina natural é cercada por rochas escuras, folhas caídas e árvores altas e finas com raízes que parecem crescer diretamente da água, como dedos agarrados ao fundo. Seus troncos marrons com manchas cinzentas contrastam fortemente com o ciano fluorescente da água.

Embora houvesse escadas, entrei na água fria a partir de um banco de areia e, depois de mergulhar, peixinhos nadaram ao meu redor. Afundei a cabeça e, de repente, a água não parecia tão fria assim.

Tentei nadar até o fundo para chegar à camada rochosa, mas a água clara pode enganar os olhos: as pedras estavam muito mais longe do que pareciam, e eu não conseguia alcançá-las. A água também distorceu a distância até um dos troncos de árvore caídos: superestimei a distância da superfície e acabei com um hematoma na panturrilha. Esses mesmos troncos de árvores também podem servir como bancos quando você estiver cansado de nadar ou flutuar – ou se estiver com a perna machucada.

O grande salto

A Reserva Ecológica Olhos Indígenas, perto de Punta Cana, tem 13 lagoas e em quatro delas você pode nadar. Duas têm plataformas para pular Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

A panturrilha ainda estava dolorida quando me posicionei na plataforma acima de um cenote na Reserva Ecológica Olhos Indígenas. Pensei em pular na água azul-turquesa três metros abaixo, o azul pontuado pelas enormes pedras cor de âmbar que recobrem o chão da lagoa. Será que a água era profunda o suficiente? Será que eu poderia quebrar uma perna – ou coisa pior – nas rochas abaixo? Um turista espanhol se jogou na água e acenou para mim. Ele estava bem. Ainda assim, hesitei.

Abastecida pelo Rio Yauya, a reserva tem 13 lagoas, quatro das quais se prestam à natação, e duas têm plataformas para saltos. A primeira, a Laguna Inriri, estava silenciosa e quase vazia, exceto por uma mulher grávida boiando tranquilamente, seu corpo projetando uma sombra em forma de cruz nas rochas lisas do fundo. Galhos com folhas cor de esmeralda se debruçavam sobre a piscina, fazendo sombra nas bordas. Uma trilha bem cuidada levava à segunda, onde me deparei com o turista espanhol que me incentivou a entrar.

Incapaz de resistir por mais tempo, saltei. As solas dos pés foram as primeiras partes a atingir a água fria e, em seguida, fui completamente engolida. Com os pulmões em estado de choque com a imersão repentina, subi de volta à superfície e arfei em busca de ar. O calor e a umidade tropicais me encheram a boca e, à medida que o corpo se ajustava, uma sensação de paz absoluta tomou conta de mim. Olhei para as rochas abaixo e as imaginei como fissuras na terra.

Grupo pula em uma das piscinas da reserva Olhos Indígenas, que fica no terreno do Puntacana Resort and Club Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

Eu estava perto de algo essencial – as origens do mundo ou, talvez, de mim mesma. Boiei de costas e avistei um céu azul sem nuvens, emoldurado por folhas iluminadas pelo sol, que pareciam luminosas. A luz se refletia na superfície ondulante da água, lançando linhas ondulantes em uma árvore que se arqueava sobre a piscina.

Manuel interrompeu meu devaneio com um grito: “Vamos! Tem mais cenotes para ver”. Com relutância, nadei até as escadas.

Quando saí para o calor, o frescor da água permaneceu na cabeça e nas costas e, pela primeira vez na vida, entendi o termo “formigamento na coluna”. Da nuca, as pontadas se espalharam até um ponto entre as escápulas. A água parecia ter um poder – a força vital de um país inteiro. Esse formigamento continuou enquanto eu seguia com Manuel para ver os outros cenotes.

Se decidir visitar

Os caminhos para os cenotes ou rios geralmente passam por florestas exuberantes e bonitas e, às vezes, são ladeados por flores como orquídeas selvagens Foto: Ricardo Piantini/The New York Times

O Ministério do Turismo da República Dominicana lista 18 cenotes e nascentes em seu site, incluindo o Hoyo Claro e o Parque Ecológico Olhos Indígenas. Há algumas maneiras de chegar a eles por conta própria.

  • Contrate um guia: muitos hotéis oferecem passeios de um dia mediante o pagamento de uma taxa. Se seu hotel não oferecer passeios de um dia para esses locais, alguns podem ajudar a organizar um. Você também pode contratar um guia turístico local; o site toursbylocals.com é uma maneira de entrar em contato com um deles. Para falantes de espanhol, o grupo do Facebook “ Viajando a República Dominicana” também parece ser um ótimo recurso para passeios, guias e dicas.
  • Alugue um carro: grandes agências de aluguel de carros, como Enterprise, Budget e Hertz, operam na República Dominicana. Os preços variam de acordo com o veículo e a disponibilidade; é obrigatório contratar o seguro de responsabilidade civil local. O Ministério do Turismo recomenda que você se certifique de que o seguro adquirido por meio da agência de aluguel de carros também inclua o seguro “casa del conductor”, que pode ajudar a mantê-lo fora da cadeia em caso de acidente. (Se houver um acidente grave, a polícia levará os envolvidos para a cadeia enquanto o caso é resolvido; esse tipo de seguro permite que você fique em um hotel.) Embora os acidentes de carro na República Dominicana sejam bastante comuns, dirigir é razoavelmente seguro para os turistas. Apenas se certifique de dirigir de forma defensiva e de prestar atenção também às motos.
  • Transporte público: a República Dominicana tem um bom sistema de transporte público; é possível ir de ônibus até a cidade principal mais próxima para visitar qualquer um dos cenotes ou rios. No entanto, como três dos quatro destinos são bastante remotos, você vai precisar contratar um motorista local para ir da cidade até a piscina natural. O Olhos Indígenas é a exceção, pois esse parque está situado dentro do Puntacana Resort and Club. É fácil conseguir um táxi local ou um Uber para chegar até lá.

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