O pianista britânico Paul Lewis fez fama interpretando principalmente a música do fim do século XVIII e do início do século XIX. Sua sensibilidade para interpretar o ciclo de sonatas de Beethoven, que lançou pelo selo Harmonia Mundi no fim dos anos 2000, chamou a atenção. Em seguida, veio sua interpretação de Schubert, que continua sendo uma ótima recomendação.
Schubert ainda é o grande interesse de Lewis, que está prestes a retornar ao estúdio para completar suas gravações, antes de fazer uma turnê com a série completa das sonatas. O pianista também tem se dedicado à música anterior, explorando Haydn em dois volumes que tratam o compositor com grandeza quase sinfônica.
Mas seu disco mais recente nos remete ao fim do século XIX – aliás, a uma música que, com sua brevidade aforística e seu cromatismo experimental, antecipa as inovações do século XX: os quatro grupos de peças curtas, Op. 116-119, que Brahms escreveu entre 1892 e 1893, pouco antes de sua morte em 1897.
Com sua tristeza desesperada, essas obras destilam a ambiguidade típica de Brahms nas formas mais concentradas. Também têm uma franqueza emocional implacável – embora Brahms a revele com sua ambivalência característica e desconfortável.
Convidado para escolher sua página favorita entre as partituras, Lewis, de 49 anos, optou por um trecho da sexta peça no Op. 118, um intermezzo em mi bemol menor que as notas do livreto da gravação descrevem como sendo impregnado de uma "obscuridade absoluta". A seguir, trechos editados da entrevista.
Você convive com essas músicas há muito tempo ou elas são uma descoberta mais recente?
Eu as conheço desde a adolescência, mas não aprendi a tocá-las na época. Na verdade, tive um pequeno problema com Brahms. Conversei com muitos músicos que passaram pelo mesmo, e vi que isso não é tão incomum.
Não toquei muito Brahms até chegar aos 40 anos, quando de repente pensei: "Quer saber? Quero realmente tocar o concerto em ré menor." Eu tinha aprendido alguns trechos no passado, mas nunca progredi muito com isso. Então achei que deveria fazer isso – e adorei. Na verdade, é a melhor experiência de concerto que você pode ter.
Eu nunca havia tocado as obras tardias até que decidi fazer uma série de concertos com Haydn, Beethoven e Brahms há alguns anos. Portanto, não são músicas que toquei muito. Trabalhei nelas ao longo dos anos, mas não queria fazer isso até que o momento certo chegasse: assim, nos meus 40 anos, achei que era a hora.
Eu me perguntei qual era meu problema com Brahms. Parece terrível, mas são obras como a quarta peça do Op. 118, em que temos um cânone muito estrito até o fim. Tudo que você ouve na superfície, você ouve no fundo ou no meio. Ele não deixa cair uma nota; é perfeito. Com peças como essa, a dedicação ao ofício é tão extrema que eu costumava me perguntar se ele havia se esquecido de escrever música ao mesmo tempo.
Olho para isso agora e penso: você tem a primeira seção, que é meio subterrânea, um pouco vaga, e então a seção do meio, que é muito quieta e realmente não vai em nenhuma direção específica, e depois uma última seção em que a coisa fica muito louca. Com o passar do tempo, foi isso que achei interessante em Brahms. É uma música incrivelmente apaixonada, que parece ir contra as restrições da perfeição de seu ofício. É isso que torna Brahms especial.
O que você estava tentando transmitir nessa música?
O aspecto mais significativo das obras tardias é sua capacidade de introspecção. Claro, de vez em quando são muito dolorosas, mas o verdadeiro poder está em sua natureza introspectiva. É um pouco como Schubert nesse aspecto. O que fica com você acima de tudo é o que Brahms sussurra, e não o que ele grita.
Você antecipou minha próxima pergunta – se você vê conexões entre as obras tardias de Schubert e Brahms? Ambos estavam, em certa medida, escrevendo à sombra da morte, mesmo que suas últimas peças não fossem exatamente uma despedida, e a música deles tem uma tristeza perceptível, cada uma à sua maneira.
Com Schubert, é mais um sentimento de nostalgia, um anseio por algo que não se pode ter mais – uma tristeza que pode ou não ter sido sua saúde ou sua vida. Já com Brahms, com sua música tardia, é mais um sentimento de resignação. Ele descreveu o Op. 117 para Clara Schumann como canções de ninar para suas tristezas. Parece um pouco como olhar para o umbigo, mas não acho que seja; a música não passa essa impressão. Com certeza, não é autoindulgente, ou mesmo sentimental; é só profundamente triste. Essa resignação é o que podemos notar em Op. 118, nº 6.
Essa é a peça sobre a qual você escolheu falar, construída em torno de um motivo que muitas vezes é considerado uma citação de 'Dies Irae', a música do Dia do Julgamento. Isso foi deliberado?
Nunca vamos saber; ele não nos deixou nenhuma pista particular além do próprio tema. Mas certamente há algo que dá essa impressão no caráter da peça. É uma angústia abjeta – a angústia perceptível no trecho central é viva, visceral. Ela atinge os ouvidos e é impossível ignorá-la, mas para mim o verdadeiro poder é quando ele escreve muito menos notas, como faz na abertura e no encerramento.
O que Brahms estabelece na primeira parte é extremamente desesperador. A seção do meio convoca um pouco de coragem interior; há um senso de dignidade nisso. Mas os caminhos aos quais isso leva são exclusivos das obras tardias. Não há nada tão angustiante quanto essa peça.
Você escolheu um momento em particular, marcado como "subito fortissimo", quando a desafiadora parte do meio desmorona.
O que acontece antes desse momento é uma tomada de coragem, mas, assim que chega a esse ritmo, é como se você começasse a expirar. De repente, há uma sensação de perda de energia; não dá para gritar mais. Este turbilhão de angústia toma conta de tudo. É assustador e muito sombrio.
Você tem um estilo próprio, conscientemente contido, mas a tentação aqui deve ser arrancar o máximo possível da música. Muitos ouvintes associam essa música à famosa gravação de Radu Lupu, com sua profunda expressividade. Você admira esse tipo de interpretação?
Sim, amo o Brahms de Lupu. Também ouço o Brahms de Julius Katchen. Há tantas maneiras de interpretar isso. Para mim, o interessante desse tipo de música introspectiva é que não vale a pena impor a própria experiência diretamente à obra. Você leva sua experiência a todos os lugares, é claro, mas a música é mais poderosa quando você permite que ela fale por si.
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