Pela primeira vez, árvores geneticamente modificadas foram plantadas em uma floresta nos EUA


A Living Carbon, empresa de biotecnologia, espera que suas mudas possam ajudar a gerenciar as mudanças climáticas, mas pode ser que o uso mais amplo de suas árvores seja difícil

Por Gabriel Popkin

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Em janeiro, em uma área de baixa altitude do cinturão de pinheiros do sul da Geórgia, meia dúzia de trabalhadores plantou fileiras e mais fileiras de choupos semelhantes a galhos.

No entanto, não eram quaisquer árvores: algumas das mudas aninhadas no solo encharcado foram geneticamente modificadas para produzir madeira em níveis turbinados e sugar dióxido de carbono do ar.

A empresa informou em um artigo que ainda não foi revisado por pares que seus choupos modificados cresceram mais de 50% mais rápido do que os não modificados em cinco meses na estufa. Foto: Audra Melton/The New York Times
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Os choupos podem ser as primeiras árvores geneticamente modificadas plantadas nos Estados Unidos fora de uma pesquisa científica ou de um pomar comercial. Assim como a introdução do tomate Flavr Savr em 1994 iniciou uma nova indústria de culturas alimentares geneticamente modificadas, os plantadores de árvores esperam transformar a silvicultura.

A Living Carbon, uma empresa de biotecnologia sediada em San Francisco que produzia choupos, pretende que suas árvores sejam uma solução em larga escala para a mudança climática.

“Algumas pessoas nos disseram que é impossível”, disse Maddie Hall, cofundadora e CEO da empresa, sobre seu sonho de implantar a engenharia genética em nome do clima. Mas ela e seus colegas também encontraram quem acreditasse - o suficiente para investir US$ 36 milhões na empresa de 4 anos.

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Os pesquisadores da empresa usaram uma técnica rudimentar conhecida como método da arma genética, que basicamente injeta genes estranhos nos cromossomos das árvores. Foto: Audra Melton/The New York Times

A empresa também atraiu críticas. O Global Justice Ecology Project, um grupo ambientalista, chamou as árvores da empresa de “ameaças crescentes” às florestas e expressou preocupação com o fato de o governo federal permitir que elas burlassem a regulamentação, abrindo as portas para plantações comerciais muito mais cedo do que o normal para plantas modificadas.

A Living Carbon ainda não publicou artigos revisados por pares; seus únicos resultados divulgados publicamente vêm de um teste em estufa que durou apenas alguns meses. Esses dados deixaram alguns especialistas intrigados, mas não resultaram em um endosso total.

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“Eles têm alguns resultados encorajadores”, disse Donald Ort, geneticista da Universidade de Illinois cujos experimentos com plantas ajudaram a inspirar a tecnologia da Living Carbon. Mas ele acrescentou que a noção de que os resultados da estufa se traduzirão em sucesso no mundo real “não é algo certeiro”.

Uma equipe de plantio manual carrega caixas em um caminhão no sul da Geórgia. Até o momento, o único país onde um grande número de árvores geneticamente modificadas foi plantado é a China. Foto: Audra Melton/The New York Times

Os choupos da Living Carbon começam suas vidas em um laboratório em Hayward, Califórnia. Lá, os biólogos mexem na forma com que as árvores conduzem a fotossíntese, a série de reações químicas que as plantas usam para transformar a luz solar, a água e o dióxido de carbono em açúcares e amidos. Ao fazer isso, eles seguem um precedente estabelecido pela evolução: várias vezes no decorrer da longa história da Terra, melhorias na fotossíntese permitiram que as plantas ingerissem dióxido de carbono suficiente para resfriar substancialmente o planeta.

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Embora a fotossíntese tenha impactos profundos na Terra, ela está longe de ser perfeita como processo químico. Numerosas ineficiências impedem que as plantas capturem e armazenem mais do que uma pequena fração da energia solar que chega em suas folhas. Essas ineficiências, entre outros fatores, limitam a rapidez com que as árvores e outras plantas crescem e a quantidade de dióxido de carbono que absorvem.

Os cientistas passaram décadas tentando assumir o controle de onde a evolução parou. Em 2019, Ort e seus colegas anunciaram que haviam modificado geneticamente plantas de tabaco para fazer a fotossíntese com mais eficiência. Normalmente, a fotossíntese produz um subproduto tóxico que a planta deve descartar, desperdiçando energia. Os pesquisadores de Illinois adicionaram genes de abóboras e algas verdes para induzir as mudas de tabaco a reciclar as toxinas em mais açúcares, produzindo plantas que cresceram quase 40% mais.

Os choupos da Living Carbon começam suas vidas em um laboratório, onde os biólogos consertam como eles conduzem a fotossíntese. Foto: Audra Melton/The New York Times
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Naquele mesmo ano, Hall, que trabalhava para empreendimentos do Vale do Silício como a OpenAI (responsável pelo modelo de linguagem ChatGPT), conheceu seu futuro cofundador, Patrick Mellor, em uma conferência de tecnologia climática. Mellor estava pesquisando se as árvores poderiam ser modificadas para produzir madeira resistente ao apodrecimento.

Com dinheiro arrecadado de empresas de capital de risco e contatos de Hall no mundo da tecnologia, incluindo o CEO da OpenAI, Sam Altman, ela e Mellor começaram a Living Carbon em uma tentativa de utilizar as árvores para combater as mudanças climáticas. “Havia tão poucas empresas que estavam olhando para a remoção de carbono em larga escala de uma forma que combinasse ciência de ponta e implantação comercial em larga escala”, disse Hall.

Em um campo acostumado ao progresso lento e à regulamentação pesada, a Living Carbon moveu-se com rapidez e liberdade. Os choupos modificados geneticamente evitaram um conjunto de regulamentações federais para organismos geneticamente modificados que podem paralisar projetos de biotecnologia por anos. (Desde então, esses regulamentos foram revisados.) Por outro lado, uma equipe de cientistas que projetou geneticamente uma castanheira resistente à ferrugem usando o mesmo método de bactéria empregado anteriormente pela Living Carbon aguarda uma decisão desde 2020. Uma maçã modificada cultivada em pequena escala no estado de Washington levou vários anos para ser aprovada.

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“Você poderia dizer que a regra antiga tinha problemas”, disse Bill Doley, um consultor que ajudou a gerenciar o processo de regulamentação de organismos geneticamente modificados do Departamento de Agricultura até 2022.

Chellyne Stotts, da Living Carbon, mede uma muda. A empresa começou a comercializar créditos com base no carbono que suas árvores absorverão. Foto: Audra Melton/The New York Times

Na segunda-feira, nas terras de Vince Stanley, um agricultor de sétima geração que administra mais de 25.000 acres de floresta no cinturão de pinheiros da Geórgia, trabalhadores com enxadas carregando mochilas com mudas plantaram quase 5.000 choupos modificados. Os choupos modificados tinham nomes como Kookaburra e Babuíno, que indicavam de qual árvore “original” eles haviam sido clonados e foram intercalados com um número aproximadamente igual de árvores não modificadas. No final do dia excepcionalmente quente, os trabalhadores estavam encharcados de suor e os canteiros estavam pontilhados com mudas finas como lápis e bandeiras coloridas saindo da lama.

Em contraste com os pinheiros de crescimento rápido, as madeiras de lei que crescem em terras baixas como essas produzem madeira tão lentamente que um proprietário de terras pode obter apenas uma colheita na vida, disse Stanley. Ele espera que as “mudas de elite” da Living Carbon lhe permitam cultivar árvores de terras baixas e ganhar dinheiro mais rapidamente. “Estamos pegando uma rotação de madeira de 50 a 60 anos e cortando isso pela metade”, ele disse. “É totalmente um ganha-ganha.”

Os geneticistas florestais foram menos otimistas sobre as árvores da Living Carbon. Os pesquisadores normalmente avaliam as árvores em testes de campo confinados antes de passarem para plantações em larga escala, disse Andrew Newhouse, que dirige o projeto de castanha modificada na SUNY College of Environmental Science and Forestry. “Suas afirmações parecem ousadas com base em dados muito limitados do mundo real”, ele disse.

Patrick Mellor, co-fundador da Living Carbon, abriu a empresa com Maddie Hall em uma tentativa de usar árvores para combater as mudanças climáticas. Foto: Audra Melton/The New York Times

Steve Strauss, geneticista da Oregon State University, concorda com a necessidade de ver dados de campo. “Minha experiência ao longo dos anos é que a estufa não significa quase nada” sobre as perspectivas ao ar livre de árvores cuja fisiologia foi modificada, ele disse “Os capitalistas de risco podem não saber disso.”

O Serviço Florestal dos EUA, que planta um grande número de árvores todos os anos, disse pouco sobre se usaria árvores modificadas. Para serem consideradas para plantio em florestas nacionais, que representam quase um quinto das áreas florestais dos EUA, as árvores da Living Carbon precisariam se alinhar com os planos de manejo existentes que normalmente priorizam a saúde e a diversidade das florestas em vez de reduzir a quantidade de carbono atmosférico, disse Dana Nelson, uma geneticista do serviço. “Acho difícil imaginar que se encaixaria bem em uma floresta nacional”, disse Nelson.

A Living Carbon está se concentrando por enquanto em terras privadas, onde enfrentará menos obstáculos. No final desta primavera, ela plantará choupos em minas de carvão abandonadas na Pensilvânia. No ano que vem, Hall e Mellor esperam plantar milhões de árvores no solo. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Em janeiro, em uma área de baixa altitude do cinturão de pinheiros do sul da Geórgia, meia dúzia de trabalhadores plantou fileiras e mais fileiras de choupos semelhantes a galhos.

No entanto, não eram quaisquer árvores: algumas das mudas aninhadas no solo encharcado foram geneticamente modificadas para produzir madeira em níveis turbinados e sugar dióxido de carbono do ar.

A empresa informou em um artigo que ainda não foi revisado por pares que seus choupos modificados cresceram mais de 50% mais rápido do que os não modificados em cinco meses na estufa. Foto: Audra Melton/The New York Times

Os choupos podem ser as primeiras árvores geneticamente modificadas plantadas nos Estados Unidos fora de uma pesquisa científica ou de um pomar comercial. Assim como a introdução do tomate Flavr Savr em 1994 iniciou uma nova indústria de culturas alimentares geneticamente modificadas, os plantadores de árvores esperam transformar a silvicultura.

A Living Carbon, uma empresa de biotecnologia sediada em San Francisco que produzia choupos, pretende que suas árvores sejam uma solução em larga escala para a mudança climática.

“Algumas pessoas nos disseram que é impossível”, disse Maddie Hall, cofundadora e CEO da empresa, sobre seu sonho de implantar a engenharia genética em nome do clima. Mas ela e seus colegas também encontraram quem acreditasse - o suficiente para investir US$ 36 milhões na empresa de 4 anos.

Os pesquisadores da empresa usaram uma técnica rudimentar conhecida como método da arma genética, que basicamente injeta genes estranhos nos cromossomos das árvores. Foto: Audra Melton/The New York Times

A empresa também atraiu críticas. O Global Justice Ecology Project, um grupo ambientalista, chamou as árvores da empresa de “ameaças crescentes” às florestas e expressou preocupação com o fato de o governo federal permitir que elas burlassem a regulamentação, abrindo as portas para plantações comerciais muito mais cedo do que o normal para plantas modificadas.

A Living Carbon ainda não publicou artigos revisados por pares; seus únicos resultados divulgados publicamente vêm de um teste em estufa que durou apenas alguns meses. Esses dados deixaram alguns especialistas intrigados, mas não resultaram em um endosso total.

“Eles têm alguns resultados encorajadores”, disse Donald Ort, geneticista da Universidade de Illinois cujos experimentos com plantas ajudaram a inspirar a tecnologia da Living Carbon. Mas ele acrescentou que a noção de que os resultados da estufa se traduzirão em sucesso no mundo real “não é algo certeiro”.

Uma equipe de plantio manual carrega caixas em um caminhão no sul da Geórgia. Até o momento, o único país onde um grande número de árvores geneticamente modificadas foi plantado é a China. Foto: Audra Melton/The New York Times

Os choupos da Living Carbon começam suas vidas em um laboratório em Hayward, Califórnia. Lá, os biólogos mexem na forma com que as árvores conduzem a fotossíntese, a série de reações químicas que as plantas usam para transformar a luz solar, a água e o dióxido de carbono em açúcares e amidos. Ao fazer isso, eles seguem um precedente estabelecido pela evolução: várias vezes no decorrer da longa história da Terra, melhorias na fotossíntese permitiram que as plantas ingerissem dióxido de carbono suficiente para resfriar substancialmente o planeta.

Embora a fotossíntese tenha impactos profundos na Terra, ela está longe de ser perfeita como processo químico. Numerosas ineficiências impedem que as plantas capturem e armazenem mais do que uma pequena fração da energia solar que chega em suas folhas. Essas ineficiências, entre outros fatores, limitam a rapidez com que as árvores e outras plantas crescem e a quantidade de dióxido de carbono que absorvem.

Os cientistas passaram décadas tentando assumir o controle de onde a evolução parou. Em 2019, Ort e seus colegas anunciaram que haviam modificado geneticamente plantas de tabaco para fazer a fotossíntese com mais eficiência. Normalmente, a fotossíntese produz um subproduto tóxico que a planta deve descartar, desperdiçando energia. Os pesquisadores de Illinois adicionaram genes de abóboras e algas verdes para induzir as mudas de tabaco a reciclar as toxinas em mais açúcares, produzindo plantas que cresceram quase 40% mais.

Os choupos da Living Carbon começam suas vidas em um laboratório, onde os biólogos consertam como eles conduzem a fotossíntese. Foto: Audra Melton/The New York Times

Naquele mesmo ano, Hall, que trabalhava para empreendimentos do Vale do Silício como a OpenAI (responsável pelo modelo de linguagem ChatGPT), conheceu seu futuro cofundador, Patrick Mellor, em uma conferência de tecnologia climática. Mellor estava pesquisando se as árvores poderiam ser modificadas para produzir madeira resistente ao apodrecimento.

Com dinheiro arrecadado de empresas de capital de risco e contatos de Hall no mundo da tecnologia, incluindo o CEO da OpenAI, Sam Altman, ela e Mellor começaram a Living Carbon em uma tentativa de utilizar as árvores para combater as mudanças climáticas. “Havia tão poucas empresas que estavam olhando para a remoção de carbono em larga escala de uma forma que combinasse ciência de ponta e implantação comercial em larga escala”, disse Hall.

Em um campo acostumado ao progresso lento e à regulamentação pesada, a Living Carbon moveu-se com rapidez e liberdade. Os choupos modificados geneticamente evitaram um conjunto de regulamentações federais para organismos geneticamente modificados que podem paralisar projetos de biotecnologia por anos. (Desde então, esses regulamentos foram revisados.) Por outro lado, uma equipe de cientistas que projetou geneticamente uma castanheira resistente à ferrugem usando o mesmo método de bactéria empregado anteriormente pela Living Carbon aguarda uma decisão desde 2020. Uma maçã modificada cultivada em pequena escala no estado de Washington levou vários anos para ser aprovada.

“Você poderia dizer que a regra antiga tinha problemas”, disse Bill Doley, um consultor que ajudou a gerenciar o processo de regulamentação de organismos geneticamente modificados do Departamento de Agricultura até 2022.

Chellyne Stotts, da Living Carbon, mede uma muda. A empresa começou a comercializar créditos com base no carbono que suas árvores absorverão. Foto: Audra Melton/The New York Times

Na segunda-feira, nas terras de Vince Stanley, um agricultor de sétima geração que administra mais de 25.000 acres de floresta no cinturão de pinheiros da Geórgia, trabalhadores com enxadas carregando mochilas com mudas plantaram quase 5.000 choupos modificados. Os choupos modificados tinham nomes como Kookaburra e Babuíno, que indicavam de qual árvore “original” eles haviam sido clonados e foram intercalados com um número aproximadamente igual de árvores não modificadas. No final do dia excepcionalmente quente, os trabalhadores estavam encharcados de suor e os canteiros estavam pontilhados com mudas finas como lápis e bandeiras coloridas saindo da lama.

Em contraste com os pinheiros de crescimento rápido, as madeiras de lei que crescem em terras baixas como essas produzem madeira tão lentamente que um proprietário de terras pode obter apenas uma colheita na vida, disse Stanley. Ele espera que as “mudas de elite” da Living Carbon lhe permitam cultivar árvores de terras baixas e ganhar dinheiro mais rapidamente. “Estamos pegando uma rotação de madeira de 50 a 60 anos e cortando isso pela metade”, ele disse. “É totalmente um ganha-ganha.”

Os geneticistas florestais foram menos otimistas sobre as árvores da Living Carbon. Os pesquisadores normalmente avaliam as árvores em testes de campo confinados antes de passarem para plantações em larga escala, disse Andrew Newhouse, que dirige o projeto de castanha modificada na SUNY College of Environmental Science and Forestry. “Suas afirmações parecem ousadas com base em dados muito limitados do mundo real”, ele disse.

Patrick Mellor, co-fundador da Living Carbon, abriu a empresa com Maddie Hall em uma tentativa de usar árvores para combater as mudanças climáticas. Foto: Audra Melton/The New York Times

Steve Strauss, geneticista da Oregon State University, concorda com a necessidade de ver dados de campo. “Minha experiência ao longo dos anos é que a estufa não significa quase nada” sobre as perspectivas ao ar livre de árvores cuja fisiologia foi modificada, ele disse “Os capitalistas de risco podem não saber disso.”

O Serviço Florestal dos EUA, que planta um grande número de árvores todos os anos, disse pouco sobre se usaria árvores modificadas. Para serem consideradas para plantio em florestas nacionais, que representam quase um quinto das áreas florestais dos EUA, as árvores da Living Carbon precisariam se alinhar com os planos de manejo existentes que normalmente priorizam a saúde e a diversidade das florestas em vez de reduzir a quantidade de carbono atmosférico, disse Dana Nelson, uma geneticista do serviço. “Acho difícil imaginar que se encaixaria bem em uma floresta nacional”, disse Nelson.

A Living Carbon está se concentrando por enquanto em terras privadas, onde enfrentará menos obstáculos. No final desta primavera, ela plantará choupos em minas de carvão abandonadas na Pensilvânia. No ano que vem, Hall e Mellor esperam plantar milhões de árvores no solo. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Em janeiro, em uma área de baixa altitude do cinturão de pinheiros do sul da Geórgia, meia dúzia de trabalhadores plantou fileiras e mais fileiras de choupos semelhantes a galhos.

No entanto, não eram quaisquer árvores: algumas das mudas aninhadas no solo encharcado foram geneticamente modificadas para produzir madeira em níveis turbinados e sugar dióxido de carbono do ar.

A empresa informou em um artigo que ainda não foi revisado por pares que seus choupos modificados cresceram mais de 50% mais rápido do que os não modificados em cinco meses na estufa. Foto: Audra Melton/The New York Times

Os choupos podem ser as primeiras árvores geneticamente modificadas plantadas nos Estados Unidos fora de uma pesquisa científica ou de um pomar comercial. Assim como a introdução do tomate Flavr Savr em 1994 iniciou uma nova indústria de culturas alimentares geneticamente modificadas, os plantadores de árvores esperam transformar a silvicultura.

A Living Carbon, uma empresa de biotecnologia sediada em San Francisco que produzia choupos, pretende que suas árvores sejam uma solução em larga escala para a mudança climática.

“Algumas pessoas nos disseram que é impossível”, disse Maddie Hall, cofundadora e CEO da empresa, sobre seu sonho de implantar a engenharia genética em nome do clima. Mas ela e seus colegas também encontraram quem acreditasse - o suficiente para investir US$ 36 milhões na empresa de 4 anos.

Os pesquisadores da empresa usaram uma técnica rudimentar conhecida como método da arma genética, que basicamente injeta genes estranhos nos cromossomos das árvores. Foto: Audra Melton/The New York Times

A empresa também atraiu críticas. O Global Justice Ecology Project, um grupo ambientalista, chamou as árvores da empresa de “ameaças crescentes” às florestas e expressou preocupação com o fato de o governo federal permitir que elas burlassem a regulamentação, abrindo as portas para plantações comerciais muito mais cedo do que o normal para plantas modificadas.

A Living Carbon ainda não publicou artigos revisados por pares; seus únicos resultados divulgados publicamente vêm de um teste em estufa que durou apenas alguns meses. Esses dados deixaram alguns especialistas intrigados, mas não resultaram em um endosso total.

“Eles têm alguns resultados encorajadores”, disse Donald Ort, geneticista da Universidade de Illinois cujos experimentos com plantas ajudaram a inspirar a tecnologia da Living Carbon. Mas ele acrescentou que a noção de que os resultados da estufa se traduzirão em sucesso no mundo real “não é algo certeiro”.

Uma equipe de plantio manual carrega caixas em um caminhão no sul da Geórgia. Até o momento, o único país onde um grande número de árvores geneticamente modificadas foi plantado é a China. Foto: Audra Melton/The New York Times

Os choupos da Living Carbon começam suas vidas em um laboratório em Hayward, Califórnia. Lá, os biólogos mexem na forma com que as árvores conduzem a fotossíntese, a série de reações químicas que as plantas usam para transformar a luz solar, a água e o dióxido de carbono em açúcares e amidos. Ao fazer isso, eles seguem um precedente estabelecido pela evolução: várias vezes no decorrer da longa história da Terra, melhorias na fotossíntese permitiram que as plantas ingerissem dióxido de carbono suficiente para resfriar substancialmente o planeta.

Embora a fotossíntese tenha impactos profundos na Terra, ela está longe de ser perfeita como processo químico. Numerosas ineficiências impedem que as plantas capturem e armazenem mais do que uma pequena fração da energia solar que chega em suas folhas. Essas ineficiências, entre outros fatores, limitam a rapidez com que as árvores e outras plantas crescem e a quantidade de dióxido de carbono que absorvem.

Os cientistas passaram décadas tentando assumir o controle de onde a evolução parou. Em 2019, Ort e seus colegas anunciaram que haviam modificado geneticamente plantas de tabaco para fazer a fotossíntese com mais eficiência. Normalmente, a fotossíntese produz um subproduto tóxico que a planta deve descartar, desperdiçando energia. Os pesquisadores de Illinois adicionaram genes de abóboras e algas verdes para induzir as mudas de tabaco a reciclar as toxinas em mais açúcares, produzindo plantas que cresceram quase 40% mais.

Os choupos da Living Carbon começam suas vidas em um laboratório, onde os biólogos consertam como eles conduzem a fotossíntese. Foto: Audra Melton/The New York Times

Naquele mesmo ano, Hall, que trabalhava para empreendimentos do Vale do Silício como a OpenAI (responsável pelo modelo de linguagem ChatGPT), conheceu seu futuro cofundador, Patrick Mellor, em uma conferência de tecnologia climática. Mellor estava pesquisando se as árvores poderiam ser modificadas para produzir madeira resistente ao apodrecimento.

Com dinheiro arrecadado de empresas de capital de risco e contatos de Hall no mundo da tecnologia, incluindo o CEO da OpenAI, Sam Altman, ela e Mellor começaram a Living Carbon em uma tentativa de utilizar as árvores para combater as mudanças climáticas. “Havia tão poucas empresas que estavam olhando para a remoção de carbono em larga escala de uma forma que combinasse ciência de ponta e implantação comercial em larga escala”, disse Hall.

Em um campo acostumado ao progresso lento e à regulamentação pesada, a Living Carbon moveu-se com rapidez e liberdade. Os choupos modificados geneticamente evitaram um conjunto de regulamentações federais para organismos geneticamente modificados que podem paralisar projetos de biotecnologia por anos. (Desde então, esses regulamentos foram revisados.) Por outro lado, uma equipe de cientistas que projetou geneticamente uma castanheira resistente à ferrugem usando o mesmo método de bactéria empregado anteriormente pela Living Carbon aguarda uma decisão desde 2020. Uma maçã modificada cultivada em pequena escala no estado de Washington levou vários anos para ser aprovada.

“Você poderia dizer que a regra antiga tinha problemas”, disse Bill Doley, um consultor que ajudou a gerenciar o processo de regulamentação de organismos geneticamente modificados do Departamento de Agricultura até 2022.

Chellyne Stotts, da Living Carbon, mede uma muda. A empresa começou a comercializar créditos com base no carbono que suas árvores absorverão. Foto: Audra Melton/The New York Times

Na segunda-feira, nas terras de Vince Stanley, um agricultor de sétima geração que administra mais de 25.000 acres de floresta no cinturão de pinheiros da Geórgia, trabalhadores com enxadas carregando mochilas com mudas plantaram quase 5.000 choupos modificados. Os choupos modificados tinham nomes como Kookaburra e Babuíno, que indicavam de qual árvore “original” eles haviam sido clonados e foram intercalados com um número aproximadamente igual de árvores não modificadas. No final do dia excepcionalmente quente, os trabalhadores estavam encharcados de suor e os canteiros estavam pontilhados com mudas finas como lápis e bandeiras coloridas saindo da lama.

Em contraste com os pinheiros de crescimento rápido, as madeiras de lei que crescem em terras baixas como essas produzem madeira tão lentamente que um proprietário de terras pode obter apenas uma colheita na vida, disse Stanley. Ele espera que as “mudas de elite” da Living Carbon lhe permitam cultivar árvores de terras baixas e ganhar dinheiro mais rapidamente. “Estamos pegando uma rotação de madeira de 50 a 60 anos e cortando isso pela metade”, ele disse. “É totalmente um ganha-ganha.”

Os geneticistas florestais foram menos otimistas sobre as árvores da Living Carbon. Os pesquisadores normalmente avaliam as árvores em testes de campo confinados antes de passarem para plantações em larga escala, disse Andrew Newhouse, que dirige o projeto de castanha modificada na SUNY College of Environmental Science and Forestry. “Suas afirmações parecem ousadas com base em dados muito limitados do mundo real”, ele disse.

Patrick Mellor, co-fundador da Living Carbon, abriu a empresa com Maddie Hall em uma tentativa de usar árvores para combater as mudanças climáticas. Foto: Audra Melton/The New York Times

Steve Strauss, geneticista da Oregon State University, concorda com a necessidade de ver dados de campo. “Minha experiência ao longo dos anos é que a estufa não significa quase nada” sobre as perspectivas ao ar livre de árvores cuja fisiologia foi modificada, ele disse “Os capitalistas de risco podem não saber disso.”

O Serviço Florestal dos EUA, que planta um grande número de árvores todos os anos, disse pouco sobre se usaria árvores modificadas. Para serem consideradas para plantio em florestas nacionais, que representam quase um quinto das áreas florestais dos EUA, as árvores da Living Carbon precisariam se alinhar com os planos de manejo existentes que normalmente priorizam a saúde e a diversidade das florestas em vez de reduzir a quantidade de carbono atmosférico, disse Dana Nelson, uma geneticista do serviço. “Acho difícil imaginar que se encaixaria bem em uma floresta nacional”, disse Nelson.

A Living Carbon está se concentrando por enquanto em terras privadas, onde enfrentará menos obstáculos. No final desta primavera, ela plantará choupos em minas de carvão abandonadas na Pensilvânia. No ano que vem, Hall e Mellor esperam plantar milhões de árvores no solo. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Em janeiro, em uma área de baixa altitude do cinturão de pinheiros do sul da Geórgia, meia dúzia de trabalhadores plantou fileiras e mais fileiras de choupos semelhantes a galhos.

No entanto, não eram quaisquer árvores: algumas das mudas aninhadas no solo encharcado foram geneticamente modificadas para produzir madeira em níveis turbinados e sugar dióxido de carbono do ar.

A empresa informou em um artigo que ainda não foi revisado por pares que seus choupos modificados cresceram mais de 50% mais rápido do que os não modificados em cinco meses na estufa. Foto: Audra Melton/The New York Times

Os choupos podem ser as primeiras árvores geneticamente modificadas plantadas nos Estados Unidos fora de uma pesquisa científica ou de um pomar comercial. Assim como a introdução do tomate Flavr Savr em 1994 iniciou uma nova indústria de culturas alimentares geneticamente modificadas, os plantadores de árvores esperam transformar a silvicultura.

A Living Carbon, uma empresa de biotecnologia sediada em San Francisco que produzia choupos, pretende que suas árvores sejam uma solução em larga escala para a mudança climática.

“Algumas pessoas nos disseram que é impossível”, disse Maddie Hall, cofundadora e CEO da empresa, sobre seu sonho de implantar a engenharia genética em nome do clima. Mas ela e seus colegas também encontraram quem acreditasse - o suficiente para investir US$ 36 milhões na empresa de 4 anos.

Os pesquisadores da empresa usaram uma técnica rudimentar conhecida como método da arma genética, que basicamente injeta genes estranhos nos cromossomos das árvores. Foto: Audra Melton/The New York Times

A empresa também atraiu críticas. O Global Justice Ecology Project, um grupo ambientalista, chamou as árvores da empresa de “ameaças crescentes” às florestas e expressou preocupação com o fato de o governo federal permitir que elas burlassem a regulamentação, abrindo as portas para plantações comerciais muito mais cedo do que o normal para plantas modificadas.

A Living Carbon ainda não publicou artigos revisados por pares; seus únicos resultados divulgados publicamente vêm de um teste em estufa que durou apenas alguns meses. Esses dados deixaram alguns especialistas intrigados, mas não resultaram em um endosso total.

“Eles têm alguns resultados encorajadores”, disse Donald Ort, geneticista da Universidade de Illinois cujos experimentos com plantas ajudaram a inspirar a tecnologia da Living Carbon. Mas ele acrescentou que a noção de que os resultados da estufa se traduzirão em sucesso no mundo real “não é algo certeiro”.

Uma equipe de plantio manual carrega caixas em um caminhão no sul da Geórgia. Até o momento, o único país onde um grande número de árvores geneticamente modificadas foi plantado é a China. Foto: Audra Melton/The New York Times

Os choupos da Living Carbon começam suas vidas em um laboratório em Hayward, Califórnia. Lá, os biólogos mexem na forma com que as árvores conduzem a fotossíntese, a série de reações químicas que as plantas usam para transformar a luz solar, a água e o dióxido de carbono em açúcares e amidos. Ao fazer isso, eles seguem um precedente estabelecido pela evolução: várias vezes no decorrer da longa história da Terra, melhorias na fotossíntese permitiram que as plantas ingerissem dióxido de carbono suficiente para resfriar substancialmente o planeta.

Embora a fotossíntese tenha impactos profundos na Terra, ela está longe de ser perfeita como processo químico. Numerosas ineficiências impedem que as plantas capturem e armazenem mais do que uma pequena fração da energia solar que chega em suas folhas. Essas ineficiências, entre outros fatores, limitam a rapidez com que as árvores e outras plantas crescem e a quantidade de dióxido de carbono que absorvem.

Os cientistas passaram décadas tentando assumir o controle de onde a evolução parou. Em 2019, Ort e seus colegas anunciaram que haviam modificado geneticamente plantas de tabaco para fazer a fotossíntese com mais eficiência. Normalmente, a fotossíntese produz um subproduto tóxico que a planta deve descartar, desperdiçando energia. Os pesquisadores de Illinois adicionaram genes de abóboras e algas verdes para induzir as mudas de tabaco a reciclar as toxinas em mais açúcares, produzindo plantas que cresceram quase 40% mais.

Os choupos da Living Carbon começam suas vidas em um laboratório, onde os biólogos consertam como eles conduzem a fotossíntese. Foto: Audra Melton/The New York Times

Naquele mesmo ano, Hall, que trabalhava para empreendimentos do Vale do Silício como a OpenAI (responsável pelo modelo de linguagem ChatGPT), conheceu seu futuro cofundador, Patrick Mellor, em uma conferência de tecnologia climática. Mellor estava pesquisando se as árvores poderiam ser modificadas para produzir madeira resistente ao apodrecimento.

Com dinheiro arrecadado de empresas de capital de risco e contatos de Hall no mundo da tecnologia, incluindo o CEO da OpenAI, Sam Altman, ela e Mellor começaram a Living Carbon em uma tentativa de utilizar as árvores para combater as mudanças climáticas. “Havia tão poucas empresas que estavam olhando para a remoção de carbono em larga escala de uma forma que combinasse ciência de ponta e implantação comercial em larga escala”, disse Hall.

Em um campo acostumado ao progresso lento e à regulamentação pesada, a Living Carbon moveu-se com rapidez e liberdade. Os choupos modificados geneticamente evitaram um conjunto de regulamentações federais para organismos geneticamente modificados que podem paralisar projetos de biotecnologia por anos. (Desde então, esses regulamentos foram revisados.) Por outro lado, uma equipe de cientistas que projetou geneticamente uma castanheira resistente à ferrugem usando o mesmo método de bactéria empregado anteriormente pela Living Carbon aguarda uma decisão desde 2020. Uma maçã modificada cultivada em pequena escala no estado de Washington levou vários anos para ser aprovada.

“Você poderia dizer que a regra antiga tinha problemas”, disse Bill Doley, um consultor que ajudou a gerenciar o processo de regulamentação de organismos geneticamente modificados do Departamento de Agricultura até 2022.

Chellyne Stotts, da Living Carbon, mede uma muda. A empresa começou a comercializar créditos com base no carbono que suas árvores absorverão. Foto: Audra Melton/The New York Times

Na segunda-feira, nas terras de Vince Stanley, um agricultor de sétima geração que administra mais de 25.000 acres de floresta no cinturão de pinheiros da Geórgia, trabalhadores com enxadas carregando mochilas com mudas plantaram quase 5.000 choupos modificados. Os choupos modificados tinham nomes como Kookaburra e Babuíno, que indicavam de qual árvore “original” eles haviam sido clonados e foram intercalados com um número aproximadamente igual de árvores não modificadas. No final do dia excepcionalmente quente, os trabalhadores estavam encharcados de suor e os canteiros estavam pontilhados com mudas finas como lápis e bandeiras coloridas saindo da lama.

Em contraste com os pinheiros de crescimento rápido, as madeiras de lei que crescem em terras baixas como essas produzem madeira tão lentamente que um proprietário de terras pode obter apenas uma colheita na vida, disse Stanley. Ele espera que as “mudas de elite” da Living Carbon lhe permitam cultivar árvores de terras baixas e ganhar dinheiro mais rapidamente. “Estamos pegando uma rotação de madeira de 50 a 60 anos e cortando isso pela metade”, ele disse. “É totalmente um ganha-ganha.”

Os geneticistas florestais foram menos otimistas sobre as árvores da Living Carbon. Os pesquisadores normalmente avaliam as árvores em testes de campo confinados antes de passarem para plantações em larga escala, disse Andrew Newhouse, que dirige o projeto de castanha modificada na SUNY College of Environmental Science and Forestry. “Suas afirmações parecem ousadas com base em dados muito limitados do mundo real”, ele disse.

Patrick Mellor, co-fundador da Living Carbon, abriu a empresa com Maddie Hall em uma tentativa de usar árvores para combater as mudanças climáticas. Foto: Audra Melton/The New York Times

Steve Strauss, geneticista da Oregon State University, concorda com a necessidade de ver dados de campo. “Minha experiência ao longo dos anos é que a estufa não significa quase nada” sobre as perspectivas ao ar livre de árvores cuja fisiologia foi modificada, ele disse “Os capitalistas de risco podem não saber disso.”

O Serviço Florestal dos EUA, que planta um grande número de árvores todos os anos, disse pouco sobre se usaria árvores modificadas. Para serem consideradas para plantio em florestas nacionais, que representam quase um quinto das áreas florestais dos EUA, as árvores da Living Carbon precisariam se alinhar com os planos de manejo existentes que normalmente priorizam a saúde e a diversidade das florestas em vez de reduzir a quantidade de carbono atmosférico, disse Dana Nelson, uma geneticista do serviço. “Acho difícil imaginar que se encaixaria bem em uma floresta nacional”, disse Nelson.

A Living Carbon está se concentrando por enquanto em terras privadas, onde enfrentará menos obstáculos. No final desta primavera, ela plantará choupos em minas de carvão abandonadas na Pensilvânia. No ano que vem, Hall e Mellor esperam plantar milhões de árvores no solo. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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