Penélope Cruz e Antonio Banderas estão juntos em ‘Concorrência Oficial’


Em entrevista, eles comentam sobre seus personagens no filme dos argentinos Gastón Duprat e Mariano Cohn

Por Carlos Aguilar
Atualização:

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - O fato de os astros internacionalmente famosos Penélope Cruz e Antonio Banderas nunca terem passado mais de dois minutos juntos na telona é surpreendente. Fizeram uma breve participação juntos no filme Os Amantes Passageiros (2013), de Pedro Almodóvar, e, embora ambos apareçam em Dor e Glória, filme de 2019 do mesmo diretor, seus personagens habitam épocas diferentes e por isso não contracenam. Isso mudou com Concorrência Oficial, sátira mordaz da indústria cinematográfica e do processo criativo, dirigida pelos argentinos Gastón Duprat e Mariano Cohn.

Em entrevista, os atores Penélope Cruz e Antonio Banderas falam sobre o filme 'Concorrência Oficial'. Foto: Josefina Santos/The New York Times

Cruz, de 48 anos, interpreta a excêntrica e cacheada cineasta Lola Cuevas, enquanto Banderas, de 61, é Félix Rivero, ator vazio e autocentrado, escalado para contracenar com o aparentemente modesto, mas comprometido, Iván Torres (Oscar Martínez). Enquanto ensaiam para o filme de Cuevas, vêm à tona suas motivações inescrupulosas e egoístas.

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Juntos em Nova York, onde participaram da estreia americana do filme no Festival de Cinema de Tribeca, os atores espanhóis conversaram comigo, por chamada de vídeo, sobre seus personagens não convencionais e deram sua opinião sobre prêmios.

Estes são alguns trechos editados de nossa conversa:

Houve outros projetos nos quais vocês planejaram trabalhar juntos, mas que não se concretizaram por causa da agenda ou de outro empecilho?

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Cruz: Não. Isso é o mais estranho. Nunca nos ofereceram outro trabalho em que um de nós pudesse participar e o outro, não. Pedro [Almodóvar] às vezes fala sobre ideias de projetos que ele gostaria de fazer conosco. Ele nos provoca com a possibilidade de uma refilmagem de Matrimônio à Italiana. Adoraríamos fazer esse filme com ele, mas nunca sabemos ao certo se ele está só brincando ou se é uma possibilidade real.

Antonio, entre Félix, obcecado pela fama, e Iván, condescendente, quem você preferiria ser?

Banderas: Félix é arrogante e frívolo, mas também esperto. Se eu tivesse de escolher ser um dos dois atores do filme, provavelmente ainda escolheria Félix. Iván também é astuto e finge ter uma ideologia artística purista, mas, assim que você se distrai, ele pode muito bem roubar sua carteira; é um personagem perigoso. Quando Iván finge receber um prêmio na frente do espelho, é uma representação de como as pessoas na indústria cinematográfica, mas ainda mais na política, podem se tornar exatamente aquilo que criticam.

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Em sua carreira, você já encontrou alguém parecido com Lola e suas táticas?

Banderas: As artes, em particular a indústria cinematográfica, são um mundo subjetivo em que há muitos impostores. É fácil se esconder por trás da subjetividade desse meio. Por exemplo, nas grandes escolas de interpretação, como o método de Stanislavski ou o de Stella Adler, as técnicas que ajudam os atores a interpretar vêm de décadas de experiências. Mas há muitos vigaristas que testam processos incrivelmente bizarros e dizem que a verdade por trás da interpretação está nos ensinamentos que estão vendendo. E existem pessoas ingênuas que os compram.

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Penélope, quem você estava evocando ou imitando em sua interpretação da temperamental Lola?

Cruz: Não posso citar nomes, mas me inspirei em algumas pessoas, embora nem todas sejam da indústria cinematográfica e nem todas sejam mulheres. Os diretores e eu assistimos a muitas entrevistas em vídeo, para anotar as coisas absurdas que as pessoas diziam [risos]. Criei uma personagem Frankenstein baseada nelas e em tudo que compartilhamos sobre as coisas mais estranhas que nos aconteceram nos sets de filmagem.

Em uma das cenas, Lola tortura os atores, destruindo seus preciosos troféus. Qual sua opinião sobre a importância dos prêmios, em relação a essa cena?

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Cruz: Eu me diverti muito com a cena, mas, como alguns dos troféus eram reais, eu não quis exagerar e acidentalmente quebrar algum, porque trabalhamos muito para conquistá-los. Eles têm seu valor, e precisamos ser gratos por eles.

Banderas: Se pensarmos bem, o troféu é a materialização de algo que já lhe foi concedido. Quer dizer, ao ganhar um Oscar, você pode deixá-lo em sua casa de campo ou no topo de uma árvore ou até perdê-lo, mas o fato de que você ganhou um Oscar permanecerá registrado na história do cinema. Temos um apego extraordinário à materialização de um momento, e o que Lola faz talvez seja uma das cenas mais coerentes do filme, quando diz: “Desapegue-se, cara! Isso é simbólico. Mesmo que eu o destrua, você ainda será o vencedor do que quer que seja.” É engraçado como amamos medalhas e coisas brilhantes.

Cruz: Não acho que Lola veja a situação dessa forma, Antonio. Ela destrói os próprios prêmios, mas, ao mesmo tempo, é capaz de refilmar o filme inteiro apenas com Félix interpretando os dois personagens. Ela sabe exatamente o que aconteceu a Iván, mas não faz perguntas porque não quer saber a verdade; só se importa em ir em frente com seu filme. Vai continuar se importando com prêmios mais do que com qualquer outra coisa na vida.

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Você guarda seus prêmios em algum lugar especial?

Cruz: Não, deixo em casa. Mas, quando tinha acabado de ganhar o Oscar, eu o levei à praia comigo algumas vezes.

Banderas: Para que ele se bronzeasse [risos].

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - O fato de os astros internacionalmente famosos Penélope Cruz e Antonio Banderas nunca terem passado mais de dois minutos juntos na telona é surpreendente. Fizeram uma breve participação juntos no filme Os Amantes Passageiros (2013), de Pedro Almodóvar, e, embora ambos apareçam em Dor e Glória, filme de 2019 do mesmo diretor, seus personagens habitam épocas diferentes e por isso não contracenam. Isso mudou com Concorrência Oficial, sátira mordaz da indústria cinematográfica e do processo criativo, dirigida pelos argentinos Gastón Duprat e Mariano Cohn.

Em entrevista, os atores Penélope Cruz e Antonio Banderas falam sobre o filme 'Concorrência Oficial'. Foto: Josefina Santos/The New York Times

Cruz, de 48 anos, interpreta a excêntrica e cacheada cineasta Lola Cuevas, enquanto Banderas, de 61, é Félix Rivero, ator vazio e autocentrado, escalado para contracenar com o aparentemente modesto, mas comprometido, Iván Torres (Oscar Martínez). Enquanto ensaiam para o filme de Cuevas, vêm à tona suas motivações inescrupulosas e egoístas.

Juntos em Nova York, onde participaram da estreia americana do filme no Festival de Cinema de Tribeca, os atores espanhóis conversaram comigo, por chamada de vídeo, sobre seus personagens não convencionais e deram sua opinião sobre prêmios.

Estes são alguns trechos editados de nossa conversa:

Houve outros projetos nos quais vocês planejaram trabalhar juntos, mas que não se concretizaram por causa da agenda ou de outro empecilho?

Cruz: Não. Isso é o mais estranho. Nunca nos ofereceram outro trabalho em que um de nós pudesse participar e o outro, não. Pedro [Almodóvar] às vezes fala sobre ideias de projetos que ele gostaria de fazer conosco. Ele nos provoca com a possibilidade de uma refilmagem de Matrimônio à Italiana. Adoraríamos fazer esse filme com ele, mas nunca sabemos ao certo se ele está só brincando ou se é uma possibilidade real.

Antonio, entre Félix, obcecado pela fama, e Iván, condescendente, quem você preferiria ser?

Banderas: Félix é arrogante e frívolo, mas também esperto. Se eu tivesse de escolher ser um dos dois atores do filme, provavelmente ainda escolheria Félix. Iván também é astuto e finge ter uma ideologia artística purista, mas, assim que você se distrai, ele pode muito bem roubar sua carteira; é um personagem perigoso. Quando Iván finge receber um prêmio na frente do espelho, é uma representação de como as pessoas na indústria cinematográfica, mas ainda mais na política, podem se tornar exatamente aquilo que criticam.

Em sua carreira, você já encontrou alguém parecido com Lola e suas táticas?

Banderas: As artes, em particular a indústria cinematográfica, são um mundo subjetivo em que há muitos impostores. É fácil se esconder por trás da subjetividade desse meio. Por exemplo, nas grandes escolas de interpretação, como o método de Stanislavski ou o de Stella Adler, as técnicas que ajudam os atores a interpretar vêm de décadas de experiências. Mas há muitos vigaristas que testam processos incrivelmente bizarros e dizem que a verdade por trás da interpretação está nos ensinamentos que estão vendendo. E existem pessoas ingênuas que os compram.

Penélope, quem você estava evocando ou imitando em sua interpretação da temperamental Lola?

Cruz: Não posso citar nomes, mas me inspirei em algumas pessoas, embora nem todas sejam da indústria cinematográfica e nem todas sejam mulheres. Os diretores e eu assistimos a muitas entrevistas em vídeo, para anotar as coisas absurdas que as pessoas diziam [risos]. Criei uma personagem Frankenstein baseada nelas e em tudo que compartilhamos sobre as coisas mais estranhas que nos aconteceram nos sets de filmagem.

Em uma das cenas, Lola tortura os atores, destruindo seus preciosos troféus. Qual sua opinião sobre a importância dos prêmios, em relação a essa cena?

Cruz: Eu me diverti muito com a cena, mas, como alguns dos troféus eram reais, eu não quis exagerar e acidentalmente quebrar algum, porque trabalhamos muito para conquistá-los. Eles têm seu valor, e precisamos ser gratos por eles.

Banderas: Se pensarmos bem, o troféu é a materialização de algo que já lhe foi concedido. Quer dizer, ao ganhar um Oscar, você pode deixá-lo em sua casa de campo ou no topo de uma árvore ou até perdê-lo, mas o fato de que você ganhou um Oscar permanecerá registrado na história do cinema. Temos um apego extraordinário à materialização de um momento, e o que Lola faz talvez seja uma das cenas mais coerentes do filme, quando diz: “Desapegue-se, cara! Isso é simbólico. Mesmo que eu o destrua, você ainda será o vencedor do que quer que seja.” É engraçado como amamos medalhas e coisas brilhantes.

Cruz: Não acho que Lola veja a situação dessa forma, Antonio. Ela destrói os próprios prêmios, mas, ao mesmo tempo, é capaz de refilmar o filme inteiro apenas com Félix interpretando os dois personagens. Ela sabe exatamente o que aconteceu a Iván, mas não faz perguntas porque não quer saber a verdade; só se importa em ir em frente com seu filme. Vai continuar se importando com prêmios mais do que com qualquer outra coisa na vida.

Você guarda seus prêmios em algum lugar especial?

Cruz: Não, deixo em casa. Mas, quando tinha acabado de ganhar o Oscar, eu o levei à praia comigo algumas vezes.

Banderas: Para que ele se bronzeasse [risos].

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THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - O fato de os astros internacionalmente famosos Penélope Cruz e Antonio Banderas nunca terem passado mais de dois minutos juntos na telona é surpreendente. Fizeram uma breve participação juntos no filme Os Amantes Passageiros (2013), de Pedro Almodóvar, e, embora ambos apareçam em Dor e Glória, filme de 2019 do mesmo diretor, seus personagens habitam épocas diferentes e por isso não contracenam. Isso mudou com Concorrência Oficial, sátira mordaz da indústria cinematográfica e do processo criativo, dirigida pelos argentinos Gastón Duprat e Mariano Cohn.

Em entrevista, os atores Penélope Cruz e Antonio Banderas falam sobre o filme 'Concorrência Oficial'. Foto: Josefina Santos/The New York Times

Cruz, de 48 anos, interpreta a excêntrica e cacheada cineasta Lola Cuevas, enquanto Banderas, de 61, é Félix Rivero, ator vazio e autocentrado, escalado para contracenar com o aparentemente modesto, mas comprometido, Iván Torres (Oscar Martínez). Enquanto ensaiam para o filme de Cuevas, vêm à tona suas motivações inescrupulosas e egoístas.

Juntos em Nova York, onde participaram da estreia americana do filme no Festival de Cinema de Tribeca, os atores espanhóis conversaram comigo, por chamada de vídeo, sobre seus personagens não convencionais e deram sua opinião sobre prêmios.

Estes são alguns trechos editados de nossa conversa:

Houve outros projetos nos quais vocês planejaram trabalhar juntos, mas que não se concretizaram por causa da agenda ou de outro empecilho?

Cruz: Não. Isso é o mais estranho. Nunca nos ofereceram outro trabalho em que um de nós pudesse participar e o outro, não. Pedro [Almodóvar] às vezes fala sobre ideias de projetos que ele gostaria de fazer conosco. Ele nos provoca com a possibilidade de uma refilmagem de Matrimônio à Italiana. Adoraríamos fazer esse filme com ele, mas nunca sabemos ao certo se ele está só brincando ou se é uma possibilidade real.

Antonio, entre Félix, obcecado pela fama, e Iván, condescendente, quem você preferiria ser?

Banderas: Félix é arrogante e frívolo, mas também esperto. Se eu tivesse de escolher ser um dos dois atores do filme, provavelmente ainda escolheria Félix. Iván também é astuto e finge ter uma ideologia artística purista, mas, assim que você se distrai, ele pode muito bem roubar sua carteira; é um personagem perigoso. Quando Iván finge receber um prêmio na frente do espelho, é uma representação de como as pessoas na indústria cinematográfica, mas ainda mais na política, podem se tornar exatamente aquilo que criticam.

Em sua carreira, você já encontrou alguém parecido com Lola e suas táticas?

Banderas: As artes, em particular a indústria cinematográfica, são um mundo subjetivo em que há muitos impostores. É fácil se esconder por trás da subjetividade desse meio. Por exemplo, nas grandes escolas de interpretação, como o método de Stanislavski ou o de Stella Adler, as técnicas que ajudam os atores a interpretar vêm de décadas de experiências. Mas há muitos vigaristas que testam processos incrivelmente bizarros e dizem que a verdade por trás da interpretação está nos ensinamentos que estão vendendo. E existem pessoas ingênuas que os compram.

Penélope, quem você estava evocando ou imitando em sua interpretação da temperamental Lola?

Cruz: Não posso citar nomes, mas me inspirei em algumas pessoas, embora nem todas sejam da indústria cinematográfica e nem todas sejam mulheres. Os diretores e eu assistimos a muitas entrevistas em vídeo, para anotar as coisas absurdas que as pessoas diziam [risos]. Criei uma personagem Frankenstein baseada nelas e em tudo que compartilhamos sobre as coisas mais estranhas que nos aconteceram nos sets de filmagem.

Em uma das cenas, Lola tortura os atores, destruindo seus preciosos troféus. Qual sua opinião sobre a importância dos prêmios, em relação a essa cena?

Cruz: Eu me diverti muito com a cena, mas, como alguns dos troféus eram reais, eu não quis exagerar e acidentalmente quebrar algum, porque trabalhamos muito para conquistá-los. Eles têm seu valor, e precisamos ser gratos por eles.

Banderas: Se pensarmos bem, o troféu é a materialização de algo que já lhe foi concedido. Quer dizer, ao ganhar um Oscar, você pode deixá-lo em sua casa de campo ou no topo de uma árvore ou até perdê-lo, mas o fato de que você ganhou um Oscar permanecerá registrado na história do cinema. Temos um apego extraordinário à materialização de um momento, e o que Lola faz talvez seja uma das cenas mais coerentes do filme, quando diz: “Desapegue-se, cara! Isso é simbólico. Mesmo que eu o destrua, você ainda será o vencedor do que quer que seja.” É engraçado como amamos medalhas e coisas brilhantes.

Cruz: Não acho que Lola veja a situação dessa forma, Antonio. Ela destrói os próprios prêmios, mas, ao mesmo tempo, é capaz de refilmar o filme inteiro apenas com Félix interpretando os dois personagens. Ela sabe exatamente o que aconteceu a Iván, mas não faz perguntas porque não quer saber a verdade; só se importa em ir em frente com seu filme. Vai continuar se importando com prêmios mais do que com qualquer outra coisa na vida.

Você guarda seus prêmios em algum lugar especial?

Cruz: Não, deixo em casa. Mas, quando tinha acabado de ganhar o Oscar, eu o levei à praia comigo algumas vezes.

Banderas: Para que ele se bronzeasse [risos].

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