Pesquisadores relatam declínio na vida selvagem em estudo


Última atualização de uma importante avaliação descobriu que as populações diminuíram em média 69% desde 1970

Por Catrin Einhorn

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Está claro que a vida selvagem está sofrendo muito em nosso planeta, mas os cientistas não sabem exatamente o quanto. É extremamente difícil determinar um número abrangente. Contar animais selvagens - em terra e no mar, de mosquitos a baleias - não é pouca coisa. A maioria dos países carece de sistemas nacionais de monitoramento.

Um dos esforços mais ambiciosos para preencher esse vazio é publicado a cada dois anos. Conhecido como o Living Planet Index, é uma colaboração entre duas grandes organizações de conservação: a World Wide Fund for Nature e a Zoological Society of London. Mas o relatório repetidamente resultou em manchetes imprecisas pois os jornalistas interpretaram mal ou exageraram seus resultados.

O último número da avaliação, divulgado no início de outubro por 89 autores de todo o mundo, é o mais alarmante até agora: de 1970 a 2018, as populações monitoradas de vertebrados diminuíram em média 69%. Isso é mais de dois terços em apenas 48 anos. É um número impressionante com sérias implicações, especialmente quando as nações se preparam para se reunir em Montreal em dezembro, em um esforço para chegar a um acordo em um novo plano global para proteger a biodiversidade. Mas isso significa o que você pensa?

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O que os dados significam e o que não significam

Lembre-se que este número é apenas sobre vertebrados: mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes. Estão ausentes as criaturas sem coluna vertebral, embora constituam a grande maioria das espécies animais (os cientistas têm ainda menos dados sobre elas).

Então, o número de vertebrados selvagens caiu 69% desde 1970?

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Não.

O estudo rastreia populações selecionadas de 5.320 espécies, considerando todas as pesquisas relevantes publicadas que existem, acrescentando mais a cada ano conforme novos dados permitem. Inclui, por exemplo, uma população de tubarões-baleia no Golfo do México contada a partir de pequenos aviões voando baixo sobre a água e pássaros contabilizados pelo número de ninhos em penhascos. Dependendo da espécie, ferramentas como armadilhas fotográficas e evidências como excrementos em trilhas ajudam os cientistas a estimar a população em um determinado local.

A atualização deste ano inclui quase 32.000 dessas populações.

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Urso pardo e seus filhotes no Parque Nacional Glacier, em Montana. Foto: U.S. National Park Service via The New York Times

Há uma tentação de pensar que um declínio médio de 69% nessas populações significa que essa é a parcela da vida selvagem monitorada que foi exterminada. Mas isso não é verdade. Um adendo ao relatório fornece um exemplo do motivo.

Imagine, escreveram os autores, três populações para começar: pássaros, ursos e tubarões. As aves declinam de 25 para 5, uma queda de 80%. Os ursos caem de 50 para 45, ou 10%. E os tubarões diminuem de 20 para 8, ou 60%.

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Isso nos dá um declínio médio de 50%. Mas o número total de animais caiu de 150 para 92, uma queda de cerca de 39%.

O índice é projetado dessa forma porque busca entender como as populações estão mudando ao longo do tempo. Não mede quantos indivíduos estão presentes.

“O Living Planet Index é realmente uma visão contemporânea sobre a saúde das populações que sustentam o funcionamento da natureza em todo o planeta”, disse Rebecca Shaw, cientista-chefe do WWF e autora do relatório.

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Outro fator importante é a forma como as populações monitoradas aparecem no índice. Elas não representam uma amostragem ampla e aleatória. Em vez disso, elas refletem os dados disponíveis. Portanto, é bastante provável que haja um viés em quais espécies são rastreadas.

Uma controvérsia tem sido se um pequeno número de populações em declínio drástico questiona os resultados gerais. Dois anos atrás, um estudo na Nature descobriu que apenas 3% das populações estavam causando um declínio drástico. Quando elas foram removidas, a tendência global mudou para um aumento.

O artigo provocou uma enxurrada de respostas na Nature, bem como explicações adicionais e testes de stress para a atualização deste ano. Pelo lado positivo, os autores observam que cerca de metade das populações no Living Planet Index estão estáveis ou aumentando. No entanto, quando tentaram excluir populações com as mudanças mais drásticas em ambas as direções, para baixo e para cima, a descida média permaneceu acentuada.

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“Mesmo depois de removermos 10% do conjunto completo de dados, ainda vemos declínios de cerca de 65%”, disse Robin Freeman, chefe da unidade de indicadores e avaliações da Zoological Society of London e autor do relatório.

Então ainda é ruim?

Sim. Alguns cientistas acham que o relatório realmente subestima a crise global da biodiversidade, em parte porque declínios devastadores em anfíbios podem estar sub-representados nos dados.

E com o tempo, a tendência não está mudando.

“Ano após ano, não conseguimos começar a melhorar a situação, apesar das grandes políticas”, disse Henrique M. Pereira, professor de biologia da conservação do Centro Alemão de Pesquisa Integrativa em Biodiversidade, que não esteve envolvido no relatório deste ano. “No máximo, conseguimos desacelerar os declínios.”

A América Latina e o Caribe tiveram a pior queda regional, 94% abaixo de 1970. O padrão foi mais acentuado em peixes de água doce, répteis e anfíbios. A África foi a seguinte com 66%; A Ásia e o Pacífico tiveram 55%. A região definida como Europa-Ásia Central teve um declínio menor, de 18%, assim como a América do Norte, de 20%. Os cientistas enfatizaram que perdas de biodiversidade muito mais acentuadas nessas duas áreas provavelmente ocorreram muito antes de 1970 e não estão refletidas nesses dados.

Os cientistas sabem o que está causando a perda de biodiversidade. Em terra, o principal impulsionador é a agricultura, pois as pessoas transformam florestas e outros ecossistemas em terras agrícolas para gado ou óleo de palma. No mar, é a pesca. Existem maneiras de fazer as duas coisas de forma mais sustentável.

Se a mudança climática não estiver limitada a 2 graus Celsius, e de preferência 1,5 graus, suas consequências devem se tornar a principal causa de perda de biodiversidade nas próximas décadas, disse o relatório. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Está claro que a vida selvagem está sofrendo muito em nosso planeta, mas os cientistas não sabem exatamente o quanto. É extremamente difícil determinar um número abrangente. Contar animais selvagens - em terra e no mar, de mosquitos a baleias - não é pouca coisa. A maioria dos países carece de sistemas nacionais de monitoramento.

Um dos esforços mais ambiciosos para preencher esse vazio é publicado a cada dois anos. Conhecido como o Living Planet Index, é uma colaboração entre duas grandes organizações de conservação: a World Wide Fund for Nature e a Zoological Society of London. Mas o relatório repetidamente resultou em manchetes imprecisas pois os jornalistas interpretaram mal ou exageraram seus resultados.

O último número da avaliação, divulgado no início de outubro por 89 autores de todo o mundo, é o mais alarmante até agora: de 1970 a 2018, as populações monitoradas de vertebrados diminuíram em média 69%. Isso é mais de dois terços em apenas 48 anos. É um número impressionante com sérias implicações, especialmente quando as nações se preparam para se reunir em Montreal em dezembro, em um esforço para chegar a um acordo em um novo plano global para proteger a biodiversidade. Mas isso significa o que você pensa?

O que os dados significam e o que não significam

Lembre-se que este número é apenas sobre vertebrados: mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes. Estão ausentes as criaturas sem coluna vertebral, embora constituam a grande maioria das espécies animais (os cientistas têm ainda menos dados sobre elas).

Então, o número de vertebrados selvagens caiu 69% desde 1970?

Não.

O estudo rastreia populações selecionadas de 5.320 espécies, considerando todas as pesquisas relevantes publicadas que existem, acrescentando mais a cada ano conforme novos dados permitem. Inclui, por exemplo, uma população de tubarões-baleia no Golfo do México contada a partir de pequenos aviões voando baixo sobre a água e pássaros contabilizados pelo número de ninhos em penhascos. Dependendo da espécie, ferramentas como armadilhas fotográficas e evidências como excrementos em trilhas ajudam os cientistas a estimar a população em um determinado local.

A atualização deste ano inclui quase 32.000 dessas populações.

Urso pardo e seus filhotes no Parque Nacional Glacier, em Montana. Foto: U.S. National Park Service via The New York Times

Há uma tentação de pensar que um declínio médio de 69% nessas populações significa que essa é a parcela da vida selvagem monitorada que foi exterminada. Mas isso não é verdade. Um adendo ao relatório fornece um exemplo do motivo.

Imagine, escreveram os autores, três populações para começar: pássaros, ursos e tubarões. As aves declinam de 25 para 5, uma queda de 80%. Os ursos caem de 50 para 45, ou 10%. E os tubarões diminuem de 20 para 8, ou 60%.

Isso nos dá um declínio médio de 50%. Mas o número total de animais caiu de 150 para 92, uma queda de cerca de 39%.

O índice é projetado dessa forma porque busca entender como as populações estão mudando ao longo do tempo. Não mede quantos indivíduos estão presentes.

“O Living Planet Index é realmente uma visão contemporânea sobre a saúde das populações que sustentam o funcionamento da natureza em todo o planeta”, disse Rebecca Shaw, cientista-chefe do WWF e autora do relatório.

Outro fator importante é a forma como as populações monitoradas aparecem no índice. Elas não representam uma amostragem ampla e aleatória. Em vez disso, elas refletem os dados disponíveis. Portanto, é bastante provável que haja um viés em quais espécies são rastreadas.

Uma controvérsia tem sido se um pequeno número de populações em declínio drástico questiona os resultados gerais. Dois anos atrás, um estudo na Nature descobriu que apenas 3% das populações estavam causando um declínio drástico. Quando elas foram removidas, a tendência global mudou para um aumento.

O artigo provocou uma enxurrada de respostas na Nature, bem como explicações adicionais e testes de stress para a atualização deste ano. Pelo lado positivo, os autores observam que cerca de metade das populações no Living Planet Index estão estáveis ou aumentando. No entanto, quando tentaram excluir populações com as mudanças mais drásticas em ambas as direções, para baixo e para cima, a descida média permaneceu acentuada.

“Mesmo depois de removermos 10% do conjunto completo de dados, ainda vemos declínios de cerca de 65%”, disse Robin Freeman, chefe da unidade de indicadores e avaliações da Zoological Society of London e autor do relatório.

Então ainda é ruim?

Sim. Alguns cientistas acham que o relatório realmente subestima a crise global da biodiversidade, em parte porque declínios devastadores em anfíbios podem estar sub-representados nos dados.

E com o tempo, a tendência não está mudando.

“Ano após ano, não conseguimos começar a melhorar a situação, apesar das grandes políticas”, disse Henrique M. Pereira, professor de biologia da conservação do Centro Alemão de Pesquisa Integrativa em Biodiversidade, que não esteve envolvido no relatório deste ano. “No máximo, conseguimos desacelerar os declínios.”

A América Latina e o Caribe tiveram a pior queda regional, 94% abaixo de 1970. O padrão foi mais acentuado em peixes de água doce, répteis e anfíbios. A África foi a seguinte com 66%; A Ásia e o Pacífico tiveram 55%. A região definida como Europa-Ásia Central teve um declínio menor, de 18%, assim como a América do Norte, de 20%. Os cientistas enfatizaram que perdas de biodiversidade muito mais acentuadas nessas duas áreas provavelmente ocorreram muito antes de 1970 e não estão refletidas nesses dados.

Os cientistas sabem o que está causando a perda de biodiversidade. Em terra, o principal impulsionador é a agricultura, pois as pessoas transformam florestas e outros ecossistemas em terras agrícolas para gado ou óleo de palma. No mar, é a pesca. Existem maneiras de fazer as duas coisas de forma mais sustentável.

Se a mudança climática não estiver limitada a 2 graus Celsius, e de preferência 1,5 graus, suas consequências devem se tornar a principal causa de perda de biodiversidade nas próximas décadas, disse o relatório. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Está claro que a vida selvagem está sofrendo muito em nosso planeta, mas os cientistas não sabem exatamente o quanto. É extremamente difícil determinar um número abrangente. Contar animais selvagens - em terra e no mar, de mosquitos a baleias - não é pouca coisa. A maioria dos países carece de sistemas nacionais de monitoramento.

Um dos esforços mais ambiciosos para preencher esse vazio é publicado a cada dois anos. Conhecido como o Living Planet Index, é uma colaboração entre duas grandes organizações de conservação: a World Wide Fund for Nature e a Zoological Society of London. Mas o relatório repetidamente resultou em manchetes imprecisas pois os jornalistas interpretaram mal ou exageraram seus resultados.

O último número da avaliação, divulgado no início de outubro por 89 autores de todo o mundo, é o mais alarmante até agora: de 1970 a 2018, as populações monitoradas de vertebrados diminuíram em média 69%. Isso é mais de dois terços em apenas 48 anos. É um número impressionante com sérias implicações, especialmente quando as nações se preparam para se reunir em Montreal em dezembro, em um esforço para chegar a um acordo em um novo plano global para proteger a biodiversidade. Mas isso significa o que você pensa?

O que os dados significam e o que não significam

Lembre-se que este número é apenas sobre vertebrados: mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes. Estão ausentes as criaturas sem coluna vertebral, embora constituam a grande maioria das espécies animais (os cientistas têm ainda menos dados sobre elas).

Então, o número de vertebrados selvagens caiu 69% desde 1970?

Não.

O estudo rastreia populações selecionadas de 5.320 espécies, considerando todas as pesquisas relevantes publicadas que existem, acrescentando mais a cada ano conforme novos dados permitem. Inclui, por exemplo, uma população de tubarões-baleia no Golfo do México contada a partir de pequenos aviões voando baixo sobre a água e pássaros contabilizados pelo número de ninhos em penhascos. Dependendo da espécie, ferramentas como armadilhas fotográficas e evidências como excrementos em trilhas ajudam os cientistas a estimar a população em um determinado local.

A atualização deste ano inclui quase 32.000 dessas populações.

Urso pardo e seus filhotes no Parque Nacional Glacier, em Montana. Foto: U.S. National Park Service via The New York Times

Há uma tentação de pensar que um declínio médio de 69% nessas populações significa que essa é a parcela da vida selvagem monitorada que foi exterminada. Mas isso não é verdade. Um adendo ao relatório fornece um exemplo do motivo.

Imagine, escreveram os autores, três populações para começar: pássaros, ursos e tubarões. As aves declinam de 25 para 5, uma queda de 80%. Os ursos caem de 50 para 45, ou 10%. E os tubarões diminuem de 20 para 8, ou 60%.

Isso nos dá um declínio médio de 50%. Mas o número total de animais caiu de 150 para 92, uma queda de cerca de 39%.

O índice é projetado dessa forma porque busca entender como as populações estão mudando ao longo do tempo. Não mede quantos indivíduos estão presentes.

“O Living Planet Index é realmente uma visão contemporânea sobre a saúde das populações que sustentam o funcionamento da natureza em todo o planeta”, disse Rebecca Shaw, cientista-chefe do WWF e autora do relatório.

Outro fator importante é a forma como as populações monitoradas aparecem no índice. Elas não representam uma amostragem ampla e aleatória. Em vez disso, elas refletem os dados disponíveis. Portanto, é bastante provável que haja um viés em quais espécies são rastreadas.

Uma controvérsia tem sido se um pequeno número de populações em declínio drástico questiona os resultados gerais. Dois anos atrás, um estudo na Nature descobriu que apenas 3% das populações estavam causando um declínio drástico. Quando elas foram removidas, a tendência global mudou para um aumento.

O artigo provocou uma enxurrada de respostas na Nature, bem como explicações adicionais e testes de stress para a atualização deste ano. Pelo lado positivo, os autores observam que cerca de metade das populações no Living Planet Index estão estáveis ou aumentando. No entanto, quando tentaram excluir populações com as mudanças mais drásticas em ambas as direções, para baixo e para cima, a descida média permaneceu acentuada.

“Mesmo depois de removermos 10% do conjunto completo de dados, ainda vemos declínios de cerca de 65%”, disse Robin Freeman, chefe da unidade de indicadores e avaliações da Zoological Society of London e autor do relatório.

Então ainda é ruim?

Sim. Alguns cientistas acham que o relatório realmente subestima a crise global da biodiversidade, em parte porque declínios devastadores em anfíbios podem estar sub-representados nos dados.

E com o tempo, a tendência não está mudando.

“Ano após ano, não conseguimos começar a melhorar a situação, apesar das grandes políticas”, disse Henrique M. Pereira, professor de biologia da conservação do Centro Alemão de Pesquisa Integrativa em Biodiversidade, que não esteve envolvido no relatório deste ano. “No máximo, conseguimos desacelerar os declínios.”

A América Latina e o Caribe tiveram a pior queda regional, 94% abaixo de 1970. O padrão foi mais acentuado em peixes de água doce, répteis e anfíbios. A África foi a seguinte com 66%; A Ásia e o Pacífico tiveram 55%. A região definida como Europa-Ásia Central teve um declínio menor, de 18%, assim como a América do Norte, de 20%. Os cientistas enfatizaram que perdas de biodiversidade muito mais acentuadas nessas duas áreas provavelmente ocorreram muito antes de 1970 e não estão refletidas nesses dados.

Os cientistas sabem o que está causando a perda de biodiversidade. Em terra, o principal impulsionador é a agricultura, pois as pessoas transformam florestas e outros ecossistemas em terras agrícolas para gado ou óleo de palma. No mar, é a pesca. Existem maneiras de fazer as duas coisas de forma mais sustentável.

Se a mudança climática não estiver limitada a 2 graus Celsius, e de preferência 1,5 graus, suas consequências devem se tornar a principal causa de perda de biodiversidade nas próximas décadas, disse o relatório. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Está claro que a vida selvagem está sofrendo muito em nosso planeta, mas os cientistas não sabem exatamente o quanto. É extremamente difícil determinar um número abrangente. Contar animais selvagens - em terra e no mar, de mosquitos a baleias - não é pouca coisa. A maioria dos países carece de sistemas nacionais de monitoramento.

Um dos esforços mais ambiciosos para preencher esse vazio é publicado a cada dois anos. Conhecido como o Living Planet Index, é uma colaboração entre duas grandes organizações de conservação: a World Wide Fund for Nature e a Zoological Society of London. Mas o relatório repetidamente resultou em manchetes imprecisas pois os jornalistas interpretaram mal ou exageraram seus resultados.

O último número da avaliação, divulgado no início de outubro por 89 autores de todo o mundo, é o mais alarmante até agora: de 1970 a 2018, as populações monitoradas de vertebrados diminuíram em média 69%. Isso é mais de dois terços em apenas 48 anos. É um número impressionante com sérias implicações, especialmente quando as nações se preparam para se reunir em Montreal em dezembro, em um esforço para chegar a um acordo em um novo plano global para proteger a biodiversidade. Mas isso significa o que você pensa?

O que os dados significam e o que não significam

Lembre-se que este número é apenas sobre vertebrados: mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes. Estão ausentes as criaturas sem coluna vertebral, embora constituam a grande maioria das espécies animais (os cientistas têm ainda menos dados sobre elas).

Então, o número de vertebrados selvagens caiu 69% desde 1970?

Não.

O estudo rastreia populações selecionadas de 5.320 espécies, considerando todas as pesquisas relevantes publicadas que existem, acrescentando mais a cada ano conforme novos dados permitem. Inclui, por exemplo, uma população de tubarões-baleia no Golfo do México contada a partir de pequenos aviões voando baixo sobre a água e pássaros contabilizados pelo número de ninhos em penhascos. Dependendo da espécie, ferramentas como armadilhas fotográficas e evidências como excrementos em trilhas ajudam os cientistas a estimar a população em um determinado local.

A atualização deste ano inclui quase 32.000 dessas populações.

Urso pardo e seus filhotes no Parque Nacional Glacier, em Montana. Foto: U.S. National Park Service via The New York Times

Há uma tentação de pensar que um declínio médio de 69% nessas populações significa que essa é a parcela da vida selvagem monitorada que foi exterminada. Mas isso não é verdade. Um adendo ao relatório fornece um exemplo do motivo.

Imagine, escreveram os autores, três populações para começar: pássaros, ursos e tubarões. As aves declinam de 25 para 5, uma queda de 80%. Os ursos caem de 50 para 45, ou 10%. E os tubarões diminuem de 20 para 8, ou 60%.

Isso nos dá um declínio médio de 50%. Mas o número total de animais caiu de 150 para 92, uma queda de cerca de 39%.

O índice é projetado dessa forma porque busca entender como as populações estão mudando ao longo do tempo. Não mede quantos indivíduos estão presentes.

“O Living Planet Index é realmente uma visão contemporânea sobre a saúde das populações que sustentam o funcionamento da natureza em todo o planeta”, disse Rebecca Shaw, cientista-chefe do WWF e autora do relatório.

Outro fator importante é a forma como as populações monitoradas aparecem no índice. Elas não representam uma amostragem ampla e aleatória. Em vez disso, elas refletem os dados disponíveis. Portanto, é bastante provável que haja um viés em quais espécies são rastreadas.

Uma controvérsia tem sido se um pequeno número de populações em declínio drástico questiona os resultados gerais. Dois anos atrás, um estudo na Nature descobriu que apenas 3% das populações estavam causando um declínio drástico. Quando elas foram removidas, a tendência global mudou para um aumento.

O artigo provocou uma enxurrada de respostas na Nature, bem como explicações adicionais e testes de stress para a atualização deste ano. Pelo lado positivo, os autores observam que cerca de metade das populações no Living Planet Index estão estáveis ou aumentando. No entanto, quando tentaram excluir populações com as mudanças mais drásticas em ambas as direções, para baixo e para cima, a descida média permaneceu acentuada.

“Mesmo depois de removermos 10% do conjunto completo de dados, ainda vemos declínios de cerca de 65%”, disse Robin Freeman, chefe da unidade de indicadores e avaliações da Zoological Society of London e autor do relatório.

Então ainda é ruim?

Sim. Alguns cientistas acham que o relatório realmente subestima a crise global da biodiversidade, em parte porque declínios devastadores em anfíbios podem estar sub-representados nos dados.

E com o tempo, a tendência não está mudando.

“Ano após ano, não conseguimos começar a melhorar a situação, apesar das grandes políticas”, disse Henrique M. Pereira, professor de biologia da conservação do Centro Alemão de Pesquisa Integrativa em Biodiversidade, que não esteve envolvido no relatório deste ano. “No máximo, conseguimos desacelerar os declínios.”

A América Latina e o Caribe tiveram a pior queda regional, 94% abaixo de 1970. O padrão foi mais acentuado em peixes de água doce, répteis e anfíbios. A África foi a seguinte com 66%; A Ásia e o Pacífico tiveram 55%. A região definida como Europa-Ásia Central teve um declínio menor, de 18%, assim como a América do Norte, de 20%. Os cientistas enfatizaram que perdas de biodiversidade muito mais acentuadas nessas duas áreas provavelmente ocorreram muito antes de 1970 e não estão refletidas nesses dados.

Os cientistas sabem o que está causando a perda de biodiversidade. Em terra, o principal impulsionador é a agricultura, pois as pessoas transformam florestas e outros ecossistemas em terras agrícolas para gado ou óleo de palma. No mar, é a pesca. Existem maneiras de fazer as duas coisas de forma mais sustentável.

Se a mudança climática não estiver limitada a 2 graus Celsius, e de preferência 1,5 graus, suas consequências devem se tornar a principal causa de perda de biodiversidade nas próximas décadas, disse o relatório. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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