Por que a ‘Mãe da Bomba Atômica’ nunca ganhou um Prêmio Nobel?


Lise Meitner desenvolveu a teoria da fissão nuclear, processo que possibilitou a bomba atômica, mas o fato de ser judia e mulher a impediu de dividir o crédito pela descoberta, como mostram cartas recentemente traduzidas

Por Katrina Miller

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Há uma cena memorável em Oppenheimer, o filme de grande sucesso sobre a construção da bomba atômica, em que Luis Alvarez, físico da Universidade da Califórnia, em Berkeley, lê um jornal enquanto corta o cabelo. De repente, Alvarez salta da cadeira e corre pela rua para encontrar seu colega, o físico teórico J. Robert Oppenheimer.

Dr. Meitner e Otto Hahn em um laboratório de Berlim no início do século XX. Foto: The New York Times/Arquivo

“Oppie! Oppie! Ele grita. “Eles conseguiram. Hahn e Strassmann na Alemanha. Eles dividiram o núcleo do urânio. Eles dividiram o átomo.”

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A referência é a dois químicos alemães, Otto Hahn e Fritz Strassmann, que em 1939 relataram, sem saber, uma demonstração de fissão nuclear, a fragmentação de um átomo em elementos mais leves. A descoberta foi fundamental para o Projeto Manhattan, o esforço ultrassecreto americano liderado por Oppenheimer para desenvolver as primeiras armas nucleares.

No entanto, a cena não é totalmente precisa, para desgosto de alguns cientistas. Falta um ator importante no retrato: Lise Meitner, uma física que trabalhou em estreita colaboração com Hahn e desenvolveu a teoria da fissão nuclear.

Meitner era uma gigante por si só, contemporânea de ganhadores do Nobel como Albert Einstein, Niels Bohr e Max Planck. Depois do segundo dispositivo atômico ter sido lançado sobre Nagasaki, no Japão, a imprensa americana apelidou-a de “mãe da bomba atômica”, uma associação que ela rejeitou veementemente.

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Somente Hahn ganhou o Prêmio Nobel de fissão nuclear. Em seu discurso de agradecimento, ele se referiu a Meitner com um termo alemão que significa assistente ou funcionária, segundo Marissa Moss, autora de um livro recente sobre Meitner. “Ou uma colega de trabalho, na melhor das hipóteses”, disse ela.

Em 2022, Moss vasculhou o arquivo de Meitner na Universidade de Cambridge. Desde então, ela traduziu centenas de cartas entre Meitner e Hahn, escritas em alemão, que, segundo ela, oferecem uma perspectiva mais matizada do fim da relação entre eles. Essa percepção também desafia a noção comum de que Meitner aceitou o resultado do Prêmio Nobel sem ressentimentos.

O desprezo foi mais do que apenas uma questão de gênero, de acordo com Moss. “É fácil dizer que ela não recebeu o prêmio por ser mulher”, disse Moss. “Ninguém pensa que uma mulher vá fazer barulho sobre as coisas.” Moss também acredita que a linhagem de Meitner estava em jogo: “Este é um caso em que o motivo foi o fato dela ser judia.”

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Em 1947, Meitner escreveu ao seu sobrinho Otto Robert Frisch, um físico judeu que também contribuiu para a descoberta da fissão nuclear: “Sei que a atitude dele contribuiu para que o comitê do Nobel decidisse contra nós”, disse ela sobre Hahn, em uma carta traduzida por Moss. “Mas isso é algo puramente privado que não queremos tornar público.”

A Semana do Nobel é um momento em que a comunidade científica celebra as suas maiores conquistas, mas também, cada vez mais, examina descuidos e injustiças. Lise Meitner é uma das muitas mulheres na ciência que não recebeu o devido crédito pelo seu trabalho, incluindo, talvez mais notavelmente, Rosalind Franklin, a química que contribuiu para a descoberta da estrutura de dupla hélice do DNA em 1953.

“Há centenas, se não milhares, de mulheres que realizaram algo grandioso na ciência e que simplesmente não foram reconhecidas em suas vidas”, disse Katie Hafner, apresentadora do podcast “Lost Women of Science”. Hafner concluiu recentemente um episódio em duas partes sobre Meitner, cuja segunda parte começa com a fatídica cena de Oppenheimer. Ao contrário de outras figuras em seu podcast, Hafner disse: “Lise Meitner não está esquecida”.

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Mas, ela acrescentou, “ela é mal compreendida”.

Uma pioneira radioativa

Desde o início, Meitner quebrou tetos de vidro. Nascida em 1878 em Viena, ela começou a estudar física de forma particular, já que as mulheres na Áustria não eram autorizadas a frequentar a faculdade até 1897. Em 1901, matriculou-se na pós-graduação na Universidade de Viena; cinco anos depois, ela obteve um doutorado em física, sendo apenas a segunda mulher de sua universidade a fazê-lo.

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Meitner passou o resto de sua carreira trabalhando entre os grandes. Ela se mudou para a Universidade de Berlim e começou a assistir às aulas ministradas por Planck, que ganhou o Prêmio Nobel de Física em 1918 - e que geralmente não permitia que mulheres assistissem às suas aulas.

Em 1938, a Alemanha invadiu a Áustria, deixando Meitner sujeita a toda a extensão do regime nazista. Ela optou por fugir. Bohr, ganhador do Nobel de Física, ajudou-a a escapar de trem.

Meitner acabou indo para a Suécia, arrasada por ter deixado para trás o trabalho de sua vida e preocupada com a segurança de sua família.

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Ela continuou colaborando com Hahn por correio. Ele realizou experimentos e ela interpretou descobertas que ele não entendia. Um resultado surpreendeu a ambos: quando os átomos de urânio foram bombardeados com nêutrons, o nêutron deveria ter sido absorvido e um elétron liberado, criando um elemento mais pesado. Em vez disso, Hahn encontrou o bário, um elemento muito mais leve. Eles ficaram perplexos.

A descoberta estava fora da experiência de Hahn como químico. “Talvez você possa encontrar algum tipo de explicação fantástica”, escreveu ele em uma carta a Meitner traduzida por Ruth Lewin Sime, química do Sacramento City College que publicou uma biografia de Meitner em 1996. “Se houver algo que você possa propor, que você pudesse publicar, então ainda seria, de certa forma, um trabalho de nós três!”

Hahn e seu colega Strassmann submeteram os resultados para publicação em dezembro de 1938. O tom deles era incerto. “Talvez possa haver uma série de coincidências incomuns que nos deram falsas indicações”, escreveram em alemão.

Meitner não foi incluída como autora, nem houve menção à sua contribuição ao trabalho.

Nasce uma teoria

Na Suécia, Meitner refletiu sobre os resultados com Frisch, seu sobrinho físico. Em um dia de neve, Frisch relembrou em um livro de memórias, eles fizeram uma caminhada, parando para sentar em um tronco de árvore e rabiscar cálculos em pedaços de papel.

Eles perceberam que o urânio era extremamente instável e provavelmente seria fraturado no impacto com, digamos, um nêutron. Esses fragmentos seriam violentamente destruídos. Se uma dessas peças fosse bário, refletiu Meitner, a outra teria que ser outro elemento leve chamado criptônio. Ela calculou a energia que provocaria a explosão usando a famosa equação de Einstein, E = mc².

Hahn e Strassmann haviam dividido o átomo.

“Lemos e analisamos seu artigo com muito cuidado”, escreveu Meitner a Hahn em janeiro de 1939. “Talvez seja energeticamente possível que um núcleo tão pesado se rompa.” Numa carta posterior, ela expressou desapontamento por estar ausente: “Embora esteja aqui com as mãos vazias, estou feliz por estas descobertas maravilhosas”.

Meitner e Frisch publicaram a sua interpretação teórica dos resultados de Hahn e Strassmann na edição de fevereiro de 1939 da revista Nature. Frisch e Meitner desenvolveram experimentos para testar suas hipóteses. Nas semanas seguintes, publicaram mais dois artigos com os resultados, que se tornaram a primeira confirmação física do que Frisch chamou de “fissão nuclear”.

Mais tarde naquele ano, a Alemanha invadiu a Polônia. A Segunda Guerra Mundial havia começado. E começou a corrida para construir uma bomba atômica.

A notícia sobre a fissão nuclear se espalhou. Embora um único átomo dividido não gerasse energia suficiente para uso potencial em uma arma, alguns especularam que uma reação em cadeia poderia resolver o problema. Bombardear urânio com nêutrons não produziu apenas elementos mais leves; também criou mais nêutrons. Se esses nêutrons colidissem com mais urânio, a reação poderia se sustentar.

O governo dos EUA montou o Projeto Manhattan para desenvolver tal arma. Muitos dos colegas de Meitner, incluindo Frisch e Bohr, envolveram-se. Einstein não o fez, embora tivesse escrito uma carta ao presidente Franklin D. Roosevelt pedindo que ele garantisse urânio e financiasse experimentos de reação em cadeia.

Meitner, embora tenha sido convidada, recusou-se a participar. (“Não quero ter nada a ver com uma bomba!”, ela disse a famosa frase.) Em 1945, depois que as bombas atômicas foram lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, levando ao fim da guerra, algumas reportagens de jornais afirmavam que Meitner havia contrabandeado a receita para a arma da Alemanha nazista em sua bolsa. Ela negou. “Vocês sabem muito mais sobre a bomba atômica na América do que eu”, disse ela ao The New York Times em 1946.

Em 1945, Hahn foi indicado ao Prêmio Nobel de Química de 1944, com um ano de atraso, pela descoberta da fissão nuclear. Meitner e Frisch também foram indicados para o prêmio de física daquele ano. Mas apenas Hahn venceu. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Há uma cena memorável em Oppenheimer, o filme de grande sucesso sobre a construção da bomba atômica, em que Luis Alvarez, físico da Universidade da Califórnia, em Berkeley, lê um jornal enquanto corta o cabelo. De repente, Alvarez salta da cadeira e corre pela rua para encontrar seu colega, o físico teórico J. Robert Oppenheimer.

Dr. Meitner e Otto Hahn em um laboratório de Berlim no início do século XX. Foto: The New York Times/Arquivo

“Oppie! Oppie! Ele grita. “Eles conseguiram. Hahn e Strassmann na Alemanha. Eles dividiram o núcleo do urânio. Eles dividiram o átomo.”

A referência é a dois químicos alemães, Otto Hahn e Fritz Strassmann, que em 1939 relataram, sem saber, uma demonstração de fissão nuclear, a fragmentação de um átomo em elementos mais leves. A descoberta foi fundamental para o Projeto Manhattan, o esforço ultrassecreto americano liderado por Oppenheimer para desenvolver as primeiras armas nucleares.

No entanto, a cena não é totalmente precisa, para desgosto de alguns cientistas. Falta um ator importante no retrato: Lise Meitner, uma física que trabalhou em estreita colaboração com Hahn e desenvolveu a teoria da fissão nuclear.

Meitner era uma gigante por si só, contemporânea de ganhadores do Nobel como Albert Einstein, Niels Bohr e Max Planck. Depois do segundo dispositivo atômico ter sido lançado sobre Nagasaki, no Japão, a imprensa americana apelidou-a de “mãe da bomba atômica”, uma associação que ela rejeitou veementemente.

Somente Hahn ganhou o Prêmio Nobel de fissão nuclear. Em seu discurso de agradecimento, ele se referiu a Meitner com um termo alemão que significa assistente ou funcionária, segundo Marissa Moss, autora de um livro recente sobre Meitner. “Ou uma colega de trabalho, na melhor das hipóteses”, disse ela.

Em 2022, Moss vasculhou o arquivo de Meitner na Universidade de Cambridge. Desde então, ela traduziu centenas de cartas entre Meitner e Hahn, escritas em alemão, que, segundo ela, oferecem uma perspectiva mais matizada do fim da relação entre eles. Essa percepção também desafia a noção comum de que Meitner aceitou o resultado do Prêmio Nobel sem ressentimentos.

O desprezo foi mais do que apenas uma questão de gênero, de acordo com Moss. “É fácil dizer que ela não recebeu o prêmio por ser mulher”, disse Moss. “Ninguém pensa que uma mulher vá fazer barulho sobre as coisas.” Moss também acredita que a linhagem de Meitner estava em jogo: “Este é um caso em que o motivo foi o fato dela ser judia.”

Em 1947, Meitner escreveu ao seu sobrinho Otto Robert Frisch, um físico judeu que também contribuiu para a descoberta da fissão nuclear: “Sei que a atitude dele contribuiu para que o comitê do Nobel decidisse contra nós”, disse ela sobre Hahn, em uma carta traduzida por Moss. “Mas isso é algo puramente privado que não queremos tornar público.”

A Semana do Nobel é um momento em que a comunidade científica celebra as suas maiores conquistas, mas também, cada vez mais, examina descuidos e injustiças. Lise Meitner é uma das muitas mulheres na ciência que não recebeu o devido crédito pelo seu trabalho, incluindo, talvez mais notavelmente, Rosalind Franklin, a química que contribuiu para a descoberta da estrutura de dupla hélice do DNA em 1953.

“Há centenas, se não milhares, de mulheres que realizaram algo grandioso na ciência e que simplesmente não foram reconhecidas em suas vidas”, disse Katie Hafner, apresentadora do podcast “Lost Women of Science”. Hafner concluiu recentemente um episódio em duas partes sobre Meitner, cuja segunda parte começa com a fatídica cena de Oppenheimer. Ao contrário de outras figuras em seu podcast, Hafner disse: “Lise Meitner não está esquecida”.

Mas, ela acrescentou, “ela é mal compreendida”.

Uma pioneira radioativa

Desde o início, Meitner quebrou tetos de vidro. Nascida em 1878 em Viena, ela começou a estudar física de forma particular, já que as mulheres na Áustria não eram autorizadas a frequentar a faculdade até 1897. Em 1901, matriculou-se na pós-graduação na Universidade de Viena; cinco anos depois, ela obteve um doutorado em física, sendo apenas a segunda mulher de sua universidade a fazê-lo.

Meitner passou o resto de sua carreira trabalhando entre os grandes. Ela se mudou para a Universidade de Berlim e começou a assistir às aulas ministradas por Planck, que ganhou o Prêmio Nobel de Física em 1918 - e que geralmente não permitia que mulheres assistissem às suas aulas.

Em 1938, a Alemanha invadiu a Áustria, deixando Meitner sujeita a toda a extensão do regime nazista. Ela optou por fugir. Bohr, ganhador do Nobel de Física, ajudou-a a escapar de trem.

Meitner acabou indo para a Suécia, arrasada por ter deixado para trás o trabalho de sua vida e preocupada com a segurança de sua família.

Ela continuou colaborando com Hahn por correio. Ele realizou experimentos e ela interpretou descobertas que ele não entendia. Um resultado surpreendeu a ambos: quando os átomos de urânio foram bombardeados com nêutrons, o nêutron deveria ter sido absorvido e um elétron liberado, criando um elemento mais pesado. Em vez disso, Hahn encontrou o bário, um elemento muito mais leve. Eles ficaram perplexos.

A descoberta estava fora da experiência de Hahn como químico. “Talvez você possa encontrar algum tipo de explicação fantástica”, escreveu ele em uma carta a Meitner traduzida por Ruth Lewin Sime, química do Sacramento City College que publicou uma biografia de Meitner em 1996. “Se houver algo que você possa propor, que você pudesse publicar, então ainda seria, de certa forma, um trabalho de nós três!”

Hahn e seu colega Strassmann submeteram os resultados para publicação em dezembro de 1938. O tom deles era incerto. “Talvez possa haver uma série de coincidências incomuns que nos deram falsas indicações”, escreveram em alemão.

Meitner não foi incluída como autora, nem houve menção à sua contribuição ao trabalho.

Nasce uma teoria

Na Suécia, Meitner refletiu sobre os resultados com Frisch, seu sobrinho físico. Em um dia de neve, Frisch relembrou em um livro de memórias, eles fizeram uma caminhada, parando para sentar em um tronco de árvore e rabiscar cálculos em pedaços de papel.

Eles perceberam que o urânio era extremamente instável e provavelmente seria fraturado no impacto com, digamos, um nêutron. Esses fragmentos seriam violentamente destruídos. Se uma dessas peças fosse bário, refletiu Meitner, a outra teria que ser outro elemento leve chamado criptônio. Ela calculou a energia que provocaria a explosão usando a famosa equação de Einstein, E = mc².

Hahn e Strassmann haviam dividido o átomo.

“Lemos e analisamos seu artigo com muito cuidado”, escreveu Meitner a Hahn em janeiro de 1939. “Talvez seja energeticamente possível que um núcleo tão pesado se rompa.” Numa carta posterior, ela expressou desapontamento por estar ausente: “Embora esteja aqui com as mãos vazias, estou feliz por estas descobertas maravilhosas”.

Meitner e Frisch publicaram a sua interpretação teórica dos resultados de Hahn e Strassmann na edição de fevereiro de 1939 da revista Nature. Frisch e Meitner desenvolveram experimentos para testar suas hipóteses. Nas semanas seguintes, publicaram mais dois artigos com os resultados, que se tornaram a primeira confirmação física do que Frisch chamou de “fissão nuclear”.

Mais tarde naquele ano, a Alemanha invadiu a Polônia. A Segunda Guerra Mundial havia começado. E começou a corrida para construir uma bomba atômica.

A notícia sobre a fissão nuclear se espalhou. Embora um único átomo dividido não gerasse energia suficiente para uso potencial em uma arma, alguns especularam que uma reação em cadeia poderia resolver o problema. Bombardear urânio com nêutrons não produziu apenas elementos mais leves; também criou mais nêutrons. Se esses nêutrons colidissem com mais urânio, a reação poderia se sustentar.

O governo dos EUA montou o Projeto Manhattan para desenvolver tal arma. Muitos dos colegas de Meitner, incluindo Frisch e Bohr, envolveram-se. Einstein não o fez, embora tivesse escrito uma carta ao presidente Franklin D. Roosevelt pedindo que ele garantisse urânio e financiasse experimentos de reação em cadeia.

Meitner, embora tenha sido convidada, recusou-se a participar. (“Não quero ter nada a ver com uma bomba!”, ela disse a famosa frase.) Em 1945, depois que as bombas atômicas foram lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, levando ao fim da guerra, algumas reportagens de jornais afirmavam que Meitner havia contrabandeado a receita para a arma da Alemanha nazista em sua bolsa. Ela negou. “Vocês sabem muito mais sobre a bomba atômica na América do que eu”, disse ela ao The New York Times em 1946.

Em 1945, Hahn foi indicado ao Prêmio Nobel de Química de 1944, com um ano de atraso, pela descoberta da fissão nuclear. Meitner e Frisch também foram indicados para o prêmio de física daquele ano. Mas apenas Hahn venceu. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Há uma cena memorável em Oppenheimer, o filme de grande sucesso sobre a construção da bomba atômica, em que Luis Alvarez, físico da Universidade da Califórnia, em Berkeley, lê um jornal enquanto corta o cabelo. De repente, Alvarez salta da cadeira e corre pela rua para encontrar seu colega, o físico teórico J. Robert Oppenheimer.

Dr. Meitner e Otto Hahn em um laboratório de Berlim no início do século XX. Foto: The New York Times/Arquivo

“Oppie! Oppie! Ele grita. “Eles conseguiram. Hahn e Strassmann na Alemanha. Eles dividiram o núcleo do urânio. Eles dividiram o átomo.”

A referência é a dois químicos alemães, Otto Hahn e Fritz Strassmann, que em 1939 relataram, sem saber, uma demonstração de fissão nuclear, a fragmentação de um átomo em elementos mais leves. A descoberta foi fundamental para o Projeto Manhattan, o esforço ultrassecreto americano liderado por Oppenheimer para desenvolver as primeiras armas nucleares.

No entanto, a cena não é totalmente precisa, para desgosto de alguns cientistas. Falta um ator importante no retrato: Lise Meitner, uma física que trabalhou em estreita colaboração com Hahn e desenvolveu a teoria da fissão nuclear.

Meitner era uma gigante por si só, contemporânea de ganhadores do Nobel como Albert Einstein, Niels Bohr e Max Planck. Depois do segundo dispositivo atômico ter sido lançado sobre Nagasaki, no Japão, a imprensa americana apelidou-a de “mãe da bomba atômica”, uma associação que ela rejeitou veementemente.

Somente Hahn ganhou o Prêmio Nobel de fissão nuclear. Em seu discurso de agradecimento, ele se referiu a Meitner com um termo alemão que significa assistente ou funcionária, segundo Marissa Moss, autora de um livro recente sobre Meitner. “Ou uma colega de trabalho, na melhor das hipóteses”, disse ela.

Em 2022, Moss vasculhou o arquivo de Meitner na Universidade de Cambridge. Desde então, ela traduziu centenas de cartas entre Meitner e Hahn, escritas em alemão, que, segundo ela, oferecem uma perspectiva mais matizada do fim da relação entre eles. Essa percepção também desafia a noção comum de que Meitner aceitou o resultado do Prêmio Nobel sem ressentimentos.

O desprezo foi mais do que apenas uma questão de gênero, de acordo com Moss. “É fácil dizer que ela não recebeu o prêmio por ser mulher”, disse Moss. “Ninguém pensa que uma mulher vá fazer barulho sobre as coisas.” Moss também acredita que a linhagem de Meitner estava em jogo: “Este é um caso em que o motivo foi o fato dela ser judia.”

Em 1947, Meitner escreveu ao seu sobrinho Otto Robert Frisch, um físico judeu que também contribuiu para a descoberta da fissão nuclear: “Sei que a atitude dele contribuiu para que o comitê do Nobel decidisse contra nós”, disse ela sobre Hahn, em uma carta traduzida por Moss. “Mas isso é algo puramente privado que não queremos tornar público.”

A Semana do Nobel é um momento em que a comunidade científica celebra as suas maiores conquistas, mas também, cada vez mais, examina descuidos e injustiças. Lise Meitner é uma das muitas mulheres na ciência que não recebeu o devido crédito pelo seu trabalho, incluindo, talvez mais notavelmente, Rosalind Franklin, a química que contribuiu para a descoberta da estrutura de dupla hélice do DNA em 1953.

“Há centenas, se não milhares, de mulheres que realizaram algo grandioso na ciência e que simplesmente não foram reconhecidas em suas vidas”, disse Katie Hafner, apresentadora do podcast “Lost Women of Science”. Hafner concluiu recentemente um episódio em duas partes sobre Meitner, cuja segunda parte começa com a fatídica cena de Oppenheimer. Ao contrário de outras figuras em seu podcast, Hafner disse: “Lise Meitner não está esquecida”.

Mas, ela acrescentou, “ela é mal compreendida”.

Uma pioneira radioativa

Desde o início, Meitner quebrou tetos de vidro. Nascida em 1878 em Viena, ela começou a estudar física de forma particular, já que as mulheres na Áustria não eram autorizadas a frequentar a faculdade até 1897. Em 1901, matriculou-se na pós-graduação na Universidade de Viena; cinco anos depois, ela obteve um doutorado em física, sendo apenas a segunda mulher de sua universidade a fazê-lo.

Meitner passou o resto de sua carreira trabalhando entre os grandes. Ela se mudou para a Universidade de Berlim e começou a assistir às aulas ministradas por Planck, que ganhou o Prêmio Nobel de Física em 1918 - e que geralmente não permitia que mulheres assistissem às suas aulas.

Em 1938, a Alemanha invadiu a Áustria, deixando Meitner sujeita a toda a extensão do regime nazista. Ela optou por fugir. Bohr, ganhador do Nobel de Física, ajudou-a a escapar de trem.

Meitner acabou indo para a Suécia, arrasada por ter deixado para trás o trabalho de sua vida e preocupada com a segurança de sua família.

Ela continuou colaborando com Hahn por correio. Ele realizou experimentos e ela interpretou descobertas que ele não entendia. Um resultado surpreendeu a ambos: quando os átomos de urânio foram bombardeados com nêutrons, o nêutron deveria ter sido absorvido e um elétron liberado, criando um elemento mais pesado. Em vez disso, Hahn encontrou o bário, um elemento muito mais leve. Eles ficaram perplexos.

A descoberta estava fora da experiência de Hahn como químico. “Talvez você possa encontrar algum tipo de explicação fantástica”, escreveu ele em uma carta a Meitner traduzida por Ruth Lewin Sime, química do Sacramento City College que publicou uma biografia de Meitner em 1996. “Se houver algo que você possa propor, que você pudesse publicar, então ainda seria, de certa forma, um trabalho de nós três!”

Hahn e seu colega Strassmann submeteram os resultados para publicação em dezembro de 1938. O tom deles era incerto. “Talvez possa haver uma série de coincidências incomuns que nos deram falsas indicações”, escreveram em alemão.

Meitner não foi incluída como autora, nem houve menção à sua contribuição ao trabalho.

Nasce uma teoria

Na Suécia, Meitner refletiu sobre os resultados com Frisch, seu sobrinho físico. Em um dia de neve, Frisch relembrou em um livro de memórias, eles fizeram uma caminhada, parando para sentar em um tronco de árvore e rabiscar cálculos em pedaços de papel.

Eles perceberam que o urânio era extremamente instável e provavelmente seria fraturado no impacto com, digamos, um nêutron. Esses fragmentos seriam violentamente destruídos. Se uma dessas peças fosse bário, refletiu Meitner, a outra teria que ser outro elemento leve chamado criptônio. Ela calculou a energia que provocaria a explosão usando a famosa equação de Einstein, E = mc².

Hahn e Strassmann haviam dividido o átomo.

“Lemos e analisamos seu artigo com muito cuidado”, escreveu Meitner a Hahn em janeiro de 1939. “Talvez seja energeticamente possível que um núcleo tão pesado se rompa.” Numa carta posterior, ela expressou desapontamento por estar ausente: “Embora esteja aqui com as mãos vazias, estou feliz por estas descobertas maravilhosas”.

Meitner e Frisch publicaram a sua interpretação teórica dos resultados de Hahn e Strassmann na edição de fevereiro de 1939 da revista Nature. Frisch e Meitner desenvolveram experimentos para testar suas hipóteses. Nas semanas seguintes, publicaram mais dois artigos com os resultados, que se tornaram a primeira confirmação física do que Frisch chamou de “fissão nuclear”.

Mais tarde naquele ano, a Alemanha invadiu a Polônia. A Segunda Guerra Mundial havia começado. E começou a corrida para construir uma bomba atômica.

A notícia sobre a fissão nuclear se espalhou. Embora um único átomo dividido não gerasse energia suficiente para uso potencial em uma arma, alguns especularam que uma reação em cadeia poderia resolver o problema. Bombardear urânio com nêutrons não produziu apenas elementos mais leves; também criou mais nêutrons. Se esses nêutrons colidissem com mais urânio, a reação poderia se sustentar.

O governo dos EUA montou o Projeto Manhattan para desenvolver tal arma. Muitos dos colegas de Meitner, incluindo Frisch e Bohr, envolveram-se. Einstein não o fez, embora tivesse escrito uma carta ao presidente Franklin D. Roosevelt pedindo que ele garantisse urânio e financiasse experimentos de reação em cadeia.

Meitner, embora tenha sido convidada, recusou-se a participar. (“Não quero ter nada a ver com uma bomba!”, ela disse a famosa frase.) Em 1945, depois que as bombas atômicas foram lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, levando ao fim da guerra, algumas reportagens de jornais afirmavam que Meitner havia contrabandeado a receita para a arma da Alemanha nazista em sua bolsa. Ela negou. “Vocês sabem muito mais sobre a bomba atômica na América do que eu”, disse ela ao The New York Times em 1946.

Em 1945, Hahn foi indicado ao Prêmio Nobel de Química de 1944, com um ano de atraso, pela descoberta da fissão nuclear. Meitner e Frisch também foram indicados para o prêmio de física daquele ano. Mas apenas Hahn venceu. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

The New York Times Licensing Group - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito do The New York Times

THE NEW YORK TIMES - LIFE/STYLE - Há uma cena memorável em Oppenheimer, o filme de grande sucesso sobre a construção da bomba atômica, em que Luis Alvarez, físico da Universidade da Califórnia, em Berkeley, lê um jornal enquanto corta o cabelo. De repente, Alvarez salta da cadeira e corre pela rua para encontrar seu colega, o físico teórico J. Robert Oppenheimer.

Dr. Meitner e Otto Hahn em um laboratório de Berlim no início do século XX. Foto: The New York Times/Arquivo

“Oppie! Oppie! Ele grita. “Eles conseguiram. Hahn e Strassmann na Alemanha. Eles dividiram o núcleo do urânio. Eles dividiram o átomo.”

A referência é a dois químicos alemães, Otto Hahn e Fritz Strassmann, que em 1939 relataram, sem saber, uma demonstração de fissão nuclear, a fragmentação de um átomo em elementos mais leves. A descoberta foi fundamental para o Projeto Manhattan, o esforço ultrassecreto americano liderado por Oppenheimer para desenvolver as primeiras armas nucleares.

No entanto, a cena não é totalmente precisa, para desgosto de alguns cientistas. Falta um ator importante no retrato: Lise Meitner, uma física que trabalhou em estreita colaboração com Hahn e desenvolveu a teoria da fissão nuclear.

Meitner era uma gigante por si só, contemporânea de ganhadores do Nobel como Albert Einstein, Niels Bohr e Max Planck. Depois do segundo dispositivo atômico ter sido lançado sobre Nagasaki, no Japão, a imprensa americana apelidou-a de “mãe da bomba atômica”, uma associação que ela rejeitou veementemente.

Somente Hahn ganhou o Prêmio Nobel de fissão nuclear. Em seu discurso de agradecimento, ele se referiu a Meitner com um termo alemão que significa assistente ou funcionária, segundo Marissa Moss, autora de um livro recente sobre Meitner. “Ou uma colega de trabalho, na melhor das hipóteses”, disse ela.

Em 2022, Moss vasculhou o arquivo de Meitner na Universidade de Cambridge. Desde então, ela traduziu centenas de cartas entre Meitner e Hahn, escritas em alemão, que, segundo ela, oferecem uma perspectiva mais matizada do fim da relação entre eles. Essa percepção também desafia a noção comum de que Meitner aceitou o resultado do Prêmio Nobel sem ressentimentos.

O desprezo foi mais do que apenas uma questão de gênero, de acordo com Moss. “É fácil dizer que ela não recebeu o prêmio por ser mulher”, disse Moss. “Ninguém pensa que uma mulher vá fazer barulho sobre as coisas.” Moss também acredita que a linhagem de Meitner estava em jogo: “Este é um caso em que o motivo foi o fato dela ser judia.”

Em 1947, Meitner escreveu ao seu sobrinho Otto Robert Frisch, um físico judeu que também contribuiu para a descoberta da fissão nuclear: “Sei que a atitude dele contribuiu para que o comitê do Nobel decidisse contra nós”, disse ela sobre Hahn, em uma carta traduzida por Moss. “Mas isso é algo puramente privado que não queremos tornar público.”

A Semana do Nobel é um momento em que a comunidade científica celebra as suas maiores conquistas, mas também, cada vez mais, examina descuidos e injustiças. Lise Meitner é uma das muitas mulheres na ciência que não recebeu o devido crédito pelo seu trabalho, incluindo, talvez mais notavelmente, Rosalind Franklin, a química que contribuiu para a descoberta da estrutura de dupla hélice do DNA em 1953.

“Há centenas, se não milhares, de mulheres que realizaram algo grandioso na ciência e que simplesmente não foram reconhecidas em suas vidas”, disse Katie Hafner, apresentadora do podcast “Lost Women of Science”. Hafner concluiu recentemente um episódio em duas partes sobre Meitner, cuja segunda parte começa com a fatídica cena de Oppenheimer. Ao contrário de outras figuras em seu podcast, Hafner disse: “Lise Meitner não está esquecida”.

Mas, ela acrescentou, “ela é mal compreendida”.

Uma pioneira radioativa

Desde o início, Meitner quebrou tetos de vidro. Nascida em 1878 em Viena, ela começou a estudar física de forma particular, já que as mulheres na Áustria não eram autorizadas a frequentar a faculdade até 1897. Em 1901, matriculou-se na pós-graduação na Universidade de Viena; cinco anos depois, ela obteve um doutorado em física, sendo apenas a segunda mulher de sua universidade a fazê-lo.

Meitner passou o resto de sua carreira trabalhando entre os grandes. Ela se mudou para a Universidade de Berlim e começou a assistir às aulas ministradas por Planck, que ganhou o Prêmio Nobel de Física em 1918 - e que geralmente não permitia que mulheres assistissem às suas aulas.

Em 1938, a Alemanha invadiu a Áustria, deixando Meitner sujeita a toda a extensão do regime nazista. Ela optou por fugir. Bohr, ganhador do Nobel de Física, ajudou-a a escapar de trem.

Meitner acabou indo para a Suécia, arrasada por ter deixado para trás o trabalho de sua vida e preocupada com a segurança de sua família.

Ela continuou colaborando com Hahn por correio. Ele realizou experimentos e ela interpretou descobertas que ele não entendia. Um resultado surpreendeu a ambos: quando os átomos de urânio foram bombardeados com nêutrons, o nêutron deveria ter sido absorvido e um elétron liberado, criando um elemento mais pesado. Em vez disso, Hahn encontrou o bário, um elemento muito mais leve. Eles ficaram perplexos.

A descoberta estava fora da experiência de Hahn como químico. “Talvez você possa encontrar algum tipo de explicação fantástica”, escreveu ele em uma carta a Meitner traduzida por Ruth Lewin Sime, química do Sacramento City College que publicou uma biografia de Meitner em 1996. “Se houver algo que você possa propor, que você pudesse publicar, então ainda seria, de certa forma, um trabalho de nós três!”

Hahn e seu colega Strassmann submeteram os resultados para publicação em dezembro de 1938. O tom deles era incerto. “Talvez possa haver uma série de coincidências incomuns que nos deram falsas indicações”, escreveram em alemão.

Meitner não foi incluída como autora, nem houve menção à sua contribuição ao trabalho.

Nasce uma teoria

Na Suécia, Meitner refletiu sobre os resultados com Frisch, seu sobrinho físico. Em um dia de neve, Frisch relembrou em um livro de memórias, eles fizeram uma caminhada, parando para sentar em um tronco de árvore e rabiscar cálculos em pedaços de papel.

Eles perceberam que o urânio era extremamente instável e provavelmente seria fraturado no impacto com, digamos, um nêutron. Esses fragmentos seriam violentamente destruídos. Se uma dessas peças fosse bário, refletiu Meitner, a outra teria que ser outro elemento leve chamado criptônio. Ela calculou a energia que provocaria a explosão usando a famosa equação de Einstein, E = mc².

Hahn e Strassmann haviam dividido o átomo.

“Lemos e analisamos seu artigo com muito cuidado”, escreveu Meitner a Hahn em janeiro de 1939. “Talvez seja energeticamente possível que um núcleo tão pesado se rompa.” Numa carta posterior, ela expressou desapontamento por estar ausente: “Embora esteja aqui com as mãos vazias, estou feliz por estas descobertas maravilhosas”.

Meitner e Frisch publicaram a sua interpretação teórica dos resultados de Hahn e Strassmann na edição de fevereiro de 1939 da revista Nature. Frisch e Meitner desenvolveram experimentos para testar suas hipóteses. Nas semanas seguintes, publicaram mais dois artigos com os resultados, que se tornaram a primeira confirmação física do que Frisch chamou de “fissão nuclear”.

Mais tarde naquele ano, a Alemanha invadiu a Polônia. A Segunda Guerra Mundial havia começado. E começou a corrida para construir uma bomba atômica.

A notícia sobre a fissão nuclear se espalhou. Embora um único átomo dividido não gerasse energia suficiente para uso potencial em uma arma, alguns especularam que uma reação em cadeia poderia resolver o problema. Bombardear urânio com nêutrons não produziu apenas elementos mais leves; também criou mais nêutrons. Se esses nêutrons colidissem com mais urânio, a reação poderia se sustentar.

O governo dos EUA montou o Projeto Manhattan para desenvolver tal arma. Muitos dos colegas de Meitner, incluindo Frisch e Bohr, envolveram-se. Einstein não o fez, embora tivesse escrito uma carta ao presidente Franklin D. Roosevelt pedindo que ele garantisse urânio e financiasse experimentos de reação em cadeia.

Meitner, embora tenha sido convidada, recusou-se a participar. (“Não quero ter nada a ver com uma bomba!”, ela disse a famosa frase.) Em 1945, depois que as bombas atômicas foram lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, levando ao fim da guerra, algumas reportagens de jornais afirmavam que Meitner havia contrabandeado a receita para a arma da Alemanha nazista em sua bolsa. Ela negou. “Vocês sabem muito mais sobre a bomba atômica na América do que eu”, disse ela ao The New York Times em 1946.

Em 1945, Hahn foi indicado ao Prêmio Nobel de Química de 1944, com um ano de atraso, pela descoberta da fissão nuclear. Meitner e Frisch também foram indicados para o prêmio de física daquele ano. Mas apenas Hahn venceu. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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