Protestos em massa a favor da democracia mobilizam o mundo


Por diferentes motivos, manifestações recentes ocorreram na China, República Tcheca, Argélia e Cazaquistão

Por Amanda Taub e Max Fisher

Talvez 2019 venha a ser o ano dos protestos. No dia 23 de junho, em Praga, os tchecos se reuniram na maior manifestação desde a queda da Cortina de Ferro para exigir a renúncia do primeiro-ministro acusado de corrupção. Nem duas semanas mais tarde, cerca de um milhão de pessoas realizaram uma manifestação em Hong Kong contra uma lei que permitiria a extradição para a China continental, obrigando o governo a recuar. Os protestos continuaram este mês; um grupo ocupou a assembleia legislativa e foi dispersado pela polícia.

No Cazaquistão, protestos em massa levaram a milhares de prisões. Na Argélia, o presidente Abdelaziz Bouteflika deixou o cargo em abril, após muitos protestos; e o presidente Omar al-Bashir, do Sudão, seguiu o seu exemplo, dias mais tarde. Os motivos de cada levante são distintos.

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Manifestantes reunidos em Praga, pedindo ao primeiro-ministro Andrej Babis que renuncie por causa das acusações de corrupção. Foto: Gabriel Kuchta/Getty Images

Mas os especialistas afirmam que há razões para se acreditar que fazem parte de uma tendência global. “Desde aproximadamente 2010, vimos um aumento da mobilização entre pessoas que nunca se mobilizam”, afirmou Helen Margetts, professora da Universidade Oxford e coautora de um livro sobre redes sociais e protestos políticos.

Isto inclui “jovens, membros de minorias étnicas e cidadãos de países autoritários”, ela afirmou. Uma razão, sugere a pesquisa, é o fato de as mudanças políticas globais terem criado expectativas crescentes de responsabilidade democrática, ao mesmo tempo que o autoritarismo cresce no mundo todo.

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Grandes expectativas

O aumento das expectativas em relação à responsabilidade nem sempre se coaduna com a realidade. Em muitos países pós-soviéticos, os lideres têm se sentido pouco incentivados a reformar as instituições de segurança herdadas dos dias da Guerra Fria, segundo Erica Marat, professora da National Defense University de Washington.

Como resultado, alguns governos não dispunham de mecanismos para atender às crescentes expectativas das classes médias urbanas. Com isto, surgiram protestos em toda a região, afirmou Marat, e as pessoas se deram conta de que participar das manifestações era uma das poucas maneiras defazer reivindicações políticas. “Ações coletivas em massa nunca surgem do nada”, afirmou. “Há sempre ações menores contra o Estado repressivo”. Estas, por sua vez, atraem mais participantes que muito provavelmente agem quando há apoio público.

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Em Hong Kong, embora os protestos do Movimento dos Guarda-Chuvas de 2014 tenham levado grandes massas às ruas exigindo democracia, não conseguiram forçar uma mudança sistêmica. Mas Marat acredita que podem ter contribuído para o sucesso dos protestos de junho contra a proposta de lei sobre a extradição.

Populismo e repercussão

O aumento da desigualdade, da corrupção e da frustração com instituições aparentemente indiferentes, fizeram com que muitos cidadãos votassem em populistas que prometem governar para o povo. Mas uma vez no cargo, frequentemente esmagam a oposição e desmantelam o sistema de pesos e contrapesos, exacerbando ainda mais o conflito entre democracia e autoritarismo. Agora, isto está contribuindo para gerar mais protestos de massa.

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Os cientistas políticos Anna Lühtmann e Staffan I. Lindberg, concluíram que, desde 1994, 75 países deram passos significativos contra o autoritarismo. Mas mesmo em países onde não é isto que acontece, a corrupção das autoridades pode provocar agitação. Os recentes protestos na República Tcheca ocorreram depois que a polícia recomendou que fosse acusado de corrupção o primeiro-ministro Andrej Babis. Ele manipulava o Ministério da Justiça para impedir que estas acusações fossem apresentadas.

O perigo do sucesso

As redes sociais, facilitando a difusão da revolta e mobilização das pessoas, fizeram com que os levantes políticos obedecessem à lei dos grandes números: se tentarem novos protestos, disse Margetts, o número de sucessos também aumentará. Mas a pesquisa de Zeynep Tufekci, um cientista social da Universidade da Carolina do Norte, sugere que protestos inspirados pelas redes sociais são particularmente frágeis. Como são descentralizados, os movimentos podem fracassar ou ser cooptados mais facilmente. E os ganhos podem ter breve duração, particularmente se o novo governo se sentir pressionado a consolidar o poder rapidamente.

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Os protestos são bem sucedidos não apenas por sua própria força, mas, em grande parte, por obrigarem as elites que estão no governo a realinharem as suas prioridades - e dando-lhes abertura para fazê-lo. No entanto, este realinhamento, nem sempre favorece os manifestantes. No Sudão, por exemplo, al-Bashir foi obrigado a renunciar - mas o general que consolidou o poder depois dele mandou as tropas contra os manifestantes. Dezenas de pessoas foram mortas, e muitas brutalizadas. 

Uma história semelhante ocorreu no Zimbábue, onde, em 2017, a expulsão do ditador Robert Mugabe, que ocupava o poder havia décadas, foi seguida por uma violenta repressão. “Com as redes sociais, pode-se levar as pessoas às ruas”, disse Margetts. “O problema é o que vem depois!” / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Talvez 2019 venha a ser o ano dos protestos. No dia 23 de junho, em Praga, os tchecos se reuniram na maior manifestação desde a queda da Cortina de Ferro para exigir a renúncia do primeiro-ministro acusado de corrupção. Nem duas semanas mais tarde, cerca de um milhão de pessoas realizaram uma manifestação em Hong Kong contra uma lei que permitiria a extradição para a China continental, obrigando o governo a recuar. Os protestos continuaram este mês; um grupo ocupou a assembleia legislativa e foi dispersado pela polícia.

No Cazaquistão, protestos em massa levaram a milhares de prisões. Na Argélia, o presidente Abdelaziz Bouteflika deixou o cargo em abril, após muitos protestos; e o presidente Omar al-Bashir, do Sudão, seguiu o seu exemplo, dias mais tarde. Os motivos de cada levante são distintos.

Manifestantes reunidos em Praga, pedindo ao primeiro-ministro Andrej Babis que renuncie por causa das acusações de corrupção. Foto: Gabriel Kuchta/Getty Images

Mas os especialistas afirmam que há razões para se acreditar que fazem parte de uma tendência global. “Desde aproximadamente 2010, vimos um aumento da mobilização entre pessoas que nunca se mobilizam”, afirmou Helen Margetts, professora da Universidade Oxford e coautora de um livro sobre redes sociais e protestos políticos.

Isto inclui “jovens, membros de minorias étnicas e cidadãos de países autoritários”, ela afirmou. Uma razão, sugere a pesquisa, é o fato de as mudanças políticas globais terem criado expectativas crescentes de responsabilidade democrática, ao mesmo tempo que o autoritarismo cresce no mundo todo.

Grandes expectativas

O aumento das expectativas em relação à responsabilidade nem sempre se coaduna com a realidade. Em muitos países pós-soviéticos, os lideres têm se sentido pouco incentivados a reformar as instituições de segurança herdadas dos dias da Guerra Fria, segundo Erica Marat, professora da National Defense University de Washington.

Como resultado, alguns governos não dispunham de mecanismos para atender às crescentes expectativas das classes médias urbanas. Com isto, surgiram protestos em toda a região, afirmou Marat, e as pessoas se deram conta de que participar das manifestações era uma das poucas maneiras defazer reivindicações políticas. “Ações coletivas em massa nunca surgem do nada”, afirmou. “Há sempre ações menores contra o Estado repressivo”. Estas, por sua vez, atraem mais participantes que muito provavelmente agem quando há apoio público.

Em Hong Kong, embora os protestos do Movimento dos Guarda-Chuvas de 2014 tenham levado grandes massas às ruas exigindo democracia, não conseguiram forçar uma mudança sistêmica. Mas Marat acredita que podem ter contribuído para o sucesso dos protestos de junho contra a proposta de lei sobre a extradição.

Populismo e repercussão

O aumento da desigualdade, da corrupção e da frustração com instituições aparentemente indiferentes, fizeram com que muitos cidadãos votassem em populistas que prometem governar para o povo. Mas uma vez no cargo, frequentemente esmagam a oposição e desmantelam o sistema de pesos e contrapesos, exacerbando ainda mais o conflito entre democracia e autoritarismo. Agora, isto está contribuindo para gerar mais protestos de massa.

Os cientistas políticos Anna Lühtmann e Staffan I. Lindberg, concluíram que, desde 1994, 75 países deram passos significativos contra o autoritarismo. Mas mesmo em países onde não é isto que acontece, a corrupção das autoridades pode provocar agitação. Os recentes protestos na República Tcheca ocorreram depois que a polícia recomendou que fosse acusado de corrupção o primeiro-ministro Andrej Babis. Ele manipulava o Ministério da Justiça para impedir que estas acusações fossem apresentadas.

O perigo do sucesso

As redes sociais, facilitando a difusão da revolta e mobilização das pessoas, fizeram com que os levantes políticos obedecessem à lei dos grandes números: se tentarem novos protestos, disse Margetts, o número de sucessos também aumentará. Mas a pesquisa de Zeynep Tufekci, um cientista social da Universidade da Carolina do Norte, sugere que protestos inspirados pelas redes sociais são particularmente frágeis. Como são descentralizados, os movimentos podem fracassar ou ser cooptados mais facilmente. E os ganhos podem ter breve duração, particularmente se o novo governo se sentir pressionado a consolidar o poder rapidamente.

Os protestos são bem sucedidos não apenas por sua própria força, mas, em grande parte, por obrigarem as elites que estão no governo a realinharem as suas prioridades - e dando-lhes abertura para fazê-lo. No entanto, este realinhamento, nem sempre favorece os manifestantes. No Sudão, por exemplo, al-Bashir foi obrigado a renunciar - mas o general que consolidou o poder depois dele mandou as tropas contra os manifestantes. Dezenas de pessoas foram mortas, e muitas brutalizadas. 

Uma história semelhante ocorreu no Zimbábue, onde, em 2017, a expulsão do ditador Robert Mugabe, que ocupava o poder havia décadas, foi seguida por uma violenta repressão. “Com as redes sociais, pode-se levar as pessoas às ruas”, disse Margetts. “O problema é o que vem depois!” / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Talvez 2019 venha a ser o ano dos protestos. No dia 23 de junho, em Praga, os tchecos se reuniram na maior manifestação desde a queda da Cortina de Ferro para exigir a renúncia do primeiro-ministro acusado de corrupção. Nem duas semanas mais tarde, cerca de um milhão de pessoas realizaram uma manifestação em Hong Kong contra uma lei que permitiria a extradição para a China continental, obrigando o governo a recuar. Os protestos continuaram este mês; um grupo ocupou a assembleia legislativa e foi dispersado pela polícia.

No Cazaquistão, protestos em massa levaram a milhares de prisões. Na Argélia, o presidente Abdelaziz Bouteflika deixou o cargo em abril, após muitos protestos; e o presidente Omar al-Bashir, do Sudão, seguiu o seu exemplo, dias mais tarde. Os motivos de cada levante são distintos.

Manifestantes reunidos em Praga, pedindo ao primeiro-ministro Andrej Babis que renuncie por causa das acusações de corrupção. Foto: Gabriel Kuchta/Getty Images

Mas os especialistas afirmam que há razões para se acreditar que fazem parte de uma tendência global. “Desde aproximadamente 2010, vimos um aumento da mobilização entre pessoas que nunca se mobilizam”, afirmou Helen Margetts, professora da Universidade Oxford e coautora de um livro sobre redes sociais e protestos políticos.

Isto inclui “jovens, membros de minorias étnicas e cidadãos de países autoritários”, ela afirmou. Uma razão, sugere a pesquisa, é o fato de as mudanças políticas globais terem criado expectativas crescentes de responsabilidade democrática, ao mesmo tempo que o autoritarismo cresce no mundo todo.

Grandes expectativas

O aumento das expectativas em relação à responsabilidade nem sempre se coaduna com a realidade. Em muitos países pós-soviéticos, os lideres têm se sentido pouco incentivados a reformar as instituições de segurança herdadas dos dias da Guerra Fria, segundo Erica Marat, professora da National Defense University de Washington.

Como resultado, alguns governos não dispunham de mecanismos para atender às crescentes expectativas das classes médias urbanas. Com isto, surgiram protestos em toda a região, afirmou Marat, e as pessoas se deram conta de que participar das manifestações era uma das poucas maneiras defazer reivindicações políticas. “Ações coletivas em massa nunca surgem do nada”, afirmou. “Há sempre ações menores contra o Estado repressivo”. Estas, por sua vez, atraem mais participantes que muito provavelmente agem quando há apoio público.

Em Hong Kong, embora os protestos do Movimento dos Guarda-Chuvas de 2014 tenham levado grandes massas às ruas exigindo democracia, não conseguiram forçar uma mudança sistêmica. Mas Marat acredita que podem ter contribuído para o sucesso dos protestos de junho contra a proposta de lei sobre a extradição.

Populismo e repercussão

O aumento da desigualdade, da corrupção e da frustração com instituições aparentemente indiferentes, fizeram com que muitos cidadãos votassem em populistas que prometem governar para o povo. Mas uma vez no cargo, frequentemente esmagam a oposição e desmantelam o sistema de pesos e contrapesos, exacerbando ainda mais o conflito entre democracia e autoritarismo. Agora, isto está contribuindo para gerar mais protestos de massa.

Os cientistas políticos Anna Lühtmann e Staffan I. Lindberg, concluíram que, desde 1994, 75 países deram passos significativos contra o autoritarismo. Mas mesmo em países onde não é isto que acontece, a corrupção das autoridades pode provocar agitação. Os recentes protestos na República Tcheca ocorreram depois que a polícia recomendou que fosse acusado de corrupção o primeiro-ministro Andrej Babis. Ele manipulava o Ministério da Justiça para impedir que estas acusações fossem apresentadas.

O perigo do sucesso

As redes sociais, facilitando a difusão da revolta e mobilização das pessoas, fizeram com que os levantes políticos obedecessem à lei dos grandes números: se tentarem novos protestos, disse Margetts, o número de sucessos também aumentará. Mas a pesquisa de Zeynep Tufekci, um cientista social da Universidade da Carolina do Norte, sugere que protestos inspirados pelas redes sociais são particularmente frágeis. Como são descentralizados, os movimentos podem fracassar ou ser cooptados mais facilmente. E os ganhos podem ter breve duração, particularmente se o novo governo se sentir pressionado a consolidar o poder rapidamente.

Os protestos são bem sucedidos não apenas por sua própria força, mas, em grande parte, por obrigarem as elites que estão no governo a realinharem as suas prioridades - e dando-lhes abertura para fazê-lo. No entanto, este realinhamento, nem sempre favorece os manifestantes. No Sudão, por exemplo, al-Bashir foi obrigado a renunciar - mas o general que consolidou o poder depois dele mandou as tropas contra os manifestantes. Dezenas de pessoas foram mortas, e muitas brutalizadas. 

Uma história semelhante ocorreu no Zimbábue, onde, em 2017, a expulsão do ditador Robert Mugabe, que ocupava o poder havia décadas, foi seguida por uma violenta repressão. “Com as redes sociais, pode-se levar as pessoas às ruas”, disse Margetts. “O problema é o que vem depois!” / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Talvez 2019 venha a ser o ano dos protestos. No dia 23 de junho, em Praga, os tchecos se reuniram na maior manifestação desde a queda da Cortina de Ferro para exigir a renúncia do primeiro-ministro acusado de corrupção. Nem duas semanas mais tarde, cerca de um milhão de pessoas realizaram uma manifestação em Hong Kong contra uma lei que permitiria a extradição para a China continental, obrigando o governo a recuar. Os protestos continuaram este mês; um grupo ocupou a assembleia legislativa e foi dispersado pela polícia.

No Cazaquistão, protestos em massa levaram a milhares de prisões. Na Argélia, o presidente Abdelaziz Bouteflika deixou o cargo em abril, após muitos protestos; e o presidente Omar al-Bashir, do Sudão, seguiu o seu exemplo, dias mais tarde. Os motivos de cada levante são distintos.

Manifestantes reunidos em Praga, pedindo ao primeiro-ministro Andrej Babis que renuncie por causa das acusações de corrupção. Foto: Gabriel Kuchta/Getty Images

Mas os especialistas afirmam que há razões para se acreditar que fazem parte de uma tendência global. “Desde aproximadamente 2010, vimos um aumento da mobilização entre pessoas que nunca se mobilizam”, afirmou Helen Margetts, professora da Universidade Oxford e coautora de um livro sobre redes sociais e protestos políticos.

Isto inclui “jovens, membros de minorias étnicas e cidadãos de países autoritários”, ela afirmou. Uma razão, sugere a pesquisa, é o fato de as mudanças políticas globais terem criado expectativas crescentes de responsabilidade democrática, ao mesmo tempo que o autoritarismo cresce no mundo todo.

Grandes expectativas

O aumento das expectativas em relação à responsabilidade nem sempre se coaduna com a realidade. Em muitos países pós-soviéticos, os lideres têm se sentido pouco incentivados a reformar as instituições de segurança herdadas dos dias da Guerra Fria, segundo Erica Marat, professora da National Defense University de Washington.

Como resultado, alguns governos não dispunham de mecanismos para atender às crescentes expectativas das classes médias urbanas. Com isto, surgiram protestos em toda a região, afirmou Marat, e as pessoas se deram conta de que participar das manifestações era uma das poucas maneiras defazer reivindicações políticas. “Ações coletivas em massa nunca surgem do nada”, afirmou. “Há sempre ações menores contra o Estado repressivo”. Estas, por sua vez, atraem mais participantes que muito provavelmente agem quando há apoio público.

Em Hong Kong, embora os protestos do Movimento dos Guarda-Chuvas de 2014 tenham levado grandes massas às ruas exigindo democracia, não conseguiram forçar uma mudança sistêmica. Mas Marat acredita que podem ter contribuído para o sucesso dos protestos de junho contra a proposta de lei sobre a extradição.

Populismo e repercussão

O aumento da desigualdade, da corrupção e da frustração com instituições aparentemente indiferentes, fizeram com que muitos cidadãos votassem em populistas que prometem governar para o povo. Mas uma vez no cargo, frequentemente esmagam a oposição e desmantelam o sistema de pesos e contrapesos, exacerbando ainda mais o conflito entre democracia e autoritarismo. Agora, isto está contribuindo para gerar mais protestos de massa.

Os cientistas políticos Anna Lühtmann e Staffan I. Lindberg, concluíram que, desde 1994, 75 países deram passos significativos contra o autoritarismo. Mas mesmo em países onde não é isto que acontece, a corrupção das autoridades pode provocar agitação. Os recentes protestos na República Tcheca ocorreram depois que a polícia recomendou que fosse acusado de corrupção o primeiro-ministro Andrej Babis. Ele manipulava o Ministério da Justiça para impedir que estas acusações fossem apresentadas.

O perigo do sucesso

As redes sociais, facilitando a difusão da revolta e mobilização das pessoas, fizeram com que os levantes políticos obedecessem à lei dos grandes números: se tentarem novos protestos, disse Margetts, o número de sucessos também aumentará. Mas a pesquisa de Zeynep Tufekci, um cientista social da Universidade da Carolina do Norte, sugere que protestos inspirados pelas redes sociais são particularmente frágeis. Como são descentralizados, os movimentos podem fracassar ou ser cooptados mais facilmente. E os ganhos podem ter breve duração, particularmente se o novo governo se sentir pressionado a consolidar o poder rapidamente.

Os protestos são bem sucedidos não apenas por sua própria força, mas, em grande parte, por obrigarem as elites que estão no governo a realinharem as suas prioridades - e dando-lhes abertura para fazê-lo. No entanto, este realinhamento, nem sempre favorece os manifestantes. No Sudão, por exemplo, al-Bashir foi obrigado a renunciar - mas o general que consolidou o poder depois dele mandou as tropas contra os manifestantes. Dezenas de pessoas foram mortas, e muitas brutalizadas. 

Uma história semelhante ocorreu no Zimbábue, onde, em 2017, a expulsão do ditador Robert Mugabe, que ocupava o poder havia décadas, foi seguida por uma violenta repressão. “Com as redes sociais, pode-se levar as pessoas às ruas”, disse Margetts. “O problema é o que vem depois!” / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Talvez 2019 venha a ser o ano dos protestos. No dia 23 de junho, em Praga, os tchecos se reuniram na maior manifestação desde a queda da Cortina de Ferro para exigir a renúncia do primeiro-ministro acusado de corrupção. Nem duas semanas mais tarde, cerca de um milhão de pessoas realizaram uma manifestação em Hong Kong contra uma lei que permitiria a extradição para a China continental, obrigando o governo a recuar. Os protestos continuaram este mês; um grupo ocupou a assembleia legislativa e foi dispersado pela polícia.

No Cazaquistão, protestos em massa levaram a milhares de prisões. Na Argélia, o presidente Abdelaziz Bouteflika deixou o cargo em abril, após muitos protestos; e o presidente Omar al-Bashir, do Sudão, seguiu o seu exemplo, dias mais tarde. Os motivos de cada levante são distintos.

Manifestantes reunidos em Praga, pedindo ao primeiro-ministro Andrej Babis que renuncie por causa das acusações de corrupção. Foto: Gabriel Kuchta/Getty Images

Mas os especialistas afirmam que há razões para se acreditar que fazem parte de uma tendência global. “Desde aproximadamente 2010, vimos um aumento da mobilização entre pessoas que nunca se mobilizam”, afirmou Helen Margetts, professora da Universidade Oxford e coautora de um livro sobre redes sociais e protestos políticos.

Isto inclui “jovens, membros de minorias étnicas e cidadãos de países autoritários”, ela afirmou. Uma razão, sugere a pesquisa, é o fato de as mudanças políticas globais terem criado expectativas crescentes de responsabilidade democrática, ao mesmo tempo que o autoritarismo cresce no mundo todo.

Grandes expectativas

O aumento das expectativas em relação à responsabilidade nem sempre se coaduna com a realidade. Em muitos países pós-soviéticos, os lideres têm se sentido pouco incentivados a reformar as instituições de segurança herdadas dos dias da Guerra Fria, segundo Erica Marat, professora da National Defense University de Washington.

Como resultado, alguns governos não dispunham de mecanismos para atender às crescentes expectativas das classes médias urbanas. Com isto, surgiram protestos em toda a região, afirmou Marat, e as pessoas se deram conta de que participar das manifestações era uma das poucas maneiras defazer reivindicações políticas. “Ações coletivas em massa nunca surgem do nada”, afirmou. “Há sempre ações menores contra o Estado repressivo”. Estas, por sua vez, atraem mais participantes que muito provavelmente agem quando há apoio público.

Em Hong Kong, embora os protestos do Movimento dos Guarda-Chuvas de 2014 tenham levado grandes massas às ruas exigindo democracia, não conseguiram forçar uma mudança sistêmica. Mas Marat acredita que podem ter contribuído para o sucesso dos protestos de junho contra a proposta de lei sobre a extradição.

Populismo e repercussão

O aumento da desigualdade, da corrupção e da frustração com instituições aparentemente indiferentes, fizeram com que muitos cidadãos votassem em populistas que prometem governar para o povo. Mas uma vez no cargo, frequentemente esmagam a oposição e desmantelam o sistema de pesos e contrapesos, exacerbando ainda mais o conflito entre democracia e autoritarismo. Agora, isto está contribuindo para gerar mais protestos de massa.

Os cientistas políticos Anna Lühtmann e Staffan I. Lindberg, concluíram que, desde 1994, 75 países deram passos significativos contra o autoritarismo. Mas mesmo em países onde não é isto que acontece, a corrupção das autoridades pode provocar agitação. Os recentes protestos na República Tcheca ocorreram depois que a polícia recomendou que fosse acusado de corrupção o primeiro-ministro Andrej Babis. Ele manipulava o Ministério da Justiça para impedir que estas acusações fossem apresentadas.

O perigo do sucesso

As redes sociais, facilitando a difusão da revolta e mobilização das pessoas, fizeram com que os levantes políticos obedecessem à lei dos grandes números: se tentarem novos protestos, disse Margetts, o número de sucessos também aumentará. Mas a pesquisa de Zeynep Tufekci, um cientista social da Universidade da Carolina do Norte, sugere que protestos inspirados pelas redes sociais são particularmente frágeis. Como são descentralizados, os movimentos podem fracassar ou ser cooptados mais facilmente. E os ganhos podem ter breve duração, particularmente se o novo governo se sentir pressionado a consolidar o poder rapidamente.

Os protestos são bem sucedidos não apenas por sua própria força, mas, em grande parte, por obrigarem as elites que estão no governo a realinharem as suas prioridades - e dando-lhes abertura para fazê-lo. No entanto, este realinhamento, nem sempre favorece os manifestantes. No Sudão, por exemplo, al-Bashir foi obrigado a renunciar - mas o general que consolidou o poder depois dele mandou as tropas contra os manifestantes. Dezenas de pessoas foram mortas, e muitas brutalizadas. 

Uma história semelhante ocorreu no Zimbábue, onde, em 2017, a expulsão do ditador Robert Mugabe, que ocupava o poder havia décadas, foi seguida por uma violenta repressão. “Com as redes sociais, pode-se levar as pessoas às ruas”, disse Margetts. “O problema é o que vem depois!” / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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